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CPED – 15/02/2021

Tema da disciplina – temática bastante atraente e motivadora – Literatura de Viagens – época de


descobrimentos – os dois termos apontam para um património literário, no sentido lato do termo,
assim que para uma época/ período específico
- assente em fontes escritas e iconográficas, desde a cartografia à ilustração – conjugação destes
dois tipos de fontes
- trabalharemos , essencialmente, com relatos de viagens – teremos a hipótese de viajar no passado,
uma época pretérita – finais da idade Média e início dos Renascimento – viajar no passado com os
autores que viveram esse tempo, utilizaremos os olhos desses autores para visualizar essa época, os
fenómenos a que estes assistiram
- é sempre uma visão parcial – viajar na época era diferente do que é hoje
- viajar envolvia um certo investimento, o que implica um certo poder económico na sua realização,
ainda que possam ser consideradas viagens de peregrinos e estudantes, que muitas vezes viajavam
na dependência da caridade alheia, iam viajando à medida em que iriam conseguido financiamento
– esmolas e outros trabalhos, de modo a dar sequência às suas viagens
- para além das dificuldades económicas, a experiência de viagem não dava lugar a um relato
próprio de viagem, para isso seria necessário uma instrução de modo a poder registar o relato –
necessidade de instrução, inteligência e eloquência
- o relato de viagens tem caraterísticas que o tornam um marco cultural muito importante e
completo – uma vez que suscita naturalmente a referência às pessoas, que se encontram, com as
quais se contacta, mas, também, uma referência aos monumentos, às catedrais e outros
monumentos, os quais se tem oportunidade de visitar ou sobre os quais se ouvem relatos –
monumentos construídos pela mão do homem ou monumentos naturais – referência à fauna e flora
do local – tudo dependendo dos interesses pessoais, da sensibilidade e da motivação da viagem
- um humanista estaria mais preocupado com a história e a origem dos locais, a origem dos seus
topónimos, a pesquisa por factos dos espaços que visita
- inevitabilidade de referência às línguas com as quais acaba por se contactar – referência a línguas
mais ou menos familiares, exóticas, diferentes, estranhas – línguas com as quais se contacta para
obter informações
- raramente, a viagem é de uma única e só pessoa, geralmente em grupo e até na presença de um
tradutor, de modo a ser permitida a compreensão, um intérprete que serve de intermédio entre os
viajantes e os locais, pessoas da região visitada
- muitas referências a lendas, sobre monstros, sobre os quais se ouviam histórias ou que de alguma
maneira seria necessário evitar
- as peripécias que a própria viagem implica, por si própria
- relatos de viagens – documentos muito ricos, permitem-nos aceder a várias informações, objetivas,
como a variedade linguística de uma região, a moeda utilizada, património físico e caraterísticas
culturais mais típicas, que se encontram não só nos guias que hoje estão à nossa disposição, mas
também em vários e tantos documentos audiovisuais, que nos põem a viajar sem sair do sítio
- mas também subjetivas – também a reação individual do sujeito viajante, nem tanto a
caraterização do espaço em que se encontra, mas, sim, a sua própria experiência, com tudo o que
isso implica
- os relatos de viagens podem ser muitos diferentes – o viajante teve acesso a dadas informações e
experiências e não o teve a outras, isto porque o viajante é mais sensível a uns dados e menos
sensível a outros
- as motivações da viagem – religiosas, que motivam peregrinações/ comerciais (comércio externo,
definição atual), ou o comércio externo , para resgatar ou ir buscar mercadorias que serão
posteriormente transacionadas, exemplo dos fenícios que se deslocavam no Mediterrâneo para
conseguir buscar as mercadorias e especiarias a Alexandria, Egito, Marrocos, as quais entrariam
pelos portos italianos, para, desse modo, chegarem ao norte da Europa – mudança com as rotas
comerciais portuguesas – modificam o paradigma das viagens mercantis
- naturalmente, as motivações do comerciante são claramente distintas das do humanista
- motivações militares, exércitos que invadem certos territórios e implicam a transposição de
fronteiras e o consequente contacto com povo e culturas diferentes
- Conquista de Ceuta – 1415 – deu origem a diversos relatos de Viagem, uma vez que, nesse
acontecimento, participaram, sob o espírito da cruzada, soldados vindos um pouco de toda a Europa
(central e do norte) e que, posteriormente, tiveram oportunidade de narrar as suas experiências
militares – participar numa iniciativa militar enquadrada/ no quadro das guerras religiosas, das
cruzadas, ou do espírito cruzadístico, seriam motivações que levariam a muitas viagens –
prolongam-se durante a idade média – ideia motivadora da conquista oriental, por exemplo, da índia
– combinação de razões religiosas e militares, as ordens militares estão no cerne dessas experiências
- pode viajar-se pela experiência da própria viagem, pelo prazer (talvez não o termo mais usual ou
adequado – uma vez que viajar nos séculos anteriores – idade média, século XVII não seria bem
assim, hoje temos uma rede de transportes que facilitam essas viagens, uma rede de instituições, de
casas de acolhimento, de hotéis, pensões, vários espaços de turismo e alojamento, que nos permitem
permanecer em determinadas regiões, sem grandes dificuldades, o que não era o caso, na época da
idade média ou do renascimento) - a nível logístico seria mais simples, hoje em dia, existem
horários para assinalar os diversos meios de transporte regulares que se encontram à nossa
disposição, o que não acontecia, antigamente
- existem, por exemplo, relatos de viajantes que ficam presos em portos, durante meses, à espera de
se poderem deslocar, quer seja em transportes de mercadorias, ou outros que cederiam a esse favor,
de modo a que fosse possível alcançar o destino final
- apesar das dificuldades, é natural que viajar, nessa altura, possa satisfazer a atenção natural das
pessoas – o Homem corre riscos para satisfazer essa necessidade de conhecimento – António
Canredo – por exemplo, não apresenta uma motivação concreta, ou não apoiada em razões
especificamente religiosas, comerciais, mercantis, militares, … - apenas queria satisfazer a
curiosidade do que ouvia falar
- estruturas híbridas – relato da Viagem de Marco Polo – não é escrito por ele próprio, mas por um
autor de romances de cavalaria (Rustichello de Pisa) – aconteceu o acaso de ter sido preso e
partilhado a prisão com Marco Polo, de tal modo que ouviu da boca deste, as suas experiências,
durante anos, em terras orientais e de permanência no território da China – colaboração entre o
viajante e o escritor, que de acordo com os dados a si fornecidos, narra esses factos – quem conta é
um intermediário entre o viajante, que viveu diretamente a viagem, e o leitor, que através desse
escrito, tomam conhecimento dessa experiência
- outro exemplo – Livro das Maravilhas – Jean John Mandeville, redige o seu relato em primeira
pessoa, portanto apresenta o seu texto como resultante de uma viagem realmente realizada, sem, no
entanto, a ter, de facto, vivido – é uma viagem mais do que fictícia, ficcionada – está redigida como
se resultasse da experiência de um viajante real, mas foi construída sem que este viajante se tivesse,
de facto, saído do seu quarto, sem se ter locomovido – um viajante sentado – construiu uma viagem
ficcionada e eu, assim, oportunidade aos seus leitores de viajarem com ele, por esses espaços, que
combinam a realidade toponímica, os nomes dos locais correspondem muitas vezes à realidade,
com a fantasia
- Júlio Verne – narra a volta ao mundo em 80 dias, sem, no entanto, ter de facto viajado – estamos
no âmbito da literatura de viagens, sem no entanto entrarmos no campo dos relatos de viagem
- literatura e relatos de viagem estão ligados, de forma complexa, não é uma relação unívoca, nem
todo o universo de literatura de viagens corresponde a viagens realmente realizadas
- estas relações dependem do contexto sócio-cultural em que se enquadra a narração
- as motivações da própria viagem podem, ainda, depender do relato de viagens anteriores, desde
estes sejam fidedignos – um rei, um banqueiro, qualquer pessoa ou instituição que desenvolvesse ou
financiasse a expedição ou viagem teria de se apoiar em informações rigorosas, verdadeiras,
específicas, fidedignas e reais, sem espaço para a fantasia – assim os seus investimentos são
acautelados, com menos riscos, tendo em conta, os já existentes, uma certa dose de perigo, mas,
enfim, esses perigos seriam minimizados se se soubesse com exatidão a rota mais segura a seguir,
quais as condições dos meios de transporte, neste caso, das embarcações, onde estavam os negócios
mais rentáveis, quais as necessidades de artilharia para as embarcações, se se soubesse qual o preço
das mercadorias, quais o intermediários com melhores preços, para que fosse possível gerir lucros e
uma grande rentabilidade para quem as teria financiado
- não é só uma questão do Rei, dos impostos a pagar na alfândega e na Casa da índia, os lucros do
estado português, mas existiam naturalmente interesses de instituições público-privadas – não
seriam meramente interesses propriamente nacionais, até poderiam ser internacionais
- relatos com preocupação da verdade – época dos descobrimentos – na idade média, a intenção de
veracidade é secundária, não está tão presente nem tão focalizada – embora existam autores que
afirmem a veracidade da sua narrativa – trata-se mais de, de algum modo, um contrato com o
público – leitor, tornando os conteúdos mais verosímeis, acessíveis e reais para o próprio leitor –
tudo o que vai ao encontro das expectativas do autor o leva a aderir aos relatos alternativos –
horizonte expectacional – as pessoas estão sujeitas a acreditar naquilo que lhes contam , mesmo que
não seja real, mas estas estão dispostas a aceitá-lo como tal
- desde que o relato não fosse oposto a essas expectativas, as pessoas estariam dispostas a aderir aos
factos narrados
- por exemplo, no que toca ao Oriente – considerado um território populado por formas monstruosas
de humanidade, por uma fauna fantasiosa, uma flora completamente distinta da qual era conhecida
no Ocidente – portanto histórias e relatos de pessoas com um único pé, duas cabeças, uma cabeça
de cão, eram completamente admissíveis, dado que o Oriente era o espaço onde os ocidentais
colocavam as suas fantasias – estavam dispostos a aceitar e a acreditar nas narrativas desde que
fossem colocadas nesses locais propícios à imaginação, à fantasia – cocneção do Oriente como
espaço de Maravilhas concretiza-se, não só em relatos de Mandeville ou nas cartas do prestes João
das índias, mas também na iconografia, na cartografia – o que o leva a ter uma certa credibilidade,
de modo a não chocar com a visão do Mundo que as pessoas, já, detêm
- quem tem oportunidade de viajar por esses locais, as índias e o oriente, terá oportunidade de
confrontar as suas experiências com aquilo que imagina, a realidade com o estereótipo
- num primeiro momento tentará conciliar os dois planos, o do estereotipizado com o do real, mas
acabam por ceder e confrontar diretamente a realidade

- a literatura de viajantes sentados vem colada a muita informação sobre as índias e o Oriente –
Padre Francisco Alves – temos este autor a confrontar a sua própria experiência com o que tinha
lido no Livro de D. Pedro de Portugal, no que toca à região das Amazonas – nesse texto temos a
tentativa de contrapor, ajustar, inserir a informação obtida concretamente pela experiência, em
relação à obtida pela leitura de obras documentais - “se estas são as amazonas de D. Pedro, então...”
- informações que, apesar da sua dimensão fantasiosa, mais nuns casos menos noutros – no relato
existe uma dimensão fantasiosa, por exemplo, no que diz respeito às índias, referidas no plural, dão
a ideia de milhares de ilhas, cada qual com a sua realidade, com a sua humanidade monstruosa, a
sua fauna e flora mais ou menos criativas – eram, ainda, a grande fonte de informação
- em 1502 – o Rei de Portugal financia a edição portuguesa dessa obra, de modo a dar informações
relativamente ao local onde as naus portuguesas tinham chegado, muito recentemente (1498) e na
tentativa de prometer um El Dorado a quem se dirigisse a esses locais
- a viagem à Índia e ao Brasil, Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral, não levou a grande
rentabilidade do estado português – desavenças e pessoas da corte que julgavam não ter sido um
bom investimento a proliferação das rotas comerciais orientais

- PROGRAMA:
- 3 GRANDES ANDAMENTOS
1- A literatura de viagens como fenómenos de cultura ( primeira semana de aulas)
2- Do imaginário ao real nos fins da Idade Média – viagens de matriz mais medieval – Livro do
Infante D. Pedro de Portugal – viagens de Marco Polo, o modo como o Oriente é apresentado neste
texto – o foco estará na versão portuguesa do livro, publicado em 1502, daremos atenção aos
paratextos e de forma bastante leviana, sem grande profundidade – teremos oportunidade ver a
Índia e o Oriente que Marco Polo dá a conhecer ao Mundo, partindo deste seu texto – vive muito do
imaginário, mas vive também muito desse imaginário
3- Da consagração do real à visão dum mundo:
- roteiro de Vasco da Gama
- Carta de Pero Vaz de Caminha – 2 textos próximos no tempo e com algumas infinidades, que
delineiam as matrizes destas viagens de descobrimentos
- diálogo, nem sempre pacífico, entre o Oriente e o Ocidente – utilizaremos a verdadeira informação
das obras referidas, nas quais podemos encontrar o real relato de um processo de descoberta mútua,
os cristãos ocidentais conhecem os cristãos orientais e vice-versa (também, no sentido inverso) –
António Tenreiro – itinerário da Índia a Portugal
4 – atenção especial à relação entre os portugueses e os mares, focando na obra prima da literatura
de viagens deste período e talvez de todos os períodos – Fernão Mendes Pinto – Peregrinação
- vamos estudar alguns relatos da História Trágico-marítima – recolha de textos isolados,
independentes entre si, mas que têm em comum esta perspetiva trágica, esta perspetiva de uma
relação dos portugueses com os mares, pelo ângulo dos insucessos e dos fracassos
- aula de amanhã – iremos introduzir o ambiente em que o Livro de D. Pedro se inscreve, um
ambiente de melancolia, de angústia de viver – utilizaremos um texto do Rei D. Duarte – um
pequeno capítulo do Leal Conselheiro com o título do Humor Manencorico – ler e preparar a aula
- os documentos já se encontram disponíveis no Sigarra
- visitar o texto, ler – atenção às dificuldades, devido à língua medieval – mentalidade na qual se
inscreve o texto
- Livro do Infante de D. Pedro de Portugal – edição crítica mais ou menos recente – edição utilizada
pelo professor – primeira edição impressa – língua castelhana – texto que utilizaremos nas aulas –
do ponto de vista filológico é o mais correto a fazer – ainda assim, para facilitar um conhecimento
do conteúdo da obra, do conhecimento da obra, útil à decifração do texto – edição do século XVII –
próxima semana – conselho: ler e estudar
- objetivo principal – contacto com este objetos culturais, oportunidade de lermos estes textos, de
modo, a criar condições favoráveis à sua compreensão, análise e perceção do seu significado
cultura, nacional ou universal – valorização dos conteúdos e não da forma dos textos

AVALIAÇÃO:
- exame final presencial, mantém-se na expectativa – incidirá sobre os textos que iremos estudar
durante as aulas (SÉCULO XV A XVII)
- um trabalho – relatório de leitura simplesmente sobre uma obra que seja representativa da cultura
portuguesa deste período, mesmo sem relação a viagens, ou um texto de viagens sem ligação a estas
aulas – dimensão mínima de 3 páginas, máximo de 10 páginas – lista de obras suscetíveis de serem
objeto deste relatório – exemplares da biblioteca – requisitar – edições integrais, mesmo as que não
sejam as da lista – para entregar até ao final de maio, ao final das aulas, antes do exame – pesa 30%
- disponíveis no moodle e nos documentos da disciplina

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