COLEGIADO DE FILOSOFIA CURSO DE FILOSOFIA ATIVIDADE DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA - RESUMO DOCENTE: DRA. CAROLINE VASCONCELOS RIBEIRO
ABRAÃO VINICIUS VIEIRA GUIMARÃES
Resumo: Marcas do infantil na adolescência:
automutilação como atualização de traumas precoces
Articulando o artigo “Marcas do infantil na adolescência: automutilação como
atualização de traumas precoces” de Issa Damous e Perla Klautau, podemos relacionar com nosso objeto de pesquisa – a automutilação de Vincent van Gogh, onde o mesmo acabou por decepar sua orelha em um momento de extremo surto – algumas possíveis explicações sobre como ocorre o processo que culmina em uma automutilação. Segundo Damous e Klautau (2016) em seu artigo, a pele se torna um palco de representação de um trauma que ocorreu possivelmente o eu não estava integrado, por estar em uma época onde o eu ainda não possuía muitas defesas ou estava sob uma ansiedade e estresse muito grandes, onde a pessoa acabaria perdendo sua capacidade de simbolização e representação. Elas trazem o pensamento de Freud, traçando seu argumento baseando-se no pressuposto de que o trauma, ou traumas, por não conseguirem ser simbolizados ou representados pelos processos conscientes se atrelam à pulsão de morte podendo serem relembrados e representados através de investidas de objetalizantes na pele. Elas trazem que, quando a excitação decorrente do trauma acaba sendo insuficientemente investida, o sistema de proteção impele o funcionamento para além do princípio de prazer. Tendo como resultado uma “tendência à compulsão à repetição, [...], que transformam em jogo a experiência vivida, por mais desprazerosa que tenha sido” (Damous e Klautau, 2016, p. 5), nesse caso, a automutilação. Fazendo um paralelo com a história de Van Gogh, me chamou bastante atenção a noção que elas trazem acerca do trauma em Ferenczi e Winnicott. Para os dois teóricos, o trauma poderia ser concebido como uma falha do ambiente. A angústia foi reproduzida pelo eu como um possível sinal, fazendo com que o aparelho psíquico se proteja ante um novo desamparo. As autoras trazem a noção de trauma em Ferenczi e Winnicott, as quais eu gostaria de fazer menção. Para Ferenczi (1923/1992), o trauma deveria ser pensado como uma falha ambiental. A falta de sustentação de um adulto, durante o processo de elaboração e produção de sentido, resultaria no desamparo da criança. Segundo ele, “os sinais registrados da ausência de resposta do ambiente frente a uma situação de desamparo vão continuar presentes no psiquismo da criança mesmo ainda não sendo nomeados como tais” (Damous e Klautau, 2016, p. 5). Sobre a automutilação de Vincent van Gogh, gostaria de pensar no decorrer de sua história, os traumas que o acometeram, onde se viu totalmente desamparado, incluindo também quando era apenas um bebê. Van Gogh teve um holding, alguma sustentação de seu ambiente para que pudesse trabalhar suas perturbações que não conseguiam ser simbolizadas por falta de repertório? Isso pode ter corroborado e culminando em uma fase adulta permeada por angústias tão grandes que faziam Vincent perder a consciência e colocar as mão sobre uma lamparina ou decepar sua orelha esquerda? Foi a partir de tantas falhas ambientais que a automutilação veio a ser um mensageiro em ato das suas dores? Usando as palavras das autoras; “dores já amortecidas pela automatização da vida que seguiu, mas certamente atualizadas nas marcas deixadas sobre a pele” (Damous e Klautau, 2016, p. 10). Seriam essas automutilações de Vincent uma atualização das repetidas falhas vivenciadas por ele no contexto dos cuidados ambientais e uma resposta simbólica aos seus traumas e ansiedades mais profundas que culminaram em seu episódios de despersonalização e automutilações?