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A reconstrução do mundo do pós-guerra

Reconstrução em torno de organizações internacionais

Nas Conferências de Teerão (1943) e de Ialta (1945) - um dos pontos de


convergência entre os Aliados foi a criação de uma organização internacional com
vista a garantir a segurança coletiva

Abril de 1945 - Conferência de São Francisco [EUA] - fundação da Organização das


Nações Unidas [ONU], sucessora da Sociedade das Nações [SDN].

A ONU, com sede em Nova Iorque, possuia diversos objetivos:

- manter a paz e a segurança coletiva;


- promover a cooperação entre as nações;
- prevenir atos de agressão;
- resolver conflitos pela via do diálogo e da mediação internacional;
- respeitar os princípios da igualdade de direitos e autodeterminação dos
povos;
- respeitar os direitos do indivíduo e as liberdades fundamentais;

A Carta das Nações Unidas, assinada por 5 Estados fundadores, estabeleceu a


estrutura desta organização.

Secretário-Geral - Executa

Conselho de Segurança - Decide

- Cinco membros permanentes - China, Rússia, França, EUA, Reino Unido


- Dez membros não permanentes eleitos por 2 anos

Responsável pelo envio de Capacetes Azuis.

Assembleia Geral - Recomenda

198 membros
1 país = 1 voto

Conselho Económico e Social

Tribunal Penal Internacional

Tribunal Internacional de Justiça

Entre as múltiplas missões da ONU, que decorrem dos seus objetivos e


competências, destacam-se alguns exemplos.

1. Manutenção da Paz e da Segurança + Regulação de Diferendos por Via Pacífica


- envio da Força de Manutenção de Paz (Capacetes Azuis), ocorreu, desde
1948, em mais de 79 missões de manutenção de paz;
- O Conselho de Tutela foi criado para supervisionar a gestão dos “Territórios
sob Administração das Nações Unidas” [ex-colónias] e preparar o
autogoverno independente - ativo desde a criação da ONU, deixou de existir
em 1996.
- Agência Internacional da Energia Atómica [AIEA] criada para promover a
cooperação científica e técnica no uso pacífico da energia nuclear - tem
por missão inspecionar o cumprimento dos tratados de não proliferação
nuclear, sob mandato da ONU.

2. Fazer cumprir a carta da ONU e a Declaração Universal dos Direitos Humanos

- Desenvolve ações para favorecer o progresso do direito, desenvolvimento


económico e social [PNUD] e o respeito pelos direitos humanos;

- Promove intervenções no campo humanitário, da saúde, do trabalho, da


proteção das crianças [UNICEF], dos refugiados [ACNUR], da alimentação
[FAO] e do meio ambiente [PNUA] - através de diversos organismos e
agências especializadas.

- Patrocina a assinatura de convenções e tratados sobre questões de


natureza mundial, depois de obtido consenso entre os países signatários;

3. Promoção do diálogo a nível internacional

- Realizam-se debates e negociações permanentes em que os representantes


dos Estados tomam decisões sobre situações de violação da Carta das
Nações Unidas e dos Direitos Humanos;

- Mobilização de ajuda humanitária para minimizar problemas resultantes de


guerras, catástrofes naturais ou fomes - através das suas agências
especializadas, fundos e programas específicos.

Outro aspeto inovador decorrente da ação da ONU foi o princípio da justiça


internacional, que introduziu as noções de crimes contra a humanidade e crimes
de guerra - resultando na criação de tribunais internacionais

A ONU e os primeiros movimentos independentistas

A ONU consagrou o direito dos povos de autodeterminação na Carta das Nações


Unidas.

Apesar das hesitações na sua aplicação e abrangência, revelou-se como um


importante domínio de intervenção da organização tanto na Ásia como no Médio
Oriente e em África - regiões em que ocorreu a descolonização
1945 - grande parte da Ásia e quase toda a África estavam sob o domínio de
impérios coloniais.

A guerra desencadeou um conjunto de fatores que impulsionam o processo de


descolonização.
Fatores internos:

- colónias lutaram ao lado dos colonizadores contra as forças do Eixo;


- potências colonizadoras, devastadas pela guerra, foram afetadas no seu poder e
prestígio;
- ocupação alemã e japonesa favoreceram a difusão de propaganda anti
colonialista contra os países colonizadores;
- países vencidos perderam as colónias e os movimentos defensores da libertação
das colónias nos países vencedores ganharam argumentos para adquirirem a sua
independência;
- nacionalismos despertaram nas elites dos territórios colonizados e puseram em
causa o colonialismo e a existência de territórios não autónomos, favorecendo a
emergência de movimentos independentistas;

Fatores externos:

- ONU - inscreveu o direito aos povos de autodeterminação na Carta das Nações


Unidas e na Declaração dos Direitos Humanos e apoiou processos de
descolonização;

- EUA - antiga colónia inglesa, defendeu a descolonização por razões históricas;

- URSS - apoiou a descolonização como luta contra o “imperialismo ocidental”, o


capitalismo e a exploração de territórios colonizados;

- Duas superpotências [EUA e URSS], saídas da II Guerra Mundial, defenderam a


descolonização como meio para alargarem a sua área de influência;

- China - apoiou a descolonização de forma a difundir o seu modelo de


comunismo;

A descolonização resultou do decurso a duas vias [via do diálogo ou da força] e


decorreu em duas etapas [1945-1955 e 1956-1965].

Bretton Woods - Propostas para o regresso à prosperidade económica

EUA e Reino Unido - consideraram que a crise de 1929 e o protecionismo tinham


contribuído para a guerra - propuseram novas regras para o desenvolvimento
económico, em particular no comércio, de modo a garantir uma paz duradoura.

Foi nos EUA, em 1944, na Conferência de Bretton Woods, ainda antes da guerra
terminar, que o funcionamento da economia internacional foi repensado.
Quais os objetivos da Conferência de Bretton Woods?

- Preparar economicamente o pós-guerra, baseado na cooperação;


- Estabilizar a moeda e as respectivas taxas de câmbio;
- Evitar os perigos da deflação;
- Desenvolver o comércio internacional;

De forma a concretizar estes objetivos, acordou-se a criação do Sistema


Monetário Internacional [SMI].

Quais os objetivos do novo sistema monetário internacional?

- Estabelecer regras para a estabilidade das taxas de câmbio e da


convertibilidade das moedas face ao ouro;

- Tornar o dólar a divisa de referência das moedas internacionais;

Através da criação de organismos internacionais de promoção do desenvolvimento


econômico, baseados no princípio da cooperação.

- Fundo Monetário Internacional [FMI] - com o objetivo de...

... operacionalizar o novo sistema monetário internacional;


... auxiliar os países com dificuldades no equilíbrio na balança de
pagamentos;

- Acordo Geral de Tarifas e Comércio [GATT] formalizado em 1947, em


Genebra - com o objetivo de…

… promover o comércio livre, através da redução de tarifas alfandegárias;


... introduzir regras na prática de comércio entre os Estados signatários;

- Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento [BIRD] ou


Banco Mundial - com o objetivo de...

... financiar a reconstrução do pós guerra;


... apoiar projetos de desenvolvimento económico.

A Consolidação do mundo Bipolar e a Guerra Fria

Fundamentos ideológico-políticos do bipolarismo: a Doutrina de Truman [EUA] e a


Doutrina de Jdanov [URSS]

A geopolítica do pós-guerra ficou marcada pelo antagonismo entre as duas


superpotências - EUA e URSS. Os antigos aliados passaram de um clima de
desconfiança à total rutura, num processo que decorreu entre 1945 e 1947.
Em 1947, fundamentou-se, ideologicamente, o bipolarismo, na sequência do
discurso pronunciado, em março, pelo presidente americano Harry Truman, ao
qual sucedeu a resposta soviética, em setembro do mesmo ano, através do
discurso de Andrei Jdanov.

Estes discursos deram, respetivamente, origem à Doutrina Truman e à Doutrina


Jdanov.

Quais as ideias fundamentais destas doutrinas e de que modo acentuaram o


conflito entre os dois blocos?

Em primeiro lugar, os dois políticos reconheceram desde muito cedo a divisão do


mundo em dois blocos opostos - o Bloco Ocidental (liderado pelos EUA) e o Bloco
de Leste (encabeçado pela URSS).

Para além desta clara separação em termos geopolíticos, as divisões


manifestaram se também através das diferentes interpretações apresentadas
acerca da função que cada bloco possui, por parte dos dirigentes de cada
superpotência.

Harry Truman

A interpretação de Truman acerca do papel de cada bloco passou sobretudo pela


valorização e exaltação do estilo de vida democrático e pela liberdade inerente ao
Bloco Ocidental.

Truman procurou defender a adoção de uma política de contenção na qual os


Estados Unidos assumiram um papel de extrema preponderância na luta contra a
expansão e controle do comunismo no continente europeu e no mundo,
fornecendo auxílio militar e económico a países ameaçados por tendências
socialistas, como forma de prevenir a propagação da ideologia, considerando que
a democracia ocidental e a liberdade se encontravam em perigo.

Andrei Jdanov

Por sua vez, a interpretação do líder do Kominform passou sobretudo pela


salientação do imperialismo capitalista e carácter antidemocrático inerente aos
EUA e ao Bloco Ocidental.

Jdanov considerou que cabia à URSS liderar uma política contra o imperialismo
americano, através do apoio aos movimentos de libertação dos territórios
coloniais e aos partidos comunistas integrados no Bloco de Leste.

Estas doutrinas consagraram duas realidades políticas opostas:


o Bloco de Leste - de ideologia comunista e democracia popular (uma designação
adotada por parte dos países que partilhavam do modelo seguido pela União
Soviética, no qual o partido comunista se consagrava enquanto partido único,
subjugado ao controlo de Moscovo).

o Bloco Ocidental - defensor da democracia e da ideologia capitalista.

Cada um dos blocos apresentava características políticas e um modelo económico


próprio:

Bloco Ocidental

Modelo Político - Democracia Liberal

- eleições livres e pluralismo político;


- respeito pelos direitos e liberdades individuais [opinião, expressão, etc.];
- liberdade de imprensa;

Modelo Económico - Capitalismo [Economia Liberal de Mercado]

- liberdade económica e livre concorrência;


- propriedade privada dos meios de produção;
- intervenção mínima do Estado na economia, assente na iniciativa privada;

Bloco de Leste

Modelo Político - Comunismo [URSS] e Democracias Populares

- Partido único;
- Controlo das liberdades individuais com recurso à repressão e à polícia política;
- Censura aos meios de comunicação;

Modelo Económico - Comunista [Economia dirigida centralmente pelo Estado]

- Planificação económica dirigida pelo Estado;


- Coletivização e/ou nacionalização dos meios de produção;

O tempo da Guerra Fria - Características e meios

Confronto ideológico entre as duas superpotências - que se diabolizaram


mutuamente através de campanhas de propaganda - marcou o período entre 1947
e 1991.
Esta hostilidade mútua foi acompanhada pela tentativa de alargar a respetiva
esfera de influência e demonstrar a sua superioridade.

Guerra Fria - período de tensão e afrontamento entre os EUA e a URSS, em que as


relações internacionais foram dominadas por essa rivalidade, manifestada em
termos ideológicos, políticos, econômicos e militares, em ações de propaganda e
na intervenção em conflitos regionais ou localizados, mas sem confronto direto
entre as duas superpotências

URSS - contou com o Kominform [Secretariado de Informação Comunista], órgão


do movimento comunista internacional, criado em 1947, que coordenou a ação dos
países e partidos comunistas na Europa de Leste, para difundir o seu modelo e a
ideologia soviética, a fim de ampliar a sua área de influência
Os serviços secretos americanos [CIA, fundado em 1947] e da URSS [KGB, criado
em 1954] desenvolveram atividades de espionagem determinantes na
monitorização de cada um dos blocos e na vigilância dos indivíduos suspeitos de
simpatizam com o bloco contrário.

O antagonismo econômico no mundo bipolar

O auxílio económico à Europa para a sua reconstrução foi uma estratégia adotada
pelos EUA - enunciada na Doutrina Truman - a fim de alcançar a estabilidade
política e evitar que os países entrassem na esfera de influência da URSS.

Neste contexto, em junho de 1947, o secretário de Estado americano, George


Marshall, apresentou um Plano de Recuperação Europeia, conhecido como Plano
Marshall, com o objetivo de...

... reconstruir, em moldes capitalistas, as economias europeias devastadas pela


guerra;
... conceder ajuda material e financeira aos países devastados;
... evitar a adesão ao comunismo;

A ajuda económica e financeira americana foi empreendida através da


Organização para a Cooperação Económica Europeia [OECE], criada em abril de
1948 pelos dezasseis países europeus que aderiram ao Plano Marshall [mais tarde
passou a chamar-se OCDE].

A URSS recusou ajuda americana e pressionou os países de leste a não aderir ao


plano Marshall - na sua perspetiva a adesão a este plano, era sujeitar-se ao
“imperialismo” e à “escravidão económica” capitalista, segundo a Doutrina
Jdanov.

Qual a iniciativa da URSS para promover a reconstrução na sua área de influência


e em relação ao Plano Marshall?
Em 1949, a URSS respondeu com o Plano Molotov, apresentado pelo ministro dos
Negócios Estrangeiros, Vyacheslav Molotov, com os seguintes objetivos:

- Reconstruir, em moldes comunistas , as economias dos países-satélites


devastados pela guerra;
- Conceder auxílio econômico aos países da Europa de Leste;
- Evitar a difusão do capitalismo;

A ajuda soviética foi empreendida através do COMECON [Conselho de Assistência


Económica Mútua], criado em 1949, destinado a fortalecer a cooperação e as
relações económicas entre a URSS e os países da Europa de Leste.

Mediante uma cooperação bilateral, a URSS fornecia matérias primas e


combustíveis e os restantes países do COMECON forneciam produtos,
previamente definidos por Moscovo, a um preço preestabelecido.

A Guerra Fria e o antagonismo militar – política das alianças

O antagonismo ideológico entre o Bloco Ocidental e o Bloco de Leste abrangeu


também o campo militar:

1. Criação de alianças militares

- Eram bilaterais e multilaterais;


- Abrangiam vastas áreas geográficas;

2. Escalada armamentista

- Desenvolvimento de novas armas;


- Exibição da força militar;

3. Corrida ao Espaço

- Afirmação da superioridade tecnológica;


- Meio de propaganda;

O Sistema de Alianças

Bloco Ocidental - implementou um conjunto de alianças bilaterais e multilaterais,


com diversos países, alargando a sua influência em vastas áreas do mundo, em
manifesta rivalidade com o Bloco de Leste.

Quais os objetivos do sistema de alianças do Bloco Ocidental?

- Manter paz e segurança;


- Promover a cooperação entre os países de democracia liberal e capitalista;
- Obter facilidades de estacionamento de tropas americanas em bases navais
e áreas de passagem das forças militares americanas;
- Conter expansionismo soviético e limitar a difusão do comunismo;

Como se concretizou o sistema de alianças do Bloco Ocidental?

No Continente Americano

Pacto do Rio - 1947 - assinado entre os EUA e os 21 países da América Latina -


reforçou a defesa do Hemisfério Ocidental e garantiu a defesa coletiva.

Organização dos Estados Americanos (OEA) - 1948 - assinado entre os 21 Estados


do continente americano.
Resultados Gerais:

- Garantiu a paz;
- Promoveu a cooperação;
- Defendeu a integridade territorial dos Estados-Membros;

No Continente Europeu

Pacto de Bruxelas - 1948 - entre vários países da Europa Ocidental - promoveu a


cooperação económica e conteve o expansionismo soviético.

Tratado do Atlântico Norte - 1949 - assinado entre os EUA, o Canadá e 10 Estados


da Europa Ocidental - deu origem à Organização do Tratado do Atlântico Norte
(NATO ou OTAN).

Resultados Gerais:

- Consagrou, militarmente, a divisão ideológica do mundo bipolar;


- Resposta à crescente influência da URSS na Europa;
- Garantiu a defesa e a segurança da Europa Ocidental;

Na Ásia

ANZUS - 1951 - assinado entre os EUA, a Austrália e a Nova Zelândia.

OTASE - 1954 - associou os EUA, a França, Reino Unido, Paquistão, Tailândia,


Filipinas, Austrália e Nova Zelândia.

Resultados Gerais:

- Assegurou defesa militar do Pacífico Sul;


- Procurou conter difusão do comunismo na sequência dos processos de
descolonização na Indochina e na Coreia;
- Reação americana ao expansionismo soviétivo na China, Coreia e no Vietnam.
Este sistema de alianças permitiu aos EUA, direta ou indiretamente, alargar a sua
esfera de influência e construir uma barreira defensiva que isolou e conteve o
expansionismo da URSS e do comunismo.

Em que consistiu a estratégia militar do Bloco de Leste?

A aliança militar - Pacto de Varsóvia - entre os Estados comunistas foi fundada


em 1955.

Associou a URSS e os países da Europa de Leste numa organização militar, em


reação à decisão da Alemanha Ocidental de aderir à NATO.

O pacto serviu também para exercer um controle militar por parte de Moscovo e
evitar qualquer dissidência, como ocorreu com a Hungria, que foi ocupada, em
1956, pelo Exército Vermelho.

A corrida às armas e ao espaço no quadro da Guerra Fria

A corrida aos armamentos foi uma realidade da Guerra Fria. A tensão entre os dois
blocos e as ameaças mútuas obrigaram os EUA e a URSS a canalizar enormes
recursos financeiros para desenvolver armamento convencional e nuclear.

Quais os objetivos da estratégia militar da “corrida ao armamento”?

Durante a Guerra Fria, o mundo ficou muitas vezes suspenso no equilíbrio pelo
terror, face a um eventual uso de armas nucleares por parte das superpotências.
Tanto os EUA como a URSS recorreram à ameaça de utilização de armas nucleares
como estratégia de dissuasão nuclear.

Como se evidenciou a “corrida ao armamento”?

EUA

1945 - Bomba atômica (Hiroshima e Nagasaki);


1952 - Bomba H, mísseis de longo alcance, armas convencionais;
1954 - Avião Supersônico;
1957 - Aviões U2, mísseis intercontinentais balísticos (dezembro);
1960 - submarinos com capacidade de lançar mísseis (julho);
1970 - MIRV

URSS

1949 - Bomba atômica;


1953 - Bomba H, mísseis de longo alcance, armas convencionais;
1955 - Avião Supersônico;
1957 - Mísseis intercontinentais balísticos (agosto);
1960 - submarinos com capacidade de lançar mísseis (setembro);
1962 - testes nucleares
1976-79 - MIRV

Corrida ao espaço

Entre os anos 50 e 60, ambas as superpotências iniciaram a corrida ao espaço, na


procura pela supremacia tecnológica e científica, o que apaixonou a opinião
pública mundial.

Inicialmente, a vantagem esteve do lado soviético, com a colocação em órbita da


cadela Laika, e mais tarde do astronauta Yuri Gagarin.

A situação acabou por inverter-se depois de o presidente Kennedy ter lançado o


desafio de colocar um homem na Lua e fazê-lo voltar em segurança antes do final
da década de 60. Após alguns desaires, os EUA foram os primeiros a pisar o solo
lunar, em 1969.

Quais foram os acontecimentos que marcaram a “corrida ao espaço” e,


simultaneamente, manifestaram a rivalidade entre as duas grandes potências?

EUA

1957 - explosão do foguetão que lançou o primeiro satélite mundial;


1967 - lançamento da Apollo 1 - na qual morreram os astronautas;
1968 - lançamento da Apollo 8 - primeiro voo tripulado à volta da lua;
1969 - lançamento da Apollo 11 - Neil Armstrong é primeiro homem a pisar a lua;

URSS

1957 - primeiro satélite artificial [Sputnik 1] foi colocado em órbita;


1958 - lançamento Sputnik 3;
1959 - Sputnik colocou em órbita a cadela Laika;
1962 - Yuri Gagarin viajou na órbita terrestre;
1967 - lançamento da Soyuz 1 - no qual morreram os astronautas;
1969 - Soyuz 4 e 5 fizeram a primeira acoplagem entre duas naves;

Da descolonização à emergência de novos atores no quadro do bipolarismo

A descolonização, que ocorreu desde o final da Segunda Guerra Mundial e se


acentuou nos anos 60, transformou a ordem internacional, uma vez que permitiu
a integração de novos atores nacionais no palco do mundo bipolar.

A concretização da independência de muitas ex-colônias passou por processos


muitas vezes conturbados, em que se manifestava, quer os interesses da URSS e
dos EUA como também a recusa das antigas potências colonizadoras em criar
condições para uma soberania plena nos novos países independentes.
A maioria dos Estados que viram reconhecida a sua independência constituíram os
países do Terceiro Mundo, que, pela situação econômica e social de
subdesenvolvimento a que estavam submetidos, manifestaram dificuldade em
manter a neutralidade na cena internacional.

Os países descolonizados confrontaram-se com problemas comuns, que


atrasaram o seu desenvolvimento:

a. Os movimentos independentistas, alguns constituídos em partidos, que


lutaram pela independência apropriaram-se do poder e instauraram
ditaduras;
b. O peso do passado colonial estruturou sociedades desiguais onde o nível de
vida e de rendimento era muito baixo;
c. A falta de técnicos especializados e a ausência de sistemas educativos
dificultou o desenvolvimento económico e social;
d. A corrupção instalou-se e desviou rendimentos e recursos destinados à
melhoria das condições de vida das populações;

A ajuda econômica americana, soviética ou das antigas potências colonizadoras


foi determinante para os países descolonizados, mas colocou-os sobre uma nova
forma de dependência - associada ao neocolonialismo (termo utilizada a partir
dos anos 60 para designar as tentativas e práticas das antigas potências coloniais
no sentido de manter indiretamente o domínio sobre as ex-colónias, através da
sujeição económica e financeira)

Como se organizaram os novos Estados independentes para se libertarem do


domínio das potências coloniais e se afirmarem face à influência das
superpotências, no quadro do bipolarismo e da Guerra Fria?

Estados do Médio Oriente

- desenvolveram o pan-arabismo (movimento político defensor da


necessidade de unir o povo árabe, de modo a criar coesão entre Estados
árabes);
- criaram, em 1945, a Liga Árabe;
- defenderam os seus interesses na luta contra Israel;

Conferência de Bandung [Indonésia]

- realizaram Conferência, em 1955;


- Estados pobres e marginalizados da Ásia, África e da América Latina
surgiram como força política e condenaram o Imperialismo;

Conferência de Belgrado [Jugoslávia]

- realizaram Conferência, em 1961;


- Estados acabados de descolonizar, liderados pela Índia de Nehru, o Egito de
Nasser e a Jugoslávia de Tito, criaram o Movimento dos Não Alinhados,
mantendo neutralidade face aos EUA e à URSS (“fugindo” à Guerra Fria) e
criando uma alternativa ao bipolarismo.

A entrada destes países como atores políticos no quadro internacional obrigou as


duas superpotências, no contexto da Guerra Fria, a encontrar novos aliados na
África e na Ásia, com os quais desenvolveram um conjunto de acordos e alianças.

Simultaneamente, afirmou na geopolítica mundial o bloco de países não alinhados,


que, em 1973, na Conferência de Argel, condenou o neocolonialismo e defendeu a
necessidade de criar uma nova ordem econômica mundial.
Os EUA e a URSS levaram para esses territórios as tensões da Guerra Fria, onde a
eclosão de conflitos localizados se revelou uma manifestação do mundo dividido
em blocos antagônicos e rivais.

Os conflitos localizados no quadro da Guerra Fria - a expansão de áreas de


influência

A Guerra Fria desenvolveu-se em diversas fases, alternando entre períodos de


tensão e de apaziguamento.

1º Fase [1947-53] - Período de Tensão

- 1ª Crise de Berlim [1948-49]


- Guerra da Coreia [1950-53]

2º Fase [1953-62] - Período de Diálogo (coexistência pacífica)

- 2º Crise de Berlim [1961]


- Crise de Cuba [1962] - período de tensão

3ª Fase [1963-75] - Período de Diálogo [1963-70] + Período de Tensão [1970-75]

- Guerra do Vietname [1965-75]

4ª Fase [a partir de 1975]

Período de Tensão [1975-85] - “Guerra Fresca”

- Guerra do Afeganistão [1979-89]

Período de Diálogo [1990-91] - “Regresso ao diálogo”

- Fim da Guerra Fria [1991]


A supremacia de cada superpotência dependeu do seu alargamento da respectiva
esfera de influência, o que resultou em diversos conflitos militares, uma vez que a
intervenção de uma das potências era motivo para a escalada de ameaças
mútuas, originando focos de tensão persistentes, localizados em diferentes partes
do globo.

Continente Europeu

Alemanha - cenário de tensão

1ª Crise de Berlim [1948-49]


2º Crise de Berlim [1961]

Continente Asiático

Guerra da Indochina [1946-54]


Guerra da Coreia [1950-53]
Guerra do Vietname [1965-75]
Guerra do Afeganistão [1979-89]

Continente Americano

Crise dos mísseis de Cuba [1962]

Europa - Berlim e o cenário de tensão [1948-48 e 1961]

A Alemanha e, sobretudo, Berlim, ocupou um lugar central na Guerra Fria com


foco de afrontamento entre os dois blocos.

O que esteve na origem da primeira crise de Berlim?

A difícil administração conjunta da Alemanha, dividida em quatro setores de


ocupação e a dificuldade em conciliar as opções entre os dois blocos
relativamente ao destino da Alemanha e de Berlim, despoletou a crise.

O impasse manteve-se até 1947, com a decisão, em 1948, por parte dos aliados
ocidentais:

- criação de um Estado alemão na zona ocidental;


- convocação de eleições para a Assembleia Constituinte;
- criação de uma nova moeda nacional [marco] para reanimar a economia [e
que devia circular em Berlim Ocidental];

A reação de Estaline a estas iniciativas foi imediata e desencadeou a primeira


grande crise da Guerra Fria:
1. Estaline - ordenou o bloqueio de Berlim

- Encerrou os acessos terrestres a Berlim Ocidental [junho de 1948];


- Bloqueio impediu a passagem entre zonas controladas pelas potências
ocidentais e Berlim Ocidental, situada na zona controlada pelos soviéticos;

2. Os americanos e os ingleses - responderam com uma ponte aérea

- a partir dos aeroportos da parte ocidental, abasteceram a zona ocidental de


Berlim;
- diariamente, mobilizaram 1000 aviões que sobrevoaram Berlim e lançaram
diversos produtos (alimentos, carvão, medicamentos, etc.);

3. Estaline - levantou o bloqueio a Berlim 12 de Maio de 1949


A divisão da Alemanha entre dois Estados foi inevitável:

- Em maio de 1949 - nasceu a República Federal da Alemanha [RFA], na


órbita dos EUA;
- Em outubro de 1949 - nasceu a República Democrática da Alemanha [RDA],
país-satélite da URSS;

A cidade de Berlim ficou dividida entre a parte ocidental [EUA] e a parte oriental
[URSS].

A tensão na Alemanha não ficou encerrada no ano de 1949 - Berlim, em 1961,


voltou a ser um cenário de tensão.

Alemanha Oriental - deu-se uma revolta operária contra a centralização


burocrática e política de Moscovo, numa época em que a economia da RDA era
afetada pela fuga continuada de alemães para a RFA.

De forma a tentar travar a fuga - na noite de 12 para 13 de agosto de 1961 - o


Governo da RDA iniciou a construção do Muro de Berlim.

Ásia - uma região conturbada

Guerra da Coreia [1950-53]

No final da Segunda Guerra Mundial, os soviéticos ocuparam a Coréia na busca de


expulsar os japoneses.

À luz dos acordos entre as duas grandes potências - país ficou dividido entre
Coreia do Norte e Coreia do Sul, pelo paralelo 38.

No Norte - formou-se um Estado comunista [República Popular Democrática da


Coreia do Norte] - exército e aparelho burocrático passaram para o controle do
Partido Comunista e Kim Il-Sung tornou-se líder incontestado de um novo Estado,
integrado na área de influência da URSS.

No Sul - a República da Coreia, seguiu um modelo de economia capitalista e,


apoiada pelos EUA, manteve-se na área de influência do Bloco Ocidental.

1950 - Coreia do Norte [apoiada pela URSS e pela China] invadiu a Coreia do Sul
[apoiada pelos EUA] - início da Guerra da Coreia

O conflito durou três anos e contou diretamente com a intervenção dos EUA e da
URSS - conflito resultantes do expansionismo soviético e da estratégia de
contenção desse avanço por parte dos EUA.

A guerra chegou ao fim em 1953 - Nenhum dos blocos saiu vencedor - devido à
posse de armas nucleares por parte de ambas, acabou por se manter o impasse,
apesar das ameaças múltiplas.

Da Guerra da Indochina [1946-54] à Guerra do Vietname [1965-75]

O conflito da Indochina e a guerra entre o Vietname do Norte e do Sul ficaram


marcados por diversos acontecimentos:

Setembro de 1945 - Declaração da independência do Vietname por Ho Chi Minh -


originando uma guerra com a França [potência colonial], derrotada em 1954:

Guerra da Indochina

Dezembro de 1946 - Insurreição da Liga para a Independência do Vietnam: início


da Guerra da Indochina;

Maio de 1954 - Derrota francesa em Dien Bien Phu;

Julho de 1954 - Acordos de Genebra: independência do Laos, Vietname [dividido


entre Norte (regime comunista de Ho Chi Minh - apoiado pela URSS) e Sul
(apoiado pelos EUA)] e Camboja;

Dezembro de 1960 - Criação da Frente Nacional de Libertação do Vietname do Sul;

Guerra do Vietname

Agosto de 1964 - Resolução do Golfo de Tonkin: Congresso americano valida o


envio de tropas para o Vietname, que entraram em ação em 1965;

Americanos iniciam ofensiva contra Vietname do Norte [Vietcongue] para conter a


iniciativa de união do território sob a bandeira comunista.

Janeiro de 1973 - Acordos de Paris preveem a retirada americana do Vietname;


Abril de 1975 - Queda de Saigão e vitória definitiva do Vietnam do Norte - país
unificou-se e instaurou-se a República Socialista do Vietname, em 1976, alinhada
com a URSS.

O conflito, onde foram utilizadas armas não convencionais, foi um dos mais
sangrentos da Guerra Fria, com elevados custos materiais e humanos para ambos
os lados do confronto.

Invasão do Afeganistão [1979]

A URSS invadiu o Afeganistão, em 1979, em apoio ao Partido Democrático Popular


e do Estado comunista de Kabul, contra os mujahedin [guerreiros santos],
apoiados pelos EUA.

A retirada dos soviéticos foi concluída em fevereiro de 1989 e o país entrou em


guerra civil.
América - A Crise dos Mísseis de Cuba [1962]

Cuba, nos anos 60, foi um dos cenários de maior tensão entre as duas
superpotências.

1959 - Fidel Castro, juntamente com o seu irmão Raúl Castro e Che Guevara,
liderou uma revolução cubana que depôs Fulgência Batista, ditador pró-
americano.

Na sequência desta revolução, instaurou-se um Estado Socialista Revolucionário e


implementaram-se reformas para abolir a propriedade privada e nacionalizar a
economia - Fidel Castro aproximou-se progressivamente do modelo da URSS.

Os EUA, receosos perante a expansão do comunismo na sua zona de influência,


procuraram reverter a situação:

1961 - apoiaram um golpe contrarrevolucionário conhecido como invasão da Baía


do Porcos, que acabou por falhar.

1962 - apoiaram a exclusão de Cuba da Organização do Estados Americanos +


apoiaram um embargo a Cuba que levou à suspensão das relações comerciais com
os EUA;

Em resposta à Invasão da Baía dos Porcos e à colocação de mísseis americanos na


Turquia [voltados para a União Soviética], ainda em 1962, a URSS procedeu à
instalação de rampas de lançamento de mísseis em Cuba, com capacidade de
alcançar os EUA - esta iniciativa colocou o sul do território americano sob
ameaça.

Estava em marcha a Crise dos Mísseis de Cuba, um dos episódios de maior tensão
da Guerra Fria - risco iminente da eclosão de uma guerra nuclear.
A “guerra de nervos” entre as duas superpotências foi resolvida mediante
iniciativas democráticas entre John F. Kennedy e o líder soviético, Nikita
Khrushchev.

Como se resolveu a Crise dos Mísseis de Cuba?

Os EUA comprometeram-se a não invadir Cuba e a desinstalar os mísseis


americanos na Turquia, em troca da retirada por parte da URSS dos mísseis
soviéticos de Cuba.

Noutro gesto de apaziguamento, em junho de 1963, foi instalado o “telefone


vermelho” que ligou o Kremlin à Casa Branca no sentido das superpotências
recorrerem ao diálogo, em caso de eclosão de uma nova crise.

O compromisso que resolveu a Crise de Cuba evidenciou os riscos da situação


internacional e abriu caminho à fase da Guerra Fria denominada “Détente”.

As Democracias Ocidentais no pós II Guerra Mundial

No contexto do segundo pós-guerra, o grande desafio colocado às democracias


liberais da Europa ocidental era...

... garantir o desenvolvimento económico;


... combater as desigualdades;
... edificar uma sociedade mais justa ...

... quer pela necessidade de impedir o regresso do fascismo-nazismo, quer para


conter a expansão do comunismo soviético [apesar dos partidos comunistas
possuírem expressão no parlamento em países com a Itália, França e RFA].

As propostas políticas que tiveram eco nas opções dos governos para o
relançamento da economia e reorganização social vieram dos quadrantes
ideológicos ligados aos partidos da governação [liberais, conservadores e
socialistas] - destacaram-se a social-democracia e a democracia cristã:

Social-Democracia

- foi adotada por partidos que assumiram a governação em diversos países da


Europa Ocidental, nomeadamente na Alemanha [Partido Social-Democrata],
Suécia [Partido Operário Social-Democrata] e Inglaterra [Partido Trabalhista];

- recusou a via revolucionária, a ditadura do proletariado e a luta de classes, por


se integrar no socialismo reformista;
- defendeu a melhoria das condições dos trabalhadores pela via democrática e
através de reformas governativas;

- assumiu o intervencionismo do Estado, influenciada pelas ideias do economista


Keynes [Keynesianismo];

- procurou conciliar o socialismo e o capitalismo e opôs-se quer à ideologia


comunista (de influência soviética) quer à democracia cristã (considerada
conservadora, de centro direita);

Democracia Cristã

- defendeu a influência dos princípios do Cristianismo na ação política, inspirando


se na doutrina social da Igreja Católica e procurando uma renovação da
participação política de acordo com valores cristãos;
- os partidos da democracia cristã [por vezes designados Partidos Populares]
assumiram funções governativas em diversos países da Europa, com especial
destaque para a RFA e a Itália;
- defendeu princípios conservadores, lutou por valores ligados à primazia da
família na educação, no princípio da responsabilidade e solidariedade da
sociedade civil;
- defendeu a regulação da economia e a promoção do bem-estar através da
educação social e solidariedade e não pela intervenção do Estado;
- recusou o individualismo liberal, defendeu a dignidade do indivíduo e a economia
ao seu serviço, sem questionar o capitalismo;

As diferenças na concepção do Estado, da sociedade e da economia encontram-se


relacionados como o facto de a social-democracia se situar ideologicamente no
centro-esquerda e a democracia cristã no centro-direita.

Os governos, nos diversos países europeus de democracia liberal, liderados tanto


por partidos socialistas reformistas ou sociais democratas como por partidos da
direita democrática, ligados à democracia cristã e ao liberalismo mais
conservador, puseram em prática em conjunto de políticas económicas e sociais
que foram determinantes …

… para a prosperidade económica;


… para elevar as condições de vida dos cidadãos, a partir de 1947;

As políticas económicas e sociais - fatores do crescimento económico e da


prosperidade

Os Trinta Gloriosos

O mundo capitalista conheceu um período de prosperidade económica, desde


1947-48 até ao início dos anos 70, conhecido como Trinta Gloriosos, marcado por
duas características fundamentais:
1. Reforço do papel económico dos Estados Unidos;
2. Recuperação e crescimento económico dos países da Europa Ocidental;

O crescimento do segundo pós-guerra resultou da convergência de um conjunto


de fatores ligados à recuperação económica europeia [como o Plano Marshall ou a
gestão de verbas no quadro da OECE), para além de fatores sociais.

Fatores que possibilitaram a recuperação económica do pós-guerra

A. Políticas económicas e financeiras no quadro das instituições internacionais

- ajuda econômica americana disponibilizada pelo Plano Marshall


impulsionou a recuperação económica dos países devastados;
- as decisões de Bretton Woods garantiram a estabilização financeira;
- criação do FMI e do Banco Mundial favoreceu a cooperação entre os países
aderentes e difundiu o capitalismo;
- redução de tarifas alfandegárias implementada pelo GATT dinamizou o
comércio internacional;

B. Alterações sociais

- aumento demográfico [baby-boom] nos anos 50 promoveu o


rejuvenescimento populacional e favoreceu o crescimento do mercado
interno, na sequência do aumento do número de consumidores;
- maior disponibilidade de mão de obra resultou não só do aumento
demográfico, mas também da emigração e da afirmação das mulheres no
mercado de trabalho;
- aumento do consumo devido à subida salarial foi um estímulo à produção e
ao crescimento;
- mão de obra tornou-se mais qualificada e produtiva face ao aumento da
escolaridade;

O intervencionismo do Estado - a afirmação do Estado-providência

Os Trinta Gloriosos resultaram também das opções da política económica e social


nos países da Europa Ocidental, associadas ao papel crescente do Estado, numa
ótica Keynesiana.

As políticas económico-financeiras adotadas pelas democracias ocidentais


apresentaram as seguintes características:

Políticas económicas e financeiras das democracias ocidentais


1. Intervenção do Estado na economia

- através da regulação das atividades, de nacionalizações de alguns setores-


chave da economia e da planificação;

- reforço dos orçamentos de Estado aumentou o investimento público


(sobretudo na construção de infraestruturas), o que contribuiu para
aumentar o emprego e melhorar as condições de vida.

1.1. Recursos e meios de crescimento/afirmação das economias do bloco


capitalista

- redução do preço das matérias-primas, especialmente do petróleo, e a


subida do preço dos produtos transformados contribuiu para o aumento
dos lucros;

- afirmação de empresas multinacionais e dos organismos financeiros


internacionais reforçou o capitalismo;

- reinvestimento dos capitais e dos lucros na atividade económica aumentou


a produtividade, as exportações e a diversificação dos ramos industriais;

- desenvolvimento tecnológico do setor primário libertou mão de obra para o


setor secundário e terciário;

2. Papel do Estado (público) e do setor privado

- a par do papel do Estado, o investimento privado estimulou a compra de


bens e de equipamentos, o que favoreceu a modernização industrial;

- investimento em investigação promovido pelo Estado e por empresas


privadas contribuiu para o progresso tecnológico e crescimento económico;

2.1. Mudanças na estrutura económica e na composição social

- setor terciário ganhou importância e a população ativa a trabalhar no


comércio e serviços aumentou (terciarização da sociedade);

- liberalização do comércio dinamizou as trocas comerciais, favoreceu


aumento das exportações e acentuou a dicotomia Norte-Sul (países
industrializados vs em desenvolvimento/menos desenvolvidos);

- criação, em 1952, da Comunidade do Carvão e do Aço (CECA) e, em 1957, da


Comunidade Económica Europeia (CEE):

- reforçou cooperação económica entre Estados europeus de


democracia liberal, com vista a evitar conflitos e rivalidades;
- afirmou os países da Europa como um novo bloco econômico face à
supremacia americana.

O modelo económico e social que caracterizou as democracias europeias


capitalistas no segundo pós-guerra foi o Estado-providência.

Estado-providência - concepção de Estado marcada pelo alargamento do seu


campo de intervenção nos domínios económico-sociais e pela adoção de medidas
destinadas a redistribuir a riqueza para minorar as desigualdades sociais, assente
na solidariedade entre as diferentes classes sociais e na procura de justiça social.

Quais as características do Estado-providência?

- intervencionismo do Estado e ampliação das suas responsabilidades;


- responsabilização do Estado pelo bem-estar e progresso económico e
social;
- redistribuição da riqueza, através da taxação progressiva dos rendimentos;
- promoção de sistemas públicos de educação, saúde e segurança social para
alcançar uma sociedade melhor e mais justa;
- igualdade de oportunidades no acesso à segurança social, educação e aos
cuidados de saúde;
- apoio aos mais desfavorecidos, com a concessão de subsídios de
desemprego, invalidez, doença e abonos de família, bem como a garantia de
um rendimento mínimo aos cidadãos;

A afirmação da sociedade de consumo

A prosperidade económica durante os Trinta Gloriosos ficou associada:

- aumento da produtividade e dos salários;


- crescimento da produção de bens e de serviços;
- progresso tecnológico e industrial;
- aumento do volume das trocas comerciais;
- adoção das políticas pelo Estado-providência [+ intervencionista,
preocupado com as necessidades da população, promotor do bem estar e
do combate às desigualdades];

Esta conjuntura da prosperidade da economia capitalista propiciou a generalização


da sociedade de consumo (marcada pela aquisição e consumo de bens supérfluos,
rapidamente substituídos por outros, diversificados e produzidos em série].

A população aderiu a novos hábitos de consumo, associados ao bem estar e


incentivados pela publicidade e facilidades de crédito.

O modelo económico do mundo comunista - opções e realizações


Do relançamento da planificação económica à descentralização do modelo
estalinista [de Estaline a Khrushchev, 1945-1964]

Durante a Guerra Fria, o confronto entre as duas superpotências foi evidente


também a nível económico, já que os dois modelos, assentes em princípios
opostos, evidenciaram diferenças quanto ao nível das prioridades de
desenvolvimento dos setores econômicos e aos padrões de consumo das
populações.

À elevada prosperidade tecnológica, diversificação dos setores económicos e à


sociedade de consumo evidente no mundo capitalista, durante os Trinta Gloriosos
contrapôs-se…

… o crescimento económico da URSS assente na prioridade dada à indústria


pesada (que não favoreceu a modernização dos padrões de vida das populações).

Qual o modelo econômico seguido na URSS e nos países de Leste após a II Guerra
Mundial?

Estaline - retomou os planos quinquenais para recuperar da destruição causada


pela guerra - estes deram prioridade à indústria pesada, às infraestruturas e à
produção energética [consagrado no quarto e quinto planos].

Países da Europa de Leste - democracias populares, lideradas por governos


comunistas, levaram a cabo medidas de acordo com o modelo de economia
planificada de direção central.
Deste modo, coletivizaram terras e nacionalizaram fábricas, minas, banca e
transportes. Desenvolveram a planificação da economia, em consonância com o
Plano Molotov de reconstrução económica da Europa de Leste e os objetivos da
COMECON (organização criada para coordenar o desenvolvimento dos países
europeus que integravam o bloco comunista).

Em 1953, após a morte de Estaline, era evidente a desaceleração do crescimento


económico- Khrushchev, rompeu com o estalinismo através do processo de
desestalinização e condenou a excessiva burocratização e centralização da
economia pelo Estado.

Política de Khrushchev

Em termos económicos - traduziu-se num esforço de modernização e de


descentralização - destinada a transformar a URSS numa potência mais moderna
através da implementação de um conjunto de medidas:

Setor agrícola

- fim das requisições obrigatórias dos produtos agrícolas;


- aumento da área cultivada através de arroteamentos no Cáucaso e na
Sibéria;
- concessão de autonomia aos kolkhozes;
- eliminação das estações de máquinas e tratores [MTS] e autorização de
compra de maquinaria;

Setor industrial

- substituição dos planos quinquenais por planos revistos anualmente e


prolongados até sete anos;
- valorização da indústria química e de bens de consumo;
- criação de conselhos económicos regionais [sovnarkozes], em substituição
da planificação centralizada da economia;
- aumento dos salários e estímulos à produção;

As reformas do líder soviético foram replicadas nos países de democracia popular.

No entanto, a falta de investimento, organização e de uma autonomia eficaz


tornou os processos de produção demasiado burocratizados e incapazes de
responder às necessidades da procura - tempo de espera para adquirir um
determinado bem de consumo não essencial era muito elevado.

Independentemente das alterações implementadas por Khrushchev, o modelo


econômico soviético, seguido pelos países comunistas do Bloco de Leste, e o
modelo americano, adotado pelos países do Bloco Ocidental, eram antagônicos.

Modelo econômico americano (capitalista)

Economia de Mercado

- livre iniciativa, livre concorrência e propriedade privada;


- autorregulação do mercado assente na oferta e na procura;
- procura do lucro;

Modelo econômico soviético

Economia de Direção Central

- recusa da livre iniciativa, livre concorrência e propriedade privada;


- coletivização das terras e nacionalização dos meios de produção;
- planificação centralizada da economia;
- fixação de preços e salários pelo Estado;

A estagnação económica dos anos 70 - no mundo comunista e no mundo


capitalista
Os anos 70 ficaram marcados pela crise econômica.

Na URSS e no mundo comunista, a crise resultou da estagnação do próprio


modelo económico, evidente a partir da governação de Leonid Brejnev [1964-82],
conhecido como “era da estagnação”.

Nos EUA e no mundo capitalista, o fim dos Trinta Gloriosos deu lugar à crise, que
resultou de problemas internos, como a instabilidade monetária, e de problemas
externos, como o aumento do preço do petróleo [choques petrolíferos de 73 e 79].

Quais as manifestações da crise no mundo capitalista e no mundo comunista?

USA e mundo capitalista

- aumento do défice dos Estados;


- fenômeno da estagflação [subida do desemprego e aumento da inflação a
par do abrandamento do crescimento económico];
- diminuição da produtividade;
- subida das despesas militares nos EUA, nomeadamente devido à guerra no
Vietname;
- balança comercial deficitária;

URSS e mundo comunista

- aumento das despesas militares no quadro da Guerra Fria, acentuadas com


a invasão ao Afeganistão;
- aumento dos empréstimos aos países-satélite e crescimento do
endividamento;
- ineficiência e corrupção da máquina burocrática;
- falta de produtividade agrícola;
- importação de bens essenciais;
- escassez e racionamento de bens;
- estagnação do crescimento industrial, também devido aos custos excessiva
da exploração de recursos naturais em novas áreas;
- excessiva intervenção do Estado: preços fixados, falta de concorrência e de
inovação;

Os problemas sentidos, durante os anos 70, pelas duas superpotências deram


lugar a transformações que, nos anos 80, alteraram o modelo económico
capitalista americano e o modelo econômico soviético.

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