Você está na página 1de 129

PSICOFISIOLOGIA

1
Índice
AULA T4 ......................................................................................................................................... 3
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA PSICOFISIOLOGIA............................................................ 3
AULA TP4 ..................................................................................................................................... 11
FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS DA PSICOFISIOLOGIA...................................................... 11
AULA T5 ....................................................................................................................................... 19
PRINCÍPIOS DA ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO SISTEMA NERVOSO ............................ 19
AULA PL3 ..................................................................................................................................... 38
FERRAMENTAS DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOFISIOLOGIA ...................................................... 38
AULA T6 ....................................................................................................................................... 44
ATIVIDADE CARDÍACA E ELETRODÉRMICA .............................................................................. 44
AULA T7 ....................................................................................................................................... 61
ATIVIDADE ELETROMIOGRÁFICA E PUPILAR ........................................................................... 61
AULA PL4 ..................................................................................................................................... 79
ATIVIDADE ELETRODÉRMICA (EDA) ........................................................................................ 79
AULA T8 ....................................................................................................................................... 85
MEDIDAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL............................................................................ 85
AULA PL5 ................................................................................................................................... 104
ELETROMIOGRAFIA (EMG) .................................................................................................... 104
AULA PL6 ................................................................................................................................... 112
ELETROENCEFALOGRAFIA (EEG) ........................................................................................... 112
AULA TP12 ................................................................................................................................. 123
APLICAÇÕES NA PSICOLOGIA CLÍNICA E SOCIAL ................................................................... 123

2
PSICOFISIOLOGIA
AULA T4
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA PSICOFISIOLOGIA

O QUE É A PSICOFISIOLOGIA
❖ Raiz etimológica:
• Logia → corpo de conhecimento ou de ciência.
• Psique → processos mentais ou psicológicos.
• Fisis → natureza, origem; tem a qualidade de ser o objeto físico, algo
natural.

Campo de conhecimento que se preocupa com a relação entre os processos da mente e a


origem destes processos em termos físicos/ fisiológicos.

❖ “A psicofisiologia é uma ideia antiga, mas uma ciência nova. É um pressuposto


provável de que desde que o Homem se começou a experienciar, a perceber-se a
si mesmo como objeto de consciência, ou seja, desde que nós na nossa evolução
ganhámos consciência de nós mesmos, começámos a ter uma intuição de que o
nosso comportamento, os nossos processos psicológicos, não são apenas uma
coisa abstrata. Portanto, começamos a ter esta intuição de que as mudanças no
corpo são de alguma forma relacionadas com o nosso humor, com os nossos
sentimentos, frustrações, elações. Como relacionar esses aspetos duais
(psicológicos e fisiológicos) tem sido uma preocupação: primeiro de filósofos e
depois de cientistas ao longo da história” (Greenfield e Sternbach, 1977).
❖ Esta ciência é relativamente recente, surgiu, nos anos 60.
❖ A ideia não é nova enquanto espécie, a partir do momento em que ganhámos
consciência, houve uma reflexão sobre esta dualidade de processos psicológicos e
fisiológicos.

PSICOFISIOLOGIA

3
❖ A nossa vida psicológica, a forma como percebemos o mundo, a forma como
pensamos do mundo, as nossas emoções, o nosso comportamento, têm um lado
fisiológico, são fenómenos corporalizados.
❖ Por isso, aquilo que são os processos tradicionalmente tidos como foco na
psicologia, a forma como nos comportamos, a nossa mente, que são, sobretudo os
processos mentais, são abstratos.
❖ Vamos olhar para esses processos comportamentais e psicológicos como tendo
um substrato físico, substrato esse que podemos estudar.
❖ Há uma ligação bidirecional entre a mente e o substrato físico, de forma a que
o que acontece no nosso corpo vai ter um efeito importante e vai dar origem aos
processos mentais.
❖ Os processos mentais vão ter influência no corpo → processo dinâmico e interativo
entre as 2 dimensões.
❖ Falamos quase do corpo todo, mais concretamente do sistema nervoso (cérebro ≠
sistema nervoso).

❖ O sistema nervoso divide se por: Sistema nervoso central e sistema nervoso


periférico:
• O sistema nervoso central inclui o cérebro (que está dentro do nosso
crânio) e a espinal-medula.
• O sistema nervoso periférico é o que nos permite contacto com o corpo
e com o mundo. A única forma que o nosso cérebro tem de contactar com
o mundo é através de uma divisão que temos no sistema nervoso
(periférico), que é a parte que está fora da coluna vertebral, fora do crânio
que liga ao mundo através da divisão somática e autónoma.
• A divisão somática é o que permite o contacto do cérebro com o mundo
sensorial à nossa volta e a informação que vai do cérebro para os músculos
e que nos permite agir e interagir.
• A divisão autónoma é a que controla os órgãos internos do nosso corpo
(coração), estômago, pulmões).

4
CONTRIBUTOS
❖ Afirmação da psicologia enquanto ciência experimental → validação experimental.
❖ Ferramentas que permitem estudar processos, estados e eventos que são
inconscientes e não podem ser reportados, por exemplo, via introspeção.

❖ Área muito intensa e vibrante da investigação.


• 1º: A psicofisiologia utiliza muito o método experimental, de medidas
objetivas, controlo laboratorial, que nos aproximam das ciências exatas.
• 2º: Aceder a níveis que não temos consciência ou não conseguimos através
da introspeção.

❖ Sistematização de como conceptualizamos a Psicofisiologia, sobretudo em termos


de distinções, em relação a outras disciplinas:
• Nós podemos ver o nosso corpo como meio de ação, instrumento da
experiência – é através dele que percebemos o mundo. Através dos
movimentos musculares conseguimos agir. Toda a nossa ação e ação
motora.
• O nosso corpo pode ser estudado de diversas formas:
➔ Anatomia: ramo da ciência que estuda a estrutura do corpo e as
relações entre as estruturas. Questões da morfologia.
➔ Fisiologia: preocupa-se com questões da função, como por exemplo,
“como é que se caracteriza a atividade elétrica e química dos
neurónios?”.
➔ Psicofisiologia: Está intimamente relacionada com a anatomia e a
fisiologia, mas enfatiza também os fenómenos psicológicos, incluindo a
experiência e o comportamento dos organismos no contexto do seu
meio físico e social. Foco nas inter-relações cérebro-corpo-
comportamento-meio. Adiciona uma camada de complexidade,
integrando a ideia de que nós temos a capacidade de utilizar sistemas
simbólicos de representação (linguagem, imagens mentais,
pensamento) para criar uma ideia do mundo.

❖ “A psicofisiologia pode ser definida como o estudo científico de fenómenos sociais,


psicológicos e comportamentais, tal como relacionados e revelados por
princípios e eventos fisiológicos do corpo. (Os processos psicológicos, sociais
e comportamentais emergem da nossa fisiologia/anatomia). Assim, a psicofisiologia
não é categoricamente diferente da neurociência comportamental, mas existe uma
ênfase maior na psicofisiologia em processos cognitivos de alto nível e na relação
entre estes processos cognitivos com a integração em processos do sistema
nervoso central e periférico” (Cacioppo et al. 2017).

PSICOFISIOLOGIA DIVIDE SE EM:

5
❖ PSICOFISIOLOGIA SISTÉMICA:
• Organização da disciplina em termos de áreas ou sistemas fisiológicos de
medida (ex.: cardiovascular; cortical; eletrodérmico).
• Visa a compreensão dos sistemas fisiológicos em estudo e dos princípios
bioelétricos que suportam as respostas percetivas (input) e de output
desses sistemas.
• Concentramo-nos de forma separada em cada um dos sistemas e
avaliamos como é que medimos esse sistema.
• Exemplo: como é que a atividade elétrica da nossa pele nos pode dar
informações sobre as nossas emoções? Como é que a atividade cortical
nos pode dar informação sobre processos cognitivos como a visão?

❖ PSICOFISIOLOGIA TEMÁTICA:
• Organização da disciplina em termos de tópicos de investigação e não
sistemas (ex.: (1) psicofisiologia cognitiva; (2) psicofisiologia social; (3)
psicofisiologia do desenvolvimento; (4) psicofisiologia clínica; (5)
psicofisiologia ambiental; (6) psicofisiologia aplicada).
• (1): relação entre o processamento de informação e eventos fisiológicos.
Ex.: como é que a perceção da fala difere da produção da fala?
• (2): Foca-se nos estudos de efeitos cognitivos, emocionais,
comportamentais das relações humanos e a forma como está ligado a
variáveis fisiológicas.
• (3): Estuda mudanças em termos psicofisiológicos so longo do
desenvolvimento.
• (4): Foco nas perturbações.
• (5): Foca-se nas interdependências entre os organismos e os lugares, o
espaço, questões mais a nível contextual.
• (6): Reflete como podemos usar o conhecimento da psicofisiologia para
aplicações clínicas.

USOS
❖ Interesse crescente em aplicações:
• Meio complementar de diagnóstico: podemos utilizar as medidas
psicofisiológicas em diversos contextos, como técnica complementar para
decisões clínicas. Estas medidas são muitas vezes utilizadas no
diagnóstico da epilepsia.
• Monitorização: as medidas psicofisiológicas podem ser utilizadas para nos
darem uma ideia de como é que diferentes quadros clínicos evoluem ao
longo do tempo ou até da eficácia de intervenções clínicas.
• Biofeedback: é uma técnica popular. Termos feedback sobre a
informação biológica. É nos dada informação, em tempo real, do estado do
nosso corpo (velocidade a que o coração está a bater, tensão muscular). A
ideia deste feedback é depois sermos treinados para sermos capazes de
controlar esse sinal, passar por diminuir batimento cardíaco, etc. (técnica
controversa. Por exemplo: em atletas – otimização de performances.

6
HISTÓRIA DA
PSICOFISIOLOGIA

❖ A psicofisiologia, enquanto disciplina formal, tem uma história relativamente


recente. Mas o interesse pelas relações entre eventos psicológicos e fisiológicos
vem de muito antes.
❖ O interesse do ser humano pelas inter-relações entre o psicológico e o fisiológico
vem de muito antes (desde egípcios e filósofos gregos).
❖ PLATÃO (c. 400BC)
• Sugeriu que as capacidades racionais estavam localizadas na
cabeça, as paixões estavam na espinal-medula (imediatamente
no coração), e os instintos estavam abaixo do diafragma.
• Acreditava que a mente e o corpo funcionavam de forma
diferente e por isso observarmos as suas respostas fisiológicas
não seria muito útil para fazer inferências sobre os processos da
mente.

❖ GALENO (ca. 130-200) (SÉC. II)


• Defendeu uma teoria predominante durante muito tempo.
• Com base na dissecação de animais não humanos (porcos e primatas)
propôs que a sensação e pensamento estariam localizados no cérebro (nos
nervos) – grande avanço.
• Propôs que o nosso temperamento, personalidade e humores
têm a ver com a predominância de certos fluídos corporais;
fluídos esses responsáveis por todos os nossos estados
emocionais, características de personalidade e forma como
nos comportamos.
• Tínhamos 4 substâncias liquidas básicas: sangue, bílis preta,
bílis amarela e a fleuma (humores).
• Os papéis dos órgãos dos órgãos do corpo seria produzir e
processar os humores e os nervos seriam um sistema por onde os humores
viajavam.

❖ FERNEL (1497-1558), DE NATURALI PARTE MEDICINAE


• Primeiro manual de fisiologia.
• Iniciou o estudo dos movimentos automáticos (por reflexo).
• A partir desta altura, houve avanços iniciais científicos em
geral.
• Começou a haver uma ênfase cada vez maior na importância
de nós observarmos e experimentarmos em vez de especularmos.

❖ Século XVIII: análises experimentais de eventos fisiológicos e construtos


psicológicos (sensação, ação voluntária, e involuntária) expandiram-se e

7
inspiraram a aplicação de avanços tecnológicos ao estudo de questões
psicofisiológicas.
❖ Galavani e Volta (ca.1800):
• Nervos e músculos são eletricamente excitáveis (ideia da eletricidade como
transmissor da ação nervosa).
• Fizeram experiências com rãs → verificaram que ao darem um estímulo
elétrico (choque elétrico) numa rã, haveria contração muscular.
• Isto estabeleceu o princípio da bioeletricidade – ideia de que a
eletricidade é uma parte fundamental do funcionamento dos nervos e dos
músculos.
• A nossa atividade cerebral é elétrica em boa parte.

❖ O trabalho que se seguiu ao destes dois autores verificou que os sinais nervosos
têm de facto uma natureza elétrica; estes sinais elétricos viajam através de células
especializadas (os neurónios) e vão despoletar reações químicas que permitem a
comunicação entre neurónios (feita através de neurotransmissores) e estes sinais
elétricos que as nossas células nervosas produzem viajam através dos tecidos
corporais/fluídos e podem ser captados de forma não invasiva à superfície (da
nossa pele).

❖ Vigoroux e Feré (1979/1888):


• Vigoroux era um médico francês.
• Estudo no laboratório de Charcot, famoso pelo trabalho com histeria e
hipnose.
• Demonstra efeitos de variáveis psicológicas na atividade eletrodérmica
(pode dar informação sobre aspetos psicológicos):
flutuações na atividade elétrica da pele em função de
diferentes contextos físicos e emocionais.
• Vigoroux → interessado em perceber que sintomas eram
autênticos e simulados (nas mulheres que perdiam
sensibilidade no corpo).

❖ O contributo destes dois autores foi demonstrar pela primeira vez que variáveis
psicológicas podiam estar associadas a diferenças na atividade elétrica da pele.
❖ Conseguiram encontrar relações entre processos psicológicos e emocionais nos
doentes com histeria.
❖ Feré demonstrou que as alterações na atividade elétrica da pele podiam ter a ver
não só com a questão de estar anestesiado ou não, mas também com a própria
resposta a estimulação sensorial.

8
❖ Einthoven (1904):
• Inventou o primeiro sistema de eletrocardiografia (ECG ou EKG).
• Prémio Nobel da medicina em 1924.
• O seu contributo principal foi a invenção de um sistema que
registava a atividade elétrica produzida no coração à
superfície da pele, de forma não evasiva.
• Há muitas variáveis psicológicas que afetam o nosso
coração (emoções, ansiedade, surpresa, stress crónico).
→ sistema relevante por causa destas variáveis.

❖ Franz Joseph Gall


• Frenologia (é um movimento), influente no século XIX.
• Associações entre medições do crânio e traços mentais.
• Diferentes faculdades associadas a diferentes regiões
cerebrais; o tamanho das regiões cerebrais seria indicativo da
predominância de uma dada faculdade, algo que poderia ser
medido a partir da superfície do crânio.
• Contributo a nível teórico → não sabíamos muito sobre como as
funções cognitivas estavam organizadas ou que estruturas
cerebrais eram da memória ou permitiam a linguagem – até ao
século 19.
• O que este autor veio dizer, foi que nós podíamos predizer traços mentais,
de personalidade, cognitivos, através de medições do crânio.
• Medir o crânio e dizer se era boa ou má pessoa, por exemplo.
• A ideia era que o cérebro era o órgão da mente e que certas áreas cerebrais
tinham funções mais ou menos específicas.
• Hoje em dia é considerada um mito.

❖ Paul Broca (1861)


• Paciente Victor Leborgne: era incapaz de produzir fala além de “tan”
(só conseguia dizer isso, mas compreendia o que lhe diziam), mas a
compreensão e as capacidades mentais permaneciam intactas.
• Com base numa autópsia: lesão no lobo frontal do hemisfério esquerdo.
• Sugere que a área do cérebro importante para a produção de fala é o
gyrus frontal inferior – área de Broca.

❖ Carl Wernicke (1874):


• Descoberta complementar.
• Também estudou os efeitos de lesão cerebral na fala e linguagem, depois
de Broca: pacientes que perderam a capacidade de
compreender fala embora tivessem audição preservada,
não conseguiam produzir fala com sentido, mas tinham
articulação, gramática e prosódia preservadas (lesão no
gyrus temporal superior esquerdo).
• Não conseguiam compreender a linguagem.
• Área crucial para a compreensão de fala.
9
❖ Otto Loewi (1921):
• Descobriu o papel da acetilcolina como neurotransmissor endógeno →
comunicação entre neurónios depende de neurotransmissores (ex.:
transmissores químicos).
• Prémio Nobel da Fisiologia ou medicina em 1936, partilhado com Henry
Dele.
• Antes dele não era claro como era feita a comunicação dos neurónios.
• Estabelece o princípio da sinalização química com o meio de comunicação
entre neurónios.

❖ Hans Berger (1924):


• Usou a eletroencefalografia (EEG) para captar e registar a atividade elétrica
do cérebro em humanos (não invasiva).
• Identificou ondas ou ritmos presentes no cérebro, nomeadamente as ondas
alfa e beta.
• Aplicação a situações clínicas como a epilepsia.
• Alfa – caracterizado por ondas mais lentas e por
ondas maiores. Ritmo que produzimos quando
estamos relaxados ou de olhos fechados (B).
• Beta – ondas mais pequenas, mais rápidas,
mais frequência e mais irregular. Padrão de
quando estamos mais excitados, mais alerta.

❖ A psicofisiologia enquanto disciplina formal:


• Surgiu nos anos 60.
• Society for Psychophysiological Research foi fundada em 1960 nos EUA.
• Polygraph Newsletter (1955-1963) – publicação científica.
• Publicação do 1º número da revista Psychophysiology em 1964.
• British Psychophysiology Society (BPPS)/ “Psychophysiology Group”,
fundada em 1974. Em 2005 passa para a British Association for Cognitive
Neuroscience.
• International Organization of Psychophysiology, fundada em 1982.
Publicação oficial, The International Journal of Psychophysiology.
• Deu-nos conhecimento e base técnica.

EXEMPLOS DE MEDIDAS
❖ Sistema Nervoso Central:
• Eletroencefalografia (EEG)/ Potenciais (ERPs).
• Ressonância Magnética (estrutural e funcional, fMRI).
• Tomografia por Emissão de Positrões (PET).
• Estimulação Magnética Transcraniana (TMS).

❖ Sistema Nervoso Periférico:


• Somático:

10
➔ Atividade muscular – eletromiografia, EMG.
➔ Movimentos oculares (eletro-oculografia).
• Autónomo:
➔ Atividade cardiovascular (frequência cardíaca; pressão sanguínea;
volume sanguíneo); atividade eletrodérmica (ou resposta galvânica da
pele); resposta pupilar; atividade gastrointestinal; atividade sexual.

AULA TP4
FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS DA PSICOFISIOLOGIA

O QUE SE MEDE EM PSICOFISIOLOGIA


❖ SINAIS RELACIONADOS COM O SISTEMA NERVOSO CENTRAL E
PERIFÉRICO:
• O que é distintivo na psicofisiologia é que além dos conceitos psicológicos
e além do comportamento, nós medimos indicadores fisiológicos. Esses
indicadores podem ser focados no sistema nervoso central, que inclui o
cérebro e a espinal medula ou podem ser focados no sistema nervoso
periférico (que é o resto do sistema nervoso que está fora do cérebro e da
espinal medula).
• A psicofisiologia enfatizava a medição do sistema nervoso mais periférico
e só mais recentemente houve uma expansão maior para o sistema
nervoso central.
• No âmbito do sistema nervoso periférico, nós podemos medir quer aspetos
do sistema nervoso somático (leva informação até músculos e traz
informação dos órgãos dos sentidos), quer aspetos do sistema nervoso
autónomo (regula órgãos internos).
• Neste contexto do sistema nervoso periférico podemos medir a atividade
muscular, movimentos oculares, batimento cardíaco, etc.

❖ Técnicas de avaliação psicofisiológica:


• Para medir variações fisiológicas.
• Equipamento tecnológico varia em função da medida (ex.: EEG para
atividade elétrica do cérebro; eye-tracker para movimentos oculares e
dilatação pupilar).
• Cada uma destas técnicas tem características específicas em termos de
equipamento assim como dos procedimentos de recolha de dados.

❖ Avaliação cognitiva/comportamental:
• Ex.: tempos de reação, exatidão de respostas.

❖ Auto-relato:

11
• Ex.: questionários.

❖ Em estudos psicofisiológicos:
• Variáveis independentes: psicológicas (ex.: estimulação emocional;
resolução de problemas).
• Variáveis dependentes: fisiológicas (ex.: mudanças no sinal de EEG;
batimentos cardíacos por minuto).
• Variável: qualquer fator, traço ou condição que pode assumir diferentes
valores (variar).
• Variável independente: é controlada/manipulada por nós enquanto
investigadores/experimentadores. Queremos saber que efeitos é que
causa.
• Variável dependente: é a que está a ser testada/medida. É o que nós
vamos observar. É esperado que seja influenciada pela variável
independente.
• Ou seja, nós temos uma causa psicológica, e vamos procurar um efeito a
nível psicofisiológico.

❖ Estudo em que o objetivo era perceber se o nosso cérebro é capaz de detetar


rapidamente o significado de sons vocais produzidos.
❖ Para isso usaram a medida fisiológica que vemos na imagem da participante.
❖ A variável independente neste estudo era o significado emocional dos sons vocais,
e a variável dependente eram as alterações de voltagem nos neurónios (atividade
elétrica dos neurónios).
❖ Verificou-se que passados 150 milissegundos o cérebro já reage de forma diferente
quando os sons são emocionais.
❖ Estes resultados são importantes porque ajudam-nos a perceber como é que o
cérebro lida com informações emocionais.
❖ Podemos encontrar também variáveis de controlo (aspetos que queremos
controlar, manter constantes porque podem interferir com o efeito da nossa variável
independente e interferir com os resultados → ex.: se quisermos comparar pessoas
doentes e pessoas saudáveis temos que ter em atenção que têm que ser da mesma
faixa etária.

❖ Diversidade de equipamentos e set up experimental consoante a medida –


exemplos:
❖ Os equipamentos variam consoante a medida e o sistema que está em
análise (sistema respiratório, o cardiovascular…).

12
METODOLOGIA

❖ Temos de ver questões metodológicas antes de escolhermos as medidas a utilizar.


❖ Os métodos que utilizamos e a forma como desenhamos os nossos estudos, vai
influenciar aquilo que vemos, os resultados e interpretações.
❖ O método de observação influencia o que vemos e como interpretamos as
observações.

❖ Será que ouvir um ruído intenso induz uma reação no sistema nervoso
autónomo que sugere stress psicológico?
• Para responder a esta pergunta temos 6 participantes que são expostos a
5 minutos de um som relativamente pouco intenso, seguido
de um som muito intenso (cenário 1); 6 participantes
expostos a 5 minutos de um som pouco intenso e outros 6
participantes expostos a 5 minutos de um som muito
intenso (cenário 2).
• Comum às 2 experiências: dilatação capilar (variável
dependente) e som pouco intenso e muito intenso (variável
independente). Os resultados mostraram que o ruído intenso influenciou o
tamanho da pupila numa experiência, mas não na outra.
• No cenário 1 → os mesmos participantes passam por diferentes condições
– design intra-sujeitos (porque são os mesmos) ou medidas repetidas
(mesmo sujeito é avaliado 2x).
• No cenário 2 → design inter-sujeito.
• Em relação a medidas fisiológicas, em geral, os designs intra-sujeitos são
mais sensíveis. É mais provável que consigamos obter o efeito que nós
esperamos se virmos o mesmo participante em
diferentes condições do que se virmos participantes
diferentes em diferentes condições.
• A intensidade afeta a reatividade popular no cenário 1
e no 2 já não afeta → conclusões diferentes que têm a
ver com a escolha metodológica.

PLANEAR A INVESTIGAÇÃO

13
❖ Escolher a metodologia em função da questão primária de investigação:
• Implica formular a questão experimental de forma concreta; ter hipóteses
explícitas, específicas e testáveis (noções de hipótese nula – vamos querer
rejeitar – hipótese alternativa – variáveis estão diretamente relacionadas,
se variar é não direcional ou bidirecional – hipótese unidirecional e hipótese
não direcional ou two-tailed).
• Avaliar os meios disponíveis para medida.
• Identificar fatores que poderão “atrapalhar” /confundir a resposta à pergunta
de investigação.
• E aplicar procedimentos estatísticos que respondam à questão de forma
precisa/ objetiva.
• Fatores pragmáticos na escolha da metodologia.

DESIGN EXPERIMENTAL
❖ Medidas repetidas (intra-sujeitos) ou entre sujeitos:
• Intra sujeitos: grupo único exposto a todos os níveis da variável a todas
as condições.
• Entre sujeitos: diferentes níveis da variável/ condições testadas em
participantes diferentes.
• Para a maior parte das medidas psicofisiológicas, as diferenças entre
indivíduos tendem a ser maiores do que as diferenças esperadas entre
condições experimentais → diferença em sensibilidade é o principal
argumento para usar designs intra-sujeitos em investigação psicofisiológica
→ desvantagem dos designs intra-sujeitos
• Dependência (carryover) entre condições.
➔ Como é o mesmo participante pode haver efeito de umas condições
sobre as outras.
• Há situações em que o design intra-sujeitos é impossível, não podemos ter
os mesmos sujeitos em diferentes condições. Por exemplo: doentes com
AVC e pessoas saudáveis, tenho que ter sujeitos diferentes.

❖ Número de participantes:
• A amostra deve ser grande o suficiente para detetar as diferenças que
procuramos (se existirem) → não deve ser significativamente maior.
• Diferenças esperadas pequenas requerem amostras maiores do que
diferenças esperadas grandes.
• Poder: probabilidade de rejeitar a hipótese nula quando é falsa; determina-
se pelo rádio da diferença de médias esperada como resultado da variável
independente (o efeito) e a variância erro → estimar poder de determinar
amostra.
• A amostra não deve ser pequena nem exageradamente grande.
• Quando os efeitos que queremos avaliar são muito pequenos/subtis
devemos precisar de uma amostra maior; se os efeitos são muito

14
robustos/grandes, provavelmente uma amostra mais pequena será
suficiente para obter resultados claros.
• Quanto maior for o poder da amostra, melhor, significa que temos mais
probabilidade de rejeitar a hipótese nula.
• O poder de uma amostra define-se como um rácio entre o que é a diferença
de médias que nós observamos em resultado da observação e a variância
erro → medida de dispersão, forma como valores individuais diferem.
• Para aumentar o poder podemos, por um lado aumentar o número de
participantes (vai levar a uma diminuição da variância erro) mas também
podemos ter design mais eficiente (técnicas de registo com mais ruído, por
exemplo).

❖ Como definir as janelas temporais de análise:


• Em contexto experimental, temos de selecionar e extrair amostras de dados
do sinal psicofisiológico contínuo (de forma não enviesada e replicável).
• Maior estabilidade e menor suscetibilidade a erro quando recolhemos mais
amostras de tempo de períodos que partilham a característica de interesse.

❖ Até aqui teríamos a nossa experiência planeada, com hipóteses definidas, os


nossos estímulos recolhidos, a nossa técnica escolhida, o design intra e inter
sujeitos selecionados; tínhamos determinado a amostra e um plano de análise.
❖ Estamos então prontos para recolher os sinais psicofisiológicos.

OBTENÇÃO DE SINAIS PSICOFISIOLÓGICOS


❖ Processo sequencial:
• Captação
• Modulação
• Amplificação Há equipamentos eletrónicos que nos ajudam
• Registo (software)
• Análise
• Interpretação

❖ Captação:
• Procedimento de deteção e medição fisiológica varia consoante o sinal a
ser captado, dependendo das características biológicas e elétricas do
mesmo.
• O resultado final do processo é a obtenção de um sinal
fisiológico que se pode descrever em termos da função
voltagem x tempo (podemos ver o gráfico).
• Os sinais fisiológicos podem ser bioelétricos ou físicos.
• Quando são bioelétricos (ex.: atividade neuronal; atividade eletrodérmica;
atividade cardíaca), os sensores que se usam para a captação são
denominados elétrodos.

15
• Elétrodos: discos metálicos pequenos, bons
condutores de eletricidade, que pomos junto
da zona que queremos avaliar e que
permitem captar a atividade elétrica que
ocorreu perto de um determinado local.
• Quando são sinais físicos (ex.: movimento, som temperatura), os sensores
que se usam são denominados transdutores.
• Transdutores: equipamento que tem a função de
converter sinais físicos em sinais elétricos, através
de circuitos eletrónicos.

❖ Modulação:
• Implica a manipulação (remover interferências que possam existir e não
nos interessam; ex.: atividade elétrica do participante por se ter mexido) do
sinal fisiológico depois de captado pelos sensores sob a forma de sinal
elétrico.
• Efetuada através de pré-amplificadores da unidade de
registo. A função é ampliar o sinal, removendo
componentes elétricos que sejam alheios ao sinal de
interesse (ruído, artefactos).

❖ Amplificação:
• Visam aumentar a magnitude do sinal elétrico original, depois
de modulado, até alcançar uma amplitude de saída
suficientemente grande, para ser mais facilmente visível.
• Os sinais fisiológicos variam na sua magnitude → quantidade
de amplificação varia entre sinais.

❖ Registo:
• Sistemas de registo permitem visualizar e armazenar de
forma contínua, tanto o valor elétrico (voltagem) como o
momento temporal do sinal fisiológico. O eixo vertical
representa a voltagem e o horizontal o tempo.
• É aqui que o sinal é convertido de analógico para digital.

LIMITAÇÕES

❖ Medidas psicofisiológicas são tipicamente indiretas


• São medidas à superfície da pele/ do corpo.
• São medidas obtidas externamente, relacionadas com
eventos que acontecem dentro do corpo, mas não
estamos a medir diretamente na sua origem.

16
❖ Amostragem dos dados é tipicamente discreta
• Isto verifica-se quer na dimensão temporal, quer espacial.
• Desafio de obter amostras representativas da variável de interesse, no
tempo e no espaço.

❖ Medidas psicofisiológicas são multideterminadas


• Medidas são determinadas pela interação de uma variedade de fatores.
• Alguns destes fatores podem ser independentes da manipulação
experimental (contributo para ruído estatístico); outros podem
estar relacionados com a manipulação, mas não de forma
intencional (contributo para ruído estatístico e efeitos
sistemáticos).

❖ Medidas psicofisiológicas são inerentemente ruidosas:


• Torna difícil distinguir (há muitas flutuações) sinal de ruído,
sobretudo em ensaios únicos.
• Técnicas para extrair sinal de ruído, ex.: extraem-se médias:
uma medida é repetida várias vezes e faz-se a média das
respostas.
• Variação intra e inter-individual.

CLASSIFICAÇÃO DAS MEDIDAS


❖ Rápidas vs. lentas: velocidade com que as medidas se desenvolveram ao longo
do tempo.
❖ Diretas vs. indiretas: número de passos intermédios ou transformações.
❖ Contínuas vs. discretas: se as medidas podem ser recolhidas continuamente ou
apenas durante intervalos temporais específicos.

RÁPIDAS VS. LENTAS


❖ Algumas medidas processam-se muito rapidamente (captamos o sinal logo a
seguir a ele ser produzido), ocorrendo apenas alguns milissegundos depois de um
evento. Ex.: movimento dos iões através da membrana neuronal que dá origem
aos campos elétricos captados pelo EEG/ERP.
❖ Medidas mais rápidas → EEG/ERP, MEG, EMG.
❖ Estas medidas rápidas têm de ter uma resolução temporal maior.
❖ Outras processam-se mais lentamente, ocorrendo apenas segundos ou minutos
depois de um evento. Ex.: vasodilatação, saudação, mudanças na oxigenação do
sangue, consumo de glicose.
❖ Medidas mais lentas → atividade eletrodérmica, FMRI; PET.

17
DIRETAS VS. INDIRETAS
❖ Medidas diretas → eletroencefalografia (capta de forma mais direta a atividade
dos neurónios).
❖ Medidas indiretas → ressonância magnética.
❖ Passos entre o fenómeno fisiológico (“target”, o nosso alvo; ex.: atividade neuronal,
ativação simpática ou parassimpática) e a medida fisiológica que é efetivamente
recolhida (ex.: atividade elétrica no escalpe, maior pressão sanguínea, aumento do
batimento cardíaco, ou maior atividade eletrodérmica).
❖ Estes passos podem introduzir distorções na amplitude, na forma, nas observações
por comparação ao sinal original e temos que compreender que relação e
transformações existem desde o sinal original até ao momento em que o captamos.

CONTÍNUAS VS. DISCRETAS


❖ Refere-se a quando a informação acerca do estado do sistema fisiológico em
estudo está disponível.
❖ Algumas medidas psicofisiológicas podem dar informação a qualquer momento,
sem restrições. Ex.: diâmetro da pupila, EEG e MEG.
❖ Outras medidas fisiológicas refletem modificações de parâmetros ou eventos
clínicos que ocorrem em intervalos específicos no corpo. Ex.: ritmo cardíaco e
respiratório.

EFEITOS ABSOLUTOS VS. RELATIVOS


❖ Nível da variáveis fisiológicas antes (ou na ausência) de manipulação experimental:
“rest” (repouso) ou “baseline” (nível basal) → refletir sobre qual é a melhor.
❖ Tipicamente os sistemas fisiológicos que medimos já estão ativos antes da
experiência a mantêm-se ativos durante a experiência (ex.: cérebro, sistema
cardiovascular).
❖ O nível de atividade basal pode variar em função da pessoa, local e altura da
medição → maioria das medidas fisiológicas têm de ser analisadas como
mudanças em relação à atividade basal (baseline) → pode variar de pessoa para
pessoa.
❖ Dificuldades na determinação de uma baseline apropriada. Pessoa, local e
momento em que fazemos a captação.

❖ RESUMO:
• Em psicofisiologia, as medidas fisiológicas podem ser focadas no sistema
nervoso central ou periférico. Indicadores fisiológicos podem ser
combinados com a avaliação cognitiva/ comportamental e medidas de auto-
relato.
• As variáveis independentes são frequentemente psicológicas e das
dependentes fisiológicas.

18
• Fases de planeamento e design das experiências são criticas, e a obtenção
do sinal fisiológico é um processo sequencial que inclui várias fases.
• Há limitações comuns a muitas medidas fisiológicas (ex.: indiretas e
multideterminadas); as medidas podem ser classificadas em dimensões
como rápidas vs. lentas ou diretas vs. indiretas; importância da
determinação da baseline.

AULA T5
PRINCÍPIOS DA ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO SISTEMA NERVOSO

SENTIR, PROCESSAR, AGIR


❖ É o nosso sistema nervoso que regula o nosso corpo e nos mantém vivos, por
isso tem esta função primordial em termos da relação daquilo que se passa no
nosso corpo.
❖ Uma segunda função do sistema nervoso tem a ver com uma citação de
Miller, que dizia que o nosso corpo é o meio da experiência e o
instrumento da ação e neste sentido, uma das funções é permitir que
nós sejamos capazes de sentir o mundo, que o mundo chegue até nós
através de estímulos visuais, auditivos, etc.
❖ O sistema nervoso permite-nos processar estes estímulos, dando-lhes
sentido, estabelecendo relações entre eles, relacionando-os com experiências
passadas, tomando decisões com base neles e depois, então, em função disso,
agir no mundo e comunicarmos.

SISTEMA NERVOSO CENTRAL E PERFIFÉRICO


❖ Divisão do sistema nervoso:
• Sistema nervoso central:
➔ Consiste no cérebro e na espinal medula.
➔ Eles estão encapsulados/protegidos por estruturas de osso.
➔ Cérebro protegido pelo crânio.
➔ Espinal medula protegida pela coluna vertebral, o que faz com que estas
duas partes do sistema nervoso central sejam mais resistentes a lesão.

• Sistema nervoso periférico:


➔ É o resto do sistema nervoso que está fora do crânio, fora da coluna
vertebral e tem 2 divisões principais: a divisão somática e a divisão
autónoma → sistema nervoso periférico somático e sistema nervoso
periférico autónomo.

19
❖ (B) – O sistema nervoso periférico somático é constituído por 2 sistemas de
entradas e saídas, inputs e outputs do sistema nervoso central. Estes 2 sistemas
são:
• Os nervos cranianos.
• Os nervos espinais.
• Genericamente, estes dois tipos de nervos e esta parte do sistema nervoso
periférico somático, é aquilo que possibilita a relação do nosso organismo
com o meio.
• É através destes nervos que a informação sensorial chega da periferia até
ao nosso cérebro e é também através desta divisão somática, destes
nervos, que quando toma a decisão de mexer a mão, que a informação
viaja do meu cérebro até à periferia para o movimento ser executado.
• Por isso, o sistema nervoso somático é a parte do sistema nervoso que
possibilita a chegada de informação da periferia para o sistema nervoso
central e envia a informação do sistema nervoso central para
a periferia.

❖ O sistema nervoso autónomo tem como função o controlo dos


órgãos internos do nosso corpo. Está dividido em duas partes:
• Nervos ou divisão parassimpática → é uma divisão
calmante e que regula os órgãos do nosso corpo quando
estamos numa situação de repouso, promovendo um estado
de equilíbrio do nosso organismo.
• Divisão simpática → divisão mobilizadora, ativadora, que prepara o nosso
organismo para a ação.

❖ Sistema nervoso central (SNC):

20
• Dentro da coluna-vertebral e do crânio.
• Espinal medula + cérebro.
• Funções: receção, armazenamento e análise dos sinais sensoriais que
chegam do SNP + emissão de sinais motores.

❖ Sistema nervoso periférico (SNP):


• Fora da coluna vertebral e do crânio.
• Somático: transmite sensação para o SNC + produz movimento.
• Autónomo: controlo das funções internas.

COMPONENTES E DIVISÕES DO CÉREBRO

❖ Cérebro em desenvolvimento (desenvolvimento embrionário). Este cérebro é


menos complexo do que aquilo que é o nosso cérebro adulto e ao longo do
desenvolvimento, o cérebro tem origem numa estrutura tripartida (a) que inclui o:
• Prosencéfalo ou cérebro anterior;
• Mesencéfalo ou cérebro médio;
• Rombencéfalo ou cérebro posterior.
• Espinal medula.

❖ Em fases posteriores do desenvolvimento, estas componentes da frente


(prosencéfalo) e a de trás (rombencéfalo) vão expandir-se e subdividir-se, dando
origem a 5 divisões anatómicas além da espinal medula, por isso podemos
distinguir 5 divisões anatómicas (começando de cima para baixo – da frente para
trás):
• Telencéfalo: que inclui os 2 hemisférios cerebrais, os dois lados do nosso
cérebro, que é onde encontramos o córtex ou neocórtex (são sinónimos e
são a parte mais exterior).
• Diencéfalo: inclui estruturas como o hipotálamo.

21
• Mesencéfalo.
• Metencéfalo, com uma estrutura saliente na parte de trás que se chama
cerebelo (cérebro pequeno que temos).
• Mielencéfalo: (cérebro espinal) que é a região mais inferior do tronco
cerebral, que depois já faz a ligação à espinal medula.

❖ O cérebro anterior é o locus, local dos processos cognitivos, o tronco cerebral é


o locus dos processos regulatórios, processos mais básicos como beber, comer,
dormir; e a espinal medula, é o locus das funções motoras mais reflexas.
❖ Contudo, esta é uma visão muito simplista, a maior parte dos nossos
comportamentos resultam do funcionamento integrado destes 3 níveis: cérebro
anterior, tronco cerebral e espinal medula.

ESPINAL
MEDULA

❖ 31 pares de nervos espinais:


• Conduzem informação da periferia para a espinal medula e vice-versa.
• Radiam de cada um dos lados da coluna vertebral.
• 8 pares cervicais, 12 torácicos, 5 lombares, 5
sacrais e 1 coccígeo.

❖ É uma parte do sistema nervoso central, mas vamos usar


como base para falar sobre o sistema nervoso periférico,
pois uma grande parte quer do sistema nervoso periférico
somático, quer do autónomo radiam, saem e chegam à
espinal medula.
❖ O sistema nervoso somático é a ligação do sistema
nervoso central à periferia e essa ligação sai a partir da
espinal medula e a informação chega à espinal medula.
❖ A espinal medula é dividida em muitos segmentos,
cada um deles recebe fibras nervosas de recetores
sensoriais aferentes da parte do corpo que lhe está
adjacente.

22
❖ A ligação de cada um dos segmentos da espinal medula está associada a cada
uma das partes do corpo onde chega informação sensorial, o que nos permite ter
sensibilidade de toque.
❖ Por sua vez, cada um destes segmentos também envia fibras eferentes que
controlam os músculos, que é o que permite mexer as mãos, por exemplo.
❖ Vias aferentes → qualquer via que vem da periferia e que traz informação da
periferia para o nosso sistema nervoso central.
❖ Vias eferentes → qualquer via que sai do nosso sistema nervoso central e que
leva informação para a periferia.
❖ Coluna vertebral → é onde está a espinal medula e categoriza-se em 5 regiões
anatómicas, da base para o topo são: cervical; torácica; lombar; sacro; coxis →
estas 5 regiões correspondem a 31 pares de nervos espinais: 8 cervicais; 12
torácicos; 5 lombares; 5 sacrais; 1 segmento do coxis.
❖ Nós dizemos que eles são pares, porque eles radiam de cada um dos lados da
espinal medula para cada um dos lados corpo.
❖ Os membros inferiores são controlados pelos lombares e sacrais.
❖ Enquanto os membros superiores são controlados pelos nervos cervicais.
❖ São os nervos lombares e sacrais que nos permitem sentir quando alguém nos toca
e o mesmo em relação aos nervos cervicais ao mexermos os braços.

❖ (A) – Nesta figura, vê-se a espinal medula se estivesse exposto. Aspeto


esbranquiçado.
❖ (B) – Ilustração do que veríamos se cortássemos a espinal medula num
determinado segmento.
• Vemos que a parte de dentro da espinal medula consiste em matéria
cinzenta (parte central que parece em forma de borboleta).
• Matéria cinzenta → porque estão concentrados muitos corpos celulares
de neurónios.
• A porção mais anterior (ao pé do 2) é motora, de execução de
movimento.
• A porção mais posterior é sensorial.
• As fibras aferentes (vêm da periferia) entram pela parte posterior, pela
parte de trás da espinal medula, trazendo informação dos recetores
sensoriais da periferia (é o que vemos a vermelho).

23
• As fibras de cada um dos nervos convergem na entrada, à chegada da
espinal medula, formando uma via de fibras (raiz posterior).
• As fibras eferentes, que vão executar movimentos para a periferia saem
da parte mais anterior da espinal medula, vão enviar informação para os
músculos (estão a azul).
• A esta parte onde há convergência de fibras à saída chamamos de raiz
anterior.
• Além destas entradas e saídas para esta parte central em forma de
borboleta, onde está a matéria cinzenta, vemos nas regiões mais exteriores
da espinal medula, que temos informação a subir e a descer → isto são
tratos de matéria branca feitos de axónios (condutores de informação).
• A informação que sobe é a que permite que a informação vá da espinal
medula até ao cérebro, que vai conduzir esta informação superiormente
para o cérebro, para que tenhamos consciência do toque (por exemplo).
• A informação que desce são fibras descendentes, que trazem informação
central e que depois a enviam para a periferia.
• O comportamento voluntário é determinado a nível cerebral e não a
nível da espinal medula.
• Por outro lado, os comportamentos reflexos/simples que podem depender
apenas da espinal medula (ex.: quando pomos a mão numa superfície
muito quente e a retiramos automaticamente → é reflexo) → aqui a
informação não precisa de chegar ao cérebro.

LESÕES NA ESPINAL MEDULA – O QUE ACONTECE?


❖ Há uma perda de sensação (a informação deixa de chegar ao sistema nervoso
central) e pode haver uma paralisia → a informação deixa de poder sair para
executar o movimento.
❖ Os segmentos cervicais controlam os membros superiores (braços):
• Se o corte for abaixo destes segmentos (e.g., a nível lombar) uma
consequência possível é que as pessoas fiquem paraplégicas (i.e., perdem
por exemplo sensibilidade e/ou movimento nos membros inferiores, mas
mantêm membros superiores porque os segmentos que os controlam
mantêm-se intactos).
• Se o corte afetar os segmentos cervicais, aí quer os membros superiores
quer os inferiores podem ser afetados (os membros superiores porque os
segmentos que os controlam foram lesionados, e os membros inferiores
porque a informação deixa de lá chegar – só chega até aos segmentos
cervicais onde houve a lesão).

NERVOS
CRANIANOS
24
❖ 12 pares de nervos cranianos:
• Conduzem informação da periferia para o SNC e vice-versa.
• Olfativo, ótico, oculomotor, troclear, trigémeo, abducente, facial, vestíbulo-
codear, glossofaríngeo, vago, acessório, hipoglosso.
❖ Mais focados na nossa cabeça. Na nossa cabeça também temos sensibilidade e
também executamos movimentos.
❖ Fazem parte do sistema nervoso periférico.

❖ Nesta figura vemos as ligações entre a periferia, cada uma das partes da nossa
face, e a sua ligação através dos 12 nervos cranianos, desde a nossa face até à
parte inferior do cérebro (tronco cerebral).

❖ Na tabela temos a sistematização das funções de cada um destes nervos


cranianos, que nos diz como podem ser avaliados do ponto de vista
neuropsicológico e a que sintomas podem estar associados quando existe uma
lesão.

25
❖ Alguns destes nervos são sensoriais (trazem algum tipo de informação), outros
motores (executam algum tipo de informação), e outros sensoriais e motores
(função dupla).
❖ Nervos cranianos:
• Olfativo: informação de cheiro e é sensorial, sendo que nos traz
informação sobre o cheiro e quando há uma lesão nós podemos ter uma
perda de cheiro.
• Ótico: é também sensorial, associado à visão sendo que quando há uma
lesão pode haver uma perda do sentido de visão.
• Oculomotor: está associado aos movimentos oculares, é um nervo motor,
é o que nos permite executar os movimentos dos olhos, (quando lemos)
controla a pálpebra e a pupila.
• Troclear: está envolvido nos movimentos oculares, mas para outro tipo de
movimentos, permite-nos mover os olhos para cima e para baixo, também
é motor.
• Trigémeo: está associado aos movimentos mastigatórios, assim como à
sensibilidade facial e assim é sensorial e motor. Quando há lesões, isso
leva à perda de sensibilidade na face e a alterações na mastigação.
• Abducente: permite os movimentos laterais dos olhos, é motor.
• Facial: permite os movimentos faciais, fazer as expressões faciais. Está
associado ao paladar (sensorial e motor), salivação e lágrimas. As lesões
podem levar à perda de sabor ou à paralisia facial.
• Vestíbulo-coclear/ auditivo: está associado à audição e também ao
equilíbrio (é sensorial). Lesões podem levar à surdez.
• Glossofaríngeo: está associado ao controlo da língua e da faringe, assim
como ao paladar (é sensorial e motor).
• Vago: controla o coração, regulação dos órgãos internos, como os
intestinos. Controla o movimento da laringe e da faringe. Tem funções
motoras e sensoriais – sensibilidade da faringe, como quando temos
dores de garganta. Uma lesão pode levar a anestesia (perda de
sensibilidade à dor). Esta ligação deste nervo aos órgãos do nosso corpo
faz com que esteja associado ao sistema nervoso autónomo (que regula os
órgãos internos).
• Acessório: motor, que controla os músculos do pescoço.
• Hipoglosso: controla os movimentos da língua e é motor.
❖ Alguns destes nervos cranianos têm funções, sobretudo no sistema nervoso
somático mas também podem ter uma ligação ao sistema nervoso periférico
autónomo.

SISTEMA NERVOSO AUTÓNOMO


❖ Tem uma função de regulação dos órgãos internos do corpo (intestinos, coração)
assim como uma regulação das glândulas que são conjuntos de células que
produzem substâncias como o suor e as hormonas.

26
❖ É a segunda divisão do sistema nervoso periférico.
❖ O funcionamento do SNA é automático → não está sob o nosso controlo consciente
mas está sempre a executar funções para o equilíbrio, sobrevivência, adaptação
ao meio.
❖ Mantém-nos vivos e regulados → mantém o nosso coração a bater, pupila dos
olhos ajustada à luz, etc.
❖ É a divisão do sistema nervoso que regula aspetos como o batimento cardíaco, a
digestão, ritmo respiratório, a resposta pupilar, a dicção, a salivação e a ativação
sexual.
❖ O objetivo/função do SNA é promover a homeostasia do organismo, o equilíbrio
do nosso organismo, assim como a sua adaptação ao meio.
❖ Dentro do SNA há duas divisões: divisão simpática (a vermelho na imagem) e
divisão parassimpática (a azul na imagem) → divisões que parecem
contraditórias (funcionam em direção oposta)

DIVISÃO SIMPÁTICA
❖ Forma cadeia de gânglios paralelos à espinal medula (lado esquerdo da figura).
❖ Ativa o corpo para a ação, quando isso é adequado.
• Por exemplo, estimulando o coração a bater mais depressa e inibindo a
digestão, quando estamos mais ativos porque vamos dar uma corrida ou
quando estamos mais stressados.
• A partir do momento em que nos preparamos para correr, o nosso corpo
prepara-se e ajusta-se automaticamente para que sejamos capazes de
executar essa tarefa.
• Essa mobilização de energia é uma função desta divisão simpática do SNA.

27
❖ Resposta “fight-or-flight”, tipo de resposta que nos ajuda a fugir ou a combater
em situação de ameaça.
• Aqui o sangue vai ser dirigido para os músculos esqueléticos (músculos
que permitem o movimento), preparando-nos assim para a ação, assim
como para os pulmões, que vão permitir a oxigenação do sangue (mais
eficiente e mais rápida) para a ação e movimento.
• Esta ativação é feita a nível da espinal medula, a nível torácico e a nível
lombar, mas a ativação não é direta.
• A espinal medula está conectada a uma cadeia paralela (centros de
controlo autonómico), que são conjuntos de células nervosas, como se
fosse um cérebro primitivo, que permite controlar os órgãos internos.
• Esta ativação simpática envolve a secreção de hormonas como a
adrenalina e o cortisol. Por isso se diz que o cortisol é a hormona de stress,
no sentido de ser uma hormona libertada quando estamos numa situação
de elevada vigilância e atividade.

❖ Características de maior ativação simpática: ex.: ritmo cardíaco aumentado;


dilatação dos brônquios; dilatação pupilar; aumenta da sudação (glândulas
sudoríparas); maior pressão sanguínea; menor afluxo de sangue a nível dos órgãos
internos e extremidades.

DIVISÃO PARASSIMPÁTICA
❖ Lado direito da figura.
❖ Função calmante (conservação de energia) vai acalmar, relaxar o nosso corpo.
❖ Resposta “rest and digest” – descansa e digere, vemos em períodos de repouso.
❖ Características de maior ativação parassimpática: ex.: diminuição do ritmo
cardíaco; maior afluxo de sangue para o trato gastro-intestinal; constrição pupilar;
maior secreção da glândula salivar; constrição dos brônquios; menor pressão
sanguínea.
❖ Esta divisão está mais ativa durante o sono, alimentação, em repouso e durante a
atividade sexual.
❖ Na figura, vemos que uma parte do SNP se liga de forma mais direta, é controlada
pelos nervos espinhais da região sacral, (a nível mais inferior), mas a maior parte
desta divisão é controlada por 3 nervos cranianos (vago, facial, oculomotor) – parte
superior, surgem da parte superior do tronco cerebral.
❖ No parassimpático vai haver uma conexão entre ele e gânglios parassimpáticos já
muito perto dos órgãos alvo.

TRONCO CEREBRAL
❖ É a porção mais inferior do cérebro → o cérebro começa no tronco cerebral, o
tronco cerebral depois entra no crânio e estende-se até às áreas inferiores do
cérebro anterior.

28
❖ As principais regiões são o diencéfalo, o mesencéfalo e o cérebro posterior,
genericamente, o que é um aspeto distintivo do tronco cerebral é que tem muitos
dos núcleos dos nervos cranianos, que vão convergir na parte da base do cérebro,
trazendo informação de diferentes pontos da face e dos órgãos sensoriais, e essa
informação vai partir do tronco cerebral para a periferia.

❖ No tronco cerebral também há outros núcleos que são importantes para funções
regulatórias vitais, por exemplo a medula que é uma parte inferior do tronco
cerebral logo acima da espinal medula (dentro da coluna vertebral), contém núcleos
importantes para a respiração e o funcionamento do sistema cardiovascular,
incluindo a pulsação e a pressão sanguínea.
❖ Pelo tronco cerebral passam fibras nervosas sensoriais que vêm de baixo da
espinal medula, que depois seguem para o cérebro anterior (ganhamos consciência
de uma informação), e também passam fibras motoras que vêm do córtex motor
com instruções para executarmos o movimento.
❖ Podemos então associar o tronco cerebral a funções motoras, através dos
nervos cranianos que executam movimentos e das fibras que descem para a
espinal medula.
❖ Podemos associar também o tronco cerebral a funções sensoriais, através dos
nervos cranianos e das fibras que vêm com informação sensorial da espinal medula
e seguem para a parte superior do cérebro.
❖ E associamos a funções regulatórias, porque o tronco cerebral está muito ligado
ao sistema nervoso autónomo e os núcleos que estão incluídos no tronco cerebral
têm funções regulatórias importantes → são todas funções básicas, primordiais.

HIPOTÁLAMO
❖ É uma das estruturas do tronco cerebral.
❖ Tem funções regulatórias importantes e tem uma ligação importante ao sistema
nervoso autónomo.
❖ É uma estrutura pequenina, a nível do encéfalo, muito próxima do córtex e fica no
topo do tronco cerebral.
❖ Representa 0,3% do peso do nosso cérebro.
❖ 22 núcleos e sistemas de fibras que passam pelo hipotálamo participam em
muitos aspetos do comportamento motivado, incluindo o comportamento sexual,
sono, regulação de temperatura corporal, emoções, movimento e alimentação.

29
❖ Em conjunto com a glândula pituitária controla muitas funções endócrinas; e envia
sinais nervosos para o sistema nervoso autónomo.
❖ Contribui para a homeostase e mobilização do nosso
organismo.
❖ É uma estrutura que avalia o estado do nosso organismo
momento a momento; identifica potenciais desequilíbrios
e necessidades e vai dar ordens, executar alterações,
desencadear ações que permitem responder às
necessidades…
❖ Como é que esta regulação é feita? O hipotálamo tem
efeitos regulatórios através de 2 vias:
• Funções endócrinas: trabalha em conjunto como uma glândula (pituitária
– imagem) que regula a segregação das hormonas, hormonas que têm um
papel importante na regulação das funções corporais.
• Ligação ao bolbo raquidiano (parte inferior do tronco cerebral) e à
espinal medula é onde estão as células ativadoras dos sistemas
autonómicos (simpáticos ou parassimpáticos). Neste sentido, o hipotálamo
tem o papel de ligação ao sistema nervoso autónomo e da ativação das
divisões simpáticas e parassimpáticas.

❖ Sistematizando: é através destes papéis, por um lado químico-hormonal ou


endócrino, e por outro, através de um envio dos
sistemas de sinais nervoso para o sistema nervoso
autónomo, que o hipotálamo tem um efeito importante
na regulação de tantos comportamentos – motivados e
emocionais.
❖ Por isso muitas das respostas psicofisiológicas que
vamos medir a nível periférico (batimento cardíaco,
atividade eletrodérmica, a dilatação da pupila…) elas
são controladas em primeira instância, são reguladas
centralmente pela atividade do hipotálamo.

TELENCÉFALO: GÂNGLIOS DA BASE

30
❖ É constituído por 3 estruturas principais: 2 subcorticais, porque estão abaixo
do córtex cerebral (que é a camada mais exterior do nosso cérebro).
❖ Estas duas estruturas subcorticais são os gânglios base e o sistema límbico.
❖ À volta dos gânglios da base e do sistema límbico temos o córtex cerebral.
❖ Os gânglios da base (na imagem) estão localizados por baixo das regiões mais
anteriores, mais frontais do nosso córtex.
❖ Falamos em gânglios da base mas na verdade é mais do que uma estrutura, é um
conjunto de núcleos, conjunto de estruturas que formam um circuito em conjunto
com o córtex.
❖ Os núcleos que incluímos nos gânglios da base são o potâmea, o núcleo caudado
e o globus pálido.
❖ As funções do núcleo da base estão relacionadas com o movimento e a
aprendizagem → nível do controlo e coordenação de padrões.

TELENCÉFALO: SISTEMA LÍMBICO

❖ Estrutura subcortical que fica abaixo do córtex.


❖ Conjunto de estruturas que têm um papel crucial em aspetos comuns: as emoções,
a memória e o comportamento social.
❖ Inclui muitas estruturas, as principais podem ser vistas na figura:
• A amígdala, que tem a forma de amêndoa e é importante para as emoções
e para o comportamento social.
• Temos o hipocampo, que é crucial para aspetos da memória,
nomeadamente a episódica (nós sabemos o que fizemos na semana
passada, o que jantámos ontem…) e é importante para a formação de
novas memórias, assim como é importante para a memória espacial e
navegação espacial. É devido a estruturas como o hipocampo que nós
quando vamos ao shopping e deixamos o carro no parque de
estacionamento, sabemos onde ele está quando voltamos.
• Temos ainda o córtex singular, associado ao comportamento sexual,
social, etc.

31
❖ A este conjunto de estruturas chama-se sistema límbico porque estão no limbo
entre a parte mais inferior dos hemisférios cerebrais e a parte superior.

TELENCÉFALO: NEOCORTEX

❖ Superfície rugosa (circunvalações) e figuras.


❖ Córtex e neocórtex é a mesma coisa.
❖ O neocórtex humano pode ter até 2500 𝑐𝑚2 de área se ele fosse aberto, e grossura
1 a 3 milímetros. No entanto há 6 camadas de células.
❖ Os neurónios no córtex são organizados por camadas de matéria cinzenta, e é
fortemente rugoso, porque foi a solução da evolução e da natureza para os confinar,
numa superfície cortical tão grande, dentro do crânio.
❖ Os 2 hemisférios cerebrais são separados por uma fissura longitudinal e cada
hemisfério divide-se em quatro lobos:
• Lobo frontal: à pressão anterior do cérebro e são delimitados
posteriormente pelo sulco central e inferiormente pela fissura lateral e
medialmente pelo sulco angulado.
• Lobo parietal: são delimitados anteriormente pelo sulco central e a
fronteira inferior é a fissura lateral.
• Lobo temporal: correspondem à parte mais lateral do cérebro e são
delimitados dorsalmente ou superiormente pela fissura lateral.
• Lobo occipital: não há fronteiras salientes.

32
❖ A figura acima é um mapa com algumas das principais áreas funcionais do córtex
e com a sua localização.
❖ Áreas funcionais = para que é que elas servem? → interessa a estrutura mas depois
como é que ela se liga à função? E como é que a função se liga ao comportamento?
❖ As áreas sensoriais do nosso córtex (que recebem informação que vem do
sistema nervoso periférico) tendem a estar localizadas mais posteriormente
(mais atrás), enquanto que as áreas motoras e de ação tendem a estar
localizadas mais anteriormente (mais à frente).

❖ Começando de trás para a frente, no lobo occipital:


• Vamos ter o córtex visual primário e a área visual de associação, que são
importantes para o processamento de informação visual.
• A área visual primária é onde chega a informação visual que vem da
periferia (da retina) que vai pelos nervos cranianos até ao córtex.
• Depois passa para a área visual secundária, onde o processamento vai-
se tornando mais complexo e só depois é que a informação visual se torna
disponível para ganharmos consciência dela.

❖ No lobo temporal:
• Temos o equivalente mas no domínio auditivo, temos as áreas auditivas
primária e secundária.
• A primária é onde chega em primeira instância ao córtex a informação
auditiva, que depois é enviada para a área auditiva de associação onde o
processamento se vai tornando mais complexo.
• É aqui, junto das áreas primária e secundária, que encontramos a área
Wernicke → área importante para a compreensão da fala, descodificam as
palavras que ouvimos.

❖ No lobo parietal:
• Nós temos o córtex somatosensorial primário, e também o secundário,
que é importante para a sensação somática (consciência quando alguém
nos toca, das posições do nosso corpo, temperatura).
• Viajando anteriormente, anterior ao sulco central, encontramos o córtex
motor primário e o córtex pré-motor.
• O motor é crucial, pois saem as instruções para a espinal medula que nos
permite a execução de movimentos.
• O pré-motor é onde fazemos o planeamento das ações.

❖ No lobo frontal:
• Encontramos a área de Broca → importante para a produção de fala.
• Temos ainda o córtex pré-frontal, que é a parte mais à frente do lobo
frontal, importante para os processos complexos do nosso funcionamento.
• É composto por áreas terciárias ou associativas, são áreas que não têm
funções sensoriais nem motoras, são áreas envolvidas em processos mais
complexos de integração de informação.

33
NEURÓNIOS E
GLIA

❖ O nosso cérebro tem origem numa célula única → célula germinal.


❖ No desenvolvimento embrionário as stem-cells dão origem às células
progenitoras, que vão migrar e vão funcionar como células percursoras, que dão
origem a tipos de células nervosas primitivas chamadas blast (células blásticas).
❖ As células blásticas neurais vão diferenciar-se e dar origem aos neurónios
(algumas), enquanto as outras células blásticas gliais vão diferenciar-se e dar
origem a células de glia.
❖ É este tipo de células – neurónios e glia – que podem assumir muitas formas, que
constituem o cérebro adulto inteiro.

NEURÓNIOS
❖ Geram impulsos elétricos e enviam mensagens para outras células → funcionam
como unidade de informação.
❖ Plásticos → podem mudar, funcionando como unidades de memória.
❖ Constituição: dendrites (recebe informação de outras células) e espinhas
dendríticas; axónio (conduz informação até outras células e tem um 1 metro de
comprimento no máximo) e terminal axónico (botão terminal); corpo celular
(alimenta o neurónio); membrana (parede do neurónio).
❖ Sinapse: processo que ocorre entre o terminal axónico de um neurónio e a
superfície da espinha dendrítica do neurónio adjacente.
❖ Temos cerca de 85/86 mil milhões de neurónios no sistema nervoso e estão ligados
entre si de formas muito complexas.
❖ Os neurónios podem ser vistos como unidades de processamento de informação e
como unidades de memória.
34
❖ Enquanto unidade de processamento de informação, os neurónios são impulsos
elétricos – sinal elétrico que vai despoletar mensagens químicas, os chamados
neurotransmissores que permitem a comunicação entre células.
❖ A nível de memória, os nossos neurónios não são estáticos, mudam com a
experiência (permite-nos aprender) e as ligações entre os neurónios também são
moldadas pela experiência.
❖ A nossa aprendizagem não acontece no ar, o nosso cérebro está a mudar com a
aprendizagem.
❖ Fluxo de informação → informação vai das dendrites (que recebem de outros
neurónios) para o corpo celular (onde a informação é integrada), depois vai ser já
o impulso elétrico que vai viajar através do axónio para a telodendrite (onde estão
terminais axónios).
❖ Depois em cada terminal axónico, a informação é enviada para o neurónio
adjacente, através do processo a que chamamos sinapse.

NEURÓNIOS SENSORIAIS
❖ Representados na imagem (a) da figura acima.
❖ Neurónio bipolar: transforma a informação sensorial em atividade nervosa. Consiste
num corpo celular com uma dendrite de um lado e um axónio do outro (e.g., retina).

35
❖ Neurónio somatosensorial (encontramos nos músculos e na pele): projeta de um
recetor sensorial do corpo para a espinal medula. A sua dendrite e axónio estão
ligadas, o que aumenta a velocidade de condução de informação.

INTERNEURÓNIOS
❖ Estão representados na imagem (B) da figura acima.
❖ Ligam a atividade de neurónios sensoriais e motores no SNC (cérebro e espinal
medula).
❖ Há muitos tipos de interneurónios, mas todos têm múltiplas dendrites que se
ramificam extensivamente, e um único axónio (embora se possa ramificar).
❖ Incluem células estreladas, células piramidais, e células de Purkinje (estão no
cerebelo).

NEURÓNIOS MOTORES
❖ Representados na imagem (C) da figura acima.
❖ Localizados no tronco cerebral e espinal medula.
❖ Projetam para os músculos do corpo e da face.
❖ Chamam-se “the final common path” porque todo o comportamento (movimento)
produzido pelo cérebro é produzido através destes neurónios.

GLIA
❖ Células de suporte aos neurónios.
❖ Células epêndimas: revestem os ventrículos
cerebrais (bolsas que temos no cérebro) e
produzem liquido cefalorraquidiano (dá
nutrientes).
❖ Astrócitos: forma estrelada simétrica, têm
função nutritiva e de suporte estrutural para os
neurónios.
❖ Microglia: células mais pequenas, função
defensiva (e.g., infeções).
❖ Oligodendrócitos: responsáveis pela formação
e manutenção das bainhas de mielina (camadas
de gordura que permitem que a informação seja
conduzida de forma mais eficiente) dos axónios
no cérebro e na espinal medula.
❖ Células de Schwann: produzem a mielina que
isola os axónios dos neurónios do sistema
nervoso periférico.

36
NEURÓNIOS – ATIVIDADE ELÉTRICA
❖ Há diferenças na concentração de iões dentro e fora da célula, diferenças essas
que criam uma carga elétrica na membrana celular.
❖ Há canais (portões) na membrana que permitem que os iões a atravessem e assim
a carga elétrica muda.
❖ A carga elétrica consegue viajar pela superfície da membrana.
❖ Potencial de repouso: quando o neurónio está em repouso, fluído intracelular (da
parte de dentro do neurónio) tem uma carga negativa em relação ao fluído fora da
célula. A diferença de carga é de cerca de 70 milivolts, mV (pode variar).

❖ Potenciais graduados (mais localizados, restritos a zona particular): pequeno


aumento ou diminuição da voltagem da membrana do axónio. A uma diminuição da
voltagem chama-se despolarização; a um aumento chama-se hiperpolarização.
❖ Para um potencial graduado acontecer, um axónio tem de receber uma estimulação
que mede o fluxo de iões.
❖ Potencial de ação (vê-se na figura): transição abrupta e extremamente acentuada
de potencial elétrico na membrana do axónio, dura aproximadamente 1
milissegundo.

❖ Potencial de ação:
• Cada potencial de ação é um evento discreto/único.
• Não há fortes ou fracos.
• Ou acontece ou não acontece.
• É despoletado quando há uma despolarização da membrana da célula para
cerca de -50 mV (potencial limiar, estímulo limiar).
• A voltagem relativa da membrana despolariza abruptamente até que a
carga dentro da membrana seja até +30 mV.
• Depois, de forma rápida, o potencial da membrana inverte-se novamente,
tornando-se ligeiramente hiperpolarizado.
• Após a inversão, a membrana regressa gradualmente ao potencial de
repouso (-70 mV).

37
AULA PL3
FERRAMENTAS DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOFISIOLOGIA

❖ A psicofisiologia tem uma ideia fundamental que é: determinadas variáveis


psicológicas podem estar associadas a respostas fisiológicas → isto significa que
os estados da mente e os estados do corpo estão em muitos casos sincronizados
ou influenciam-se mutuamente.
❖ Isto pode ser interessante de várias formas:
• Do ponto de vista clinico porque podemos querer saber que efeitos
fisiológicos têm determinados estados psicológicos (e.g., stress em
doenças cardiovasculares).
• Do ponto de vista de investigação, podemos querer saber como é que
interagem os estados de determinadas variáveis fisiológicas e variáveis
psicológicas (e.g., podemos querer saber que regiões cerebrais estão
ativas enquanto processo emoções).

❖ A investigação em psicofisiologia tem outras vantagens: são mais objetivas; mais


mensuráveis; não dependem da experiência nem das opiniões dos participantes.
❖ O estudo das emoções é um bom exemplo de como a investigação em
psicofisiologia pode ser vantajosa → na medida em que superam a subjetividade
dos questionários de autorrelato; a subjetividade dos comportamentos expressos e
complementam estas medidas com dados objetivos e quantificáveis.

❖ No entanto a investigação em psicofisiologia tem alguns desafios:


• Tempo: investigar medidas fisiológicas exige tempo de várias formas:
➔ Implica o tempo de as estudar e conhecer, ou seja perceber como é
que funcionam (e.g., se eu quero utilizar a eletroencefalografia para
perceber determinadas respostas emocionais perante o processamento
emocional eu tenho que estudar a anatomia do cérebro, perceber como
é que determinados processos cerebrais funcionam, perceber como é
que o cérebro produz eletricidade, etc.).
➔ Implica o tempo de aprender a trabalhar com os equipamentos, que
mesmo não sendo altamente complexos, é necessário na maior parte
dos casos alguma formação → saber quais sãos os equipamentos que
existem e quais são os mais adequados aos meus objetivos de
investigação. É necessário saber extrair e interpretar dados que os
equipamentos produzem.

38
➔ Implica o tempo de recolha → recolher dados fisiológicos demora
algum tempo, pois nas recolhas fisiológicas temos que acompanhar um
participante de cada vez do inicio ao fim. No tempo de recolha devemos
ainda incluir o tempo de preparação do laboratório e participante e as
arrumações.

• Espaço: investigar em psicofisiologia exige um espaço dedicado, e


portanto precisamos do laboratório onde estão os equipamentos e onde
necessariamente os participantes têm que se dirigir.

❖ Medidas fisiológicas que podem ser recolhidas no LAPSO (laboratório do ISCTE):


• EMG: eletromiografia
• EEG: eletroencefalograma
• ECG: eletrocardiograma
• RSP: atividade respiratória
• EDA: atividade eletrodérmica
• Eye Tracking: movimento ocular/diâmetro da pupila
• SKT: temperatura da pele

MEDIDAS
❖ ELETROENCEFALOGRAMA (EEG):
• Medida do sistema nervoso central.
• Regista, em tempo real, os potenciais elétricos produzidos pelo cérebro de
forma espontânea, em repouso ou perante um estímulo (potenciais
evocados).
• Potenciais evocados: respostas elétricas a estímulos de
interesse.
• Os sinais são recolhidos através destes elétrodos específicos
distribuídos no capacete que cobre todo o escalpe e os dois
hemisférios.
• Vantagem: os sinais que recolhemos estão a ocorrer naquele
preciso momento.

❖ ELETROMIOGRAFIA FACIAL (EMG):


• Medida do sistema nervoso periférico somático.
• Os princípios físicos da eletromiografia não são muito diferentes do
eletroencefalograma: a ativação dos músculos
implica atividade elétrica nas células e essa atividade
é detetada e registada.
• Na psicologia experimental, uma das formas mais
comuns de utilizar a eletromiografia é colocando
elétrodos em determinados músculos faciais e
queremos monitorizar movimentos quando estão
perante estímulos de interesse.

39
❖ ATIVIDADE RESPIRATÓRIA (RSP):
• Medida do sistema nervoso periférico somático.
• Para recolher esta medida utilizamos este sensor (imagem) que se coloca
à volta do tórax ou do abdómen e que permite medir a extensão abdominal
ou torácica durante a respiração.
• Isto permite verificar se há alterações nos padrões
respiratórios perante determinados estímulos.
• A respiração está muito ligada aos estados
psicológicos, ao ponto que é possível verificar
estados emocionais através de padrões
respiratórios.

❖ TEMPERATURA DA PELE (SKT):


• Medida do sistema nervoso periférico autónomo.
• Este sinal é detetado através de vários tipos de
sensores que podem ser colocados em várias partes do
corpo.
• No contexto de investigação, por exemplo em emoções,
podem ser usados como indicador de arousal
emocional, e neste caso os sensores são colocados na
face, perto dos músculos zigomáticos e permitem
detetar o efeito de ficar corado.

❖ ELETROCARDIOGRAMA (ECG/EKG):
• Medida do sistema nervoso periférico autónomo.
• Deteta sinais elétricos associados ao funcionamento cardíaco.
• Mede a atividade cardiovascular.
• Pode ser indicador de ativação emocional e no contexto de
psicofisiologia há estas 3 medidas de grande interesse: a
frequência cardíaca (batimentos por minuto); a pressão arterial
(mede a pressão do sangue nas artérias); e a variabilidade
cardíaca (calcula a variação dos intervalos de tempo entre batimentos
cardíacos)
• Tem sido utilizada como indicador de desequilíbrios no sistema nervoso
autónomo.

❖ ATIVIDADE ELETRODÉRMICA (EDA):


• Medida do sistema nervoso periférico autónomo.
• Mede a condutância elétrica da pele, que varia em função da atividade das
glândulas sudoríparas.
• Assenta em duas ideias simples:
➔ A primeira ideia é que determinados estados psicológicos
estão associados a maior ativação das glândulas
sudoríparas, ou seja mais transpiração.
➔ A segunda é que peles mais transpiradas, e por isso mais
húmidas são melhores condutores elétricos.

40
• Assim, o procedimento e recolha destes dados consiste em colocar estes
dois elétrodos em dois dedos e fazer passar uma corrente elétrica entre os
dois.
• A facilidade com que esta corrente elétrica viaja de um elétrodo para o outro
é então determinada pela humidade da pele.
• Maior condutividade indica maior ativação do sistema nervoso
autónomo simpático – por exemplo quando há ativação emocional.

❖ EYE TRACKING:
• Tecnologia do sistema nervoso periférico.
• Permite detetar os movimentos dos olhos (e aqui
falamos do SNP somático), mas também mudanças no
diâmetro da pupila (e aqui falamos de mudanças no SNP
autónomo).
• O movimento dos olhos está associado à atenção e a
dilatação da pupila está relacionada com o arousal ou
ativação.
• Recorrendo a este método, podemos por exemplo, expor os participantes
a um estimulo, por exemplo uma face sorridente em contexto de uma tarefa
de reconhecimento de emoções → o objetivo é ver para
onde olha primeiro, para onde olha mais tempo, etc.
• Através da dilatação pupilar podemos ver se algum dos
estímulos criou ativação emocional e se esta ativação
ajudou a reconhecer emoções.
• Esta técnica tem muitas aplicações não só na psicologia,
mas também no marketing.

❖ MAGNETIC RESONANCE IMAGING (MRI):


• Medida do sistema nervoso central.
• Esta medida permite-nos obter imagens detalhadas da estrutura
e funções cerebrais.
• Este é o scan de ressonância magnética (imagem).
• Há dois tipos de recolhas que podemos fazer com esta medida:
➔ Na sua versão estrutural proporciona-nos imagens detalhadas da
morfologia do cérebro e que podem ser uteis do ponto de vista clinico
para identificar problemas (tumores ou lesões), mas também podem ser
uteis do ponto de vista de investigação se quisermos perceber como é
que a morfologia ou determinadas lesões podem se relacionar com o
comportamento.
➔Na versão funcional (fMRI) a técnica permite-nos obter indicadores de
atividade cerebral ao longo do tempo. É muito útil se quisermos
compreender que áreas são ativadas quando executamos uma
determinada tarefa As áreas coloridas da imagem mostram-nos quais
são as regiões ativadas durante as tarefas ou estímulos.

41
PREPARAÇÃO DO LABORATÓRIO
❖ Cuidados genéricos:
• Chegar cedo – porque haverá um conjunto de procedimentos para efetuar
antes do participante chegar.
• Preparar o contexto experimental (verificar ligações de hardware, preparar
os elétrodos, desligar telemóveis, preparar o software, criar pasta para
registo dos dados).
• Lavar sempre as mãos antes de preparar um participante).
• Usar luvas de latex.
• Diminuir o ruído elétrico → tanto os que se originam no ambiente (cabos de
alimentação, luzes, transformadores, televisões, monitores, telemóveis;
remover joias ou outros objetos metálicos); como os que se originam no
participante (evitar movimento excessivo externo em algumas medidas
porque pode gerar registos artificiais de respostas; mexer nos elétrodos;
espirrar, tossir, movimentos profundos respiratórios, falar).
➔ Imagem abaixo mostra um exemplo de ruído, e temos um artefacto que
são sinais não relacionados com variáveis de interesse.

❖ Um dos problemas com o EEG é que os sinais elétricos produzidos pela atividade
muscular são muito mais fortes que os sinais elétricos produzidos pelo cérebro e
por isso temos que estar constantemente a corrigir estes artefactos que vão surgir.

EQUIPAMENTOS
❖ BIOPAC-MP 150:
• Equipamento mais importante.
• Permite a recolha de quase todas as medidas fisiológicas de que falámos.
• Vantagens: reduz o tempo de aprendizagem caso queiramos trabalhar
com medidas diferentes, e permite recolher várias medidas em simultâneo
no mesmo sistema.
• Este sistema é constituído por várias partes:
➔ O módulo central que funciona como uma estação de aquisição
de dados.

42
➔ O módulo de amplificadores de sinal que amplificam os sinais
fisiológicos e o ruído e é através deles que vamos recolher as
medidas de interesse.
➔ O software de análise – acqknowledge – que regista e nos mostra
graficamente em tempo real as medidas que estamos a
recolher.
➔ Conjunto de elétrodos que se colocam em contacto com o
corpo e possibilitam a recolha do sinal, cada medida exige um
elétrodo especifico.
• Os módulos amplificadores, amplificam os sinais biológicos que
queremos recolher que são muito ténues e cada um deles é
especializado na aquisição de um tipo de sinal ou seja numa medida
fisiológica. Na imagem vemos a especificidade de cada módulo.
• Com o software conseguimos visualizar uma representação
gráfica do sinal que estamos a recolher em tempo real e
podemos ainda armazenar e analisar os dados recolhidos.
• Os elétrodos são objetos sensíveis à atividade elétrica e
outros sinais biológicos e que os captam diretamente no
corpo dos participantes.
• Tudo montado fica como na imagem: temos os elétrodos que recebem o
sinal do participante e enviam-no para o módulo amplificador, que por sua
vez envia o sinal para o módulo central de onde ele segue para o software.

❖ Dependendo dos objetivos da nossa investigação, podemos recolher vários sinais


em simultâneo, bastando para isso colocar para cada participante os elétrodos
adequados e utilizando os módulos correspondentes aos sinais que queremos
recolher.

❖ SOFTWARE E-PRIME:
• Utilizado por exemplo na tarefa de stroop.
• Podemos de desenvolver tarefas de reconhecimento de emoções.
• Utilização de estímulos e recolha de medidas psicofisiológicas.

43
AULA T6
ATIVIDADE CARDÍACA E ELETRODÉRMICA

❖ Quer a atividade cardíaca, quer a atividade eletrodérmica, são medidas do sistema


nervoso periférico autónomo.
❖ Recapitulando, o sistema nervoso periférico autónomo é a divisão do sistema
nervoso que faz a regulação dos órgãos internos do nosso corpo e faz essa
regulação de forma automática → é um sistema sobre o qual nós não termos
controlo direto, o que é bom, no sentido em que, funciona sem que nós precisemos
de fazer esforço, e ajusta o nosso organismo em função das circunstâncias, ao
mobilizar energia em situações que precisamos dela (se estamos mais ansiosos,
se vamos fazer exercício, ou se estamos numa situação de maior relaxamento).
❖ O sistema nervoso autónomo tem como objetivo garantir que o corpo está numa
situação ajustada às circunstâncias do meio, e nesse sentido garantir o equilíbrio
do organismo e a sua adaptação.
❖ Quer a atividade eletrodérmica, quer a atividade cardíaca, vão-nos dar informação
do sistema nervoso autónomo, que tem duas divisões:
• Divisão simpática: mobiliza o nosso corpo para a ação e está associada
à resposta fight or flight.
• Divisão parassimpática: prepara o nosso corpo para situações de
repouso, estando associada a respostas rest and digest.

ATIVIDADE
CARDÍACA

❖ Quando falamos em medir a atividade cardíaca, aquilo que nós estamos a falar é,
em medir o sistema mais abrangente em que a atividade cardíaca se insere, que
é o sistema cardiovascular.

44
❖ O sistema cardiovascular, é um sistema essencial à vida e é um
dos focos centrais da investigação psicofisiológica, e é um dos
sistemas que tem sido mais estudado nesta disciplina.
❖ Há várias razões para o interesse no sistema cardiovascular na
psicofisiologia:
• Temos a ideia do senso comum, que faz sentido focar
neste sistema porque as emoções afetam aspetos da nossa atividade
cardíaca → a ansiedade, por exemplo, é uma variável emocional e está
associada a uma maior ativação cardíaca.
• Razão prática para o nosso interesse no sistema cardiovascular, porque
alguns dos parâmetros deste sistema (e.g., ritmo cardíaco, pressão
sanguínea) são fáceis de medir e quantificar hoje em dia, e por isso são
parâmetros que nós podemos obter de forma simples em laboratório.
• Alem disso, o sistema cardiovascular é um sistema fisiológico rico, que tem
múltiplos subsistemas regulatórios → sistemas regulatórios estes que são
controlados por aspetos do sistema nervoso central e do sistema nervoso
periférico autónomo, o que significa que o sistema
cardiovascular é altamente sensível a processos
neurocomportamentais, a processos que
dependem do sistema nervoso central e do sistema
nervoso autónomo → aquilo que acontece a nível
autónomo e a nível central vai afetar o nosso
sistema cardiovascular e por isso interessa-nos
avaliar.
• Como se trata de um sistema que é muito complexo, é um sistema que ao
mesmo tempo está suscetível a várias perturbações e doenças, e muitas
das perturbações cardiovasculares podem ser afetadas por variáveis
psicológicas como o stress (ou a raiva, depressão, etc.) → isto faz com que
esse sistema também seja importante, não só para a psicofisiologia mas
também para a medicina psicossomática.
➔ Aquilo que parece haver de comum nas variáveis psicológicas que
afetam a saúde cardiovascular é a afetividade negativa.
➔ O bem-estar positivo, pode ser protetor da saúde cardiovascular.
❖ Aqui o que importa salientar é a relação próxima entre variáveis psicológicas
comportamentais e o sistema cardiovascular, quer em contexto de saúde, quer em
situação intensa.
❖ As perturbações psicológicas podem causar danos permanentes no nosso sistema
cardiovascular. Existem alterações cardiovasculares que são dinâmicas no dia-a-
dia; mas se tivermos afetividade negativa ao longo do tempo de uma forma muito
continuada, as consequências negativas dessas variáveis psicológicas podem ser
mais permanentes.

ANATOMIA E FISIOLOGIA
❖ Enquanto psicólogos não estamos interessados nas questões anatómicas cardio.

45
❖ O sistema cardiovascular é formado por:
• Coração: podemos dizer metaforicamente que é uma bomba do sistema
cardiovascular, que vai bombear o sangue, e por isso é um elemento
central deste sistema.
• Sistema de vasos sanguíneos: sistema de distribuição que leva o sangue
às diferentes partes do corpo.
• Sangue.
❖ No seu conjunto, o coração e os vasos sanguíneos vão assegurar que o sangue
chega a todos os tecidos do corpo, asseguram a circulação do sangue, e isto é
crucial à vida porque é assim que os nutrientes, o oxigénio, hormonas e células
sanguíneas (glóbulos brancos e glóbulos vermelhos) chegam aos diferentes
tecidos do corpo e permitem que eles continuem a funcionar → vão garantir assim
o funcionamento dos vários tecidos dando-lhes energia para funcionarem,
permitindo combater doenças, estabilizar a temperatura e o ph, ou seja, manter a
homeostase e o equilíbrio do organismo.
❖ Por sua vez o sangue também traz resíduos metabólicos das células para serem
posteriormente excretados do nosso corpo.
❖ O coração vai garantir o fluxo consistente de sangue oxigenado (sangue com
oxigénio) ao enviar o sangue para os pulmões para ser oxigenado (circulação
pulmonar) e depois para o resto do corpo (circulação sistémica).
❖ Circuito (do ponto de vista fisiológico):
• O sangue desoxigenado, vai regressar ao coração
pelas veias.
• Entra no coração pela veia cava, superior e inferior.
• Vai para a auricola direita, passa para o ventrículo
direito.
• Daí vai ser bombeado para os pulmões, onde vai
ser reoxigenado.
• O sangue já oxigenado vai regressar dos pulmões
para o coração pela auricola esquerda.
• Passa para o ventrículo esquerdo.
• E daqui vai ser bombeado pela artéria aorta, e onde
o sangue oxigenado vai ser disseminado para o
resto do corpo.

❖ Na figura apresentada em baixo nós vemos as principais estruturas anatómicas do


coração.
❖ Como já foi referido, o coração é a bomba crucial do sistema cardiovascular,
consistindo num tipo especial de músculo, e é a existência deste músculo no
coração que me permite bombear o sangue.
❖ Este tipo especial de músculo é um músculo cardíaco, e é diferente dos outros
músculos que temos no corpo, e essa diferença tem a ver com as propriedades
elétricas do músculo, que permite que ele se contraia de uma forma mais
sustentada que outros músculos, como por exemplo os músculos esqueléticos.
❖ A ação de bombeamento do coração é primariamente suportada pelas fibras
musculares das aurículas e dos ventrículos → aquilo que acontece é que há uma

46
despolarização muito rápida ao longo do coração, que vai da parte superior para a
parte inferior em termos elétricos, ou seja,
vai numa direção fustral caudal, superior e
inferior, e é esta despolarização que vai
fazer com que haja uma ação de
bombeamento, que vai provocar a
contração do coração.
❖ As aurículas e os ventrículos estão
eletricamente conectados, funcionam de
forma integral, e é isto que faz com que
haja uma contração ventricular logo a
seguir a haver uma contração auricular.
❖ Primeiro existe uma contração das aurículas, que empurra o sangue para os
ventrículos, e logo a seguir existe uma contração dos ventrículos que empurra o
sangue para os pulmões ou para fora do corpo.
❖ O que despoleta esta ação elétrica do coração? Onde é que tem origem?
• Aquilo que acontece é que há uma
despolarização de dois nódulos de tecido
eletricamente ativo, que são os nódulos
sino auricular e auriculoventricular:
➔ Sino auricular: é um nódulo que está
localizado na aurícula direita, e é o
pacemaker natural do coração (é o
pacemaker porque controla o ritmo
cardíaco).
• Depois, a onda de despolarização é conduzida através das fibras que estão
a vermelho na imagem, para os ventrículos onde vai dar a sua contração.

❖ O coração bate a um ritmo, aproximado, de 70 batimentos por minuto quando


estamos em repouso (embora possa variar entre 60-100).
❖ Se fazemos exercício físico isso vai temporariamente aumentar o nosso ritmo
cardíaco para responder às necessidades do nosso corpo nesse momento; mas se
fizermos exercício de forma continuada, o nosso ritmo cardíaco de repouso vai
diminuir porque o nosso coração vai se tornar numa bomba mais eficiente, e vai
precisar de bater menos tempo para cumprir a sua função → daí que o exercício
físico seja positivo para a saúde cardiovascular.
❖ Quanto mais baixo for o ritmo cardíaco em repouso, melhor a eficiência da função
cardíaca, e melhor a saúde cardiovascular.
❖ Circuito descrito outra vez:

47
CICLO CARDÍACO
❖ O funcionamento cardiovascular ocorre por ciclos que estão associados aos
batimentos cardíacos.
❖ Ciclo cardíaco: eventos que ocorrem no coração, em termos do volume e da
pressão sanguínea, entre um batimento cardíaco e o seguinte.
❖ O ciclo cardíaco é composto por duas épocas principais:
• Diástole: durante a qual o coração não bombeia nem contrai; o coração
durante a diástole está a encher-se de sangue, está em relaxamento (na
imagem podemos ver o volume do sangue a aumentar).
→ fase de relaxamento.
• Sístole: durante a qual o coração vai contrair para
bombear o sangue, em que existe uma pressão
sanguínea no coração, porque o músculo está aa
contrair, e vai haver uma diminuição no volume de
sangue porque o sangue vai estar a sair do coração. →
fase de contração.

❖ O ciclo cardíaco começa com a despolarização do nódulo sino auricular na aurícula


direita que ocorre na última fase da diástole.
❖ Esta onda de despolarização, que é a instrução para o coração bater, vai passar
pelo músculo auricular, e nós quando fazemos o registo do eletrocardiograma, esta
onda de despolarização vai corresponder à onda “P” no sinal elétrico, que é a onda
que vemos no registo de eletrocardiograma; quando vemos esta onda significa que
o nosso sino auricular foi despolarizado e que deu origem à atividade elétrica que
vai culminar na contração do coração.
❖ Logo a seguir a esta onda “P” vai haver uma contração das aurículas, é a
despolarização que vai causar esta contração; e logo a seguir à contração das
aurículas, nós vamos ver um complexo que é o complexo
QRS (no traçado eletrocardiograma), que dizemos que é
um complexo porque reflete um evento único, no fundo
estes 3 tipos, e este complexo QRS que temos aqui
corresponde à despolarização dos ventrículos, e à
contração dos músculos ventriculares.
❖ É aqui que temos o inicio da sístole, que é quando os
músculos ventriculares contraem e vemos este complexo
QRS no traçado do eletrocardiograma, em que temos o
coração a bombear o sangue para os pulmões (no caso da circulação local) ou para
fora, para o resto do corpo (no caso da circulação sistémica).
❖ Durante a contração ventricular, aquilo que vai acontecer é que a pressão nos
ventrículos vai ser muito alta (porque o músculo está a contrair) e vai ser alta o
suficiente para que as válvulas auriculoventriculares (portas entre as aurículas e os
ventrículos) fechem, de maneira a que o sangue não volte para trás.
❖ A pressão nas paredes dos ventrículos vai ser muito forte, estas válvulas (tricúspida
e a mitral) vão fechar devido à pressão no coração e depois o sangue é bombeado
para fora.

48
❖ Na imagem vemos a pressão a aumentar durante esta fase de contração
ventricular.
❖ Depois de haver esta contração ventricular, à medida que a pressão desce (e a
pressão vai descer quando o sangue sair), estas mesmas válvulas, aurículo
ventriculares, voltam a abrir e os ventrículos vão encher-se de novo e continuamos
nesta dinâmica continuamente.
❖ Pico de pressão ventricular – aquilo que acontece é que o inicio da contração
ventricular leva a um aumento grande da pressão nos ventrículos, mais de 100mm
de mercúrio (unidade de pressão que vemos no gráfico); quando esta pressão nos
ventrículos é maior do que a pressão na artéria aorta (principal artéria que vai do
sangue para o resto do corpo) a válvula da aorta abre, e é isso que faz com que o
sangue consiga sair do coração para a circulação sistémica, e depois há logo uma
diminuição grande da pressão e uma diminuição grande do volume do sangue nos
ventrículos.
❖ Mais tarde, na fase da contração ventricular, os ventrículos repolarizam, há um
novo equilíbrio dos ventrículos, algo que nós vemos no traçado eletrocardiograma
como a onda “T”, que é a fase de relaxamento dos músculos, eles expandem
novamente e começam a receber o sangue dando inicio a uma nova diástole.

❖ Resumindo:
• Diástole: fase de relaxamento; coração distende-se para receber o
sangue.
• Sístole: fase de contração; coração bombeia o sangue.
• Registo da atividade cardíaca (ECG):
➔ Onda P: onda de despolarização que passa pelo músculo auricular
(prévia à contração da aurícula).
➔ Complexo QRS: correntes que atravessam os ventrículos prévias à
contração ventricular e repolarização das aurículas (marca o início da
sístole).
➔ Onda T: repolarização dos ventrículos (marca o início da diástole).

49
CONTROLO
❖ O que é que determina o ciclo cardíaco? Como é que ele é controlado?
❖ As características do ciclo cardíaco são reguladas por dois tipos de fatores:
• Alguns destes fatores são locais, são intrínsecos ao
próprio coração, são os mecanismos que nós chamamos
internos, intrínsecos, ou autorregulatórios.
• Mas há outros que são extrínsecos, que estão
relacionados com o sistema nervoso autónomo e
hormonal. Naturalmente, estes são aqueles que nos
interessam.
❖ A nossa atividade cardíaca é flexível e varia para responder às necessidades das
células do corpo em termos de oxigénio e nutrientes, necessidades estas que
variam muito consoante as nossas condições.

❖ MECANISMOS INTRÍNSECOS:
• São os mecanismos do próprio coração.
• O ritmo cardíaco espontâneo é automaticamente regulado por células
especializadas no coração que geram e difundem o sinal elétrico.
• O nódulo sinoauricular tem um papel crucial como pacemaker do coração
(localizado na aurícula direita) → nódulo que ritmicamente e
espontaneamente vai produzir um impulso elétrico de x em x tempo, e é
aquilo que faz com que o nosso coração vá batendo de forma automática.
• Quando estamos em repouso, o nosso SNAP está
constantemente a inibir o nódulo sinoauricular, de
maneira a que a sua tendência espontânea para
produzir 100 a 120 batimentos por minuto desça, e faça
com que só produzamos 70 por minuto.
• O nódulo sinoauricular é um dos mecanismos
intrínsecos de regulação da atividade cardíaca.
• Outro mecanismo que é importante para o controlo e regulação do fluxo
sanguíneo é o Mecanismo Frank-Starling: que é um mecanismo
adaptativo que produz efeitos compensatórios.
• O que acontece é que quando, por exemplo, num batimento cardíaco entra
muito sangue no coração pelas veias, e sai relativamente menos pelas
artérias, no batimento seguinte vamos ter que compensar → o coração vai
ter de contrair mais vigorosamente para aumentar o volume de sangue a
sair.
• Aquilo que acontece é que há recetores no tecido cardíaco, que são
sensíveis há distensão do coração, o coração vai ter de distender mais para
acomodar o maior volume de sangue; e estes recetores ao detetarem que
houve uma distensão maior, que existe um maior volume de sangue, vão
fazer com que haja uma contração mais forte no batimento seguinte para
haver uma compensação.

50
• Este é um mecanismo de regulação que permite que o output (saídas do
coração) cardíaco se sincronize com o input venoso, com a entrada de
sangue no coração.
• Estes mecanismos estão em constante interação, e vão trabalhar de forma
integrada com os mecanismos de regulação extrínseca.

❖ MECANISMO EXTRÍNSECOS:
• Estes sistemas de regulação extrínseca, incluem o sistema nervoso
autónomo e o sistema nervoso central.
• Sistema nervoso autónomo:
➔ Quer a divisão simpática, quer a divisão parassimpática do sistema
nervoso autónomo, podem influenciar o sistema cardiovascular, sendo
que a sua influência é tipicamente em direções opostas.
➔ É importante saber que o coração pode estar sob influência simpática e
parassimpática, porque há medidas, que refletem sobretudo apenas um
dos lados do sistema nervoso autónomo.

• Sistema nervoso parassimpático:


➔ Vai atuar sobre os nódulos sino auricular e auriculoventricular do
coração, que são os responsáveis pela atividade elétrica do coração →
vai atuar sobre eles através do nervo vago.
➔ O nervo vago é um dos nervos cranianos, com origem no tronco
cerebral.
➔ O principal neurotransmissor é a acetilcolina, e a sua ação é uma ação
inibitória cardíaca → aquilo que vai acontecer é que se, há uma maior
influência parassimpática, vai haver uma diminuição do batimento
cardíaco.

• Sistema nervoso simpático:


➔ Este tem o efeito aposto ao parassimpático.
➔ Também atua sobre os nódulos sinoauricular e auriculoventricular, mas
com um neurotransmissor diferente que é a noradrenalina.
➔ Uma distinção também importante é que, enquanto o sistema nervoso
parassimpático tem um efeito principalmente ao nível do ritmo cardíaco,
o sistema nervoso simpático tem um efeito forte ao nível da força da
contração além de afetar o ritmo cardíaco.
➔ Ou seja, quando nós estamos num estado de maior ativação simpática,
por exemplo, durante uma corrida ou quando estamos a discutir com
alguém, nós vamos ter contrações mais fortes e contrações mais
frequentes, isto para aumentar a eficiência da circulação de sangue
oxigenado, que vai dar suporte às necessidades do momento.
➔ Quando estamos num estado de maior influência parassimpática vamos
ter sobretudo uma diminuição do ritmo cardíaco.

• Sistema nervoso central:

51
➔ Também é importante para a regulação da atividade cardíaca.
➔ E este controlo a nível mais central, inclui quer aspetos mais simples
(que funcionam de uma forma reflexa e automática) quer aspetos
neurocomportamentais mais complexos e flexíveis.
➔ Reflexos do tronco cerebral:
▪ Um dos reflexos cardíacos com coordenação central melhor
conhecidos é o reflexo dos barorrecetores.
▪ Os barorrecetores são neurónios
especializados, neurónios sensoriais que estão
localizados nos vasos sanguíneos e que
funcionam como sensores → são sensores que
monitorizam nos vasos sanguíneos mudanças
na pressão sanguínea, vão comunicar essa
informação ao cérebro, e essa comunicação é
feita a uma região do bolbo raquidiano (região
da parte de baixo do tronco cerebral), e depois
em função dessa informação que chega a esta
parte do tronco cerebral, vão ser
implementadas ações para corrigir estas
mudanças de forma a promover a homeostase
e o equilíbrio do organismo.
▪ Esta informação gera respostas regulatórias através do sistema
nervoso autónomo (levando a mudanças no ritmo cardíaco e na
pressão sanguínea).
▪ Por exemplo: se os barorrecetores comunicam ao tronco cerebral
que houve um aumento da pressão sanguínea, isto vai fazer com
que haja um aumento do controlo parassimpático, uma diminuição
do simpático, de forma a diminuir o ritmo cardíaco e a diminuir a
pressão sanguínea → isto é tudo feito a nível reflexo automático,
sendo o objetivo manter a pressão sanguínea a níveis constantes.

➔ Além deste nível mais automático e reflexo, depois há áreas cerebrais


mais superiores que também podem ter um efeito, e podem também
elas próprias inibir a ação dos reflexos.
➔ Áreas cerebrais de alto nível:
▪ Áreas do sistema límbico e do
telencéfalo (exemplo de ação destas
áreas: resposta de stress – quando
estamos num estado de stress, não
estamos a conseguir diminuir o
batimento cardíaco e a pressão
sanguínea, porque essa resposta de
stress que é controlada a nível mais
superior, vai suprimir o reflexo dos
barorrecetores, o que leva a uma
continuada elevação da pressão

52
sanguínea e do ritmo) podem controlar a regulação dinâmica
autónoma.
▪ Estes processos de que estamos a falar aqui, a nível de áreas
cerebrais mais superiores, são processos mais flexíveis, processos
mais complexos, mais variáveis do que os reflexos.
▪ Há múltiplas vias através das quais este controlo mais superior pode
acontecer → por exemplo: estruturas como o hipotálamo, a
amígdala, ou o córtex pré-frontal, podem projetar diretamente para
os reflexos do tronco cerebral e assim modulá-los; ou podem projetar
para os núcleos do sistema nervoso autónomo e assim modular
diretamente a atividade do sistema nervoso autónomo.
▪ O que se passa do ponto de vista neuro comportamental, tem
múltiplas formas de afetar a atividade cardíaca, e é isto que do ponto
de vista neurobiológico explica as associações que vimos entre
variáveis neurocomportamentais psicológicas e variáveis
cardiovasculares.

MEDIDAS PSICOFISIOLÓGICAS
❖ Eletrocardiograma (ECG):
• Ritmo/ frequência cardíaca: número de batimentos por minuto,
determinado com base no tempo (em ms) entre dois picos R (pico mais
visível no traçado) consecutivos no ECG.
• Variabilidade cardíaca: múltiplas medidas, e.g., variação nos intervalos de
tempo entre batimentos cardíacos.
➔ Maior variabilidade cardíaca/ maior variação nos intervalos de tempo
entre batimentos cardíacos é considerada como algo positivo, porque
significa que o nosso sistema nervoso autónomo e o nosso coração
estão a funcionar de uma forma mais flexível e dinâmica para responder
às exigências do meio num certo momento.
➔ Maior variabilidade cardíaca é algo bom pois significa um coração mais
saudável.

❖ Pressão sanguínea:
• Pressão do sangue nas paredes dos vasos
sanguíneos (em geral referimo-nos a tensão arterial,
medida em mmHg).
• É facilmente medida utilizando equipamentos não
invasivos.
• Pressão arterial – pressão do sangue nas artérias
durante a circulação sistémica e que medimos em milímetros de mercúrio
(mmHg).
• Em termos psicológicos, nós sabemos que quando exprimimos as nossas
emoções de forma explicita, isso pode fazer com que haja uma redução
das respostas fisiológicas a este nível, o que reduz a pressão sanguínea.

53
• O comportamento emocional expressivo está associado a uma menor
pressão sanguínea, e pelo contrário, se tentarmos suprimir as nossas
emoções, inibimos uma determinada resposta emocional, o que pode levar
a um aumento momentâneo da resposta fisiológica do aumento da pressão
arterial.

SIGNIFICADO PSICOFISIOLÓGICO
❖ Exemplos sobre o que é que a atividade cardíaca pode significar do ponto de vista
psicológico.

❖ SOLIDÃO E ATIVIDADE CARDÍACA:


• Solidão associada a, e.g.:
➔ Maior pressão sanguínea em repouso (baseline).
➔ Menor aumento do ritmo cardíaco, output cardíaco e
contractilidade cardíaca em resposta a stressor.
➔ (outros estudos sugerem resposta cardiovascular
exagerada).

• Cacioppo et al., 2002, Psychosomatic Medicine:


➔ Estes autores realizaram um estudo com pessoas socialmente isoladas.
➔ O isolamento social está associado a níveis maiores de mortalidade e
neste estudo pretendiam compreender melhor a associação entre
solidão e mortalidade, focando-se no sistema cardiovascular.
➔ Tinham grupos de participantes que sofriam altos níveis de solidão, e
outros que não, e em laboratório queriam que fizessem tarefas de stress
para medirem fatores cardiovasculares.
➔ Observou-se que estas pessoas, numa situação de stress, tinham uma
menor resposta cardiovascular, mas há outros estudos que mostram
que a resposta é exagerada e não atenuada.
➔ As interações sociais podem afetar a forma como o coração responde
numa situação de stress.

❖ ESTÍMULOS EMOCIONAIS E ATIVIDADE CARDÍACA:


• Estímulos intensos negativos e positivos associados a respostas cardíacas
distintas.
• Bradley et al., 2001, Emotion:
➔ Neste estudo, os participantes viam imagens com
propriedades emocionais, distintas e depois era
pedido que fizessem avaliações emocionais das
imagens.
➔ Observou-se que há uma desaceleração cardíaca em
resposta a estímulos emocionais, sejam eles positivos
ou negativos.

54
➔ Nos estímulos negativos há desaceleração
inicial acentuada, mais do que nas positivas.
➔ Por outro lado, nos estímulos positivos, há uma
desaceleração média e depois há uma
aceleração novamente.
➔ A forma da curva no gráfico é distinta para
imagens positivas e negativas.
➔ A atividade cardíaca muda quando vemos
imagens emocionais como também se são positivas ou negativas.
➔ Desaceleração cardíaca como resposta imediata a um estímulo.

❖ MÚSICA RELAXANTE E ATIVIDADE CARDÍACA:


• Knight e Rickard., 2001, J Music Therapy:
➔ Neste estudo foi pedido aos participantes que fizessem uma tarefa
promotora de stress e eram medidos o batimento cardíaco e a pressão
sanguínea antes da situação de stress e depois.
➔ Se numa condição as pessoas faziam a tarefa de stress com música
relaxante, noutra condição faziam em silêncio.
➔ A tarefa de stress consistia em pedir aos participantes para preparar
uma apresentação oral numa determinada área e era exigido que fosse
gravada e o desempenho fosse avaliado.
➔ A tarefa induziu stress e houve um aumento da pressão
sanguínea e do batimento cardíaco.
➔ Contudo, quando se extraiu o índice de reatividade (é a
diferença entre os indicadores fisiológicos depois do stress
menos antes do stress) e quando se comparou a condição
da música vs. silêncio, verificou-se que os aumentos na
pressão sanguínea e batimento cardíaco só foram
observados na condição de controlo.
➔ Quando os participantes ouviam música, isto permitia-lhes
lidar com o stress, tendo uma menor reatividade
fisiológica.
➔ A música relaxante ajudou a diminuir a resposta simpática perante um
stressor, o que mostra que a música pode funcionar como uma
estratégia de regulação emocional perante situações de stress.

ATIVIDADE
ELETRODÉRMICA

❖ Reflete, sobretudo, a atividade da divisão simpática do sistema nervoso autónomo,


enquanto a atividade cardíaca reflete influências da divisão simpática e
parassimpática.

55
❖ É uma medida do sistema nervoso autónomo e tem a ver com a pele.
❖ Refere-se à propriedade do nosso corpo que vai causar flutuações
contínuas nas características elétricas da nossa pele e essas
flutuações podem variar em função dos contextos físicos e
emocionais.
❖ Definição: flutuações nas características elétricas da pele; pode variar em resposta
a diferentes contextos físicos ou emocionais.
❖ História: Charles Féré (1888), Ivan Tarchanoff (1890)

❖ Método de Féré:
• Aplicação de uma corrente elétrica entre dois elétrodos colocados na
superfície da pele (podíamos medir diminuições momentâneas na
resistência da pele em resposta a uma variedade de estímulos).
• Regista a resistência da pele (ou o seu recíproco, a condutância) à
passagem desta corrente aplicada externamente → método exosomático;
resposta galvânica da pele; nível de condutância da pele (skin conductance
level, SCL); resposta de condutância da pele (skin conductance response,
SCR).
• O fenómeno básico descoberto por Feré é que a pele se torna
momentaneamente o melhor condutor de eletricidade, e há menor
resistência à passagem de eletricidade quando estamos expostos a
estímulos externos, nomeadamente estímulos emocionais.

❖ Método de Tarchanoff:
• Mudanças no potencial elétrico entre dois elétrodos colocados na superfície
da pele sem aplicação de uma corrente externa → método endosomático;
potencial da pele.

❖ Féré e Tarchanoff descobriram os 2 métodos básicos de registo de atividade


eletrodérmica que nós usamos hoje.
• Método exosomático: é o mais usado e eficiente, e baseia-se na aplicação
de uma pequena corrente elétrica externa e é conhecido como resposta
galvânica da pele, como o nível de condutância da pele ou resposta de
condutância da pele.
• Método endosomático: não se baseia na aplicação de uma corrente
externa.
• Condutância da pele: é um recíproco da resistência da pele – quando há
menor resistência à passagem de eletricidade, há maior condutância,
quando há maior resistência, há menos condutância.

ANATOMIA E FISIOLOGIA
❖ Pele como barreira seletiva – tem função de não permitir a entrada de coisas
estranhas para o nosso corpo e facilitar a passagem de materiais que vêm da
circulação sanguínea para o exterior do corpo.

56
❖ Ajuda à manutenção do equilíbrio de água e da temperatura do corpo →
vasoconstrição/ dilatação e variação na produção de suor. É através da
vasoconstrição e vasodilatação e do suor, que a pele cumpre a sua função de
manter o equilíbrio da água e temperatura do corpo.
❖ É constituída por duas camadas: epiderme (exterior) e derme (interior):
• A epiderme é muito fina (0,4 mm e 2 mm de espessura) e a derme é
formada por um conjuntivo que sustenta a epiderme (tem entre o,5 e 6 mm
de espessura), e ainda garante a elasticidade e resistência da pele.
• Depois temos a hipoderme que é constituída sobretudo por tecido adiposo
que protege contra o frio, e é considerada como não fazendo parte da pele
(subcutânea).
❖ Camada córnea: camada de células mortas que protege os órgãos internos. É a
camada mais exterior da epiderme.

❖ Há dois tipos de glândulas sudoríparas:


• Apócrinas: associadas com folículos capilares e concentradas nas zonas
das axilas e genital. (menos estudadas)
• Écrinas: (interessam mais)
➔ Função de termorregulação.
➔ Particularmente densas nas superfícies
palmares e plantares respondem;
respostas de “suor psicológico” mais
evidente.
➔ O suor psicológico é quando suamos
devido a fatores psicológicos.
➔ As Écrinas respondem a estímulos
psicologicamente significativos. Isto
acontece mais na superfície das palmas da
mão e na planta dos pés.
➔ Maiores implicações para a psicofisiologia.

❖ A atividade das glândulas sudoríparas está associada a alterações na atividade


eletrodérmica:
57
• Suor emerge (chega à superfície da pele) através dos ductos (canais) em
quantidades variáveis, e num número variável de glândulas (dependendo
do grau de ativação do sistema nervoso simpático).
➔ Através dos ductos que vão até à superfície da pele, vão desde a
glândula sudorípara, em que o suor é enviado e chega à superfície da
pele .
➔ A quantidade de suor que é excretada, assim como o número de
glândulas a excretar suor vai variar imenso,
dependendo do grau de ativação do sistema
nervoso autónomo simpático.
➔ Se há uma maior ativação simpática, vamos
ter mais glândulas e a produzir mais suor.
➔ Quanto mais suor for produzido, mais ele vai
subir a superfície, e à medida que sobe, vai
fazer diminuir a resistência da pele à
passagem de eletricidade na cama mais
exterior – córnea.
➔ Esta camada é, em geral, resistente à
passagem de eletricidade mas esta resistência diminui quando o suor
emerge, aumentando a condutância elétrica.
➔ O nível de suor produzido leva a mudanças observáveis na atividade
elétrica.

• Quanto mais o suor sobe nos ductos, menor é a resistência à passagem de


eletricidade na camada córnea (i.e., maior condutância da corrente
elétrica) → mudanças observáveis na atividade eletrodérmica.

❖ Como é que estas variações são controladas a nível central? Porque é que há
fatores psicológicos que podem interferir em aspetos como o suor?
❖ Glândulas sudoríparas são influenciadas sobretudo pelo sistema nervoso simpático
→ enervação colinérgica (acetilcolina - neurotransmissor) das fibras sudomotoras
da cadeia simpática.
• Verificou-se que quando garantimos que a temperatura do ambiente é
relativamente estável, há uma elevada correlação entre os níveis de
atividade nervosa simpática e a resistência à condução da eletricidade da
pele.
• Garantir que as diferenças que observamos na atividade elétrica da pele
refletem efetivamente variações no sistema nervoso simpático e não
simplesmente questões genéricas mais fisiológicas de temperatura.

❖ Controlo central complexo:


• As influências no sistema nervoso simpático vêm por múltiplas vias, de
várias partes do cérebro (ilustrado na figura a baixo). São 3 vias através
das quais há controlo da atividade eletrodérmica.

58
• Via descendente do córtex premotor e sensoriomotor (gânglios da
base) – controlo mais complexo e é a via mais superior.
• Hipotálamo e sistema límbico: no sistema límbico, há evidência do papel
da amígdala e do hipotálamo (é importante para a regulação da
temperatura).
• Formação reticular no tronco cerebral: via mais inferior.
• Estas 3 vias são as que podem levar a alterações na atividade
eletrodérmica.

REGISTO
❖ Usam-se dois elétrodos, ambos colocados em locais ativos (registo
bipolar).
❖ Tipicamente regista-se a partir da palma das mãos – várias localizações
aceitáveis: (1) superfície volar das falanges mediais, (2) superfície
volar das falanges distais, (3) eminência tenar e hipotenar das
palmas.
❖ Temperatura ambiente e altura do dia em que o sinal é registado devem
ser controlados.

MEDIDAS
❖ Na figura do lado direito temos 2 traçados da atividade eletrodérmica durante 20
segundos de repouso (rest) e depois seguimos para a apresentação de 3 estímulos
discretos (sonoros) → estes dois registos são de participantes diferentes.
❖ Durante o período de “rest” temos o nível de condutância da pele SCL tónico (1º
linha da tabela) e é quando não há a apresentação de estímulos.

59
❖ A nossa pele tem sempre uma determinada propriedade elétrica, se eu colocar
elétrodos consigo avaliar este nível tónico (que varia bastante).
❖ Intervalos típicos são entre 2 e 20.
❖ É típico haver uma tendência descendente na resposta em repouso. Há um
aumento quando aparece um estímulo novo.
❖ Nós também podemos ver respostas na nossa pele sem que apresentemos
estímulos (aqui há respostas não específicas).
❖ As respostas que nos interessam são as que são causadas por nós e causam
respostas específicas.
❖ Vimos isso quando a mudança na condutância é pelo menos 0,01 a 0,05 → há aqui
uma resposta específica ao nosso estímulo. Está mostrada na imagem de baixo (a
resposta específica).
❖ A amplitude é das componentes mais referidas e diz respeito ao aumento que
verificamos na condutância da pele em resposta ao estímulo.
❖ Latência: janela temporal desde o momento em que apresentamos o estímulo e
começamos a ver a resposta eletrodérmica (pode ir de 1 a 3 segundos – resposta
fisiológica lenta).
❖ Rise time (tempo de aumento) que diz respeito ao tempo entre o inicio da resposta
e o pico da mesma.
❖ Existe também uma habituação na resposta eletrodérmica – à medida que nós
vamos repetindo os estímulos vai havendo uma diminuição progressiva de
amplitude e até um desaparecimento da resposta.

SIGNIFICADO PSICOFISIOLÓGICO
❖ Útil para fazer inferências sobre processos variados (há várias propriedades dos
estímulos à qual a atividade elétrica é sensível):
• Novidade/surpresa
60
• Itentividade
• Conteúdo emocional
• Significância

❖ Faces familiares vs. não familiares:


• Avaliou-se a atividade eletrodérmica em resposta a caras de
famosos, familiares e maior significância, ou de desconhecidos
e não familiares.
• Participantes só tinham que observar as faces.
• Viu-se que a atividade eletrodérmica é significativamente maior
(ver no traçado superior) quando os participantes conhecem a
pessoa.
• Afeta momentaneamente a facilidade com que a nossa pele
conduz a eletricidade.

❖ Emoção, aprendizagem e memória


• Estudo com indivíduos com e sem fobia a aranhas.
• Estímulos fóbicos centrais emparelhados com estímulos periféricos e
neutros ou positivos.
• A atividade eletrodérmica e cardíaca fazem parte do sistema nervoso
autónomo.
• Participantes podiam ver imagens com 3 partes que incluíam estímulos
fóbicos ao centro e à volta tinham estímulos positivos ou neutros.
• Viu-se que durante o período de exposição das imagens, os participantes
fóbicos tiveram respostas mais fortes, assim como tinha mais intensidade,
e tinham melhor memória para as aranhas.
• O significado emocional subjetivo dos estímulos vai-se refletir na atividade
eletrodérmica e essa respostas fisiológica vai também influenciar a forma
como os estímulos são aprendidos e recordados.

AULA T7
ATIVIDADE ELETROMIOGRÁFICA E PUPILAR

61
❖ Pertence ao sistema nervoso periférico somático.
❖ O sistema nervoso periférico somático é o que inclui o sistema de entradas e saídas
do sistema nervoso central; é o conjunto de inputs e outputs que possibilitam a
nossa relação com o meio, e que a informação sensorial chegue da periferia até ao
nosso cérebro; e possibilitam ainda que a informação vá do nosso cérebro e que a
possamos executar (os movimentos).
❖ Há um aspeto da atividade pupilar (quando a pupila dilata ou contrai) que ainda faz
parte do sistema nervoso autónomo.

ATIVIDADE
ELETROMIOGRÁFICA

❖ Falamos do registo para a atividade elétrica, que é produzida pelos


músculos esqueléticos, e além desses, temos outro tipo de músculos
no corpo, como o músculo cardíaco e o músculo liso.
❖ Aqui vamos falar sobretudo de eletromiografia facial, em que
registamos a atividade elétrica, produzida pelos músculos da face, que
é mais relevante para a psicologia.

ATIVIDADE MUSCULAR
❖ Quando falamos de eletromiografia, falamos da medição do sistema
musculoesquelético → sistema responsável pelo reportório que temos de
reflexos, quer de ações mais complexas e voluntárias.
❖ Autores já enfatizavam a ideia de que podemos olhar para
padrões subtis de ação muscular como forma de caracterizar o
comportamento humano → ideia de que a atividade muscular nos
pode dar pistas importantes.
❖ Comportamento → atividade muscular.
❖ Padrões subtis (alguns são visíveis a olho nu) de ação muscular
como forma de caracterizar e compreender o comportamento
humano.
❖ A ativação dos músculos está associada à geração de potenciais elétricos.
❖ Du Bois-Reymond (1849): bases elétricas da contração muscular produz atividade
elétrica.
• Este autor deu um contributo importante para esta ideia.
• Estudou as bases elétricas da contração muscular e deu a primeira
evidência, com uma pessoa viva, de que há atividade elétrica dos músculos
quando há contração voluntária.
• No entanto, nesta altura, os procedimentos utilizados para o estudo da
atividade elétrica eram ainda invasivos.

62
• Foi necessário esperar até ao início do século XX para ser possível
desenvolver a tecnologia que nos permite detetar sinais mioelétricos subtis
quando ocorrem de forma espontânea.
❖ Sinais mioelétricos – são também chamados os potenciais da ação motores, são
os impulsos elétricos que vão produzir a contração das fibras musculares do corpo.

GUILLAUME DUCHENNE DE BOULOGNE (1862)


❖ Estudo da dinâmica e função dos músculos faciais.
❖ Estimulação elétrica de vários músculos faciais e registo das
expressões resultantes (procedimento invasivo).
❖ Associações de expressões faciais (movimentos musculares)
a emoções.
❖ Autor interessado em estudar a dinâmica e função dos músculos
faciais → especialmente em expressões da emoção e da forma
como os músculos da face produzem essas expressões.
❖ Aplicava choques elétricos que geravam contrações musculares
e que ele depois fotografava. Estes choques eram aplicados à
superfície da pele, fazendo pressão com uma placa metálica
sobre os músculos (menos invasivo).
❖ O autor achava que as expressões faciais nos dão pistas
importantes sobre as emoções e processos psicológicos.
❖ O trabalho deste autor foi muito influente.

ANATOMIA E FISIOLOGIA
❖ Músculo como tecido que gera e transmite força → três tipos: esquelético (40%
do peso corporal), liso e cardíaco.
❖ Tecido muscular estriado: tipo de tecido que constitui o músculo esquelético.
Material hierárquico composto por um número grande de fibras paralelas;
miofibrilas; sarcómero (filamentos de miosina e de actina).

❖ O músculo é um tecido que gera e transmite força, que nos permite manter a
postura, fazer movimentos reflexos e produzir movimentos de forma espontânea e
voluntária.

63
❖ Músculos esqueléticos:
• São aqueles que estão presos ao osso, por tendões (estruturas fibrosas) e
é isso que nos permite efetuar movimentos esqueléticos → permite gerar
força, que vai mover o nosso esqueleto.
• Este sistema é também um sistema sobre o qual nós temos controlo
voluntário, porque há uma parte do nosso corpo que é espontânea e
involuntária e há outra parte que é decidida conscientemente.
❖ Músculo liso:
• está na parede dos órgãos e estruturas como o estômago e intestinos, que
não estão sobre o controlo consciente, ao contrário dos esqueléticos.
❖ Músculo cardíaco:
• É o que está no coração.

❖ Decompondo a figura acima:


• Primeiro temos o músculos – composto por um número grande de fibras
paralelas.
• O termo “estriado” vem do facto de estas fibras serem compostas por
estruturas mais finas (miofibrilas) que têm uma espécie de estrias
horizontais, conhecidas como linhas ou bandas Z.
• A área entre estas estrias (entre as bandas Z) é chamada sarcómero, que
é a unidade básica do músculo e contêm um conjunto de filamentos
grossos, que são formados pela proteína miosina e um conjunto de
filamentos finos, formados pela proteína actina.
• Os dois filamentos são fundamentais durante a contração e o relaxamento
do músculo.
❖ Estrutura hierárquica: músculo, fibras constituídas por miofibrilas com estrias
horizontais chamadas banda Z, e entre elas há os sarcómeros – incluem filamentos
grossos e finos.

❖ Cada músculo estriado é enervado por um único nervo motor → corpos celulares
na espinal medula anterior ou nos nervos
cranianos do tronco cerebral (músculos da
cabeça).
• Os músculos precisam de instrução
nervosa para se moverem.
• Todo o nosso comportamento, toda a
nossa ação dos músculos estriados,
independentemente dos processos
cerebrais que estão envolvidos, resultam
de sinais neurais que viajam por estes
nervos.

❖ Cada nervo motor consiste em axónios de muitos


neurónios motores, que se ramificam (em
fibrilhas axónicas) antes de chegarem ao
músculo, onde se ligam (placa motora) às fibras

64
musculares → corpo celular do neurónio motor, axónio e fibras musculares
unidade motora.
• Cada um destes ramos do axónio vai fazer uma ligação com uma fibra
muscular.
• A esta junção neuromuscular, que é onde a informação passa de
informação nervosa a informação muscular, chamamos placas motoras →
significa que cada neurónio motor enerva várias fibras musculares
separadas dentro do músculo. O neurónio como vai ramificar-se, vai ser
capaz de enervar diferentes fibras musculares e é isto que faz com que as
diferentes fibras musculares contraiam em simultâneo durante a atividade
motora.
• Cada fibra muscular é tipicamente enervada por um neurónio motor.
• Unidade motora: serve para falar destes múltiplos elementos que formam
a unidade funcional que suporta os atos motores, ou seja, os movimentos.
Isto inclui o corpo celular do neurónio motor, e é aqui que a instrução
começa; depois o axónio que vai ao longo do nervo motor; depois as
miofibrilhas axónicas em que o axónio se ramifica e as fibras musculares,
com que estas ramificações do axónio se ligam → elementos necessários
para que o ato motor aconteça.
O que constitui unidade motora do ponto de vista fisiológico.

❖ Despolarização de um neurónio motor leva à libertação de acetilcolina nas placas


motoras (na junção do axónio com fibra muscular) → descargas eferentes
contínuas geram e propagam os potenciais de ação do músculo → contração da
fibra muscular.
• Há esta despolarização de um neurónio motor, há potenciais de ação que
são gerados no neurónio motor, a atividade elétrica que vai dar origem à
libertação do neurotransmissor, ou seja, são libertadas substâncias
químicas.
• Quando as descargas são contínuas vai gerar um potencial de ação que se
vai propagar e levar à contração das fibras musculares.
Agora á do ponto de vista funcional.
❖ Potencial de ação do músculo é transmitido ao longo da superfície da fibra →
contração de toda a fibra.
❖ Pequena pressão destas mudanças no campo eletromagnético causadas por estes
processos passa através dos fluídos extracelulares para a pele, e são essas
flutuações de voltagem que constituem a porção major do sinal EMG que captamos
à superfície (com os elétrodos).
• Quando colocamos elétrodos na face, o que estamos a captar é o sinal
elétrico que viajou desde as fibras musculares até à superfície da pele e
que reflete esta atividade dos neurónios junto às fibras musculares que foi
instrução para a contração do músculo.
• Um aspeto importante sobre este sinal elétrico que nós captamos à
superfície da pele é que elas resultam não de potenciais de ação de apenas
uma fibra muscular, mas sim de várias, que estão ativas em conjunto.

65
• Este sinal elétrico pode envolver apenas uma atividade motora mas mais
tipicamente temos múltiplas unidades motoras, ou seja, temos muitas fibras
musculares ativas em conjunto.

❖ Mudanças de voltagem captadas à superfície resultam de potenciais de ação em


muitas fibras musculares, tipicamente envolvendo unidades motoras múltiplas:
• A EMG não é uma medida direta dos músculos, não estamos a captar
diretamente a tensão dos músculos ou a contração ou a força deles.
Estamos a captar a atividade elétrica associada a estes eventos.
• Pelo que captamos à superfície não conseguimos falar da fibra muscular x,
ou da fibra muscular z, ou de potenciais de ação musculares individuais,
nem sequer da origem absolutamente precisa desse sinal.
• O sinal vai viajar até à superfície, vai se diluir um pouco, ficar difuso,
distorcer um pouco, vai ser muito mais subtil e vai refletir um nível de
múltiplas fibras musculares de múltiplas unidades motoras e, por isso, este
é o nosso nível de análise.

PROPRIEDADES DO SINAL
❖ Somatório da atividade das ondas de despolarização associadas à ativação de
múltiplas unidades motoras. Captar essas alterações de voltagem ao longo do
tempo.
❖ Frequência entre alguns hertz e cerca de 500 hz; amplitude entre frações de um
microvolt de cerca de 1000 microvolts, e são mais amplas do que os outros sinais.
❖ Sinal de uma região muscular localizada requer particular atenção em termos de
redução de ruído e práticas de recolha, preparação (muito cuidadosa) e colocação
dos elétrodos, pré-amplificação (amplificar as partes do
sinal que nos interessam e remover o que não interessa
→ minimizar (…)) diferencial apropriada do sinal →
minimizar a deteção de sinais bioelétricos irrelevantes e
melhorar a relação sinal-ruído.

MONTAGEM
❖ Elétrodos afixados numa configuração bipolar (mais típica) → são
colocados aos pares, temos 2 elétrodos para cada músculo que
vamos avaliar.
❖ Dois elétrodos ativos (alinhados paralelamente ao longo do eixo
das fibras musculares) e um passivo (terra, colocado sobre o ponto
inócuo).
❖ Diâmetro da superfície de deteção varia: 0,5 cm para troncos e
membros; 0,25 para EMG facial.
❖ Afixação com adesivo, aplicação do gel condutor.

66
• Especificar bem o posicionamento dos elétrodos, garantindo que a
localização dos elétrodos é comparável em todos os participantes, todos os
testes e todos os laboratórios.
• Usamos os elétrodos de superfície, porque não são
invasivos, são mais práticos e confortáveis.
• Foto das faces: ilustra exemplo da localização
recomendada para os principais músculos faciais!

CONSIDERAÇÕES
❖ Respostas podem ser controladas voluntariamente (em particular se o participante
conseguir perceber a hipótese experimental).
❖ Estratégias para minimizar este efeito, exemplo, dar aos participantes hipóteses
alternativas plausíveis, distrair os participantes com outras tarefas, colocar
elétrodos “dummy” / não funcionais noutras áreas do corpo para reduzir a saliência
dos funcionais; avaliar o conhecimento da hipótese no debriefing.
❖ Uma das características do sistema muscoesquelético é que pode estar sob
controlo voluntário, podemos decidir mexer a cara/ corpo de certa maneira. Quais
as implicações disto para a nossa investigação?
❖ É difícil nós influenciarmos a nossa atividade cerebral de forma voluntária ou a
nossa atividade cardíaca ou atividade da pele, por isso podemos ter alguma
confiança que o sinal psicofisiológico que estamos a captar é um sinal espontâneo,
no caso da eletromiografia facial, a situação é diferente.
❖ Se os participantes quiserem manipular os resultados, basta que mexam os
músculos da face de forma voluntária num determinado sentido.
❖ Quando colocamos elétrodos na cara do participante, ele pode ficar logo mais
consciente de que as expressões faciais vão ser relevantes para o estudo e pode
perceber logo o objetivo do mesmo → pode afetar todas as respostas.
❖ Há estratégias que podemos utilizar para minimizar este efeito, tal como dar
hipóteses alternativas (falar do objetivo de um estudo que não é exatamente aquele
que é o nosso objetivo real), podemos distrai-los com outras tarefas, para não ter
recursos cognitivos disponíveis para estar a pensar nos músculos faiais, podemos
colocar elétrodos “dummy” noutras áreas do corpo para reduzir a saliência daqueles
elétrodos que nos interessam, podemos perguntar no fim se ele sabia o objetivo do
estudo.
❖ Efeitos de audiência: refere-se ao facto de as nossas expressões faciais poderem
ser alteradas quando estamos perante um observador, ou seja, a forma como nos
exprimimos facialmente é influenciada pelos contextos.
❖ Incluir controlos experimentais.
❖ Uma estratégia pode ser que o experimentador saia da sala quando o participante
está a fazer o estudo ou se o experimentador ficar na sala deve-se garantir que é
sempre o mesmo.

SIGNIFICADO PSICOFISIOLÓGICO
Expressões faciais
❖ Respostas EMG a expressões faciais:

67
• Alegres: maior atividade no zigomático maior.
• Zangadas: maior atividade no corrugador do superálio.
• 300-400 ms de exposição suficientes para despoletar estas respostas.

❖ Dimberg e Thunberg, 1998, Scandinavian y Psychol:

• Que informação útil é que os músculos da face nos dão?


• Muita da investigação nesta área foca-se na emoção.
• Estudo dos autores Dimberg e Thunberg, 1998, Scandinavian y Psychol,
é um estudo percetivo em que os participantes simplesmente viam
expressões faciais enquanto era recolhida a sua atividade eletromiográfica.
• As expressões faciais que observavam podiam ser de alguém alegre ou
zangado e verificou-se que, muito rapidamente, passados 300-400 ms, a
atividade eletromiográfica dos participantes era diferente consoante eles
observavam uma expressão de alegria ou de raiva.
• No músculo zigomático (músculo em torno da boca), o que se via era um
grande aumento da atividade nele quando as expressões observadas eram
alegres.
• No músculo corrugador (músculo associado ao franzir da sobrancelha)
via-se um aumento desta atividade quando as expressões observadas
eram de raiva.
• O estudo mostra que os participantes estavam só a observar. A simples
observação de expressões de diferentes emoções afeta a nossa
própria resposta facial.
• Associação entre músculo zigomático e questões de afeto positivo e o
músculo corrugador a questões de afeto negativo.
• Estes resultados também nos mostram que o facto destas reações serem
tão rápidas e automáticas sugere que há aspetos importantes das nossas
expressões faciais que dependem de mecanismos que são possivelmente
inatos/herdados.

PERCEÇÃO SUBLIMINAR
❖ Exposição inconsciente a caras alegres e zangadas → técnica de backward
masking (30 ms de exposição a caras emocionais, logo seguido da
apresentação/máscara de caras neutras).
❖ Aspetos não verbais das interações sociais ocorrem a nível inconsciente.

68
❖ Dimberg et al., 2000, Psych Science

• Estudos que mostram que estas reações podem acontecer mesmo que não
tenhamos consciência de termos visto uma expressão.
• As nossas respostas faciais são diferentes a diferentes estímulos que nós
não temos consciência de ter observado.
• Isso foi demonstrado pelos autores Dimberg e colaboradores, que usaram
a técnica backward masking para apresentarem expressões faciais aos
participantes sem que estes tivessem consciência de as ter visto.
• Ao fim de 30 ms, a expressão facial era substituída por uma cara neutra; o
participante ficava com a consciência de só ter visto a expressão neutra e
não emocional.
• Ainda assim, quando se mediu a atividade eletromiográfica dos
participantes, verificou-se que ela variava consoante as expressões
emocionais que tinham sido apresentadas.
• No músculo zigomático, havia maior atividade zigomática quando as
expressões eram alegres do que quando eram zangadas, e no músculo
corrugador viu-se o contrário.
• Há aspetos das nossas reações faciais que estão lá, que são quantificáveis
mesmo em resposta a estímulos que não temos a consciência de ter visto.

IMAGÉTICA EMOCIONAL
❖ Raiva, nojo, prazer alegria.

❖ Vrana, 1993, Psychophysiology

• Podemos ver este sinal não só para estímulos que observamos, não só
para estímulos que não temos consciência, mas também para situações e

69
contextos emocionais em que estamos simplesmente a imaginar a
possibilidade que eles aconteçam.
• Neste estudo, Vrana (autora), tinha um conjunto de frases que descreviam
situações emocionais que podiam estar relacionadas com aqueles 4 pontos
(raiva, nojo, prazer, alegria).
• Pediam aos participantes que lessem essas frases e davam-lhes instruções
para eles imaginarem/criarem imagens mentais do que seria sentirem
aquelas emoções.
• Durante 6 minutos ouviam sons que sinalizavam a altura de criar as
imagens mentais associadas aos diferentes sinais emocionais.
• Verificou-se que a imaginação de diferentes cenários emocionais se
traduzia fisiologicamente em diferentes padrões de atividade
eletromiográfica.
• No músculo levantador do lábio, houve mais atividade durante
pensamentos de nojo e de alegria.
• No músculo corrugador, houve uma associação clara de maior atividade
quando estamos em situações negativas.
• No músculo zigomático, vemos uma ativação quando os sinais/contextos
eram positivos em relação a quando eram negativos.
• Basta criação de imagens mentais para que isso se traduza em
atividade eletromiográfica.

O SISTEMA FACS (FACIAL ACTION CODING SYSTEM)


❖ Sistema compreensivo que taxonomiza/ codifica (é uma taxonomia) os movimentos
faciais humanos – desenvolvido por Paul Ekman e Wallace Friesen, em 1978.
• É a lista dos movimentos faciais que podemos fazer e depois a partir desta
taxonomia podemos fazer uma análise de uma determinada expressão
facial e verificar quais os movimentos faciais da lista que estão presentes
(e ausentes) e em que magnitude os movimentos faciais estão presentes.
• Através deste sistema podemos distinguir sorrisos sinceros de sorrisos não
sinceros.

❖ Descreve expressões faciais observáveis em termos de unidades de ação muscular


(Action Units, AU).
• Este sistema é baseado na informação visual que temos ao analisar uma
imagem da atividade das diferentes unidades de ação muscular.
• Mas o que a investigação mostra é que existe uma correlação entre estes
movimentos explícitos/ visíveis e aquilo que é o sinal captado pelo EMG.

70
❖ Aspetos do FACS correlacionados com o sinal EMG → este não é um sinal direto.

BIOFEEDBACK
❖ Meta-análise: efeitos benéficos de biofeedback com base no EMG na enxaqueca
e cefaleia de tensão.

❖ (Nestoriuc et al., 2008, Appl Psychophysiol Biofeedback)

• É uma das grandes áreas de aplicação da psicofisiologia.


• É uma técnica em que nós recebemos a informação em tempo real do que
está a acontecer no nosso corpo (pode ser informação da atividade do
cérebro, cardíaca e neste caso é a informação da atividade elétrica
associada aos músculos) e ao receber essa informação, podemos
implementar esforços conscientes, no sentido de a alterar (alterar o sinal)
num determinado sentido.
• Corrigir o sinal de forma a atingir o objetivo pretendido.
• Dá-nos uma ideia mais clara sobre o que se passa no nosso corpo e
fazemos esforços para implementar mudanças (podem ser esforços para
reduzir a dor ou para relaxamento muscular).
• A EMG como biofeedback é muito utilizada na medicina física e reabilitação
e em situações de dor.
• Nestoriuc mostra efeitos claros do biofeedback com base na EMG para o
tratamento de enxaquecas e cefaleias de tensão.
• No caso das enxaquecas (figura da direita), vemos que o biofeedback
melhora quer a dor em si mesma, mas também uma série de aspetos
associados – diminui a frequência das dores de cabeça, diminui a
intensidade das mesmas, tem efeitos benéficos em termos de ansiedade,
depressão e consumo de medicamentos.
• No caso das cefaleias (figura da esquerda) verifica-se menos tensão
muscular com biofeedback na EMG.
• Nestas figuras vê-se o tamanho dos efeitos do tratamento → quanto mais
se afastam de 0, significa que maior é o efeito benéfico do tratamento.

OUTRAS APLICAÇÕES

71
❖ Quantificar tensão muscular em ergonomia (Kumar e Mital, 1996), exemplo, avaliação do uso
do rato do computador, ou do stress e respostas de dor em pessoas que trabalham em caixas
de supermercado.
❖ Medir de forma precisa o inicio, magnitude e fim das respostas em tarefas de tempo de
reação (Allain et al., 2004).
❖ Discernir os músculos específicos que suportam a postura, marcha, e atos motores
complexos (Trepman et al., 1994).
❖ Amplitude grande de possíveis aplicações da eletromiografia.

ATIVIDADE
PUPILAR

❖ A atividade do olho é interessante do ponto de vista da


psicologia, porque ver não é um processo passivo.
❖ Exemplo: quando olhamos para o ecrã do computador estamos
a explorar o que queremos para os nossos objetivos.
❖ A nossa visão é um processo ativo, varia de momento para
momento em função daquilo que são os nossos objetivos e
contexto.
❖ Nós determinamos o que vemos, como e quando. Neste sentido,
há informação importante – capta (ou não) a nossa atenção, que aspetos do nosso campo
visual é que estamos a explorar num determinado momento e porquê. Isto são tudo questões
comportamentais e psicológicas relevantes.

72
❖ Pupila:
• Dentro do olho, a pupila é bastante relevante.
• É uma abertura transparente que vemos no centro do olho (imagem do lado
esquerdo).
• Metaforicamente, funciona como o diafragma de uma máquina fotográfica (que é o
que permite a entrada de luz).
• Esta, está justaposta aa uma estrutura chamada cristalino, está abaixo de uma
estrutura chamada córnea.
• A pupila permite que a luz passe, a luz vai atravessar a superfície do cristalino, o
cristalino é exposto pela pupila (torna-se visível quando a pupila dilata) e depois a
luz é refletida na retina na parte detrás do olho).
• Normalmente, a pupila parece negra, mas é porque o interior do nosso olho é escuro.
• Duas vias de controlo do tamanho da pupila:
➔ Via parassimpática de constrição: quando há uma maior ativação
parassimpática, vai haver uma diminuição do tamanho da pupila devido à sua
constrição através do musculo esfíncter da pupila.
➔ Via simpática da dilatação: quando há maior ativação simpática, vai haver maior
dilatação da pupila.

❖ Diâmetro varia entre 2 a 8 mm – esta amplitude é determinada pela quantidade de luz que
entra no olho e por outros fatores psicológicos e emocionais (alguns).

❖ Íris:
• É a área colorida à volta da pupila e é aqui que temos os músculos que vão controlar
o tamanho da pupila e determinar se ela dilata ou contrai.
• Quando o músculo esfíncter da pupila contrai, vai apertar a parte interior da iris,
levando a pupila a diminuir.
• Quando o músculo dilatador da pupila contrai, vai puxar a parte da iris para fora e
faz com que a pupila dilate.
• Ao tecido branco à volta da iris chamamos esclera, tem a função de proteção do
olho, manter a sua forma e é também aqui que encontramos os músculos
extraoculares, que são aqueles que controlam os movimentos dos olhos.
• O tecido transparente que cobre a iris e a pupila chama-se córnea.
• Dois músculos da iris (que controlam o tamanho da pupila):
➔ Músculos esfíncter da pupila (que a contrai)
➔ Músculo dilatador da pupila (que a dilata)
➔ Estes dois músculos estão associados a duas vias de controlo.

CONTROLO NEURONAL
❖ O esquema apresentado abaixo, é um esquema bastante complexo sobre como
funcionam as duas vias, simpática e parassimpática, em termos neurológicos.
❖ No lado direito, temos a via simpática (b – dilation pathway – dilatação) e do lado
esquerdo temos a via parassimpática (a – constriction pathway – constrição).

73
❖ Lado A – Constriction Pathway:
• É o circuito que nos permite a constrição da pupila.
• A via de constrição é enervada pelo sistema nervoso parassimpático e
tem como consequência a diminuição do tamanho da pupila, e isto
explica porque é que as nossas pupilas vão estar relativamente mais
pequenas quando estamos numa situação de relaxamento ou de repouso
(situações onde há uma dominância parassimpática).
• Esta é uma via subcortical, ou seja, é uma via em que todos os
componentes acontecem abaixo do córtex, é uma via de controlo,
automática de controlo.
• Em primeiro lugar, a luz entra na retina, vai ser enviada pelo nervo ótico,
que é um doa nervos cranianos (número 4), vai ser enviada pelo quiasma
ótico (número 5) e é nesta estrutura, em que o input da retina dos 2 olhos
vai ser combinado e depois vai ser enviado para uma estrutura do corpo
cerebral (já a nível do cérebro) que é a área pré-letal do tronco cerebral
(número 9).
• Desta área do tronco cerebral, a informação vai ser enviada para um núcleo
chamado núcleo Edinger-Westphal, que é o núcleo que faz parte do
sistema nervoso parassimpático (número 8), que tem a função de combinar
informação do campo visual direito e do esquerdo, e daqui, a informação
vai ser enviada através do nervo oculomotor (número 6), vai ser enviada
para o gânglio ciliar (número 3), que é um gânglio parassimpático,
localizado mesmo atrás do olho e daí a informação vai ser enviada pelos
nervos ciliares para o músculo esfíncter da pupila, causando a sua
constrição.

❖ Lado B – Dilation Pathway:


• A via de dilatação é enervada pelo sistema nervoso simpático e tem
como consequência o aumento da pupila, e isto explica porque é que as
74
nossas pupilas estão mais dilatadas quando estamos num estado de maior
ativação/ de maior concentração.
• Tal como na via de constrição, trata-se de uma via subcortical e temos
duas estruturas importantes, que é onde esta atividade começa que é o
hipotálamo e o locus coeruleus, núcleo do tronco cerebral (número 13).
• Neste locus, vemos que há uma atividade maior quando o organismo está
mais ativo/alerta, que reflete arousal e vai enviar informação para a coluna
intermédia lateral da espinal medula (número 15).
• O hipotálamo também vai projetar para a coluna lateral da espinal medula.
• Da espinal medula, a informação vai ser enviada para o gânglio cervical
superior junto à espinal medula e paralelo à espinal medula e daqui vai sair
uma rede de nervos para o músculo dilatador da pupila para fazer com que
o músculo dilate.

❖ Resumindo:
• Via de constrição:
➔ Enervada pelo sistema nervoso parassimpático.
➔ Área pré-tectal e núcleo Edinger-Westphal.
➔ Nervo oculomotor (III) e gânglio ciliar.
➔ Músculo esfíncter da pupila.
• Via de dilatação:
➔ Enervada pelo sistema nervoso simpático.
➔ Hipotálamo e núcleo coeruleus.
➔ Gânglio cervical superior (perto da espinal medula).
➔ Músculo dilatador da pupila.

PERFIL DE RESPOSTAS
❖ Fatores que fazem com que a pupila aumente ou diminua.
REFLEXO DE LUZ
❖ Adaptação à quantidade de luz.
❖ Resposta pupilar à luz: constrição (pupila diminui) face a luminosidade, e
dilatação (pupila aumenta) no escuro.
❖ Perfil típico: 0 – 0.2 s, período de latência (pupila não responde); 0.2s – 1.5s,
constrição acentuada e rápida; 1.5s – 10s, pupila mantém-se diminuída; 10-30s,
retorno ao tamanho original (lento).
❖ Na imagem abaixo → luz azul ou vermelha, 10s; 20s de ecrã negro.

75
❖ Na figura acima, vemos a ilustração de perfil típico da resposta.
❖ Nesta experiência, há uma exposição de uma luz azul ou vermelha, durante 10
segundos e quando há esta exposição vemos uma diminuição rápida do diâmetro
da pupila (perfil rápido de 0 a 0,2s em que a pupila não responde).
❖ Este gráfico ilustra o reflexo da luz e mostra que este reflexo pode ser também
modulado pelo tipo de luz.
❖ A constrição na luz azul é mais sustentada do que na luz vermelha.

REFLEXO DE PROXIMIDADE (ou de acomodação)


❖ Constrição da pupila quando olhamos para um objeto próximo, e dilatação
quando olhamos para um objeto afastado.
❖ De longe para perto há uma constrição da pupila, se for de perto para longe há uma
dilatação da pupila.
❖ Perfil típico: 0 – 0,6s, período de latência (pupila não responde); 0,6s – 2s,
constrição acentuada e rápida; 2s – 10s, pupila mantém-se diminuída; 10 – 12s,
retorno ao tamanho original (lento).
❖ Processo automático e permite, do ponto de vista técnico, aumentar a profundidade
de campo quando mudamos o foco de longe para perto, de maneira a que a imagem
se torne nítida quando focamos num objeto que está próximo.
❖ Quando olhamos para longe, a ideia é diminuir a profundidade de campo de
maneira a que quando olhamos para longe, o nosso foco seja nítido, mas o que
está à volta pode ser menos nítido.
❖ Na imagem abaixo → olhar para perto (mais ou menos 0,1m); 10s: olhar para longe
(mais ou menos 2m).

RESPOSTA PSICO-SENSORIAL
❖ Mais interessante do ponto de vista psicológico.
❖ Esta resposta diz respeito ao facto de a pupila dilatar em resposta a estímulos
ativadores/excitantes (“arousing”), processos cognitivos e processos emocionais.
❖ Resposta varia em função do estímulo que a despoleta, e.g., resposta de orientação
– eventos repentinos e inesperados, como um som.
• Podemos ter uma resposta de orientação – é
quando algo repentino ou surpreendente
aparece/acontece.
• Resposta de inicio rápido, dilatação rápida da
pupila com um pico entre 0,5s e 1s depois do
estímulo, mas também uma resposta que
desparece rápido.

76
❖ Resposta varia em função do estímulo que a despoleta, e.g., esforço mental e
arousal (maior esforço ou ativação emocional, maior dilatação) → fenómeno
conhecido desde os anos 60.

❖ Vê-se que quando estamos numa situação de maior esforço mental ou numa
situação de maior emocionalidade, isso é bom para a dilatação.
❖ Nesta figura acima, vemos o perfil de dilatação associado a uma tarefa de memória
de dígitos, em que se pedia aos participantes para memorizarem um conjunto de
dígitos.
❖ A tarefa podia ser mais difícil (com 7 dígitos), intermédia (com 5 dígitos) ou mais
fácil (com 3 dígitos) e vemos que existe uma dilatação em função da dificuldade da
tarefa.
❖ Dilatação maior quando a tarefa é mais difícil; intermédia quando é intermédia; e
menor quando era muito fácil.
❖ Esta é uma resposta que é mais lenta, demora mais tempo a ser observada, pode
demorar alguns segundos, demora mais tempo a que regressemos à base, demora
mais tempo a que o efeito do esforço mental se dilua.

EYE TRACKING
❖ Medição da atividade do olho, incluindo aspetos como a
fixação do olhar (para onde olhamos) e movimentos dos
olhos (chamamos sacadas), quando pestanejamos (eye
blink), duração das fixações, ou o diâmetro da pupila.
❖ Ao equipamento usado chama-se eye tracker.
❖ O aspeto do equipamento pode variar.
❖ Em relação às fixações, aos movimentos dos olhos →
podem ser relevantes para múltiplas áreas de investigação e serem usadas em
estudos de leitura, por exemplo → ao ler um texto, ver quanto tempo demoro a
descodificar uma palavra, quantas vezes volto para trás para compreender melhor.
❖ Há uma série de aplicações associadas não só à pupila, como também às fixações
e movimentos oculares.
❖ Comum à maior parte dos eye trackers: utilizam uma fonte de luz tipicamente
(infravermelhos) dirigida aos olhos, câmara.
❖ Objetivo do infravermelho – iluminar o olho, para facilitar a captação da pupila →
podemos ver isto no esquema.

77
❖ Temos o ecrã, em que o participante terá o seu olhar focado, depois o eye tracker
inclui câmaras, projetores de infravermelhos e uma parte mais computacional (mais
informática/matemática) que vai receber informação da câmara, vai tratá-la,
interpretar esse fluxo de imagens para depois extrair a informação que nos
interessa.
❖ Os projetores projetam os infravermelhos nos olhos, as câmaras vão criar imagens
muito rápidas, em tempo real, e os algoritmos do processamento vão extrair os
detalhes dessa informação para mensurar a posição dos olhos, o ponto de
visualização e o diâmetro da pupila.
❖ Ter cudado a utilizar o eye tracker na quantidade de luz, porque a nossa pupila
dilata não só por fatores emocionais como também há o reflexo de luz. Há
diferentes diâmetros pupilares num sitio claro ou escuro.

SIGNIFICADO PSICOFISIOLÓGICO
❖ Exemplos de aplicação do eye tracker na investigação.
EMOÇÃO
❖ Jogos violentos ou não violentos (15m).
❖ Posterior exposição a imagens de alegadas vitimas de violência (em contextos
positivos, neutros ou negativos).
❖ Menor dilatação pupilar na condição de jogos violentos (para imagens negativas).

❖ (Arriaga et al., 2015, Psych Violence)

78
• Este estudo mostra, utilizando medições do diâmetro da pupila que quando
as pessoas jogam jogos violentos durante um determinado período de
tempo, se forem expostas a imagens de violência a seguir, vão ter uma
menor resposta da pupila a essa violência → pode sugerir que há uma
dessensibilização a menor reatividade que os jogos violentos podem levar
a uma menor sensibilidade à violência.

ESFORÇO COGNITIVO
❖ Tema: perceção de fala em fundo de ruído.
❖ Compreensão de frases em diferentes condições de ruído.
❖ Temos que fazer um esforço cognitivo para perceber o que a pessoa diz.
❖ Aumentos sistemáticos de diferentes aspetos da resposta pupilar (amplitude do
pico, latência e dilatação média) com a diminuição da inteligibilidade fala → maior
esforço cognitivo para otimizar compreensão.

❖ (Zekveld et al., 2010, Ear & Hearing)

• Quanto mais difícil for compreender a fala em fundo de ruído, maior é a


dilatação da nossa pupila.

AULA PL4
ATIVIDADE ELETRODÉRMICA (EDA)
INTRODUÇÃO
❖ No teste de polígrafo faz-se uso desta técnica.
❖ A nossa pele revela-nos muita informação sobre a forma como nos sentimos,
quando estamos expostos a estímulos emocionais (imagens, vídeos, etc.), e isto
acontece tanto para estímulos positivos como para estímulos negativos.
❖ Há duas ideias fundamentais de recordar quando falamos de atividade
eletrodérmica:
• A pele funciona como um condutor de eletricidade, embora estejamos a
falar de amplitudes de corrente muito baixas.

79
• Quando se apresentam estímulos emocionais externos a pele torna-se
momentaneamente melhor a conduzir eletricidade. Sempre que há alguma
alteração na nossa ativação emocional, aumentamos a quantidade de suor
produzida e consequentemente a pele vai tornar-se melhor a conduzir a
eletricidade, ou seja, a condutância elétrica da pele aumenta → são estas
alterações a que nós chamamos atividade eletrodérmica.
❖ Quando vemos um estimulo negativo assustamo-nos; as nossas glândulas
sudoríparas vão aumentar a produção de suor; a pele torna-se melhor a conduzir
eletricidade e nós conseguimos medir isso com um aparelho de medição → ideia
principal da medição da atividade eletrodérmica.

❖ Apesar das alterações emocionais serem mais frequentemente estudadas, não são
só estas que provocam variações na atividade eletrodérmica. A EDA é sensível a
outros aspetos do estimulo:
• Se o estimulo é familiar ou novo → estímulos novos chamam mais a
atenção e por isso o aumento da EDA em resposta a esses estímulos tende
a ser maior.
• Se o estimulo envolve trabalho de memoria ou de raciocínio → trabalhos
que requerem maior trabalho de raciocínio envolvem maior ativação
atencional e isso reflete-se na EDA.
❖ Mudanças na condutância elétrica da pele podem refletir ativação do
processamento emocional, motivacional ou atencional.
❖ A produção e secreção de suor e as alterações que daí resultam para a condutância
da pele, são processos inconscientes, são processos que estão exclusivamente
sobre o controlo do sistema nervoso simpático e que acontecem como
consequência de alterações de ativação atencional, motivacional ou emocional.
❖ Enquanto o sistema nervoso parassimpático está responsável por processos
de alteração lenta (digestão), o sistema nervoso simpático representa um
sistema de resposta rápida.
❖ Há vários indicadores de ativação do sistema nervoso simpático, como o ritmo
cardíaco, a pressão arterial e a produção de suor e é aqui que se usa a EDA.

❖ Aplicações da EDA: medição da atividade EDA é considerada um dos métodos


mais populares para investigar fenómenos psicofisiológicos → além de ser fácil de
medir permite avaliar o impacto de vários estímulos e por isso ela é aplicada:
• Na investigação em psicologia, no estudo das emoções.
• Na investigação clinica e psicoterapia → ansiedade face a diferentes
estímulos externos.

80
• Em marketing → avaliar preferências dos investigadores e reações a
anúncios publicitários.
❖ RESUMO:

PREPARAÇÃO DA EXPERIÊNCIA

❖ Em termos de materiais para a medição, nós precisamos:


• De dois elétrodos:
➔ Precisamos de elétrodos para medir a corrente elétrica entre dois
elétrodos.
• Um amplificador de sinal e um transformador de sinal.
➔ Precisamos de um amplificador porque a corrente elétrica que nós
medimos, é medida numa medida de amplitude muito fraca.
➔ Precisamos do transformador de sinal, que transforma o sinal analógico
em digital, para podermos analisar os dados, manipulá-los e interpretá-
los.
• Um software que registe o sinal.

❖ Material complementar:
• Computadores para registar os
dados.
• Material de limpeza para limpar as
superfícies e os elétrodos.
• Gel condutor para melhorar o sinal
conduzido pelos elétrodos.

81
❖ Aplicação de elétrodos/ início experiência:
• Colocamos os elétrodos em partes do corpo em que haja maior
concentração de glândulas sudoríparas → geralmente utiliza-se os dedos
da mão não dominante pois normalmente quando se fazem estas tarefas
as pessoas estão a fazer algo no computador ou
assim e para isso precisam da mão dominante →
o mais importante é usar sempre a mesma parte
do corpo com todos os participantes.
• De seguida, limpamos a superfície onde vão ser
colocados → pede-se aos participantes que
lavem as mãos antes de aplicarem.
• Depois aplicamos um gel próprio para elétrodos
para melhorar a conexão → o sinal fica mais estável e é melhor captado.
• Depois colocamos os elétrodos → normalmente usa-se um velcro ou uma
fita adesiva para que fiquem fixos durante a medição.
• Se a pele tiver uma melhor condutividade a corrente elétrica vai conseguir
circular com uma maior facilidade.
• Há artefactos que podem deteriorar a qualidade dos dados, como por
exemplo: movimento, fala, etc.
• Para tentarmos minimizar esse tipo de artefactos indesejáveis, logo no
inicio da experiência podemos pedir aos participantes para seguir um
conjunto de indicações:
➔ Respirar calmamente.
➔ Evitarem ao máximo movimentos de braços e pernas.
➔ Tentarem não falar.
➔ Garantir que a pessoa está sentada confortavelmente.
• Antes de avançarmos convém confirmar os aspetos técnicos: elétrodos
estão bem colocados; todos os cabos estão bem ligados e estáveis; os
equipamentos estão todos ligados; as instruções foram todas corretamente
dadas.

82
RECOLHA DE DADOS

❖ Há dois aspetos a considerar dentro da recolha de


dados: a avaliação da qualidade dos dados (feita antes
da experiência começar) e a forma como serão
apresentados os estímulos durante a experiência em si.
❖ EDA: o sinal: pode ser decomposto em duas
componentes principais:
• O nível tónico: nível de condutância elétrica
(SCL). Este varia pouco e lentamente.
• Resposta fásica: resposta de condutância elétrica (SCR). Esta apresenta
as alterações rápidas e significativas de atividade eletrodérmica e são estas
as alterações que vemos em resposta a estímulos.

❖ Avaliação da qualidade do sinal:


• Temos que avaliar se acontece a avaliação
antes de começarmos o estudo.
• Neste pré-teste podemos conferir se os
elétrodos estão a captar bem o sinal.
• Esta recolha vai funcionar como a nossa
baseline e dá-nos uma ideia de como é a
atividade eletrodérmica do participante quando
ele não está a receber qualquer estimulação.
• Durante a baseline não apresentamos
estímulos, só pedimos que esteja em repouso
→ a ideia é recolher o nível tónico e algumas
respostas fásicas não especificas.

❖ Apresentação de estímulos
• Queremos que os estímulos sejam apresentados o tempo suficiente para
que os participantes os possam processar (pelo menos 5 segundos).
• É importante também que os participantes tenham tempo de recuperar a
baseline depois do estimulo e por isso é preciso criar intervalos entre
estímulos. Se apresentarmos muitos estímulos seguidos o que vai
acontecer é que ficamos com picos de amplitude que não sabemos como
foram originados.
• É importante aleatorizar os estímulos e as condições para evitar efeitos de
habituação e cansaço.

ANÁLISE DE DADOS
❖ EVENT-RELATED SCRs - 4 parâmetros que os caracterizam → estas respostas
podem ser interpretadas como uma medida direta do estado de ativação em relação
ao estímulos e é isto que nos interessa.
• Período de latência – tempo que vai desde a apresentação do estímulo ao
inicio da resposta fásica em si.
83
• Amplitude do pico de resposta – diferença entre a amplitude no inicio e no
pico mais alto de amplitude.
• Período de elevação – tempo desde o
inicio da resposta fásica até ela atingir o
pico.
• Período de recuperação – vai desde o
pico da resposta fásica até ela recuperar
a baseline → difícil de medir porque é
difícil a amplitude voltar aos valores que
tinha antes da resposta fásica; é também
difícil ocorrer um pico elevado.

❖ Pré-processamento → para reduzirmos os artefactos e também para isolarmos as


dificuldades de medição, é importante fazermos este pré-processamento antes das
análises em si:
• Uma das coisas mais importantes nesta fase é a filtragem dos dados →
ao aplicarmos um filtro para removermos a componente tónica (que não
nos interessa tanto) ficamos apenas com a componente fásica que nos
ilustra a resposta de condutância da pele face aos estímulos.
• Deteção do inicio e do pico de amplitude da resposta fásica → feito
automaticamente por algoritmos.

❖ Parâmetros a usar nas análises:


• Número de picos de SCR.
• Média da amplitude dos picos de SCR → se nós apresentarmos o mesmo
estimulo várias vezes podemos fazer uma média de amplitude da resposta
a esse estímulo para cada participante.

84
EXERCÍCIO:

CONCLUSÃO:
❖ A EDA permite-nos obter informação relevante sobre a ativação inconsciente ao
nível emocional, atencional, motivacional, quando somos confrontados com
estímulos externos que estimulam essa ativação.
❖ Há informação que não conseguimos recolher tudo através desta técnica, não
conseguimos distinguir com precisão a valência dos estímulos.

AULA T8
MEDIDAS DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL

85
❖ Estamos a falar das medidas que são talvez as mais conhecidas e mais usadas,
que são as medidas que nos permitem olhar para o cérebro, para a estrutura e
função do sistema nervoso central.

ESTUDAR O CÉREBRO
❖ TÉCNICAS DE NEUROIMAGEM:
• Permitem medir/ registar (“tirar fotografias”) a estrutura ou função do
sistema nervoso, de forma direta ou indireta.
• Estas técnicas são fortemente multidisciplinares.
• Usadas em várias disciplinas (e.g., medicina, neurociências, psicologia):
➔ Medicina: para fins de diagnóstico de patologia cerebral, monitorização
de evolução de doenças.
➔ Neurociências: principal caixa de ferramentas deles, para fazer
perguntas sobre o cérebro.
➔ Psicologia: sobretudo nestas áreas da psicologia mais ligadas às
bases biológicas do comportamento como a psicofisiologia.
• Estas técnicas são evolução recente, apareceram ao longo do século XX,
sobretudo ao longo da segunda metade, e do ponto de vista da
investigação só se estabeleceram nos últimos 20 anos → mudanças que
nos permitiram passar, progressivamente, do domínio da imaginação para
o da imagiologia cerebral.

❖ ELEMENTOS HISTÓRICOS:
• WALTER DANDY:
➔ Desenvolveu 2 técnicas: ventriculografia e pneumoencefalografia
➔ O ar era injetado e isso permitia a visualização radiológica (são as
primeiras imagens raio-x – radiografia), que permitia
ver lesões no sistema nervoso ventral através da
diferenciação do sistema ventricular (ventrículos são
aquelas bolsas de líquido cefalorraquidiano que temos
no meio do cérebro). Estas imagens (ver ao lado)
permitiam distinguir os ventrículos do resto do cérebro
e identificar lesões com base nisto.
➔ São técnicas invasivas, no sentido em que
implicavam uma injeção de ar no cérebro.

• EGAS MONIZ:
➔ Desenvolveu a angiografia cerebral → técnica que nos permite ver os
vasos cerebrais; permite-nos ter uma ideia da vasculatura cerebral com
um grande nível de detalhe, e por isso, avaliar lesões a este nível.

• HANS BERGER (1924):


➔ O contributo dele foi importante, não para a visualização do cérebro,
mas para a captação do registo da atividade elétrica cerebral.

86
➔ Registo da atividade elétrica do cérebro em humanos, de forma não
invasiva.
➔ Desenvolvimento da eletroencefalografia (EEG) → inventada por este
autor.
➔ O EEG é uma técnica que nos permite registar a atividade elétrica do
cérebro de uma forma não invasiva, sem abrir o crânio. Desenvolveu
esta técnica que permitia captar esta atividade através de equipamento
colocado no couro cabeludo, que media alterações de voltagem ao
longo do tempo.
➔ Estas alterações de voltagem eram produzidas pela atividade neuronal
subjacente à zona da medição.
➔ As questões apresentadas em cima representam os principais
contributos deste autor.
➔ Este, identificou 2 padrões de atividade cerebral (ondas/ritmos): alfa
(ondas de maior amplitude e mais lentas, ca. 11 cps); e beta (ondas de
menor amplitude, mais irregulares e mais rápidas, ca. 13-30 cps).
➔ Por outras palavras, identificou pela primeira vez que o nosso cérebro
produz 2 tipos de ritmo/onda que refletem estados de consciência
diferentes e que estão presentes em diferentes situações, quer em
pessoas saudáveis ou em pessoas doentes.
➔ Alfa – são geradas na parte posterior do cérebro; ritmo padrão que
observamos quando estamos relaxados. Como já foi referido estas são
ondas de maior amplitude e mais lentas.
➔ Beta – padrão de atividade que se verifica quando estamos mais alerta,
quando estamos atentos, concentrados. Como já foi referido, são ondas
de menor amplitude, mais irregulares e mais rápidas.
➔ Se me pedirem para fazer uma tarefa cognitiva, se estiver concentrada
nessa tarefa, as ondas alfa vão dar origem às ondas beta.

❖ TÉCNICAS DE NEUROIMAGEM (DISTINÇÃO):


• Neuroimagem estrutural:
➔ Foco na estrutura do cérebro (e.g., mostra contraste entre diferentes
tecidos como matéria cinzenta e matéria branca).
➔ Permitem-nos tirar uma fotografia do cérebro, que nos vai permitir
diferenciar tipos de tecido como a massa cinzenta da branca.
➔ Técnica de neuroimagem estrutural: ressonância magnética
estrutural.

• Neuroimagem funcional:
➔ Foco na função cerebral, muitas vezes para compreender a relação
entre atividade neural e funções cognitivas (brain in action).
➔ Técnicas que nos permitem olhar para a função cerebral, para a
atividade cerebral e como é que a atividade cerebral numa determinada
área pode estar relacionada com uma determinada função cognitiva ou
como é que uma determinada doença pode afetar a atividade numa
determinada área.

87
➔ Dá-nos um “filme” do cérebro em ação à medida que ele está a trabalhar
em tempo real. Ex: tomografia axial computorizada ou a ressonância
magnética (versão funcional).

• Contributo para a compreensão do cérebro em condições de saúde e


doença.

❖ Vamos ver agora algumas das principais técnicas de neuroimagem que temos
disponíveis (estruturais e funcionais), as características destas, vantagens e
desvantagens e para que é que servem, o que é que elas nos dizem sobre o cérebro
e sobre questões da psicologia.

ELETROENCEFALO
GRAFIA (EEG)

❖ Registo e medida contínuos da atividade elétrica do cérebro a partir do couro


cabeludo.

❖ Como funciona: o princípio é o de que os neurónios quando estão ativos produzem


atividade elétrica, atividade neuronal que tem uma natureza elétrica (também
química) e esta atividade elétrica pode ser registada com instrumentos que sejam
sensíveis a pequenas alterações de voltagem elétrica, nomeadamente, elétrodos
(servem para o registo eletroencefalográfico).
❖ No EEG, a atividade elétrica é medida a partir do couro cabeludo, temos o
equipamento que está na imagem – uma touca com diferentes elétrodos e
localizações que colocamos no couro cabeludo do participante.
❖ Estas alterações elétricas que vamos registar são alterações muito pequenas, são
medidas em microvoltes e depois vamos ter de ampliá-las para serem visíveis.
❖ O princípio de funcionamento: fazemos o registo de uma alteração de voltagem
de uma determinada localização, e essa alteração de voltagem vai ser sempre
considerada em termos de diferença de potencial entre aquilo que é o nosso

88
elétrodo de registo (o que interessa) e um elétrodo de referência, que podemos
colocar na orelha (por exemplo), onde não é esperado que haja atividade elétrica.
❖ Os elétrodos são colocados em diferentes localizações do couro cabeludo, porque
queremos captar atividade de diferentes regiões do cérebro. Esta localização não
é aleatória, temos um sistema, e o mais utilizado é o sistema internacional 10-20.

❖ SISTEMA INTERNACIONAL 10-20


• Orienta-nos sobre como colocar os elétrodos, descreve a montagem do
EEG para permitir que esta seja uniforme entre participantes, entre
diferentes grupos de investigação.
• O número específico de elétrodos que utilizamos não é sempre o mesmo,
é variável, há equipamentos diferentes – por exemplo: há equipamentos de
32 canais (elétrodos), no laboratório do ISCTE temos um de 64 canais, mas
também há uns de 256 canais. Quanto mais canais tivermos, maior será
a resolução do sinal, mais cobertura nós temos do cérebro, e o sinal é mais
detalhado.
• Damos a cada elétrodo nomes que nos dão a indicação sobre a região
cerebral onde estão localizados.
➔ F – frontais (Fp, polo frontal) – estão na parte da
frente.
➔ C – centrais – estão mais a meio.
➔ T – temporais – estão mais de lado junto ao lobo
temporal.
➔ P – parietais – junto ao córtex parietal.
➔ O – occipitais – estão mais atrás.
• Depois temos numeração, e vamos usar, por convenção:
➔ Números impares, lado esquerdo.
➔ Z, linha média.
➔ Números pares, lado direito.

❖ Estes códigos de números e letras, permitem a uniformização dos elétrodos entre


participantes.
❖ Os elétrodos de EEG detetam a atividade elétrica dos neurónios na área cerebral
subjacente, onde eles estão localizados.
❖ Regista pequenas despolarizações e hiperpolarizações da voltagem (pequenas
alterações de voltagem) da membrana (potenciais graduados/ potenciais pós-
sináticos).
❖ Membrana dos neurónios – parede dos neurónios, é o que divide o interior do
exterior dos neurónios.
❖ Quando estas pequenas despolarizações e hiperpolarizações acontecem num
número suficientemente grande de neurónios, esse sinal vai ser captável à
superfície.
❖ Quando é que vemos estas pequenas alterações?
• Quando o neurónio é ativado depois de uma sinapse, existe uma sinapse
através da libertação do neurotransmissor, essa sinapse vai comunicar
uma mensagem ao neurónio pós-sinático e essa mensagem vai-se traduzir
numa pequena alteração de voltagem nesse neurónio pós-sinático. Por isso
89
também dizemos que o que avaliamos com o EEG são os potenciais
graduados ou os potenciais pós-sintáticos, porque acontecem depois de
uma sinapse.
• Dizemos que são rítmicos, porque os nossos neurónios são ativados
ritmicamente e de forma síncrona (ativos ao mesmo tempo). São esses,
que quando acontecem de forma sincronizada, nós captamos com o EEG.
❖ Se muitos neurónios estão ativos ao mesmo tempo, o sinal elétrico é forte o
suficiente para ser registado à superfície do crânio.
❖ Sinal do EEG é a soma dos potenciais graduados rítmicos de muitos milhares de
neurónios → se tivermos só um neurónio ativo, num determinado momento, esse
sinal nunca vai ser suficientemente forte para nós podermos captá-los com o EEG.

❖ O sinal do EEG é útil para estudarmos estados de consciência, sendo diferente se


estivermos acordados, ativos, relaxados, anestesiados ou em coma.
• Beta (13-30 cps): alerta/ vigília, atividade mental/ física →
imagem A.
• Alfa (11 cps): relaxamento e olhos fechados → ondas mais
lentas e de amplitude maior → imagem B.
• As mudanças das imagens C, D e E ilustram as mudanças
que vamos vendo no EEG à medida que entramos num
estado de sonolência. Se relaxamos mais e mais
começamos a entrar num estado de sonolência –
lentificação das ondas e uma progressiva irregularidade
das ondas. Os ritmos do EEG vão tornar-se mais lento,
amplitude maior e mais irregular.
• Theta (4-7 cps): sonolência.
• Delta (1-3 cps): sono moderado.

❖ Numa situação atípica, numa situação em que estejamos anestesiados, por alguma
razão temos ondas de características ainda diferentes.
❖ Quando o doente está em coma (Imagem F) e se houver situação de morte nós
vimos uma linha contínua, não há atividade elétrica no cérebro.

POTENCIAIS EVOCADOS
❖ Para o estudo dos processos sensoriais e cognitivos em particular, que é o que
interessa tipicamente em psicologia, nós usamos tipicamente uma medida que nós
derivamos do EEG, que se chama Event-related potentials ou Potenciais
evocados.
❖ Estamos a falar de uma resposta elétrica, estamos a falar de atividade elétrica, que
é despoletada/ causada por um evento específico, que manipulamos enquanto
experimentadores.
❖ Alterações evocadas por um estímulo controlado experimentalmente.

90
❖ EVENT-RELATED POTENCIALS (ERPs):
• Mudanças breves no sinal EEG em resposta a um estímulo sensorial
discreto.
• Um ERP (estímulo único) não é fácil de detetar porque o sinal está
misturado com muitos outros sinais de EEG do cérebro → o estímulo é
repetido várias vezes e depois faz-se a média das respostas registadas.
• ERP produz ondas positivas (P) e negativas (N) no período que se segue
ao evento, com uma resolução de ms.
• Se eu apresentar um estímulo visual ao participante, ou auditivo ou pedir-
lhe para fazer uma tarefa cognitiva, ele ao responder a esse estímulo visual,
auditivo ou tarefa, vai estar a evocar uma atividade elétrica do cérebro – é
neste sentido que chamamos um potencial evocado.
• Se quisermos estudar como é que o nosso cérebro responde a expressões
faciais de medo, se utilizarmos apenas uma expressão facial, o mais
provável é que não vejamos nada → o nosso cérebro está sempre a
produzir atividade, há sempre eventos a acontecer, por isso quando
ligamos o sinal do EEG vamos ver uma série de eventos a acontecer no
cérebro. Se só apresentarmos uma imagem de expressão facial de medo,
provavelmente essa imagem não vai ser distinguida do que é a atividade
que já está em curso.
• Para contornar o facto de um evento único se poder perder na atividade
espontânea que está sempre em curso no cérebro é apresentar vários
eventos da mesma condição → pode ser reproduzir o mesmo estímulo ou
por ter vários estímulos do mesmo tipo. À medida que
vamos repetindo o mesmo tipo de estímulo vamos
conseguir, de forma progressiva, discernir aquilo que é
a resposta mais específica àquele estímulo daquilo que
é toda a outra atividade que está em curso. Vê-se este
progresso na imagem ao lado.
• Na primeira resposta temos um estímulo que não é fácil
perceber o que causou em termos de resposta cerebral.
• Na segunda imagem temos depois de 10
apresentações do estímulo e o final começa a ficar mais
estável.
• Na terceira imagem, temos após 50 estímulos (mesmo),
em que o sinal estabiliza ainda mais, já parece que
conseguimos discernir respostas específicas àquele
estímulo.
• Finalmente na quarta imagem, depois de 100 respostas/
estímulos já temos um traçado de EEG de potenciais
evocados.
• Olhamos para o traçado e conseguimos identificar o que são componentes
de EEG, que são marcadores/ alterações de atividade elétrica, específicas
à apresentação de um certo estímulo – resposta elétrica àquele estímulo
particular.

91
• Podemos ter vários componentes num mesmo estímulo, podem ser
positivos (caso a sua voltagem seja positiva) ou negativos.
• No traçado do EEG, o P está sempre para baixo e o N está para cima.
• Utilizamos números para especificar quando estes componentes ocorrem
(exemplo: P1, seria de voltagem positiva, que ocorre aos 100
milissegundos; P2, seria componente de voltagem positiva que ocorre aos
200 milissegundos; o N1 seria negativo, que ocorre aos 100 milissegundos.

❖ Vantagens e desvantagens do EEG enquanto técnica:


• VANTAGENS:
➔ EEG tem excelente resolução temporal – EEG dá um sinal muito
detalhado ao nível dos milissegundos do que acontece ao longo do
tempo.
➔ As fotografias podem ter mais ou menos resolução, quando têm mais
resolução, tem um maior nível de detalhe.
➔ Do ponto de vista da dimensão temporal, conseguimos ter um sinal
milissegundo a milissegundo do que está a acontecer no cérebro e isto
permite-nos: se ele apresentar 2 estímulos muito seguidos, como o sinal
é muito detalhado, consigo ainda assim distingui-los.
➔ A outra implicação desta técnica ter uma boa resolução temporal é que
nós podemos fazer inferências muito rigorosas sobre quando um
determinado processo aconteceu.
➔ Técnica que nos dá um indicador relativamente direto da atividade
cerebral – nós estamos a captar a atividade elétrica diretamente
produzida pelos neurónios.

• DESVANTAGENS:
➔ As inferências de localização da atividade são imprecisas sendo uma
técnica que nos permite saber com precisão quando é que um
determinado processo aconteceu, não nos permite saber com precisão
onde é que esse processo teve origem , porque estamos a captar o sinal
à superfície do escalpe de atividade que aconteceu a vários centímetros
a baixo no cérebro e o sinal original parte do cérebro, vai ter que viajar
até à superfície, e nesse processo viagem vai-se alterar, atenuar e
quando chega à superfície já não conseguimos localizar com exatidão
de onde é que ele vem → técnica com baixa resolução espacial.
➔ Estamos a captar, com o EEG, sobretudo atividade produzida no córtex,
ou seja, na camada mais exterior do cérebro.
➔ Se o nosso interesse for em estruturas mais profundas (estruturas do
tronco cerebral) o EEG não vai ser a técnica ideal.
➔ O EEG é sobretudo útil quando o nosso foco são processos que
dependem de áreas mais corticais, mais próximas do crânio.

❖ Exemplo de aplicação do EEG: processamento de fala em músicos


• Estudo com músicos.

92
• A ideia era perceber se os músicos ouvem de maneira diferente, quando
ouvem estímulos de fala e se o cérebro deles responde de maneira
diferente.
• Investigadoras olham para um aspeto específico da perceção de fala
(entoação – prosódia).
• Usar o EEG para saber se os músicos processam este aspeto da fala de
uma maneira diferente.
• Estímulos usados → frases: normais do ponto de vista da entoação; podiam
conter violações na entoação.
• Objetivo: perceber quando é que músicos e pessoas sem treino musical
detetavam as violações/ alterações. Estímulos é suposto evocarem
resposta elétrica no cérebro.
• Do ponto de vista comportamental, observou-se que os músicos eram
melhores do que os não músicos a detetar estas alterações da entoação,
sobretudo quando eram subtis. Quando eram muito evidentes, os não
músicos também conseguiam detetar.
• Do ponto de vista do EEG: figura A – respostas dos não músicos e figura B
– não músicos.
• Três linhas no gráfico, que correspondem às condições (frases sem
alterações, frases com alterações subtis e frases com alterações mais
acentuadas).
• O resultado principal é que a distinção entre os 3 tipos de frase começa
mais cedo no cérebro dos músicos. Em média, os músicos são 300
milissegundos mais rápidos a detetar que há alguma alteração de tom de
voz.

93
TOMOGRAFIA AXIAL COMPUTORIZADA
❖ Imagens das diferenças na absorção de raios-X pelos tecidos.
❖ Resolução é suficiente para localizar tumores cerebrais e lesões,
mas não permite, por exemplo, distinguir bem entre matéria cinzenta
e matéria branca → desvantagem.
❖ Imagens estáticas da estrutura do cérebro.
❖ EEG não nos diz nada sobre a estrutura do cérebro, não nos permite
tirar uma fotografia do cérebro – para isso precisamos de técnicas
diferentes (TAC).
❖ A pessoa está deitada numa máquina, onde temos um ponto de raio-X, que vai
formar um círculo dentro de um tubo, o raio-x atravessa a cabeça do participante e
é isto que nos permite formar imagens.
❖ A imagem que obtemos vai depender da magnitude/ da
quantidade de absorção de raio-x pelos diferentes tecidos por
onde o fecho do raio-x vai passar.
❖ O osso e tecidos duros absorvem muito os raios-x porque são
mais densos e, por isso ficam mais claros na imagem. Já o ar e
a água absorvem, muito pouco, porque são menos densos e por
isso ficam mais escuros nas imagens. Os tecidos moles estão
algures no meio → a TAC distingue tecidos duros de moles.
❖ Esta técnica é útil para ver se há um tumor, mas para estudar aspetos mais finos,
mais detalhados da estrutura cerebral, não é a ideal.

TOMOGRAFIA POR EMISSÃO DE POSITRÕES (PET)


❖ Permite estudar atividade metabólica em áreas cerebrais recrutadas durante
funções como a linguagem ou outras → medida indireta de mudanças
no fluxo sanguíneo correlacionadas com processos cognitivos.
❖ Quando uma região cerebral está ativa, essa atividade precisa de
recursos que a suportem. Esses recursos são o oxigênio e glicose
(“combustível dos neurónios”) e o que transporta o oxigênio e a
glicose às células, aos neurónios é o sangue, por isso vamos precisar
de sangue com oxigénio e glicose a ser levado às regiões onde existe
maior atividade cerebral.
❖ Vai avaliar estas questões, vão-nos dar dinâmicas, como se fosse um filme da
atividade cerebral ao longo do tempo. Isso permite-nos fazer
inferências sobre a magnitude da atividade neuronal que estará a
acontecer naquela região.
❖ Esta técnica não é uma medida direta da atividade neuronal. O que
medimos com esta técnica não é a atividade dos neurónios, é o
aporte de sangue com oxigénio e glicose a uma determinada região e nós depois
inferimos a partir desse aporte, que está a haver maior atividade neuronal.
❖ Aqui estamos num nível acima do EEG, nós inferimos a atividade dos neurónios, a
partir do metabolismo, da resposta do sangue oxigenado e com glicose → assim,
o PET é uma medida indireta da atividade neuronal.

94
❖ COMO FUNCIONA ESTA MEDIDA?
• O participante está deitado numa máquina, onde há detetores de radiação.
• Técnica onde injetamos material radioativo no participante – uma porção
de água com moléculas radioativas (introduzida na corrente sanguínea) →
não é perigoso.
• Depois, o computador constrói uma imagem com um código cores → mas
depois fazemos uma reconstrução para efeitos ilustrativos com um código
de cores onde, tipicamente, as cores quentes nos indicam que há um
maior nível de aporte de sangue oxigenado e as azuis que há um
menor.
• O material que se injeta é diferente, consoante o que se quer ver →
vantagem da técnica – ver aspetos diferentes do funcionamento do cérebro.

• Nós injetamos moléculas radioativas na corrente sanguínea,


nomeadamente o oxigénio 15, estas moléculas vão libertar positrões (que
são eletrões que têm uma carga positiva), estes positrões vão ser emitidos
por um átomo instável, que é deficiente em neutrões, e por isso, vão ser
atraídos para a carga negativa dos eletrões no cérebro. Isto vai levar a uma
colisão de partículas entre a carga negativa e a carga positiva, que leva à
sua aniquilação e isto vai produzir energia sobre a forma de 2 fotões, que
vão sair da área onde houve a aniquilação e vão seguir em direções
opostas um ao outro.
• O que temos no scanner são detetores de radiação que formam um anel
em torno do participante e que vão detetar estes fotões produzidos pela
colisão entre os positrões e os neutrões.

❖ VANTAGENS DA PET:
• Em termos de resolução espacial (boa) é muito melhor que o EEG, pois
nós conseguimos com a PET localizar, com muito mais precisão em que
regiões do cérebro está a haver mais atividade.

95
• Podemos injetar outro tipo de materiais radioativos, que nos permite
mapear uma amplitude grande de mudanças e condições cerebrais –
técnica flexível → o que nós vemos vai depender da molécula radioativa
que nós injetamos.

❖ DESVANTAGENS DA PET:
• Materiais radioativos são caros.
• Medida indireta da atividade neuronal – estamos a ver aspetos do
metabolismo e não da atividade elétrica diretamente.
• Técnica invasiva – o material não é perigoso, mas tem que ser injetado,
não é confortável.
• No caso das experiências em psicologia – o material radioativo desintegra-
se ao fim de alguns minutos, por isso, as nossas experiências têm que ser
muito curtas (o que não é o ideal, porque podemos não conseguir estudar
o que queremos).

IMAGEM POR RESSONÂNCIA


MAGENÉTICA (MRI)

❖ Magnetic Resonance Imaging (MRI).


❖ É uma das técnicas mais utilizadas.
❖ Vamos falar só de cérebro, mas ela permite ver outras partes do corpo.
❖ Desenvolvida nos anos 70 por investigadores incluindo Paul Lauterbur e Peter
Mansfield (Prémio Nobel da Fisiologia e Medicina, 2003).
❖ Utilização em contexto clínico a partir dos anos 80. Hoje em dia
quase todos os hospitais têm.
❖ Ressonância magnética funcional (functional Magnetic ressonance
Imaging, fMRI) desenvolvida no início dos anos 90 (contributo
importante de Seigi Ogawa e Ken Kwong) → revolução na
neurociência cognitiva (e medicina).

❖ VANTAGEM:
• Permite-nos estudar quer aspetos de anatomia cerebral, quer aspetos da
função cerebral.
• Ao contrário da PET, permite-nos estudar estes aspetos de forma não
invasiva.
• Não há perigo.

❖ COMO FUNCIONA ESTA TÉCNICA?


• Ela vai permitir ver diferenças de densidade nos tecidos com base na forma
como os diferentes tecidos reagem a campos magnéticos – falamos
sobretudo nos aspetos de campos magnéticos.

96
• A pessoa é colocada numa máquina onde existe um magneto muito forte,
que vai criar um campo magnético nesta área, que vai afetar as moléculas
de água do nosso corpo.
• Afetadas como? → os protões nos átomos de hidrogénio das moléculas de
água, que estão sempre a rodar no seu polo magnético, vão alinhar-se
todos em direção ao campo magnético do scanner. A frequência do
alinhamento depende da força do campo magnético.
• Para nós depois conseguirmos ver a imagem, depois dos protões dos
átomos de hidrogénio estarem todos alinhados com o campo magnético,
nós vamos perturbá-los → vamos aplicar pulsos breves de radio frequência
numa direção perpendicular àquela que é a orientação do campo
magnético principal e quando emitimos este pulso de radio frequência , os
protões vão ser perturbados – vai excitar os átomos de hidrogénio que vão
absorver a energia deste pulso, vão afastar-se do alinhamento do campo
magnético principal. Depois nós paramos o pulso e vamos voltar ao
alinhamento com o campo magnético.
• Este regresso ao campo magnético vai acontecer a um ritmo que depende
da localização dos protões e esta diferença de ritmos que vai dar origem
ao contraste de diferentes tipos de tecido.
• Portanto, os portões vão absorver o pulso de radio frequência que lhes é
dado e depois quando esse pulso pára, eles vão reemitir esse sinal e esse
sinal que eles reemitem é que vai depender deste ritmo diferencial a que
eles “regressam à base”.

• A matéria cinzenta, que é onde estão os corpos celulares dos neurónios, é


muito mais energética e isto faz com que o sinal de rádio frequência decaia
mais rapidamente, e por isso na imagem vai aparecer mais escuro. Já a
matéria branca aparece mais clara.
• Não conseguimos libertar-nos do ruído da máquina – Limitação

❖ Tubo cilíndrico de um scanner MRI inclui um magneto, que cria um campo


magnético muito forte em torno da área que pretendemos analisar.
❖ O campo magnético afeta o núcleo magnético dos átomos de hidrogénio
(núcleos atómicos alinham-se na direção do campo).

97
❖ Aplica-se um segundo campo magnético através de sequências de pulso breves de
radio frequência → átomos absorvem a energia do pulso e reemitem um sinal
de radio frequência (ressonância).
❖ Sinal de radio frequência emitido pelos átomos de hidrogénio é captado por uma
antena (receiving coil).
❖ Dependendo da sequência de pulsos usada, o scanner deteta diferentes
propriedades dos tecidos permitindo distingui-los na imagem (por exemplo:
matéria branca e matéria cinzenta no cérebro).
❖ Contraste entre diferentes tecidos é determinado pelo ritmo a que os átomos
excitados voltam ao seu estado de equilíbrio (relaxation time), ritmo que
depende do ambiente/tecido onde os átomos se encontram.

❖ O QUE É UMA IMAGEM DE MRI?


• Imagens como matrizes de números (é o que nos dá o scanner) que
correspondem a diferentes localizações
espaciais. Os números podem ser representados
em termos de valores de cinzento (comum em
imagens MRI estruturais) ou de cores (comuns em
imagens MRI que representam mapas estatísticos).
• Elemento básico da imagem é o “voxel” (unidade
mínima de uma imagem de ressonância magnética)
– análogo tridimensional do pixel (porque tem 3
dimensões).
• Quanto mais pequeno o tamanho do voxel,
maior é a resolução da imagem (mas é necessário mais tempo no
scanner para a adquirir).
• Há um número para cada localização (cada voxel), podemos recriar
imagens, reconstruir imagens, que podem ser feitas em função de valores
de cinzento ou em termos de valores de cores.
• A utilização de graus de cinzento é como nas imagens de ressonância
magnética anatómicas. Utilizamos as cores quando falamos em imagens-
funcionais, que refletem a atividade cerebral. Estas cores não é o cérebro
a “acender”, as cores não refletem mais do que
mapas estatísticos, em que o valor da cor (mais
vermelha, ou amarela, ou azul) é apenas um efeito
estatístico, aquilo que nos podem dizer é que numa
região em particular há uma condição em que o
valor de atividade foi significativamente maior do
que o observado noutra localização – comparação estatística em diferentes
localizações.
• O elemento mais básico da imagem é o voxel (o análogo 3D do pixel) e
nós determinamos a localização de um voxel no cérebro através de um
sistema de coordenadas.
• Como falamos de uma imagem 3D, temos 3 eixos (x, y, z) → com estes
valores sabemos exatamente de que localização do cérebro estamos a
falar.

98
• O tamanho do voxel pode variar, podemos ter voxeis mais pequenos e
nesse sentido temos mais voxeis → imagem mais detalhada mas o custo
é que a imagem vai demorar mais tempo a ser adquirida.

• Temos 2 tipos de imagem que obtemos na Ressonância Magnética:


➔ A da esquerda (T1) é uma imagem eletrónica – tipo de sequências
que utilizamos quando o que queremos obter é uma fotografia detalhada
do cérebro (ver se há alguma lesão ou atrofia cerebral), imagem que
demora entre 5 a 10 minutos a ser adquirida.
➔ A imagem direita: utilizamos para análises funcionais, em que a
resolução é muito menor, porque o voxel é maior. Fazemos isso
porquê? → se eu estou interessada na atividade cerebral ao longo do
tempo, eu não posso estar 10 minutos a adquirir uma imagem, seria
incrivelmente lento. Se eu quero saber como acontece a atividade
cerebral ao longo do tempo, tenho que comprometer a resolução da
imagem para conseguir obter imagens mais rápidas. Aqui conseguimos
ter uma imagem do cérebro a cada 3 segundos, o custo disso é que
temos que ter um voxel maior, que dá menos definição e menos
resolução espacial.

❖ Porque é que nos interessa do ponto de vista da psicologia a ressonância


estrutural?
❖ MRI ESTRUTURAL:
• Exemplos de perguntas que podemos fazer:
➔ Como é que a estrutura do cérebro muda com o envelhecimento?
➔ Como é que a experiência/treino muda a estrutura cerebral?
➔ Será que diferenças individuais na estrutura do cérebro estão
relacionadas com o comportamento e capacidades cognitivas?
• Hoje em dia sabemos que aspetos da estrutura anatómica do cérebro
determinam as nossas capacidades cognitivas.
99
• Existem correlações entre a quantidade de massa cinzenta em diferentes
áreas e a eficiência de diferentes processos cognitivos.
• Podemos avaliar esse aspeto utilizando as ressonâncias magnéticas.

❖ Voxel-Based Morphometry (VBM), baseada em imagens T1 – Weighted:


• Técnica semi-automática (e.g., software SPM).
• Imagens são segmentadas em matéria cinzenta, matéria branca e
líquido céfalo-raquidiano.
• Imagens são especialmente alteradas (warped) → espaço estereotáxico
comum.
• Foco na quantidade (volume) da matéria cinzenta/branca em diferentes
regiões (cada voxel).
• Análises estatísticas baseadas nos volumes regionais de matéria
cinzenta/branca.

• Woollett & Maguire, 2011, Curr Biology:


➔ Um exemplo do referido acima, foi um estudo de taxistas de Londres.
Eles antes de serem taxistas têm de frequentar um curso intensivo para
aprenderem a navegar pelos sítios na cidade → população ideal para
perceber como é que o nosso cérebro muda, depois de uma
aprendizagem deste tipo
➔ Estudo (longitudinal) feito com 79 pessoas – que fizeram este curso.
➔ Fizerem uma ressonância anatómica antes de começarem o curso e 3/4
anos mais tarde.
➔ Também havia participantes de controlo que não fizeram o curso.
➔ Os investigadores dividiram os participantes entre os que passaram e
os que não passaram.

➔ Gráfico: antes do treino (treino 1) não há diferença entre os


participantes. Depois do curso, aqueles que passaram, houve um

100
aumento significativo de matéria cinzenta, numa região em particular
(hipocampo).
➔ Este estudo mostra que fazer este curso aumenta o volume de matéria
cinzenta na estrutura que é importante para a navegação espacial.
➔ Temos aqui um exemplo, utilizando a técnica de VBM e de ressonância
magnética estrutural de como uma experiência molda o nosso cérebro.

• Kanai et al., 2011, Curr Biology


➔ Estudo a ver com a nossa orientação política e a estrutura do nosso
cérebro.
➔ Fizeram uma imagem anatómica do cérebro e depois um questionário
sobre a orientação política.
➔ Verificou-se que havia uma correlação em duas regiões cerebrais entre
a orientação política e o volume de massa cinzenta. Na amígdala, os
mais conservadores tinham maior volume e no córtex cingulado
anterior, os mais liberais tinham maior volume.

❖ RESSONÂNCIA MAGNÉTICA FUNCIONAL (fMRI) – FUNCIONAL:


• Atividade do cérebro.
• Maior atividade cerebral → maior necessidade de oxigénio → aumento
na quantidade de aporte.
• Hemoglobina é diamagnética quando oxigenada
e paramagnética quando desoxigenada →
diferença nas propriedades magnéticas (é o que se
vai medir) leva a diferenças no sinal da ressonância
magnética de acordo com o nível de oxigenação do
sangue.
• Como o nível de oxigenação se relaciona com os
níveis de atividade neural, estas diferenças podem ser usadas para indexar

101
a atividade cerebral → sinal blood oxygenation level dependent (BOLD) →
conceito central.
• BOLD remete-nos para aquilo que a ressonância magnética está a medir.
• Quando há maior atividade neuronal, os nossos neurónios vão precisar de
oxigénio, que vai ser transportado por sangue oxigenado aos neurónios.
• A ressonância magnética vai tirar partido do facto do sangue oxigenado e
do sangue desoxigenado ter propriedades magnéticas diferentes.
• Hemoglobina é diamagnética quando oxigenada e paramagnética quando
desoxigenada → isto faz com que haja ligeiras diferenças no sinal de
ressonância magnética, quando o sangue é oxigenado por comparação a
quando é desoxigenado → é isso que vamos medir.
• fMRI: do ponto de vista fisiológico falamos do nível de oxigenação do
sangue num certo momento e região.
• É uma medida indireta.
• Isto remete-nos para: a resposta hemodinâmica: altera-se ao longo do
tempo e é um aumento no aporte sanguíneo que se segue a um período
de atividade neuronal → há um período de atividade neuronal e depois
vai haver esta resposta, que vai suprir as necessidades metabólicas dessa
atividade neuronal.
• Características desta resposta: é uma resposta lenta (enquanto atividade
neuronal é muito rápida – milissegundos).

• Num estudo de fMRI típico, são adquiridos centenas de volumes/scans


(imagens do cérebro focados no sinal BOLD), incluindo informação acerca
das respostas cerebrais em milhares de localizações (voxels) ao longo do
tempo. → podem ser apresentados estímulos auditivos, visuais.
• Medida relativa e subtração cognitiva: podemos planear condições focadas
na nossa função de interesse (e.g., respostas a sons vocais); respostas
cerebrais durante a função de interesse têm de ser comparadas com
respostas cerebrais durante uma condição de controlo/baseline (e.g.,
silêncio; sons não vocais).
• A resposta BOLD é sempre relativa, como o nosso cérebro está
sempre ativo e a implementar processos, precisamos sempre de comparar
a nossa condição de interesse com uma condição de controlo e vai ser a
subtração das 2 condições que nos vai dar aquilo que queremos.
• Exemplo: queremos saber se uma área cerebral responde seletivamente a
sons de voz humana. Na experiência apresentámos sons vocais, mas

102
também precisamos de condição de controlo – que pode ser o silêncio ou
sons da natureza. Depois vemos a média de respostas, em termos do sinal
BOLD, em que todas as imagens em que apresentamos sons vocais,
vemos a média das que apresentamos sons da natureza ou silêncio,
subtraímos as 2 e dá-nos um mapa, em que vemos as áreas do cérebro
onde há significativamente mais sinais de BOLD, quando as pessoas
ouvem sons vocais.

• VANTAGENS DA RESSONÂNCIA MAGNÉTICA:


➔ Excelente resolução espacial – dá-nos imagens muito detalhadas das
diferentes regiões do cérebro, que permite localizar onde havia uma
determinada atividade.
➔ Técnica igualmente sensível à atividade mais cortical, mais externa ou
sub-cortical.
➔ Técnica não-invasiva, não envolve risco.
➔ Está amplamente acessível nos hospitais, por exemplo (embora seja
cara.

• DESVANTAGENS DA RESSONÃNCIA MAGNÉTICA:


➔ Resolução temporal é baixa, porque a resposta hemodinâmica é lenta
(segundos).
➔ Medida indireta da atividade cerebral – avaliamos o nível de oxigenação
do sangue e a partir disso inferimos atividade neuronal.
➔ Fazemos inferência ao nível de milhares de neurónios.
➔ Técnica ruidosa e sensível a movimentos.
➔ Não é ideal para pessoas claustrofóbicas.

❖ Em baixo encontram-se sistematizadas as desvantagens e vantagens das várias


técnicas de neuroimagem:

103
AULA PL5
ELETROMIOGRAFIA (EMG)

INTRODUÇÃO
❖ A nossa pele revela muita informação sobre como nos sentimos quando somos
expostos a estímulos emocionais, e o mesmo se poderia dizer dos músculos,
especialmente os da face.
❖ Se uma pessoa estiver muito feliz, ela dificilmente vai conseguir evitar sorrir, e isso
implica contrair o músculo zigomático maior. Por outro lado, se a pessoa estiver
zangada, é bem possível que ela carregue a sobrancelha e assim contraia o
músculo corrugador de supercilio.

104
❖ Ou seja, nós conseguimos perceber como é que a pessoa se sente, em função da
contração de músculos específicos.
❖ Como já foi referida, a região do sistema nervoso responsável pela atividade
muscular voluntária, é o sistema nervoso somático → resulta da comunicação entre
o cérebro e as fibras musculares do nosso sistema muscoesquelético, através de
impulsos elétricos.
❖ A ideia é que quando nós vemos a imagem de um
gatinho, por exemplo, a informação visual vai ser
rapidamente percebida e interpretada pelo cérebro
como sendo agradável → o cérebro vai
transformar estes pensamentos em impulsos
elétricos que viajam até aos neurónios motores, na
nossa espinal medula, que por sua vez, vão enviar
esses impulsos para diferentes regiões do corpo,
neste caso seria para o músculo zigomático maior.
Quando chega ao músculo, cada fibra nervosa vai
ramificar e enervar várias fibras musculares → conclusão: o
músculo zigomático recebe a informação, contrai, e isso faz com
que nós sorríamos.
❖ Embora os impulsos elétricos sejam muito fracos, se nós
pensarmos que existem muitas fibras a conduzir diferenças de
voltagem na pele que nós vamos conseguir detetar com
elétrodos que colocaríamos à superfície da pele.
❖ Resumidamente, a eletromiografia é uma técnica
psicofisiológica que permite medir a atividade elétrica dos
músculos, por outras palavras, a contração dos músculos provoca mudanças
na voltagem da pele que são detetadas por sensores eletromiográficos.
❖ Quanto mais intensa for a contração muscular e maior o número de músculos
ativados, maior será também a amplitude da voltagem medida, mas mesmo
padrões de ativação muito subtis podem ser medidos com a EMG.
❖ Os sensores de EMG podem ser usados para medir respostas musculares na face,
as mãos, nos dedos … e em resposta a qualquer tipo de estímulo.

❖ EMG FACIAL:
• Uma das aplicações mais comuns desta técnica.
• Como a atividade de certos músculos da face tem
sido associada a expressões emocionais a EMG
facial pode ser usada para avaliar expressões
emocionais → isto pode ser vantajoso para
investigadores que estejam interessados em
estudar as emoções, sem perguntar diretamente
aos participantes que emoção é que reconhecem
no estímulo.
• Como a EMG facial mede o sinal elétrico do
músculo, e não diretamente a contração dos
músculos, uma vantagem desta técnica é ela ser

105
capaz de detetar e medir atividade muscular que pode ser impercetível a
olho nu.
• A EMG facial pode ser distinguida com base na atividade de músculos
faciais específicos. Temos aproximadamente 43 músculos na face, mas os
mais comuns em estudos de avaliação de expressões emocionais são os
representados na foto.
➔ Músculo corrugador do supercilio: está localizado por cima da
sobrancelha e tem sido associado a um olhar carrancudo que pode
representar raiva, desaprovação ou concentração.
O movimento deste músculo varia conforme o
estímulo apresentado, ou seja, se os estímulos
forem mais agressivos ele vai contrair, e com
estímulos mais positivos vai relaxar.
➔ Músculo zigomático maior: músculo do sorriso,
que está localizado na face lateral, abaixo das
maçãs do rosto e está associado ao sorriso. Quando
ele é contraído, vai subir, deduzimos um estado de
humor positivo (alegria ou afeto). Se o músculo
relaxar vamos deduzir um estado de humor negativo
(tristeza, angustia).
➔ Músculo orbicularis oculis: está localizado em
volta dos olhos, e a contração deste músculo está associado às rugas
que nós formamos no canto do olho quando sorrimos. Tal como o
zigomático maior, este músculo está associado a estádios de felicidade,
alegria e satisfação.
• Pode ser importante conciliar a informação de diferentes músculos,
cada músculo por si só não nos diz tudo. Por exemplo, o músculo
zigomático maior é ativado quando sorrimos mas também pode ser ativado
para estímulos negativos → para saber se está associado ao estado de
humor negativo ou positivo, poderíamos ver se ele se ativa em simultâneo
com o corrugador do supercilio (estado negativo), ou com o orbicularis
oculis (positivo).

• UTILIZAÇÕES DA EMG FACIAL:


➔ Recolher dados sobre a valência emocional (positiva vs. negativa),
como já apresentámos diferentes estímulos aos sujeitos (produto,
marca, música), nós podemos perceber se as pessoas entendem estes
estímulos como positivos ou negativos – utilizado em publicidade.
➔ Estados empáticos – ou seja, isto acontece quando as pessoas imitam
comportamentos que estão a visualizar, uma pessoa pode sorrir quando
vê alguém a sorrir e isso não significa que está alegre só que está mais
empática.
➔ Com esta técnica podemos ainda detetar estados de confusão, ou
seja, se a pessoa não entende o estímulo que lhe está a ser
representado isso vai refletir-se na contração dos músculos da face.

106
• APLICAÇÕES DA EMG FACIAL:
➔ Investigação em psicologia.
➔ Investigação clinica e psicoterapia – avaliar estados empáticos e
avaliação psicoterapêutica, como forma de identificar casos de atrasos
de desenvolvimento sócio emocional.
➔ Publicidade e marketing – se a pessoa não entende o objetivo de um
anuncio publicitário, isso vai diminuir a eficácia desse mesmo anuncio.

❖ RESUMINDO:

PREPARAÇÃO DA EXPERIÊNCIA
❖ MATERIAIS:
• Específicos:
➔ Elétrodos: precisamos de 2 elétrodos por cada músculo cuja atividade
nós estamos a analisar, e precisamos de um de referência.
➔ Amplificador: vai amplificar o sinal, transformar o sinal analógico em
digital para nós podermos interpretá-lo e analisá-lo.
➔ Computador: para o experimentador com um software especifico
(acknowledge), e precisamos de um para o participante.

• Complementar:
➔ Álcool e algodão: para limpar as zonas onde vão ser colocados os
elétrodos.
➔ Adesivos: fixar os elétrodos.
➔ Gel: para melhorar a adesão e captação do sinal.

107
❖ APLICAÇÃO DE ELÉTRODOS:
• Vamos colocar 2 elétrodos em cada região muscular cuja atividade nós
queremos medir → utilizamos 2 elétrodos na mesma região porque isso
permite-nos avaliar a diferença de potencial elétrico entre os 2 sensores e
assim obtemos um sinal com melhor
qualidade.
• Usamos ainda um elétrodo numa região de
referência, que normalmente seria a têmpora
ou a testa → isto permite-nos avaliar a
diferença de voltagem entre as regiões
musculares de interesse e a região de
referência, onde não é suposto ver-se
atividade muscular durante a experiência.
• Bijuteria e maquilhagem onde queremos
colocar os elétrodos têm de ser removidas, e depois com álcool e algodão
limpamos as zonas onde queremos pôr os elétrodos.
• Podemos ter que pedir ao participante para contrair os músculos para ver
o local exato onde colocar o elétrodo.
• Primeiro colocam-se os adesivos nos locais
onde vamos colocar os elétrodos, depois
aplica-se gel para elétrodos, e por último fita
adesiva para assegurar.
• Se colocarmos demasiado gel, em elétrodos próximos, podem-se associar
um ao outro e não medir corretamente.
• Os sinais elétricos que são gerados pelos músculos da face e que são
captados pela EMG são muito pequenos, por isso é preciso termos cuidado
em todas as fases de processo de preparação e recolha de dados, para
eliminarmos quaisquer artefactos que possam distorcer o sinal.
• A qualidade de medição vai depender de uma boa preparação, boa limpeza
da pele, e posicionamento adequado dos elétrodos.

❖ CONDIÇÕES AMBIENTAIS:

108
• Temperatura: se a temperatura for muito alta ou muito baixa, pode fazer
com que a pessoa se tenha que vestir ou despir a meio da experiência.
• Luminosidade: a nossa expressão reage a luzes fortes, e a luzes fracas.
• Ruído exterior: se houver ruído o participante tem que fazer esforço para
se concentra, pode-se distrair, ou reagir ao ruído em vez de reagir ao
estímulos.

❖ INSTRUÇÕES AOS PARTICIPANTES:


• Respirar normalmente.
• Evitar movimentar-se..
• Sentar-se confortavelmente.
• Evitar falar, pois os músculos são ativados quando a pessoa fala.

❖ CHECKLIST:
• Garantir que os elétrodos estão bem colocados, no local certo e que não
perderam aderência, especialmente se os dados parecerem destorcidos.
• Confirmar que todos os cabos estão bem ligados e estáveis.
• Que os equipamentos estão todos ligados (sensores, amplificadores,
computadores).
• Instruções corretamente dadas e compreendidas.

RECOLHA DE DADOS
❖ Temos que confirmar se o sinal está a ser bem captado antes de começar a
experiência em si. Isto de fazer uma avaliação da qualidade de sinal antes do inicio
da experiência é fundamental para garantir a qualidade dos dados que são
recolhidos ao longo da experiência em si.
❖ Há alguns passos a seguir nesta fase inicial: testar a resistência da pele ao sinal
elétrico e inspecionar a linha de base do sinal.

❖ AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO SINAL:


• 1. Teste de Impedância:
➔ Avaliamos a resistência entre os 2 elétrodos de cada par de elétrodos –
devemos deixar a área de
interesse repousar por uns
minutos para que o sinal elétrico
estabilize (durante o 1º minuto a
resistência diminui cerca de
50%).
➔ Por outras palavras, avaliar a
oposição de um circuito elétrico à
passagem de corrente, quando é
submetido a uma tensão.
➔ Depois medimos a resistência entre os 2 elétrodos de cada par de
elétrodos e olhamos para a tabela de valores que temos aqui ao lado,

109
para classificarmos o valor – quanto menor for a resistência, melhor o
sinal será captado.
➔ Este passo nem sempre é feito.

• 1. Baseline
➔ Ao contrário do teste de impedância, que não é obrigatório, a avaliação
da qualidade do sinal bruto, da EMG, é essencial e não pode ser
substituído por qualquer outro método.
➔ O sinal captado pelo amplificador, é fraco e sensível e pode ser
facilmente influenciado por artefactos externos. Depois de nós
conectarmos os elétrodos ao amplificador e iniciarmos a captação do
sinal, vamos pedir ao sujeito para relaxar completamente e fazer um
zoom do sinal bruto da EMG de cada um dos elétrodos e inspecionar.
➔ O que é que nós inspecionamos?
▪ O ruído da baseline: quando o músculo está relaxado podemos ver
um sinal mais limpo com menos ruído. Na prática, é impossível
obtermos uma gravação completamente livre de ruído.
▪ Deslocamento da baseline: é possível que a linha de base do sinal
esteja ligeiramente desviado do 0.
▪ Mudanças na baseline: além da linha de base em repouso dever
ter uma amplitude 0, a baseline antes e depois das contrações
musculares também se deve manter na linha de 0 para o sinal ser
classificado de qualidade.
➔ Isto é importante, para não interpretarmos os problemas na deteção do
sinal como sendo resultado de um aumento de atividade muscular
associado aos estímulos que estamos a medir.

PROCESSAMENTO DO SINAL
❖ EMG: O SINAL
• Sabemos que a frequência do sinal de EMG, varia entre 6 e 500, embora a
frequência mais comum seja entre 20 e 150 Hz.
• Como o sinal de EMG é muito pequeno, ele tem de ser amplificado para 50
a 100 mil vezes maior.
• Interferência do ambiente elétrico (50 Hz na Europa).
• O software acknowledge, disponibiliza várias ferramentas para limpar e
analisar os dados.
• Há alguns cuidados que podem ser considerados para diminuirmos a
interferência do ruído durante a experiência: ruído, luminosidade → no
entanto, é impossível eliminarmos todas as fontes de ruído.
110
• Depois dos dados recolhidos, há alguns procedimentos que podemos
adotar para diminuir o ruído e para que o sinal seja mais facilmente
analisável:
➔ 1. Band pass filter: é frequente aplicar-se um filtro nos dados para
eliminarmos sinais com frequências demasiado baixas ou elevadas
para a EMG. Como sabemos que o sinal de EMG varia entre 6 a 500
Hz, nós podemos aplicar um filtro que elimine todo o sinal abaixo de 30
e acima de 500.
➔ 2. Retificação do sinal: invertemos os valores negativos, convertemos
em positivos e ficamos com um sinal mais limpo.
➔ 3. Smoothing: permite suavizar o ruído, aplica-se um filtro ao sinal que
aproxima os valores vizinhos sem alterar a estrutura das curvas de sinal,
ou seja, iria a cada dois pontos juntos, faria uma média, e de um sinal
ruidoso passamos para um sinal mais limpo e mais fácil de analisar.
➔ 4. Normalização: o que se faz é fazermos uma calibração dos dados,
normalizamos o sinal para um valor de referência. Por exemplo,
pedimos à pessoa para contrair ao máximo o músculo de interesse, e
registamos o valor máximo de amplitude durante a contração do
músculo, depois comparamos cada valor do sinal obtido ao longo da
experiência, com o valor máximo da contração.

ANÁLISE DE DADOS
❖ 1. ANÁLISE MANUAL:
• Extraímos medidas como a média, o mínio e o máximo…
• A ideia seria selecionar um espaço de tempo em que o sinal foi captado e
procurar a média da amplitude das respostas.

❖ 2. ANÁLISE AUTOMATIZADA:
• As análises de frequência e poder em que o software divide o sinal em
intervalos de tempo fixo e vai extrair os valores da média e os picos de
frequência para cada intervalo.

❖ 3. FINDING CYCLES:
• Permite-nos identificar os picos de resposta motora para cada elétrodo e
extrair os valores e medidas associadas a esses picos para cada
momento.

❖ EXERCICIO:

111
❖ A EMG permite-nos obter informação muito relevante sobre a ativação de músculos
faciais em resposta a estímulos emocionais, estando sobretudo associada à
deteção da valência emocional.

AULA PL6
ELETROENCEFALOGRAFIA (EEG)

❖ 1875: Richard Caton utiliza um galvanómetro e apenas 2 elétrodos sobre o escalpe


para registar, pela primeira vez, a atividade cerebral de humanos. O termo EEG
passa a ser usado para denominar atividade elétrica cerebral.
❖ 1920: Hans Berger, psiquiatra alemão, começa os seus estudos de EEG em
humanos. Em 1929 publica um artigo onde descreve um ritmo cerebral específico
(entre 8Hz – 12Hz). Originalmente denominado Berger wave, foi depois ‘rebatizado’
como Ritmo Alfa ou Onda Alfa, e é hoje um dos ritmos cerebrais mais estudados.

NEURÓNIOS E POTENCIAL DE AÇÃO

❖ Conjunto de potenciais pós-sinápticos superficiais (i.e., próximos do escalpe).


❖ Correntes dendríticas (e não potenciais de ação axónicos).
❖ Correntes produzem potenciais que se cancelam.

O QUE É QUE O EEG CAPTA?


❖ Se no elétrodo conseguirmos ter uma pré aplicação do sinal, conseguimos ter um
registo melhor e mais limpo, e isso é muito útil.
❖ Quanto à imagem da direita, conseguimos ver a que nível destas camadas do
córtex é que estão diferentes tipos de EEG: ao nível do escalpe está a EEG que
vamos falar hoje e que é utilizada na psicologia, neuropsicologia (…); depois temos

112
o ECoG que fica ao nível das meninges; e eletrocografia que fica ao nível do
escalpe.
❖ Na imagem da esquerda, os neurónios representados são os neurónios piramidais,
e é sobretudo destas células que o sinal de EEG vai captar atividade.

❖ CÉLULAS PIRAMIDAIS:
• Neurónios multipolares porque têm um axónio e muitas dendrites.
• Esta ramificação extensa, permite a receção, transmissão e integração
de uma grande quantidade de informação.

❖ Aqui temos os sistemas utilizados para a colocação das toucas de EEG, é chamado
o sistema internacional 10-20 (19
elétrodos cefálicos), às vezes
modificado para 10-10 (mais de 70
elétrodos cefálicos).
❖ Este 10-20 refletem a percentagem
das distâncias entre pontos de
referência na touca: são esses o
osso que está acima do nariz
chamado nasion, o osso que está
na nuca que o inion, depois ainda
temos o cocuruto que está central e alinhado com as orelhas, e depois as próprias
orelhas.
❖ A partir da medição, que varia ligeiramente de pessoa para pessoa, mas a partir
desta distância, criam-se então estes diferentes colocações de elétrodos na touca.
❖ Cada elétrodo tem uma nomenclatura
especifica: primeiro temos letras que se
referem à localização no escalpe, na linha
central temos o Z e depois temos números
que correspondem ao lado em que se
encontram → os do lado esquerdo são os
impares e vão crescendo a partir do centro
para as extremidades, e do lado direito o
mesmo mas com os números pares.
❖ Para alem destes elétrodos que variam
consoante a literatura, as montagens podem ser ligeiramente diferentes, também
vamos ter que ter dois ou mais elétrodos extra que vão ser a referência e a terra.

113
❖ Resumo:
• Registo pode ser feito com elétrodos no escalpe ou intracraniano, ao nível
das meninges ou ao nível do próprio córtex.
• Os elétrodos são feitos de um material condutor que pode ser cloreto de
prata ou cloreto de ouro e tem uma nomenclatura específica.
• O sinal elétrico não tem um conceito absoluto, ou seja, não estamos a
captar um valor elétrico absoluto numa dada posição do elétrodo, mas sim
sempre uma diferença de potencial entre, pelo menos, dois pontos
(voltagem), e no caso do EEG, ao longo do tempo.
➔ A – elétrodos ativos – são aqueles que são os nossos locais de
interesse e que estão associados aos pontos da touca.
➔ R – elétrodos de referência – temos um ou mais num local
supostamente neutro, no sentido em que não vai ser um dos nossos
elétrodos de interesse para aa recolha de dados.
➔ G – elétrodo terra – vai-nos fornecer uma voltagem de referência no
amplificador. Isto vai ser importante porque quando nós recolhemos o
sinal elétrico vamos recolher também necessariamente sempre ruído, e
isto vai prejudicar o nosso registo e a qualidade dos nossos dados, e
portanto esta diferença de voltagem vai ser medida como a diferença
entre um elétrodo ativo menos o valor da terra, o que nos vai dar uma
diferença entre o elétrodo ativo e o de referência, mas que nos vai
permitir descartar o tal ruído, naquela subtração anterior.
➔ (A-G) – (R-G) = A-R
• Impedância: medida de resistência ou de impedimento ao fluxo da corrente
elétrica, e quanto maior for a nossa impedância, menor vai ser a amplitude
do sinal, e isto prejudica a qualidade do registo. Geralmente define-se que
a impedância deve estar abaixo dos 10 kohms.
• Também é preciso aplicarmos filtros para remover as tais frequências
elétricas e o ruído que não reflete atividade cognitiva, que é aquilo que
queremos recolher e obter com esta técnica.
➔ high-pass (e.g., < 1Hz); low-pass (e.g., > 50Hz); notch ou da rede
eléctrica (e.g., 50Hz; nem sempre usado; valores variam de país para
país)
• Esta técnica tem uma resolução que temporalmente é muito boa, e é ao
nível do milissegundo, mas espacialmente é má, e é má por várias razões
que é importante ter em conta, para interpretar com cuidado a
espacialidade dos nossos resultados de eletroencefalograma:
➔ Captação superficial – não temos possibilidade de captar sinais
provenientes de zonas mais profundas do córtex, zonas subcorticais.
➔ Os potenciais que captamos não são os potenciais de ação axonais,
mas sim o resultado dos potenciais pós-sináticos nas dendrites.
➔ É matematicamente impossível construirmos o sinal (e.g., correntes
elétricas que se anulam; problema inverso).
➔ Por todos estes motivos, embora já existam formas de ter alguma
certeza na inferência espacial do EEG, de forma geral, não é a técnica
mais adequada para isto.

114
QUE INFORMAÇÃO PODEMOS RECOLHER?

❖ Por um lado podemos olhar para as oscilações cerebrais:


• Amplitude: útil quer para as oscilações, quer para os potenciais evocados.
Medida de alteração no tamanho do sinal elétrico, num dado período de
tempo; medido em volts (V).
• Frequência: num dado período, quantas
ocorrências do evento de oscilação é que temos
(no caso da imagem temos 1 ocorrência).
• Período: duração temporal de um ciclo, de um
pico ao outro (no caso da imagem corresponde à
onda completa).
• Fase: informação do fundo da imagem, que se
refere aos ângulos, que especifica em graus qual
é a posição num ponto do ciclo; janelas temporais
de excitação e inibição.

❖ Na figura mais à esquerda temos neuronal spiking que são potenciais de ação
isolados de diferentes neurónios → mostra-nos que quando existem vários
neurónios a disparar potenciais de ação dentro de uma janela temporal, o que
vamos obter é um ritmo de disparo daquele conjunto de neurónios.
❖ Quando tempos estas redes a disparar de forma síncrona, o que vamos ver são
estes local field potential → de disparos neuronais isolados conseguimos extrair
redes.
❖ Depois se várias desses redes de neurónios se sincronizam, o que obtemos são
ritmos cerebrais ou oscilações cerebrais, que é um dos tipos de informação que
podemos avaliar com EEG.

❖ RITMOS CEREBRAIS:
• No fundo, a atividade cerebral traduz-se num padrão de frequências, que
ora se sincronizam, ou se assincronizam.

115
• Estes padrões contínuos de frequência são a linguagem ou código do
cérebro → gerados de forma contínua e espontânea, são flutuações
regulares de atividade elétrica pós-sináptica, e aqui referimo-nos a um
grande conjunto de redes de neurónios.
• Estas flutuações, sendo espontâneas, não estão associadas a eventos
específicos necessariamente, não é necessário acontecer um estimulo x
precedente para desencadear estas flutuações.
• Apesar de não terem origem em eventos específicos, podem ser
modulados os estímulos específicos ou externos ao próprio ritmo.
• Representam então a forma como o cérebro processa informação e o seu
grau de dessincronia.
• Geralmente ritmos de alta frequência traduzem processamentos
cerebrais mais localizados e ritmos de baixa frequência refletem
processamentos alargados entre regiões mais distantes do cérebro.
• Ritmos mais conhecidos:
➔ Delta: baixa frequência, e que pode ser visto no estádio 3 do sono, ou
seja num sono profundo.
➔ Teta: pode ser observado em sono leve, meditação, tarefas de
navegação espacial e outras tarefas de memória.
➔ Alfa: pode ser observado numa experiência de
eletroencefalograma, porque basta pedir ao participante
para fechar os olhos, que aparecem logo ondas alfa muito
evidentes no registo → ritmo associado a uma vigilância
relaxada. Este conseguimos ver a olho nu.
➔ Beta: reflete estados ativos de alerta, de concentração e
também pode estar associado a estados mais
ansiogénicos.
➔ Gama: associado a processos de organização percetual, a tarefas
atencionais e de memória de trabalho.
➔ Apenas conseguimos ver a olho nu o alfa, as restantes só conseguimos
após a aplicação de transformações matemáticas, de frequência ao
sinal bruto, é que conseguimos extrair estas frequências.
• Abaixo temos algumas imagens das imagens captadas com o
eletroencefalograma.

116
• Alterações nos ritmos cerebrais podem traduzir alterações observáveis no
comportamento ou na psicologia da pessoa.
• Na imagem da direita temos ritmos associados a diferentes estádios do
sono.

❖ POTENCIAIS EVOCADOS (ERPs):


• Outro tipo de atividade que pode ser captada pelo EEG.
• Em vez de representarem a atividade contínua e autogerada do cérebro,
vão estar associados a eventos temporais específicos.
• As medidas que vamos poder recolher aqui são:
➔ Amplitude.
➔ Latência: quanto tempo é que demorou a aparecer determinado
potencial a partir do momento em que o estímulo foi apresentado. É este
delay que é chamado a latência.

• Aqui também vamos ter nomenclatura especifica:


➔ P: positividade.
➔ N: negatividade.
➔ Vamos ter um número que vai corresponder à latência média daquele
estímulo; esta latitude pode variar mas é nesta janela que ela costuma
aparecer.
• A polaridade por vezes é apresentada para cima ou para baixo, ou seja, às
vezes os potenciais negativos aparecem em cima.
• Aqui temos um exemplo do tipo de potenciais que são desencadeados pela
apresentação de estímulos visuais e vemos uma sucessão de positividade
e negatividade → tipo de defleção que geralmente está associado à
apresentação de estímulos visuais.
• Por vezes surgem potenciais que resultam da modulação específica de um
determinado tipo de estimulo. Ou seja, o N100 surge normalmente após a
apresentação de um estimulo visual, mas se esse estimulo visual for uma
face humana, em vez do N100 vamos ver o N170 – reflete especialização
no processamento de um determinado estímulo.
• Estímulos específicos podem causar modificações na própria resposta
eletrofisiológica do cérebro.

117
• N1/N100:
➔ É normalmente observado entre os 130 e os 200 milissegundos.
➔ Pode ser influenciado por processos de
atenção seletiva, a amplitude é maior
quando dirigimos a nossa atenção
voluntariamente para o estímulo, enquanto
que se ele aparecer de forma espontânea na
nossa visão periférica, o N100 associado a
esse estímulo mais periférico será menor do
que o N100 associado ao estímulo para qual
estamos a olhar diretamente.
➔ Tem sido interpretado como refletindo processos de discriminação de
características dos estímulos.

• N170:
➔ Defleção negativa, normalmente observada entre 150 e 200 ms.
➔ Amplitude é mais ampla com faces humanas. Quando face humanas
são apresentadas, o que levou à interpretação
deste potencial como sendo sensível ao
processamento de faces.
➔ No entanto, estudos observaram N170 após
apresentação de estímulos como cães e
pássaros e carros, quando participantes
apresentam familiaridade/expertise em relação
a esses objetos. Estas evidências sugerem que
o N170 é sensível à especialização visual.
➔ Não está só associado ao processamento de faces mas sim um
potencial sensível à especialização visual de alguns estímulos.

• Nomenclatura vs. significado funcional:


➔ Os potenciais a única coisa que refletem é a polaridade e a latência, e
por isso, em diferentes experiências com diferentes estímulos, estes
potenciais poderão estar associados a modalidades diferentes.
➔ ERP components are usually given labels such as P1 and N1 that refer
to their polarity and position within the waveform, and one must be
careful not to assume that these labels are linked somehow to the nature
of the underlying brain activity. Most notably, sensory components from
different modalities that are given the same label are not usually related
in any functional manner: They just happen to have the same polarity
and ordinal position in the waveform. For example, the auditory P1 and
N1 components bear no particular relationship to the visual P1 and N1
components.

• ERPs:
➔ Consistem em pequenas alterações de voltagem geradas no cérebro
em resposta a eventos ou a estímulos específicos, e estas alterações

118
estão associadas temporalmente a eventos sensoriais, motores ou
cognitivos.
➔ Podem estar associados a estímulos e nesse caso chamam-se
stimulus-locked, ou associados a resposta, response-locked.
➔ Pensa-se que este registo seja resultado da atividade síncrona de um
grande conjunto de neurónios piramidais que estão espacialmente
alinhados numa determinada região do cérebro, i.e., soma dos
potenciais pós-sinápticos.
➔ A nomenclatura diz respeito à amplitude e à latência, e a amplitude que
recolhemos é muito pequena em comparação com a restante atividade
cerebral.
➔ Não há nenhum potencial evocado que se possa ver no momento
durante o registo elétrico.

EQUIPAMENTO

❖ Compressas: aqui vamos pôr álcool para limpar a testa e as mastoides, pois vamos
colocar aí elétrodos para registar a atividade, e outros para a referência ou a terra.
❖ Gel abrasivo e álcool.
❖ Gel condutor no cor cabeludo.
❖ Toucas – colocar os elétrodos.
❖ Fita métrica: medir a cabeça dos participantes para saber que touca colocar.
❖ Esquema de montagem: pode variar, podemos ter mais ou menos elétrodos.
❖ Elétrodos: neste caso são um conjunto de 32.
❖ Gel condutor.
❖ Seringa e agulha: separar os cabelos no cor cabeludo e colocar lá o gel.
❖ Amplificador Brain Vision: recolher e captar o sinal.

❖ Antes da sessão:
• Importante termos bem definido o esquema de montagem dos elétrodos
(de acordo com a literatura relevante).
• Programar os parâmetros no próprio programa.

119
• Garantir que o equipamento de EEG está sincronizado com o programa no
qual vamos apresentar a experiência, i.e., dos estímulos. Temos que ter a
certeza de que estamos a captar a atividade certa.
• Preparar a sala com todo o material necessário e garantir o bom
funcionamento de todo o equipamento.
• Garantir um bom isolamento acústico e climatérico e bem estar do
participante → aumenta o controlo experimental e reduz a presença de
artefactos.
• Os participantes têm que ler e preencher o consentimento informado.
• Explicação do procedimento e disponibilidade para esclarecimento de
dúvidas.
• Medir a cabeça e escolher tamanho de touca.
• Montar elétrodos na touca.
• Limpar testa, região em torno dos olhos e mastoides com álcool (se
necessário).
• Inserir touca e elétrodos.
• Garantir que a touca está centrada (pontos específicos da cabeça e fita
métrica).
• É essencial que o participante se sinta confortável → ética controlo
experimental e redução de artefactos.
• Colocar gel condutor em cada elétrodo e afastar cabelos do couro cabeludo
com a agulha da seringa se necessário.
• Verificar as impedâncias de cada canal (que deverão ser mantidas baixas,
e.g., < 10 Komhs).
• Garantir que Terra e Referência têm bom sinal.
• Verificar o registo para cada canal e corrigir possíveis fontes de artefacto/
melhorar impedâncias.
• Recomendações para participante:
➔ Manter-se o mais quieto possível e manter pés assentes no chão.
➔ Evitar piscar os olhos.
➔ Evitar tossir, cerrar dentes.
• É útil mostrar o impacto de cada ação (artefacto) no registo EEG!
• Explicar todos os passos da experiência bem como os momentos de pausa.
• Esclarecer qualquer dúvida.
• Iniciar o registo de EEG.
• Iniciar o programa de apresentação de estímulos.
• Monitorizar atentamente o registo: corrigir elétrodos que apresentam
ruído; esclarecer dúvidas que possam surgir; verificar o desempenho do
participante; verificar se o participante se sente fatigado.

❖ Finalizando a experiência e a sessão:


• Parar o registo.
• Desmontar a touca.
• Providenciar shampoo/ toalha/ secador o participante.
• Lavar elétrodos, touca e limpar/ arrumar sala.

120
• Guardar dados num lugar seguro (e.g., disco externo).
• Desligar todo o equipamento.

❖ Análise de dados:
• Inspeção visual dos dados e marcam-se blocos em que vemos que há
demasiado artefactos e demasiado ruído, ou então as zonas que não são
de interesse para nós – tudo o que não é de interesse não temos que
incluir na análise.
• Temos de remover os artefactos oculares com recurso a um filtro (e.g.,
Independent Component Analysis; ICA); movimentos verticais (piscadelas,
blinks) e horizontais (sacadas).
• Aplicamos os filtros low-pass (remover artefactos rápidos/ de alta
frequência, como musculares ou elétricos) e high-pass (remover artefactos
lentos/ de baixa frequência, como sudação ou pulso cardíaco) – ao
aplicarmos isto ficamos com os dados muito mais limpos.

• Aqui vemos atividade muscular (rápida/ de alta frequência).


• Artefacto é marcado para não ser considerado na análise.

• Primeira imagem: registo antes de aplicar os filtros: remoção de artefactos


oculares, low-pass e high-pass.
• Segunda imagem: após aplicação de filtros: sem artefacto ocular; registo
mais “limpo”, sem atividade muito rápida e/ou muito lenta.

121
• Depois de termos os dados limpos vamos criar épocas para cada condição
(i.e., “fatias” temporais do registo, que serão analisadas de acordo com o
potencial em causa e a literatura relevante)
– e.g., -100 ms a 800 ms (época em que
potencial deverá surgir, no seguimento de
um trigger).
• Ao recolher-mos esta medida podemos
fazer a baseline correction → minimizar
diferenças e variações de amplitude de
sinal → antes da apresentação do estímulo
os potenciais estão bastante afastados, e a baseline correction permite
reduzir esta diferença, faz-se a média, e eles já estão sobrepostos.
• Se nos guiássemos pela imagem A íamos achar
que a diferença nas defleções é significativa, mas
ao corrigirmos a baseline vemos que não é.
• Podemos ainda aplicar mais um algoritmo de
rejeição de artefactos para excluir épocas que
possam ter escapado às limpezas anteriores.
• Depois criamos médias de todas as épocas de
uma mesma condição que nos interessa, para
depois podermos comparar as épocas.
• Depois extraem-se os dados relevantes que serão analisados (e.g., picos,
picos e zonas adjacentes, período mais alargado).
• Depois faz-se a análise estatística.

❖ N170 mais amplo quando faces com expressão emocional (feliz,


zangada ou neutra) são apresentadas.
❖ N100 quando palavras e pseudo-palavras são apresentadas.
❖ Nota: apenas um participante para fins ilustrativos, análise completa
incluiria grupo completo. A análise estatística não
foi feita (para confirmar diferenças significativas).
❖ N170 amplo na sequência de carros
(participante com grande expertise visual em
carros).
❖ Nota: apenas um participante para fins ilustrativos, análise
completa incluiria grupo completo. A análise estatística não foi
feita (para confirmar diferenças significativas).
❖ Comparação de atividade entre período que precede potencial e período em que
potencial aparece.
❖ Aumento de atividade parietal, parietoccipital, e
occipital.
❖ Notas: apenas um participante para fins ilustrativos,
análise completa incluiria grupo completo. Ter em
conta limitações do EEG para análise espacial.

122
AULA TP12
APLICAÇÕES NA PSICOLOGIA CLÍNICA E SOCIAL

EXEMPLO DE INVESTIGAÇÃO
❖ O’Nions, E., Lima, C. F., Scott, S. K., Roberts, R., McCrory, E., & Viding, E. (2017).
Reduced laughter contagion in boys at risk for psychopathy. Current Biology, 27,
3049-3055.
❖ Aqui o objetivo, em termos da técnica utilizada, foi a ressonância magnética
funcional.
❖ A população estudada foram jovens adolescentes rapazes em risco de psicopatia.
❖ O tópico estudado, foi a forma como estes rapazes, em risco de se tornarem
psicopatas processam pistas sociais positivas (riso).
❖ Ideia: perceber como é que o cérebro de adolescentes com características
particulares em risco de psicopatia, processa informação social positiva, em
particular as gargalhadas de outras pessoas.

GARGALHADAS

❖ A gargalhada é um estímulo emocional local.


❖ É uma expressão emocional universal, toda a gente expressa e reconhece
emoções através das gargalhadas.
❖ Estímulo com características de universalidade, que é percebido universalmente
como estando associado a emoções positivas.
❖ Vocalização evolutivamente antiga, que partilhamos com outros animais. Esta
vocalização terá evoluído como um mecanismo para facilitar o comportamento
afiliativo (comportamento de criação de laços com os outros, de aproximação aos
outros, de bonding). Nesse sentido a gargalhada seria um
meio de aproximação de pessoas, que nos aproximaria aos
outros, que nos permitira estabelecer, manter e fortalecer
laços sociais, o que iria criar condições para ações em
conjunto e para melhor cooperação.
❖ A gargalhada é comportamentalmente muito contagiosa, e
está associada intrinsecamente a contextos sociais.
❖ Os estudos mostram que a probabilidade de nos rirmos é 30
vezes maior se tivermos em grupo → dimensão social da
gargalhada.
❖ Foi recentemente demonstrado que quando nós nos rimos
existe uma ativação do sistema opioide endógeno – sistema
associado ao reforço e ao prazer, e nós sabemos que este sistema é importante
para as interações sociais e para o comportamento social em primatas mamíferos.
❖ De um ponto de vista cerebral, quando nós estamos a ouvir alguém rir-se nós
ativamos o córtex auditivo, visto que é um som, e ativamos também áreas do

123
nosso córtex motor e pré-motor, ou seja, áreas do nosso córtex que usamos se
a ideia for produzir gargalhada, o que significa que a
mera exposição a este estímulo auditivo faz com que o
nosso cérebro se prepare para rir também.
❖ Por todas estas razões que são baseadas em
evidências de pessoas saudáveis, a gargalhada
aparece-nos como um estímulo auditivo, que seria uma
pista social muito forte que nós poderíamos utilizar
como uma ferramenta para estudarmos o que se
passará em situações de afiliação social atípica em
grupos de pessoas, onde o comportamento social está alterado.

PSICOPATIA

❖ Perturbação diagnosticada em adultos, em que as relações sociais estão alteradas.


❖ Em termos de prevalência é uma perturbação relativamente rara (pode afetar 1%
da população), mas tem enormes custos sociais porque muitas vezes está
associada a crimes violentos.
❖ Perturbação que se caracteriza pela incapacidade de sentir empatia ou culpa,
conseguem facilmente infligir sofrimento aos outros, sem que isso lhes cause
sensações de remorsos ou culpa.
❖ Pessoas que facilmente manipulam os outros para atingir os seus objetivos, não
olham para meios para atingir os fins.
❖ Existe muitas vezes comportamento violento e antissocial, não existe sempre, mas
com frequência.
❖ Impulsividade, dificuldade no controlo da raiva e alguma desinibição, e uma
reduzida capacidade de desenvolver relações sociais, em que para a maioria de
nós existe um prazer intrínseco no contacto com as outras pessoas, mas para esta
pessoa esta ideia não existe, eles só estão interessados nos outros, na medida em
que os outros permitem ou não atingir os seus objetivos → utilização estratégica
dos outros e não social → comportamento pró-social reduzido.
❖ Embora esta seja diagnosticada na idade adulta, não é algo que aparece de
repente, há uma história desenvolvimental e é possível identificar em idades
precoces, nomeadamente em adolescentes, crianças e jovens, com um conjunto
de características que os colocam em risco de se virem a tornar psicopatas mais
tarde.
❖ Vemos num subgrupo de jovens, características que são muito parecidas com
aquelas que nós vemos em adultos com psicopatia, e é particularmente importante
estudar estes grupos em fases mais precoces, para entendermos aquilo que são
as raízes e percursores desenvolvimentais deste tipo de perturbação mas também
de pensarmos em estratégias corretivas e de evitarmos que haja uma trajetória de
psicopatia ou socialmente desviante.

124
❖ Quer em adultos com psicopatia quer em adolescentes com traços de frieza
emocional, há já bastante investigação sobre que mecanismos cerebrais é que
podem estar associados à agressão, violência e à forma como eles percebem
emoções negativas.
❖ Nós sabemos muito bem como é que estes adultos e jovens percebem informação
social negativa, porque é isso que está em causa normalmente, o que sabemos
muito menos é como é que percebem emoções sociais positivas, e de que forma é
que isso pode estar associado ao desinteresse que eles têm em relação aos outros.
❖ Investigação estudou como é que os jovens adolescentes em risco de se tornarem
psicopatas processam um sinal social, gargalhada, que é importante para o
estabelecimento de relações.

OBJETIVOS E HIPÓTESES

❖ Adolescentes com comportamentos disruptivos poderiam ser menos responsivos à


gargalhada dos outros a nível neural e comportamental → potencial mecanismo
que explicaria as ligações sociais deficitárias.
❖ Seria um marcador neurobiológico e um marcador comportamental que nos podia
ajudar a explicar porque é que jovens não têm ligações sociais significativas, devido
à menor resposta que eles têm a estes estímulo socialmente potente.
❖ Em comparação com adolescentes típicos, aqueles com comportamentos
disruptivos demonstrariam uma resposta de contágio atenuada à gargalhada
(menos interesse na partilha de afeto positivo); e ativação cerebral reduzida em
áreas motoras e pré-motoras que facilitariam a resposta de contágio (gyrus pré-
central, área motora suplementar, gyrusfrontal inferior, insula anterior).
❖ Testámos adolescentes típicos e adolescentes com problemas de comportamento,
com uma perturbação de conduta → dentro destes adolescentes com perturbação
de conduta nós tínhamos 2 grupos: um que tinha apenas essa alteração de
comportamento e outro grupo que além desses tinha uns traços de frieza emocional
→ este era o que nos interessava em particular porque era o que estava em maior
risco.

PARTICIPANTES

❖ Investigaram-se participantes entre os 11-16 anos.


❖ Cerca de 30 participantes em cada grupo.
❖ Garantiu-se que os 3 grupos eram equivalentes em termos de: QI, idade, ambiente
socioecónimo, mão com que escreviam, origem étnica.

125
❖ O recrutamento foi feito através de anúncios de jornais e contacto de escolas, foi
feito um rastreio de larga escala.
❖ Os traços de frieza emocional e a perturbação de conduta, é muito mais comum em
rapazes do que em raparigas, daí serem só rapazes.
❖ Alguns rapazes tiveram que ser excluídos.

TAREFA

❖ O estudo incluía uma sessão de ressonância magnética a que se seguia uma


sessão de avaliação comportamental.
❖ Quanto mais sangue oxigenado existe numa determinada região cerebral,
maior atividade dos neurónios está a existir, porque os neurónios para
estarem ativos precisam de oxigénio; e a ressonância magnética é sensível
ao sangue oxigenado vs. desoxigenado. Aquilo que estamos a captar é o sinal
bold, que é o sinal de nível de oxigenação do sangue.
❖ Na medida em que estamos a olhar para o aporte de sangue oxigenado em
diferentes regiões cerebrais, nós não estamos a medir a atividade neuronal
diretamente, mas sim indiretamente.
❖ Na experiência de ressonância magnética utilizaram uma abordagem de audição
passiva → os participantes não faziam nada, estavam só no scanner a ouvir sons,
disseram-lhes apenas para prestarem atenção aos sons porque lhes iam ser feitas
perguntas sobre eles depois; para não se mexerem porque se eles se mexerem as
imagens vão ficar desfocadas.
❖ Eles ouviam sons de gargalhadas e dons distratores de choro para não
identificarem de uma forma óbvia qual era o objetivo da experiência.
❖ Um aspeto importante é que foram incluídas gargalhadas genuínas e gargalhadas
falsas. Isto foi feito para ver se as alterações que eles tinham em termos de
processamento da gargalhada era um problema emocional fundamental, ou se

126
seria uma questão mais cognitiva de perceberem a intencionalidade das
gargalhadas.
❖ Temos sempre que comparar aquilo que é a nossa condição experimental de
interesse (gargalhadas) com algum tipo de condição controlo – e vai ser este
contraste, esta comparação entre as duas coisas, que nos vai permitir isolar aquilo
que queremos isolar.
❖ Tínhamos uns períodos de silêncio/ repouso, em que eles não estavam a fazer
nada e que era a nossa baseline, de maneira que nós podermos ver qual era a
atividade cerebral em repouso, depois víamos qual era a atividade cerebral quando
eles estavam nas nossas condições de interesse – subtraímos os dois e isso dava-
nos a rede de ativações específicas a ouvir gargalhadas.
❖ Em termos comportamentais, quando saíam da ressonância magnética, ouviam os
estímulos todos outra vez e que avaliassem numa escala de 7 pontos, em relação
a: (1) ‘Quanto é que ouvir este som te faz sentir a emoção e querer partilhá-la?’
(contágio subjetivo); (2) ‘O som reflete uma emoção genuína?’ (discriminação de
autenticidade).

RESULTADOS: fMRI

❖ Em primeiro lugar quiseram olhar para o mapa das ativações cerebrais em resposta
às gargalhadas genuínas em todos os participantes, e na amostra inteira o que se
fez foi subtrair a baseline à condição em que ouviam gargalhadas
genuínas, para se ver em que áreas cerebrais é que há mais
ativação, mais aporte de sangue oxigenado, quando ouvem
gargalhadas a comparar com quando não estão a ouvir nada.
❖ A imagem apresentada é um mapa estatístico das regiões
cerebrais onde o nível de aporte de sangue oxigenado é
significativamente maior quando os participantes ouvem
gargalhadas por comparação a quando estavam em silêncio.
❖ Ativações muito acentuadas em áreas auditivas; mas também vemos ativações em
áreas motoras e áreas pré-frontais mediais. A ativação em áreas motoras pode
refletir o contágio das gargalhadas e a ativação em áreas pré-frontais mediais, elas
estão associadas à teoria da mente, áreas que recrutamos
quando estamos a pensar sobre o que os outros estarão a
pensar.
❖ O que podemos inferir é que os participantes estavam a tentar
inferir p que se estaria a passar na mente das pessoas que
estavam a rir.
❖ Fez-se uma análise das regiões de interesse: em que se olhou
para as áreas motoras e pré-motoras, que são as áreas onde de esperava haver
diferenças.

127
❖ Em duas áreas: os adolescentes com problemas de comportamento e traços de
frieza emocional que estavam em maior risco de virem a desenvolver psicopatia ,
tiveram ativações significativas.
❖ Tal como esperado: nestes rapazes em risco de psicopatia verifica-se uma menor
ativação em regiões cerebrais importantes para a resposta de contágio emocional
à gargalhada.

RESULTADOS: COMPORTAMENTO

❖ A tarefa comportamental, quando se perguntava qual a vontade de partilhar a


emoção com os outros vimos que estes rapazes mostraram menor inclinação a
partilharem aquela expressão emocional com os outros.
❖ Correlação entre estas respostas comportamentais e aquilo que tinha sido o nível
de atividade cerebral.

RESULTADOS: CONTROLOS
ADICIONAIS

❖ Do ponto de vista cerebral, viu-se que as gargalhadas genuínas, nos 3 grupos,


estavam associadas a maior ativação na região do lobo temporal mais anterior e
do córtex frontal inferior; mas este padrão foi exatamente o mesmo nos 3 grupos,
ou seja, a capacidade cerebral de discriminar os dois tipos de gargalhadas estava
intacta nos dois grupos, não havia efeito da psicopatia a esse nível.
❖ Os rapazes típicos e os rapazes com problemas de comportamento, conseguiam
identificar o significado das gargalhadas a nível cognitivo → aquilo que está alterado
nesta amostra é a contagiabilidade da gargalhadas a nível emocional e não a
capacidade cognitiva de interpretar este estimulo.

RESULTADOS: COMPORTAMENTO

❖ Primeira evidência empírica de respostas neurais atípicas à gargalhada humana


em adolescentes com comportamentos disruptivos.
❖ Padrão de diferenças de ativação sugere respostas atenuadas de contágio motor
automático a uma pista social que tem um papel importante na facilitação da
afiliação social e na promoção dos laços sociais. Ou seja, eles têm aqui respostas
atenuadas a um estímulo que sabemos que é muito importante para as relações
com os outros.

128
❖ Capacidade preservada de inferir o significado social dos estímulos (autenticidade).
Consistente com evidência prévia de que a teoria da mente está preservada nestes
participantes.
❖ Estudos futuros serão necessários para estabelecer causalidade: se as alterações
neurais e comportamentais nas respostas à gargalhada resultam de um
desenvolvimento social atípico, ou se são alterações independentes da experiência
que contribuem para o desenvolvimento social atípico.
❖ O mesmo padrão também será observado para outras emoções positivas?
❖ Contributo: processamento atípico de pistas sociais positivas (gargalhada) poderá
representar um novo mecanismo que empobrece as relações sociais e potencia
uma trajetória de psicopatia; coloca novas questões em termos de estratégias de
prevenção e intervenção focadas na promoção de laços afiliativos como forma de
reduzir o comportamento antissocial.

129

Você também pode gostar