Depósito e Locação - CSA

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Contratos em

Especial

Clara de Sousa Alves


2023/2024

IMP.GE.086.2
Depósito
Obrigações do depositante
1) Pagar a retribuição devida, quando seja esse o caso;
2) Reembolsar as despesas;
3) Indemnização.

IMP.GE.086.2
Pagar a retribuição
▪ Uma das obrigações do art. 1199.º do CC é a de pagar a retribuição
devida, quando for o caso.

▪ O pagamento da retribuição encontra-se previsto no art. 1200.º do CC.

▪ A retribuição, caso não haja estipulação das partes, deve ser paga no
fim do depósito.

▪ Se o depósito terminar antes do prazo, a retribuição deve ser paga


proporcionalmente (art. 1200.º, n.º2 do CC).

IMP.GE.086.2
Reembolso de despesas
▪ O depositante tem de reembolsar as despesas.

▪ As despesas são feitas no interesse do depositante, pelo que este


deve suportar os encargos correspondentes.

▪ Art. 1199.º b) do CC: ”A reembolsá-lo das despesas que ele


fundadamente tenha considerado indispensáveis para a conservação
da coisa, com juros legais desde que foram efectuadas.”

▪ Que despesas?
▪ Indispensáveis.
▪ Ou, não sendo indispensáveis, as que o depositante entendeu como
tais.
IMP.GE.086.2
Obrigação de indemnizar
▪ Art. 1199.º, c) do CC: “A indemnizá-lo do prejuízo sofrido em
consequência do depósito, salvo se o depositante houver procedido
sem culpa”.

▪ Presume-se a culpa do depositante.

▪ Princípios de boa fé – art. 762.º, n.º2 do CC.

▪ Tem de existir um nexo de causalidade entre os danos e aquele


depósito em concreto (o depósito foi causa dos danos).

IMP.GE.086.2
Direitos do depositário
1) Manutenção e recuperação da coisa;
2) Direito de retenção

IMP.GE.086.2
Manutenção e recuperação da
coisa
▪ Art. 1188.º, n.º1 do CC:
“Se o depositário for privado da detenção da coisa por causa que lhe não
seja imputável, fica exonerado das obrigações de guarda e restituição,
mas deve dar conhecimento imediato da privação ao depositante.”

Art. 1188.º, n.º2 do CC:


“Independentemente da obrigação imposta no número anterior, o
depositário que for privado da detenção da coisa ou perturbado no
exercício dos seus direitos pode usar, mesmo contra o depositante,
dos meios facultados ao possuidor nos artigos 1276.º e seguintes.”

IMP.GE.086.2
Manutenção e recuperação da
coisa
▪ Menezes Cordeiro:
- O CC tem de ser interpretado restritivamente.
- Regra: O depositário não tem a posse da coisa, nem pode utilizar as
acções possessórias – é um mero detentor.
- Só com autorização do uso → locação ou comodato

▪ Menezes Leitão:
- Tem o direito de retenção.
- As acções possessórias são excepcionais.
- O seu exercício só se justifica perante terceiros.

IMP.GE.086.2
Direito de retenção
▪ Para garantia dos seus créditos – art. 1199.º do CC.

▪ Previsto no art. 755.º, n.º1 e) do CC.

▪ Direito invocável contra o depositante e relativamente a terceiro –


art. 1192.º, n.º2 do CC.

IMP.GE.086.2
Obrigações do depositário
Previstas no art. 1187.º do CC:

1. Guarda e custódia da coisa;


2. Abster-se de usar a coisa e a dar em depósito a outrem, se não
houver autorização do depositante;
3. Avisar imediatamente o depositante quando saiba que algum perigo
ameaça a coisa ou que terceiro arroga direitos sobre ela, desde que o
facto seja desconhecido do depositante;
4. Restituir a coisa com os seus frutos.

IMP.GE.086.2
Guarda e custódia

▪ Prevista no art. 1187.º a) do CC.

▪ Nada se refere quanto à diligência exigida com esta obrigação, pelo


que o depositário fica obrigado à diligência de “um bom pai de família”.

▪ Doutrina [Menezes Cordeiro] : “a diligência que coloca na guarda das


suas próprias coisas”.

▪ Se for depositário profissional, a diligência exigida será superior.

IMP.GE.086.2
Guarda e custódia

▪ Art. 1188.º, n.º1 do CC: “Se o depositário for privado da detenção da


coisa por causa que lhe não seja imputável, fica exonerado das
obrigações de guarda e restituição, mas deve dar conhecimento
imediato da privação ao depositante”.

▪ Casos de furto da coisa.

▪ Se houver culpa do depositário, este responderá pelos danos nos


termos gerais, com presunção de culpa do art. 799.º, n.º1 do CC.

IMP.GE.086.2
Guarda e custódia

▪ Se não houver culpa do depositário, será exonerado das


obrigações.

▪ Excepto:

1. Se o depositário se comprometeu a pagar indemnização – assume


responsabilidade pelo prejuízo.

2. Se estiver em mora quanto à restituição – produz a inversão do risco


e o depositário responderá pela perda ou deterioração da coisa.

IMP.GE.086.2
Guarda e custódia
▪ Verificada a privação da detenção da coisa por facto que não é
imputável ao depositário:

→ Fica obrigado a dar imediatamente conhecimento ao depositante.


Se o não fizer, incorre em responsabilidade civil, pelo incumprimento
nos termos gerais.

▪ O depositário tem de guardar a coisa nos termos convencionados,


excepto quando puder pressupor que o depositante o aprovaria.

▪ Obrigação de comunicação – art. 1190.º do CC.

IMP.GE.086.2
Abster-se de usar a coisa (…)
▪ Art. 1189.º do CC:
“O depositário não tem o direito de usar a coisa depositada nem de a
dar em depósito a outrem, se o depositante o não tiver autorizado”.

▪ Depósito com autorização de uso não se consegue, facilmente,


distinguir do comodato.

- No comodato admite-se que o comodatário efectue as deteriorações


inerentes a uma prudente utilização, em função do fim do contrato.

- No depósito tal não acontece. Se houver deteriorações resultantes da


utilização da coisa, o depositário viola a obrigação de custódia.

IMP.GE.086.2
Abster-se de usar a coisa (…)

▪ O art. 1189.º do CC admite os subdepósitos.

▪ Subdepósito previsto no art. 1197.º do CC:

“Se o depositário, devidamente autorizado, confiar por sua vez a coisa em


depósito a terceiro, é responsável por culpa sua na escolha dessa
pessoa”.

IMP.GE.086.2
Avisar imediatamente o
depositante
▪ O art. 1187.º b) do CC:

“A avisar imediatamente o depositante, quando saiba que algum perigo


ameaça a coisa ou que terceiro se arroga direitos em relação a ela, desde
que o facto seja desconhecido do depositante”.

1. Sempre que a coisa sofra um perigo material: um risco de perda ou


deterioração.
2. Sempre que objecto for reclamado por terceiro.

IMP.GE.086.2
Avisar imediatamente o
depositante
▪ O art. 1188.º, n.º1 do CC:

“Se o depositário for privado da detenção da coisa por causa que lhe não
seja imputável, fica exonerado das obrigações de guarda e restituição,
mas deve dar conhecimento imediato da privação ao depositante.

IMP.GE.086.2
Restituir a coisa e os seus
frutos
▪ Prevista no art. 1187.º c) do CC:

▪ Se depósito regular: depositário tem de restituir as mesmas coisas


que lhe foram entregues;
▪ Se depósito irregular: depositário restitui coisas do mesmo género ou
qualidade;
▪ Se o depósito for cerrado: o depositário tem de entregar a coisa
intacta, sem violação do invólucro ou recipiente

IMP.GE.086.2
Restituir a coisa e os seus
frutos
▪ Restituição deve ocorrer com os frutos que a coisa espontaneamente
produziu.

▪ Os frutos abrangem também o dever de guarda e custódia do


depositário.

IMP.GE.086.2
Restituir a coisa e os seus
frutos
▪ A restituição é um dever que resulta do contrato de depósito e não
depende da qualidade de proprietário.

▪ Art. 1192.º, n.º1 do CC: “O depositário não pode recusar a


restituição ao depositante com o fundamento de que este não é
proprietário da coisa nem tem sobre ela outro direito”.

▪ Art. 1192.º, n.º2 do CC: “Se, porém, for proposta por terceiro acção de
reivindicação contra o depositário, este, enquanto não for julgada
definitivamente a acção, só pode liberar-se da obrigação de restituir
consignando em depósito a coisa.”

IMP.GE.086.2
Restituir a coisa e os seus
frutos
▪ A obrigação de restituição do depositário constitui uma obrigação de
colação – deve ser cumprida no local estipulado para a sua guarda
(art. 1195.º do CC).

IMP.GE.086.2
Restituir a coisa e os seus
frutos
▪ Qual o prazo de restituição?

1. Estipulado pelas partes – o prazo considera-se estabelecido a favor


do depositante – art. 1194.º do CC. O depositário não pode fazer a
restituição da coisa antes do tempo: excepto de houver justa causa:
art. 1201.º do CC

2. As partes não estipularam prazo – obrigação pura: o depositário


deve restituir a coisa quando for interpelado pelo depositante para o
efeito.

IMP.GE.086.2
Modalidades do depósito
1. Depósito de coisa controvertida;
2. Depósito irregular;
3. Depósito mercantil;
4. Depósito bancário;
5. Depósito em processo executivo.

IMP.GE.086.2
Depósito de coisa
controvertida
▪ Previsto no art. 1202.º do CC:
“Se duas ou mais pessoas disputam a propriedade de uma coisa ou outro
direito sobre ela, podem por meio de depósito entregá-la a terceiro, para
que este a guarde e, resolvida a controvérsia, a restitua à pessoa a quem
se apurar que pertence”.

▪ Controvérsia sobre a titularidade da coisa ou outro direito sobre a


mesma.
▪ Restituição da coisa ocorrerá após resolução da controvérsia e depois
de apurada a titularidade da coisa.

IMP.GE.086.2
Depósito de coisa
controvertida
▪ Tem duas especificidades:

1) Presume-se oneroso – art. 1203.º do CC.


Depositário tem direito a remuneração, segundo os termos do art. 1158.º,
n.º2 do CC

2) Implica para o depositário a obrigação de administrar a coisa – art.


1204.º do CC

IMP.GE.086.2
Depósito irregular
▪ Art. 1205.º do CC:
“Diz-se irregular o depósito que tem por objecto coisas fungíveis”.

▪ Coisas fungíveis – art. 207.º do CC: o objecto consiste numa


quantidade de coisas não determinadas em espécie (ex: um saco de
batatas).

▪ O art. 1206.º do CC faz uma remissão expressa para as normas do


mútuo.

▪ Divergência doutrinária quanto à classificação do depósito irregular


(categoria de mútuo; contrato de crédito; contrato misto)

IMP.GE.086.2
Extinção do depósito
▪ A extinção do depósito ocorre com o cumprimento da obrigação de
restituição da coisa.

▪ Se não tiver sido estipulado prazo, o depositante pode exigir a


restituição da coisa a qualquer tempo – equivale à denúncia.

▪ O depositário não tem direito à denúncia, pois só pode restituir a


coisa:

1. No fim do prazo – quando tal tiver sido estipulado;


2. Se não houver estipulação de prazo: quando o depositante o exigir.

IMP.GE.086.2
Resolução
▪ O depósito pode-se extinguir por resolução com justa causa:
1. Do depositante – art. 1194.º do CC;
2. Do depositário – art. 1201.º do CC.

O que se pode consubstanciar justa causa?

- o incumprimento das obrigações do depositário;


- perda de confiança no depositário;
-mudança da situação do depositante;

(comportamentos que levem à insubsistência da relação contratual)

IMP.GE.086.2
Caducidade
▪ Se tiver sido ultrapassado o prazo de guarda da coisa, o contrato
caduca: o contrato finda automaticamente.

→ O depositário fica com o dever pós contratual de guarda da coisa até


o depositante a vir levantar.

→ O depositário tem direito a indemnização pela mora do depositante.

IMP.GE.086.2
Perda da detenção da coisa
▪ Se houver perecimento da coisa.

▪ Libera o depositário se resultar de facto que não lhe é imputável – nos


termos do art. 1188.º, n.º1 do CC (art. 790.º do CC: impossibilidade da
prestação).

▪ Se a perda da detenção da coisa ocorreu por facto que lhe é imputável


– responde pelo incumprimento do contrato.

IMP.GE.086.2
Locação
Definição
▪ A locação encontra-se prevista nos artigos 1022.º a1113.º do CC.

▪ Art. 1022.º do CC:


“Locação é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a proporcionar
à outra o gozo temporário de uma coisa, mediante retribuição.”

◼ Desta definição resulta que o contrato de locação se caracteriza por


uma específica prestação: a de proporcionar o gozo de uma coisa
corpórea a terceiro, mediante uma contrapartida pecuniária.

◼ Caracteriza-se pelo seu carácter transitório, uma vez que apenas pode
ser celebrada por período temporário.

IMP.GE.086.2
Definição
◼ A locação desempenha uma função económica muito importante

◼ Por um lado, permite ao titular de certos direitos obter rendimento,


proporcionando temporariamente o gozo dessa coisa a outrem.

◼ Por outro lado, permite a quem não tem capacidade económica


para adquirir certos bens a título definitivo, que goze deles
temporariamente, pagando uma quantia inferior à que lhe custaria a
aquisição.

IMP.GE.086.2
Definição
◼ Note-se que apesar do art. 1022º do CC referir que a locação nasce
de uma relação contratual, nem sempre assim será, podendo a
locação ter origem numa sentença judicial (art. 1793º do CC) ou
num ato de órgão público (20º RJOPA).

▪ O regime jurídico das obras em prédios arrendados (DL 157/2006 de


8 de Agosto), determina que em caso de obras coercivas, e havendo
no prédio debilitado fogos devolutos, a entada promotora das obras
coercivas pode arrendar esses fogos mediante concurso público (art.º
20º). Neste caso, o arrendamento não é da iniciativa do arrendatário,
mas de uma entidade promotora de obras coercivas, que resulta da lei.

IMP.GE.086.2
Modalidades
Modalidades

Aluguer + Arrendamento
Arrendamento Aluguer
Arrendamento urbano + rústico

Rústico

Rural

Rústico e não
rural

Urbano
IMP.GE.086.2
Modalidades
▪ Segundo o art.1023.º do CC a locação denomina-se (disposições
gerais: arts. 1022º - 1063º do CC):

▪ Arrendamento: quando verse sobre coisa imóvel, abrangendo,


também, o estabelecimento comercial que é coisa incorpórea;

1. Arrendamento rústico: quando recaia sobre prédios rústicos (+


Novo Regime do Arrendamento Rural);
2. Arrendamento rural: quando tenha fins agrícolas, florestais ou
outras actividades de produção de bens ou serviços associados à
agricultura, à pecuária e à floresta (art. 2º, n.º1 e 2 + 3º RAR);
3. Arrendamento rústico não rural: quando tenha outros fins (art.
1108.º do CC, que manda aplicar subsidiariamente as regras do
IMP.GE.086.2 arrendamento urbano para fins não habitacionais).
Modalidades
4. Arrendamento urbano: quando recaia sobre prédios urbanos (arts.
1064º a 1113º do CC + Regime do Arrendamento Urbano);

4.1 Para fins habitacionais (Arts. 1092º-1107º do CC);

4.2 Para fins não habitacionais (Arts. 1108º-1113º do CC).

IMP.GE.086.2
Modalidades
▪ Aluguer: quando verse sobre coisa móvel (arts. 1022º-1063º do CC).

▪ Podem celebrar-se contratos mistos de aluguer e arrendamento,


como sucede, por exemplo, com o arrendamento de casa mobilada.
Nestes casos, manda o art. 1065º do CC aplicar o regime do
arrendamento urbano.

▪ Podem também ser celebrados contratos mistos de arrendamento


de parte urbana e parte rústica, situação prevista no art. 1066º do
CC que, no nº1, indica que o arrendamento será tido como urbano se
tal for a vontade dos contraentes, sendo que supletivamente será o
arrendamento considerado urbano (nº 3). Serão atendíveis para
determinar a vontade das partes, quando haja dúvidas, o fim principal
do contrato e a renda que os contratantes tenham atribuído a
cada uma das partes.
IMP.GE.086.2
Elementos constitutivos
▪ Extraímos do art. 1022.º do CC os seguintes elementos constitutivos
do contrato de locação:

1. Obrigação de proporcionar a outrem o gozo de uma coisa;


2. Caracter temporário;
3. Retribuição.

IMP.GE.086.2
Ob. de proporcionar a outrem
o gozo de uma coisa
▪ Traduz-se no aproveitamento das utilidades da coisa no âmbito do
contrato, e compreende:

▪ o uso (aproveitamento da utilidade da própria coisa) e

▪ a fruição da coisa (aproveitamento dos frutos da coisa).

IMP.GE.086.2
Ob. de proporcionar a outrem
o gozo de uma coisa
▪ Doutrina:

▪ [Oliveira Ascensão]: Obrigação real -direito de gozo inerente à coisa,


dotado de sequela.

▪ [Menezes Cordeiro e Pinto Furtado]: Obrigação de conteúdo


negativo – tolerar o gozo da coisa ao locatário (pati) ou não perturbar
esse gozo (non facere).

▪ [Menezes Leitão]: Obrigação positiva - art. 1031.º, b) do CC

IMP.GE.086.2
Carácter temporário
▪ Expressamente prevista no art. 1025.º do CC.

▪ O contrato vale, em princípio, pelo prazo estipulado pelas partes, mas


a lei estabelece limites máximos, proibindo a celebração de um
contrato inicial de locação por mais de 30 anos, havendo redução
dos prazos superiores.

▪ O prazo de 30 anos corresponde apenas ao limite máximo do prazo


inicial do contrato e não ao seu limite de duração, podendo o
contrato renovar-se sucessivamente, vigorando por períodos
superiores a 30 anos – art. 1054.º do CC.

IMP.GE.086.2
Carácter temporário
▪ A lei prevê prazos supletivos de duração do contrato, para o caso de
falta de estipulação pelas partes:

▪ Regime geral (art. 1026º do CC): o prazo de duração do contrato é


igual à unidade de tempo a que corresponda a renda fixada;

▪ Arrendamento urbano para habitação (art. 1094º do CC): considera-


se o contrato celebrado com prazo certo de 5 anos, não tendo hoje
prazo mínimo.
▪ O contrato pode, também, ser celebrado por duração indeterminada
(arts. 1094º, n.º1, 1099º e ss. do CC), sendo que não está aqui
colocada em causa o carácter temporário da locação, visto que o
contrato pode cessar por denúncia de uma das partes (Arts. 1100º,
IMP.GE.086.21101º, 1102º e 1103º do CC).
Retribuição
▪ A retribuição (renda ou aluguer, conforme os casos) é a contrapartida
da prestação do locador (art. 1038º, a) do CC), consistindo numa
prestação pecuniária de quantidade, que se caracteriza pelo seu
carácter periódico (art. 1075º, n.º1 e 2 do CC);

▪ Na falta de uma retribuição, o contrato será de comodato e não de


locação;

IMP.GE.086.2
Características
◼ Nominado e típico;

◼ Consensual e não real quoad constitutionem, visto que a entrega da


coisa locada é uma obrigação contratual, constituindo-se o contrato
mesmo antes dessa entrega;

◼ Não formal, quanto ao aluguer (art. 219º do CC), e necessariamente


formal quanto ao arrendamento (1069º e 6º/1 RAR);

◼ Bilateral (arts 1031º e 1038º do CC);

IMP.GE.086.2
Características
◼ Obrigacional e não real, havendo, contudo, quem defenda [Oliveira
Ascensão] que o direito atribuído ao locatário tem natureza real;

◼ Oneroso e sinalagmático, aplicando-se o regime da exceção de não


cumprimento, mas cfr. o art. 1040º do CC;

◼ Comutativo: as prestações de ambas as partes são certas e não


aleatórias;

◼ De execução continuada: a prestação do locador de proporcionar o


gozo da coisa ao locatário é uma prestação continuada ou duradora; a
prestação de retribuição do locador é uma prestação periódica,
renovando-se em sucessivos períodos de tempo (aplica-se o art 434º,
IMP.GE.086.2n.º2 do CC).
Objecto
▪ Nos termos do 1023º a locação pode ter por objeto:

1. coisas imóveis (art. 204º, n.º1 do CC), nomeadamente prédios


rústicos e urbanos (art. 204º, n.º 2 do CC);
2. coisas móveis (art. 205º, n.º 1 do CC).

▪ Esta classificação restringe-se às coisas corpóreas, mas pode a


locação incidir sobre coisas incorpóreas, como o estabelecimento
comercial (art. 1109º do CC).

▪ A locação pode abranger a totalidade como parte da coisa.

IMP.GE.086.2
Objecto
▪ No arrendamento urbano, o contrato tem por objecto, em regra,
prédios urbanos, total ou parcialmente, podendo ser arrendados
separadamente partes do prédio, ou até apenas muros ou terraços
(para publicidade) ou, por exemplo, janelas para assistir a um desfile.

▪ Há, no entanto, condicionalismos legais ao objeto do contrato de


arrendamento urbano, previstos no art. 1070º, n.º1 do CC:

«o arrendamento urbano só pode recair sobre locais cuja aptidão para o


fim do contrato seja atestada pelas entidades competentes,
designadamente através de licença de utilização».

IMP.GE.086.2
Objecto
▪ Art. 5.º do DL 160/2006 – Regime de Celebração do Contrato de
Arrendamento Urbano: «Só podem ser objecto de arrendamento
urbano os edifícios ou suas fracções cuja aptidão para o fim
pretendido pelo contrato seja atestada pela licença de utilização».

▪ Podem ainda ocorrer:

▪ contratos mistos de arrendamento e aluguer (art. 1065º do CC);

▪ contratos mistos de arrendamento urbano e rústico (art. 1066º do


CC).

IMP.GE.086.2
Forma
▪ Relativamente ao aluguer, vigora o princípio da consensualidade ou
liberdade de forma (art. 219º do CC).

▪ Em certos casos (aluguer de veículos, v.g.) a lei exige que o contrato


seja reduzido a escrito. (DL 354/86 de 23 de Outubro)

IMP.GE.086.2
Forma
▪ No que respeita ao arrendamento, a regra é que o contrato fique
sujeito a forma escrita:

▪ Arrendamento urbano: obrigatoriedade de forma escrita (art. 1069º


do CC), tendo o contrato de incluir uma série de elementos, constante
em diploma especial (art. 1070.º, n.º 2 do CC + arts. 2º-4º do Decreto-
Lei n.º 160/2006 );

▪ Art. 2º do Decreto-Lei n.º 160/2006: Conteúdo Essencial: a) A identificação das partes, indicando os
seus nomes, números de identificação civil e de identificação fiscal e, quando aplicável, naturalidade,
data de nascimento e estado civil; b) O domicílio ou a sede do senhorio; c) A identificação e
localização do arrendado, ou da sua parte; d) O fim habitacional ou não habitacional do contrato,
indicando, quando para habitação não permanente, o motivo da transitoriedade; e) A existência da
licença de utilização, o seu número, a data e a entidade emitente, ou a referência a não ser aquela
exigível, nos termos do artigo 5.º; f) O quantitativo da renda; g) A data da celebração.

IMP.GE.086.2
Forma
▪ O contrato de arrendamento urbano está, ainda, sujeito a registo,
sempre que seja celebrado por mais de 6 anos (art. 2º, n.º 1, m)
CRPredial), sem o qual a duração do arrendamento superior a 6
anos deixa de ser oponível a terceiros (art. 5º, n.º 5 CRPredial).

▪ Arrendamento rural: contrato sujeito a forma escrita (6º RAR).

IMP.GE.086.2
Capacidade
▪ Refere o art. 1024º, n,º 1 do CC que a locação constitui para o
locador um ato de administração ordinária, sempre que for
celebrada por prazo inferior a 6 anos.

▪ Como consequência, têm capacidade para celebrar contrato de


locação até esse prazo todos os que podem contratar e administrar
os seus bens, o que ocorre genericamente em relação às pessoas
singulares (art. 67º do CC).

▪ Estão excluídos os menores (exceção: art. 127º, n.º 1, a) do CC), os


maiores acompanhados sempre que a sua incapacidade abranja
atos de administração

IMP.GE.086.2
Capacidade
▪ Em relação às pessoas colectivas, aplica-se o art. 160º do CC:

“A capacidade das pessoas colectivas abrange todos os direitos e


obrigações necessários ou convenientes à prossecução dos seus fins”.

▪ Não há obstáculos para que a pessoa coletiva celebre contratos de


locação, quer como locadora, quer como locatária.

▪ Há, contudo, uma limitação: a pessoa coletiva não pode celebrar


contratos de arrendamento para habitação própria.

IMP.GE.086.2
Legitimidade
▪ Segundo o art. 1024º, n.º1 do CC, se o contrato tiver prazo inferior a 6
anos pode ser celebrado por quem tenha a administração do
imóvel.

▪ Havendo pluralidade de titulares do imóvel, a lei exige, em regra, o


consentimento de todos eles para a celebração do contrato (art.
1024º, n.º 2 e 1682º-A do CC).

IMP.GE.086.2
Legitimidade
▪ No caso de celebração de contrato de locação com prazo superior a
6 anos ou com duração indeterminada, exige-se capacidade de
disposição ou poderes de administração ordinária.

▪ Nestes casos, o arrendamento apenas poderá ser celebrado pelo


proprietário do imóvel (art. 1305º do CC), pelo usufrutuário (art. 1444º
do CC).

▪ O arrendamento pode, ainda, ser celebrado pelo arrendatário, no caso


de este se encontrar autorizado a subarrendar o prédio, total ou
parcialmente.

IMP.GE.086.2
Legitimidade
▪ E quanto ao locatário?

▪ A lei não refere se é um acto de administração ou de disposição.

▪ Doutrina:

1. Acto de mera administração.

2. Acto de disposição se celebrado por mais de seis anos e acto de


administração extraordinária se o prazo for inferior. [Januário Gomes]

IMP.GE.086.2
Contrato Promessa de locação
▪ A locação pode ser objecto de contrato promessa, nos termos do art.
410.º do CC.

▪ Fica condicionada à forma exigida para os contratos promessa.

▪ Em caso de incumprimento da promessa de locação, a mesma está


sujeita à execução específica do art. 830.º do CC.

▪ A execução específica pode ser afastada pelas partes?


▪ Art. 830.º, n.º1 e n.º3 a contario.

IMP.GE.086.2
CASOS
PRÁTICOS
Caso prático 1

António foi jantar a um restaurante conhecido no centro do Porto. Deixou


no balcão “Atendimento ao Cliente” o seu casaco e o guarda-chuva,
tendo na altura recebido um papel com o número que identificava o lugar
onde os bens ficavam guardados.
À saída, António dirigiu-se ao referido balcão, para pedir de volta os seus
objectos, mas o casaco havia desaparecido.
O dono do restaurante declina qualquer responsabilidade, alegando que
guardar o casaco foi um favor que fez a António, já que este nada pagou
pelo serviço.
Quid Iuris?

IMP.GE.086.2
Caso prático 2

Catarina deixou a sua mala no Depósito de Bagagem de uma estação


ferroviária, por cinco horas, tendo feito o pagamento de 3 euros.
No momento em que foi buscar a mala, esta estava manchada.
O funcionário da estação declinou qualquer responsabilidade pela guarda
da mala, alegando que não sabe como é que a mancha apareceu.
Quid iuris?

IMP.GE.086.2
Caso prático 3
Daniel, que iria estar fora para participar num torneio internacional, pediu a
Ernesto que guardasse nos seus estábulos o seu cavalo “Veloz”, um PSI.
Escolheram a box a ocupar pelo animal e combinaram que Ernesto deveria
alimentar o cavalo com uma ração específica, que o treino diário do cavalo seria
um treino normal de manutenção, sem exigências especiais e que Ernesto
receberia pela guarda do cavalo cerca de 50 euros diários. Como Daniel ia estar
fora 30 dias, o valor total seria de 1.500,00€.
Ao fim de dois dias o cavalo começou a ter problemas de saúde, por causa da
alimentação, o que obrigou Ernesto a mudar de ração, tendo este informado
Daniel por telefone.
Entretanto, como Daniel teve um acidente, regressou ao fim de 5 dias.
Quando foi buscar o cavalo, Ernesto exigiu-lhe o pagamento dos 1.500,00€ e
Daniel entende que só deve pagar 250 euros.
Ernesto reusa-se a restituir o cavalo.
Quid Iuris?
IMP.GE.086.2
Caso prático 4
A galeria de arte “Cruzes Canhoto” no Porto quer expor os quadros de Pedro, um
novo artista da cidade do Porto.
Pedro tem na sua colecção “Chromatic immersion” um total de 5 quadros, da
dimensão 1,40 x1,20 e está interessado em expô-los na referida galeria.
Redija o contrato correspondente.

IMP.GE.086.2
IMP.GE.086.2

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