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Aula IV

(OBS: TRATA-SE DE SIMPLES MATERIAL DE APOIO, QUE NÃO ESGOSTA A


MATÉRIA E NÃO DISPENSA ANOTAÇÕES EM SALA DE AULA, SENDO
IMPRESCINDÍVEL A LEITURA DO CÓDIGO CIVIL, DA DOUTRINA E
JURISPRUDÊNCIA.)

Professora Christiane C. Marcellos


(PROIBIDA REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL SEM AUTORIZAÇÃO)

RECOMENDAÇÃO DE LEITURA - DOUTRINA


GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R. Novo curso de direito civil: obrigações.
23. ed. rev. ampl. São Paulo: Saraiva, 2021. v. 2. (e-book - Minha Biblioteca)
GONÇALVES, C. R. Direito civil brasileiro: teoria geral das obrigações. 19. ed. São
Paulo: Saraiva, 2022. v. 2. (e-book - Minha Biblioteca)
VENOSA, S. de S. Direito Civil: obrigações e responsabilidade civil. 21. ed. Grupo
GEN, 2021. (e-book - Minha Biblioteca)

Classificação das obrigações pelo objeto (continuação)


OBRIGAÇÃO EM DINHEIRO (OBRIGAÇÕES PECUNIÁRIAS) E DÍVIDAS DE
VALOR

OBRIGAÇÃO DE DAR
OBRIGAÇÃO EM DINHEIRO
*obrigação de dar certa quantia em dinheiro (obrigações pecuniárias)
*Ex. empréstimo bancário, o tomador obriga-se a devolver a quantia levantada
*objeto: prestação em dinheiro (não é um bem)

DÍVIDAS DE VALOR
*dinheiro não é propriamente a prestação, mas apresenta seu valor.
*Ex. a obrigação de indenizar decorrente de ato ilícito, cujo montante refere-se ao bem
lesado; desapropriação, a indenização corresponde ao valor do bem desapropriado; obrigação
alimentar).

CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES PELO SUJEITO

SUJEITO ATIVO É aquele que pode exigir do devedor o objeto da


(CREDOR) prestação jurídica.
SUJEITO PASSIVO É aquele que deve cumprir a obrigação
(DEVEDOR)
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OBRIGAÇÕES PROPTER REM OU REAIS (obrigações ambulatórias ou híbridas)
*real=res=coisa
* obrigação em razão da coisa (propter rem )
*também chamada de obrigação mista porque apresenta características de Direito das Coisas
(Direito Real) e de Direito das Obrigações ( Direito Pessoal).
*Não resulta da vontade das partes, mas da propriedade sobre um bem.
* Exemplo: art. 1345. Art. 1277, art. 1315

Art. 1.345. O adquirente de unidade responde pelos débitos do alienante, em relação ao condomínio,
inclusive multas e juros moratórios.

OUTRAS MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES


Quanto ao conteúdo
a) obrigação de meio b) de resultado c)de garantia
*é aquela em que o devedor *é aquela em que o devedor *finalidade: eliminar os
se obriga a exercer sua se obriga a exercer sua risco sofrido pelo credor.
atividade com diligência e atividade com diligência e Ex. contrato de seguro,
cuidado cuidado fiador, art. 441
*utilizando-se de toda *utilizando-se de toda
técnica necessária técnica necessária
*sem garantir o resultado *obriga-se a produzir o
esperado. resultado esperado pelo
Ex. médico, advogado credor
Ex. transportador

Quanto à exigibilidade
a) obrigação civil b) obrigação natural
*não havendo cumprimento voluntário é * não havendo o pagamento voluntário, o
provida de exigibilidade credor não pode exigi-la.
*Porém, uma vez cumprida, o devedor não
tem direito à repetição (devolução).
Ex: “Art.882. Não se pode repetir o que se
pagou para solver dívida prescrita, ou
cumprir obrigação judicialmente
inexigível”
“Art. 814. As dívidas de jogo ou de aposta não
obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a
quantia, que voluntariamente se pagou, salvo se foi
ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou
interdito.
Ex. dívida de jogo
Dívida prescrita

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Quanto ao momento em que devem ser cumpridas

a) Obrigações de execução b) Obrigações de execução c) Obrigações de execução


instantânea diferida continuada ou de trato
* são aquelas que se * também se consumam num sucessivo
consumam num único ato só ato, mas em momento * são aquelas que se cumpre
futuro por meio de atos reiterados.
Ex: compra e venda à vista Ex: compra com a entrega Ex: compra e venda a prazo.
do objeto em data posterior
ao pagamento;

TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES

TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES


Arts 286 a 303)
CESSÃO DE CRÉDITO ASSUNÇÃO DE DÍVIDA
Art.286 (cessão de débito)
Art. 299

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CESSÃO DE CRÉDITO

CESSÃO DE CRÉDITO - Art.286


1.CONCEITO
Cessão de crédito é um negócio jurídico bilateral pelo qual o credor (cedente) transfere, de
forma gratuita ou onerosa, o seu crédito, total ou parcial, para terceira pessoa
(cessionário).

Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da
obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não
poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação.

2.PARTES NA CESSÃO DE CRÉDITO


*credor = cedente
*cessionário = terceiro que adquire o crédito
*devedor = cedido

3. ESPÉCIES DE CESSÃO DE CRÉDITO:


Quanto a origem:
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a)Convencional (objeto de estudo)
*a título oneroso
*a título gratuito (
*total (cede o crédito em sua totalidade)
*parcial (cede parcialmente o crédito)
b)Legal
Ex: Art. 283. O devedor que satisfez a dívida por inteiro tem direito a exigir de cada um dos co-
devedores a sua quota, dividindo-se igualmente por todos a do insolvente, se o houver, presumindo-
se iguais, no débito, as partes de todos os co-devedores.
c)Judicial
*Juiz determina

4.ACESSÓRIOS - Art. 287


Art. 287. Salvo disposição em contrário, na cessão de um crédito abrangem-se todos os
seus acessórios.
Ex. juros, multas e, inclusive, garantias da dívida, salvo expressa disposição em contrário

5.FORMA e EFICÁCIA CONTRA TERCEIROS - Art. 288


Art. 288. É ineficaz, em relação a terceiros, a transmissão de um crédito, se não celebrar-
se mediante instrumento público, ou instrumento particular revestido das solenidades do §
1 o do art. 654.
*efeitos entre partes: forma livre
* efeitos perante terceiros: por escrito = particular ou por instrumento público
* Instrumento particular, solenidades do § 1o , art. 654
§ 1º do art. 654: O instrumento particular deve conter a indicação do lugar onde foi
passado, a qualificação do outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com
a designação e a extensão dos poderes conferidos. (grifamo)

6. CRÉDITO HIPOTECÁRIO – Art. 289


Art. 289. O cessionário de crédito hipotecário tem o direito de fazer averbar a cessão no
registro do imóvel.
Ex. João pede empréstimo para o Banco X, para a compra da casa própria, com
parcelamento de 10 anos. O banco concede o empréstimo, João fica com a casa, mas o
Banco passa a ser credor hipotecário (a propriedade é a garantia de pagamento do
empréstimo). O Banco X (cedente) pode ceder seu crédito hipotecário para o Banco Y
(cessionário). Assim, conforme artigo 289, o cessionário de crédito hipotecário tem o
direito de fazer averbar a cessão no registro do imóvel.

6. OBJETO DA CESSÃO DE CRÉDITO - art. 286


* Art. 286. O credor pode ceder o seu crédito, se a isso não se opuser a natureza da
obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor; a cláusula proibitiva da cessão não
poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação.
*regra: todos os créditos podem ser cedidos
Exceção (Não podem ser cedidos):
a) pela natureza da obrigação
*direitos da personalidade (art. 11)
*direito a alimentos
b) em razão da lei
*Ex. art. 520, art. 1749, II
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c) pela vontade do credor e devedor
*proibição expressa
*cessionário de boa-fé
Ex: João transfere o crédito a favor de Pedro, que não sabia da proibição (no instrumento
originário não estava expresso, somente em aditamento, que era desconhecido de Pedro).
Como Pedro agiu de boa-fé e estavam presentes os requisitos legais, a cessão é válida.
Tendo em vista que João agiu de má-fé, o devedor poderá ajuizar ação de indenização por
perdas e danos caso demonstre que sofreu prejuízo.

7. NOTIFICAÇÃO AO DEVEDOR - Art. 290


*Art. 290. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a
este notificada; mas por notificado se tem o devedor que, em escrito público ou particular,
se declarou ciente da cessão feita.
*devedor: não precisa consentir
*efeitos perante o devedor: só produz efeitos quando notificado ( requisito de eficácia)
*notificação: judicial ou extrajudicial
Ex1: Se A cede o seu crédito B, para eficácia do ato de transmissão deverá notificar,
judicial ou extrajudicialmente, o devedor C, para que este tome ciência e possa efetuar o
pagamento ao novo credor.
Exemplo: Por outro lado, no exemplo acima, se o devedor C, por escrito público ou
particular se declarar ciente da cessão realizada, dispensa-se a notificação.

8.VÁRIAS CESSÕES DO MESMO CRÉDITO - Art. 291


Art. 291. Ocorrendo várias cessões do mesmo crédito, prevalece a que se completar com a
tradição do título do crédito cedido.
*prevalece a que se completar com a tradição do título do crédito cedido.
Ex. Se o credor, de má-fé, cede o mesmo crédito (cheque) para A, B e C. Não notificado
sobre as cessões, o devedor só se libera da obrigação pagando àquele que lhe apresentar,
com o instrumento da cessão, o título da obrigação transferida.

9. FICA DESOBRIGADO O DEVEDOR - art. 292


*Art. 292. Fica desobrigado o devedor que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao
credor primitivo, ou que, no caso de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário
que lhe apresenta, com o título de cessão, o da obrigação cedida; quando o crédito constar
de escritura pública, prevalecerá a prioridade da notificação.
Fica desobrigado o devedor:
a) que, antes de ter conhecimento da cessão, paga ao credor primitivo
b) que, no caso de mais de uma cessão notificada, paga ao cessionário que lhe apresenta,
com o título de cessão, o da obrigação cedida
c) quando o crédito constar de escritura pública, prevalecerá a prioridade da notificação.

10.POSSIBILIDADE DE O CESSIONÁRIO EXERCER OS ATOS CONSERVATÓRIOS


DO DIREITO CEDIDO - Art. 293
Art. 293. Independentemente do conhecimento da cessão pelo devedor, pode o cessionário
exercer os atos conservatórios do direito cedido.
*Ex. ação de cobrança

11. EXCEÇÕES QUE PODEM SER OPOSTAS – art. 294


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* Art. 294. O devedor pode opor ao cessionário as exceções que lhe competirem, bem como
as que, no momento em que veio a ter conhecimento da cessão, tinha contra o cedente.
*o devedor pode opor ao cessionário as mesmas defesas que poderia opor contra o cedente.
Exemplo: o devedor pode alegar que já pagou o débito; que o instrumento originário estava
prescrito.

12. RESPONSABILIDADE DO CEDENTE – art. 295 – art. 296


a) pro soluto (regra geral) – art. 295
* Art. 295. Na cessão por título oneroso, o cedente, ainda que não se responsabilize, fica
responsável ao cessionário pela existência do crédito ao tempo em que lhe cedeu; a mesma
responsabilidade lhe cabe nas cessões por título gratuito, se tiver procedido de má-fé.
*cessão onerosa, fica responsável pela existência do crédito (regra)
*cessões por título gratuito: se tiver procedido de má-fé= mesma responsabilidade
b) pro solvendo (art. 296)
* Art. 296. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do
devedor.
*regra: não responde
*exceção: estipulação no contrato
* Se responsável, não responde por mais do que recebeu do cessionário = art. 297
Art. 297. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde
por mais do que daquele recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as
despesas da cessão e as que o cessionário houver feito com a cobrança.
Ex. dívida = 100 reais . Cessão = 80 reais, a responsabilidade do cedente será sobre os 80
reais.

13. CRÉDITO PENHORADO - Art. 298


Art. 298. O crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser transferido pelo credor que
tiver conhecimento da penhora; mas o devedor que o pagar, não tendo notificação dela,
fica exonerado, subsistindo somente contra o credor os direitos de terceiro.
* vedada a transferência do crédito penhorado
*o devedor que paga a dívida penhorada, fica exonerado

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ASSUNÇÃO DE DÍVIDA
(CESSÃO DE DÉBITO)

ASSUNÇÃO DE DÍVIDA (cessão de débito) – art. 299


1.CONCEITO - art. 299
Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento
expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da
assunção, era insolvente e o credor o ignorava.
Parágrafo único. Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na
assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa.

2.ESPÉCIES:
Quanto ao pólo passivo
a) Privativa ou liberatória:
*libera o devedor. (espécie adotada pelo NCC).
b) Cumulativa ou de reforço
*mais de um devedor
*convenção das partes ( não está expressa no NCC)

Enunciado 16, aprovado pelo Conselho Nacional da Justiça Federal na I Jornada de Direito
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Civil, “O art. 299 do Código Civil não exclui a possibilidade da assunção cumulativa da
dívida quando dois ou mais devedores se tornam responsáveis pelo débito com a
concordância do credor.”

Quanto à participação do credor


a) Por expromissão:
*ocorre sem a participação/consentimento do devedor
*negócio é realizado entre credor e terceiro (expromitente)
*devedor originário pode ser liberado (devedor primitivo exonerado) ou não
(devedor primitivo + novo devedor).
b) Por delegação:
*o devedor originário (delegante), transfere o débito a terceiro (delegatário), com o
consentimento do credor (delegado)
*delegação liberatória: o devedor primitivo é substituído pelo novo (foi a adotada
pelo art. 299 do CC);
*delegação cumulativa: o terceiro soma-se ao devedor (devedor primitivo + novo
devedor).
Enunciado 16, aprovado pelo Conselho Nacional da Justiça Federal na I Jornada de Direito
Civil, “O art. 299 do Código Civil não exclui a possibilidade da assunção cumulativa da
dívida quando dois ou mais devedores se tornam responsáveis pelo débito com a
concordância do credor.”

3. INTERPRETAÇÃO DO SILÊNCIO Parágrafo único do art. 299


Parágrafo único. Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na
assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa.
*silêncio do credor =recusa

4. EFEITOS DA ASSUNÇÃO – art. 300


Quanto as garantias especiais originariamente dadas pelo devedor ou terceiro ao credor:
Art. 300. Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a
partir da assunção da dívida, as garantias especiais por ele originariamente dadas ao
credor.
*regra: as garantias se extinguem
*exceção: concordância expressa do devedor primitivo
*Enuciado 422 do CJF: A expressão "garantias especiais" constante do art. 300 do
CC/2002 refere-se a todas as garantias, quaisquer delas, reais ou fidejussórias, que
tenham sido prestadas voluntária e originariamente pelo devedor primitivo ou por terceiro,
vale dizer, aquelas que dependeram da vontade do garantidor, devedor ou terceiro para se
constituírem.

Art. 301. Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito, com todas
as suas garantias, salvo as garantias prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o
vício que inquinava a obrigação.
*se anulada a assunção, restaura-se o debíto com relação ao devedor primitivo
* Enunciado 423 do CJF: O art. 301 do CC deve ser interpretado de forma a também
abranger os negócios jurídicos nulos e a significar a continuidade da relação obrigacional
originária em vez de "restauração", porque, envolvendo hipótese de transmissão, aquela
relação nunca deixou de existir.

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Quanto as exceções (defesas) pessoais que competiam ao devedor primitivo – art. 302
Art. 302. O novo devedor não pode opor ao credor as exceções pessoais que competiam ao
devedor primitivo.
* A (devedor primitivo) cede o débito para B (novo devedor) . O novo devedor não pode
opor as defesas pessoais (ex. coação) que tinha o devedor primitivo.

Quanto ao adquirente de imóvel hipotecado - art. 303


Art. 303. O adquirente de imóvel hipotecado pode tomar a seu cargo o pagamento do
crédito garantido; se o credor, notificado, não impugnar em trinta dias a transferência do
débito, entender-se-á dado o assentimento.
*Ex.João pede empréstimo para o Banco X, para a compra da casa própria, com
parcelamento de 10 anos. O banco concede o empréstimo, João fica com a casa, mas o
Banco passa a ser credor hipotecário (a propriedade é a garantia de pagamento do
empréstimo). João pretende ceder seu débito a Pedro. Se o Banco X, notificado, não
impugnar em trinta dias a transferência do débito, entender-se-á que concordou com a
assunção.
*Enunciado 353 do CJF: A recusa do credor, quando notificado pelo adquirente de imóvel
hipotecado comunicando-lhe o interesse em assumir a obrigação, deve ser justificada.
*Enunciado 424 do CJF: A comprovada ciência de que o reiterado pagamento é feito por
terceiro no interesse próprio produz efeitos equivalentes aos da notificação de que trata o
art. 303, segunda parte.

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