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Ementa e Acórdão

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12/05/2021 PRIMEIRA TURMA

AG.REG. NO AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO


1.295.775 PARANÁ

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


AGTE.(S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
AGDO.(A/S) : DIRCE NASSIF E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : JULIANA CRUZ CAVAGNOLLI

Ementa: DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO.


SERVIDOR PÚBLICO. ABONO DE PERMANÊNCIA. § 19 DO ART. 40
DA CONSTITUIÇÃO, NA REDAÇÃO ANTERIOR À EMENDA 103/2019.
INGRESSO EM NOVO CARGO PÚBLICO, POR CONCURSO. CASO
CONCRETO EM QUE CABE A RECONDUÇÃO AO CARGO
ANTERIOR. MANUTENÇÃO DO BENEFÍCIO, NO VALOR PERCEBIDO
RELATIVAMENTE AO CARGO EM QUE PREENCHIDOS OS
REQUISITOS PARA A APOSENTADORIA.
1. Discute-se nestes autos se, ao ingressar em novo cargo público, o
servidor que já havia preenchido os requisitos para a aposentadoria
voluntária conserva o direito ao abono de permanência.
2. Nas hipóteses em que for cabível a recondução ao cargo anterior, o
servidor deve continuar recebendo o abono de permanência, mesmo que
ocupe outro cargo. No peculiar quadro em exame nestes autos, por
manter o direito a se aposentar pelo cargo anterior, está atendida a
finalidade do benefício – estimular a permanência do funcionário no
serviço ativo e, ao mesmo tempo, proporcionar economia para o Erário.
3. Entretanto, até que implemente os pressupostos para se aposentar
no novo cargo, o valor do abono de permanência deve corresponder à
contribuição vertida no cargo anterior, pelo qual o servidor tem
efetivamente o direito de se aposentar.
4. Agravo interno a que se nega provimento.

AC ÓRDÃ O

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ARE 1295775 AGR-AGR / PR

Vistos, relatados e discutidos estes autos, os Ministros do Supremo


Tribunal Federal, em Sessão Virtual da Primeira Turma, sob a Presidência
do Senhor Ministro DIAS TOFFOLI, em conformidade com a ata de
julgamento e as notas taquigráficas, por unanimidade, acordam em negar
provimento ao agravo interno, nos termos do voto do Relator.

Brasília, 12 de maio de 2021.

Ministro ALEXANDRE DE MORAES


Relator

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Relatório

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12/05/2021 PRIMEIRA TURMA

AG.REG. NO AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO


1.295.775 PARANÁ

RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES


AGTE.(S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
AGDO.(A/S) : DIRCE NASSIF E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : JULIANA CRUZ CAVAGNOLLI

RE LAT Ó RI O

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (RELATOR):


Trata-se de Agravo Interno contra decisão que conheceu do agravo
para dar parcial provimento ao Recurso Extraordinário, determinando
que as autoras recebam o abono de permanência no valor que vinha
sendo pago enquanto ocupavam o cargo anterior (Técnico Judiciário) e no
qual constituíram todos os requisitos necessários para a aposentadoria.

Sustenta a parte agravante, em suma, que (a) as decisões proferidas


nos MS’s 33.424 e 33.456, adotadas como precedentes na decisão
recorrida, não têm similaridade com o caso discutido nestes autos, visto
que os referidos precedentes paradigmas tratam de magistrados que
passaram a ocupar cargos de ministros em tribunais superiores; e (b) não
subsiste o direito das autoras à percepção do abono de permanência a
partir da data em que se tornaram estáveis no cargo de analista judiciário,
por não terem preenchido o tempo mínimo de 5 (cinco) anos nesse cargo,
considerando que “a assunção pelas autoras em outro cargo as desvincula
da situação anterior, especialmente após o cumprimento do prazo do
estágio probatório, razão pela qual também é indevida a manutenção do
abono de permanência no valor percebido antes da mudança funcional”
(fl. 7, Doc. 38).

É o relatório

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Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

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VOTO

O SENHOR MINISTRO ALEXANDRE DE MORAES (RELATOR): Eis a


decisão ora agravada:

“DECISÃO

Trata-se de Agravo Interno em face de decisão


monocrática em que neguei seguimento ao Recurso
Extraordinário com Agravo, ao fundamento de que o Tribunal
de origem observou o entendimento do SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL, no sentido de que “o deslocamento de cargos,
dentro da estrutura do Judiciário, não retira o direito ao abono
de permanência.”

No Agravo, a parte agravante sustenta, em síntese, que:

(a) a matéria versada no MS 33.424 não tem


similaridade com o caso ora em debate, “pois a matéria
tratada naqueles autos se refere ao deslocamento dentro
da mesma estrutura de cargos, enquanto que no caso
concreto a tese discutida envolve assunção de novo cargo
por concurso público” (fl. 3, Doc. 34);

(b) “as recorridas preencheram as condições para


aposentadoria voluntária no cargo de Técnico Judiciário,
contudo não preencheram em relação ao atual cargo por
elas ocupado de Analista Judiciário - fato incontroverso
nos autos -, razão pelo qual não é possível o deferimento
do abono de permanência” (fl. 4, Doc. 34);

(c) conforme entendimento do Tribunal de Contas da


União (Acórdão 3.445/2014, Plenário), para assegurar o

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Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

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direito ao abono de permanência após a conclusão do


estágio probatório no cargo de Analista Judiciário, as
recorridas devem preencher os requisitos para
aposentadoria voluntária nesse novo cargo, o que inclui o
tempo mínimo de 05 (cinco) anos de efetivo exercício, o
que não ocorreu.

É o relatório. Decido.

Merece reconsideração, em parte, a decisão agravada.

O cerne da questão é saber se ao assumir novo cargo


público, no qual ainda não reuniu os requisitos para se
aposentar, o servidor conserva o direito ao abono de
permanência que vinha percebendo (pois já poderia se inativar
pelo cargo anterior).

Eis a disposição constitucional que trata do abono de


permanência (na redação da Emenda 41/2003, vigente à época
em que as autoras passaram a perceber o benefício):

Art. 40. O regime próprio de previdência social dos


servidores titulares de cargos efetivos terá caráter
contributivo e solidário, mediante contribuição do
respectivo ente federativo, de servidores ativos, de
aposentados e de pensionistas, observados critérios que
preservem o equilíbrio financeiro e atuarial.
§ 19. O servidor de que trata este artigo que tenha
completado as exigências para aposentadoria voluntária
estabelecidas no § 1º, III, a, e que opte por permanecer em
atividade fará jus a um abono de permanência equivalente
ao valor da sua contribuição previdenciária até completar
as exigências para aposentadoria compulsória contidas no
§ 1º, II.

No caso, discute-se o direito à manutenção do abono de

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Voto - MIN. ALEXANDRE DE MORAES

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permanência às servidoras do Tribunal Regional Eleitoral do


Paraná que, após preenchidos os requisitos necessários para a
concessão de aposentadoria voluntária, permaneceram no
serviço público, e, posteriormente, tomaram posse no cargo de
Analista Judiciário.

O Tribunal de origem, amparando-se na jurisprudência


desta CORTE, manteve a sentença que julgara procedente o
pedido, ao fundamento de que “o deslocamento de cargo não
pode resultar em prejuízo para a titular, valendo notar a
natureza do abono, o qual se dirige ao incentivo à permanência
em atividade por aqueles que preencherem as condições para
aposentadoria” (Vol. 5, fl. 4).

Com efeito, a jurisprudência do SUPREMO TRIBUNAL


FEDERAL tem posição no sentido de que o deslocamento de
cargos, dentro da estrutura do Judiciário, não retira o direito ao
abono de permanência. A propósito, veja-se o seguinte
precedente:

“PODER JUDICIÁRIO – CARGOS –


DESLOCAMENTO – ABONO DE PERMANÊNCIA. A
ocupação de novo cargo dentro da estrutura do Poder
Judiciário, pelo titular do abono de permanência, não
implica a cessação do benefício.” (MS 33.424, Rel. Min.
MARCO AURÉLIO, Primeira Turma, DJe de 10/07/2017)

No mesmo sentido: MS 33.456/DF, Rel. Min. MARCO


AURÉLIO, Primeira Turma, DJe de 17/4/2017.

De fato, a mudança de cargo não invalida o pressuposto


essencial para a concessão do abono de permanência: o
preenchimento dos requisitos para a aposentadoria. Se não
perfizer os cinco anos no novo cargo, ainda assim a servidora
faz jus ao abono, pois conserva o direito à inativação, como
Técnica Judiciária.

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Entretanto, há outro ponto a ser examinado, referente ao


valor do benefício devido à parte.

Quanto a esse aspecto, a Constituição estabelece que o


abono corresponderá “ao valor da sua contribuição
previdenciária até completar as exigências para aposentadoria
compulsória contidas no § 1º, II”.

A norma, evidentemente, supõe que o servidor se mantém


no cargo no qual completou as exigências para a aposentadoria
voluntária.

Ora, é incontroverso que as autoras ainda não atingiram


os pressupostos para se aposentar no novo cargo, o qual
passaram a exercer em 16/5/2016 (fls. 13/16, Doc. 4).

Na forma do art. 40, § 1º, III, da Constituição, as ora


recorridas não implementaram “cinco anos no cargo efetivo em
que se dará a aposentadoria”.

Assim, na presente hipótese, rigorosamente excepcional, a


regra constitucional precisa ser interpretada no sentido de que
as partes fazem jus, sim, ao abono; entretanto, até que
completem os requisitos para se aposentarem pelo novo cargo
público, o abono de permanência será devido no valor que elas
percebiam antes de sua mudança funcional.

Nesse sentido, manifestei-me recentemente no ARE


1.298.838, publicado no DJe de 14/12/2020.

Diante do exposto, RECONSIDERO, em parte, a decisão


agravada e, com base no art. 21, §§ 1º e 2º, do Regimento
Interno do Supremo Tribunal Federal, CONHEÇO DO
AGRAVO PARA, DESDE LOGO, DAR PARCIAL
PROVIMENTO AO RECURSO EXTRAORDINÁRIO, para que

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as autoras recebam o abono de permanência no valor que vinha


sendo pago enquanto ocupavam o cargo anterior (Técnico
Judiciário) e no qual constituíram todos os requisitos
necessários para a aposentadoria.

Publique-se.”

Não há reparo a fazer no entendimento aplicado, pois o Agravo


Interno não apresentou qualquer argumento apto a desconstituir os
demais óbices apontados.

Diante do exposto, nego provimento ao Agravo Interno.

É o voto.

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Extrato de Ata - 12/05/2021

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PRIMEIRA TURMA
EXTRATO DE ATA

AG.REG. NO AG.REG. NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO 1.295.775


PROCED. : PARANÁ
RELATOR : MIN. ALEXANDRE DE MORAES
AGTE.(S) : UNIÃO
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO
AGDO.(A/S) : DIRCE NASSIF E OUTRO(A/S)
ADV.(A/S) : JULIANA CRUZ CAVAGNOLLI (68533/PR)

Decisão: A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo


interno, nos termos do voto do Relator. Primeira Turma, Sessão
Virtual de 30.4.2021 a 11.5.2021.

Composição: Ministros Dias Toffoli (Presidente), Marco


Aurélio, Rosa Weber, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes.

Luiz Gustavo Silva Almeida


Secretário da Primeira Turma

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