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Paralaxe - Deslocamento Como Quase
Paralaxe - Deslocamento Como Quase
Paralaxe - Deslocamento Como Quase
O reconhecimento da centralidade do
corpo nos processos de cognição fez
com que pesquisadores e artistas im-
plodissem uma série de estereótipos,
subvertendo as linhas abissais entre
Oriente e Ocidente.
(Christine Greiner)1
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GREINER, 2015: 187.
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Definição segundo o dicionário Houaiss.
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GREINER, 2015: 198.
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Em certo sentido, todos os corpos se apresentam neste estado de incompletude, mas
estamos tratando pontualmente do caso dos nikkeis nesta investigação.
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LAPLANTINE & NOUSS, 2016: 30-31.
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razões, mas que, em sua maioria, apontam o estado de guerra como uma
das principais causas.
O Brasil teve um aumento de mais de 2000% de solicitações de
refúgio entre 2010 e 20156. Essa nova diáspora tem causado algumas
reviravoltas em relação aos discursos de “identidade” e de alteridade.
Novas ondas de intolerância e preconceito se revelam à medida que esses
confrontos acontecem. Indiretamente, isso resvala na questão do nikkei,
exatamente porque as diferenças fenotípicas se sobressaem, e o que
antes ficava velado começa a tomar formas mais concretas e agressivas.
Tudo aquilo que vai contra a hegemonia vigente acaba por ser
retaliado e perseguido. Em um mundo em que as informações circulam
numa velocidade cada vez maior, as possibilidades de um pensamento
contra-hegemônico pode ser mais propício, mas, paralelamente, as ideias
em torno de um conservadorismo que defende e reforça sempre a
supremacia também crescem avassaladoramente.
Em comunidades de discussão nas redes sociais que discutem
questões étnicas asiáticas (como Asiáticos pela Diversidade, Perigo
Amarelo e Plataforma Lótus) são crescentes os relatos de nikkeis e
descendentes de outras nacionalidades que são ameaçados e abordados
com violência. Não raros são os casos de mensagens que dizem “Volta
pro seu país”. Isso é muito preocupante, porque acentua o quanto de
desconhecimento (em relação ao outro) e intolerância (também em
relação ao outro) existe no seio da sociedade brasileira.
Apesar de prezar por uma “democracia racial”7, em que não há
preconceito, racismo, o que vemos na prática e no cotidiano da realidade
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Disponível na internet: http://www.acnur.org/portugues/recursos/estatisticas/dados-
sobre-refugio-no-brasil/
Acesso em: março de 2017.
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“A exaltação da ‘condição crioula’ ou da ‘democracia racial’ (expressão muitas vezes
utilizada para designar o Brasil) não poderá minimizar o facto de que, ao longo da
história, mesmo nessas Américas classificadas de mestiças – ou seja, formadas num
sistema paternalista a partir do encontro dos senhores europeus e dos escravos
africanos –, os brancos recusaram massivamente a componente negra da sociedade.
Mantiveram uma obsessão cromática, uma verdadeira fobia da cor negra, que deu
lugar à construção de numerosas escalas de cor que contém diversas dezenas de
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gradações, do branco mais claro ao negro mais retinto.” (LAPLANTINE & NOUSS, 2016:
29).
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