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Levi Strauss – Raça e História

1952 (Unesco)

Como explicar a diversidade das culturas humanas?

Para o autor, as culturas humanas não diferem umas das outras do mesmo modo, nem no
mesmo plano.

As culturas humanas estão justapostas no espaço (planeta), próximas ou distantes, mas todas
são contemporâneas (ou seja, não é possível pensar em “infância da humanidade”, ou
“culturas primitivas”, ou “ancestrais vivos da cultura europeia”)

A diversidade humana é infinitamente mais rica do que jamais poderemos saber, pois, ainda
que nos tornemos etnólogos e arqueólogos, jamais poderemos entrar em contato com
civilizações do passado, com sua história e diversidade em sua plenitude. Um inventário
completo da diversidade cultural humana teria mais lacunas do que casas preenchidas.

As culturas diferem de modos diferentes: se duas culturas tiverem surgido de um tronco


comum, suas diferenças serão distintas do que duas que jamais tiveram algum contato
[DIFERENÇAS QUE DIFEREM DE MODOS DIFERENTES, RS].

Pesquisar: império Inca (Peru) / Império Daomé (Africa)

“Nas sociedades humanas, operam simultaneamente forças que trabalham em direções


opostas: umas tendem a manter – e mesmo a acentuar – particularidads, enquanto outras
agem no sentido da convergência e do assemelhamento.” (p. 360) [PENSANDO NOS
CONTATOS E RELAÇÕES ENTRE CULTURAS]

A diversidade não se coloca apenas entre culturas, mas dentro de uma própria sociedade.

As culturas humanas nunca estão sozinhas, mesmo aquelas mais afastadas.

Sociedades ameríndias – isoladas de outros continentes por dezenas de milhares de anos. Mas
ainda assim se tratava de milhares de sociedades em contatos e trocas umas com as outras.

“A diversidade das culturas humanas não deve levar-nos a uma observação fragmentar ou
fragmentada: é menos função do isolamento dos grupos do que das relações que os unem”

O etnocentrismo

A diversidade humana é um fenômeno natural, resultante das relações diretas ou indiretas


entre as sociedades. (p. 362)

“A atitude mais antiga, certamente assentada em sólidas bases psicológicas, já que tende a
reaparecer em cada um de nós quando confrontados a uma situação inesperada, consiste em
repudiar, pura e simplesmente, as formas culturais morais, religiosas, sociais ou estéticas mais
afastadas daquelas a que nos identificamos.” (p. 362)

Noções de bárbaro (termo cunhado pelos gregos, semelhante ao som dos pássaros, animais,
estado de natureza)

Noção de selvagem – da selva, animalesco

Ambos em oposição à linguagem e cultura humanas

Em ambos os casos, rejeita-se a diversidade cultural. Coloca-se o diferente para fora da


cultura, fora da humanidade, ou seja, na natureza.

“Tal atitude de pensamento, em nome da qual os ‘selvagens’ (ou todos aqueles que se decida
considerar como tais) são relegados para fora da humanidade, é justamente a atitude mais
marcante e mais distintiva dos próprios selvagens ” (p 363)

O etnocentrismo é uma marca de todos os grupos humanos, mesmo aqueles ditos primitivos.
Exemplos de nomes de grupos sociais que significam em suas línguas: “os humanos” “os bons”
“ os completos”; e grupos vizinhos como “ruins” “lendeas” “fantasma” “assombração” etc...

“Bárbaro, é antes de tudo, aquele que crê na barbárie” (p. 364)

Falso evolucionismo – tentativa de suprimir a diversidade das culturas fingindo reconhece-la


plenamente

“Pois se tratarmos os diferentes estados em que se encontram as sociedades humanas, antigas


ou distantes, como estágios ou etapas de um desenvolvimento único, com o mesmo ponto de
partida e dirigindo-se ao mesmo objetivo, é claro que a diversidade só pode ser aparente. A
humanidade torna-se uma e idêntica a si mesma; mas essa unidade e identidade só podem
realizar-se progressivamente, e a variedade das culturas ilustra os momentos de um processo
que dissimula uma realidade mais profunda ou adia sua manifestação” (p. 365) [FALSA
DIVERSIDADE DENTRO DA FALSA TEORIA EVOLUCIONISTA]

O evolucionismo biológico (de Darwin) e o pseudoevolucionismo cultural são teorias muito


diferentes

Ver página 366 – a diferenciação do evol. Biológico (fósseis de esqueletos diferentes, que
deram origem a outros seres semelhantes porém adaptados – ex. cavalo)

Contraposição ao machado como objeto arqueológico – um machado não dá origem a outro


machado.
Afirmar que um machado evoluiu a partir do outro, constitui uma metáfora destituída de rigor
científico

Antiguidade – Pascal – comparava a humanidade a um ser vivo que passava pelas fases da
infância, adolescência e maturidade

Cada sociedade pode dividir as culturas, a partir de seu ponto de vista em três categorias: suas
contemporâneas porém distantes; as que se manifestaram no mesmo espaço em outro
tempo; e as que existiram antes em outro espaço.

Vestígios arqueológicos, pedra lascada – sempre serão apenas hipóteses

Dois tipos de história – p. 370

Ideia de progresso (dialoga com a crítica ao evolucionimso) – p. 371

Idade da pedra lascada; idade da pedra polida; idade do couro; idade do bronze; idade do ferro
...

Paleolítico – tendencia antiga a colocar em etapas, ordem, subsequentes – porem admite-se


que essas “etapas” coexistiram de diferentes formas

Neandertais não precedeream o homo sapiens, mas coexistiram em certo período

“o desenvolvimento dos conhecimentos em pré-história e arqueologia tende a distribuir no


espaço formas de civilização que tendíamos a imaginar como distribuídas no tempo” (p. 372)

O “progresso” não é nem necessário, nem contínuo; procede por saltos, pulos, ou, como dizem
os biólogos, por mutações. Tais saltos nem sempre levam adiante na mesma direção, mas são
acompanhados por mudanças de orientação, um pouco como o cavalo no jogo de xadrez, que
tem sempre vários movimentos à disposição, mas nunca no mesmo sentido.

A humanidade em progresso não se assemelha a uma pessoa subindo uma escada, mas mais a
uma pessoa que lança a sorte nos dados, sempre a conta é diferente.

Apenas as vezes a história é cumulativa

[para pensar: quantas vezes, na nossa sociedade global e múltipla, diversa, não observamos
grandes retrocessos? Como podemos dizer sobre uma ideia de evolução ou progresso,
enquanto o capitalismo, quanto mais amplia suas tecnologias, inclusive para produção de
alimentos, mais vê pessoas morrendo de fome, refugiados morrendo nos mares em fuga de
guerras, em busca de abrigos, que muitas vezes não vão acontecer? Os direitos sociais
conquistados parecem muito frágeis, não há garantias. Perde-se com muita facilidade coisas
conquistadas com muita luta e ao longo de muito tempo – ex. direito das mulheres X Damares
e red pill]
Ler página 373 sobre a contribuição do ser humano que chegou às Américas e seu exemplo de
história cumulativa, bem como suas contribuições para a miserável Europa da época.

Tendemos a considerar outros culturas cumulativas apenas quando se assemelham a nós (no
caso de levi-strauss, “nós”, europeus do sec. XX)

Como lidamos com outras culturas que possuem outras formas de simbolizar, outros valores
os quais nem podemos mensurar?

“A historicidade, ou, para dizer mais precisamente, a riqueza em eventos de uma cultura ou de
um processo cultural não é função de suas propriedades intrínsecas, mas da situação em que
nos encontramos em relação a elas, do número e da diversidade dos interesses que investimos
neles.” (p. 375)

Nunca fez tanto sentido a frase: tudo é relativo!

Oposição entre culturas progressivas e culturas inertes: diferença de foco!

Metáfora do microscópio – p. 375 – SE A LENTE DO MICROSCÓPIO ESTIVER REGULADA DE


UMA CERTA MANEIRA, PARA UMA CERTA DISTÂNCIA OU TIPO DE ILUMINAÇÃO, CASO O
OBJETO ESTEJA EM CONDIÇÕES DIFERENTES, APARECERÃO BORRADOS

Teoria da relatividade – metáfora do trem (p. 375) – PARA UM VIAJANTE SENTADO À JANELA
DE UM TREM, A VELOCIDADE E O TAMANHO DOS OUTROS TRENS VAI DEPENDER DO SENTIDO
EM QUE ELES ESTÃO VIAJANDO, DA DISTANCIA ENTRE ELES, DA VELOCIDADE EM QUE SEU
PRÓPRIO TERM ESTÁ VIAJANDO – HÁ MULTIPLOS SENTIDOS E VELOCIDADES POSSÍVEIS.
QUANDO CRUZAMOS COM UM TREM (OU UM CARRO EM SENTIDO OPOSTO) NA ESTRADA, O
QUE PODEMOS ENXERGAR SÃO APENAS VULTOS, IMPRESSÕES MUITO VAGAS.

PARA LEVI-STRAUSS, CADA MEMBRO DE UMA CULTURA, É TÃO SOLIDÁRIO A ELA QUANTO UM
PASSAGEIRO É DE SEU TREM. [SISTEMA COMPLEXO DE REFERÊNCIAS - EDUCAÇÃO,
ENDOCULTURAÇÃO, VALORES, PRÉ-CONCEPÇÕES (OS ”GRILHÕES DA TRADIÇÃO” COMO DIZ
BOAS) – QUANDO ESTAMOS EM UM TREM, PODEMOS NOS MOVIMENTAR E CAMINHAR POR
ELE, MUDAR DE VAGÃO, SENTAR EM OUTRO BANCO, OLHAR UMA OU OUTRA JANELA ETC.
MAS TEMOS UM CERTO LIMITE, QUE É O TREM EM SI. ESTAMOS EM REFERÊNCIA A ELE.
“Deslocamo-nos literalmente junto com esse sistema de referências, e as realidades culturais
de fora só podem ser observadas através das deformações a que ele as sujeita, quando não
nos impede, simplesmente, de ver o que quer que seja” (p. 376)

Ver páginas 375 e 376 – trem das culturas. Endoculturação em nosso trem. Visão borrada de
outras culturas em outros trem, tamanhos, sentidos, ritmos...

Distinção errônea entre culturas que se movem / culturas que não se movem – pode ser
explicada pela mesma diferença de posição que faz com que um trem em movimento se mova
ou não para o viajante.

Velocidade como valor metafórico – metáfora do trem tem valor invertido do mundo da física
para o mundo da cultura. [PARA AS CIENCIAS HUMANAS SUBSTITUI-SE VELOCIDADE POR
INFORMAÇÃO E SIGNIFICAÇÃO] – PODEMOS ACUMULAR INFORMAÇÕES MUITO MAIS
DETALHADAS SOBRE UM TREM QUE SE MOVE NO MESMO SENTIDO E VELOCIDADE QUE O
NOSSO – ENQUANTO OS EM SENTIDO DIFERENTE PARECERÃO BORRÕES – NÃO TERÃO
SIGNIFICADO.

“Sempre que tendemos a qualificar uma cultura humana como inerte ou estacionária
devemos, portanto, nos perguntar se o aparente imobilismo não resulta de nossa ignorância
quanto aos seus verdadeiros interesses, conscientes ou inconscientes, e se, tendo critérios
diferentes dos nossos, essa cultura não seria vítima, em relação a nós, da mesma ilusão. Ou
seja, pareceríamos desinteressantes um para o outro, simplesmente porque não nos
parecemos.” (p. 377) [ETNOCENTRISMO]

CONTRIBUIÇÕES E TROCAS ENTRE AS CULTURAS – PÁGINA 378-379

Sobre a universalização da cultura ocidental – p. 380

Ocidentalização resulta menos de livre escolha do que de falta de opção

Soldados, comércios, plantações e missionários ao longo do mundo [IMPOSIÇÃO E


VIOLENCIAS, ESTUPROS, EXTERMÍNIOS, AMEAÇAS]

Interferiu, exterminou pessoas e modos de vida, [ALGUMAS FEMINISTAS DECOLONIAIS DIZEM


QUE O PRÓPRIO CONCEITO DE GÊNERO E VIOLÊNCIAS DE GÊNERO FORAM TRAZIDAS COM A
COLONIZAÇÃO E REPRODUZIDA POR HOMENS INDÍGENAS]
Acaso e civilização p. 383 - FOGO, CERÂMICA ETC. - NÃO É SÓ ACASO, NEM SÓ INVENÇÃO E
GENIALIDADE

Nenhuma cultura é estacionária / toda sociedade é cumulativa, em algum grau

Probabilidades [TROCAS CULTURAIS - QUANTO MAIS JOGADORES EM PARCERIA, MAIOR A


PROBABILIDADE DE SEQUENCIAS E DESCOBERTAS, RESULTADOS MAIS AMPLOS]
[DIVERSIDADE E PROGRESSO ESTÃO RELACIONADOS DE ALGUMA FORMA – DIVERSIDADE DE
REPOSTAS CULTURAIS]

ACÚMULOS – PENSANDO EM CULTURAS CUMULATIVAS – OCORREM NAS TROCAS

“quando estamos interessados em certo tipo de progresso, reservamos o mérito às culturas


que o realizam no mais alto grau, e ficamos indiferentes diante das demais. Portanto, o
progresso nunca é senão o máximo de progresso num sentido predeterminado pelo gosto de
cada um.” (p. 390)

A colaboração das culturas (p. 390)

As formas mais cumulativas de história nunca ocorreram sozinhas, nunca foram um feito de
culturas isoladas (migrações, trocas comerciais, guerras, empréstimos)

Quanto maiores as trocas e coalizões, maiores serão os acúmulos das culturas

A Europa no início do Renascimento era lugar de encontro e fusão das influências as mais
diversas: as tradições grega, romana, germânica e anglo-saxã, as influências árabe e chinesa.

A América não tinha menos contatos culturais, quantitativamente. Porem a ocupação do


continente americano é muito mais recente. E a forma com que escolheram viver e se
estabelecer tb eram diferentes. As condições climáticas podem levar a respostas sociais
distintas tb (não no sentido determinista, mas penso que há grandes diferenças entre um
continente gelado de um território tropical e extremamente rico em biodiversidade. Alias há
estudos que comprovam que a biodiverisidade da floresta amazônica, a terra preta e várias
ervas e plantas, são fruto da forma com que os povos originários lidam com a floresta.
Diferente do ímpeto explorador e destruidor dos europeus)
A sociedade cumulativa resulta mais de seu comportamento do que de sua natureza.

Em que medida uma sociedade pode conhecer, compreender a outra? [COMPREENDER SEUS
SIGNIFICADOS E MOTIVAÇÕES] (grande questão antropológica)

“consideramos a noção de civilização como um conceito-limite, ou modo abreviado de


designar um processo mais complexo. Pois, se nossa demonstração for válida, não há e nem
pode haver uma civilização mundial no sentido absoluto (...) civilização supõe a coexistência de
culturas que apresentem o máximo de diversidade entre si; civilização é, na verdade, tal
coexistência. A civilização mundial só poderia ser a coalizão, em escala mundial, de culturas
que mantenham cada qual sua originalidade.” (p. 395)

O duplo sentido do progresso

A coalizão tem o risco de gerar homogeinização – se a diversidade é condição inicial, os ganhos


diminuem com o tempo. [CONTRASENSO]

Colonialismo, mudanças a força, apenas em seu próprio benefício (europa, depois EUA)

Dois processos contraditórios que estão sempre acontecendo na humanidade – a busca pela
unificação e as rupturas e diversificação

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