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Memória
Em causa, o demônio da memória e as
conquistas da reminiscência como
onipresença vigilante, a nos livrar ao
menos por algum tempo da morte, do
medo e do esquecimento.
1
PIRES, 2003: 37.
2
HASHIGUTI, 2008: 02.
2
3
DAWKINS apud HASHIGUTI, 2008: 57.
4
HASHIGUTI, 2008: 57.
3
5
Disponível na internet: http://www.fronteiras.com/artigos/evolucao-genes-memes-e-
universalidade
Acesso em: maio de 2017.
6
Ibidem.
7
BÁEZ, 2010: 260.
5
8
OKANO, 2007: 22.
9
HASHIGUTI, 2008: 61.
6
10
Depoimento de Erika Kobayashi no documentário “Où est le soleil?”
7
11
LAPLANTINE & NOUSS, 2016: 77.
12
Como artes da cena, estamos considerando Dança, Teatro e Performance – todas as
práticas que envolvam o fazer em tempo real, ou seja, não consideramos cinema,
televisão, entre outros.
8
13
Para maiores detalhes, ver “Ma (間)| espaçotempo que suspende”.
9
Morei no Japão quando criança, dos cinco aos seis anos. Lá, aprendi
a falar e a me comunicar em japonês. Meu pai havia perdido o emprego
aqui no Brasil e acho que eles, meus pais, não viram outra alternativa a
não ser voltar para a terra dos antepassados. Em japonês, dekasegi* (出稼
ぎ, lê- se “decassegui”)* é a palavra que designa todos os estrangeiros
que trabalham e moram no território japonês, descendentes ou não. No
entanto, a comunidade nikkei brasileira é bastante numerosa dentre esses
trabalhadores e é bastante comum o uso do termo para fazer referência
aos nikkeis que vão ao Japão em busca de trabalho.
Diáspora reversa14.
Meus pais voltaram para o Japão a fim de trabalhar e ganhar
dinheiro porque a terra natal (Brasil) não estava possibilitando isso.
Fomos toda a família. Mãe. Pai. Eu. Irmão mais novo. Enquanto meus pais
trabalhavam, eu e meu irmão ficávamos numa creche, da prefeitura. Era
período integral. Minha mãe nos deixava de manhã e buscava no final da
tarde. Lembro vagamente dos embates e estranhamentos com as outras
crianças no Japão. Mas eles existiram. E eram constantes. Sempre
abraçava e beijava minha mãe nas despedidas e reencontros diários. Isso
era motivo de estranhamento por parte das outras famílias. Como eu,
havia outras crianças nikkeis. Alguns eram de nacionalidade brasileira e
havia uma peruana. Alguns eram mestiços, ハーフ(hāfu). É como os
japoneses pronunciam half, do inglês “meio” ou “metade”. E é como são
chamados os “meio” japoneses. No caso, eram mestiços de nikkeis com
não-nikkeis. Neste aspecto, eu não sou mestiça. Mas todos sabiam que eu
era estrangeira. Sabiam por que essa informação era passada
verbalmente ou por que eu “agia” diferente?
Olhando fotos minhas dessa época, eu me vejo e me considero
uma criança japonesa. Quase não me reconheço. Em vídeos, as falas em
japonês aparecem com frequência e com naturalidade. É fluente. É uma
fluência que perdi com o passar dos anos, sem tanta prática. Mas meu
“sotaque”, dizem, é muito bom. Nem parece que sou yonsei15*, dizem
14
Para maiores detalhes, ver “Dō (道) | caminhos de diáspora”.
15
Yonsei (四世) significa quarta geração, ou seja, bisneto(a) de japoneses.
10
16
VERNANT, 1990: 143.
17
Ibidem.
11
19
Foi algo notado e comentado durante a Copa do Mundo no Brasil, em 2014.
http://globoesporte.globo.com/rn/copa-do-mundo/noticia/2014/06/novo-exemplo-
de-civilidade-japoneses-voltam-recolher-seu-lixo-apos-partida.html
20
SENNETT, 2013: 15.
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i
Fenótipo, segundo o dicionário Houaiss, é o conjunto das características de um
indivíduo, determinado por fatores hereditários e ambientais. Assim, ter um fenótipo
oriental no Brasil implica em certas particularidades atribuídas a estes indivíduos que
não são exatamente as mesmas atribuídas em outras localidades. Em outras palavras,
ser japonês no Japão e ser descendente de japoneses no Brasil, apesar de ambos terem
a possibilidade de apresentar o mesmo fenótipo – características morfológicas como
cor dos cabelos, formato dos olhos, tons de pele – as questões referentes a esses
indivíduos são bastante singulares. Fenótipo oriental, ainda, pode ser bastante variado,
tendo em vista que o oriente, considerando o continente asiático, é um dos mais vastos
e diversificados em termos étnicos. Vale relembrar que o foco desta investigação está
voltado para as questões nipobrasileiras e que, portanto, fenótipo oriental estará ligado
a este descendente, ou seja, de fenótipo do leste asiático. Podemos ainda, levar em
consideração a questão de fenótipo estendido, segundo o entendimento do etólogo
Richard Dawkins, que não limita o fenótipo às características biológicas do indivíduo,
mas leva em consideração a interação com o ambiente: “Os fenótipos que se estendem
para fora do corpo não tem que ser artefatos inanimados: eles mesmos podem ser
feitos de tecidos vivos” (DAWKINS, apud NADAI) (Dawkins, 1982, p 210 – Nadai,
“Processos organizativos em dança: a singularidade dos designs”, p 72.
https://ladcor.files.wordpress.com/2013/06/dissertac3a7c3a3o-completa.pdf