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Literatura Colonial

Prof. Jorge Alessandro

TEXTO I
Andaram na praia, quando saímos, oito ou dez deles; e daí
a pouco começaram a vir mais. E parece-me que viriam,
este dia, à praia, quatrocentos ou quatrocentos e
cinquenta. Alguns deles traziam arcos e flechas, que
todos trocaram por carapuças ou por qualquer coisa que
lhes davam. […] Andavam todos tão bemdispostos, tão
bem feitos e galantes com suas tinturas que muito
agradavam. (CASTRO, S. A carta de Pero Vaz de Caminha.
Porto Alegre: L&PM, 1996)

TEXTO II

A feição deles é serem pardos, maneira d’avermelhados,


de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus,
sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhuma cousa
cobrir, nem mostrar suas vergonhas. E estão acerca disso
com tanta inocência como têm em mostrar o rosto.
(CAMINHA, P. V. A carta)

1. (2009.2) Ao se estabelecer uma relação entre a obra


de Eckhout e o trecho do texto de Caminha, conclui-se
que: 2. (2013.1) Pertencentes ao patrimônio cultural
A) ambos se identificam pelas características estéticas brasileiro, a carta de Pero Vaz de Caminha e a obra de
marcantes, como tristeza e melancolia, do movimento Portinari retratam a chegada dos portugueses ao Brasil.
romântico das artes plásticas. Da leitura dos textos, constata-se que:
B) o artista, na pintura, foi fiel ao seu objeto, A) a carta de Pero Vaz de Caminha representa uma das
representando-o de maneira realista, ao passo que o primeiras manifestações artísticas dos portugueses em
texto é apenas fantasioso. terras brasileiras e preocupa-se apenas com a estética
C) a pintura e o texto têm uma característica em comum, literária.
que é representar o habitante das terras que sofreriam B) a tela de Portinari retrata indígenas nus com corpos
processo colonizador. pintados, cuja grande significação é a afirmação da arte
D) o texto e a pintura são baseados no contraste entre a acadêmica brasileira e a contestação de uma linguagem
cultura europeia e a cultura indígena. moderna.
E) há forte direcionamento religioso no texto e na pintura, C) a carta, como testemunho histórico-político, mostra o
uma vez que o índio representado é objeto da olhar do colonizador sobre a gente da terra, e a pintura
catequização jesuítica. destaca, em primeiro plano, a inquietação dos nativos.

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D) as duas produções, embora usem linguagens período colonial brasileiro, o Português, o Índio e o
diferentes – verbal e não verbal –, cumprem a mesma Negro formaram a base da população e que o
função social e artística. patrimônio linguístico brasileiro é resultado da:
E) a pintura e a carta de Caminha são manifestações de A) contribuição dos índios na escolarização dos
grupos étnicos diferentes, produzidas em um mesmo brasileiros.
momentos histórico, retratando a colonização. B) diferença entre as línguas dos colonizadores e as dos
indígenas.
No Brasil colonial, os portugueses procuravam C) importância do Padre Antônio Vieira para a literatura
ocupar e explorar os territórios descobertos, nos quais de língua portuguesa.
viviam índios, que eles queriam cristianizar e usar como D) origem das diferenças entre a língua portuguesa e as
força de trabalho. Os missionários aprendiam os idiomas línguas tupi.
dos nativos para catequizá-los nas suas próprias línguas. E) interação pacífica no uso da língua portuguesa e da
Ao longo do tempo, as línguas se influenciaram. língua tupi.
O resultado desse processo foi a formação de
uma língua geral, desdobrada em duas variedades: o Síntese entre erudito e popular
abanheenga, ao sul, e o nheengatu, ao norte. Quase Na região mineira, a separação entre cultura
todos se comunicavam na língua geral, sendo poucos popular (as artes mecânicas) e erudita (as artes liberais) é
aqueles que falavam apenas o português. marcada pela elite colonial, que tem como exemplo os
valores europeus, e o grupo popular, formado pela fusão
3. (2010.2) De acordo com o texto, a língua geral formou- de várias culturas: portugueses aventureiros ou
se e consolidou-se no contexto histórico do Brasil degredados, negros e índios. Aleijadinho, unindo as
Colônia. Portanto, a formação desse idioma e suas sofisticações da arte erudita ao entendimento do artífice
variedades foi condicionada: popular, consegue fazer essa síntese característica deste
A) pelo interesse dos indígenas em aprender a religião momento único na história da arte brasileira: o barroco
dos portugueses. colonial.
B) pelo interesse dos portugueses em aprimorar o saber (MAJORA, C. Br História, n. 3, mar. 2007 - adaptado)
linguístico dos índios.
C) pela percepção dos indígenas de que as suas línguas 5. (2015.2) No século XVIII, a arte brasileira, mais
precisavam aperfeiçoar-se. especificamente a de Minas Gerais, apresentava a
D) pelo interesse unilateral dos indígenas em aprender valorização da técnica e um estilo próprio, incluindo a
uma nova língua com os portugueses. escolha dos materiais. Artistas como Aleijadinho e
E) pela distribuição espacial das línguas indígenas, que era Mestre Ataíde têm suas obras caracterizadas por
anterior à chegada dos portugueses. peculiaridades que são identificadas por meio:
A) do emprego de materiais oriundos da Europa e da
Quando os portugueses se instalaram no Brasil, o interpretação realista dos objetos representados.
país era povoado de índios. Importaram, depois, da B) do uso de recursos materiais disponíveis no local e da
África, grande número de escravos. O Português, o Índio interpretação formal com características próprias.
e o Negro constituem, durante o período colonial, as três C) da utilização de recursos materiais vindos da Europa e
bases da população brasileira. Mas no que se refere à da homogeneização e linearidade representacional.
cultura a contribuição do Português foi de longe a mais D) da observação e da cópia detalhada do objeto
notada. representado e do emprego de materiais disponíveis na
Durante muito tempo o português e o tupi região.
viveram lado a lado como línguas de comunicação. Era o E) da utilização de materiais disponíveis no Brasil e da
tupi que utilizavam os bandeirantes nas suas expedições. interpretação idealizada e linear dos objetos
Em 1694, dizia o Padre Antônio Vieira que "as famílias dos representados.
portugueses e índios em São Paulo estão tão ligadas hoje
umas com as outras, que as mulheres e os filhos mística e Lisongeia outra vez impaciente a retenção de sua mesma
domesticamente, e a língua que nas ditas famílias se fala desgraça...
é a dos Índios, e a portuguesa a vão os meninos aprender Gregório de Matos
à escola.”
(TEYSSIER, P. História da Língua Portuguesa. Lisboa: Discreta e formosíssima Maria,
Livraria Sá da Costa, 1984) Enquanto estamos vendo claramente
Na vossa ardente vista o sol ardente,
4. (2011.1) A identidade de uma nação está diretamente E na rosada face a Aurora fria:
ligada à cultura de seu povo. O texto mostra que, no

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Enquanto pois produz, enquanto cria 7. (2014.1) Com uma elaboração de linguagem e uma
Essa esfera gentil, mina excelente visão de mundo que apresentam princípios barrocos, o
No cabelo o metal mais reluzente, soneto de Gregório de Matos apresenta temática
E na boca a mais fina pedraria: expressa por:
A) visão cética sobre as relações sociais.
Gozai, gozai da flor da formosura, B) preocupação com a identidade brasileira.
Antes que o frio da madura idade C) crítica velada à forma de governo vigente.
Tronco deixe despido, o que é verdura. D) reflexão sobre os dogmas do cristianismo.
E) questionamento das práticas pagãs na Bahia.
Que passado o Zenith da mocidade,
Sem a noite encontrar da sepultura,
É cada dia ocaso de beldade.
(CUNHA, H. P. Convivência maneirista e barroca na obra de Gregório
de Matos. In: Origens da Literatura Brasileira. Rio de Janeiro: Tempo
Brasileiro, 79.p. 90)

6. (2009.3) O Barroco é um movimento complexo,


considerado como a arte dos contrastes. O poema de
Gregório de Matos, que revela características do
Barroco brasileiro, é uma espécie de livre tradução de
um poema de Luís de Góngora, importante poeta
espanhol do século XVII.
Fruto de sua época, o poema de Gregório de Matos
destaca:
A) a concepção de amor que se transforma em tormento
da alma e do corpo do eu lírico. 8. (2018.2) Ao organizar as informações, no processo de
B) o uso de antíteses para distinguir o que é terreno e o construção do texto, o autor estabelece sua intenção
que é espiritual na mulher. comunicativa. Nesse poema, Gregório de Matos explora
C) o contraste entre a beleza física da mulher e a os ditados populares com o objetivo de:
religiosidade do poeta. A) enumerar atitudes.
D) o pesar pela transitoriedade da juventude e a certeza B) descrever costumes.
da morte ou da velhice. C) demonstrar sabedoria.
E) a regular alternância temática entre versos pares e D) recomendar precaução.
ímpares. E) criticar comportamentos.

Quando Deus redimiu da tirania Sermão da Sexagésima


Da mão do Faraó endurecido Nunca na Igreja de Deus houve tantas pregações,
O Povo Hebreu amado, e esclarecido, nem tantos pregadores como hoje. Pois se tanto se
Páscoa ficou da redenção o dia. semeia a palavra de Deus, como é tão pouco o fruto? Não
há um homem que em um sermão entre em si e se
Páscoa de flores, dia de alegria resolva, não há um moço que se arrependa, não há um
Àquele Povo foi tão afligido velho que se desengane. Que é isto? Assim como Deus
O dia, em que por Deus foi redimido; não é hoje menos onipotente, assim a sua palavra não é
Ergo sois vós, Senhor, Deus da Bahia. hoje menos poderosa do que dantes era. Pois se a palavra
de Deus é tão poderosa; se a palavra de Deus tem hoje
Pois mandado pela alta Majestade tantos pregadores, por que não vemos hoje nenhum fruto
Nos remiu de tão triste cativeiro, da palavra de Deus? Esta, tão grande e tão importante
Nos livrou de tão vil calamidade. dúvida, será a matéria do sermão. Quero começar
pregando-me a mim. A mim será, e também a vós; a mim,
Quem pode ser senão um verdadeiro para aprender a pregar; a vós, que aprendais a ouvir.
Deus, que veio estirpar desta cidade (VIEIRA, A. Sermões Escolhidos, v. 2 . São Paulo: Edameris,
O Faraó do povo brasileiro. 1965)
(DAMASCENO, D. (Org.). Melhores poemas: Gregório de
Matos. São Paulo: Globo, 2006) 9. (2014.2) No Sermão da sexagésima, padre Antônio
Vieira questiona a eficácia das pregações. Para tanto,

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apresenta como estratégia discursiva sucessivas
interrogações, as quais têm por objetivo principal:
A) provocar a necessidade e o interesse dos fiéis sobre o
conteúdo que será abordado no sermão.
B) conduzir o interlocutor à sua própria reflexão sobre os
temas abordados nas pregações.
C) apresentar questionamentos para os quais a Igreja não
possui respostas.
D) inserir argumentos à tese defendida pelo pregador
sobre a eficácia das pregações.
E) questionar a importância das pregações feitas pela
Igreja durante os sermões.

11. (2015.1) O contexto histórico e literário do período


barroco- árcade fundamenta o poema Casa dos Contos,
de 1975. A restauração de elementos daquele contexto
por uma poética contemporânea revela que:
A) a disposição visual do poema reflete sua dimensão
plástica, que prevalece sobre a observação da realidade
social.
B) a reflexão do eu lírico privilegia a memória e resgata,
em fragmentos, fatos e personalidades da Inconfidência
Mineira.
C) a palavra “esconso” (escondido) demonstra o
desencanto do poeta com a utopia e sua opção por uma
linguagem erudita.
D) o eu lírico pretende revitalizar os contrastes barrocos,
gerando uma continuidade de procedimentos estéticos e
literários.
E) o eu lírico recria, em seu momento histórico, numa
linguagem de ruptura, o ambiente de opressão vivido
10. (2012.1) Com contornos assimétricos, riqueza de
pelos inconfidentes.
detalhes nas vestes e nas feições, a escultura barroca no
Brasil tem forte influência do rococó europeu e está
Soneto VII
representada aqui por um dos profetas do pátio do
Onde estou? Este sítio desconheço:
Santuário do Bom Jesus de Matosinho, em Congonhas
Quem fez tão diferente aquele prado?
(MG), esculpido em pedra-sabão por Aleijadinho.
Tudo outra natureza tem tomado;
Profundamente religiosa, sua obra revela:
E em contemplá-lo tímido esmoreço.
A) liberdade, representando a vida de mineiros à procura
da salvação.
Uma fonte aqui houve; eu não me esqueço
B) credibilidade, atendendo a encomendas dos nobres de
De estar a ela um dia reclinado:
Minas Gerais.
Ali em vale um monte está mudado:
C) simplicidade, demonstrando compromisso com a
Quanto pode dos anos o progresso!
contemplação do divino.
D) personalidade, modelando uma imagem sacra com
Árvores aqui vi tão florescentes,
feições populares.
Que faziam perpétua a primavera:
E) singularidade, esculpindo personalidades do reinado
Nem troncos vejo agora decadentes.
nas obras divinas.

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Eu me engano: a região esta não era;
Mas que venho a estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera!
(COSTA, C. M. Poemas. Disponível em:
www.dominiopublico.gov.br. Acesso em: 7 jul. 2012)

12. (2016.1) No soneto de Cláudio Manuel da Costa, a


contemplação da paisagem permite ao eu lírico uma
reflexão em que transparece uma:
A) angústia provocada pela sensação de solidão.
B) resignação diante das mudanças do meio ambiente.
C) dúvida existencial em face do espaço desconhecido.
D) intenção de recriar o passado por meio da paisagem.
E) empatia entre os sofrimentos do eu e a agonia da terra.

TEXTO II
Manuel da Costa Ataíde (Mariana, MG, 1762-
1830), assim como os demais artistas do seu tempo,
recorria a bíblias e a missais impressos na Europa como
ponto de partida para a seleção iconográfica das suas
composições, que então recriava com inventiva
liberdade.
Se Mário de Andrade houvesse conseguido a
oportunidade de acesso aos meios de aproximação ótica
da pintura dos forros de Manuel da Costa Ataíde,
imaginamos como não teria vibrado com o mulatismo das
figuras do mestre marianense, ratificando, ao lado de
Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, a sua percepção
pioneira de um surto de racialidade brasileira em nossa
terra, em pleno século XVIII.
(FROTA, L. C. Ataíde: vida e obra de Manuel da Costa
Ataíde. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982)

13. (2018.2) O Texto II destaca a inovação na


representação artística setecentista, expressa no Texto I
pela:
A) reprodução de episódios bíblicos.
B) retratação de elementos europeus.
C) valorização do sincretismo religioso.
D) recuperação do antropocentrismo clássico.
E) incorporação de características identitárias.

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