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Soneto do Amor Total, de Vinicius

de Moraes
Escrito em 1951 para a então companheira Lila
Bôscoli, Soneto do Amor Total é uma das composições mais
celebradas do poeta Vinicius de Moraes.

A criação trata das complexidades desse sentimento tão


poderoso, o amor. Os versos discorrem sobre a entrega e as
contradições inerentes à paixão.

Análise e interpretação do Soneto do Amor Total

O poema Soneto do Amor Total está voltado para temática do


amor romântico. Nele o eu-lírico promete uma entrega total e
absoluta apesar de demonstrar estar ciente da finitude do
sentimento.

Publicação do Soneto do Amor Total

O poema em questão escrito em 1951, na ocasião o poeta


tinha 38 anos e sofreu uma paixão fulminante por Lila Bôscoli
(bisneta de Chiquinha Gonzaga), que na altura tinha 19 anos.
Foi ela a musa inspiradora de Soneto do Amor Total.

O sentimento foi tão forte que no mesmo ano os dois se


casaram e viveram sete anos juntos. A relação gerou dois
frutos, as filhas Georgiana e Luciana.
Soneto do Amor Total faz parte da segunda fase da poesia de
Vinicius de Moraes. Esse período costuma ser considerado
pelos pesquisadores a partir da publicação do livro Novos
Poemas.

Vejamos a composição estrofe a estrofe.

Primeira estrofe

Amo-te tanto, meu amor… não cante


O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Aqui o sujeito poético declara o seu sentimento como sendo


verdadeiro, pleno e absoluto. Ele se dirige à amada com a
promessa de estar sendo o mais honesto possível. Pela sua
declaração é como se não fosse possível existir amor humano
mais genuíno do que aquele que ele sente.

Trata-se de um afeto multifacetado, que enxerga o outro não


só como fonte de deleite e prazer, mas também como um
parceiro, um companheiro para todas as horas.

Em resumo, a partir da leitura dos primeiros versos podemos


concluir que, para o eu-lírico, a relação amorosa se baseia por
vezes na sensualidade e por vezes na amizade.
Segunda estrofe

Amo-te enfim, de um calmo amor prestante,


E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Extremamente poética, a segunda estrofe se debruça sobre o


tempo do amor - que vive no presente e também na
expectativa de futuro.

O eu-lírico está agora com a amada vivendo uma situação de


aconchego e plenitude, mas ao mesmo tempo é capaz de se
projetar para uma situação onde irá vigorar a ausência (e
garante que também nesse contexto irá sentir amor).

Terceira estrofe

Amo-te como um bicho, simplesmente,


De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.

Nesse trecho o poema é permeado por um tom sensual. Há


uma comparação com a natureza animal, o que relembra o
leitor do que há de voraz e irracional no sentimento amoroso.

Ao longo desses três versos testemunhamos como o amor é


instintivo e desprovido de razões. Não sabemos a sua origem e
o afeto não está ligado à qualquer tipo de merecimento ou de
explicação lógica.

Essa estrofe é curiosa porque reveza a noção de constância


("um desejo maciço e permanente") com uma percepção de
que no amor há descontrole ("como um bicho, simplesmente").

Quarta estrofe

E de te amar assim muito e amiúde,


É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
Ao longo da quarta estrofe tomamos consciência de que o
amor é um sentimento que se consome.

Apesar da triste constatação da finitude do afeto, o sujeito


poético se encontra conformado ao já saber o destino desse
sentimento tão poderoso.

É importante perceber que mesmo sabendo do destino do


amor, o sujeito poético não deixa de viver o afeto na sua
plenitude, extraindo do sentimento toda a beleza que pode.

Estrutura do poema

A criação de Vinicius de Moraes é composta a partir de uma


estrutura clássica, o soneto, uma das mais tradicionais
modalidades de forma fixa.

A estrutura é composta por dois quartetos e os dois tercetos


totalizando 14 versos decassilábicos regulares.

O formato soneto começou a ser relembrado pelos poetas


modernistas especialmente durante a segunda fase do
movimento. Além de Vinicius de Moraes outros autores
consagrados como Manuel Bandeira também optaram por
criar seus versos a partir dessa forma fixa.

As rimas estão organizadas da seguinte maneira:

Amo-te tanto, meu amor... não cante (A)


O humano coração com mais verdade... (B)
Amo-te como amigo e como amante (A)
Numa sempre diversa realidade (B)

Amo-te enfim, de um calmo amor prestante, (A)


E te amo além, presente na saudade. (B)
Amo-te, enfim, com grande liberdade (B)
Dentro da eternidade e a cada instante. (A)
Amo-te como um bicho, simplesmente, (C)
De um amor sem mistério e sem virtude (D)
Com um desejo maciço e permanente. (C)

E de te amar assim muito e amiúde, (D)


É que um dia em teu corpo de repente (C)
Hei de morrer de amar mais do que pude. (D)

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