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EDUCAÇÃO EM MOÇAMBIQUE

NÍVEL ACADÊMICO VS NÍVEL DE CONHECIMENTO

Hermenegildo Januário Maculuve1

UM OLHAR SUPERFICIAL (ANÁLISE CRÍTICA)


Hoje em dia é muito comum uma pessoa concluir um nível académico, sem que no entanto tenha
as mínimas competências exigidas para esse mesmo nível. Primeiramente essa problemática
quase que só se observava no ensino geral, porém actualmente atravessou as fronteiras
registando-se até nas instituições de ensino superior daí que este texto tem como objectivo
ilustrar algumas causas superficiais que podem estar por de trás deste fenómeno, visto que
tecnicamente devia existir uma proporcionalidade directa entre o nível académico e o nível de
conhecimento.

No Ensino Geral
Ao nível do Ensino Geral entendo que o Governo está mais preocupado em cumprir as metas dos
objectivos políticos da educação assim como a vontade dos Doadores. Por exemplo: Segundo a
AGENDA 2025:108, pelo menos 80% da população adulta deve estar alfabetizada até ao ano
2025, assim, o mais importante é que as pessoas passem do Sistema por mais que saiam de lá
sem nada, bastou os números crescerem numa progressão geométrica, senão iam avaliar também
a qualidade.
Lembrar que um dos indicadores usados para avaliar o desenvolvimento de um País é o número
das pessoas alfabetizadas e geralmente essa avaliação é feita quantitativamente, o que constitui
um factor para que o Governo e/ou o SNE esteja preocupado principalmente com os números.
Geralmente, nos fins de trimestres os professores são obrigados a apresentarem um
aproveitamento acima de 90%, por mais que a realidade dite outra coisa, sob pena de um
processo disciplinar ou ter que explicar por escrito o facto de não ter atingido os 90%. Assim
sendo, directa ou indirectamente são obrigados a fazer arranjos no caso de o aproveitamento não

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Licenciado em Administração e Gestão da Educação, pela Universidade Pedagógica; Professor do ensino primário.
Email: hermenegildojanuario@gmail.com
WhatsaApp: +258 84 44 88 663
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atingir essa meta, portanto, uma vez que os alunos têm essa informação, pouco se esforçam pois
sabem que no fim do trimestre o professor terá que fazer arranjos, alias, até porque os alunos
estão mais preocupados com o certificado e/ou nível académico do que com o nível de
conhecimento.
Por outro lado o Governo e/ou o SNE para garantir que todas as pessoas tenham acesso à
Educação (o que para mim chamaria de acesso à Escola) cria essas condições para que não
tenhamos muitos repetentes a ocupar vagas de algumas pessoas que estão fora do sistema pela
escassez de vagas, sobretudo, no 1º ciclo do ensino secundário. Mas não seria melhor se
dissessem que “quem reprova duas vezes na mesma classe fica suspenso por dois anos!” do que
fazer progredir duma classe uma pessoa que não reúne condições? No fim do cabo os primeiros a
serem apontados dedos pela sociedade são os professores visto no senso comum quando a
comida esta mal prepara, a primeira intuição que se tem é que a pessoa que preparou não é
competente em matéria de cozinha, ou seja, a situação dos alunos espelha a condição do pessoal
docente. Os professores avaliam os alunos, mas não devem esquecer que eles também são
avaliados em função desses mesmos alunos, daí que quando um aluno tira negativa numa
avaliação, seja ela quantitativa ou qualitativa, essa negativa não é somente do aluno mas também
do professor e por sua vez da Escola. (Um sete do aluno numa prova é também do professor e da
Escola, pelo menos sob ponto de vista do senso comum.) Por isso caríssimo professor não faça
nada que coloque em jogo os seus valores, visto que “a sua imagem está na capa do livro”.
Tomando o pressuposto de que a educação tem como um dos objectivos formar o homem para
garantir a sua melhor inserção na sociedade posso afirmar que a escola emite certificados mas a
sociedade também avalia e determina o nível da pessoa em função das suas competências. Por
isso no meu ponto de vista a Escola devia, também, avaliar o seu desempenho a partir do
feedback da sociedade sobre a imagem que eles têm dos seus alunos, pois a verdadeira
aprendizagem implica mudança de atitude, dentro e fora dos murros da Escola. Até porque a
verdadeira liderança mede-se pelo que acontece na ausência do líder, isto é, se tudo o que o
professor ensina só acontece na sua presença, então ele é um fracassado, não vale avaliar os
alunos só e só dentro dos murros da Escola.
O ideal seria que o nível académico fosse directamente proporcional ao nível de conhecimento
assim como ao nível de inserção do individuo na sociedade, mas infelizmente tem sido ao
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contraio daí que uma pessoa pode ter licenciatura no certificado, ter o nível médio em termos de
conhecimento e ter o nível primário em ternos da sua inserção na sociedade.
Já imaginou um aluno que, com decima segunda classe concluída, ainda tem dificuldades de ler e
escrever correctamente? Isso deve-se ao facto de que alguns professores não trabalham em
conjunto. À exemplo daquele professor que diz: “não posso avaliar a ortografia porque sou
professor de matemática e esse trabalho é responsabilidade exclusiva do professor da Língua
Portuguesa”. Essa percepção é errada pois a sociedade nunca vai dizer que os seus filhos não
sabem ler nem escrever correctamente por causa da incompetência dos professores da língua
portuguesa, mas vão apontar os professores e/ou a escola no geral. Também quem disse que o
professor da língua portuguesa pode e deve fazer isso sozinho? MENTES POLUIDAS!
Isso acontece até ao nível do ensino superior, professores que nos trabalhos que dão aos
estudantes não avaliam a estrutura nem a forma como fazem as citações alegando que é o
trabalho do professor de MEIC, alguns riscam os trabalhos mal estruturados e citados, porém,
depois não dão um parecer sobre como o estudante devia proceder e, como consequência, o
estudante fica com dificuldades para fazer monografia acabando por optar por exame de Estado.
Embora alguns desistem de fazer monografia por causa de alguns supervisores que não são
sérios, felizmente não foi o caso do meu supervisor.
Outra causa do fenómeno acima descrito, mas que não irei detalhar neste texto, é o facto de que,
quase, todos os professores que mais se destacam durante a formação psicopedagógica estão fora
do sistema devido a corrupção generalizada que se instalou nos Serviços Distritais, sobretudo
em Maputo. Em 2018 assistiu-se uma autêntica vergonha perpetuada pelos SDEJT da Matola,
onde candidatos com 16, 17, 18 (Media do Certificado) foram excluídos e contrapartida, os que
tinham 10 e 11 é que foram apurados. A coisa ficou tão feia ao ponto dos injustiçados chamarem
o famoso BALANÇO GERAL. É mais fácil alguém que terminou o curso na tangente pagar a
vaga para trabalhar do que uma pessoa que tem diploma de honra fazer o mesmo… com isso não
quero ignorar o facto de que existem professores qualificados no Sistema.

No Ensino Superior
Uma das causas superficiais do insucesso nas instituições do ensino superior (sob ponto de vista
da relação entre o nível académico e o nível de conhecimento), pelo menos ao nível da
licenciatura, é “falta” da clareza e/ou explicação sobre o campo específico de actuação para cada
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curso, sobretudo nas ciências sociais, os cursos oferecem muitas informações e pouco
conhecimento2, para além de que se vive o tempo discutindo o ideal e ignorando o real. A
questão que se coloca é: até que ponto o ideal é aplicável na realidade?
O ensino profissional devia ser mais prático do que teórico, sob risco de se viver uma utopia. Ora
vejamos, são muitas cadeiras ministradas durante um curso mas em algum momento não há
ligação dos conteúdos com o objectivo geral do curso. Uma disciplina/cadeira pode ser
ministrada em 5 cursos diferentes e não haver diferença nos conteúdos, assim como na forma
como são transmitidos, o que é tecnicamente herético sob ponto de vista pedagógico visto que
não se trata de ensino geral mas sim profissional. O objectivo de cada disciplina/cadeira deve
estar alinhado e/ou operacionalizar o objectivo geral do curso. Exemplo: A disciplina/cadeira de
estatística faz parte integrante dos curricula de muitos cursos, mas os profissionais vão usar os
conteúdos desta para vários fins específicos dependendo do curso, daí que na leccionação desta
cadeira os professores deviam trazer exercícios relacionados com os problemas que os futuros
profissionais irão resolver no seu campo específico de actuação, usando os conhecimentos da
estatística.
Este fenómeno faz com muitos graduados do ensino superior, em particular os licenciados não
saibam dizer objectivamente o seu campo específico de actuação. Alguns até chegam a pensar
que por terem tido uma disciplina/cadeira que aborda um assunto X, significa que reúnem
condições para trabalhar naquela área. Como quem diz: “Fiz o curso de Licenciatura em
Organização Escolar, porém, durante o curso tive as cadeiras de recrutamento, selecção e
recursos humanos, logo, tenho competências para trabalhar na área de Recursos Humanos e é
um dos meus campos de actuação. Portanto, esse raciocínio não passa de um equivoco pois
existe um curso especifico de licenciatura em Recursos Humanos”.
A dias trás quase que seria apedrejado por esclarecer a um jovem que fez licenciatura em
filosofia que ele não tinha ferramentas necessárias para leccionar a disciplina de filosofia pois o
curso que fez não tem nada a ver com ensino. Existe o curso de licenciatura em ensino de
filosofia. Portanto, como ele, existem muitos que estão numa situação equivocada em relação ao
seu campo específico de actuação.

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O termo informação é descrito como os dados estruturados, organizados e processados apresentados dentro do
contexto. E por outro lado, conhecimento refere-se a informações úteis obtidas através da aprendizagem e da
experiência.
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Por outro lado, alguns professores se colocam no lugar de mestres com objectivo de formar
discípulos e não mestres, daí que, não querem que o estudante progrida mais que eles em ternos
de reflexão, nem de serem contrariados, até inventaram a expressão HUMILDADE
ACADÉMICA para se referir aos estudantes que defendem pontos de vista diferentes em relação
a eles sobre um dado conteúdo. Os estudantes são obrigados a apoiar uma ideia X porque é
defendida por um autor X muito famoso. Porquê a pessoa seria obrigada a acreditar de forma
cega nas ideias de outrem só porque é professor ou um autor famoso?
Ser Humilde não significa necessariamente ser bajulador ou fingir que concorda com uma
posição que não acorda só para agradar a pessoa que esta a sua a frente. Ser Humilde é saber
escutar e evidenciar esforços para entender a posição do outro, mas mesmo assim, ser honesto e
transparente para dizer que não concorda com a sua posição por este e aqueles motivos. Neste
caso, o outro é que deve ser humilde para aceitar as diferenças pois a aprendizagem não deve ser
forçada.
Ser professor não é sinónimo da inteligência, alguns tem muita sabedoria e pouca inteligência e
outros nem sabedoria, nem inteligência tem. Só sabem encher a boca para dizer que são PHDs
mas as obras que são boas! ZEROOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
Eu conheci:
- Professores PHDs mas que na verdade são licenciados;
- Professores PHDs mas que na verdade nem licenciados são;
- Professores licenciados e/ou mestres mas que na verdade são PHDs.

Enfim, não há motivo para se assustar com o nível do certificado enquanto as competências que
são boas! ZEROOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO

O nível académico sem conhecimento = Fé sem obras

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ASS
EFE
RÍSE
NSI
BIL
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DES

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