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Parecer Jurídico

Requerente: Antônio

Título: Fraude à execução

Ementa:
DIREITO PROCESSUAL TRABALHISTA. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. VENDA
DE IMÓVEL POR SÓCIO DA PESSOA JURÍDICA. INCIDENTE DE
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. FRAUDE À
EXECUÇÃO.

Sumário:
Relatório ............................................................................................................. 2
Fundamentação ...................................................................................................2
Conclusão........................................................................................................... 4
Relatório:
Trata-se de consulta formulada pelo interessado Antônio acerca da
alegação de fraude à execução em razão de imóvel comprado de Pedro, sócio da
empresa S.A., reclamada em diversas ações trabalhistas. Nos autos nº X, tendo
em vista decisão transitada em julgado de desconsideração da personalidade
jurídica, Pedro foi incluído no polo passivo da ação. Diante do exposto, o advogado
do reclamante da referida demanda alegou fraude à execução na venda do imóvel
comprado por Antônio.
Destaca-se a ordem cronológica dos referidos acontecimentos: contrato de
compra e venda estabelecido em 10.01.2022; citação de Pedro nos autos nº X em
20.01.2022; pagamento da importância e outorga da escritura pública em
10.02.2022; e trânsito em julgado da decisão de desconsideração da
personalidade jurídica em 20.10.2022.
É o relatório, passo a opinar.

Fundamentação:
O interessado, terceiro de boa-fé, firmou contrato de compra e venda –
10.01.2022 – em período anterior à citação de Pedro – 20.01.2022 –, sócio da
Empresa S.A., em Reclamatória Trabalhista nº X, cuja decisão favorável à
desconsideração de personalidade jurídica transitou em julgado somente em
20.10.2022.
Para fins de argumentação, assinala-se que o Superior Tribunal de Justiça
decide que, nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à
execução só poderá ser reconhecida se o ato de disposição do bem for posterior à
citação válida do sócio devedor, quando redirecionada a execução originariamente
proposta em face da sociedade.
Em 22 de novembro de 2016, a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça
concluiu o julgamento do Recurso Especial n.º 1.391.830/SP, de relatoria da
Ministra Nancy Andrighi, cuja controvérsia cingia-se “em determinar se a venda de
imóvel realizada por sócio de empresa executada, após a citação desta em ação
de execução, mas antes da desconsideração da personalidade jurídica da
empresa, configura fraude à execução”.
No caso submetido ao STJ, na data da alienação supostamente
fraudulenta, apenas a sociedade da qual os alienantes eram sócios figurava no
polo passivo da demanda executiva e, somente três anos após a venda do
bem, foi deferido o pedido de desconsideração da personalidade jurídica para
redirecionar a execução contra os sócios.
Por unanimidade, a 3ª Turma definiu que a fraude à execução “só poderá
ser reconhecida se o ato de disposição do bem for posterior à citação válida do
sócio devedor, quando redirecionada a execução que fora originariamente
proposta em face da pessoa jurídica”. Verifica-se a ementa deste julgado:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. EMBARGOSDE


TERCEIRO. ALIENAÇÃO DE IMÓVEL POR SÓCIO DA PESSOA
JURÍDICA ANTES DO REDIRECIONAMENTO DA EXECUÇÃO.
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA. FRAUDE À
EXECUÇÃO NÃO CONFIGURADA.
1. Cinge-se a controvérsia em determinar se a venda de imóvel
realizada por sócio de empresa executada, após a citação desta em ação
de execução, mas antes da desconsideração da personalidade jurídica
da empresa, configura fraude à execução.
2. A fraude à execução só poderá ser reconhecida se o ato de
disposição do bem for posterior à citação válida do sócio devedor, quando
redirecionada a execução que fora originariamente proposta em face da
pessoa jurídica.
3. Na hipótese dos autos, ao tempo da alienação do imóvel corria
demanda executiva apenas contra a empresa da qual os alienantes eram
sócios, tendo a desconsideração da personalidade jurídica ocorrido mais
de três anos após a venda do bem. Inviável, portanto, oreconhecimento
de fraude à execução.
4. Recurso especial não provido.
(REsp 1.391.830/SP, rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA
TURMA, julgado em 22.11.16, DJe 01.12.16)

Analisando os fatos apresentados, é imperativo considerar os princípios


basilares do direito, em especial o da segurança jurídica e o da boa-fé objetiva.
Inicialmente, ressalta-se que a desconsideração da personalidade jurídica,
conforme decisão transitada em julgado nos autos nº X, implicou na inclusão de
Pedro no polo passivo da ação, o que, por consequência, afeta seu patrimônio
pessoal.
O instituto da fraude à execução visa proteger o credor, impedindo que o
devedor dilapide seu patrimônio com o intuito de frustrar a satisfação do crédito.
Para que se configure a fraude à execução, é necessário que haja a concomitância
de dois requisitos: o ato fraudulentamente praticado pelo devedor e a ciência, pelo
terceiro adquirente, da situação de insolvência ou da pendência da demanda
executória.
No caso em tela, o contrato de compra e venda do imóvel entre Antônio e
Pedro foi celebrado em data anterior à citação deste nos autos nº X, que culminou
na desconsideração da personalidade jurídica da empresa S.A. Além disso, não
há nos autos qualquer indício de que Antônio tinha ciência da situação jurídica de
Pedro ou da empresa S.A. no momento da aquisição do imóvel.
Assim, verifica-se que o negócio jurídico ocorreu antes do conhecimento de
Pedro acerca de ação ajuizada contra a Empresa S.A. Ainda, a decisão pela
desconsideração de personalidade jurídica se deu posteriormente, não havendo o
que se falar em fraude à execução.

Conclusão:
Diante do exposto, entende-se que não há fraude à execução na venda do
imóvel de Pedro a Antônio.

É o parecer.

Londrina, 18 de abril de 2024


Amanda Leite Toledo OAB X
Wilson Gomes Ramos Neto OAB Y

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