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Aula 1
INTRODUÇÃO
Olá, estudante! Vamos começar juntos a estudar a gestão pedagógica no sistema de educação brasileiro?
A gestão envolve duas atividades fundamentais, que é a tomada de decisão e a organização do trabalho. No
âmbito escolar, assim como em qualquer empresa, a gestão é uma atividade central. Contudo, no âmbito da
gestão escolar há um conjunto de políticas educacionais, formalizadas por lei, portarias e resoluções, que
definem como é a gestão em ambientes educacionais. Mesmo as escolas privadas têm sua gestão submetida
à legislação educacional e responde às secretarias de educação municipal ou estadual e, ainda, ao Ministério
da Educação. Essa é a discussão que gostaria de te convidar a fazer nessa aula! E então, vamos começar?
A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO
O surgimento da gestão escolar se deu a partir das demandas empíricas: quanto mais a educação se
democratiza, há mais estudantes, mais trabalho e maior necessidade de pessoas prontas para cuidar dos
aspectos administrativos da escola. A escola tem, na figura do diretor, o protagonista na gestão escolar, mas
hoje o organograma da gestão escolar tem se tornado mais complexo, porque as demandas das escolas
também se tornaram mais amplas. Por exemplo, hoje se fala sobre a demanda de assistentes sociais e
psicólogos presentes durante todo o tempo em que o estudante está na escola, para a garantia de direitos e
da saúde mental de crianças e adolescentes.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9.394/1996 – nos dá os principais direcionamentos
da gestão escolar, conforme podemos verificar no artigo 3º:
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos
sistemas de ensino.
— (BRASIL, 1996)
Você já ouviu falar do conceito de gestão democrática? Ele implica reconhecer que todos os envolvidos na
escola, famílias, estudantes, comunidade e gestores precisam fazer parte da tomada de decisão. Certamente,
você sabe que isso é muito complexo, porque é uma tomada de decisão difícil quando há muitos atores e nem
sempre eles querem se envolver efetivamente com a escola. Observe o que diz a LDB sobre como
potencializar isso:
A existência de conselhos escolares é fundamental para os gestores, que devem acolher as demandas e
estudar a possibilidade de resolvê-las. A LDB ainda regulamenta a função do Conselho Nacional de Educação,
instituição participativa, formada por 50% de conselheiros da sociedade civil organizada e 50% por
conselheiros do governo, que tomam decisões sobre as políticas educacionais e ainda fiscalizam a aplicação
dos recursos públicos, conforme o Artigo 9º § 1º “Na estrutura educacional, haverá um Conselho Nacional de
Educação, com funções normativas e de supervisão e atividade permanente, criado por lei”. (BRASIL, 1996).
Há ainda os conselhos estaduais e municipais com essa mesma composição paritária e que tem uma função
fundamental na efetivação da gestão democrática do sistema brasileiro de educação básica.
A gestão escolar está repleta de desafios e um deles é lidar com as políticas econômicas de caráter neoliberal
que vêm sendo implementadas no Brasil a partir da década de 90 do século XX.
GESTÃO ESCOLAR E O NEOLIBERALISMO
Talvez você esteja se perguntando: mas como isso afeta a educação? Afeta porque as políticas educacionais
ganham um caráter neoliberal, cuja proposta é atender às demandas do mercado de trabalho por mão de
obra barata. Por exemplo, a Base Nacional Curricular Comum tem uma vertente neoliberal ao fazer a opção
pela Pedagogia das Competências. Dessa forma, os currículos das escolas acabam sendo desenvolvidos com
base em uma perspectiva pedagógica empresarial, que não têm foco na emancipação do estudante, mas sim
nas competências socioemocionais exigidas pelo mercado. A BNCC tem um amplo viés voltado para o
empreendedorismo, que é um conceito muito utilizado pelas políticas neoliberais para justificar um projeto de
fortalecimento do trabalho informal e de não contratação de trabalhadores pelo regime da Previdência Social
(BRASIL, 2018).
O neoliberalismo, segundo Crochick (2021), tem como característica cooptar a subjetividade do indivíduo para
o trabalho. Assim, por meio de conceitos como sucesso, promoção, vestir a camisa da empresa, vencer pelo
esforço próprio etc., convence o trabalhador de que é escolha pessoal esse estilo de vida que leva ao
adoecimento psíquico pelas longas horas de trabalho, que impedem o indivíduo a buscar lazer, tempo de
qualidade com os filhos, cultura e descanso; tudo isso em nome do sucesso profissional e de uma vida para o
consumo. O projeto educacional da BNCC está voltado para formar esse trabalho alienado, não um cidadão
emancipado.
A escola faz parte desse projeto e ele afeta a gestão, porque implica que a aprendizagem será voltada para
preparar o estudante para o mercado de trabalho apenas, não para a emancipação dos indivíduos e para a
transformação social. Um dos instrumentos para essa visão de ensino/aprendizagem é o biopoder.
Foucault (2001) explica que a escola neoliberal é uma instituição disciplinar que se utiliza do biopoder. Ela se
baseia na ideia de que a aprendizagem se dá a partir da disciplina corporal e, portanto, espera que os
estudantes fiquem horas em suas carteiras, em silêncio, passivamente aprendendo o que o professor “passa”.
Trata-se do poder exercido pelos gestores sobre o corpo dos estudantes. Nessa perspectiva, essa é a prática
de ensino e aprendizagem da escola que os gestores exigem das suas equipes. A escola disciplinar, voltada
para o mercado de trabalho, com um projeto alienante de educação, que forma indivíduos que não foram
preparados para a crítica social, é gerenciada para funcionar a partir dessa lógica.
GESTÃO E BNCC
A Base Nacional Curricular Comum não é um currículo. Ela é um documento normativo e, portanto,
obrigatório tanto para rede pública quanto para rede privada, que é uma referência para a elaboração dos
currículos. A BNCC não é um instrumento propriamente dito de gestão, mas afeta a tomada de gestão dos
gestores, a gestão do conhecimento na escola e a maneira como se darão as práticas de ensino e
aprendizagem, pois esse documento reconhece que o ensino e aprendizagem é algo que precisa efetivamente
ser gerenciado.
É a forma como a BNCC pensa a aprendizagem e propõe as ações docentes que impactam a gestão escolar.
Como já dissemos, a BNCC tem como base a pedagogia das competências, que são divididas em gerais e
específicas. Observe, a seguir, como são definidas as competências pela BNCC:
Na BNCC, competência é definida como a mobilização de conhecimentos (conceitos e
procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores
para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do
mundo do trabalho.
— (BRASIL, 2018, p. 6)
Por sua vez, as competências se dividem em centenas e centenas de habilidades, focado naquilo que o
mercado de trabalho requer do estudante. Esse caráter neoliberal é percebido no fato de que, nas
competências, não se fala em método científico, que deve ser a base de desenvolvimento de crianças e
adolescentes. É a partir do método científico que o estudante vai ter acesso ao conhecimento, será capaz de
compreender a lógica negativa da existência humana do capitalista e sair dos processos que o alienam. A
aprendizagem de competências socioemocionais na escola apenas naturaliza a exploração do trabalho. Essa
geração que está sendo formada pela BNCC é aquela da sociedade do desempenho, da qual nos fala Han
(2017), cujos trabalhadores estão exauridos em todas as suas forças mentais e físicas, mas alienados, porque
conformados pela ideia de que sucesso justificam qualquer psicopatologia.
A gestão escolar, nessa educação neoliberal, exerce o biopoder porque a pedagogia das competências tem
como foco ensinar o estudante como se comportar em diversos espaços do mercado de trabalho. Trata-se de
disciplinar os corpos para a dominação do capitalismo. Um exemplo disso são as práticas de elaboração de
um projeto de vida, que traz a expectativa de o estudante pensar o futuro profissional, ainda que boa parte
dos jovens que estão na educação brasileira nem sempre têm seus direitos fundamentais resguardados,
como segurança nutricional, moradia decente, renda mínima, saúde, lazer, cultura. Dessa forma, o projeto de
vida acaba causando ampla ansiedade e uma programação para a vida que se dá apenas pelo mercado.
A gestão escolar que se pauta pela perspectiva da emancipação e da transformação escolar tem como foco a
ciência enquanto norteadora de todas as práticas. Seu objetivo não pode ser produzir mão de obra barata
com as competências e demandas, mas sim indivíduos capazes de se perceber alienados e que rompam com
essa lógica.
VÍDEO RESUMO
Quanta coisa estudamos, não é mesmo? Então, separe um momento para assistir a este vídeo e entender de
forma mais aprofundada o que é a gestão neoliberal da escola e porque a BNCC está ajudando tanto nesse
processo. Vamos lá?
Saiba mais
Que tal conhecer melhor a relação entre neoliberalismo e BNCC? Para isso, recomendamos que leia o
artigo seguir: O neoliberalismo e a base nacional comum curricular (bncc): aproximações contextuais.
Aula 2
Olá, estudante! Nesta aula, vamos estudar a gestão escolar, diferenciando-a da gestão de empresas
comerciais. Embora as escolas sejam públicas ou privadas, tenham natureza jurídica empresarial, elas
precisam ter um direcionamento gerencial diferente de uma empresa, porque um aluno não é um mero
cliente e não deve ser tratado como tal. Além disso, as empresas têm como foco o lucro e os resultados
financeiros. Por sua vez, as escolas precisam ter como foco a aprendizagem e o desenvolvimento motor,
social, afetivo e cognitivo dos alunos. Dessa forma, convidamos você a esta aula, na qual vamos conhecer
como diversos autores pensam a respeito da gestão escolar, seus desafios, limites e possibilidades. Vamos
começar?
ESCOLA E DESEMPENHO
Olá, estudante! Você tem ouvido falar de palavras como: desempenho, eficácia, eficiência, resultados,
metas e indicadores? Em qual contexto você ouviu? Essas palavras são comuns em contextos de gestão de
negócios. De fato, as empresas hoje estão concentrando-se nesses conceitos para se tornarem sustentáveis,
ou seja, obterem os resultados financeiros necessários para se manterem no mercado. É nesse contexto que
as empresas deixam de focar na administração tradicional para criarem estratégias de gestão.
A administração é um conjunto de técnicas tradicionais voltadas para organizar uma empresa. Ela define
regras, rotinas de trabalho, organogramas e fluxogramas. O conceito de gestão é uma modernização do
conceito de administração, que deixa de ser focada apenas na organização do trabalho, para se voltar para
desempenho e resultados. Atualmente, as escolas, assim como as empresas, têm abandonado as ideias
administrativas para se voltarem para os paradigmas de gestão (GOBBI et al., 2019).
Com isso, as escolas passam a criar metas para serem atingidas e resultados a serem alcançados. Vejamos
então como Gobbi et al. definem gestão escolar:
(...) a Gestão Escolar foi operacionalizada como uma dimensão composta pela liderança
pedagógica e engajamento, centrais para a gestão de uma organização escolar pública
brasileira que envolve muitas atividades, como organizar a autonomia, a elaboração,
monitoramento e melhoria da proposta pedagógica, a administração de pessoal e recursos
materiais e financeiros, a articulação com a família e sociedade etc. Sua natureza é técnica
e também política.
— (GOBBI et al. 2019, p. 200)
É importante pensar que as empresas capitalistas têm como foco o cliente, para garantir que o cliente fidelize
e não busque os concorrentes. Nesse contexto, elas precisam “agradar” o cliente e fazer todas as suas
vontades. Essa não é a lógica da escola. O estudante ali deve ser compreendido como sujeito de direito, deve
ser protagonista, mas ele não é cliente.
Assim, a gestão escolar não pode ter como foco meramente resultados financeiros e lucro, para distribuir
dividendos para acionistas. A escola deve garantir direitos humanos, relações equitativas entre todos, inclusão
social e transformação emancipatória dos sujeitos. Por isso, a gestão de uma empresa comercial, no contexto
capitalista, deve ser diferente da gestão escolar, porque há uma dimensão axiológica que é diferente.
Gobbi et al. (2019) pontuam que a liderança escolar também deve ser pautada por esses valores, mas que a
gestão por desempenho deve ser aplicada. Gerenciar uma escola por desempenho implica definir metas e
resultados a serem alcançados e definir indicadores que sejam utilizados no monitoramento e avaliação das
ações e aquilo que foi obtido. Precisamos ter um cuidado especial. Gerenciar por desempenho é diferente de
educar por desempenho. A seguir vamos entender melhor essa diferença e os cuidados para não misturar,
porque a aprendizagem é transformação dos sujeitos, algo muito complexo para ser medido por meio de
critérios de desempenho.
GESTÃO POR DESEMPENHO E ENSINO POR DESEMPENHO
Para começar, vamos recuperar algumas determinações da Lei de Diretrizes e Bases da Educação:
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo
com as seguintes regras comuns:
Esses são dois artigos que mostram que a avaliação tem um espaço muito importante dentro da gestão
educacional brasileira e que ela tem uma dimensão de desempenho, o que é bastante criticado pela literatura.
Será que aprendizagem e transformações dos sujeitos podem ser medidas, como é feito com as vendas de
uma empresa?
Note que a autora pontua que a avaliação tem como objetivo aperfeiçoar o sistema e avaliá-lo de forma
integrada, ou seja, não se trata de medir o desempenho dos estudantes, mas de perceber o funcionamento
de todo o sistema. Resultados ruins em uma prova falam mais do sistema educacional e da própria escola do
que efetivamente do estudante.
Por isso que a gestão da escola deve ser feita com base em desempenho, em métricas, variáveis e
indicadores, mas os processos de aprendizagem não devem ter como base o desempenho. O mercado de
trabalho avalia os trabalhadores com base no seu desempenho, mas essa lógica não pode fazer parte da
escola.
A LDB é o resultado de um processo histórico amplo, iniciado no Brasil na década de 90, de adoção do
neoliberalismo como política econômica. Nessa lógica, as políticas neoliberais também ganham uma
perspectiva neoliberal, ou seja, de atendimento às demandas do capital. Por isso a LDB enfatiza essa
perspectiva da avaliação escolar de medir o rendimento – essa é a mesma lógica do mercado de trabalho.
Essa educação que forma mão de obra barata precisa que os indivíduos estejam adaptados à lógica do
mercado e aplicam, desde a educação básica, avaliações que medem desempenho.
Fala-se tanto em gestores escolares comprometidos com a qualidade da educação, mas de que educação
estamos falando? Essa educação é para quem? Para o estudante ou para o mercado? A gestão escolar de
qualidade é aquela focada na emancipação, não na formação de mão de obra.
DESAFIOS DA GESTÃO ESCOLAR COMO ATIVIDADE POLÍTICA
Souza (2012) percebe a gestão escolar como uma atividade política e, portanto, trata-se de uma ação que não
é neutra. Embora a escola seja o espaço de divulgação do pensamento científico, da investigação e da razão,
ela ainda assim é resultado de tomadas de decisão políticas. Por exemplo, há um movimento
ultraconservador em curso, que leva para a escola discussões que tiram o seu caráter democrático.
Discussões sobre a “escola sem partidos” ou “escola sem ideologia de gênero” são tentativas de negar direitos
humanos na escola, em busca de impor uma percepção conservadora de mundo e manter os indivíduos
alienados. Os gestores escolares precisam estar compromissados com a laicidade da educação, com a ética e
com o método científico para impedir que tais concepções adentrem os espaços educacionais. Não podemos,
por exemplo, negar aos adolescentes o direito à educação sexual, porque alguns atores políticos
conservadores confundem educação sexual com seus preconceitos. Educação sexual é ensinar os limites do
outro, o cuidado pessoal, o respeito às escolhas dos indivíduos e a inclusão. Mas essa é uma discussão que foi
politizada no Brasil. De acordo com Souza:
(...) a gestão escolar pode ser compreendida como um processo político, de disputa de
poder, explícita ou não, no qual as pessoas que agem na/sobre a escola pautam-se
predominantemente pelos seus próprios olhares e interesses acerca de todos os passos
desse processo. Assim, visam a garantir que as suas formas de compreender a instituição
e os seus objetivos prevaleçam sobre as dos demais sujeitos, a ponto de, na medida do
possível, levá-los a agirem como elas pretendem.
— (SOUZA, 2012, p. 239)
Por isso mesmo a liderança escolar é tão complexa. Ela não deve ser baseada em sistemas de disputa de
poder, mas de construção de consensos. A autonomia dos docentes é um dos elementos em maior disputa na
escola. O trabalho do professor é definido pelas próprias políticas educacionais, pelos currículos, pela direção
e coordenadores. A necessidade de dar respostas positivas às avaliações governamentais também é um
reflexo dessa autonomia que foi tomada dos processos, porque eles ficam reféns daquilo que é cobrado nas
avaliações.
Considerando esses desafios, as lideranças precisam cuidar da cultura e do clima organizacional. Isso implica
consolidar uma cultura organizacional baseada na emancipação dos estudantes, não na sua adaptação ao
projeto do capital. O clima organizacional, por sua vez, deve ser democrático e consensual, no qual todos os
atores escolares saibam que têm voz e que merecem ser ouvidos, porque todos são sujeitos de direitos ali
naquele espaço. A gestão deve ter uma percepção de descentralizar o poder e flexibilizar a hierarquia, de tal
forma que haja uma relação de confiança entre todos. O ambiente escolar não pode ser opressor e disciplinar,
mas humanizado, acolhedor e empático, porque a aprendizagem ocorre onde há liberdade, não onde há
opressão.
VÍDEO RESUMO
Estudante, gerenciar uma escola é uma tarefa complexa, porque a escola é diferente de uma empresa
comercial, que é gerenciada com foco no lucro. O aluno não é um cliente e a aprendizagem não é alta que eu
consiga medir de forma tão simples quanto a quantidade de mercadorias vendidas em um mês. Então, que tal
ver esse vídeo e entender melhor as características de gestão de uma escola?
Saiba mais
Nesta aula falamos sobre clima organizacional escolar. Comentamos que a aprendizagem ocorre em
espaços de liberdade e não de opressão. Por isso o clima é tão importante. Para saber mais sobre isso,
leia o artigo Liderança do diretor, clima escolar e desempenho dos alunos: qual a relação?
Aula 3
INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
Para compreender a formação de gestores escolares, precisamos conhecer as diretrizes curriculares nacionais
para o curso de graduação em pedagogia, que tem componentes curriculares na área de gestão educacional.
Aliás, o curso de pedagogia é aquele que, por definição, forma o gestor escolar, conforme vemos no artigo 5º,
da Resolução CNE/CP nº 1, de 15 de maio de 2006.
Dessa forma, podemos perceber que faz parte do currículo do pedagogo a formação em gestão escolar.
Afinal, onde o gestor pedagogo pode trabalhar? Qual é a área profissional de desenvolvimento de uma
carreira de um gestor pedagogo? Claro que, em primeiro lugar, pensamos no diretor de escola de educação
básica. Mas o campo é muito maior. Um gestor pedagogo pode trabalhar no âmbito de secretarias municipais
e estaduais de educação e ainda no processo de formulação, monitoramento e avaliação das políticas públicas
de educação.
Um gestor pedagogo precisa ter um amplo conhecimento das políticas e legislações educacionais, além de ter
o compromisso de manter-se sempre atento às mudanças, já que o Ministério da Educação e as secretarias
publicam resoluções e portarias de caráter administrativo que impactam as rotinas escolares.
Por conta desse cenário, o estudante de pedagogia tem parte da sua carga horária de estágio, na área de
gestão, conforme podemos observar na Resolução CNE/CP nº 1, a seguir, de 15 de maio de 2006
Portanto, as universidades que formam pedagogos precisam garantir que horas de estágio sejam cumpridas
em gestão escolar, para que o estudante tenha vivências práticas nesse campo de atuação. Costumeiramente,
as universidades solicitam que o estudante conheça o projeto político pedagógico da escola onde cumpre as
horas e faça uma análise sobre ele. Essa vivência prática é fundamental para que o estudante conheça as
rotinas administrativas, modelos de liderança e os desafios do trabalho do gestor.
A seguir vamos conhecer mais sobre o currículo do curso de pedagogia, e como ele foi constituído para
formar o gestor pedagogo.
O Ministério da Educação define os currículos dos cursos de pedagogia e os temas da gestão escolar que
devem fazer parte do currículo. Vejamos então o que determina a Resolução CNE/CP nº 1, de 15 de maio de
2006 sobre o tema:
O trecho grifado no texto da lei mostra que a atuação do gestor educacional é bem ampla e, portanto, é
preciso conhecer com profundida a lógica institucional das políticas educacionais. Por isso, o gestor escolar
deve ter um perfil profissional responsável, ético, proativo, compromissado com o interesse público e com a
transformação social.
Alves e Bispo (2022) fizeram um estudo do trabalho do gestor escolar e perceberam lacunas na formação que
prejudicam a efetivação do direito à educação de qualidade no âmbito micro, ou seja, das escolas onde atuam
como diretores ou coordenadores. Os autores pontuam que a formação do gestor é essencialmente
neoliberal no Brasil, de forma curta e superficial, com prioridades dadas a metas e resultados. A gestão
escolar passa, portanto, a ser pensada como a gestão de uma empresa comercial ou industrial. Sobre isso,
Alves e Bispo (2022, p. 229) afirmam:
Esse cenário impõe também aos processos formativos de gestores novas maneiras e
estratégias de promover o conhecimento, pois, além de adquiri-lo, é necessário saber
aplicá-lo e adaptá-lo às novas informações dentro do contexto escolar. O aprendizado
coletivo se torna mais importante à medida que valoriza os ganhos de autonomia
institucional e o desenvolvimento profissional. (grifos nossos).
— (ALVES; BISPO, 2022, p. 229)
Por isso a escola deve ser uma organização de aprendizagem permanente, na qual os gestores estão abertos
a aprender e a ensinar. Os gestores escolares não são como os administradores técnicos de uma empresa,
porque a administração de uma escola é impactada por questões políticas, partidárias e ideológicas.
O gestor pedagogo precisa ter uma formação que inclua disciplinas na área de políticas públicas. Tomemos,
como exemplo, a reforma do ensino médio, de 2017, que gerou um amplo conjunto de discussões de cunho
político no país, que tem muitos impactos na gestão escolar e modificou toda a organização do ensino médio.
Ela é resultado de um processo decisório que envolveu elites econômicas que queriam uma educação
neoliberal. Ou seja, são questões políticas influenciando diretamente na gestão escolar.
Para começar, olhe esta imagem e pense no que ela significa para você.
Fonte: Wikimedia.
Agora, observe a seguinte imagem:
Fonte: Wikimedia.
O epistemólogo Foucault (2001) usou a metáfora dessa prisão denominada panóptico para explicar a escola
na sociedade contemporânea. Essa prisão fictícia seria construída a partir de um jogo de luzes no qual o
prisioneiro não sabe se há alguém na torre de vigilância, mas está sempre com medo de fugir, pela
possibilidade de estar sendo vigiado. Essa metáfora fala sobre as relações de poder estabelecidas na escola e
sobre como a escola tradicional é um espaço de dominação e controle. Para a autora, a escola é um espaço
disciplinar, de docilização dos corpos, para que ele se “adapte” a ser mão de obra barata para o capitalismo.
Talvez você esteja se perguntando: mas o que isso se relaciona com o trabalho do gestor educacional? O
gestor precisa ter o compromisso ético de não impor uma liderança disciplinar na escola onde é coordenador,
diretor, supervisor ou qualquer outro cargo hierárquico que tenha. O gestor organiza a escola e, conforme o
Estatuto da Criança e do Adolescente, precisa estruturá-la de forma a garantir direitos educacionais e
proteção social. Do ponto de vista das políticas públicas, a escola é um espaço de proteção social de crianças e
adolescentes. Por isso, cabe ao gestor organizá-la para ser um ambiente acolhedor e de empatia, no qual a
criança e o adolescente se percebam como pertencentes àquele espaço e se identifiquem como atores
centrais nesse espaço. Não pode ser um espaço no qual essas crianças e adolescentes se sintam oprimidos,
marginalizados e estigmatizados.
Foucault (2001) criou um conceito denominado biopoder para entender as instituições sociais, inclusive a
escola, e como elas criam mecanismos para definir regramentos de comportamento e usos do corpo,
definindo o que é “normal” e o que é anormal”.
O gestor escolar precisa ser capaz de romper com essas práticas, porque ele precisa evitar esse processo de
patologização do social, que implica em classificar os indivíduos em “normal” e “anormal” e se pautar, na
escola, pelo chamado Direito Humano à Diferença, que é o reconhecimento de que a diferença é fundamental
na vida em sociedade.
O gestor precisa aprender que o poder que possui é um dado da função e da posição que ocupa dentro da
hierarquia das políticas educacionais e não naturalizar as relações de poder. Dessa forma, não cabe a ele
exercer esse biopoder de caráter moralista e disciplinador, mas sim de estabelecer relações éticas com todos
os atores escolares, para tomar decisões que garantam o direito à educação e a proteção social da criança e
do adolescente.
VÍDEO RESUMO
O gestor pedagogo não é apenas alguém que toma as decisões na escola, mas é um agente muito importante
dentro da lógica das políticas educacionais, que deve garantir a efetivação do direito à educação e a proteção
à criança e ao adolescente. Neste vídeo, convidamos você a conhecer melhor o conceito de proteção social!
Vamos lá?
Saiba mais
Nesta aula aprendemos o conceito de biopoder. Vamos entender melhor esse conceito e sua aplicação
na escola? Então, leia o texto Biopoder, vida e educação, que estuda exatamente isso.
Aula 4
A ORGANIZAÇÃO ESCOLAR
No Brasil, a escola é um espaço institucionalizado, ou seja, ela é composta por um conjunto de regras
que regulamentam o trabalho pedagógico e organizam a ação de professores, gestores e estudantes.
16 minutos
INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
No Brasil, a escola é um espaço institucionalizado, ou seja, ela é composta por um conjunto de regras que
regulamentam o trabalho pedagógico e organizam a ação de professores, gestores e estudantes. A escola
organiza também um cronograma, no qual é indicada a relação entre idade cronológica do estudante e o ano
em que ele deve estar incluído, construindo uma linha evolutiva de conhecimentos, do mais simples ao mais
complexo. Nessa construção organizativa ao final de cada ano, o estudante é promovido para o próximo,
supondo que ele domina o sistema de conhecimentos esperado para sua idade.
Então, que tal pensar criticamente sobre esse sistema e entendê-lo em sua complexidade? Vamos começar a
nossa aula!
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação é que define um modelo de organização da escola que divide de
forma cronológica e evolutiva as séries e o ciclos. Observe a seguir:
Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais,
ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na
idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre
que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar.
— (BRASIL, 1996)
Educação de jovens e adultos: destinada a qualquer pessoa que não teve acesso ao ensino fundamental e
médio na idade própria.
A LDB define também uma carga horária mínima de 800 horas, distribuídas por 200 dias letivos. Contudo, no
aspecto da reforma do ensino médio deve ser ampliada progressivamente, chegando até 1.400 horas anuais,
por meio da educação integral.
Manter uma organização do trabalho escolar, das rotinas, dos ciclos e das horas é, sem dúvida, necessário,
mas o que se equivocam em relação às políticas educacionais é essa percepção linear da aprendizagem e ao
considerar que todas as crianças, com as mesmas idades, possuem as mesmas habilidades e tiveram acesso
aos mesmos conhecimentos prévios.
Tragtenberg (2018) explica que a escola é efetivamente um espaço de força e repleto de rituais, que
organizam o trabalho pedagógico e até mesmo as rotinas de todos os atores escolares. Para o autor, os rituais
escolares são parte integrante do universo pedagógico e se organizam em:
1. Deveres
2. Disciplinas
3. Punições
4. Recompensas
Nesse contexto, a escola é percebida por Tragtenberg (2018) como um conjunto de objetos bem definidos,
conforme o papel do ator educacional dentro do espaço escolar. O professor precisa preparar a aula, fazer
plano de ensino, fazer chamada, classificar os estudantes por nota, “dar” a aula. O estudante tem metas a
serem atingidas, como “se comportar”, “tirar boas notas” e “ter êxito escolar”. Sobre isso, explica Tragtenberg:
O conjunto de regras que estruturam a escola é, segundo o autor, preparar os estudantes para tomar o seu
lugar no sistema capitalista de produção. Será que se organizamos o sistema de forma diferente, ele ainda
será uma reprodução da sociedade capitalista? É o que veremos a seguir.
A BNCC não estrutura a maneira como a escola se organiza, mas ela é produtora de um discurso sobre como
ensinar e o que ensinar. A BNCC faz uma proposta de se ensinar por competências as unidades temáticas e
habilidades definidas ao longo de todo o texto. A perspectiva da BNCC tem sido bastante criticada pelo seu
compromisso com o neoliberalismo. Segundo Crochick:
(...), é contrária a uma formação que contemple uma dimensão histórico-cultural, propícia
à diferenciação individual e à autonomia, e pouco propensa à reflexão. (...) A modificação
proposta na BNCC considera a adequação às supostas mudanças no mercado de trabalho,
que, como argumentamos, é cada vez mais restrito, devido ao desemprego estrutural,
acarretado pela crescente automação.
— (CROCHICK, 2021 p. 13)
Por outro lado, temos a proposta de educação por temas geradores, que foi elaborada por Paulo Freire, em
sua obra A Pedagogia do Oprimido. Freire criou o conceito de tema gerador em uma perspectiva de educação
emancipatória e explica:
Ainda que esta postura – a de uma dúvida crítica – seja legítima, nos parece que a
constatação do “tema gerador”, como uma concretização, é algo a que chegamos através,
não só da própria experiência existencial, mas também de uma reflexão crítica sobre as
relações homens-mundo e homens-homens, implícitas nas primeiras.
— (FREIRE, 1987, p. 56)
A educação organizada por meio de temas geradores, em vez da escola neoliberal, tem como sentido pensar a
relação homem-mundo e, assim, tirá-la da condição de alienação. Freire (1987) tinha uma perspectiva de
educação de que esta deveria ser uma prática de liberdade e é aqui que entram os complexos
temáticos. Vejamos na imagem a seguir como se organiza a educação como prática de liberdade.
Os temas geradores são sempre saberes que possibilitam ao homem olhar o mundo criticamente – trata-se
de falar sobre a relação existencial concreta em suas contradições.
Na concepção de Tragtenberg (2018), a escola tradicional coloca objetivos e metas a serem alcançadas pelos
estudantes, que se referem a notas e classificações. Freire (1987, p. 64) percebe exatamente o oposto em
relação à educação emancipatória: “Assim como não é possível (...) elaborar um programa a ser doado ao
povo, também não o é elaborar roteiros de pesquisa do universo temático a partir de pontos prefixados pelos
investigadores que se julgam a si mesmos os sujeitos exclusivos da investigação.” Os temas gerados são
sempre do povo, ou seja, trazidos pelos estudantes, que devem perceber que eles são expressões da
realidade e que há irracionalismo mitificador diante da realidade, da qual o ser humano pode sair pelo
pensamento dialético. Nessa educação, o homem se prepara para a práxis, para a transformação social.
A seguir, vamos pensar juntos sobre como a pedagogia de projeto pode ser apreendida como prática
transformadora.
Uma das perspectivas da pedagogia de projetos é a formação multidimensional dos educandos. Hoje, há
diversas pedagogias que se distinguem da escola tradicional. Um exemplo de aplicação de forma
multidimensional é a Pedagogia Waldorf, cujo grande foco são os projetos que envolvem o contato da criança
com a natureza, com a arte e possibilidade de brincar sem tecnologia. Na tabela a seguir, podemos ver a
diferença entre as duas perspectivas:
Dá pouca atenção à subjetividade do estudante. As aulas são construídas a partir dos interesses do
estudante.
No que se refere a esse apego ao real e ao concreto, as escolas Waldorf se organizam como casas, com muito
espaço natural e artísticos e menos apego à hierarquia da sala de aula, com carteiras, lousa e o professor ao
centro. A educação tradicional se concentra apenas nos aspectos conteudistas e instrumentais da
aprendizagem, enquanto os projetos da escola Waldorf se focam no desenvolvimento de emoções, afetos,
sensibilidade e relações sociais (SILVA, 2015).
É muito comum essa perspectiva de falar em ludicidade na educação, mas o que isso implica, efetivamente? A
ludicidade possibilita consolidar na criança o pensamento abstrato e a capacidade de simbolizar, que é
fundamental para a alfabetização e letramento do sujeito. Na pedagogia de projetos, a problematização
também é feita por meio do brinquedo e dos jogos, porque o brincar promove questionamentos e levanta
questões para investigação.
A pedagogia de projetos torna a escola uma experiência única, ao contrário da escola tradicional, que é
instrumental, porque é voltada para o mercado de trabalho. Para a emancipação do indivíduo, não basta
memorizar conteúdos, mas sim acessar a si mesmo como indivíduo afetivo, simbólico e relacional, cuja
aprendizagem ocorre pelo contato com a própria realidade e pela liberdade.
VÍDEO RESUMO
Saiba mais
Nesta aula você conheceu a pedagogia Waldorf, como forma de organização da escola e da
aprendizagem diferente da educação tradicional. Para conhecer mais sobre outras pedagogias, que tal
conhecer a pedagogia montessoriana? Leia o texto Habilidades de resolução de problemas e métodos de
ensino: o método Montessori e o ensino tradicional em questão.
Aula 5
REVISÃO DA UNIDADE
14 minutos
GESTÃO EDUCACIONAL
Olá, estudante! Que tal revisar os principais conceitos desta unidade? Então, vamos pensar juntos sobre o que
significa ser um gestor escolar em um sistema de ensino e de políticas educacionais neoliberais.
Vamos começar pensando que ser gestor escolar não é o mesmo que ser um gestor empresarial, embora a
escola seja, do ponto de vista jurídico, uma empresa. O gestor empresarial tem como objetivo garantir que o
cliente receba valor e que os acionistas recebam seus dividendos. A escola – ainda que privada – precisa fazer
mais. Ela precisa ser um agente de emancipação. E, nesse contexto, é assim que o gestor precisa ser para
colocar nas práticas da sua gestão. Vamos pensar sobre isso, a partir de Freire:
Educação que, desvestida da roupagem alienada e alienante, seja uma força de mudança e
de libertação. A opção, por isso, teria de ser também, entre uma “educação” para a
“domesticação”, para a alienação, e uma educação para a liberdade. “Educação” para o
homem-objeto ou educação para o homem-sujeito.
— (FREIRE, 2010, p. 36)
A proposta de Freire (2010) é de uma educação para um homem enquanto sujeito, no formato de uma
educação para a liberdade e de uma educação para a emancipação. Contudo, são as próprias políticas
educacionais que criam obstáculos ao trabalho do gestor escolar. Vamos entender por quê? Observe este
artigo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional:
Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo
com as seguintes regras comuns:
Como criar uma escola emancipatória se o gestor está preso a uma política educacional que utiliza o conceito
de “desempenho” para “medir” a aprendizagem, baseada em avaliações reprodutivas e disciplinadoras? A
preocupação com os indicadores é muito forte nas nossas políticas educacionais.
O Brasil possui, inclusive, o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) – certamente alvo de
preocupação por parte dos gestores escolares. Esse indicador transforma a aprendizagem e a própria escola
em números a serem enviados aos organismos internacionais. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2023), o IDEB é um índice que utiliza dois dados: o fluxo escolar
e as médias de desempenho nas avaliações. Na tabela a seguir, veja a base de índice:
Essas demandas de metas e resultados – mesma lógica das empresas privadas – são preocupações do gestor
escolar, que precisa criar estratégias para obter os resultados esperados. Portanto, é um trabalho cheio de
contradições.
REVISÃO DA UNIDADE
Quanta contradição tem o trabalho do gestor escolar, não é mesmo? As nossas políticas educacionais estão
efetivamente repletas de contradições, entre emancipação e neoliberalismo? Convidamos você a assistir a
esta videoaula, na qual vamos lembrar as principais legislações brasileiras sobre a organização da escola e
como elas afetam o trabalho do gestor.
ESTUDO DE CASO
Para começar nosso estudo de caso, pense como diretor de uma escola pública e o conceito de agir educativo,
de Freire (2010). O direito de escola conduz o seu agir educativo pautado pelas políticas educacionais e suas
decisões precisam levar em conta a legislação educacional. Por exemplo, se a legislação determina que as
horas mínimas anuais no ensino fundamental sejam 800, ele não pode garantir apenas 700. Por sua vez, se a
legislação torna as avaliações obrigatórias, ele não pode aboli-las. O agir educacional é sempre pautado na
legislação.
Contudo, o agir educacional pode ter um âmbito emancipatório, ainda que limitado pela legislação
educacional disciplinar e de mercado. Para pensar isso, convidamos você a ler este trecho, de Freire:
Para nosso estudo de caso, suponha que seja seu primeiro dia de trabalho. Você realizou seu sonho de passar
em um concurso público e está assumindo a direção de uma escola estadual. Você está cheio de ideias e
deseja constituir um agir educacional transformador, certo de que é seu papel potencializar os sujeitos a
levarem uma vida autônoma, sem amarras alienantes e com um projeto de vida transformador de si mesmo e
da sua comunidade.
Reflita
Nosso estudo de caso não é simples, porque o trabalho do gestor escolar está repleto de limites,
especialmente as políticas educacionais liberais. Ele precisa administrar uma escola pautada na BNCC,
que tem como base a pedagogia das competências e a preparação do estudo para o empreendedorismo
e para construir as competências socioemocionais demandadas pelo mercado de trabalho. Está
submetido à LDB, que determina resultados e desempenhos, ainda que seja tão difícil avaliar
aprendizagem com base em indicadores matemáticos.
Contudo, você, como gestor escolar, não quer que seu agir educacional seja disciplinador. Você quer
fazer a diferença e efetivamente modificar a trajetória de vida dos seus estudantes, tirando-os da
alienação do capital.
Então, vamos construir estratégias para fazer isso? Pense em como, apesar das políticas neoliberais, você
pode construir um agir educacional emancipatório? O que você poderia fazer, dentro da legislação
educacional, para constituir um agir educacional que seja significativo e democrático?
Para pensar a solução para nosso estudo de caso, convidamos você a pensar em uma citação de Freire:
Professor, vamos começar pensando no conceito de autoridade apresentado por Freire (1996). A autoridade
do diretor da escola é organizacional e ele não pode exercê-la além disso. Há uma hierarquia na escola, mas
ela é limitada pela liberdade do sujeito da educação – ou seja, seu estudante.
O que Freire (1996) nos ensina e que ajuda a resolver o nosso estudo de caso, é que, dadas as leis e as
políticas educacionais, ainda sim o gestor escolar tem a responsabilidade ética de garantir uma educação para
a liberdade e para a emancipação. Colocar-se como “gente” antes de gestor escolar é fundamental para o
desenvolvimento da empatia necessária para que o agir educacional do gestor seja pautado pela liberdade.
Para o autor, não há autoridade legítima sem liberdade.
Como gestor escolar, você pode propor práticas pedagógicas que garantam a liberdade do estudante, a
construção da sua autonomia e sua capacidade de sair da alienação.
Para isso, na tabela a seguir propomos algumas ações iniciais:
RESUMO VISUAL
Figura 2 | Principais legislações educacionais que pautam a tomada de decisão do gestor escolar
Fonte: elaborada pela autora.
REFERÊNCIAS
05 minutos
Aula 1
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Aula 2
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GOBBI, B. C. et al. Uma boa gestão melhora o desempenho da escola, mas o que sabemos acerca do efeito da
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OLIVEIRA, A. C. P. de; WALDHELM, A. P. S. Liderança do diretor, clima escolar e desempenho dos alunos: qual a
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Aula 4
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TRAGTENBERG, M. A escola como organização complexa. Educação & Sociedade, v. 39, n. 142, p. 183-202, jan.
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Aula 5
BRASIL. Lei nº 9394/96. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União,
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Brasil. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Índice de desenvolvimento da
educação básica. Brasília, DF, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-
atuacao/pesquisas-estatisticas-e-indicadores/ideb. Acesso em: 16 abr. 2023.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
Imagem de capa: Storyset e ShutterStock.
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DIMENSÕES DA GESTÃO
93 minutos
Referências
Aula 1
A GESTÃO DO CURRÍCULO
A disciplina propõe-lhe ajudar a compreender a normativa do processo ensino/aprendizagem e seu
alinhamento didático, metodológico e estratégico com a finalidade de uma aprendizagem propositiva e
qualitativa, essenciais à formação cidadã.
16 minutos
INTRODUÇÃO
Prescrevendo todas as atividades a serem realizadas ao longo do ano letivo, compartilhado com toda a
comunidade escolar, o currículo deve atender às diretrizes educacionais, garantindo formação democrática,
atendendo às políticas e demandas de humanização, cidadania, direito à educação e à diminuição das
desigualdades, conforme definido na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), congregando competências
a serem desenvolvidas ao longo da educação básica.
Os princípios que norteiam o currículo se articulam dentro das concepções das teorias pedagógicas, mas
focam nas metodologias, discutindo condições que ressignifiquem os conhecimentos dos estudantes, para
uma visão mais universal e humanizada, tomando, por exemplo, o entendimento de geopolíticas, impactos
ambientais produzidos pelas ações humanas, dentre outros.
Estudando a história do currículo, percorremos concepções acerca do que se deve aprender. Inicialmente, as
perspectivas não críticas, que trabalhavam conteúdos universais, instrumentalizando com foco em
racionalidades, tecnicistas e não críticas, baseando-se em teorias neutras e restritas, concentrando-se em
questões técnicas, focava apenas na transmissão de informações, sem dialogicidade e questionamento, até
chegar-se ao pensamento crítico, como contempla Saviani (2010), também com a discussão da didática crítica,
que se iniciou por meio das teorias críticas e contestadoras, questionando-se a neutralidade das teorias,
observando-se que havia uma correlação entre o saber, a identidade e o poder.
Percebe-se, nessa discussão, que nenhum conhecimento é neutro, já que todos possuem uma
intencionalidade, precisando-se respeitar as diversidades culturais, relativizando todos os saberes, assim
também outros documentos e normativas corroboram o planejamento e a execução do currículo escolar,
nessa proposta que reconhece as diversidades, sejam elas a BNCC, as PCNs, dentre outras, como cita Moreira
(2013). Assim, desde uma atividade lúdica à exploração de um texto de determinado gênero acompanharão
um modo metodológico que intencione um propósito.
O currículo elaborado pode trabalhar as transformações, em detrimento ao não acesso ao conhecimento mais
elaborado e diferenciado, criando perspectivas de um conhecimento mais amplo, propiciando a compreensão
de que todos podem contribuir para uma sociedade igualitária, como descreve Saviani (2010) quanto à
necessidade de uma desalienação, compreendendo que pode contribuir para o todo, fazendo parte do
processo em entendimento, ação e fala.
A GESTÃO DO CURRÍCULO NO CONTEXTO ESCOLAR
Ao elaborar, é preciso que se tenha como propósito levar a informação ao estudante, de forma que ele possa
transformar o conhecimento compreendido em prol de uma concepção social que interage com vários
elementos do saber e a vida do estudante. Nesse aspecto, compreendendo como se dá o desenvolvimento de
doenças a partir da falta de elementos higiênicos, desde a falta de saneamento ao complexo das ações
bioquímicas de alguns elementos químicos, poderá suscitar ao estudante que ele busque manter condições
saudáveis no manejo de produtos químicos, descarte de medicamentos, entre outros exemplos.
Sem descartar e negar os conhecimentos do senso comum, mas incorporando-os às cientificidades que cada
área possui, em qualquer nível do conhecimento, pode-se fazer com que qualquer estudante consiga
desenvolver habilidades e competências que o habilitem a entender e interagir com quaisquer outras
informações que sejam mais complexas. Nesse aspecto, o estudante não precisa ser um profundo
conhecedor da ciência política, mas compreender o manejo dos interesses econômicos, políticos e sociais de
um conflito por terras ou guerras.
Uma outra consideração que precisa ser contemplada refere-se aos contextos e identidades étnicas e
linguísticas, inclusive na contextualização da realidade do estudante, porque essa condição se refere ao
respeito às diferentes dimensões socioculturais, incorporando o respeito aos direitos humanos, educação
ambiental e concepções éticas de valorização humana.
Explicitando os propósitos da gestão do currículo na sala de aula, é necessário que o planejamento prescreva
os questionamentos, conforme indicado na Figura 1. A matriz curricular também norteia os passos a serem
delineados e que, em contexto específico da sala de aula, devem contemplar todos os estudantes, buscando
uma posição igualitária e heterogênea, como já discutimos.
Quanto aos conteúdos, eles precisam estar alinhados ao que se quer desenvolver, agindo como elementos de
discussão de conceitos, fatos, teorias, perspectivas, além de métodos, técnicas e estratégias que se baseiam
em normas, valores, atitudes e hábitos.
Em termos práticos da execução da prática docente, é preciso que o planejamento contemple as propostas,
questionando-se como executar as práticas e, por fim, avaliar, por meio de evidências que tratem da absorção
do conhecimento em si, se ela se deu, como se deu, o que falta ser desenvolvido e até readequado.
Como pode-se perceber em todas as fases, é pertinente executar todo o planejamento de forma
personalizada, com uma intencionalidade e de acordo com as legislações, perfis de estudantes,
contextualizações de desmembramentos dos conteúdos e possibilidade de agregar e transformar. Para isso, é
necessário alinhar o conhecimento ao processo de elementos que sejam universais e comuns a um
baseamento de todos os estudantes em termos de faixas, séries, conteúdos, dentre outros, e de partes
diversificadas, as quais são bem agregadas às realidades dos estudantes, ofertando o conhecimento com base
em suas perspectivas, propiciando criticidade e desdobramento de competências pessoais e coletivas,
respeitando particularidades e regionalidades, como preconiza a BNCC.
Esses parâmetros precisam de constante revisão e atualização dos objetivos educacionais, dos conteúdos, dos
encaminhamentos metodológicos e do sistema de avaliação, visando à otimização do planejamento das aulas
e à efetivação da aprendizagem.
São benefícios do planejamento docente na gestão do currículo em sala de aula a promoção de autonomia, o
fomento à pesquisa e ao engajamento de interesses pelas questões científicas, sociais, culturais, históricas ou
em áreas que possam promover a qualidade social e em que o estudante se posicione como ator e
interlocutor, e não como observador, como é na educação bancária, discutida por Freire (1997).
VÍDEO RESUMO
Saiba mais
Discute-se atualmente a interferência de grupos privados financeiros e sem experiência na educação, na
formação de professores e nas discussões didático-pedagógicas e também nas relativas à gestão escolar.
O contraponto de um conglomerado financeiro que “quebrou”, portanto não deveria ter a excelência que
apregoava, mas que continua influenciando nas políticas públicas do país e, consequentemente, no
currículo escolar. Saiba mais pesquisando a dissertação A ameaça ao direito à educação pelas reformas
neoliberais e ideologias da desescolarização nos países sul-americanos.
Aula 2
INTRODUÇÃO
Pilar da gestão escolar, a gestão pedagógica baliza as diretrizes da atividade principal da escola: a formação
humana, cidadã e a escolarização, fomentando qualidade e construção de ambientes proativos. Formação
acadêmica, capacitação recorrente e desenvolvimento humano são condições que equalizam distorções e
auxiliam um desenvolvimento pleno da gestão escolar, daí a importância de discuti-la.
Na atualidade, não há mais espaço à gestão tradicional do ensino, havendo a necessidade de conceder-se um
desenvolvimento que permita a pluralidade de ideias e promova o protagonismo do estudante, para que ele
se desenvolva plenamente como sujeito crítico e partícipe de soluções e ações que lhe possibilitem viver com
plenitude e que possibilitem qualidade a toda a sociedade.
Por isso, há necessidade de você analisar, compreender e discutir os papéis do educador, da sua formação
continuada e das estratégias de uma gestão democrática para uma efetividade qualitativa em ação da função
e do papel da educação e da instituição escolar. Vamos lá?
A gestão da ação e do trabalho docente na escola pode ser estimulante e desafiadora a profissionais da
educação, estudantes e familiares, tanto quanto à sociedade, desde que haja um envolvimento que
compreenda o planejamento, construções coletivas e revisão permanente dos projetos pedagógicos.
Fazendo uma analogia ao processo de administração que concerne a qualquer tipo de ação, seja profissional
ou acadêmica, existem metodologias, práticas e concepções que demonstram haver a necessidade de
planejamento, cuidados e orientações que não só impactam na produtividade, mas, principalmente, na
qualidade dela.
Compreendendo que a educação não é um produto, nem repasse de informações, é papel da escola a
promoção de criticidade, dialogicidade e transformação, o que se dá, principalmente, pela ação educacional
do professor em sua ação docente. Assim, ao trabalhar-se um conteúdo específico de língua portuguesa, por
exemplo, é importante que o estudante, a partir da execução prática, investigativa ou analítica, consiga
estabelecer a comunicação oral, escrita ou não verbal, utilizando os conceitos que balizam a disciplina, o
assunto ou o saber com desenvoltura e conexão assertiva e adequada, como revelam Nogaro e da Silva
(2014).
Dessa forma, o estudante pode nem lembrar a conceituação do que seja uma oração subordinada, mas
saberá utilizá-la em sua prática vivencial cotidiana, o que trará qualidade ao seu discurso, ao seu
relacionamento social e, por conseguinte, ofertará qualidade e ensinamento aos demais, com os quais se
relacione.
Por meio das discussões de diversos teóricos, podemos compreender que a construção do saber depende da
realidade social do estudante e da instituição escolar, tanto quanto do conhecimento do professor.
A melhoria do ensino poderá ser vivenciada e verificada por meio das observações quanto aos avanços
socioemocionais. Organizando-se recursos físicos, humanos e financeiros poderá se usufruir de um
encaminhamento e desenvolvimento qualitativo e eficaz do conhecimento.
Revisitando a história recente da educação no país, observa-se que os modelos tradicionais de ensino
centralizavam o conhecimento sem conceber uma pluralidade de ideias e a possibilidade de, ao tornar-se, por
exemplo, um profissional, o indivíduo consiga se adaptar a diferentes situações, metodologias, finalidades e
condições de trabalho.
Nessa discussão, incorpora-se a educação especial e inclusiva, que demonstra em sua cientificidade e prática
dialógica a possibilidade de promover diferentes condições e níveis de aprendizado e escolarização às pessoas
que possuam condições físicas, psíquicas e sociais, ofertando qualidade às relações humanas, sem
desqualificar pessoas e tampouco beneficiar grupos em detrimento de outros.
Com a experiência de uma prática docente que conduzisse o aprendizado, com qualidade e de forma efetiva,
ao vivenciar nos últimos anos a situação pandêmica e as restrições que a Covid-19 impôs, alguns profissionais
de educação conseguiram desenvolver soluções criativas com metodologias e práticas acessíveis e dinâmicas,
em atendimento às dificuldades logísticas, operacionais e, principalmente, circunstanciais impostas.
Nesse exemplo, podemos considerar que peculiaridades socioemocionais, como equilíbrio, motivação,
criatividade, dentre outros aspectos, foram decisivas para alguns educadores com relação ao sucesso nas
práticas docentes, relevando o trabalho reflexivo e colaborativo.
Para que se acompanhe de forma qualitativa e plena as demandas exigidas para um pleno exercício da gestão
escolar, é preciso que a gestão pedagógica realize a reflexão e o diagnóstico permanente da necessidade de
treinamentos, capacitações e formações que consolide efetividade e qualidade, incorporando metodologias
que agreguem novas perspectivas às práticas pedagógicas.
Além disso, a gestão da ação docente atua no diagnóstico da necessidade de treinamentos e capacitações
para os professores. Dessa forma, ela promove formação continuada, desenvolvendo no corpo docente as
competências essenciais para o cumprimento dos objetivos educacionais.
Rechaçando cobranças que não tragam reflexões e críticas pela crítica, a gestão precisa prover e favorecer
feedbacks construtivos, autoavaliações e condições em contínuas adaptações e/ou reformulações que
conduzam a melhorias nas práticas docentes e na qualidade de ensino e aprendizagem.
Uma outra consideração, advinda dos processos de gestão de pessoas, é a avaliação do desempenho que, se
realizada de forma adequada, proporcionará autorreflexões e autocríticas, além de avaliações de pares, de
todos os atores envolvidos nos processos educacionais, favorecendo a identificação de desajustes e a
readequação da atuação profissional, para que se consiga minimizar erros, retrabalho, conflitos, perda de
recursos financeiros e de tempo, dentre outros aspectos.
Referenciando Sacristán (1999), que diz ser a ação a balizadora de expressões e manifestações advindas das
práticas acumuladas e vivenciadas, condicionando, inclusive, o desenvolvimento histórico de cada indivíduo, a
prática docente é uma forma de intervenção à realidade social, sendo esta uma ação pertinente ao indivíduo e
a prática uma questão e condição cultural e social, como citam Pimenta e Lima (2004).
Com a mediação de um profissional experiente, a ADS deveria ser diversificada. Na atuação, há espaços
formais e não formais de escolarização, motivando práticas responsáveis, executando-se melhor do que foi
apreendido.
VÍDEO RESUMO
Na gestão do trabalho docente, é preciso que haja reflexões na execução do trabalho, o que auxilia na
reestruturação positiva e propositiva da escola e das intervenções cotidianas, visando um trabalho
democrático, que busque autonomia e protagonismo.
Basear a reflexão nessa prática docente suscitará dúvidas, perplexidades, incômodos e explicitação quanto a
dificuldades em compreender-se algo que não foi claro ou não trouxe suficiência, corroborando a motivação
da pesquisa e a busca de soluções e resoluções para questões diversas.
Desde a ação docente supervisionada à formação continuada, deve-se buscar a aprendizagem e o saber,
acarretando melhorias na reorganização do trabalho, de suas condições e nas perspectivas de uma ação
igualitária.
Saiba mais
Exemplificando uma prática, Montenegro e Fernandez (2015) ofertam uma análise acerca da necessidade
de se romper com visões simplistas, agregando formações construtivistas e focadas na autoformação e
na aprendizagem dos estudantes por meio do Conhecimento Pedagógico do Conteúdo (PCK, na sigla em
inglês), que é reconhecido como aquele que representa o conhecimento profissional dos professores e
se desenvolve na prática e por processos reflexivos.
Saiba mais sobre essa vivência lendo o artigo Processo reflexivo e desenvolvimento do conhecimento
pedagógico do conteúdo numa intervenção formativa com professores de química.
Aula 3
INTRODUÇÃO
Bons estudos!
Um dos sistemas de avaliação em larga escala, o Saeb, Sistema de Avaliação da Educação Básica, possibilitou a
criação de outras avaliações realizadas por estados, municípios e em instituições educacionais, que auxiliam
nas intervenções e aperfeiçoamento de processos.
De acordo com Fernandes e Gremaud (2009), condições relacionadas à transparência, prestação de contas e
interpretações de informações que conduzam à qualidade na educação têm o potencial de produzir novas
orientações que impactam em instituições, sistemas e, principalmente, no trabalho gestor, no docente e na
escolarização do estudante.
Nas últimas décadas, e em decorrência de mudanças nas políticas públicas e da incorporação das análises
advindas dos sistemas de avaliação de larga escala, reorientam práticas, com a perspectiva do atendimento ao
preconizado em normas e legislações educacionais, seja das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN), dos
Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), da BNCC, que é a Base Nacional Curricular, norteando essas ações.
Um dos elementos de maior significância nesse processo, o professor, responsável pela gestão dos processos
de ensino e aprendizagem, precisa ter um desempenho assegurado, dinamizando a aprendizagem, as
avaliações dos processos e a melhoria técnico-comportamental, para que as metas preestabelecidas sejam
alcançadas.
Interações diárias, planejamentos, utilização de métodos, práticas e tecnologias que possam personalizar o
ensino e a aprendizagem, atingindo a todos os estudantes, é uma meta e necessita de aprimoramento
constante e reconhecimento, além de respaldo que lhes dê motivação ao exercício profissional.
Professores, gestores escolares e gestores de administração das políticas públicas oportunizam análises e
táticas decorrentes das avaliações educacionais, influenciando significativamente nas práticas docentes,
notadamente quanto à promoção da melhoria da aprendizagem.
Uma das condições mais discutidas e reconhecida pelos professores é o reconhecimento do trabalho
realizado pelos estudantes, tanto em relação aos saberes transmitidos quanto às mediações e aos exemplos
que remetem a construções de cidadania e reflexões necessárias a um êxito na escolarização e no
desenvolvimento psicossocial.
Luck (2009) refuta essa necessidade, que é inerente ao ser humano e aos trabalhadores em geral, por meio de
reconhecimento que mobilize e motive os professores a exercerem suas ações de forma crítica, ética e com
alto grau de ações exitosas, ressaltando que a avaliação pode indicar caminhos de desenvolvimento que
permitam qualidade e eficácia ao processo educacional.
A gestão escolar tem grande ação no desempenho dos professores, inclusive quanto ao envolvimento de
estudantes, auxiliando na aproximação da família, na melhoria das práticas pedagógicas, relacionamentos
interpessoais entre a equipe profissional, a comunidade e estudantes. Para o desenvolvimento da gestão
democrática, a educação de qualidade precisa prover liberdade e democracia, segundo indica Paro (2000).
Fatores sociais adversos, resultados de avaliações gerais e os índices de violência, falta de letramento,
inserções em empregos mal remunerados e sem possibilidade de desenvolvimento intelectual e pessoal são
escalas que indicam a discrepância entre os dados levantados por meio das avaliações dos sistemas
educacionais, que levam alguns gestores públicos e grande parcela da sociedade a naturalizarem o processo
de exclusão escolar, o que caminha na contramão dos propósitos educacionais.
As avaliações deveriam balizar as estratégias para aperfeiçoar e desenvolver todo o processo de ensino. Nesse
propósito, e alinhadas às reformas administrativas, as políticas públicas educacionais as incorporaram em
larga escala como um instrumento para agregar melhorias às gestões educacionais das redes de ensino em
nosso país e em diversos outros.
No Brasil, há uma padronização dessas avaliações, que permitem nas análises das informações desses
resultados uma fundamentação de políticas e programas educacionais. Alguns teóricos e educadores as
questionam, discutindo a sua validação e a homogeneização tanto das provas quanto do tratamento de
resultados, indicando que há uma heterogeneidade complexa no país, seja pelas diferenças sociais, culturais,
econômicas ou políticas e, principalmente, porque não há garantias de haver um equilíbrio quanto à
escolarização, ao ensino e à aprendizagem no país.
Sousa (2014) e de Oliveira (2010) compreendem a importância das avaliações para o contexto gestor de
políticas públicas, mas questionam pontos como são difundidas e seus resultados são utilizados,
principalmente no que concerne à competição entre instituições educacionais.
Referenciando verificações de qualidade de ensino, elevação de níveis de aprendizagem, autores como Afonso
(2014); Bonamino e Souza (2001) e Castro (2009) indicam diagnósticos, regulações, análises, controles e
monitoramentos tanto de estudantes quanto dos sistemas educacionais, agregando-se o trabalho docente, o
das gestões das instituições educacionais e dos sistemas de ensino municipais e estaduais.
Considerando os pontos positivos e negativos, é importante observar que condições de aplicação, interesses
econômicos, respeito às diferenças e diversidades, profissionais, empresas e gestão de avaliações precisam
ser amplamente observados e auditados, com o intuito de minimizar discrepâncias e considerar as diferenças.
Para além dos professores, todas as variáveis precisam ser consideradas, mas é principalmente nesse
profissional que recaem as condições de melhorias em uso de tecnologias, metodologias e práticas, com a
finalidade do desenvolvimento educacional. Hypólito e Jorge (2020) ressaltam a importância de se trabalhar
todos os conteúdos e não especificamente aqueles que costumam ser cobrados.
Outro questionamento é analisar o sistema educacional como um todo e não somente o rendimento dos
estudantes, contextualizando-se as diferenças nos sistemas educacionais. Deve-se ter cuidado com medidas
injustas, como a perda de autonomia de unidades escolares e de docentes, potencialização de resultados com
base no ensino de estratégias para que se atinjam resultados, como no caso de concursos. Além de condições
socioemocionais e personalísticas quanto ao tipo, em que há pessoas com melhor performance em avaliações
objetivas, enquanto outras, as subjetivas, a premiação às melhores escolas e professores, desconsiderando
aspectos gerais e específicos que podem atrapalhar os resultados, como citam Bauer (2012), Brooke (2013),
Freitas (2013) e Sousa (2008).
Na prática, como citam Bonamino e Oliveira (2013), é perigoso que haja ações para transferir estudantes com
rendimentos baixos ou que necessitem de atendimento educacional especializado, assim como investir
naqueles que têm melhores rendimentos. Há também a condição de agregar-se problemas de saúde física e
emocional pelas condições estressantes, como as pressões decorrentes das avaliações, tanto a professores
quanto gestores e estudantes.
Outra discussão recorrente refere-se à formação docente, reconhecendo-se que não há um preparo
acadêmico da prática docente, tampouco de gestão, havendo, na prática dos serviços, o desenvolvimento
desses perfis profissionais. Assim, os perfis de estudantes, de seus familiares e a contextualização institucional
e social interferem nessa prática e em resultados.
Nóvoa (2009), inclusive, quando discorre sobre as cinco facetas que delineiam o bom professor, indica a
qualidade da formação, da ação pedagógica, dos resultados de aprendizagem, da interrelação com outros
professores, do entendimento da gestão, da condução do aprendizado, do interesse, da interação coletiva e
colaborativa, considerando as questões práticas do desenvolvimento do aprendizado, das práticas docentes,
da qualidade das relações institucionais, dentre outros fatores propositivos, democráticos e interacionais.
As avaliações, tanto de professores quanto gestores, podem guiar os planejamentos, orientar as práticas
escolares, nortear aspectos quantitativos e qualitativos, permitir informações sobre a qualidade do ensino,
ofertar à sociedade transparência e condições de escolha de melhores locais para o desenvolvimento escolar
de seus filhos, incrementar processos educacionais no âmbito profissional – escolas e professores – e também
estudantes e familiares, e mapear as dificuldades, discrepâncias e inadequações do aprendizado individual e
coletivo.
Em termos de inadequações advindas do contexto dos estudantes, há uma indicação quanto ao despreparo
destes em termos de escolarização e também de suas relações interpessoais, incluindo-se aí a falta de ação e
interação das famílias.
Assim, nos contextos expostos, é importante que a relação da gestão escolar com toda a comunidade,
estudantes, professores e familiares expresse qualidade e conduza a um ambiente de aprendizagem
democrático, acolhedor e que proporcione interesse, respeito, protagonismo e motivação para estudar.
Os gestores escolares, com base nas mudanças nos sistemas de ensino, também precisam ser capacitados
continuamente, inclusive sendo suas escolhas para o cargo vinculadas à execução de projetos e atreladas às
suas realizações, que interferem nas preferências da comunidade escolar.
Freire (1997) já apontava para a necessidade de aferição da qualidade da prática pedagógica docente, assim
considerando principalmente o contexto democrático desejado para uma relação crítica e participativa. É
importante que haja uma autogestão e autoavaliação do próprio profissional, no sentido de que ele se
conscientize das mudanças que precisa fazer em sua formação, metodologia de trabalho e interação com os
demais profissionais, estudantes e sociedade em geral.
Freire (1997) ainda alerta que esses propósitos devem permear o compromisso profissional dos professores e,
consequentemente, da gestão escolar, que necessitam de planejamento, organização, avaliação crítica e
revisão de ações práticas, que devem cooptar melhorias e não punição.
VÍDEO RESUMO
Faremos uma análise quanto às avaliações no contexto ensino-aprendizagem, inclusive das avaliações em
larga escala, que têm baseado muitas ações e práticas na gestão de políticas públicas educacionais.
Saiba mais
Ao vivenciarmos uma situação atípica com a pandemia da Covid-19, observamos mudanças e retrocessos
no desenvolvimento educacional de estudantes, assim como na prática docente e na gestão de escolas.
Refletir sobre esse problema, reorganizando nossas práticas, agregando novas condições interacionais e
de desenvolvimento de ações que possam minimizar essas perdas não só fortalecerão a retomada de
condições pessoais e coletivas como proporcionarão ações práticas que auxiliem no desenvolvimento
educacional em nosso país.
Analisando uma prática realizada, vamos refletir quanto ao propósito das avaliações e do
desenvolvimento do saber por meio da leitura de uma experiência do artigo Avaliação escolar em tempos
de pandemia: possibilidades e incontingências.
Aula 4
INTRODUÇÃO
Sem haver quem ensina e quem aprende não pode haver educação. Autonomia, livre manifestação individual
e coletiva. Para aprimorar seus conhecimentos, o ser humano continua a experimentar, criar, inventar e
interagir. Hoje, vivemos um tempo em que é preciso buscar uma nova visão de mundo a cada momento, “[...]
firma-se a convicção de que não só os poderosos ou os técnicos que têm capacidade de descobrir caminhos;
todos temos a sabedoria e este direito não pode ser subtraído das pessoas” (GANDIN, 2004, p. 55).
A questão da autonomia escolar tem sua relatividade mediante as normas e regulamentações previstas na
legislação. Por esse motivo, a gestão corrobora sua liderança quando, ao expor as demandas governamentais,
trabalha com os funcionários e professores mediante uma análise crítica de implementação das leis e normas
de acordo com a realidade escolar. Por outro lado, quando a escola não exerce sua autonomia e faz da
regulamentação oficial uma camisa de força, ela se isola do contexto social, deixa de exercer sua função
participativa e promove internamente a fragmentação setorial.
A autonomia está relacionada à ideia de liberdade, democracia e participação – temas estabelecidos como
direitos constitucionais. A autonomia faz parte da natureza da ação pedagógica e não é conquistada de um dia
para o outro. É preciso deixar claro que todas as mudanças acontecem gradualmente.
A escola vazia, sem estudantes e sem seus pais, é um aglomerado de cadeiras e não cumpre o seu papel. Por
essa razão, são imprescindíveis as alternativas para a criação de um mecanismo que garanta a participação de
todos na gestão escolar. Uma gestão democrática com liberdade e eticidade, como afirma Paulo Freire.
Para alcançar a autonomia, a equipe gestora da escola precisa buscar a participação de fato, e não como mero
discurso. Os passos para uma gestão mais democrática incluem alguns procedimentos, tais como: eleição de
diretores, abertura à participação por meio dos conselhos e colegiados e criação de um fluxo de comunicação
constante entre os diferentes setores.
O convite à participação é uma forma de distribuição de poder. Por essa razão, a equipe gestora precisa saber
ouvir, acolher, dialogar e dispor-se a fazer essa “distribuição”. Gandin (2004) indica os pressupostos da
participação de fato, introduzindo preocupações com o que ele chama de “desastres graves”:
O exercício da democracia e do respeito à autonomia requerem atitudes e convicções que ainda precisam ser
aprendidas. O objetivo da educação básica, na educação infantil, já sinaliza a necessidade de se educar para a
autonomia, porque ela não é inerente ao ser humano, ao contrário, já nasce com extrema dependência dos
pais. Implica conhecimento, discernimento e responsabilidade.
Desde a elaboração das bases curriculares para o curso de Pedagogia (Resolução CNE/CP nº 01 de 15/5/2006)
foi definida uma atuação diferenciada do pedagogo como professor na educação básica, infantil e
fundamental, além de condições de conhecimentos mais amplos (filosóficos, sociológicos, antropológicos) que
lhe permitam conhecer a complexidade do funcionamento da escola e pensar a educação como um todo,
definitivamente como um processo de transformação social com base na educação para e pela cidadania.
A gestão faz parte do fazer docente e a gestão para a concretização dos propósitos de educação para e na
cidadania ocasiona uma atuação democrática, autônoma e participativa.
Para falar da democratização das relações organizacionais no interior da escola destaca-se, acima de tudo, o
compromisso do gestor com a construção desse processo. A administração, na perspectiva coletiva, exige
participação de toda a comunidade escolar. O gestor precisa compreender a dimensão sociopolítica de sua
administração e deve ser sensível à necessidade de uma prática que insira a escola em seu contexto mais
social, político e econômico.
Estamos diante de um momento que implica mudanças radicais na concepção de gestão: “O princípio da
gestão democrática e da autonomia da escola acarreta uma completa mudança do sistema de ensino. Nosso
atual sistema de ensino assenta-se ainda no princípio da centralização” (GADOTTI, 2008, p. 47).
Em relação ao aspecto didático e ao processo de ensino e aprendizagem, o papel da equipe gestora escolar
para a obtenção de resultados positivos perpassa a intervenção no âmbito pedagógico com a participação de
todos os atores da comunidade escolar. Assim, a intervenção da gestão precede:
Participação da formação continuada dos professores por meio das reuniões pedagógicas e incentivo à
participação nos projetos de capacitações.
Acompanhamento da elaboração dos planos de ensino de forma que reflitam a concepção de aplicação
do currículo oficial coerente à realidade da escola.
Aplicação dos recursos materiais e financeiros de acordo com as decisões das necessidades elencadas
pelos professores e comunidade.
Promoção da avaliação de todos os aspectos pedagógicos e curriculares a cada ano letivo para corrigir
falhas e traçar novos rumos (avaliação institucional).
O desafio de uma gestão democrática é fazer a articulação de aspectos como cidadania, autonomia,
democracia, direitos e deveres, mobilizando as pessoas para que se envolvam como protagonistas da
educação em sua região. Um diagnóstico fundamentado em conhecimentos sociais e culturais dos sujeitos
que atuam em determinada área geográfica e as forças que os identificam permite a construção de um
planejamento socializado ou participativo.
Cada escola apresenta sua cultura organizacional própria que se evidencia nas redes estabelecidas e nos
acontecimentos cotidianos. Os conflitos ou associações podem ser melhor entendidos quando se
compreende essa dinâmica interna da comunidade escolar. Entretanto, não se pode crer que a cultura
organizacional seja imutável.
Uma visão sociocrítica consegue identificar os aspectos interligados que envolvem as experiências subjetivas e
culturais das pessoas e transpor esse obstáculo na busca de relações solidárias e participativas, que valorizem
todos esses elementos no processo de planejamento. Afinal, pelo objetivo maior de escolarização da
população, as responsabilidades de cada membro da equipe devem ser respeitadas e cumpridas.
Chama-se de cultura instituída as normas legais, os regimentos, as rotinas, a estrutura organizacional. Já às
regras e normas criadas pela vivência e relação cotidiana dos membros que fazem parte da escola é dado o
nome de cultura instituinte.
A escola é uma instituição organizada como um espaço de cruzamento de culturas. E são essas culturas,
originadas na experiência vivencial de cada ator, que formam sua identidade, sua autonomia e a função de
mediar conhecimentos. A escola, como qualquer outra instituição, desenvolve sua cultura institucional
específica.
A cultura instituída pode trazer experiências positivas e fomentar experiências novas e bem-sucedidas. O
esforço comum para construir a autonomia, a participação e a gestão democrática em diálogo e respeito fará
a diferença para o sucesso ou o fracasso.
Já dissemos antes que a gestão democrática e participativa exige uma formação anterior que visa à
construção da autonomia e cidadania. A autonomia é como a liberdade e basicamente, uma utopia. “Os
‘autonomistas’ são pessoas insatisfeitas. Não porque se sintam frustrados, mas porque a autonomia, como a
liberdade, é um processo sempre inacabado, um horizonte em direção do qual podemos caminhar sempre
sem nunca alcançá-lo definitivamente” (GADOTTI, 2008, p. 43). Em consequência, a cidadania também nos
deixa insatisfeitos, pois é um exercício diário pelo bem comum, e só deixaremos de querer esse bem a todos
quando ele definitivamente estiver acessível.
Um educador fundamental para a compreensão dessa discussão filosófica em torno da educação é Paulo
Freire, autor do livro Pedagogia da autonomia. O projeto Escola Cidadã tem repercussão em vários municípios
brasileiros e merece ser conhecido.
VÍDEO RESUMO
Uma escola pública que procura ser democrática deve estar aberta à sua comunidade e ir além do mínimo
legal, isto é, superar a política educacional prevista no artigo 205 da Constituição Brasileira de 1988. As
dimensões de implementação da organização escolar estão relacionadas com o objetivo de promover
mudanças e transformações no contexto escolar. Estas buscam a transformação das práticas educativas, de
forma a ampliar e melhorar o alcance educacional.
Saiba mais
A gestão democrática é fonte de mobilização e participação nas escolas brasileiras. Que tal se aprofundar
nas atribuições da comunidade enquanto promotores de um ensino de qualidade? Leia o artigo
Transparência e gestão participativa aliadas à qualidade.
Aula 5
REVISÃO DA UNIDADE
15 minutos
Assegurar o direito de todos à escolarização qualitativa, igualitária e que promova o desenvolvimento crítico é
uma perspectiva da gestão democrática e compõe o processo de inclusão.
Garantido constitucionalmente, o direito ao acesso à educação nem sempre é presente e factível nas escolas
já que questões operacionais, técnicas e da ordem de recursos humanos são impeditivos de uma gestão em
que haja uma participação democrática, crítica, participativa e que eleve as condições da oferta de serviços
educacionais de qualidade, em contraposição a estruturas tradicionais excludentes. Dinamicidade e
produtividade são condições que conduzem a melhorias, defesa e vivências democráticas e qualitativas, desde
que haja bom senso, equilíbrio, condições a que todos tenham acesso e condições em desenvolver práticas,
metodologias e participação no processo de ensino e aprendizagem. Para que esse propósito seja atingido,
deve-se ter uma permanente revisão dos processos, das relações, da qualidade dos serviços e do
cumprimento das normas e legislações vigentes. Todos os direitos e deveres precisam contemplar a todos:
estudantes, profissionais atuantes na educação, gestão, família e comunidade em geral.
O fazer pedagógico para a consecução desse objetivo requer um aprendizado constante, daí a importância da
qualificação permanente dos profissionais, da revisão das demandas oriundas das relações com os
estudantes e com a comunidade, mantendo-se uma organização para que todos possam agir, interagir e
trocar, reconhecendo os deveres e direitos pertinentes a todos.
Tanto o projeto político pedagógico quanto o currículo são pontos importantes que balizam essas demandas,
desde que trabalhem todos os pontos importantes ao fazer pedagógico dentro da perspectiva democrática e
possibilitem a interdisciplinaridade, a condução dialógica do educando com o seu próprio meio social e
permitam modificações que melhorem essas expectativas.
Considerando a cultura arraigada da exclusão e dos modelos de tratamento das deficiências, transtornos e
síndromes como incapacitantes, é importante que além da oferta de conteúdos a escolarização se faça com o
aporte de tecnologias, acesso e adaptações que oportunizem a todos o acesso ao conhecimento, respeitando-
se as individualidades.
Dessa forma, não se pode homogeneizar o saber, dado o caráter heterogêneo da sociedade, e reconhecer as
diferenças, os diversos olhares, perspectivas e o próprio senso comum, interagindo com os componentes
científicos que conduzirão à absorção intercultural. Podemos tomar como exemplo a consideração de
componentes culturais regionais no ensino da história, interrelacionando à geopolítica e aos processos
literários. Sob esse ângulo, um estudante da região sul do país poderá compreender as influências
estrangeiras à formação histórica, cultural, social e política da região, tanto quanto o estudante da região
central e o estudante residente no litoral nordestino.
Cabe ao planejamento formulação e execução da oferta das disciplinas que contextualizam os conteúdos e
que sejam ofertados com a mediação prática por meio de recursos pedagógicos modernos e de fácil
compreensão e acesso aos educandos.
REVISÃO DA UNIDADE
Para que se atinja a excelência na qualidade da escolarização, é imprescindível que haja um planejamento
adequado, respeitando-se normativas para a construção de dialogicidade e aprendizado crítico que
amadureça e construa o conhecimento individual, agregando-o ao coletivo, em prol de uma sociedade justa e
interacional.
Currículo, gestão e formação continuada são pontos cruciais e que precisam de revisões e garantias de
capacitações que garantam mudanças de posturas e práticas tradicionais, as que possam agregar
interdisciplinaridade, conhecimento diversificado, crítico e dialógico, respeitando-se e compreendendo-se
todos os tipos de saber com aportes científicos e que garantam a inclusão de todos.
ESTUDO DE CASO
Na parte atitudinal, ofertaram-se várias palestras com profissionais especializados, orientando-se a respeito
de diferentes quadros, promoção de atendimento equitativo e igualitário, compreendendo-se, inclusive, como
acessar serviços de saúde e assistência social que colaboram com um bem-estar e desenvolvimento das
habilidades dos estudantes. Na parte arquitetônica e no design da escola, criaram-se mais espaços
interacionais com acesso a materiais concretos e que permitem a acessibilidade das crianças a espaços,
principalmente de lazer, que não eram antes visitados. Na execução dos planos de ensino, buscou-se uma
interdisciplinaridade para que houvesse um trabalho contínuo e integrado em que pudesse haver um
aproveitamento de temas, trabalhando-se valores coletivos.
Em termos de gestão, observou-se maior organização, com limpeza, utilização de materiais de forma mais
econômica, trabalhando-se com reciclagem, a melhoria nas relações interpessoais e do ânimo dos
profissionais, diminuindo-se, inclusive, os adoecimentos.
Reflita
Como você pode observar, por meio de ações aparentemente simples, mas contínuas e com propósitos
bem delineados, a escola conseguiu melhorar as relações e, consequentemente, o atendimento
educacional.
Essas ações fazem parte de uma concepção da gestão democrática, articulando-se e construindo-se
interações entre a instituição, o corpo funcional da escola e a sociedade, e refletem um trabalho de
médio e longo prazo, que tem uma continuidade e um propósito bem delineado.
Mas como conquistar todos esses propósitos com pessoas que resistam a essas mudanças e dificuldades
do cotidiano quanto a horários, materiais e participação?
Para que haja uma verdadeira gestão democrática, é necessário que todos se conscientizem em prol de ações
que promovam a escolarização, com interações entre profissionais, estudantes, famílias, sociedade em geral e
todo o corpo funcional das escolas.
Embora se fale da gestão democrática, na prática várias ações contínuas são desconsideradas, havendo
muitas atuações estanques, ou seja, trabalham-se os assuntos de forma individualizada, enquanto, na
verdade, a gestão inclusiva deveria balizar caminhos para novos projetos e desafios cada vez menos
pontuados na deficiência e mais repletos de possibilidades.
Enquanto o foco for esse ou naquele assunto, tornando-os “problemas”, são oferecidas poucas soluções e
possibilidades que tragam inovações, metodologias e práticas que integrem os diversos saberes e agreguem
todos os envolvidos, desde educandos até a comunidade.
Lograr êxito nesse tipo de projeto, quando não se tem a adesão das pessoas, deve ser por meio de ações
contínuas, já que esse é o principal propósito da educação. Assim, o sistema educacional precisa preparar
seus atores para proporcionarem projetos que intermedeiem esse desenvolvimento coletivo, que acarretará
mudanças e desenvolvimento individual e coletivo.
O processo educacional tradicional não intervém, apenas repassa e avalia. Já o processo educacional
democrático deve trabalhar as questões sociais, institucionais e educacionais, desdobrando-se em resoluções,
em diferenciais que levem a mudanças qualitativas, críticas e que utilizem o saber como meio de se atingir a
plenitude no conhecimento científico.
Enquanto os estudantes com deficiências, síndromes ou transtornos forem atendidos sem uma interação
educacional inclusiva, a educação especial não será bem-sucedida. Incluir não é permitir apenas condições
arquitetônicas e tampouco elementos de tecnologia assistiva. Mais do que tudo, é trabalhar-se a equidade.
Sempre colocando-se no lugar do outro, de suas dificuldades, de suas necessidades, dos processos que
possam proporcionar o saber de forma integral. Respeitando-se as individualidades e a heterogeneidade é
que poderemos efetivamente educar na diversidade, com mediação e respeito, então muito temos a estudar
avaliar, reavaliar e fazer acontecer.
RESUMO VISUAL
REFERÊNCIAS
09 minutos
Aula 1
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Aula 5
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Imagem de capa: Storyset e ShutterStock.
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Referências
Aula 1
INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
É importante ressaltar o conceito de projeto educativo e visão teórica, as bases legais e os princípios
norteadores para a construção do projeto político. Começamos nosso conteúdo tendo como ponto de partida
a importância da instituição construir seu projeto político pedagógico de forma colaborativa, participativa e
engajada, fatores essenciais para fortalecer os parâmetros educacionais. Sendo assim, o Projeto Político
Pedagógico (PPP) é um documento que reúne os objetivos, metas e diretrizes de uma escola. Ele deve ser
elaborado obrigatoriamente por toda instituição de ensino, segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB). Um dos objetivos do PPP é promover a autonomia na gestão administrativa e pedagógica, por
meio de ações que se adequam à realidade, identidade, diversidade cultural e religiosa de cada instituição
escolar – além de considerar a especificidade de cada escola. Dessa forma, é importante ressaltar que o PPP
também fortalece a identidade escolar. Vamos ao conteúdo e bons estudos!
DEFINIÇÕES IMPORTANTES SOBRE O PPP
Um dos principais documentos norteadores do trabalho pedagógico de uma instituição de ensino é o Projeto
Político Pedagógico, também conhecido por PPP. Esse documento corresponde a um conjunto de diretrizes
organizacionais e operacionais que expressam e orientam as práticas pedagógicas e administrativas da escola,
conforme as normas do sistema educacional.
O projeto político pedagógico é instrumento de gestão fundamental para a transformação da escola, que lhe
dá identidade própria, autonomia e favorece a agregação de esforços para cumprir com efetividade sua
função social. É importante considerar no projeto político pedagógico as singularidades e a participação de
todos os sujeitos da comunidade escolar, dando ênfase à participação, criatividade, liberdade de expressão,
capacidade reflexiva e a própria dinâmica dos envolvidos.
Projeto: reúne propostas de ações concretas a serem executadas durante determinado período de
tempo. Está constantemente em construção.
O Projeto Político Pedagógico é o plano global da instituição. Pode ser entendido como a
sistematização, nunca definitiva, de um processo de Planejamento Participativo, que se
aperfeiçoa e se concretiza na caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa
que se quer realizar. É um instrumento teórico-metodológico para a intervenção e
mudança da realidade. É um elemento de organização e integração da atividade prática da
instituição neste processo de transformação.
— (VASCONCELLOS, 2014, p. 169)
Dessa forma, destaca-se a importância da participação da comunidade escolar nos processos de gestão da
escola, dos quais o PPP é um elemento tanto norteador como aglutinador. Oito anos depois do
estabelecimento do princípio da gestão democrática na Constituição Federal, foi promulgada a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), n.º 9.394/96. Essa lei estabeleceu diretrizes que definem os
princípios, as finalidades, as intenções e os objetivos da educação em nosso país vigentes nos dias atuais.
Dessa lei, destaca-se o artigo 12, o qual define que “os estabelecimentos de ensino, respeitando as normas
comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica”
(BRASIL, 1996).
MISSÃO E VALORES EDUCACIONAIS NA CONSTRUÇÃO DO PPP
É importante compreender que cada escola é livre para elaborar o PPP de acordo com os próprios
parâmetros. Porém, alguns pontos podem ajudar na construção do documento. Entre eles está o
envolvimento de toda a comunidade escolar. Assim, entende-se que o PPP deve ser elaborado de forma
coletiva e colaborativa, incluindo todos os agentes da comunidade escolar e também pais e professores.
Desse modo, a escola precisa definir de que forma ocorrerá a colaboração. A elaboração do PPP por meio de
um conselho de classe é viável, no entanto, a escola pode realizar reuniões e outros métodos que melhor se
adequem à realidade da comunidade escolar.
Outro fator importante que deve ser destacado no Projeto Político Pedagógico é a definição da missão e visão
da escola. Da mesma forma que uma empresa, a escola deve definir sua missão e valores, assim como sua
razão de existir. Portanto, é essencial que eles sejam objetivos e condizentes com o restante do PPP, já que a
escola não poderá mudá-los por um tempo determinado. É importante também evitar afirmações genéricas
ou que estejam fora do escopo do plano de ação da escola.
Outro aspecto importante é avaliar os indicadores educacionais da escola. Dessa forma, antes de começar a
traçar o plano de ação para os projetos, a escola precisa coletar e avaliar os indicadores educacionais, com o
entendimento de como está o processo de aprendizagem e rendimento escolar dos estudantes, servindo
como guia na elaboração do PPP. Um exemplo desse aspecto pode ser compreendido da seguinte forma: uma
escola verifica que o 3° ano do ensino médio teve um índice de evasão de 20% no último ano. Mediante essa
estatística, desenvolve-se uma estratégia, tendo como meta diminuir para 10% esse índice, elaborando tarefas
que possam ajudar a escola a alcançar esse objetivo.
É necessário ressaltar que o PPP deve ser constantemente atualizado, de acordo com os métodos de ensino-
aprendizagem, trabalhando sempre com a realidade do contexto social em que está situada a escola e sua
comunidade, acompanhando ainda as evoluções tecnológicas que emergem com rapidez na era digital.
Portanto, o Projeto Político Pedagógico não é uma ação individual de membros da instituição de ensino, mas
sim um construto com a participação de todos que estão inseridos no contexto social em que a escola se
encontra, tais como estudantes, pais, funcionários, educadores etc. Sendo assim, é importante que a escola
não tenha no PPP um documento que fica dentro de uma gaveta, atendendo apenas a uma burocracia. É
importante entendê-lo como uma ferramenta facilitadora no processo da construção do conhecimento,
projetando-o como de grande valor no princípio da organização social, cultural e educativa da comunidade
(SILVA et al., 2016).
Tais autores mencionam as reflexões de Libâneo, expondo a importância de se construir um PPP com
estratégias educacionais:
É importante reforçar que o Projeto Político Pedagógico é diferente e único em cada instituição, podendo
haver flexibilização quanto ao conteúdo. No entanto, ele deve seguir três pilares básicos que serão
contextualizados em nossa aula seguinte.
Quanto ao princípio da igualdade, segundo Veiga (2013, p. 16), “a igualdade de oportunidades, mais do que a
expansão quantitativa de ofertas, necessita da ampliação do atendimento com simultânea manutenção de
qualidade”. Isso quer dizer: acesso, permanência com sucesso escolar.
Quanto ao princípio da qualidade, Veiga (2013) também menciona que o desafio do PPP é propiciar uma
educação de qualidade para todos, não sendo um privilégio de minorias econômicas e sociais, além de
assegurar um padrão mínimo de qualidade para a instituição de ensino.
Já o princípio da liberdade está associado à ideia de autonomia, a qual nos remete para regras e orientações
criadas pelos próprios sujeitos da ação educativa, sem imposições externas. A liberdade deve ser considerada,
também, como liberdade para aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a arte e o saber direcionados para uma
intencionalidade definida coletivamente.
De acordo com Medel (2008, p. 54), “a autonomia refere-se à capacidade de governar e de dirigir-se dentro de
certos limites definidos pela legislação e pelos órgãos do sistema educacional, auxiliando os vários atores a
estabelecerem os caminhos que a escola define para percorrer”. Vale destacar que quanto mais a instituição
de ensino adquire autonomia e competência mais responsabilidade ela assume mediante o compromisso
com a comunidade.
Com relação ao princípio da valorização, é essencial destacar, também de acordo com a percepção de Veiga
(2013), que a qualidade de educação está diretamente relacionada à formação inicial e continuada, assim
como com as condições de trabalho e remuneração dos profissionais do magistério.
Como verificamos, o projeto político pedagógico é de suma importância para formar e enriquecer a discussão
e a reflexão sobre qual modelo de escola que queremos e como ela vai atuar na efetivação do seu
planejamento de trabalho, por meio da participação e comprometimento com a relação sociedade-escola,
buscando inovação a cada planejamento.
VÍDEO RESUMO
Nesta aula vamos verificar conceitos essenciais para se compreender a importância do Projeto Político
Pedagógico, assim como os parâmetros norteadores para se construir, de forma colaborativa e participativa,
esse importante instrumento educacional. Vamos destacar que o PPP guia as ações que podem aprimorar o
processo de aprendizagem dos estudantes, ajudando a melhorar índices educacionais de uma escola, como a
taxa de evasão e reprovação. Mas, para isso, é preciso haver a participação de todos os envolvidos da
comunidade escolar.
Saiba mais
Para complementar sua compreensão do tema, verifique o podcast Projeto Político-Pedagógico: uma
construção cooperativa do conhecimento. Neste episódio você poderá compreender outros aspectos
importantes a serem considerados. Boa audição!
Aula 2
INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
Dialogicidade: Característica do que é dialógico, dialogal, daquilo que se efetua por meio do diálogo, de uma
interação comunicativa, da conversa.
Flexibilidade: Qualidade de flexível, facilmente dobrado; maleável; ágil e se move com facilidade; qualidade
de quem é compreensivo, dócil: agiu com flexibilidade diante dos seus problemas.
De acordo com Oliveira (2017, p. 3), “o diálogo no pensamento educacional de Paulo Freire foi elaborado
tendo por base o processo de conhecimento humano”.
Para o educador Paulo Freire (1980, p. 67), o mundo humano é de comunicação: “comunicar é comunicar-se
em torno do significado significante” e a “comunicação é diálogo, assim como o diálogo é comunicativo”.
Sendo assim, o contexto da dialogicidade por meio do diálogo se evidencia, tendo como importância a
comunicação no processo do conhecer humano, da humanização das relações.
Já a flexibilidade no contexto educacional pode ser analisada no contexto apresentado por Veiga (2009),
referindo-se à necessidade de se afirmar que o projeto político-pedagógico é pautado em uma reflexão acerca
da concepção de educação e sua relação com a sociedade e a escola, não deixando de refletir sobre o homem
a ser formado, as questões vinculadas à cidadania, ao trabalho e à consciência crítica.
Referente ao contexto da intencionalidade, Mendanha (2015, p. 30-31) ressalta que “quando todos estão
abertos ao diálogo, gera um sentimento de pertencimento favorecendo assim o trabalho pedagógico na
intencionalidade de aprimorar o conhecimento do educando através da busca de uma constante de formação
continuada”.
Vale ainda a percepção do educador Paulo Freire apud Oliveira (2015), que nos apresenta uma importante
reflexão:
Para Freire (1980), homens e mulheres são sujeitos do conhecimento, mas a relação de
conhecimento (gnosiológica) não está reduzida à relação sujeito-objeto, porque há uma
relação intercomunicativa entre os sujeitos. Por meio da intersubjetividade, estabelece-se
a comunicação entre os sujeitos sobre o objeto. Assim, há uma coparticipação dos sujeitos
no ato de conhecer por meio da comunicação, sendo o objeto o mediador dessa relação
entre os sujeitos. O ser humano conhece porque é um corpo consciente, cuja consciência
está intencionada ao mundo, “é consciência de”, estando em constante relação dialética
com esse mundo. O ser humano conhece e transforma o mundo e sofre os efeitos de sua
própria transformação. No ato de conhecimento, os sujeitos cointencionados ao objeto de
seu conhecimento comunicam o seu conteúdo por meio de sistema linguístico.
— (FREIRE, 1980, apud OLIVEIRA, 2017, p. 3)
Portanto, estabelecida a relação conceitual dos termos abordados, veremos a seguir mais abordagens
importantes
ÀS MUDANÇAS
Na construção do Projeto Político Pedagógico é preciso dialogar, planejar, organizar, avaliar e adaptar-se às
mudanças sociais no tempo e no espaço. Guimarães (2007, p. 23) desenvolveu um importante estudo sobre as
Contribuições da Dialogicidade para a construção do Trabalho Coletivo na escola. Segundo a pesquisadora, “o
processo educativo é uma ação prática dos seres humanos na construção da sua identidade social-histórica,
que acontece no diálogo das relações entre os sujeitos sociais”. Guimarães (2007) ainda enfatiza que
A existência humana acontece nas relações nas quais os homens se educam uns aos
outros pelo diálogo. O diálogo se faz dentro desse movimento de construção da história e
da cultura que é o mundo humano, o mundo da práxis, ou seja, se faz entre os homens, no
seu convívio social, familiar, profissional, problematizado. Nesse sentido, o conceito de
diálogo para Paulo Freire (1977) vai além de uma ação comunicativa entre as pessoas, é o
resultado da ação – reflexão de suas práticas, que são retomadas e modificadas (práxis).
Quando a palavra pronunciada no diálogo é resultado da práxis, então é palavra
verdadeira que resulta da conscientização de uma realidade desse homem. Nesse sentido,
não há dominador nem dominado, mas o compartilhar da leitura do mundo; não há o que
deposita palavras no outro, mas o diálogo dos que pronunciam a palavra juntos, e ambos
se libertam, sem sobreposição de um sobre o outro. Não há libertação de uns enquanto
existir dominação de outros.”
— (GUIMARÃES, 2007, p. 23)
Reforçando as referências de Veiga (1995), citadas por Campos et al., (2005, p. 4) “o Projeto Político Pedagógico
não é mais um documento construído no espaço escolar com o objetivo de se realizar uma tarefa
simplesmente burocrática”, como já foi mencionado. Dessa forma, compreende-se que
[...] o Projeto Político Pedagógico deve ser construído e vivenciado em todos os momentos
e por todos os envolvidos no projeto da escola. O projeto, portanto, busca um rumo, uma
direção. É uma ação intencional com um sentido explícito, com um compromisso definido
coletivamente. Por isso o Projeto Político Pedagógico da escola é, também, um projeto
político, por estar intimamente articulado ao compromisso sócio-político com os interesses
reais e coletivos da população majoritária. É político no sentido de compromisso com a
formação do cidadão para um tipo de sociedade. É pedagógico, no sentido de definir as
ações educativas e as características necessárias às escolas de cumprirem seus propósitos
e sua intencionalidade. Assim, sendo político e pedagógico tem a significação
indissociável.
— (CAMPOS et al., 2005, p. 4)
Dessa forma, é essencial refletir o que os pesquisadores enalteceram, de acordo com o embasamento legal,
expondo o contexto da intencionalidade e tendo como referência também as abordagens da pesquisadora
Ilma Veiga:
A nova LDB, Lei n 9.394/96, prevê no seu artigo 12, inciso I, “os estabelecimentos de
ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência
de elaborar e executar sua proposta pedagógica”. Esse preceito legal está sustentado na
ideia de que a escola deve assumir, como uma de suas principais tarefas, o trabalho de
refletir sobre a intencionalidade educativa.
— (CAMPOS et al., 2005, p. 5)
Portanto, intenção, reflexão e diálogo são estratégias essenciais na construção de um projeto político
pedagógico pautado na participação e integração dos protagonistas do ensino e do aprendizado.
EDUCAR
É importante ressaltar as reflexões de Guimarães (2007) acerca do processo educativo, colocando em prática
a essência de educar de forma libertadora, segundo Paulo Freire:
Freire nos mostra a sua preocupação com os objetivos da educação que praticamos e com
os rumos que ela possibilita e oferece aos indivíduos. Uma formação de consciências
ingênuas ou uma formação para a conscientização, para a análise crítica da sua realidade.
A educação problematizadora freiriana é a possibilitadora desse movimento de
conscientização que se faz pelo questionamento, pela dúvida, e não por informar ao
homem o que se passa no mundo. A essa educação Freire chama de libertadora.
Educadores e educandos são sujeitos no ato de problematizar a realidade para, de forma
crítica, retornar a essa mesma realidade, agora desvelada, modificando-a. É a educação
pelo e para o diálogo. Essa educação libertadora tem como princípio a dialogicidade, que é
a ação mediadora do processo de conscientização. A dialogicidade é a dinâmica da práxis
libertadora, ou seja, é o diálogo conscientizador.
— (GUIMARÃES, 2007, p. 30-31)
É importante ressaltar ainda as reflexões de Schnorr (2005), abordando Paulo Freire e as reflexões sobre a
dialogicidade:
Referenciando mais uma vez o educador Paulo Freire, é imprescindível compreendermos que
A dialogicidade é a dinâmica mediadora do diálogo para a transformação. É agir e refletir
sobre a ação realizada com o outro para a superação das situações opressoras que afetam
o coletivo. É compartilhar a palavra que resulta da práxis. A dialogicidade só é possível
num ambiente democrático, de convivência com as diversidades culturais, numa posição
horizontal de opiniões, ou seja, é a convivência dos diferentes para a superação das
dificuldades de todo o grupo. Então não é possível estabelecer uma relação de domínio
entre os participantes do grupo, já que: “Nosso papel não é falar ao povo sobre a nossa
visão de mundo, ou tentar impô-la a ele, mas dialogar com ele sobre a sua e a nossa”.
— (FREIRE, 1977, p. 102)
Portanto, podemos considerar que a dialogicidade é norteadora para a construção de um projeto político
pedagógico voltado para a práxis, propondo as mudanças necessárias pautadas na autêntica intencionalidade
da transformação social, por meio de seus agentes transformadores: gestores, professores, educandos,
responsáveis e a comunidade em geral.
VÍDEO RESUMO
Neste vídeo vamos abordar os três conceitos essenciais desta aula: a dialogicidade, a flexibilidade e a
intencionalidade. Vamos compreender como o diálogo, a intenção e a adaptação da realidade são essenciais
na construção do projeto político pedagógico. Educar dialogando, intencionalidade educativa e flexibilidade
frente às transformações sociais são práticas importantes que iremos referenciar. Bons estudos!
Saiba mais
Propomos que você ouça dois podcasts com muitas reflexões acerca das principais ideais do renomado
educador Paulo Freire, considerado patrono da educação brasileira.
No primeiro podcast, Breve reflexão sobre a dialogicidade na concepção de Paulo Freire é abordado
como o diálogo é um mecanismo essencial para que a educação aconteça.
O segundo podcast, Paulo Freire e a dialogicidade como prática para o aprendizado, também dedicado
ao educador brasileiro, enfatiza a importância do diálogo como prática pedagógica e da educação como
forma de conscientização.
Aula 3
INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
Nesta aula vamos abordar o contexto do projeto educativo como ferramenta de conexão e articulação para
compreender o sujeito em toda sua complexidade. Além disso, ressaltaremos os valores socioculturais
significativos à formação completa do estudante. É importante também mencionar a abordagem do Projeto
Educativo e as reformas do ensino médio no contexto da contemporaneidade brasileira. Tendo como
referência o título desta aula, o Projeto Educativo e a educação integral, pretende-se inserir nas discussões a
importância da educação para a formação de uma identidade cidadã. Dessa forma, retoma-se o debate sobre
a construção do Projeto Político Pedagógico, sendo possível assegurar a efetivação de um ensino de qualidade
enquanto prática de gestão democrática. Bons estudos!
Pensar em uma educação de qualidade é refletir sobre a humanização das relações e o papel dos educadores
e da escola na construção da identidades de sujeitos capazes de transformar o mundo. Fazendo referências
aos estudos de Pelissa (2014), é importante mencionar seu trabalho, no qual aborda a trajetória da educação
integral no Brasil.
A autora faz referência ao grande educador e pensador Anísio Teixeira, contextualizando sua luta por uma
educação laica e gratuita. Quanto aos debates da educação integral, o trabalho de Pelissa (2014) também traz
contribuições sobre o Projeto Político Pedagógico:
[...] o repensar; a realidade na qual desenvolve sua ação; visão de sociedade; homem;
educação; escola; currículo; ensino e aprendizagem, o Projeto Político-Pedagógico
necessita contemplar o respeito às diferenças e as consequentes transformações sociais.
Seu processo de construção deve ser visto como instrumento de organização dos sujeitos
sociais dentro da escola, não apenas como construção de um documento. É preciso olhar
de perto a escola, seus sujeitos, sua complexidade, fazendo as indagações sobre as
condições concretas, sua história e organização. Por fim, do gestor na escola de tempo
integral, se requer muita responsabilidade para atender os desejos e as expectativas da
comunidade escolar.
— (PELISSA, 2014, p. 4)
Outra importante discussão necessária é a questão que envolve as reformas do ensino médio. A lei 13.415
(BRASIL, 2017), que trata da reforma do ensino médio, entre outras providências, determinou a progressiva
ampliação da carga horária dessa etapa da educação básica até tornar-se ensino de tempo integral. Essa
ampliação veio acompanhada pelo estabelecimento da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como
documento que “definirá direitos e objetivos de aprendizagem do Ensino Médio”. Nesse contexto, impôs limite
ao cumprimento da BNCC, que não deve ser superior a 1.800 horas, o que gerou aos sistemas de ensino
escolher de quantas e quais disciplinas ofertar aos estudantes, excetuando-se as que são obrigatórias:
Português, Matemática e Inglês. As mudanças apresentaram o que se denominou inovação para compor o
currículo, também em forma de flexibilização, na criação dos chamados itinerários formativos, com cinco
arranjos curriculares a serem organizados pelos sistemas de ensino, segundo relevância que atribuam e
possibilidades que tenham em ofertá-los. Assim, parte da carga horária deve ser destinada à BNCC, até um
máximo de 1.800 horas, e a outra parte para itinerários formativos (BRASIL, 2017).
Portanto, tais temáticas precisam ser debatidas, frente às mudanças ocorridas desde que a lei 13.415
começou a ser implantada, até a contemporaneidade, passando por um desgoverno federal, de 2018 a 2022,
que sucateou a educação brasileira, porém vislumbrando novas reformas ou revogações.
Kuenzer (2019), analisando a temática das reformas no ensino médio, expõe a abordagem:
[...] a flexibilização do Ensino Médio como uma das expressões do projeto pedagógico do
regime de acumulação flexível, cuja lógica continua sendo a distribuição desigual do
conhecimento, porém com uma forma diferenciada. Seu objetivo é a formação de
subjetividades flexíveis que se submetam à precarização do trabalho, naturalizando a
instabilidade, a insegurança e a desregulamentação em nome da suposta autonomia de
escolha. Do ponto de vista ontológico, o artigo aponta que a reforma do Ensino Médio
responde ao alinhamento da formação ao regime de acumulação flexível. Do ponto de
vista epistemológico, confronta a concepção de práxis que orientou a elaboração das
diretrizes curriculares em 2012, com as dimensões de individualismo, fragmentação,
presentismo e pragmatismo presentes nas novas diretrizes.
— (KUENZER, 2019, p. 57)
Dessa forma, compreendemos que uma educação valorizada contribui para a resolução de vários problemas
sociais. Já o contrário contribui para a desqualificação profissional de milhares de jovens, sem mencionar a
depreciação das práticas laborais de milhares de educadores.
No debate sobre Educação Integral nos dias atuais, há dois vieses à sua implementação. O
primeiro tem por fundamentação aspectos referentes às concepções do início do século
XX, como a jornada ampliada realizada no espaço intraescolar. O segundo viés, propõe
entre outros aspectos, que a jornada ampliada acontece no espaço escolar e em outros
espaços educativos. A escola é o centro do processo educacional, mas não é o único
espaço de aprendizagem. É necessária a ampliação do espaço escolar como o espaço
educativo; as famílias e a comunidade devem ser parceiras do processo de ensino-
aprendizagem. Outra característica é a intersetorialidade das políticas públicas, que
possibilitam uma maior oferta de recursos humanos, físicos e financeiros à educação.
— (PELISSA, p. 9, 2014)
A escola tem o potencial necessário para uma ação central na articulação intersetorial,
entre o poder público, a comunidade, as entidades e associações da sociedade civil e o
sistema produtivo local, no convite à construção de um projeto ético de educação e
cidadania para todos. [...] a educação acontece em diferentes esferas da sociedade, em
tempos e espaços diversos de organização das cidades e de suas comunidades, sendo
necessário um grande movimento, também da instituição escolar, no sentido da
construção de um Projeto Político-Pedagógico que contemple princípios e ações
compartilhadas na direção de uma educação.
— (PACHECO, p. 5, 2008)
É preciso cautela com a ideia de que a escola não é atraente aos jovens, pois ao lado dessa afirmação
poderíamos perguntar: o que é atraente a esse estudante? Pode ser aquilo que lhe traz perspectivas,
possibilidades formadoras. Ou podem ser também lógicas deformadoras? Assim, o principal desafio da escola
está não só em tentar convergir com os interesses dos jovens, mas em educar seus próprios interesses. Os
estudantes, vindos de sua realidade — seja qual for, de uma vida burguesa, sofisticada, cara, ou de uma vida
pobre, de carência — vão trazer os interesses que foram produzidos por essa realidade. Não cabe à escola
retificá-los ou se adequar a eles (PELISSA, 2014).
Ainda segundo Pelissa (2014), no modelo de gestão democrática a construção do Projeto Político Pedagógico
acredita na viabilização de propostas compartilhadas, de ações que estimulem a inovação e a expressão das
várias dimensões das identidades dos sujeitos que o constroem. Isso só terá êxito se a escola der condições
de um fecundo diálogo com todos os seus segmentos, proporcionando a liberdade de expressar suas
identidades (social, ética e política).
Nessa perspectiva, entende-se que cabe à escola defender as necessidades formativas dos estudantes,
vislumbrando um projeto de sociedade com base em um currículo escolar. Pensar esse currículo nas
dimensões da vida do estudante implica trazer a ciência, o conhecimento, o trabalho e a cultura em todas as
suas dimensões – a cultura juvenil, da mídia, erudita. É preciso haver, primeiro, um confronto para se poder
construir o encontro entre projeto educacional e interesses do estudante (PELISSA, 2014).
VÍDEO RESUMO
Neste vídeo vamos abordar as principais temáticas expostas nesta aula e refletir sobre a importância da
educação integral e a valorização da educação. O contexto de ter como base a construção de um Projeto
Político Pedagógico, engajado com os valores socioculturais do grupo de criação deste PPP, é essencial para se
pensar em estratégias que efetivamente contribuam para a formação dos sujeitos como cidadãos. Portanto,
aperte o play e bons estudos!
Saiba mais
Vamos ouvir alguns podcasts interessantes sobre os conteúdos abordados? Como você já deve ter
percebido, sempre utilizamos podcasts neste espaço.
Dessa forma, seguem alguns para que você saiba mais sobre o tema:
Podcast 1 – O assunto
Descrição do episódio: Aprovada em 2017, a lei que instituiu a reforma do ensino médio estabeleceu que
o novo currículo seria obrigatório a partir de 2022. Concluído o ano letivo que se passou, os primeiros
problemas se apresentaram em escolas de todo o país. Agora, diante da ampliação do currículo prevista
para este ano e para 2024, o chefe do Ministério da Educação tem sido pressionado para revogar o
modelo vigente. Para apresentar os erros e acertos do novo ensino médio, Natuza Nery entrevista a
pedagoga Anna Helena Altenfelder, doutora em psicologia da educação e presidente do Cenpec (Centro
de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária).
Neste episódio: Anna afirma que é fundamental repensar o formato educacional, com mais liberdade de
escolha aos estudantes e levando em conta o mundo do trabalho. Mas lembra que o modelo já
apresentava “lacunas importantes” desde o início. Ela apresenta também os dois principais problemas do
novo ensino médio, como está previsto: a desigualdade de oportunidades para os estudantes e a falta de
estrutura, apoio e treinamento para professores e gestores. A pedagoga explica por que a reforma traz o
grande risco de estados trabalharem muito isoladamente – e sugere a criação de um sistema nacional de
educação, nos moldes do SUS.
Podcast 2 – Brasil Educação
Episódio: Ameaças de ataques às escolas: como lidar com o medo e propagar a paz no ambiente
escolar.
Descrição do episódio: Nas últimas semanas, o Brasil viveu um aumento de ameaças de ataques voltados
às escolas, resultando no medo de frequentar o ambiente escolar e até mesmo no cancelamento de
aulas. Neste episódio você confere o contexto das ações extremistas na internet, as formas como as
escolas podem se proteger e a maneira com que elas devem lidar com o pânico de sua equipe, famílias e
estudantes, visando à construção de uma escola segura. Participou deste bate-papo Helena Vieira,
escritora, professora e pesquisadora do Monitor do Debate Político no Meio Digital, da USP.
Descrição do episódio: Práticas pedagógicas que envolvem arte, cultura e vivências podem ser
transformadoras enquanto permitem que os estudantes possam vivenciar novas perspectivas, ideias e
conceitos. Para entender um pouco mais sobre esse tema, recebemos três profissionais incríveis que
desenvolvem práticas educacionais importantes e necessárias em diferentes regiões do país: Bárbara
Rainara, pedagoga e mestra em educação brasileira, Marcos Antônio, professor, graduado em História,
pós-graduado em educação de jovens e adultos para a juventude, e Mildred Sotero, professora de
educação física e mestra em pedagogia do movimento humano pela Escola de Educação Física e Esporte
da USP. Neste podcast você vai compreender um pouco mais a importância de uma educação
democrática e antirracista.
Aula 4
INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
Nesta última aula vamos focalizar os paradigmas, preconceitos e vivências a serem superadas na educação
brasileira, tendo como base a importância da construção do trabalho colaborativo no contexto de um projeto
político pedagógico, ressaltando também algumas práticas exitosas do projeto educativo. Dessa forma, vamos
enaltecer exemplos que foram aplicados em algumas instituições na construção de uma base educacional
democrática e edificante. Quanto às práticas exitosas, estas dizem respeito aos êxitos alcançados para se
trabalhar uma educação de qualidade, democrática, participativa, inclusiva, valorizando a diversidade, a escola
integral e os valores que humanizam as relações. Serão pontuadas também mais algumas caraterísticas e
roteiros importantes para a construção do PPP. Bons estudos!
É importante começarmos o debate dos conteúdos desta aula ressaltando o protagonismo da escola,
instituição que desempenha um importante papel para a vida em sociedade. Devemos sempre refletir sobre a
organização de um trabalho pedagógico bem estruturado para a comunidade a qual faz parte, sendo
necessário investigar como se elabora e se implementa sua proposta pedagógica em benefício de um ensino
de qualidade.
Para Veiga (2013), o projeto pedagógico exige profunda reflexão das finalidades da escola, considerando qual
seu papel social, qual caminho seguir, formas operacionais e ações a serem empreendidas pelos envolvidos
com o processo educativo. Seu processo de construção abrange crenças, convicções, conhecimentos da
comunidade escolar, do contexto social e científico, constituindo-se em compromisso político e pedagógico
coletivo. Deve ser construído com base nas diferenças existentes entre seus atores, sejam eles professores,
equipe técnico-administrativa, estudantes, pais ou representantes da comunidade local. Portanto, a
pesquisadora ressalta que o projeto pedagógico é fruto de reflexão e investigação.
Veiga (2013) ainda aponta que na execução de um projeto político pedagógico de qualidade é importante
considerar as seguintes particularidades:
a) nasce da própria realidade, tendo como suporte a explicitação das causas dos
problemas e das situações nas quais tais problemas aparecem;
Recordando novamente Campos et al. (2015), é importante ressaltar neste contexto a autonomia da escola na
construção do Projeto Político Pedagógico. Segundo os autores, o PPP é a própria autonomia pedagógica,
consistindo na liberdade de ensino e de pesquisa. Essa autonomia está ligada à identidade, à função social, à
clientela, à organização curricular, à avaliação, bem como aos resultados. A autonomia pedagógica diz
respeito às medidas essencialmente pedagógicas necessárias ao trabalho de elaboração, desenvolvimento e
avaliação do Projeto Político Pedagógico, em consonância com as políticas públicas vigentes e as orientações
dos sistemas de ensino (CAMPOS et al., 2015).
Frente aos desafios da educação brasileira, construir um Projeto Político Pedagógico democrático é essencial.
De acordo com Pelissa (2014), existem vários caminhos para a construção do Projeto Político Pedagógico. Os
movimentos do processo de construção do projeto são marcados por três atos bem diferentes, porém
interdependentes:
1 -O ato situacional que descreve a realidade na qual desenvolvemos nossa ação; é o
descobrimento da realidade sócio-política, econômica, educacional e ocupacional.
Representa ir além da percepção imediata. É o momento de fazer aparecer os conflitos e
as contradições postas pela prática pedagógica, também é o momento de aprender o seu
movimento interno, podendo reconfigurá-la, sendo fortalecida pela reflexão teórico-
prática.
3 - O ato operacional nos orienta o quanto e o como realizar nossa ação. Chegou o
momento de nos posicionarmos com relação às atividades a serem assumidas para
transformar a realidade da escola, como atingir nossas finalidades, nossos objetivos e
nossas metas. Na operacionalização do projeto pedagógico, faz-se a verificação se as
decisões foram acertadas ou erradas, o que é preciso revisar ou reformular. Pode-se
tornar necessário tanto alterar determinadas decisões quanto introduzir ações
completamente novas.
— (PELISSA, 2014, p. 31 e 32)
Veiga (2013) aponta importantes sugestões para qualificar as ações mobilizadoras e propulsoras de novas
maneiras de pensar o projeto político-pedagógico:
- lutar pela valorização dos profissionais da educação, fortalecendo sua formação inicial e
continuada, propiciando melhores condições do trabalho (salário, concurso para ingresso,
tempo remunerado para atividades pedagógicas fora de sala de aula etc.);
- entender que os alunos provenientes das classes populares são sujeitos concretos que
tem uma rica experiência e possuidores de diferentes saberes;
Dessa forma, a escola atua como um espaço de construção coletiva no qual o poder de decisão e as
responsabilidades são compartilhados, objetivando difundir no âmbito escolar uma nova postura pertinente a
um ensino de qualidade (CAMPOS et al., 2015).
PLANEJAMENTO E AÇÕES PARA A ELABORAÇÃO DO PPP
O contexto da avaliação da construção do PPP é de suma importância. Conforme Pelissa (2014, p. 32), “os
movimentos avaliativos partem da necessidade de conhecer a realidade escolar para explicar e compreender
as causas da existência dos problemas, bem como suas relações e as mudanças possíveis, propondo ações
alternativas (criação coletiva)”. Nessa perspectiva, reconhece-se que a avaliação é ação fundamental para a
garantia do êxito do projeto. Como é parte integrante do processo de construção do projeto, é compreendida
como responsabilidade coletiva. Portanto, a avaliação interna e sistemática é essencial para a redefinição, a
correção e o aprimoramento de rumos.
Pelissa (2014) também pontua que houve avanços significativos na prática pedagógica de muitas escolas. Tais
avanços relacionam-se aos seguintes aspectos: o papel da escola, dos professores, dos estudantes, pais, as
condições de trabalho, a gestão e o projeto político-pedagógico, a política educacional.
É necessário reforçar mais orientações de Veiga (2013) no que se refere ao contexto da construção do projeto
político pedagógico, cabendo à escola:
Organizar a pesquisa.
Capacitar docentes e técnicos por meio de cursos, seminários e estágios em universidades e centros de
formação de professores.
Estabelecer critérios e normas de seleção, admissão e promoção de seus estudantes e da matrícula dos
transferidos.
Fazer articulação com outras instituições, tais como: associações culturais, científicas e sindicais, a fim de
garantir aos professores e grupos de pesquisa a liberdade de elaborar projetos.
Definir os problemas relevantes, sujeitos à avaliação dos seus pares da comunidade interna.
1. Contextualização da escola
Aspectos sociais, econômicos, culturais, geográficos.
Breve história da escola (como surgiu, como vem funcionando, administração, gestão,
participação dos professores, visão que os estudantes têm dela, pais, escola e comunidade).
Definição de prioridades.
Aspectos administrativos.
Aspectos financeiros.
6. Proposta curricular
Fundamentos sociológicos, psicológicos, culturais, epistemológicos, pedagógico.
Organização curricular (da escola, das séries ou dos ciclos, plano de ensino da disciplina).
objetivos, conteúdos amplos, desenvolvimento metodológico, avaliação da aprendizagem.
8. Proposta de trabalho com pais, com a comunidade e com outras escolas de uma mesma área
geográfica.
Antes de finalizarmos este conteúdo, é necessário reforçar mais algumas características do PPP e suas
respectivas definições, apresentadas no Quadro 2:
Abrangência Global: funciona como “guarda-chuva”, que abarca outros projetos de ação. Deve ser
amplo, capaz de possibilitar a unidade e organicidade das atividades desenvolvidas
na escola. Também deve assegurar a articulação coesa entre o específico e o geral,
funcionando como pano de fundo de todos os processos.
Duração Longa: com ações previstas para o ano letivo e outras que necessitam de um maior
tempo para exigir o desenvolvimento de uma mudança de cultura. O Marco
Situacional e o Marco Operacional devem ser revisitados no início de cada ano letivo,
pois a realidade escolar pode se alterar, precisando do planejamento de novas ações
em curto e médio prazos. Já o Marco Conceitual, por ser composto de concepções,
apresenta uma duração maior, mas deve ser retomado ocasionalmente, para
atender aos princípios e legislações educacionais vigentes.
Participação Coletiva: deve primar pelo envolvimento efetivo dos vários segmentos que compõem
a escola (estudantes, pais, professores, diretores, funcionários e representantes da
comunidade local).
Portanto, a construção do Projeto Político Pedagógico é um ato deliberado dos sujeitos envolvidos com o
processo educativo da escola. É preciso muita seriedade e compromisso social para se efetivar tal construção,
que será “resultado de um processo debate, cuja concepção demanda não só tempo, mas também estudo,
reflexão e aprendizagem de trabalho coletivo” (CAMPOS et al., p. 26), sendo que sua elaboração, dessa forma,
poderá contribuir para a construção das identidades dos sujeitos, nas dimensões sociais, éticas e políticas, em
uma perspectiva crítica, reflexiva e transformadora.
VÍDEO RESUMO
No vídeo desta aula vamos abordar a importância da dinâmica colaborativa para se construir um projeto
político pedagógico, ressaltando também algumas práticas exitosas do projeto educativo. Assim, traremos
orientações importantes de ações e planejamentos que devem ser tomados, de acordo com cada realidade
institucional. Vamos ressaltar que a construção do Projeto Político Pedagógico pela equipe escolar pressupõe
a existência de autonomia de modo a se eliminarem relações verticalizadas entre a escola e os dirigentes
educacionais e dentro dela própria. Bons estudos!
Saiba mais
No que se refere à importância do Projeto Político Pedagógico, vale a pena analisar o seguinte contexto:
Segundo Danilo Gandin (2001, p. 88-89), o primeiro nível é o da colaboração, o segundo é o de decisão e
o terceiro é o de construção em conjunto.
Para compreender melhor, leia o artigo A posição do planejamento participativo entre as ferramentas de
intervenção na realidade.
Confira também o texto de Liliana Correia Interação Família-Escola: Papel da família no processo ensino-
aprendizagem. Nesse artigo, a pesquisadora expõe a relação escola e família e as possibilidades de
superação nesse convívio, no intuito de promover uma educação de qualidade em que todos os sujeitos
escolares participem de forma responsável no processo educativo.
Agora, um podcast para finalizar essas dicas do Saiba mais, podcast #01, da série chamada Dicionário
Pedagógico, que fala sobre planejamentos da educação e plano de ação.
Aula 5
REVISÃO DA UNIDADE
19 minutos
PPP
Olá, estudante!
Nesta unidade contextualizamos o conceito de projeto educativo por meio de visão teórica, inserindo como
referência as bases legais e os princípios norteadores para a construção do projeto político. O ponto de
partida de nosso conteúdo apontou a importância de uma instituição para construir seu projeto político
pedagógico de forma colaborativa, participativa e engajada, fatores essenciais para fortalecer os parâmetros
educacionais. Sendo assim, o PPP, ou Projeto Político Pedagógico, é um documento que reúne os objetivos,
metas e diretrizes de uma escola. Ele deve ser elaborado obrigatoriamente por toda instituição de ensino,
segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Um dos objetivos do PPP é promover a
autonomia na gestão administrativa e pedagógica por meio de ações que se adequem à realidade, identidade,
diversidade cultural e religiosa de cada instituição escolar – além de considerar a especificidade de cada
escola. Dessa forma, é importante ressaltar que o PPP também fortalece a identidade escolar.
Outro aspecto trabalhado em nossa unidade foi definir os conceitos de dialogicidade, flexibilidade e
intencionalidade na construção coletiva do projeto político pedagógico da escola, considerando a
representatividade da comunidade escolar. É importante estabelecer a relação desses conceitos, pautados em
um processo democrático e participativo do PPP. O diálogo estabelecido no ambiente escolar é tão
importante quanto poder se adaptar às mudanças sociais, sendo flexível. Da mesma forma, o projeto político
pedagógico deve estar imbuído de uma clara intenção para atingir seus objetivos e metas, tendo como foco o
ensino a aprendizagem. Os profissionais precisam se envolver e conhecer de fato a concepção das propostas
do PPP, podendo, dessa forma, direcionar todas as ações de forma estratégica, seguindo um planejamento
educacional.
Outra importante abordagem foi associar o contexto do projeto educativo como ferramenta de conexão e
articulação para compreender o sujeito em toda sua complexidade, ressaltando os valores socioculturais
significativos à formação completa do estudante. Mencionamos as reformas do ensino médio, no contexto da
contemporaneidade brasileira. O projeto educativo, perpassado por uma educação integral, alcança as
discussões sobre a importância da educação para a formação de uma identidade cidadã, assegurando a
efetivação de um ensino de qualidade enquanto prática de gestão democrática.
Por fim, também reforçamos a importância da construção do trabalho colaborativo no contexto de um projeto
político pedagógico. Assim, focamos em exemplos de planejamentos e roteiros que foram aplicados em
algumas instituições na construção de uma base educacional democrática e edificante. Quanto às práticas
exitosas, estas dizem respeito aos êxitos alcançados para se trabalhar uma educação de qualidade,
democrática, participativa, inclusiva, valorizando a diversidade, a escola integral e os valores que humanizam
as relações. Serão pontuadas também mais algumas caraterísticas e roteiros importantes para a construção
do PPP.
REVISÃO DA UNIDADE
Neste vídeo nos concentramos em aspectos importantes para a gestão educacional democrática. Partimos do
conceito de PPP, aprofundamos seu embasamento legal, mencionamos premissas importantes, como a
dialogicidade no contexto educacional, além de propor uma reflexão sobre educação integral, planejamento e
construção do trabalho colaborativo na base educacional. Esperamos que este conteúdo possa lhe causar
impacto junto à sua conduta como educador. Bons estudos!
ESTUDO DE CASO
O Projeto Político Pedagógico (PPP) é um dos principais documentos norteadores do trabalho pedagógico da
escola e que deve ser elaborado de forma coletiva e dialógica, fundamentando o exercício e a construção da
identidade institucional no princípio democrático. Esse documento corresponde a um conjunto de diretrizes
organizacionais e operacionais que expressam e orientam as práticas pedagógicas e administrativas da escola,
conforme as normas do sistema educacional.
É importante também considerar que a concepção de um projeto pedagógico de qualidade deve apresentar
as seguintes características essenciais:
Preocupar-se em instaurar uma forma de organização do trabalho pedagógico que desvele os conflitos e
as contradições.
Explicitar princípios baseados na autonomia da escola, na solidariedade entre seus agentes educativos e
no estímulo à participação de todos no projeto comum e coletivo.
Imagine que você se candidatou ao cargo de direção de uma escola e resolve propor como um de seus
objetivos no plano de ação reestruturar o Projeto Político-Pedagógico (PPP), porém com um grande desafio:
mobilizar a comunidade escolar para participar desse processo, uma vez que ela está bem distante da
instituição escolar.
Dessa forma, quais estratégias, enquanto gestor pedagógico você pode utilizar na mobilização da comunidade
escolar para a participação do processo de reestruturação do PPP?
A LDBEN nº 9.394/96 aponta a necessidade de que a escola elabore, execute e avalie seu próprio PPP, tendo
como pressuposto a articulação e a construção de espaços participativos, enfatizando ainda sua produção
coletiva, apontando o caminho que se deve trilhar, alcançando sua função social. O PPP deve estar vinculado
às políticas nacionais, às diretrizes estaduais e municipais, considerando a realidade da escola.
Pensar o PPP é pensar na escola – o que está longe de ser somente uma atividade burocrática. A partir do
momento que esse documento está articulado às necessidades da população que atende, suas concepções e
ações de trabalho passam a estar relacionadas com a possibilidade de emancipação e transformação social
pelo viés da educação.
Reflita
Na LDBEN n.º 9.394/96 estão incluídos três grandes eixos relacionados à construção do PPP, que podem
ser analisados também na perspectiva da reconstrução:
Eixo da flexibilidade: vinculado à autonomia, possibilita que a escola organize seu próprio trabalho
pedagógico.
Eixo de avaliação: reforça um aspecto importante a ser observado nos diversos níveis do ensino
público.
Estratégias essenciais:
Chamar todos os segmentos para reuniões com pauta antecipada, as quais devem ser realizadas em
diferentes horários e dias, para que todos possam participar e, a partir das demandas levantadas,
elaborar um diagnóstico das situações que servirão de subsídios para a reestruturação do PPP.
Informar e conscientizar a comunidade de que o PPP é o principal documento norteador das ações
da escola e para que ele tenha legitimidade, considerando o princípio da gestão democrática, deverá
ser reelaborado com a participação de todos.
Estabelecer um compromisso junto à comunidade, em que cada segmento possa pactuar as suas
responsabilidades.
Estabelecer prazos para dar retorno à comunidade, demonstrando que a participação de todos na
reestruturação do documento é de grande importância, pois, ao ser construído coletivamente,
permite que os diversos sujeitos se expressem.
Pensando nos três atos a se considerar na construção ou reconstrução do PPP, deve-se considerar algumas
reflexões:
Ato conceitual: diz respeito à concepção ou visão de sociedade, homem, educação, escola, currículo,
ensino e aprendizagem. Diante da realidade situada, retratada, constatada e documentada.
Ato operacional: orienta-nos quanto à realização da ação. É o momento de nos posicionarmos com
relação às atividades a serem assumidas para transformar a realidade da escola. Implica também a
tomada de decisão de como vamos atingir nossas finalidades, nossos objetivos e nossas metas. As
decisões básicas para a execução dizem respeito à proposição de medidas de ação coletiva, no sentido
do aperfeiçoamento do ato operacional.
Desse modo, importantes ações podem ser tomadas nesse processo de reconstrução do PPP, combinando
estratégias de cunho mais individual (como carta-convite para participação) com estratégias coletivas
(seminários, palestras etc.). Tais estratégias de mobilização poderão ser definidas a partir de algumas
questões de referência:
Para responder aos questionamentos anteriores, os diretores escolares precisam conhecer a escola e a
comunidade e, acima de tudo, conhecer as percepções de todos os segmentos quanto à instituição de ensino.
Assim, algumas questões podem ajudar nesse processo de (re)conhecimento da escola:
Portanto, a partir dessas reflexões a gestão educacional de uma instituição se coloca em permanente sintonia
com a sua realidade, possibilitando maior envolvimento e compromisso com o que a comunidade escolar
necessita e almeja alcançar. Assim, é preciso que o PPP seja um documento vivo e conhecido por você.
Somente o conhecendo poderá valorizá-lo frente à comunidade escolar.
RESUMO VISUAL
Aula 1
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Aula 2
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Aula 4
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Aula 5
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Imagem de capa: Storyset e ShutterStock.
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Referências
Aula 1
INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
Sabemos que os desafios enfrentados pela educação brasileira são muitos. Dentre todos os obstáculos que
comumente já conhecemos, mensurar se o ensino está acontecendo com qualidade é um grande desafio.
Nesta aula, o tema acerca da gestão pedagógica será abordado em consonância com a qualidade, portanto
reflita: como um gestor pedagógico pode promover boas ações para alcançar a qualidade que se espera
dentro da sua escola?
CONCEPÇÃO DE QUALIDADE DE ACORDO COM AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS
A educação é uma prática indispensável na vida de qualquer pessoa. É por meio dela que compreendemos
aspectos, conceitos e fundamentos individuais ou coletivos que nos permitem ser quem nós somos,
desenvolver habilidades e exercer funções sociais. Assim, é preciso reconhecer que a educação se organiza
por meio de algumas representações e se materializa na escola como educação formal e em outros
ambientes, ou até mesmo grupos sociais, que complementam os saberes necessários para a nossa existência.
Ao trazer nosso olhar para a educação escolar, entendemos que culturalmente temos uma estrutura que
desde muito tempo está definida, de modo que o conhecimento de conteúdos específicos nos faça evoluir ao
longo de níveis e de acordo com a faixa etária que nos encontramos. Para Dourado et al. (2007), pensar essa
sistematização é, também, analisar as formas com que a educação se constitui, ou seja, quais são seus
parâmetros, suas propostas, suas finalidades e até mesmo suas conquistas e necessidades. Então, é preciso
considerar o que são as políticas educacionais, já que falar sobre política é falar sobre os modos de
organização em sociedade. Nesse entendimento podemos compreender a educação em uma visão macro.
Araújo (2010) afirma que as políticas são respostas do Estado para mitigar os problemas sociais, portanto as
ações de origem governamental buscam, de algum modo, resolver questões que geram descontrole na
sociedade. Segundo essa perspectiva, podemos compreender que as políticas educacionais são criadas por
meio do viés da melhoria da educação em todas as suas dimensões, que podem abranger as mais variadas
esferas, desde o ensino básico até o ensino superior, atingindo as instituições públicas e/ou privadas.
Conforme Oliveira (2010), nas últimas décadas no Brasil, a discussão sobre as políticas educacionais tem
tomado grandes proporções, afinal, a participação pública da sociedade está levando os governos a
repensarem ações que visam elevar a qualidade da educação brasileira. Portanto, a influência da atuação
gerada por meio de movimentos estudantis, das escolas, das famílias e de outros agentes que fazem parte
desse cenário é algo extremamente necessário, pois permite que os problemas aos quais esses indivíduos
têm contato sirvam para a conscientização de toda a população, tornando-a, assim, parte de uma
problemática coletiva.
Falar sobre qualidade na educação não é uma tarefa tão fácil, já que existem uma série de fatores em que é
preciso se debruçar para reconhecer quais são os empecilhos que afetam a realidade educacional. Por isso,
como a escola é focada na instrução de pessoas e tem como missão ser uma instituição componente de um
sistema reprodutor de cultura, recai sobre ela toda a responsabilidade de gerar reflexão e transformação,
com base em um trabalho ordenado, que olhe para a realidade que temos e proponha soluções. Todavia,
sabemos que toda essa situação não é tão fácil e muitos obstáculos impedem que tenhamos capacidade de
cumprir com as necessidades básicas de aprendizado que os estudantes apresentam.
Alguns aspectos, inclusive, que podem ser determinantes para que alcancemos qualidade na educação, estão
diretamente relacionadas com as políticas públicas educacionais, tais como a valorização do corpo docente
por meio de formação continuada e condições de trabalho, o investimento financeiro em infraestrutura das
escolas e em materiais e recursos didáticos, o desenvolvimento de uma matriz curricular que considere
diferentes contextos, visando reduzir desigualdades, o investimento em capacitação e recursos para a
viabilidade da gestão administrativa, o acesso a diferentes profissionais de áreas complementares, dentre
outras características. É por meio dessa reflexão que podemos pensar sobre qual é o ponto que queremos
chegar quando o assunto é fazer educação de qualidade.
CONCEPÇÃO DE QUALIDADE ADOTADA NO PROJETO EDUCATIVO
É muito importante falarmos da qualidade na educação, afinal, ao pensar sobre esse assunto, muitas são as
reflexões que podem ser geradas, já que é possível se apropriar de diferentes critérios para classificar a nossa
educação como sendo algo de muito valor social e que carrega características de excelência ou não. Algumas
dimensões podem ainda auxiliar nessa qualificação, tendo como base parâmetros internacionais, nacionais,
regionais e até mesmo locais, quando se referem à qualidade ou desempenho de escolas específicas, por
exemplo.
Para amenizar essa dicotomia do conceito de qualidade no âmbito educacional, muitos estudos e avaliações
embasaram novas perspectivas. Para tanto, o Boletim da Unesco (2003, p. 12 apud Dourado, 2007, p. 9)
utilizou a relação insumos-processos-resultados para definir a terminologia “educação de qualidade”. Por isso,
podemos constatar que compreender a qualidade da educação é saber que há uma “relação entre os recursos
materiais e humanos, bem como a partir da relação que ocorre na escola e na sala de aula, ou seja, os
processos de ensino aprendizagem, os currículos, as expectativas de aprendizagem com relação à
aprendizagem” (DOURADO, p. 9).
Já em uma visão delimitada, para Silva (2009, p. 225 apud VASQUES, p. 108), dizer que uma escola tem
qualidade é dizer que ela está atenta para um conjunto de elementos socioeconômicos e culturais que
envolvem as famílias, os estudantes, as políticas públicas e os projetos sociais, valorizando seus professores e
adquirindo reconhecimento na sociedade. E é diante desse cenário que a gestão pedagógica assume um
papel de extrema importância, pois, segundo uma pesquisa realizada por pesquisadores da Fundação Getúlio
Vargas em entrevista a diretores escolares em dez escolas do estado de São Paulo, as ações de qualidade nas
escolas podem estar diretamente relacionadas com as ações de seus gestores, que são os responsáveis por
aplicar estratégias e aprimorar competências cujo foco é o desempenho das escolas e do ensino.
Portanto, o gestor escolar que entende bem o seu papel para o êxito dos processos que acontecem na escola
se dedica a organizar seu trabalho em concordância com o projeto educativo, que leva em consideração as
características da escola, servindo para apoiar a gestão escolar em suas ações estratégicas na condução dos
professores, no desenvolvimento do trabalho pedagógico e permite que os estudantes contem com uma
proposta de ensino criada em consonância com toda a comunidade escolar (CASANOVA, 2014).
É fato que a gestão escolar representa um dos pilares que sustentam a escola, pois, diante de todo o cenário o
qual o serviço de diretores, coordenadores, supervisores e outras funções que atuam nesse âmbito estão
inseridos, precisamos também reconhecer que existem pontos de observação bem expressivos que podem
demonstrar algumas lacunas, caso haja relatos preponderantes de fracasso em aspectos institucionais, ou
podem deixar evidentes também o êxito obtido por meio de boas ações e articulação do trabalho
desenvolvido pela administração da escola.
Abrucio ([s. d.], p. 45) destaca que entender a função da gestão escolar mediante a qualidade da educação é
compreender que uma das principais métricas para essa análise é o desempenho dos estudantes. Por essa
razão, é necessário que as atividades e processos que acontecem no interior da escola estejam sempre
direcionados a gerar condições para que os discentes construam o conhecimento, e dessa forma, há de se
refletir sobre quais são as estratégias que permitem mesclar ações que mediante objetivos predefinidos
direcionam as pessoas para colher bons resultados. Loro (2009, p. 17) afirma que essa é uma característica de
gestão que envolve um panorama bem democrático, já que abrange segmentos como a direção, os
professores, os funcionários da escola em geral, as famílias, os estudantes e toda a comunidade.
Ao falar em qualidade na educação de forma concreta, sem dúvida, deve-se também considerar que, para que
isso aconteça, esforços bem direcionados devem ser empregados, dentre eles aspectos que visam o
gerenciamento dos recursos humanos, como o investimento na formação docente, a articulação do trabalho e
da carga horária dos professores demandam atenção dos gestores pedagógicos, além de elementos que
compõem a infraestrutura, como as condições do espaço físico que compreende as salas de aula, a biblioteca,
os laboratórios, as áreas de convivência e de outras práticas educativas e a mobilização de insumos
(DOURADO et al., 2007).
Não se pode esquecer ainda que além das atividades supracitadas a gestão pedagógica deve levar em
consideração que a sua escola em especial será avaliada dentro de índices avaliativos em larga escala, que são
definidos a fim de verificar quais são os níveis de qualidade dos processos educativos que acontecem no
interior das práticas de ensino. Por isso, é preciso acompanhar os sistemas de ensino aos quais se insere. No
Brasil, por exemplo, algumas avaliações, como o SAEB, o ENEM e o ENCCEJA acontecem de forma nacional.
Existem também exames realizados pelos estados e municípios que permitem aos governos avaliar a
qualidade da educação em cada uma das dimensões, direcionando recursos financeiros e elaborando
políticas educacionais.
Desse modo, pensar o papel do gestor pedagógico diante da responsabilidade de proporcionar o ensino com
qualidade é identificar que a sua posição frente a todos os agentes que fazem parte da escola demanda uma
postura de liderança, competência, planejamento, articulação e constante análise de suas próprias ações. Essa
visão sistemática da instituição de ensino, com a identificação daquilo que é oportunidade e das deficiências
enfrentadas, certamente, permitirão alcançar os objetivos desejados. Dentre as funções, mobilizar pessoas e
meios para promover a aprendizagem dos estudantes deve ser sempre o ponto alto da escola e de seus
gestores.
VÍDEO RESUMO
No vídeo a seguir , será possível aprofundar os conhecimentos acerca da importância do papel do gestor
escolar no desenvolvimento do trabalho educativo para gerar bons resultados, afinal, é preciso que esse
profissional tenha um perfil adequado para atuar diante dos problemas do cotidiano escolar. Visando articular
estratégias e administrar os recursos que estão disponíveis.
Saiba mais
Quando a gestão pedagógica busca articular aspectos administrativos, financeiros e pedagógicos na
prática cotidiana da escola de maneira competente, sem dúvida ela alcança resultados muito positivos.
Todos esses elementos são fundamentais para garantir a qualidade do trabalho que se faz na escola,
mediante um objetivo maior, que é o de promover a aprendizagem, independentemente do perfil dos
estudantes. Desse modo, um dos principais fatores que auxiliam os gestores a aplicar estratégias com
sucesso é o constante interesse por se qualificar e reconhecer novas possibilidades de resolver os
problemas que surgem no ambiente escolar.
Para repensar a prática da gestão aplicando métodos eficazes, conheça o conteúdo Gestão da Qualidade.
Sem dúvida, o tema 7 deste e-book possibilitará a reflexão sobre ferramentas que podem facilitar o
trabalho da gestão pedagógica.
Aula 2
O OLHAR PEDAGÓGICO SOBRE A PRÁXIS EDUCATIVA - II
Nesta aula, será possível entender as atribuições dos gestores escolares e seu papel fundamental na
articulação de diferentes âmbitos da escola.
16 minutos
INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
Muitas são as abordagens que permitem compreender a gestão pedagógica dentre suas responsabilidades,
sua relevância no espaço escolar e até mesmo o quanto é indispensável para que haja um trabalho educativo
de qualidade.
Por isso, olhar para a escola como um todo é não somente compreender os aspectos pedagógicos, mas saber
que sem uma devida administração os objetivos educacionais de ensino não serão alcançados, afinal, tudo na
escola precisa estar em sintonia e mobilização.
Nesta aula, será possível entender as atribuições dos gestores escolares e seu papel fundamental na
articulação de diferentes âmbitos da escola. Sendo assim, reflita: para você, quais as práticas que garantem ao
gestor escolar a plena articulação e mediação de equipes e recursos?
Muitas são as práticas, os elementos e recursos que precisam ser mobilizados quando o assunto é o
funcionamento de uma instituição escolar, e não é segredo que nesses locais os desafios são imensos. A
escola é um ambiente criado para promover as mais diversas experiências de aprendizagem e convivência
para os estudantes e, para isso, é fundamental que o trabalho de todos os agentes que a compõem seja bem
direcionado e planejado de maneira eficaz, para que o vínculo entre os aspectos pedagógicos e os
administrativos seja forte e produza bons resultados.
Conforme Lück (2009), a responsabilidade da gestão pedagógica mediante uma identidade, que seja
carregada de fundamentos e condutas condizentes com a realidade escolar, consiste em conduzir ações
focadas na construção do conhecimento, para que os estudantes possam exercer a plena cidadania. Dessa
forma, permitir que esses indivíduos tenham voz ativa dentro da escola, para praticar sua autonomia,
compreendendo seus deveres e capacidades, gera um caráter de colaboração entre todos aqueles que
compõem a escola.
Para Rocha (2014), todos os principais atributos que compõem uma escola que incentiva a participação de
seus componentes se iniciam por meio do gestor, pois é ele quem deve buscar meios de interação, de
promoção do senso de coletividade e da intenção de valorizar o ser humano. Por essa razão, dentre os seus
maiores desafios está a articulação das equipes de trabalho na escola, para que os estudantes tenham uma
formação ampla, focada em seu desenvolvimento integral e no aprimoramento de suas habilidades para o
futuro.
Diante de todas essas colocações, para fortalecer a cultura da escola não é preciso olhar apenas para
aspectos internos, mas também para o que acontece na sociedade como um todo e que impacta diretamente
a vida dos estudantes, por isso, cabe aos gestores pedagógicos trabalhar constantemente as melhorias e
buscar aplicar inovação para a educação, para que, assim, o processo educativo ofertado ande em
consonância com a realidade do mundo. Diante disso, uma gestão democrática tem como preocupação
promover, acima de tudo, a emancipação da instituição de ensino que está sob sua responsabilidade, seja na
esfera financeira, administrativa e/ou pedagógica (BETTONI; PERUCHIN, 2008).
MEDIAÇÃO CURRÍCULO-PROFESSORES-PRÁXIS
Para que haja êxito no funcionamento de uma escola, algumas ações cotidianas precisam ser constantes,
sendo assim, a gestão pedagógica envolve um conjunto de procedimentos que contemplam vários aspectos
importantes do cenário educativo. Pensando em questões que garantam a qualidade do ensino, é
fundamental ir além dos conteúdos oferecidos e ao encontro das necessidades que se apresentam em vários
níveis. Para tanto, planejar ações que busquem articular todos os setores da escola, mantendo o clima
organizacional da instituição é uma função característica do gestor pedagógico.
Em todas as dimensões de sua atuação, um ponto fundamental é essencial ao trabalho da gestão pedagógica:
o planejamento e o acompanhamento das estratégias políticas institucionais. Portanto, dentre as propostas
de evidenciar uma gestão democrática, a construção do currículo de forma participativa permite que os
trabalhadores da escola entendam a responsabilidade que possuem em facilitar novas vivências para os
estudantes. Uma proposta curricular da escola não incorpora apenas os interesses educacionais, mas sim
outras identificações que perpassam a vida dos estudantes.
Diante dessa perspectiva, debruçar-se sobre o currículo é considerar as necessidades da escola, suas
potencialidades e condições, afinal ele é quem sustenta o trabalho docente, tornando viável a educação com
qualidade (BARRETO et al. 2019, p. 25). Logo, um dos principais questionamentos da equipe de gestores
pedagógicos deve estar centrado no debate da acessibilidade de conhecimentos que são fundamentais aos
estudantes. Isso só é possível se os professores forem bem capacitados, se tiverem clareza de sua função e de
todo o contexto no qual a escola está inserida.
Assim, entender a relação que acontece entre o professor e os gestores pedagógicos é, acima de tudo,
enxergar um vínculo existente entre pessoas que, independentemente das tarefas que executam no processo
educativo e do grau de responsabilidade que carregam, compartilham objetivos comuns, sendo essa uma
união baseada na cooperação. Para Honorato (2018), os gestores pedagógicos, ao terem funções de liderança,
servem para os professores como direcionadores, influenciando, mobilizando, incentivando, articulando e
inspirando a criação e o desenvolvimento, como foco no futuro.
No âmbito da práxis da gestão pedagógica, muitas situações cotidianas demandam uma rápida tomada de
decisão para o abrandamento dos problemas, por isso pensar o antes, o durante e o depois das atividades
promove o entendimento que essa dimensão da escola compreende um meio, não um fim.
Consequentemente, está relacionada a ações transformadoras, que rompem com o que é habitual,
evidenciando a importância da escola como espaço de reflexão, desenvolvimento e participação social,
construída por meio de relacionamentos saudáveis e oportunidades de aprendizagem e experiências.
ARTICULAÇÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVO-CURRICULAR-PEDAGÓGICA
Em linhas gerais, para compreender o trabalho realizado pela gestão pedagógica é preciso reconhecer que
essa dimensão envolve ações de gerenciamento da instituição escolar, em sintonia com as diretrizes e
políticas educacionais. Seu objetivo é conduzir o projeto político pedagógico por meio do compromisso com a
democracia e com os métodos de autonomia, que sugerem soluções específicas, compartilhamento e controle
da qualidade através de constantes avaliações. Por isso, o exercício da atividade gestora na escola implica a
convivência e a interlocução entre as pessoas que compõem esse ambiente (NEVES, 2014).
A educação é uma prática necessária para a vida do ser humano, e por ser tão abrangente exige a mobilização
de vários âmbitos sociais, que visam à sua execução com eficácia. Dessa forma, para que todo o processo
educativo que acontece na escola se efetue, precisamos olhar para algumas contribuições de modo a
reconhecer as dimensões que direcionam o trabalho da escola. Uma dessas características se concentra por
meio do Projeto Político Pedagógico (PPP), que tem como objetivo deixar claras as intenções e os planos
futuros para a instituição, considerando o estudante como principal sujeito no processo ensino-
aprendizagem.
Para Loro (2009), o PPP é um documento que exige rigor na sua construção coletiva, pois é resultado de
escolhas, de conhecimentos e de propósitos, direcionando o planejamento geral de ensino, os planos de aula,
os projetos educacionais e todas as outras estratégias que são mobilizadas para promover conhecimento aos
estudantes. Sendo assim, dentre os fundamentos de elaboração, estão alguns princípios que vão ao encontro
de questões éticas, de autonomia, de responsabilidade, de solidariedade e de respeito ao bem comum, dos
direitos e deveres da cidadania, de criticidade, de sensibilidade, de criatividade e de diversidade.
Em uma visão administrativa, é preciso reconhecer a função que os gestores pedagógicos exercem dentro
desse âmbito. Conforme Paro (2010, p. 765 apud LIMA et al. 2020, [s. p.]), o conceito de administração não
está restrito às atividades isoladas, mas sim perpassa toda a trajetória de busca por alcançar certos objetivos.
Isso não se refere apenas a atividades exercidas por setores específicos da escola, como a direção ou a
secretaria, por exemplo, mas está dentro de todo o processo educativo. Por esse motivo, a gestão pedagógica
se conecta tanto a questões organizacionais quanto pedagógicas.
Por conseguinte, o corpo docente também se inclui dentro da administração escolar, pois participa da
organização e execução do currículo, que conduz à formação dos indivíduos. Assim, é fundamental que os
professores estejam próximos aos seus estudantes e a equipe gestora seja próxima a ambos esses agentes,
como uma tríade. Toda essa conjuntura serve para promover um currículo integrado implementando ações
para gerar o aprendizado, reconhecer as necessidades dos estudantes e também para identificar as
necessidades e potencialidades dos docentes, já que a proposta política, curricular e pedagógica da escola
deve sempre integrar disposições reais.
VÍDEO RESUMO
No vídeo a seguir , será possível reconhecer a ação da gestão pedagógica para influenciar toda a escola na
efetivação de uma identidade que seja conectada com o currículo, com as características da própria
comunidade escolar e que favoreça o conhecimento acima de tudo, associando tanto questões políticas
quanto sociais e educacionais.
Saiba mais
O campo da gestão pedagógica tem ganhado relevância nos estudos da educação e na obra de vários
autores contemporâneos. Desse modo, é possível constatar que as atribuições da administração escolar
com a articulação das partes que compõem uma instituição de ensino devem sempre ser focadas nos
resultados que consideram o conjunto de pessoas envolvidas.
Por esse motivo, buscar que a escola seja um espaço de desenvolvimento e aprendizagem é permitir a
atuação de todos aqueles que fazem desse ambiente um lugar educativo. Para conhecer mais sobre as
responsabilidades dos gestores pedagógicos, acesse o livro Currículo e Gestão Educacional.
Aula 3
INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
Devemos pensar também em quais são os agentes mobilizados para que o processo educativo possa fluir
dentro e fora da escola, afinal, para além dos conteúdos, os estudantes têm contato com práticas
educacionais que os permitem desenvolver diversas habilidades.
Portanto, para além de possibilitar aprendizagem de forma programática, reflita: como a escola pode
contribuir para gerar transformação na sociedade?
É inegável que a escola possui funções muito importantes na sociedade. Sendo um espaço de conhecimento e
aprendizado, permite que as pessoas se desenvolvam em diferentes âmbitos de suas vidas, seja de forma
particular ou coletiva. É nesse ambiente que, ainda enquanto crianças, somos expostos a desafios de
convivência, de autoconhecimento e de reconhecimento do mundo em que vivemos. Em nossos dias, a escola
é pensada para fornecer aos estudantes o contato direto com informações e práticas importantes dos
aspectos sociais, da natureza, e, sobretudo, de outros fenômenos que influem diretamente na nossa
sobrevivência.
Para Ferreira e Souza (2004), em uma análise histórica da contribuição social da escola, esta instituição
contribuiu ao longo do tempo até mesmo para o entendimento da infância e a valorização das crianças no
ciclo familiar. No Brasil, no início do século XX, por exemplo, os governos viam nas creches a possibilidade de
combate à pobreza e à mortalidade infantil, e ao longo do tempo as políticas foram se modificando, como na
Constituição Federal de 1988, por exemplo, em que as crianças passaram a ser consideradas como sujeitos de
direitos, tendo na escola um espaço de garantias desde a educação infantil. Essa é, portanto, uma das
responsabilidades da escola, em face do incentivo da cidadania.
A escola tem o poder de intervir na sociedade, a partir da formação dos indivíduos que a compõem.
Entretanto, antes de pensarmos naquilo que os estudantes devem aprender, é fundamental refletirmos sobre
quem são essas pessoas que chegam até as instituições de ensino, qual é a realidade social que vivem e a
bagagem cultural que carregam, pois a escola é um ambiente em que a diversidade se manifesta de várias
maneiras. É muito importante que a gestão escolar e os professores se preocupem em abordar isso de forma
a promover o respeito das diferenças (NOBRE, 2018).
Conforme Libâneo (2007 apud PEREIRA; CARLOTO, 2016), a escola possui três objetivos bem definidos: o
primeiro deles compreende a preparação dos indivíduos para a vida em sociedade e para o processo
produtivo, ou seja, para o mundo do trabalho, no domínio de novas tecnologias e para colaborar
socioculturalmente; o segundo objetivo se refere à formação cidadã de forma crítica e participativa,
abrangendo os direitos de cada pessoa para a transformação social de forma positiva; o terceiro diz respeito à
formação ética que permite que os sujeitos reconheçam seus limites entre aquilo que é certo e errado diante
dos valores morais.
Para Nobre (2018), é preciso que os profissionais da educação reflitam sobre a função social da escola no
processo educacional, não somente a respeito da responsabilidade de formar cidadãos, mas também de
interagir com a comunidade a que pertence para que seu principal interesse, que é o de possibilitar o ensino e
a aprendizagem, seja efetuado com êxito. Sendo a educação uma ponte para socializar pessoas em torno de
interesses comuns, a escola é o lugar ideal para promover o pensamento sobre problemas que são comuns e,
assim, buscar maneiras de mitigar o impacto negativo das situações que afetam a sociedade. Portanto,
“espera-se que a escola da atualidade tenha a função não só de transmitir conhecimentos, mas também de
repensar que tipo de sociedade pretende construir, criando relações e preparando base para lidar com as
contradições da sociedade, suas diferenças e conflitos” (NOBRE, 2018, p. 4-5).
Para entender a realidade da escola, precisamos ter a clareza de que ela não é formada apenas por
professores e estudantes. Em todo o trabalho realizado pela escola, vários agentes precisam ser mobilizados
para que objetivos concretos sejam alcançados. Dentre as pessoas que participam desse cotidiano educativo,
para além de discentes e docentes temos também a equipe gestora, a equipe de funcionários de diversos
departamentos, as famílias e a própria comunidade que compõem o entorno das instituições. A união de
todas essas pessoas auxilia no processo constante de construção e de reconstrução, afinal o ambiente escolar
está sempre permeado por diversos desafios (PINHEIRO, 2019).
Para Teixeira (2010), o conceito de comunidade escolar se refere aos agentes que, de alguma forma,
participam do processo educativo que acontece na escola e, em alguns casos, pode envolver até mesmo as
associações de bairro, os sindicatos e outros agrupamentos comunitários ativos no bairro onde a escola se
situa. Desenvolver a comunidade escolar pode ser, inclusive, uma forma de incentivar a democracia para o
compromisso de que a escola seja construída num âmbito de coletividade e reverberar na sociedade.
Nessa visão, a partir do momento em que a escola se fortifica por meio de parcerias, ela pode criar sua
própria identidade, superar suas dificuldades e atuar para promover o desenvolvimento de seus estudantes,
pois é fundamental o entendimento de que o trabalho educativo realizado nesse espaço só acontece de forma
eficaz quando é conciliado com a aprendizagem promovida nos outros ambientes e grupos sociais com os
quais os estudantes têm contato. Todavia, para que isso ocorra, Libâneo (2004, p. 101 apud SILVA et al. 2016,
p. 7) afirma que a gestão é um fator essencial para mobilizar meios e procedimentos a fim de atingir os
objetivos da escola, envolvendo, assim, aspectos pedagógicos e administrativos.
Mediante isso, é necessário direcionar a atenção para identificar a responsabilidade da gestão pedagógica em
levantar estratégias de incentivo à atuação comunitária na escola, através de ações conjuntas. Por meio desse
relacionamento, a escola precisa desenvolver mecanismos para atrair a participação popular. Muitos desses
procedimentos podem envolver atividades de lazer, de promoção à conscientização dos problemas sociais,
saúde, ou ainda, administrativos e de controle de recursos, como pode ocorrer em escolas públicas, por
exemplo.
Conforme Tomazoni (2013), o trabalho educativo realizado com o apoio da comunidade escolar permite, de
forma ativa, a reflexão e o diálogo constantes. Sendo a escola um espaço em que a coletividade acontece de
forma natural, a gestão pedagógica assume o papel de mediação nesse processo de participação, articulando
atividades e ações que busquem o envolvimento da comunidade escolar. Portanto, diante de todo esse
panorama, o trabalho com a comunidade escola é, sem dúvida, uma ótima tática para elevar a qualidade da
educação ofertada pelas escolas.
Sabemos que, para além dos espaços escolares, a educação acontece também em outros ambientes e é
possibilitada por outras pessoas, além dos professores. Sempre que refletirmos sobre o que é o ato de
educar, independentemente de conteúdos ou metodologias de aprendizagem, conseguiremos identificar que
a educação possibilita, por meio de novos hábitos, o nosso desenvolvimento. Desse modo, ser educado é
passar por um processo de conhecimento, para adquirir habilidades que antes eram desconhecidas por nós.
Conforme Santana (2013), é impossível falar sobre a educação sem considerar que ela é uma prática que está
diretamente ligada à liberdade, à democracia e à cidadania. A liberdade, em especial, é um dos aspectos que o
educador Paulo Freire apresenta em várias de suas obras como ponto central para a relação pedagógica que
resulta no aprendizado, pois não é possível aprender mediante um cenário de agressividade ou de
delimitação da subjetividade, ou seja, em que o sujeito aprendente seja impedido de ser quem ele é.
Na obra Educação como prática da liberdade, escrita por Paulo Freire no ano de 1967, o autor estimula os
educadores a refletirem sobre a própria prática no que concerne ao processo educativo, no qual os
professores devem respeitar as características de seus educandos e buscar potencializá-los para exercerem
uma responsabilidade social e política. Assim, enquanto aprendem, os estudantes entendem que devem se
comprometer com o próprio aprendizado, com a função que ocupam e com quem são no mundo.
Para tanto, essa autonomia que é colocada para os estudantes enaltece a construção pessoal, permitindo que
eles saibam identificar seus próprios conhecimentos por meio de diversos tipos de situações. Em um âmbito
mais prático, podemos dizer que essa abordagem se conecta ao ensino que acontece através de
competências, na incorporação de programas e currículos que consideram os sujeitos em sua totalidade,
sendo capazes de enfrentar mudanças e se adaptar a um novo contexto de vida (DIAS, 2010).
Ao passar pela experiência da escola, para que o aprendizado tenha sentido, o aprendiz precisa compreender
que todos os conhecimentos ali adquiridos serão mobilizados em seu próprio benefício, mas também devem
estar articulados com outras pessoas, com outras histórias e com a sociedade a que pertence. Com base
nesse entendimento, é possível que o pensamento reflexivo dê lugar a atitudes objetivas cujo foco seja mudar
aquilo que gera descontentamento, visto que o ato de refletir possibilita questionamentos interessantes sobre
as diferenças existentes na sociedade e como isso gera desigualdades.
Por isso, a educação permite a transformação social por intermédio de um movimento de reconhecimento da
realidade, pois quanto mais se colocam como agentes integrantes de um grupo em especial os sujeitos se
identificam, fortalecem seus pares e organizam ações de emancipação para a justiça e a igualdade social.
VÍDEO RESUMO
No vídeo a seguir , será possível conhecer melhor a responsabilidade social da escola, mediante os mais
diversos conhecimentos possibilitados aos estudantes. Abordaremos com maior profundidade algumas
características das comunidades escolares e aspectos importantes que permitem que a escola seja um espaço
de transformação social.
Saiba mais
Dentre as principais funções da educação, está o incentivo e a promoção da cidadania. A escola é um
espaço de aprendizagem muito importante, que possibilita aos estudantes o acesso a práticas de
exercício de seus direitos e deveres, por isso compreender mais as noções de cidadania, de liberdade e
democracia pode auxiliá-lo em sua prática e na função da gestão pedagógica.
Para isso, leia o texto Concepção de Cidadania Popular, a partir da página 11, do e-book Serviço Social na
Educação.
Aula 4
INTRODUÇÃO
Olá, estudante!
Na atualidade, muitos são os desafios enfrentados pelas escolas diante das necessidades de aprendizagem
dos estudantes, por isso é fundamental reconhecer quais são as oportunidades que os professores podem se
apropriar para tornar o processo ensino-aprendizagem mais atraente para os aprendizes.
As tecnologias apresentam grandes possibilidades, se aliadas ao ensino. Desse modo, é preciso que a equipe
pedagógica se atente para oferecer aos estudantes experiências de aprendizagem que estejam adaptadas à
sua realidade, considerando o desenvolvimento em todos os âmbitos da vida.
Nesta aula, você irá aprender como as tecnologias possibilitam um ensino adaptado às características dos
estudantes atuais e permita aos professores o trabalho com metodologias diferenciadas. Sendo assim, reflita:
quais possibilidades permitem utilizar a inovação na educação?
AS INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS
Com o passar do tempo, é natural que a sociedade vá se modificando conforme as transformações do mundo.
No âmbito da educação, isso não é diferente, afinal muitas são as demandas que vão surgindo a cada geração,
e é preciso que as escolas se adaptem às realidades dos sujeitos que compõem esses espaços. Na atualidade,
vivemos em um cenário conectado e digitalizado, que une aspectos da vida concreta com o universo digital.
Assim, trazer a discussão sobre como as novas tecnologias podem afetar a educação é algo extremamente
necessário.
Conforme Silva e Correa (2014), muitos professores têm sentido a necessidade de aplicar estratégias de
ensino que estejam mais próximas do perfil dos estudantes da contemporaneidade, já que tem chegado às
escolas um novo tipo de estudante, aquele que domina as diferentes redes sociais, os aplicativos que atende
várias necessidades e os aparelhos celulares de última geração. Entretanto, um dos maiores desafios que os
docentes enfrentam é a falta de conhecimento dessas ferramentas e sua aplicação para as metodologias de
ensino e os conteúdos programáticos, alinhadas aos recursos disponíveis que, em muitos casos, estão
obsoletos.
As vantagens de aplicar inovação na educação por meio de tecnologias e da mídia são muitas. Pensar na
formação dos estudantes com base em sua realidade é um aspecto muito interessante para conseguir a
motivação necessária para o aprendizado, fator que muitas vezes se encontra em falta dentro das salas de
aula. Por isso, ter as tecnologias como meios transmissores de conhecimento possibilita que o professor se
aproprie desses instrumentos para gerar as aprendizagens que têm como objetivo e também para
conscientizar seus estudantes a respeito do uso e dos fins para que são usadas (PERFEITO, 2020). A exemplo
disso podemos citar o trabalho sobre as fake news.
Como elemento de inovação pedagógica, as tecnologias na escola estreitam as relações com o mundo
externo, por isso devem ser ferramentas intelectuais na promoção de conhecimento. Nesse novo cenário, a
escola pode utilizar tanto os computadores, projetores, aparelhos de áudio, câmera, celulares, dentre outros,
com fins educacionais, como pode se apropriar da produção cultural de seu país, que envolve mídias como
músicas, filmes e documentários a respeito de determinadas temáticas. Todas essas possibilidades permitem
que a escola se torne um ambiente atrativo e mais próximo da realidade dos estudantes.
Para que o trabalho eficaz com as tecnologias na escola seja eficaz, não somente os professores precisam se
atualizar na busca por estratégias, mas a equipe gestora tem função essencial de gerenciar atividades e
recursos que tornem o ensino mais atraente. Como fator primordial, deve-se pensar sobre a formação dos
professores em relação às ferramentas tecnológicas, já que em um cenário maior esse é um dos principais
desafios, em conjunto com a baixa qualidade dos aparelhos que estão disponíveis nas escolas (ELIAS et al.
2010). Outro ponto de responsabilidade da gestão pedagógica se dá no estímulo à reflexão sobre os
conteúdos ofertados aos estudantes, já que temos vivido a era da informação e a escola é um lugar de
repensar a sociedade e a função de cada um dos indivíduos enquanto cidadãos.
O ENSINO HÍBRIDO
Compreendendo tanto o contexto digital quanto o físico, surge a educação híbrida, que, conforme Peres e
Pimenta (2011 apud MACHADO et al., 2017, p. 8), também pode ser interpretada por meio dos termos b-
learning, blended learning, educação bimodal, aprendizagem combinada, dual, semipresencial, semivirtual,
bimodal e ensino híbrido. Todas essas definições são utilizadas para descrever a junção de técnicas de ensino
que combinam o on-line com o presencial, criando possibilidades que permitam aos estudantes utilizar
ambientes virtuais com ferramentas da educação tradicional em uma variedade de métodos e ferramentas.
Para Bacich e Moran (2015), híbrido significa misturado, e é um fato que a educação sempre assumiu essa
característica, combinando metodologias, públicos, espaços, tempos e atividades. Entretanto, no ensino
híbrido é preciso que haja muito mais mobilidade e conectividade. Da mesma forma que não existe uma única
maneira de aprender também não deve haver uma única maneira de ensinar, dessa forma, a constante
reflexão sobre a didática e as metodologias devem estar presentes do cotidiano dos professores que utilizam
esse modelo.
Conforme Machado et al. (2017), o ensino híbrido parte de três aspectos fundamentais, que unem o ensino
on-line (por meio da web, acessada fora da escola), a aprendizagem em um local físico supervisionado
(geralmente na escola) e a aprendizagem integrada (em que on-line e presencial se complementam). Para que
seja bem construída, a proposta do ensino híbrido deve ter como princípio o incentivo à autonomia dos
estudantes com flexibilização de tempo para a execução de atividades; a integração de tecnologias, com
possibilidade de aprendizado; o acesso a plataformas nas quais professores e estudantes possam enviar
arquivos e interagir; e o contato com informações e possibilidades de avaliação para a verificação do
desempenho.
Na execução do ensino híbrido, é preciso considerar estratégias que possibilitem o alcance de objetivos de
aprendizagem por meio de algumas metodologias. Para que ocorram aprendizagens, é preciso que haja uma
preocupação em relação à combinação entre problemas reais e a teoria. Outro ponto que também precisa ser
analisado é quanto aos elementos curriculares que precisam ser modificados. Caso contrário, a proposta
prossegue em um projeto educativo ultrapassado. Portanto, para a execução do ensino híbrido com eficácia, a
escola precisa rever seus valores, suas práticas e políticas, não se pode aplicar essa modalidade sem
planejamento.
O ENSINO PERSONALIZADO
O uso das tecnologias tem impactado todos os setores da sociedade, provocando transformações diversas em
nosso modo de viver, de trabalhar e até mesmo de aprender. Consequentemente, podemos compreender
que a educação também tem se modificado. Uma das maiores preocupações com o ensino na atualidade é a
inclusão de práticas pedagógicas que permitam ensinar mais pessoas em um curto período de tempo.
Todavia, é preciso tomar cuidado para que isso não desconsidere as características individuais de cada um
dos estudantes, pois cada pessoa tem suas dificuldades ou facilidades em relação aos modos de aprender.
Outro fator de análise é a respeito da qualidade do ensino, que deve ser sempre garantida.
Quando nos debruçamos sobre as adversidades que envolvem a escola, sempre nos deparamos com o
desinteresse dos estudantes em relação à permanência no processo educativo. Isso evidencia a ocorrência de
que a escola é um ambiente que não é atraente para os estudantes. Tal fato pode estar relacionado ao ensino
tradicional ainda ser muito presente no cotidiano escolar, já que as metodologias dessa tendência de ensino
consideram os professores como sendo os principais agentes do processo ensino-aprendizagem, não os
estudantes.
Conforme Júnior e Silva (2020), por meio desse entendimento é possível desenvolver as metodologias e o
currículo de modo que estejam centrados nos estudantes, objetivando reconhecer aspectos da subjetividade
desses indivíduos. Dessa forma, pode-se trabalhar com o ensino personalizado, que envolve a autonomia, a
autogestão e a metacognição dos estudantes em ações sistematizadas que respeitem as dimensões
cognitivas, emocionais, sociais e culturais da vida. Sendo assim, podemos dizer que o ensino personalizado
compreende métodos humanizados de ensinar e de aprender, podendo acontecer de maneira individual ou
coletiva.
De acordo com Bacich e Moran (2017), no ensino personalizado, o estudante é quem está envolvido na criação
de suas próprias situações de aprendizagem, que são estruturadas para acolher suas preferências, seus
interesses pessoais e sua própria curiosidade. Tudo isso com a promoção efetiva do autoconhecimento, afinal
nesse processo o estudante reflete sobre o seu modo de aprender, ou seja, quais são os métodos que têm
maior afinidade, quais são os conteúdos que despertam o seu interesse e têm relação com suas motivações
etc.
Contudo, no ensino personalizado, o professor tem suas responsabilidades muito bem apontadas e é
importante considerar que diante desse cenário, além de implementar modificações nos conteúdos, outras
ações devem partir do docente, principalmente no que se refere à mudança de concepções sobre aquilo que
acredita ser a metodologia de ensino ideal mediante sua área de conhecimento. Na abordagem pedagógica
de forma personalizada, é fundamental que os professores tenham uma boa preparação, estruturando seu
planejamento, com o objetivo de desenvolver seus educandos, independentemente se dispuser das
tecnologias ou não (JÚNIOR; SILVA, 2020).
VÍDEO RESUMO
No vídeo a seguir , você irá aprender mais sobre a importância da tecnologia para o desenvolvimento da
aprendizagem dos estudantes, o tema do ensino híbrido e suas possibilidades será aprofundado e aspectos
da personalização do ensino serão trabalhados, para o reconhecimento dessas novas metodologias para o
estudante atual.
Saiba mais
As tecnologias estão presentes em nossas vidas de forma cotidiana, independentemente de onde
moramos ou da idade, todos nós temos contato com algum tipo de ferramenta tecnológica, seja para
trabalhar, estudar ou simplesmente para nos comunicarmos uns com os outros. Estamos, a todo
momento, utilizando aplicativos, aparelhos e outras possibilidades que nos colocam imersos no mundo
digital.
Na escola, isso não pode ser diferente, pois a sala de aula reflete as principais mudanças da sociedade,
portanto, para aprofundar o conhecimento de como utilizar a tecnologias para fins educacionais, leia o
material Educação e tecnologias.
Aula 5
REVISÃO DA UNIDADE
15 minutos
A escola é o principal ambiente no qual a educação formal acontece. É nesse espaço que os estudantes
aprimoram habilidades muito relevantes, que os preparam para a vida em sociedade. Nessa perspectiva, é
importante compreender que na vida escolar os indivíduos desenvolvem conhecimentos acerca dos
conteúdos programáticos, porém não somente isso. A escola possibilita experiências de construção coletiva e
de desenvolvimento pessoal.
Dessa forma, é fundamental que a equipe gestora pense em ações e estratégias para que a escola alcance
seus objetivos em face do seu papel social. Como agentes que compõem a educação, não somente os
professores e estudantes devem estar em interação, mas também outras pessoas, como as famílias, os outros
funcionários da escola e até mesmo a vizinhança ao qual a instituição está localizada, estruturando, assim,
uma comunidade escolar. Portanto, mobilizar todos esses agentes em uma relação dialógica é dever dos
gestores pedagógicos (TOMAZONI, 2013).
Na compreensão acerca da escola como instituição educativa, desejar que a educação ofertada tenha
qualidade é, acima de tudo, uma aspiração comum a toda a sociedade brasileira. Entretanto, em um âmbito
mais aprofundado, precisamente em um cenário que envolve os profissionais da educação, pode-se
interpretar que é função desses indivíduos o planejamento curricular mediante critérios políticos e sociais
bem estruturados que garantam essa qualidade. Por isso, o projeto educativo se projeta para mobilizar
pessoas, recursos e infraestrutura em torno do desenvolvimento dos estudantes, seja por meio de conteúdo,
de vivências ou competências (VASQUES; SPONCHIADO, 2016).
A escola determina uma incumbência muito pertinente na vida das pessoas, possibilitando que se
reconheçam como indivíduos pertencentes a determinados grupos populares. É na escola que muitos
estudantes têm seus primeiros contatos com a diversidade, fator importante para que estes reconheçam
aspectos que podem indicar benefícios ou mazelas mediante paradigmas sociais. Para tanto, incentiva a
reflexão a respeito dos problemas às pessoas, buscando, assim, maneiras de atuação para o protagonismo e a
liberdade (SANTANA, 2013).
Pensando na escola e, principalmente, nas mudanças que têm ocorrido na sociedade, é essencial que o
ensino oferecido nas instituições de educação esteja adaptado aos alunos da atualidade, considerando suas
necessidades de aprendizagem (PERFEITO, 2020). Sendo assim, o uso das tecnologias em sala de aula
possibilita a conexão com o universo digital, algo que é muito comum na vida dos jovens e também das
crianças, portanto deve também fazer parte do cotidiano do professor.
Muitos são os desafios que se apresentam para a gestão pedagógica, todavia, para a execução de um bom
projeto educativo, é evidente a exigência de tomadas de decisões assertivas, pensadas em conformidade com
a realidade da escola a qual se exerce responsabilidade. Em consideração a isso, o gestor possibilita a
mediação entre as discussões e questionamentos que demonstram a capacidade de tornar a escola um
ambiente participativo e democrático e é esse o principal aspecto que permite tornar a educação eficiente.
REVISÃO DA UNIDADE
No vídeo a seguir , serão abordados alguns dos principais aprendizados desta unidade, cujo tema é o estudo
do projeto educativo e das responsabilidades da gestão pedagógica, que compreendem a administração
escolar, a mobilização de pessoas e recursos, as estratégias de qualidade educacional e a inclusão de
inovações para o ensino.
ESTUDO DE CASO
Olá, estudante!
Para contextualizar sua aprendizagem, imagine que você trabalha como gestor pedagógico em uma escola
pública de um município do interior de seu estado. Essa escola é uma das principais da cidade e possui uma
ótima referência de ensino, alcançando uma boa colocação em avaliações de larga escala em diferentes níveis.
Isso faz com que muitas famílias desejem que seus filhos estudem nessa instituição, pois o trabalho realizado
demonstra que o ensino tem qualidade.
A escola possui 15 salas de aula, duas quadras de esportes, uma sala de informática, uma sala multimídia,
uma biblioteca, um auditório e outros espaços de uso exclusivo dos funcionários, além de alguns locais que
são utilizados para o uso de atividades coletivas com os estudantes, refeitório e banheiros. No período da
manhã, há dez turmas, que compreendem estudantes dos anos finais do ensino fundamental, e, no período
da tarde, há 12 turmas em pleno funcionamento. A maioria dessas turmas compreende os anos iniciais do
ensino fundamental. No período da noite, a escola fica aberta pontualmente para receber a comunidade em
atividades como cursos e outros encontros coletivos para discutir alguns problemas comunitários.
Como parte da equipe gestora da escola, você percebe que algumas famílias são mais interessadas que outras
na educação de seus filhos e a comunidade em geral é bem participativa e integrada a escola. Você assumiu
esse cargo recentemente, porém já foi possível identificar alguns problemas que têm afetado o dia a dia da
instituição e causado certos transtornos. Então, você listou alguns deles, que são bastante urgentes, como:
O Projeto Político Pedagógico da escola foi elaborado muitos anos atrás e já está obsoleto,
principalmente quanto às temáticas e aos conteúdos ofertados.
Os professores têm tido muita dificuldade em utilizar a sala multimídia com os estudantes, por não terem
conhecimento das tecnologias.
Desse modo, crie um plano de ação para resolver cada um dos problemas listados, considerando a
participação da comunidade escolar na tomada de decisão. Busque estratégias dialógicas para que as
opiniões de todos que compõem essa escola sejam respeitadas, indo ao encontro dos fundamentos da gestão
democrática. É importante que você considere uma suposição da realidade para construir a proposta,
transformando ideias em possibilidades de execução.
Reflita
Para direcionar a elaboração da proposta do plano de ação, primeiramente, de forma imaginativa, pense
em alguns questionamentos que poderão direcionar a tarefa:
Sobre a questão da pichação, qual é a visão que os estudantes têm disso? E a comunidade escolar? A
escola poderia aproveitar essa circunstância para abordar o assunto de alguma forma?
Sobre o projeto político pedagógico, em que esse documento poderia ser considerado como
ultrapassado, diante dos conteúdos que são trabalhados pelas escolas atualmente?
Sobre o uso de tecnologias pelos professores, quais são as possibilidades que podem ser utilizadas
em sala de aula, que consideram as inovações para a educação de forma mais branda, com o intuito
de introduzi-las na escola?
A situação-problema em questão pode apresentar possibilidades de resolução muito particulares, afinal cada
gestor pedagógico possui características próprias de gestão. Todavia, um dos elementos solicitados para
compor a estratégia é a participação da comunidade escolar em torno da solução dos problemas
apresentados. Para isso, alguns direcionamentos serão elencados a seguir:
Sobre as pichações que têm aparecido nos ambientes comuns da escola, é importante conscientizar a
comunidade escolar de que a escola é um espaço público, e não somente isso, é patrimônio de todas as
pessoas, portanto é necessário que sejam realizadas ações de preservação desse local. É possível ainda que
professores de disciplinas variadas atuem em conjunto para que os estudantes tenham contato com
informações dessa expressão gráfica, que faz parte dos cenários das cidades, podendo ser em contextos
urbanos ou não.
A respeito do Projeto Político Pedagógico da escola estar ultrapassado, um dos pontos interessantes de ser
revisto é o currículo escolar. Cabe à equipe gestora encabeçar a discussão para que, inicialmente, a
comunidade escolar tenha clareza da importância desse documento. Logo após, é fundamental o debate
acerca daquilo que está sendo ensinado para os estudantes, principalmente em conformidade com as
características do mundo atual.
Para a utilização da sala multimídia, algumas estratégias podem direcionar o trabalho dos professores na
utilização de tecnologias. Algo que pode ser bem interessante ainda é a formação continuada dos docentes
para a utilização de novas metodologias de ensino. É possível que você, junto com a equipe gestora da escola,
busque formas de trazer esses conhecimentos para os professores. Outra possibilidade também pode se dar
por meio do reconhecimento das novas metodologias que permitem trazer inovação para o ensino.
RESUMO VISUAL
Aula 1
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