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REVISÕES ORDINÁRIAS

1) 1982
A revisão de 1982 pode ser considerada como a principal e mais decisivamente marcante das revisões
constitucionais. Pôs fim ao chamado período de transição previsto nas duas plataformas de acordo
constitucional celebradas entre o MFA e os partidos políticos – no fundo este período correspondeu à presença
transitória dos militares no exercício do poder que se fazia maioritariamente através do conselho da revolução.
Logo, o termo do período de transição, que exigia dos militares o seu regresso aos quartéis, pressupunha a
extinção do conselho da revolução e consequentemente a redistribuição dos poderes que até então lhe estavam
atribuídos
Se não se tivesse feito a revolução o conselho da revolução manteria os poderes e os militares continuaram a
exercer poderes políticos significativos, ter-se-ia verificado uma transição constitucional porque apesar da
constituição não ter mudado passava a ser uma constituição não democrática.

 Consagra o estado de direito democrático


 Estabeleceu a configuração constitucional ainda hoje vigente relativamente ao sistema de governo,
sistema de fiscalização da constitucionalidade e no próprio sistema dos direitos fundamentais.
 Teve uma grande relevância podendo ser considerada de realização imprescindível para a plena
institucionalização da nova ordem constitucional inaugurada com a revolução de 25 de Abril de
1974
 Introduzida a possibilidade de referendos locais – as populações locais tinham o direito de responder
em referendos locais.
 Alterações com mais destaque: extinção do conselho da revolução; alteração dos poderes
presidenciais com reflexos no sistema de governo; referências e enquadramento ideológico;
fiscalização da constitucionalidade e direitos fundamentais.
Relativamente à extinção do conselho da revolução e redistribuição dos seus poderes:
a) Funções politico militares – AR e governo
b) Aconselhamento do PR – conselho de estado
c) Assegurar o regular funcionamento das instituições – PR
d) Fiscalização da constitucionalidade – TC
Isto obrigou a uma modificação geral dos poderes/competências dos vários órgãos. Por isso, no plano de
relações entre governo, PR e AR verificaram-se várias alterações.
O texto da constituição de 1976 foi muito influenciado pelo espírito da época, pelo facto de termos
ultrapassado um período revolucionário. Assim, um resultado bem conhecido da revisão de 1982 foi a
supressão no texto constitucional das partes das marcas terminológicas mais ideologicamente
carregadas que provinham do período revolucionário e este trabalho veio a ser terminado na revisão de
1989.

2) 1989
Historicamente é justificada pela necessidade de ajustamento e de adaptação da parte económica da
constituição ao novo texto marcado pela recente integração europeia – para respeitar os tratados europeus
havia algumas normas que suscitavam alguns problemas. A mais importante alteração neste domínio respeita
à eliminação da garantia da irreversibilidade das nacionalizações efetuadas após o 25 de Abril de 1974
permitindo-se agora a reprivatização nos termos de lei-quadro aprovada por maioria absoluta. Este, assim
como a apropriação coletiva dos principais meios de produção garantido também na constituição,
contrariava as liberdades económicas das comunidades europeias logo haveria sérios problemas jurídicos se
não houvesse uma adaptação a este novo período.

 Assim, a revisão tornou-se absolutamente necessário não no plano do poder político uma vez que este
ficou estabilizado em 1982 mas no plano da organização económica
 Desapareceram as últimas referências ideologicamente marcadas
 Foi criada a possibilidade de referendos nacionais
 Foi previsto o circulo nacional de compensação: todos os votos que não tivessem contribuído para
eleger deputados nos diferentes círculos seriam recolhidos num circulo nacional e aí fazer-se-ia uma
distribuição proporcional dos votos
A constituição que sai desta revisão em termos materiais é a constituição que temos hoje, a partir daqui não
houve alterações de natureza importante.

3) 1997
Fez-se como se a sua realização fosse uma obrigação ritualizada mas sem que, à partida, se percebessem
claramente as suas finalidades.

 Alteração de grande parte dos artigos da constituição bem como respetiva numeração – o que
provoca dificuldades no seu estudo e retira força/estabilidade
 Consagração do direito ao desenvolvimento da personalidade (artigo 26º)
 Passa a admitir-se condicionadamente, a extradição de cidadãos portugueses nos casos de terrorismo e
de criminalidade internacional organizada, mas só em condições de reciprocidade estabelecida em
convenção internacional
 A prepósito da regionalização administrativa quis-se impulsionar esse processo e então criaram-se
dois artigos: 255º e 256º
 Possibilidade de combinação de círculos uninominais com círculos plurinominais – não tem
relevância nunca houve alteração nesse sentido
 Sempre que havia uma revisão constitucional, as regiões autónomas ganhavam com isso

4) 2004
Também não tem nenhum prepósito específico. Pontos salientes:
a) No plano das autonomias regionais dá seguimento à tendência de reforço das autonomias de
forma quase definitiva: alteração relativa ao chamado ministro da república que passou a ser
designado como representante da republica e agora este é nomeado exclusivamente pelo PR – o
representante da republica é uma figura politicamente dependente do PR
b) No plano do sistema de governo – deu ao PR a possibilidade de dissolver as assembleias
regionais que até aí só era possível perante a prática de atos gravemente inconstitucionais, isto
aconteceu porque as RA consideravam que era ofensivo partir do principio que estas podiam
praticar inconstitucionalidades graves. Agora a possibilidade é do PR equivalente à que tem
perante a AR
c) Relações com a U.E/normas provindas da U.E – o artigo 8º/4 alterou-se, temos leis nacionais e
normas europeias, se houver contradição qual é que se aplica? É a norma europeia mesmo se a
contradição for entre norma europeia e CRP. As normas europeias aplicam-se nos termos
definidos pelo próprio direito europeu, ou seja, os termos que o direito europeu tem prevalência
sobre os direitos nacionais. Os portugueses aceitaram a primazia do direito europeu desde que este
respeite os princípios do estado de direito democrático – reconhecimento do primado dos
tratados que regem a U.E e das normas emanadas das suas instituições
d) Alteração relevante no domínio dos direitos fundamentais: ultima parte do artigo 13º/2 –
discriminações por razão de orientação sexual
Prosseguiu e aprofundou de forma muito significativa o caminho de ampliação da autonomia regional que,
acolhida no texto constitucional originário de 1976, foi sucessivamente reforçada nas revisões ordinárias
seguintes.

REVISÕES EXTRAORDINÁRIAS
Feitas quando há alguma questão urgente que não deva aguardar pelo decurso do tempo
1) 1992
A necessidade da revisão extraordinária nasceu da aprovação do tratado da U.E de Maastricht, que,
levantava algumas questões de compatibilidade com a constituição portuguesa. Destaca-se a alteração ao
artigo sobre o banco de Portugal que perdeu o exclusivo de emissão da moeda em ordem a permitir a adesão à
moeda única europeia.
2) 2001
A motivação desta revisão foi a necessidade de admitir a jurisdição do tribunal penal internacional que
suscitava problemas de compatibilidade constitucional no que se referia à imunidade dos titulares de cargos
políticos e à admissibilidade da aplicação da pena de prisão perpétua. A revisão vem permitir que Portugal
aceite a jurisdição do tribunal penal internacional nas condições estabelecidas no estatuto de Roma.
3) 2005
Nesta revisão previu-se a possibilidade de conveniência dos tratados de adesão serem sujeitos a referendo
nacional.

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