Você está na página 1de 1

Em termos bem objetivos, não existem hoje diagnósticos de dupla personalidade

ou de múltiplas personalidades, como vemos às vezes no cinema e na TV, relata


o professor João Paulo Machado de Sousa, no podcast Minuto Saúde
Mental desta semana. O que existe, sim, é uma classe de quadros relacionados
que foram agrupados sob o nome de transtornos dissociativos. Em primeiro
lugar, portanto, precisamos entender o que significa dissociação dentro dos
conceitos de saúde mental.
Experiências dissociativas são aquelas onde há uma desconexão entre os fatos
que ocorrem com uma pessoa e a percepção que essa pessoa tem sobre eles. Um
exemplo é a sensação de se estar fora do próprio corpo observando o que
acontece consigo mesmo de uma certa distância ou, ainda, a sensação de que
determinados acontecimentos fazem parte da história de outra pessoa, enquanto
simultaneamente se sabe que eles aconteceram consigo. “Todos temos
experiências dissociativas menores, como quando nos “desligamos” no meio de
uma conversa ou “damos uma viajada” enquanto estamos dirigindo. Essas
experiências tendem a ser leves e passageiras e não têm maiores consequências.”
Os chamados transtornos dissociativos incluem três diagnósticos diferentes:
amnésia dissociativa, transtorno de despersonalização ou desrealização e
transtorno dissociativo de identidade. Na amnésia dissociativa, a pessoa sofre
uma perda de memória sobre um determinado período da própria vida, que pode
ir de instantes a semanas ou até anos. No transtorno de despersonalização, a
principal manifestação é a impressão de se estar desconectado do ambiente, com
as coisas e pessoas parecendo diferentes como se estivessem em um sonho, por
exemplo. Por fim, o transtorno dissociativo de identidade é aquele que várias
pessoas conhecem como transtorno de múltiplas personalidades. Nestes casos, a
pessoa pode sentir que há mais de uma personalidade dentro de si mesma, como
se estivesse possuída ou houvesse mais de uma pessoa morando dentro de uma
mesma cabeça.
“É importante destacar que o ponto em comum entre estes transtornos é a
experiência de alguma situação com impacto emocional muito forte ou, como se
costuma chamar, um trauma. A carga emocional do trauma é tão forte que leva a
mente a criar uma realidade paralela para que ela seja suportada, gerando a
sensação de que determinados eventos terríveis não aconteceram exatamente com
a pessoa, mas com outras pessoas ou em “dimensões” diferentes.”
Por último, diz o professor, “vale lembrar que qualquer experiência só pode ser
definida como dissociativa caso seja muito diferente de outras experiências
culturalmente aceitas ou que acontecem dentro de contextos definidos, como com
os médiuns nas religiões espíritas ou os transes observados em rituais de
diferentes povos”.

Minuto Saúde Mental


Apresentação: João Paulo Machado de Sousa

Você também pode gostar