A Planificação Da Educação No Seu Contexto

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A planificação da Educação no seu Contexto

Nesta lição vamos abordar os aspectos que o planificador deve considerar, atinentes
à realidade em que está inserido, na sua prática de planificação. Concretamente,
estudaremos o contexto político, o contexto (peso) demográfico, o contexto
económico e financeiro e, finalmente, o contexto Educativo.

Ao completar esta lição, você será capaz de:

§ Descrever por que é que a planificação da educação deve considerar, na sua


prática, o contexto sócio-cultural e político em que está inserido;
§ Indicar os diferentes contextos que devem ser tidos em consideração na
prática de planificação da educação;
§ Explicar a influência que o contexto político tem na planificação da educação;
§ Detalhar a influência que o contexto demográfico tem na planificação da
educação;
§ Explicitar a influência que os contextos económico e financeiro têm na
planificação da educação; e
§ Identificar a influência que o contexto educativo tem na planificação da
educação.

Planificação da educação no seu contexto

Nas linhas que se seguem, a partir da obra de NHAVOTO (1999) vamos discutir o
cenário em que os planificadores de educação devem actuar. Vamos, portanto,
considerar o contexto político, o contexto demográfico, o contexto económico e
financeiro e, finalmente, o contexto Educativo.

A planificação deve procurar ser coerente, quer do ponto de vista interno quer externo,
em termos político, económico-financeiro, demográfico e mesmo no que tange ao
contexto educativo. Tal se mostra de capital importância, pois acautela-se o risco de
se construírem planos que depois se vão mostrar incompatíveis com a realidade nas
suas diferentes dimensões.

Em termos políticos, os planos devem considerar que hoje os países tendem a


constituir-se em democracias multipartidárias e economias de mercado. Em termos
demográficos, particularmente no III Mundo, as taxas de crescimento populacional
tendem a ser altas, com muitas pessoas concentradas nos centros urbanos. No que
se relaciona com as dinâmicas económico-financeiras, vivemos uma situação de crise
aguda, levando à escassez de investimentos na educação e a sua sub-valorização,
dado que os seus graduados não encontram a almejada incorporação no mercado de
trabalho.

Todos os aspectos acima indicados, como seria de esperar, influenciam na educação


e têm que ser tidos em conta no acto de planeamento. Vejamos a seguir cada um
destes contextos e as suas múltiplas relações com a educação.

O contexto Político

Nos anos passados, sobretudo a partir da década de 80, assistiu-se a uma grave crise
económica que afectou particularmente um grande número de países em vias de
desenvolvimento. Esta crise condicionou a acção dos governos, levou a ineficiência
do sector público; a crise contribuiu para desestabilizar certos regimes em vigor e para
pôr em causa a sua legitimidade.

Portanto, a crise de confiança no Estado e a fraqueza do sector público nos países


em vias de desenvolvimento é um dos dados mais importantes destes últimos anos e
a crise, como vimos nas aulas passadas, afectou directamente a planificação da
educação. Noutros termos, o papel da planificação da educação no sector público foi
posto em causa.

Por outro lado, o fim da década 80 foi marcado por mudanças políticas muito
importantes, em vários países. Assistiu-se ao regresso à democracia, à implantação
de sociedades alicerçadas na iniciativa privada e, igualmente à transformações
profundas na Europa do Leste.

Todo este quadro tem que ser tido em conta na planificação da Educação. A crescente
democratização dos países, provavelmente, levará a que, mais ou menos à longo
termo, hajam mudanças a nível dos curricula. Os especialistas explicam que
actualmente torna-se uma exigência para os educadores desenvolverem
metodologias e práticas de ensino que tornem os alunos mais competentes na
tomada de iniciativas, no seu engajamento, a serem mais autónomos e a assumirem
riscos.

As mudanças ao nível da planificação da educação, na tentativa de considerar o


actual contexto político, não se devem verificar apenas nos aspectos de conteúdos,
métodos e técnicas pedagógicas. Devem verificar- se também ao nível da
administração, gestão e regulamentação dos sistemas educativos. Estas devem
evoluir no sentido de permitir uma participação efectiva das populações na vida do
sistema educativo. As aspirações dos alunos e dos estudantes também devem ser
consideradas.

A planificação deverá evoluir de encontro a um modelo menos rígido, mais


descentralizado e mais participativo. Assim, ela não só estaria a considerar o contexto
político em que se insere como também estaria a dar passos no sentido de ser mais
efectiva, desse modo reabilitando a sua imagem que, como vimos, ficou
profundamente fragilizada nos anos anteriores.

O Contexto Demográfico

O crescimento demográfico é uma das variáveis mais importantes a considerar no


exercício de planificação da educação. O continente africano é um dos espaços que
apresenta maiores taxas de crescimento populacional, cerca de 1,9% ao ano, sendo
que em 2015 a população africana será de 1 bilhão de habitantes . Outro aspecto
importante da dinâmica demográfica no continente, relaciona-se com uma cada vez
maior concentração de pessoas nos meios urbanos. Com efeito, o nosso continente
é igualmente um dos que terão maior crescimento da população urbana nos próximos
40 anos. A população das cidades na África quase triplicará, passando dos 414
milhões actuais para 1,2 bilião em 2050.

Os recursos para escolarizar esta população, por exemplo, o alcance de objectivos


como a Escolarização Primária Universal e a eliminação do Analfabetismo, bases
para a promoção do desenvolvimento sustentável, como facilmente se pode
depreender, são avultados. Os países em vias de desenvolvimento são parcos de
recursos e seguem políticas de austeridade económica, por isso as possibilidades de
solução afiguram-se difíceis. A planificação da educação deve ter em conta esta
realidade. Vários países, entre os mais pobres, continuarão a conhecer um
crescimento demográfico acentuado e haverá dificuldades em financiar a sua
escolarização.

A esta situação junta-se um outro fenómeno: as migrações. São comuns nos países
pobres, as maciças migrações das zonas rurais para as urbanas, o que faz as cidades
possuírem elevadíssimas taxas de densidade populacional, o que tem que ser tido
em conta pelos planificadores da educação. Grande parte desta população não
consegue emprego no sector formal da economia, por isso, a esmagadora maioria
segue para o sector informal. Assim, especialistas têm vindo a chamar a atenção para
a necessidade dos sistemas educativos considerarem esta realidade. Portanto, exige-
se o desenvolvimento de novos conteúdos de educação e o desenvolvimento de
novas modalidades de formação para atender a esta realidade.

O Contexto Económico e Financeiro

A crise económica e financeira e as políticas de ajustamento estrutural que foram


postas em prática como resposta a esta crise tiveram efeitos profundos sobre as
economias e sectores sociais dos países. As consequências para os sistemas
educativos, provavelmente, prolongar-se- ão por muitos anos.

Os responsáveis da educação, em muitos países, para fazer face a exiguidade de


financiamento do sector, adoptaram políticas altamente restritivas, que passam pela
redução ou supressão de algumas rubricas nos orçamentos da educação.

Neste sentido, rubricas como novas construções, reparação dos edifícios, compra de
equipamentos e materiais escolares foram ou reduzidas ou suprimidas; igualmente,
se optou pela contenção no aumento dos salários no sector da educação.

Como consequência, no sistema, assistiu-se a enorme falta de materiais didácticos,


a baixa de salários em termos reais ou atraso no pagamento dos salários professores,
o que levou à desmobilização e ao aumento do absentismo. Isto, como não poderia
deixar de ser, resultou na ineficiência dos sistemas e na deterioração da qualidade de
ensino.
Dissemos acima, há a compreensão de que a dificuldade dos orçamentos públicos
financiarem convenientemente o sector de educação, provavelmente, irá verificar-se
por muito mais anos. Por isso, os especialistas têm alertado para o facto de que os
governantes e os planificadores devem procurar soluções para elevar os níveis de
financiamento ao sector da Educação.

Uma medida comummente apontada é a diversificação das origens do financiamento,


quer dizer, mais entidades têm que ser chamadas a comparticipar nos custos da
Educação, são eles: a sociedade civil, as famílias, parceiros internacionais, sector
produtivo, etc.

O Contexto Educativo

Os planificadores de educação, na sua actividade, não só devem considerar o


contexto político, demográfico e económico-financeiro em que estão inseridos. Eles
igualmente devem prestar atenção à dinâmica do próprio sistema.

a) A diversidade da procura e da oferta

A procura da Educação nos tempos que correm, aparentemente, tem uma definição
complexa. Segundo indicações, ela baixou em alguns países. A sociedade,
desencorajada pela ausência de perspectivas de emprego no
sector formal, e/ou pelos custos de educação , mesmo num cenário em que a escola
é gratuita, por vezes as comunidades não pressionam a escola. Este fenómeno, por
exemplo, é claramente visível nos programas de alfabetização.

A complexidade do fenómeno não termina aqui. A par desta inexistência de demanda


escolar, estando presente a escola na comunidade, sucede noutras realidades (por
exemplo, cidades), verificar-se o inverso: uma enorme procura social da educação
nos níveis ou tipos específicos de educação, dentro dos domínios variados e
especializados: profissionais, culturais, de entretenimento e outros.

Tal implica uma verdadeira mudança de abordagem pelos planificadores, dado que
tradicionalmente, negligenciaram a evolução da procura da educação e dos meios de
a promover. Portanto, não é suficiente organizar a oferta, colocando a escola junto
das populações. É necessário, também, mobilizar a população, particularmente os
pais e os alunos a aderir à escola.

Igualmente, em resposta a este cenário, é importante diversificar a oferta. Deve haver


modelos de formação mais flexíveis e mais individualizados que os propostos pelo
sistema escolar formal. As empresas, associações, ONG’s e as próprias comunidades
devem dar a sua contribuição.

Nos países industrializados, por exemplo, a oferta torna-se gradualmente multiforme


e utiliza meios e apoios muito variados, como os media e a informática. Por todo o
lado, o ensino à distância e as universidades abertas desenvolveram-se. O Ministério
da Educação deixou de ter o monopólio absoluto sobre a oferta de formação, (nalguns
países mesmo no sector público). Os métodos e o campo de aplicação da planificação
devem adaptar-se tendo em conta esta diversificação.

Tal como vimos numa das lições anteriores, a educação funciona de forma sistémica,
inter-relacionada com outros sistemas. Neste sentido, ao discutirmos o contexto
educativo vejamos a relação entre ele e os sistemas económico e político. A crise
económica, por exemplo, afectou de maneira muito diferenciada os países. Naqueles
que mais duramente foram atingidos, houve um aumento do desemprego e do sub-
emprego, afectando inclusivamente os graduados dos níveis mais elevados.

O desemprego leva não só à grave deterioração dos níveis de vida e à pobreza


crescente, como também possui consequências a nível da educação: por um lado,
desencoraja os alunos (ou a sociedade) a continuarem os seus estudos pois, na
análise que as pessoas fazem, o investimento e os sacrifícios consentidos na
educação não têm retorno, são um desperdício, não vale a pena fazê-los.

Por outro lado, a nível de decisores políticos (sistema político), estes questionam a
priorização à favor da Educação, na distribuição do orçamento nacional em relação
aos diversos serviços públicos. Vários são os países, por exemplo, que
desenvolveram a visão de que os investimentos no ensino superior e/ou no ensino
técnico deveria m reduzir. O que, como é evidente, põe em causa o seu
desenvolvimento, a longo termo.
No caso dos países mais desenvolvidos, a crise económica suscitou novas
estratégias. Os países sentiram que deviam apostar na capacidade de inovação, de
desenvolvimento de novos produtos e de novos procedimentos. Viram que deviam
reestruturar as suas economias. Estes países apostaram sobretudo na inteligência.
Investiram nos seus sistemas educativos (estruturas, conteúdos, métodos). A
planificação da educação foi chamada a dar a sua contribuição.

Outros países situaram-se no meio destes dois extremos. Muitos beneficiaram-se da


acção de grandes empresas multinacionais e conheceram um crescimento rápido ao
longo dos últimos anos, sem que tal tenha passado pelos seus sistemas educativos.
Entretanto, confrontados com uma concorrência internacional cada vez mais
contudente, estes países devem melhorar a qualidade e a flexibilidade da sua mão-
de-obra.

Todas estas evoluções complicam extremamente os métodos de planificação.


Actualmente vivemos a época das incertezas. É praticamente impossível prever com
precisão, num horizonte de 10 ou 15 anos as necessidades de mão-de-obra por níveis
de qualificação e especialização. Só para dar um exemplo, as numerosas
qualificações requeridas nos EUA e no Japão pelas suas economias, no fim dos anos
80, não existiam e não tinham sido imaginados no início dos anos 70.

Portando, as incertezas vêem-se nos países subdesenvolvidos, nos de


desenvolvimento intermédio como nos mais desenvolvidos. Não podendo prever as
necessidades de mão-de-obra por níveis de qualificação e especialização
necessárias no futuro, é imperioso que o exercício de planificação da educação
acentue a qualidade, a polivalência e a flexibilidade da mão-de-obra.

Como é que tal pode ser feito? A par da escolarização formal, é hoje um imperativo o
desenvolvimento de programas de educação extra-escolar, formal, não formal que
completem ou substituam a formação escolar. Estes programas, mais flexíveis,
permitiriam que as pessoas adquirissem especializações solicitadas pelo mundo do
trabalho, permitiriam a actualização permanente das pessoas, permitiriam, se calhar
de forma mais eficaz do que o sistema escolar, desenvolver as atitudes e os
comportamentos requeridos pelo mundo do trabalho.
b) Gestão e Administração da Educação Eficientes

Os planificadores da educação têm que estar atentos ao sector de Administração dos


sistemas educativos que, como se sabe, são parte fundamental na implementação de
planos de educação.

Na generalidade dos países a administração é centralizada, por razões relacionadas


com as tradições culturais, a vontade dos governantes de exercerem maior controle
sobre o conteúdo e a qualidade de ensino, a vontade de reduzir as disparidades
regionais e de promover a unidade nacional e a falta de pessoal qualificado aos níveis
regional e local.

No entanto, imensas decisões tomadas ao nível central, deviam sê-lo nos escalões
inferiores. Aliás, em muitos países de administração centralizada, há deficiências de
comunicação, entre os diferentes escalões e, igualmente, se verifica que as decisões
tomadas ao nível central, em muitos casos, apenas são parcialmente executadas.

Vários especialistas sugerem a descentralização da administração da educação.


Segundo eles, tal favoreceria a participação efectiva dos actores no processo. A
descentralização torna autónomas as instituições educativas, favorecendo as
inovações locais, ou seja, tornam os estabelecimentos mais sensíveis às
necessidades das comunidades.

Mas há argumentos contrários. Especialistas há que sustentam que a


descentralização pode provocar grandes disparidades entre regiões e comunidades.
A existência de uma administração eficiente, com um bom sistema de alocação de
recursos é, certamente, um dos maiores desafios em que a planificação da educação
deve dar a sua contribuição.
Referências

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