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Didática de Língua Portuguesa

Introdução

Este texto foi produzido para servir de ponto de partida para a aprendizagem dos conteúdos
prescritos no plano/guia da disciplina que lhe foi disponibilizado. Leia este e depois procure
aprofundar mais através da bibliografia recomendada no final do texto. Nesta primeira fase,
estão incorporados alguns dos assuntos tratados nas quatro primeiras unidades temáticas da
disciplina e que foram tratados na primeira tutoria presencial. Lembre-se sempre que se trata
de resumo, pelo que deve ser complementado com outras fontes.

1. Didática das Línguas e/ou de Língua Portuguesa: o que é?

A Didáctica “refere-se à capacidade de promover, por meio de actos sistemáticos e


intencionais, a aprendizagem activa de determinados conteúdos curriculares (AZEVEDO,
2010)”. Para o autor, isso implica que o professor deve possuir, com profundidade e rigor, o
conhecimento do conteúdo programático a ensinar, do sujeito que aprende e das metodologias
a aplicar.

Neste sentido, a Didáctica das Línguas é uma disciplina que procura orientar o ensino das
línguas em geral, propondo métodos, técnicas e procedimentos que visam a optimização das
situações de ensino e aprendizagem.

É a Didáctica que nos permite entender que os modos de ensinar são determinados pela
própria matéria e pelo sujeito. Fontes referem que a Didáctica das Línguas tem o seu início
nos anos 70. Por oposição à Linguística aplicada que dá primazia ao objecto em detrimento do
sujeito, a D.L. impõe a presença do sujeito no centro das reflexões.

Ela alarga a visão disciplinar, mas continua aplicacionista, isto é, dependente da Linguística,
da Psicologia e de outras disciplinas de referência que ela mobiliza.

1.1 Didáctica das Línguas Como ciência

É ciência auxiliar da Pedagogia que promove os métodos mais adequados para o


ensino/aprendizagem de línguas.

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O seu objectivo é o de tornar o ensino/aprendizagem de línguas mais prático e eficiente,

O objecto de estudo da Didáctica das Línguas é o ensino/aprendizagem de línguas, neste


caso, de língua portuguesa, considerando, no seu todo, os métodos e formas organizativas
desse ensino, os meios, etc.

1.2 Relações com outras ciências

A didáctica das Línguas tem relações com as disciplinas fundamentais em que ela se apoia,
como é o caso de Linguística, da Psicologia, da Sociologia e da Pedagogia. Para
GALLISSON & COSTE (1983) a relação da Didáctica com essas ciências pode ser
comparada com a de Geografia com a Geologia, Economia, Climatologia, Ecologia, etc.

Fontes referem que a Didáctica das Línguas tem o seu início nos anos 70. Por oposição à
Linguística aplicada que dá primazia ao objecto em detrimento do sujeito, a D.L. impõe a
presença do sujeito no centro das reflexões.

Ela alarga a visão disciplinar, mas continua aplicacionista, isto é, dependente da Linguística,
da Psicologia e de outras disciplinas de referência que ela mobiliza.

1.3 Didáctica Analítica

Segundo GALLISSON & COSTE (op.cit) é a análise científica do ensino das línguas. Esta
Didáctica trabalha em três campos de investigação: a língua, o método e o ensino. Quer dizer,
propõe-se conduzir um estudo científico de cada um desses campos.

2. Processos de aquisição e aprendizagem de línguas

Antes de discutirmos os modos pelos quais as crianças adquirem ou aprendem as línguas,


importa-nos discutir os próprios conceitos envolvidos nesse processo e algumas terminologias
úteis em Didática das Línguas.

2.1 Aquisição
Aquisição pode ser definida em dois sentidos:

1. No sentido de processo, designa o modo “natural” de apropriação de uma língua,


podendo ser materna, L2 ou LE, por oposição ao modo escolar (pura imersão
linguística, i.é, não guiado dominantemente, não consciente e implícito).
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2. No sentido de produto do processo de aquisição e de aprendizagem (resultado),
designa uma forma linguística ou um conteúdo assimilado pelo aprendente.
Processo de aquisição

Segundo GALLISSON & COSTE (1983: 63) processo de aquisição designa a organização de
actividades ou de dispositivos que permitem a fixação, voluntaria ou não, dum dado
percebido.

2.2 Aprendizagem

É uma actividade sistemática de aquisição de conhecimentos, actos, convicções de forma


organizada e dirigida pedagogicamente em instituições específicas. Por oposição à aquisição,
o processo de aprendizagem é dirigido e dominantemente consciente/explícito.

O conceito de aprendizagem e suas práticas foram evoluindo ao longo dos tempos,


procurando sempre adequar-se à realidade e aos objectivos.

Historicamente, a aprendizagem foi concebida como uma recepção (na Pedagogia dita
tradicional, onde o aluno aprende passivamente por assimilação directa do saber preparado e
transmitido pelo ensinante ou pelo material); como uma impregnação (no “banho
linguístico”, onde o aluno aprende espontaneamente por contacto e prática intensivos); como
uma reacção (o aluno aprende activamente reagindo às solicitações verbais do professor ou
do material: estímulos de exercícios mecânicos, actividades guiadas); depois como uma
construção (o aluno aprende activamente através de uma construção pessoal do seu próprio
saber).

Uma didáctica complexa encara simultaneamente a prática dessas quatro convicções ao


mesmo tempo opostas e complementares.

Em Didáctica das Línguas só existe aprendizagem de uma língua se o processo é feito por um
sujeito activo e implicado. Por isso se diz que o aprendente é aquele que está implicado e
activo.

2.3 Outros Conceitos Fundamentais em Didáctica das Línguas

a) Língua materna (L1) de um indivíduo é aquela que é adquirida em primeiro lugar, no


momento do seu desenvolvimento. É o mesmo que língua materna (LM).
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b) Língua Segunda (L2) é aquela que normalmente é aprendida em seguida, ou seja, logo
após a aquisição da L1, e que responda a uma necessidade social de intercomunicação entre
grupos ou comunidades linguísticas. Ela tem uma posição particular por falar-se muitas vezes
na comunicação social e é usada nos meios escolares assim como na administração.

Diz-se também L2 para qualificar o estatuto da língua adoptada por um sujeito.

c) LE é uma língua não nativa do sujeito que é aprendida na sala de aulas com o objectivo de
responder às necessidades específicas tais como a inserção num ambiente de trabalho, ou
possibilitar a leitura da informação escrita nessa língua.

Ex.: as línguas francesa, inglesa e alemã em Moçambique; ou algumas línguas nacionais


aprendidas pelos estrangeiros.

d) L-padrão (língua padrão) - variante dialectal escolhida como modelo para a constituição
do dicionário, gramatica e outros materiais didácticos relativos a uma determinada língua.

e) Interferência

O conceito de interferência é quase multidisciplinar, pois ele interessa a vários campos de


conhecimento humano, tais como as ciências de comunicação, Psicologia e Didáctica das
Línguas. Interessa-nos defini-la nestas duas últimas perspectivas.

a) Em Psicologia Aplicada, interferência designa o efeito negativo de uma


aprendizagem sobre a outra.
b) Em Didactica das Línguas, interferência designa dificuldades encontradas pelo
aluno e erros que comete em LE devido à influência da sua L1 ou outra LE
anteriormente aprendida. O mesmo pode acontecer em relação a L2, em que o
aluno comete erros ou encontra dificuldades devido a sua L1 ou mesmo entre a
L2/LE.

De acordo com Gallisson e Coste (1983), as interferências podem afetar os diferentes níveis
de organização da linguagem. Podem retardar ou contrariar a aquisição de um sistema
fonológico novo, de hábitos de acentuação, esquemas melódicos (interferências fonológicas

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ou fonéticas). As interferências podem afetar as marcas gramaticais, a morfologia, a estrutura
do enunciado, a ordem de palavras (interferências morfológicas ou gramaticais).

Podem provocar a escolha de palavras impróprias em consequência de diferentes analogias


semânticas. São interferências lexicais.

f) Transferência - influência de uma aprendizagem sobre outra mais ou menos semelhante.

3. A Competência comunicativa na aprendizagem

Competência comunicativa designa o conhecimento das regras psicológicas, culturais e


sociais que comandam a utilização da fala num enquadramento social (Hymes apud Gallisson
e Coste, 1983). Desta feita, a competência comunicativa “supõe o domínio de códigos e de
variantes sociolinguísticas e dos critérios de passagem de um código ou de uma variante a
outros”; ela implica também um saber pragmático relevante às convenções enunciativas em
uso nessa língua.

O professor de Língua portuguesa deve criar condições técnicas, pedagógicas e científicas que
ajudam a promover a competência comunicativa no aluno, sobretudo no terceiro ciclo do
Ensino Básico. A competência comunicativa é essencial para que o aluno desenvolva
capacidades cognitivas, científicas e tecnológicas, pois através dela passará de um saber
enunciativo para um saber-fazer enunciativo.

A competência comunicativa é um factor fundamental não apenas na aprendizagem da língua,


mas também na aquisição de conhecimentos de todas as disciplinas escolares. Um aluno com
competência comunicativa demonstra habilidades em exprimir sensações, julgar o mundo que
o rodeia e dialogar com vários tipos de interlocutores em contextos também diferentes. No
entanto, para que os alunos atinjam competência comunicativa, é necessário que o professor
seja criativo, dinâmico e não só, saiba selecionar melhores estratégias didácticas, melhores
materiais e meios didácticos.

O professor deve estimular a liberdade de comunicação na sala de aula, privilegiando sempre


a utilização de estratégias integradas em métodos activos. Através das suas estratégias
didácticas, o professor deve garantir que os alunos se sintam bem motivados para cada aula de
Língua Portuguesa.

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A motivação está ligada, ou seja, puxa ao seu lado o prazer de aprender.

Contente (2000:74) refere que para os alunos, a motivação, prazer e necessidade são
essenciais para um maior sucesso e aderência ao ensino/aprendizagem.

4.O Português no novo currículo

No novo currículo do Ensino Básico, Português como disciplina encontra-se integrada na área
de comunicação e ciências sociais, onde estão outras várias disciplinas como História,
Geografia, entre outras.

De acordo com o Plano Curricular de Ensino Básico (2008:36), o ensino da Língua


Portuguesa tem como objectivo dotar os alunos de capacidades e habilidades para comunicar,
oralmente e por escrito, de modo a participar integralmente na vida social, cultural,
económica e política do país e do mundo.

Para materializar este objectivo, tendo em conta a nova abordagem didáctica em torno desta
língua tida como causadora do insucesso escolar nas crianças, o desenho curricular
estabeleceu uma estrutura de ensino em que em alguns ciclos ela é disciplina e noutros um
meio de ensino.

“Nos programas de ensino, monolingue - Português L2, a língua portuguesa é meio de ensino
e é uma disciplina de estudo da própria língua. Nos programas de ensino bilingue, a Língua
Portuguesa é, numa primeira fase, uma disciplina (1º ciclo) e progressivamente vai-se
tornando meio de ensino de algumas disciplinas (2º ciclo).”

5. O papel das línguas maternas na aula de Português

Apesar de língua portuguesa falar-se em toda a extensão do país, ela continua a ser língua da
minoria até hoje. Mesmo assim, ela goza de um estatuto privilegiado, ao ser língua de ensino
e de acesso à ciência, da unidade nacional, oficial, de intercâmbio social e cultural.

A maior parte dos alunos ou crianças que ingressam na escola já tem competência
comunicativa básica nas suas línguas maternas. Este facto leva o Ministério da Educação e
Desenvolvimento Humano a reconhecer e autorizar o uso das línguas moçambicanas em sala
de aula, apesar de o sistema e política linguística moçambicana definir o português como
única língua de ensino. Assim, refere o PCEB (2008:37), que a utilização das línguas
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moçambicanas na escola tem por objectivo “desenvolver as competências que os alunos já
possuem para a iniciação à leitura e escrita, desenvolver outras habilidades e assegurar a
valorização dos conhecimentos e da cultura que estas línguas veiculam.”

Na busca de compreender o papel das línguas maternas no ensino e aprendizagem da L2 ou


LE, as pesquisas didático-linguísticas são divergentes. Umas acreditam que a LM poderá
facilitar a aprendizagem da L2 ou LE, enquanto outras pesquisas olham-na como entrave
suficiente para o sucesso da aprendizagem.

De facto, atendendo e considerando que a língua portuguesa pertence a um sistema linguístico


muito distante do das línguas moçambicanas, de ordem bantu, é polémico e difícil acreditar
que ela (LM) contribui positivamente na aprendizagem da língua portuguesa. Na
aprendizagem da L2, a L1 causa interferência, fenómeno este que Girard (1975) apontou
como um dos obstáculos no sucesso do ensino e aprendizagem de uma L2 ou LE.

6. O ensino da oralidade

Define-se oralidade como sendo o uso expressivo da língua em oposição ao código escrito, no
acto de comunicação.

GALLISSON e COSTE (1983:527) observaram que a linguística dos últimos dois séculos
(XIX e XX) e a metodologia do ensino de línguas sublinharam a distinção entre o oral e o
escrito. A sua distinção centra-se em dois níveis: (i) ao nível do sistema, do código e (ii) ao
nível das realizações, do discurso.

(i) Ao nível do sistema, do código


A este nível, os dois códigos (oral e escrito) não se confundem; “às difencas
ligadas ao canal correspondem diferencas na organização dos significantes (…)”.
Tal como Gallisson e Coste (op, cit) observaram relativamente ao Francês,
também em português, diacronicamente, o codoigo oral e o código escrito não
evoluíram da mesma maneira.
(ii) Ao nível das realizações, do discurso
Em relação a este nível de distinção dos códigos, os autores destacam quatro
aspectos que nos importa referenciar a seguir:
 Geralmente, as condições de comunicação no oral e no escrito diferem ;

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 O oral não permite voltar atraas, tanto para o emissor quanto o receptor; o
emissor produz falhas, rupturas de construção, lapsos, hesitações, que no
escrito podeiam ser eliminados, apagados, rasurados: o escrito
permite o arrependimento. O auditor, diferentemente do leitor, não pode
retomar um enunciado mal compreendido, relee-lo, deter-se nele; o
destinador, se tomar em consideração, na produção da sua mensagem oral,
estas condições de recepcao, é obrigado a redundâncias, a paráfrases, tanto
mais que as marcas não são sempre tao numerosas no oral como no escrito.
A extracção, a frase segmentada são frequentes nos discursos orais.
 O oral dispõe muitas vezes de meios linguísticos, para linguísticos,
extralinguísticos desconhecidos do escrito: a entoação, as mimicas, os
gestos, a situação da enunciação no seu conjunto podem veicular elementos
da mensagem que, no escrito, têm necessidade de palavras para passar. O
oral aparece assim como potencialmente mais alusivo, mais económico do
que o escrito; esta segunda serie de constatações completa e gradua a
primeira, sem a contradizer.
 O oral e o escrito não têm o mesmo estatuto sociolinguístico: o escrito,
quase sempre escolar pelas condições em que é aprendido,é sentido como
mais regulamentado, mais rígido, mais valorizado, ou desvalorizado do que
o oral, mais artificial. Estes traços, ligados aos inventariados mais acima,
fazem do discurso escrito um modo de comunicação menos afectivo,
menos espontâneo, mais distanciado do que o discurso oral.

As diferenças entre o discurso oral e o discurso escrito vão implicar nas diferenças de
estratégias didácticas. Ao planificar aulas de oralidade, o professor deverá ter em conta essas
diferenças e selecionar materiais e meios didáticos conducentes a uma aprendizagem bem
sucedida.

De forma resumida, o discurso ou texto oral apresenta características peculiares que nos
importa mencionar:

a) Frases incompletas;

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b) Desvios à norma;
c) Repetições;
d) Bordões de fala;
e) Interjeições.

6.1 A comunicação oral na sala de aula de língua

Vários estudiosos, como é o caso de Xavier (2010:6), referem que a aprendizagem de uma
língua depende do desenvolvimento das capacidades de ouvir, falar, de ler e de escrever. A
este pensamento, associa-se ao dos defensores do método directo, segundo o qual só se
aprende uma língua submetendo-se a ela directa e constantemente.

A oralidade constitui elemento e condição fundamental para o sucesso dos alunos em outras
áreas de aprendizagem de língua portuguesa. Na verdade, a língua começa do oral para o
escrito. Assim, o aluno com uma comunicação oral deficiente em língua-alvo poderá ter
dificuldades enormes em aprender a escrever nessa língua. Por isso, nas classes iniciais, dado
o contexto de ensino e aprendizagem do Português em Moçambique (L2), antes de começar-
se a ensinar o alfabeto português, devemos definir um bom tempo, várias semanas ou
trimestres inteiros para o ensino da oralidade.

Nas classes iniciais (1ª e 2ª classes), o ensino da oralidade baseia-se na leitura de imagens.
Estas podem ser encontradas em cartazes diversos, folhetos, nos livros infantis, no jornal, etc.
As imagens são um grande potencial para o ensino e aprendizagem da oralidade, sobretudo
para as crianças que se deparam com a língua portuguesa somente no contexto escolar.

Para que se logre o sucesso desejado com as imagens, o conhecimento técnico do professor e
a sua criatividade são importantes. É preciso escolher boas estratégias didáticas, ou seja,
pautar pelos melhores princípios didácticos desde a seleção até à aplicação dessas imagens na
aula. Waddington e Veloso (2010:8) avançam algumas indicações consideradas frutíferas:

“Pode-se pegar numa imagem de um livro infantil, de um cartaz, do próprio livro do aluno, e
explorá-la com as crianças, levando-as a dizer tudo o que veem, quais as cores, quantas
coisas, etc., até que todos os elementos tenham sido referidos”. Nas situações em que as
crianças não sabem falar a língua portuguesa, o professor deve recorrer à L1 para fazer este
trabalho técnico. Porém, ao recorrer à L1 dos alunos, o professor deve ter sempre em mente

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que o fim desse trabalho é a aprendizagem da L2. Ou seja, o recurso à L1 deve culminar com
a produção oral de frases em L2.

Para o desenvolvimento da oralidade nas classes iniciais, de acordo com Waddington e


Veloso (op.cit.), a exploração de imagens compreende sete fazes a seguir mencionadas:

1- Nomear/ enumerar;
2- Função;
3- Relacionar;
4- Interpretar;
5- Contar;
6- Recontar;
7- Ilustrar.

As aulas de oralidade com base em imagens devem ser dadas ao ar livre, isto é, fora da sala de
aula, como forma de facilitar a ligação da imagem com o real e a expansão do seu conteúdo
(da imagem). Neste sentido, o meio ambiente que rodeia a escola também deve ser usado para
desenvolver a oralidade nas classes iniciais, referem os autores.

O ensino da oralidade deve ser mais intenso, dominante, quase que exclusivo para os dois
trimestres da 1ª classe para que, a seguir, seja combinado com o ensino da leitura e escrita.

No caso do segundo e terceiro ciclos de aprendizagem no Ensino Básico, tendo em conta


que os alunos possuem um pouco da expressão oral em português, as estratégias de ensino da
oralidade começam a mudar gradualmente e a imagem sozinha já deixa de ser estratégia
fundamental.

“As situações de comunicação criadas na sala de aula devem aproximar-se tanto quanto
possível de situações reais de comunicação (XAVIER, 2010:7)”. Para a autora, os alunos
devem:

a) Ser treinados na sua capacidade de escuta, tendo como objectivos:

- ouvir para responder;

- ouvir para se informar;


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- ouvir para se recrear.

b) Pronunciar com articulação e entoação adequadas;

c) Poder relatar as suas experiencias, exprimir as suas ideias e desejos, pedir esclarecimentos
e dar opiniões;

d) Poder exprimir-se de acordo com os seus interesses;

e) Poder falar sem serem constantemente interrompidos pelo professor, mesmo que seja para
correção de erros.

As estratégias de ensino da oralidade baseiam-se em vários tipos de actividades, próprias para


o desenvolvimento e melhoramento da expressão oral.

6.2 Tipos de actividades orais

As actividades orais, ou seja, as que ajudam a promover, desenvolver e melhorar a expressão


variam do ciclo para ciclo. Quer dizer, as actividades orais prescritas no primeiro ciclo do EB
podem não ser as mesmas para o segundo e terceiro ciclos de aprendizagem.

No 1º ciclo, a exploração de imagens e canções são estratégias mais importantes para ensino
da oralidade.

No 2º ciclo, sendo este um nível intermediário, temos que continuar a usar as estratégias do
ciclo anterior para o ensino da oralidade, mas de forma reduzida. Neste ciclo, há que iniciar a
aplicação de outras estratégias e intensificar mais o ensino da oralidade, tendo em conta que o
sucesso da aprendizagem da língua no ciclo seguinte depende das habilidades dos alunos em
ouvir e falar a língua portuguesa.

De entre as várias actividades, importa destacar as seguintes:

a) Ouvir - o professor deve definir actividades que levem o aluno a desenvolver


capacidades de ouvir;
b) Dialogar - o professor deve simular situações que suscitem diálogo entre os alunos;
c) Dizer advinhas e anedotas - aproveitar a realidade cultural da zona e do aluno através
de advinhas e anedotas na sala de aula de língua portuguesa;

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d) Jogos orais - escolher certas actividades lúdicas que possam ajudar o aluno a
desenvolver a expressão oral na aula;
e) Cantar - fazer com que os alunos cantem em português, na sala de aula. Essas canções
podem ajudar tanto para a motivação quanto para o desenvolvimento da oralidade;
f) Desenhar - levar o aluno ao quadro, para fazer um desenho à sua escolha. A seguir,
pedir que ele o interprete em língua portuguesa.

Para o 3º ciclo, recomenda-se a utilização das seguintes actividades:


a) Narração de histórias;
b) Relato de experiências pessoais;
c) Troca de informações entre alunos;
d) Recitação de poemas infantis;
e) Reconto oral de pequenas histórias;
f) Comentário de textos lidos;
g) Descrição de objectos e situações;
h) Dramatização.

As actividades aqui mencionadas, para cada um dos ciclos, devem ser usadas de forma
variada e escolhidas em função da classe respectiva. Isto é, a escolha de certa actividade deve
ter em conta a sua complexidade, para identificar a classe a utilizar dentro do ciclo.

O professor deve assegurar que os alunos participem nessas actividades em pé de igualdade e


activamente, isto é, fazer com que cada aluno tenha direito a intervir e a ser ouvido pelos
colegas como pelo próprio professor.

7. O Ensino da Leitura o Ensino Básico

Para discutirmos o ensino de leitura no Ensino Básico, importa-nos, primeiro, estabelecer o


conceito desta área didáctica tão pertinente para o desenvolvimento intelectual da criança.

No que se refere ao conceito, a leitura é definida de diversas formas, tendo em conta os


objectivos e modos como ela se processa. Nesta ordem de ideias, definiremos a leitura em
duas perspectivas, dentro do Ensino Básico.

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a) Leitura - acção de identificar as letras e de as juntar para compreender a ligação entre
o que é escrito e o que é dito (cf. Gallisson e Coste, 1983). Quer dizer, a leitura é o
acto que consiste na descodificação (reconhecimento) de letras ou sons da língua.
Este é o conceito que norteia as acções didáticas no primeiro ciclo do Ensino Básico e
se prolonga um pouco para o segundo ciclo. Nesta fase, ensinar a ler significa nada
mais, nada menos do que ensinar os alunos a reconhecerem os sons da língua, seja de
forma isolada ou mesmo agrupada.
Nesta fase, a leitura em si é um fim e objecto de estudo.
b) Leitura - acção de percorrer com os olhos o que está escrito para tomar conhecimento
do conteúdo. Quer dizer, ensinar a ler significa levar o aluno a apreender o sentido
textual; a leitura é encarada como meio de acesso a outros conhecimentos.
CONTENTE (2000:11) observou que a leitura perde por vezes o seu estatuto de
objecto de ensino para se tornar numa actividade ao serviço de outras aprendizagens.
Isto começa dentro do segundo ciclo e ganha mais valor ou ênfase no terceiro ciclo do
Ensino Básico.

Uma das funções básicas da escola é proporcionar aos alunos o desenvolvimento pleno das
capacidades de leitura e escrita. No enanto, isto não tem sido tarefa fácil hoje em dia e requer
um conhecimento teórico-prático dos professores.

O plano curricular e os respectivos programas foram desenhados com o propósito de levar os


alunos a saberem ler (descodificar os sons da língua) até ao final da 2ª classe. Cabe a nós,
professores, definirmos as técnicas e estratégias adequadas ao alcance deste desejo.

Na aprendizagem da leitura e escrita, as letras constituem a unidade mínima e básica, pelo que
o ensino deve começar pelas letras que compõem o alfabeto português (cf. Amós e Martins,
2005:7). E dentro do alfabeto português, por imperativo do método analítico-sintético,
devemos começar com vogais para depois irmos aos ditongos. Destes vamos às consoantes e
depois sílabas.

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Considerações Finais

O conceito de leitura no Ensino Básico não é o mesmo em todos os ciclos de aprendizagem. A


diferença reflete-se significativamente entre o 1º e 3º ciclo. O 2º tem sido ciclo intermediário,
podendo confluir práticas didáticas relacionadas aos conceitos dos dois outros, ou seja, é nele
em que termina o conceito inicial da leitura e começa o outro que se prolonga até ao nível
secundário. A diferença do conceito de leitura ora referida implica diferenciação das
estratégias didáticas na área de leitura no Ensino Básico.

Para que se tenha sucesso no ensino de leitura e mesmo na oralidade, a criatividade do


professor é fundamental.

Para o ensino do vocabulário e da oralidade, o recurso a LM será sempre inevitável, sobretudo


em contextos em que os alunos não têm a língua portuguesa como L1. Porém, há que
potenciar o uso de objectos que tenham relação com a realidade dos alunos, antes de recorrer
à L1 dos alunos.

No ensino da leitura, é preciso respeitar a sequência tecnicamente estabelecida através dos


manuais de Didáctica de Língua Portuguesa, os quais o professor deve ler e procurar
interpretar corretamente, mas sem perder as suas iniciativas didático-pedagógicas.

Bibliografia

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Editora, 1996.

AMÓS, Armindo & MARTINS, Flávia. Didáctica do Português. Texto Editores. Maputo, 2007.

AZEVEDO, Fernando José Fraga de. Metodologia da Língua Portuguesa. Plural Editores.
Maputo, 2010.

CARVALHO, Adalberto Dias de. Novas Metodologias em Educação. Porto Editora. Porto,
1995.

CONTENTE, Madalena. A leitura e a escrita – estratégias de ensino para todas as


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FIRMINO, Gregório. A Questão Linguística na África Pós-colonial: o caso do português e
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XAVIER, Joana. Pedagogia do Português - 2º e 3º ciclos. Plural Editora. Maputo, 2010.

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