Você está na página 1de 11

História A

2.1 A economia portuguesa: do pós-guerra ao início da década de 70

2.1.1 A estagnação do mundo rural

Portugal permanecia um país essencialmente agrícola: 48% da população ativa dedicava-se à


agricultura e a agricultura continuava a ocupar um importante peso no PIB;

Bloqueios ao desenvolvimento agrícola/ Causas da estagnação do mundo rural:

- mau dimensionamento das propriedades (latifúndios no Sul, propriedades imensas; pequenas


e médias propriedades no Norte e Centro, os minifúndios);
- baixo investimento privado na agricultura;
- fraca produtividade (80% da propriedade produzia menos de 15% do produto agrícola);
- falta de adequação das culturas à qualidade dos solos;
- baixo preço dos produtos agrícolas;
- prática de baixos salários;
- baixa qualificação da mão de obra;
- envelhecimento da população rural;
- êxodo para as cidades;
- falta de vias de comunicação que ligassem as zonas produtoras às cidades do litoral, locais de
consumo e exportação.

Na década de 60, quando o país enveredou pela via industrializadora, a agricultura viu-se relegada
para segundo plano e foi olhada por muitos como um “caso sem solução”. A década saldou-se por um
enorme decréscimo na taxa de crescimento do Produto Agrícola Nacional e por um êxodo rural
maciço, que esvaziou as aldeias do interior.

2.1.2 A emigração

A emigração em Portugal persiste desde a época dos Descobrimentos, reduz-se nos anos 30 e 40,
primeiro devido à Grande Depressão e depois devido à Segunda Guerra Mundial. Nos anos 60 atinge
os maiores níveis da História portuguesa, esta emigração não foi só para as cidades, mas
fundamentalmente para países industrializados da Europa (Alemanha-RFA, França, Luxemburgo,
Holanda) e para as Américas e África do Sul, o Brasil perdeu importância como destino da emigração
portuguesa.

Causas da emigração:

- Estagnação do mundo rural;


- Más condições de vida;
- Rendimentos muito reduzidos;
- As características repressivas do regime;
- A eclosão da guerra colonial.

O setor industrial é fraco e não tem capacidade para absorver a mão de obra excedentária.

A Junta de Emigração regulava e controlava a emigração, incentivando os portugueses a irem para as


colónias. Eram colocadas restrições à emigração exigindo-se: o cumprimento do serviço militar e a
conclusão da escolaridade obrigatória. Estas restrições impulsionaram a emigração ilegal. O Estado
procurou salvaguardar os interesses dos emigrantes portugueses, celebrando no início dos anos 60
acordos com os países de acolhimento para facilitar as transferências das poupanças dos emigrantes.
Estes acordos permitiram a obtenção de regalias sociais e a livre transferência, para Portugal, das
renumerações amealhadas. Representando, no início da década de 70, 6% do PIB.

Consequências da Emigração:

- As remessas dos emigrantes contribuíram para o aumento do PIB.


- Ajustou o mercado de trabalho e aliviou a pressão social;
- As novas vivências contribuíram para mudar hábitos e mentalidades;
- Provocou um envelhecimento da população e o despovoamento de certas zonas do país.

2.1.3 O surto industrial

As dificuldades no tempo da 2ª Guerra mundial deram força àqueles que defendiam a industrialização
como imprescindível ao desenvolvimento nacional. Em 1945 a indústria foi assumida como
prioridade económica, embora dentro do tradicional modelo de autarcia: o seu fim era o de substituir
as importações.

Em 1948, Portugal assinou o pacto fundador da OECE integrando-se nas estruturas do Plano Marshall.
A participação na OECE reforçou a necessidade de um planeamento económico, conduzindo à
elaboração de Planos de Fomento que, a partir de 1953 caracterizam a política de desenvolvimento
do Estado Novo.

I Plano de Fomento (1953-58)

- Construção de infraestruturas (eletricidade, transportes, comunicações, indústrias-base,


escolas técnicas).
- Desenvolvimento de unidades produtivas.
- Desenvolvimento das capacidades técnicas dos setores a dinamizar.

Il Plano de Fomento (1959-1964)

- Pretende aumentar o PIB e a produtividade.


- Melhorar os níveis de vida.
- Criar novos postos de trabalho.
- Equilibrar a balança comercial.
- A industrialização surge como o veículo que permite modernizar e desenvolver o país.
- Subordinar a agricultura à indústria.
- Reduzir as importações e aumentar o consumo de produtos nacionais

Plano Intercalar de Fomento (1965-67)

A abertura e internacionalização da economia levou a que, na transição do salazarismo para o


marcelismo, se criasse o Plano Intercalar de Fomento:

- O Plano Intercalar integra a metrópole e as colónias.


- Visa o crescimento económico e uma repartição mais justa da riqueza.
- Pretende aumentar as exportações e reduzir as importações.
- Criação de infraestruturas como forma de aumentar a produtividade.
- Promover a estabilidade financeira.
- Desenvolvimento das indústrias-base para potenciar o crescimento económico.

Ill Plano de Fomento (1968-73)

Plano implementado durante o período de Marcello Caetano; deu continuidade ao Plano Intercalar:
- Acentuou a necessidade da economia portuguesa se submeter à concorrência estrangeira e
diversificar as exportações.
- Promoveu o apoio às empresas exportadoras.
- A industrialização devia submeter-se às necessidades do mercado interno.
- Valorizou a iniciativa privada e o investimento estrangeiro.
- Procedeu à criação do polo industrial de Sines.
- Assinatura do acordo com a CEE para aprofundar laços económicos.

O III Plano de Fomento marca a abertura da economia portuguesa ao exterior.

IV Plano de Fomento (Aprovado em 1973)

Esteve em vigor durante um breve período do Estado Novo e:

- Pretendia realizar uma maior modernização e abertura ao exterior.


- Promover o desenvolvimento da iniciativa privada, apoiada pelo Estado.
- Promover o incentivo ao investimento estrangeiro.

O efeito das medidas económicas entre o pós-guerra e 1973:


- Crescimento do PIB.
- Modernização da indústria nacional.
- Abertura da economia portuguesa ao estrangeiro.
- Aumento das exportações.
- Crescimento dos setores secundário e terciário.
- Modernização da economia.

Os Planos de Fomento não foram suficientes para eliminar a pobreza e as desigualdades sociais.

2.1.4 A modernização da sociedade portuguesa: alterações na demografia e nos comportamentos

A urbanização e novos comportamentos

Nos anos 50 e 60 a urbanização acelerou-se e absorveu o êxodo rural.

Crescem cidades entre Braga e Setúbal, onde se concentram as indústrias e serviços.

Lisboa e Porto espalham-se subúrbios onde ficam aqueles que não podem pagar o custo das
habitações no centro. Nestes arredores, autênticos “dormitórios” das grandes cidades, aí concentra-
se a maior parte da população ativa. A expressões “Grande Porto” e “Grande Lisboa” ganham
significado. A expansão urbana não foi acompanha da construção das infraestruturas. Faltam
habitações, estruturas sanitárias, rede de transportes eficientes.

Aumentam construções clandestinas, proliferam bairros de lata, degradam-se condições de vida


(criminalidade, prostituição). Investimento em pontes e vias de comunicação não resolvem os
problemas porque as longas esperas e a sobrelotação dos transportes tornam a vida quotidiana difícil
para quem usa transportes públicos.

Crescimento das cidades representou um passo em direção a um mundo mais moderno e cosmopolita,
que aproximou Portugal dos padrões europeus. Deste modo formou-se um conjunto populacional
numeroso e escolarizado, capaz de intervir social e politicamente.
Sobretudo nos anos 60 a sociedade portuguesa sentiu uma grande mudança. As novidades chegavam
por vias diversas: por emigrantes, turistas, lojas divulgavam a moda londrina, programas de rádio e
revistas de música, televisão. Aos poucos, Portugal foi se aproximando dos padrões de
comportamento europeus. A sólida parede conservadora que protegia o Estado Novo estava prestes
a desmoronar-se.

2.2 O imobilismo político

2.2.1 O fim da guerra e o nascimento da oposição democrática

Após o fim da II Guerra Mundial e a queda dos regimes totalitários, fascista e nazi, houve a esperança
de mudanças no regime do Estado Novo.

Medidas tomadas:

- anúncio da revisão da Constituição de 1933;


- nova lei eleitoral;
- anúncio de eleições legislativas "tão livres, como na livre Inglaterra".

Este conjunto de medidas deu uma imagem de abertura do regime.

Em 8 de outubro, nasce o MUD (Movimento de Unidade Democrática), que congrega as forças até aí
clandestinas da oposição e reuniu apoios para participar nas eleições. O impacto deste movimento
ultrapassou todas as perspetivas e nasceu assim a oposição democrática. Dada a proximidade do ato
eleitoral, a oposição (MUD) solicitou o adiamento das eleições para:

- criar e legalizar partidos;


- reformular os cadernos eleitorais;
- assegurar a liberdade de expressão e de opinião.

As reivindicações não foram atendidas:

- a reformulação do recenseamento não ocorreu;


- a pressão da PIDE aumentou.

O MUD abandonou a sua candidatura, por considerar que o ato não passaria de uma farsa e as eleições
decorreram sem oposição. Os apoiantes do MUD foram perseguidos e o MUD desagregou-se. A União
Nacional venceu as eleições.

Em 1949, as forças oposionistas voltam a mobilizar-se. O general Norton de Matos candidatou-se em


oposição ao marechal Óscar Carmona. Norton de Matos conseguiu reunir apoios e mobilizar os
portugueses. Norton de Matos prometia a instauração de um regime democrático e denunciou o
regime do Estado Novo. Perante a falta de garantias de um ato eleitoral livre, retirou a sua
candidatura. Óscar Carmona foi reeleito Presidente da República.

As mudanças políticas na Europa, com a queda das ditaduras não tem impacto em Portugal, o Estado
repressivo mantém-se e a adesão à NATO/OTAN em 1949 confirma a aceitação do regime do Estado
Novo por parte das potências ocidentais.

O sobressalto político de 1958

O General Humberto Delgado apresenta-se como candidato independente à Presidência da


República. Ficou célebre pela afirmação: "Obviamente demito-o". O general propôs uma reforma
política, condenou o totalitarismo, defendeu a reforma da política ultramarina, defendeu as
liberdades fundamentais e pretendia um sistema democrático.

Américo Thomaz era o candidato apoiado pela União Nacional. Vence as eleições, no entanto, pela
primeira vez, o regime é ameaçado. As oposições radicalizam-se e empreendem ações de luta contra
o Estado Novo: Golpe da Sé - 1959; Assalto ao paquete Santa Maria – 1961; "Abrilada" liderada por
Botelho Moniz – 1961; Hermínio da Palma Inácio desviou um avião da TAP – 1961; Crise académica -
1962; Assalto à dependência do Banco de Portugal na Figueira da Foz (LUAR) - 1967.

2.2.2 A questão colonial

A política colonial foi repensada, devido à pressão internacional e à primeira vaga de descolonizações
que se segui após a 2ª Guerra Mundial.

No seio do regime a opinião divide-se quanto ao futuro da política colonial:

- Modelo integracionista: Salazar defendia que o Estado português era unitário, indivisível e
pluricontinental – “do Minho a Timor”.
- Modelo federalista: em virtude da pressão internacional e da ideia de que a descolonização
em África era irreversível, defendia a progressiva transformação das províncias ultramarinas
em Estados independentes.

O Ato Colonial é revogado em 1951 e o termo “colónia” e “império colonial português” foram
substituídos por “províncias ultramarinas” e “ultramar português”. Vigorou assim o modelo
integracionista.

Com estas alterações formais esperava o Estado Novo resistir à dinâmica histórica e manter intactos
os vastos territórios ultramarinos.

O fomento económico das colónias

Como reforço desta nova abordagem política, as colónias receberam também um impulso económico
significativo:

- Incremento da população branca favorecendo a emigração para o ultramar;


- Aumentaram investimentos públicos e privados (Angola e Moçambique- planos de fomento);
- O estado português procedeu à criação de infraestruturas (caminhos de ferro, estradas,
pontes, aeroportos, centrais hidroelétricas); promoveu o setor agrícola e extrativo virados
para o mercado externo, e apoio as iniciativas industriais.

O fomento económico das províncias ultramarinas intensificou-se com o início da Guerra Colonial.

A luta armada

Fatores que conduziram à guerra colonial (1961-1974):

- Resistência de Portugal à pressão internacional para descolonizar.


- Formação de movimentos independentistas nas colónias.
- Imobilismo político do Estado face à questão colonial.
- Falta de diálogo entre o Estado Novo e os movimentos de libertação.
- Apoio das forças internacionais aos movimentos independentistas.

Angola
- União dos povos de Angola (UPA) Holden Roberto 1954; que se transforma na Frente nacional
de Libertação de Angola (FNLA) 1962;
- Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) 1956 Agostinho Neto
- União Nacional para a independência Total de Angola (UNITA), Jonas Savimbi 1966

Moçambique

- Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) 1962 Eduardo Mondlane;

Guiné

- Partido para a independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGG) 1956 Amílcar Cabral

Angola foi o palco da guerra colonial quando a 15 de março de 1961, ocorreram uma série de ataques
do MPLA em Luanda e violentos ataques da UPA no norte, estendendo-se até Guiné em 1963 e no ano
seguinte em Moçambique.

O isolamento internacional

A política colonial portuguesa acabou por provocar o isolamento de Portugal num contexto
internacional. Portugal aderiu à ONU em 1955 com a posição que não mantinha “territórios não
autónomos”. Em 1960 a ONU reforçou o direito à autodeterminação dos povos sob domínio
estrangeiro, na conferencia de Belgrado.

Com o início da guerra em Angola em 1961, a posição da ONU sublinhou-se condenando diretamente
a ação do governo português em relação à sua política colonial, tendo excluído Portugal do Conselho
Económico e Social.

O isolamento nacional foi agravado quando os EUA, durante a administração de Kennedy, retiraram o
apoio a Portugal no quadro da ONU. Os países aliados da NATO acabaram também por condenar a
posição Portugal. Salazar agarrado às suas convicções disse: “Portugal não está à venda”, “a Pátria não
se discute” encarando o facto de ficarmos “orgulhosamente sós”.

2.2.3 O Marcelismo

Reformismo político não sustentado

Marcello Caetano sobe ao poder em 1968, como Presidente do Conselho substituindo Salazar. Provém
da ala mais liberal do regime e procurou conciliar os interesses entre os setores mais moderados e
conservadores - “Renovação na continuidade", concedendo aos portugueses a “liberdade possível”.

"Primavera Marcelista" - medidas de caráter mais liberal e reformista:

- Exilados, como Mário Soares e D. António Ferreira Gomes, foram autorizados a regressar ao
país.
- Modera a atuação da polícia política, a PIDE passou a denominar-se DGS (Direção-Geral de
Segurança).
- Ordena o abrandamento da Censura, mais tarde designada de Exame prévio.
- Abre a União Nacional que passa a ser designada ANP (Ação Nacional Popular) incluindo
elementos mais liberais.
- Reforma da educação implementada por Veiga Simão.

Para as eleições de 1969, foi concedido:

− Foi concedida uma maior liberdade à oposição,


− Direito de voto a todas as mulheres escolarizadas;
− Foram legalizados movimentos políticos não comunistas opositores ao regime;
− Foi autorizada a consulta dos cadernos eleitorais e a fiscalização das mesas de voto, para que
as eleições fossem "legitimamente democráticas"

Concorreram às eleições de 1969 a União Nacional (convidadas personalidades como Pinto Leite,
Miller Guerra, Sá Carneiro ou Pinto Balsemão, que formaram o grupo conhecido como “ala liberal”) e
a oposição (CED, CEUD, CEM). A União Nacional venceu as eleições tendo 100% dos lugares de
deputados.

Frustradas as esperanças de uma real democratização do regime, o presidente do conselho viu-se sem
o apoio dos liberais, que lhe condenavam a falta de força para implementar as reformas necessárias,
e alvo da hostilidade dos núcleos mais conservadores, que o culpavam pela onda de instabilidade que,
entretanto, tinha assolado o país.

Marcelo Caetano endurece a repressão política:

- as associações estudantis mais ativas são encerradas;


- a legislação sindical aperta-se;
- a polícia política inicia novas prisões (Mário Soares é exilado);

Os deputados da “ala liberal” abandonam progressivamente a Assembleia nacional.

O impacto da guerra colonial

A manutenção da posição de Portugal face às colónias votou Portugal ao isolamento internacional. A


manutenção da guerra colonial durante o período marcelista fez aumentar a contestação interna e
externa.

Contestação internacional:

- a ONU aprovou resoluções contra Portugal;


- o Papa Paulo VI recebeu os dirigentes do MPLA, FRELIMO, PAIGC;
- verificaram-se protestos durante a visita de Marcello Caetano a Londres;
- a ONU reconheceu a independência da Guiné-Bissau.

Contestação interna:

- grupos maoístas realizam ações contra o regime;


- católicos progressistas mobilizaram-se pela paz e contra a guerra colonial;
- Carta Pastoral de D. António Ribeiro defendia o pluralismo político e o sufrágio livre;
- III Congresso da Oposição Democrática;
- gerou-se um mal-estar nas forças armadas que contribuiu para o fim do regime.

O General António de Spínola, em 1973, publica a obra “Portugal e o Futuro” que dizia que a guerra
estava perdida.

2.3 O 25 de abril e o desmantelamento das estruturas do Estado Novo

2.3.1 O Movimento das Forças Armadas


No início dos anos 70, o impasse em que se encontrava a guerra colonial começou também a pesar
sobre as forças militares. Foi este sentimento que transformou um movimento de oficiais no
movimento revolucionário que derrubou o Estado Novo.

O Movimento dos Capitães nasceu em Julho de 1973, um movimento de oficiais iniciado por meras
questões de promoção de carreira. O Movimento dos Capitães depositou a sua confiança nos generais
Costa Gomes e Spínola. Face a estas posições e ao impacto do livro de Spínola, Marcello Caetano faz
ratificar a orientação da política colonial e convoca os oficiais generais das Forças Armadas para uma
sessão solene. Costa Gomes e Spínola não compareceram à reunião sendo, no me smo dia,
dispensados dos seus cargos.

Estes acontecimentos deram força àqueles que, dentro do Movimento (agora designado MFA –
Movimento das Forças Armadas), acreditavam na urgência de um golpe militar que, restaurando as
liberdades cívicas, permitisse a tão desejada solução para o fim da guerra colonial.

Depois de uma tentativa precipitada, em Março, o MFA preparou minuciosamente a operação militar
que, na madrugada do dia 25 de Abril de 1974 pôs fim ao Estado Novo.

Operação “Fim-Regime”

A operação “Fim-Regime” do MFA decorreu sob a administração de Otelo Saraiva de Carvalho

À 00h20 do dia 25, era transmitida a canção “Grândola, Viola Morena”, de José Afonso – sinal para as
unidades militares avançarem para a ocupação de pontos estratégicos para conseguir levar a cabo
com sucesso o ato revolucionário.

Perante o cerco das tropas de Salgueiro Maia no terreiro do Paço, Marcello Caetano foi obrigado a
render-se e a entregar o poder ao general Spínola, para que o país não ficasse sem governação.

Por fim, deu-se uma autêntica explosão social por todo o país, uma revolução nacional, de carácter
pacífico, que ficou conhecida por “Revolução dos Cravos”.

2.3.2 O desmantelamento das estruturas do Estado Novo

O ato revolucionário deu início ao processo de desmantelamento do regime do Estado Novo.

No próprio dia da revolução, foi nomeada uma Junta de Salvação Nacional, criada por acordo do MFA
e das Forças Armadas, encabeçada por António Spínola.

A Junta de Salvação Nacional foi responsável por desmantelar as estruturas do Estado Novo:

- Américo Tomás (presidente da república) e Marcello Caetano (presidente do concelho) foram


destituídos e exilados no Brasil;
- Presos políticos são libertados e os exilados podem regressar ao país;
- Formaram-se novos partidos políticos e sindicatos livres;
- A PIDE-DGS, a Legião Portuguesa e as Organizações de Juventude foram extintas, bem como
a Censura (Exame Prévio) e a Ação Nacional Popular.

O MFA comprometeu-se definindo um prazo máximo de um ano para a realização de eleições


constituintes. A Junta de Salvação Nacional, a 15 de maio de 1974, nomeou como presidente da
república o general António de Spínola, que escolheu Adelino da Palma Carlos para chefiar o I Governo
Provisório. Assim se deu início à democratização, um dos três dês (Democratizar, Desenvolver,
Descolonizar) que nortearam o MFA.

2.4 O período pré-constitucional (1974-76)

2.4.1 Tensões políticas e opções económicas

Entre a Revolução dos Cravos e a institucionalização o país viveu um período de grande instabilidade,
existindo grandes tensões sociais e fortes afrontamentos políticos.

O período Spínola

O caminho para a instalação e a consolidação da democracia não foi rápido e pacífico, mas
caracterizado por profunda conflitualidade política e social. Por um lado, o povo e o movimento
operário, aproveitaram o estabelecimento de liberdade para exigir melhores condições de vida e
aumentos salariais, estalando manifestações e greves pelo país.

Carente de autoridade e incapaz de assumir uma efetiva liderança do País. O I Governo provisório
demitiu-se menos de 2 meses após a tomada de posse, deixando o presidente Spínola isolado na quase
impossível tarefa de conter as forças revolucionárias.

De facto, o poder político fracionara-se já em dois polos opostos: de um lado, o grupo afeto ao general
Spínola; do outro, a comissão coordenadora do MFA e os seus apoiantes.

Spínola vai perdendo terreno para as forças de esquerda. Em 28 de setembro de 1974, uma
manifestação em seu apoio, que pretendia mobilizar a “maioria silenciosa” dos Portugueses que
estariam contra o rumo socialista da revolução, foi boicotada pelas forças da esquerda. Dois dias
depois, o presidente António de Spínola demite-se.

A Junta de Salvação Nacional indigita Costa Gomes para a Presidência da República.

A radicalização do processo revolucionário

A revolução tende a radicalizar-se. Para chefiar o II Governo Provisório (ficou do II ao IV) foi nomeado
um militar próximo do PCP, o general Vasco Gonçalves, enquanto era criado o Comando Operacional
do Continente (COPCON), que faziam uma serie de ordens de prisão de elementos moderados, para
intervir militarmente em defesa da revolução, tendo o seu comando sido confiado a Otelo Saraiva de
Carvalho, cada vez mais próximo das posições de extrema-esquerda.

Reagindo a este processo, as forças conservadoras tentaram um derradeiro golpe, em 11 de Março


de 1975, que fracassou, obrigando o general Spínola e alguns oficiais a procurar refúgio em Espanha.

O 11 de Março acentuou o radicalismo na revolução portuguesa e provocou o aumento da


conflitualidade política e social. Ao nível das forças armadas, foi constituído o Conselho da Revolução,
que se tornou o verdadeiro centro de poder, em substituição da anterior Junta de Salvação Nacional,
com o propósito de orientar o Processo Revolucionário em Curso (PREC), que deveria encaminhar
Portugal para uma sociedade socialista. Além disso, as forças de extrema-esquerda enveredaram por
uma estratégia de poder popular.

Poder popular: Expressão relativa à corrente impulsionada em Portugal por partidos e organizações
de extrema-esquerda, que se caracterizou pela atribuição ao povo da capacidade de resolução dos
seus problemas e de gestão dos meios de produção, o que se traduziu, designad amente, pela criação
de “comissões de moradores” e “comités de ocupantes”. Ocupação de casas vagas, do Estado ou
particulares.

As eleições de 1975 e a inversão do processo revolucionário

A inversão do processo deveu-se ao forte impulso dado pelo Partido Socialista à efetiva realização, no
prazo marcado, das eleições constituintes prometidas pelo programa do MFA.

Estas eleições, as primeiras em que funcionou o sufrágio verdadeiramente universal, realizaram-se no


dia 25 de Abril de 1975, marcando a vida cívica e política portuguesa. Tanto a campanha como o ato
eleitoral decorreram dentro das normas de respeito e de pluralidade democrática.

A vitória do Partido Socialista, seguido do Partido Popular Democrático, nas eleições para a Assembleia
Constituinte, veio criar condições para travar a direção e o rumo que a revolução portuguesa tomara.

Neste Verão de 1975 (conhecido como “Verão Quente”), a oposição entre as forças políticas -Extrema
Esquerda vs. Extrema Direita- atinge o rubro, expressando-se em gigantescas manifestações de rua,
assaltos a sedes partidárias, atentados à bomba e pela multiplicação de organizações armadas
revolucionárias de direita e de esquerda.
É em pleno “Verão Quente” que um grupo de 9 oficiais do próprio Conselho da Revolução,
encabeçados pelo major Melo Antunes, crítica abertamente os sectores mais radicais do MFA:
contestava o clima de anarquia instalado, a desagregação económica e social e a decomposição das
estruturas do Estado.

Estes acontecimentos levaram à destituição do primeiro-ministro Vasco Gonçalves, à formação de


novo Governo (o VI, chefiado por Pinheiro de Azevedo) e, por fim, à nomeação do capitão Vasco
Lourenço para o comando da região militar de Lisboa, em substituição de Otelo.

Estas alterações dão origem ao último golpe militar, em 25 de Novembro, pelos paraquedistas de
Tancos, em defesa de Otelo e do processo revolucionário. O país encaminhava-se rapidamente para a
normalização política e social e para a consolidação de uma democracia liberal.

A intervenção do Estado no domínio económico-financeiro

A onda de agitação social que se desencadeou após o 25 de Abril foi acompanhada de um conjunto
de medidas que alargou a intervenção do Estado na esfera económica e financeira. Estas medidas
tiveram como objetivo:

- destruição dos grandes grupos económicos, considerados monopolistas; (CUF, BES)


- a apropriação, pelo Estado, dos sectores-chave da economia; (energia, transportes, grande-
indústria)
- o reforço dos direitos dos trabalhadores.

A intervenção do Estado em matéria económico-financeira encontrava-se já prevista no Programa do


I Governo Provisório, começou pela nacionalização (dos bancos, seguros, transportes e eletricidade).

Em Novembro, o Estado apropria-se do direito de intervir nas empresas cujo funcionamento não
contribuísse “normalmente para o desenvolvimento económico do país”. Logo no rescaldo do golpe,
aprova-se a nacionalização de todas as instituições financeiras. No mês seguinte, um novo decreto -lei
determina a nacionalização das grandes empresas ligadas aos sectores económicos base. Estas
nacionalizações determinam o fim dos grupos económicos “monopolistas”, considerados o expoente
do capitalismo, e permitem ao Estado um maior controlo sobre a economia. Para complementar foi
aprovada a legislação com vista à proteção dos trabalhadores mais desfavorecidos: dificultaram-se os
despedimentos, instituiu-se um salário mínimo e aumentaram-se as pensões sociais e de reforma.

A Reforma agrária

Entretanto, no Sul do País, o mundo rural vive uma situação explosiva.

Em Janeiro de 1975 registam-se as primeiras ocupações de terras pelos trabalhadores e rapidamente


esse movimento se estende a uma vasta zona do Sul. O processo da reforma agrária recebeu cobertura
legal. O governo avança com a expropriação das grandes herdades, com vista á constituição de
Unidades Coletivas de Produção (UCP). Ao contrário do Golpe de 25 de Novembro, a Reforma Agrária
não terminou e prolongou-se até 1976.

Reforma agrária: Processo de coletivização dos latifúndios do Sul do País (1975-1977). São traços
característicos da reforma agrária a ocupação de terras pelos trabalhadores, a sua expropriação e
nacionalização pelo Estado e a constituição de Unidades Coletivas de Produção (UCP).

Você também pode gostar