Você está na página 1de 15

Universidade Federal Rural de Pernambuco

Centro de Ensino de Graduação


Departamento de Letras

Karl Marx e a educação

Disciplina: Fundamentos da Educação


Docente: Hugo Monteiro
Discente: Amanda Alcântara; Anthony Miguel; Arthur José; Juan Amaral; Lucas Baracho;
Miguel de Lima; Ruan Carlos; Talita Silva.

Recife, 2023
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Centro de Ensino de Graduação
Departamento de Letras

Trabalho solicitado para ser apresentado no modelo de aula


coordenada pelo professor Hugo Monteiro, na disciplina de
Fundamentos da educação.

Karl Marx e a educação

Discentes: Amanda Alcântara; Anthony Miguel; Arthur José; Juan Amaral; Lucas Baracho;
Miguel de Lima; Ruan Carlos; Talita Silva.

Recife, 2023
“Os trabalhadores não tem nada a perder numa revolução
comunista a não ser suas correntes.” - Karl Marx.

● Introdução

Karl Marx, uma das figuras mais influentes do século XIX, transcende sua época ao deixar

um legado intelectual que ecoa nos debates contemporâneos sobre justiça social,

desigualdade e o papel do Estado. Nascido em 1818 na Prússia Renana, Marx não se limitou

a moldar apenas o pensamento econômico e social de sua era; sua influência profunda se

estendeu para além dessas esferas, alcançando o âmbito educacional de maneira marcante.

A abordagem marxista, intrinsecamente ligada à crítica do sistema capitalista, propõe uma

análise que transcende a esfera econômica, atingindo as estruturas fundamentais da

sociedade. No contexto educacional, Marx vislumbrou não apenas uma transmissão de

conhecimento, mas uma potencial ferramenta de transformação social. Ele acreditava que a

educação poderia desempenhar um papel crucial na construção de uma sociedade mais justa e

igualitária.

Neste trabalho iremos abordar acerca do pensamento marxista, suas contribuições e também

suas influências dentro do campo da educação, a fim de entendermos, ao final, um pouco

mais sobre o pensamento de um dos principais pensadores da idade moderna.

● Karl Marx: vida e principais influências em sua formação

Karl Marx, nascido em 5 de maio de 1818, na cidade de Tréveris, na Prússia Renana (atual

Alemanha), foi um filósofo, economista, sociólogo e jornalista revolucionário. Sua vida e

obra tornaram-se fundamentais para a compreensão das teorias econômicas e sociais que

moldaram o século XIX e ainda tem impacto nos desenvolvimentos políticos e sociais

subsequentes.

Marx iniciou seus estudos na Universidade de Bonn e posteriormente transferiu-se para a

Universidade Humboldt de Berlim, onde concentrou-se em filosofia, história e direito.


Influenciado pelas ideias de Hegel, Marx desenvolveu uma perspectiva crítica e materialista,

moldando seu pensamento ao longo de sua vida.

Em parceria com Friedrich Engels, Marx produziu algumas das obras mais influentes da

teoria social. O "Manifesto Comunista" (1848) e "O Capital" (Das Kapital) são obras que

lançaram as bases para o socialismo e o comunismo modernos. Em "O Capital", Marx

analisou criticamente o sistema capitalista, destacando as contradições inerentes e explorando

a teoria do materialismo histórico, que enfatiza o papel central da economia na formação da

sociedade.

Marx, além de suas contribuições teóricas, envolveu-se ativamente no jornalismo político e

participou de movimentos revolucionários de sua época. Sua vida foi marcada por períodos

de exílio e dificuldades financeiras, mas seu legado intelectual transcendeu as adversidades.

As ideias de Marx inspiraram movimentos socialistas e comunistas em todo o mundo,

influenciando revoluções e transformações sociais significativas. Apesar das controvérsias e

interpretações diversas de seu trabalho, a relevância de Marx persiste como uma voz crítica

que continua a influenciar debates sobre justiça social, desigualdade e o papel do Estado na

sociedade contemporânea.

A formação e as produções teóricas de Karl Marx foram profundamente influenciadas por

dois filósofos alemães do século XIX: Georg Wilhelm Friedrich Hegel e Ludwig Feuerbach.

A relação de Marx com esses pensadores contribuiu significativamente para a construção de

suas ideias sobre história, sociedade e filosofia.

Marx iniciou sua educação universitária estudando direito em Bonn e mais tarde em Berlim,

onde entrou em contato com a filosofia hegeliana. Hegel exerceria uma influência duradoura

sobre Marx, apesar de suas divergências filosóficas fundamentais. Hegel propôs uma

abordagem dialética da história, em que os eventos se desdobram por meio de contradições e

conflitos, culminando em um processo de desenvolvimento histórico e espiritual. Incorporou

então o método dialético de Hegel em sua própria análise, transformando-o em uma


perspectiva materialista. Enquanto Hegel via o desenvolvimento histórico como um processo

idealista, baseado na evolução da ideia absoluta, Marx aplicou esse método à materialidade

da vida social e econômica. Essa transição da dialética idealista para a materialista foi crucial

para a concepção marxista da história, que enfatiza as forças materiais como motoras do

progresso.

Ludwig Feuerbach representou outra influência marcante na formação de Marx. Feuerbach

criticou a filosofia hegeliana e propôs uma abordagem materialista, destacando a importância

da experiência humana concreta em oposição ao abstrato idealismo de Hegel. Uma das

contribuições mais significativas de Feuerbach para Marx foi sua teoria sobre a alienação.

Feuerbach argumentava que a alienação ocorre quando os seres humanos projetam suas

características mais elevadas e essenciais em uma entidade divina, perdendo assim sua

própria humanidade. Marx incluiu essa ideia à sua crítica do capitalismo, aplicando-a à

alienação que os trabalhadores experimentam no processo produtivo. Para Marx, a alienação

no sistema capitalista ocorre quando os trabalhadores são separados dos produtos de seu

trabalho e, consequentemente, de sua própria humanidade.

É possível afirmarmos que a influência de Hegel forneceu a Marx uma base teórica dialética

que ele transformou em uma abordagem materialista, enquanto Feuerbach contribuiu com a

ênfase na materialidade e a crítica à alienação, elementos centrais para a compreensão

marxista da sociedade e da história. Essas influências combinadas formam o alicerce teórico

sobre o qual Marx construiu suas análises críticas e revolucionárias.

● As principais ideias

A formação hegeliana e as influências de Feuerbach na educação de Karl Marx contribuiram


para a elaboração do método utilizado pelo pensador para a tessitura de suas análises
sociológicas, herdando a dialética desenvolvida por Hegel no final do século XIX, teoria esta
que compreendia o homem enquanto o único agente ativo de sua subjetivação, e
acrescentando a essa herança hegeliana a percepção da realidade material enquanto elemento
constituinte do desenvolvimento do indivíduo, Marx concebe o materialismo
histórico-dialético como método científico para as leituras nas mais diversas áreas feitas ao
decorrer de sua vida, pois, na concepção marxista, o indivíduo apenas terá a possibilidade de
se generalizar ao entrar em contato com a herança cultural de sua sociedade.

De imediato, o estabelecimento desse método científico, também um pensamento


filosófico, suscita a percepção do trabalho, nesse primeiro momento entendido enquanto
categoria fundante da subjetividade do indivíduo, como condição primária para a construção
e manipulação da natureza que circunda o homem. É possível percebermos então que a
categoria ontológica do trabalho tem caráter fundamental, no pensamento marxista, para que
o homem possa se diferenciar do animal, afinal, apenas o homem é capaz de modificar a
realidade a sua volta conforme suas próprias necessidades. Nesse sentido, é importante nos
ater a nuance do que Marx propõe enquanto materialidade são todas aquelas condições
primariamente postas que constituem o sujeito, como dito por Arlindo Alegre Donário e
Rodrigo Borges dos Santos:

“Marx considera o Homem mergulhado nas relações sociais, as quais


moldam os seres humanos, bem como, influem no que pensam e no
que fazem, levando a que as relações sociais condicionem o
comportamento individual” (Donário, Arlindo; Santos, Ricardo
Borges dos; 2019, pg. 4)

Dessa forma, o trabalho será analisado por Marx em duas instâncias diferentes: uma
primeira, histórico-antropológica que, como já dito, possibilita a subjetivação do indivíduo,
sendo esse momento absoluto em relação à existência humana; e um segundo entendimento,
próprio do momento histórico vivenciado pelo pensador, ao qual ele concomitantemente
analisava, em que o trabalho torna-se estranho ao homem, existindo tão somente para a
subsistência do proletariado e para atender a ganância cumulativa dos lucros pela burguesia.

A partir dessa distinção entre a dualidade dos entendimentos do pensamento marxista


do que é o trabalho, é possível prosseguirmos no desenvolvimento das ideias propostas por
Marx. Em primeiro momento, algo que muito se fala desde a teorização proposta pelo autor, é
importante entendermos em que conjuntura o trabalho torna-se estranho ao indivíduo, visto
que esse é um processo que de certa forma anula, ou deforma o desenvolvimento, a
subjetividade humana estabelecendo uma lógica simplista da mera produção de uma
mercadoria.

“Inicialmente, o emprego da categoria trabalho abstrato


direcionava‑‑se, em essência, para a denúncia filosófica de uma
sociedade dominada pela propriedade privada e pela divisão social do
trabalho. Nesse contexto, o ser humano estaria mediado por processos
de alienação e o trabalho operaria como um sacrifício externo que, na
contramão da sua potência social, impossibilitaria a realização
humana. O trabalho abstrato, dessa forma, expressaria a anulação das
qualidades sociais e objetivas do ser humano subordinado a essa
produção.” (Wellen, Henrique; 2019, pg. 40)

Toda a lógica da sustentação do modelo capitalista depende, portanto, da manutenção dessa


condição estranha do trabalho para que seja possível a burguesia continuar a extrair, a partir
da força de trabalho da classe proletária, o seu próprio lucro, lucro este que também
tornou-se categoria de análise para Karl Marx, segundo Donário e Santos: “No processo
produtivo a força de trabalho cria mais valor do que o seu próprio valor, ou seja, cria mais
valor do que aquilo que vale” (2019, pg. 23). Ao criar mais valor do que irá efetivamente
pagar o empresário conseguirá extrair disso o que Marx estabelece como mais-valia. Não
obstante à essa teoria proposta pelo pensador para entender como acontece as dinâmicas de
lucro por parte da burguesia, Marx também análise o que ele chama de exército industrial de
reserva, relacionando não somente uma diminuição artificial nos postos de trabalho, o que
diretamente aumenta o lucro da burguesa já que diminui os custos com força de trabalho,
como também a criação de um ambiente inóspito para a classe proletária, posto que o
trabalhador dentro da sociedade capitalista depende da sua força de trabalho para sua
subsistência mas os empresários, com o intuito de maximizar seus lucros, sobrecarregam
esses trabalhadores ao mesmo tempo que conversa, em situação de desemprego ou
informalidade, centenas de milhares de outros trabalhadores prontos para venderem sua força
de trabalho e assumirem o cargo de qualquer um que se demonstre insatisfeito com as
condições materiais de seu trabalho.

Em última instância há, conforme o pensamento de Marx, uma superestrutura que viabiliza a
manutenção de todas as engrenagens necessárias para o funcionamento do modelo capitalista
e está figura está no Estado burguês, conforme definido pelo pensador. Dentre os vários
aparatos que o Estado dispõe para promover a perpetuação do capitalismo uma instituição
ganhará grande destaque a partir da modernidade: a escola.

Iremos nos ater a desenvolver, a partir da perspectiva do pensamento marxista, uma análise
acerca dos paradigmas educacionais estudados na disciplina de Fundamentos da Educação e
pensar quais as discordâncias, concordâncias e críticas podem ser feitas a esses modelos a
partir das ideias marxistas.

● Crítica ao paradigma redentor

No momento das concepções de Marx a sociedade vivia sob o paradigma redentor, paradigma
este que coloca todas aquelas estruturas encontradas na modernidade, como a dicotomia
burguesia vs proletariado, por exemplo, enquanto algo natural, ahistórico, e que, portanto,
inerente à condição humana, já que não depende da atividade destes para que exista. Já foi
possível perceber neste presente artigo que na concepção marxista, no seu método científico
do materialismo histórico dialético, que tudo o que não for natural, aqui no sentido de ser a
própria natureza, é resultado do trabalho humano, por isso, é inconcebível, quando
analisamos pela concepção marxista, que alguma estrutura não natural possa ser anterior e
independente da intervenção humana.

A naturalização da exploração do trabalho acontece tão somente graças a uma perspectiva


educacional na qual os indivíduos não podem contestar o que está posto, já que não há, dentro
do redentorismo, a possibilidade de discordância, o que o constitui como um paradigma
monológico, onde a divergência colocará o indivíduo à margem da sociedade e esse indivíduo
deverá ser redimido, através da educação, para que possa voltar a integrar, de forma
harmônica, a sociedade. A lógica imperativa do redentorismo é a integração total de todos os
indivíduos da sociedade de forma harmoniosa, conforme dito por Cipriano Luckési:

“A educação seria, assim, uma instância quase que exterior à


sociedade, pois, de fora dela, contribui para o seu ordenamento e
equilíbrio permanentes. A educação, nesse sentido, tem por
significado e finalidade a adaptação do indivíduo à sociedade.” (1994,
pg. 38).
É nesse sentido, de visar estabelecer a sociedade enquanto um organismo harmônico. que o
redentorismo evidência a moralidade enquanto um dos seus pilares constituidores, dado que
não há possibilidade de considerar-se a realidade material de um determinado indivíduo, não
importa quem seja esse sujeito, ele estará submetido aos conjuntos de valores daquela
determinada sociedade. Diante dessa desconsideração da realidade material de cada
indivíduo, visando apenas estabelecer simetria social e integrando toda a sociedade num
grupo coeso é que conseguimos perceber que a neutralidade ideológica a qual o redentorismo
diz possuir como pedra basilar de sua estrutura é desmascarada, visto que a coesão social se
traduz numa mera manutenção dos condicionantes da sociedade a qual está inserida, sendo,
nesse caso, uma sociedade capitalista. É a partir das discordâncias do pensamento marxista
em relação ao paradigma redentorista que poderemos prosseguir para o próximo paradigma, o
crítico-reprodutivista.

● Paradigma crítico-reprodutivista

É importante frisarmos a princípio que o paradigma crítico-reprodutivista não se converte,


diferente de seu anterior, enquanto uma prática, ou uma filosofia, pedagógica, mas sim numa
análise crítica da educação na perspectiva redentora, estabelecendo contrapontos ao que era
observado naquele momento. Dito isso, a primeira divergência se dá no sentido de que os
teóricos do paradigma crítico-reprodutivista não enxergavam a educação enquanto uma
instância exterior à sociedade, responsável pela integração harmoniosa e, se necessário a
redenção, de seus indivíduos. Na verdade, no redentorismo, a educação serve como recurso
para a reprodução da realidade social posta, é possível perceber dessa forma que havia dentre
os teóricos reprodutivistas certa inspiração pelo materialismo histórico-dialético enquanto
método científico.

“É impossível manter a produção sem que ocorra a reprodução dos


meios materiais que garantam a manutenção ou o incremento da
produção, assim como torna-se necessária a "reprodução cultural" da
sociedade. [...] Deve-se, pois, não só reproduzir a mão-de-obra do
ponto de vista quantitativo (biológico), mas também qualitativo
(cultural). Ou seja, torna-se necessária a formação profissional,
segundo os diversos níveis e necessidades da divisão social do
trabalho.” (Luckési, pg. 43)

Portanto, a ideologia, ou melhor dizendo, a observação do aparelhamento ideológico da


escola por parte do Estado, torna-se pilar central para a crítica reprodutivista. Ao observar
que a escola atendia a preservação das condições daquela determinada sociedade, os
críticos-reprodutivistas evidenciam o caráter dual dessas escolas, como visto em citação
anterior de Luckési, o caráter dual das escolas redentoras se dá pelo fato delas atenderem
grupos sociais distintos com interesses e condições materiais distintas. É nesse pessimismo ao
observar a escola como mera instituição reprodutora dos costumes e estruturas sociais que os
teóricos críticos-reprodutivistas enxergam a violência simbólica como um dos elementos
constituintes das escolas, afinal, se era instância reprodutora das condições sociais reproduzia
também toda uma lógica de opressão que permeia a sociedade capitalista.

As considerações dos teóricos reprodutivistas em relação às escolas eram, portanto,


pessimistas, por não enxergarem possibilidade de mudança para as escolas que, sendo assim,
deveriam ser extintas da sociedade. E é justamente partilhando dessa perspectiva crítica dos
reprodutivistas em relação ao paradigma redentor, mas discordando das considerações feitas
por esses teóricos em relação às escolas, é que podemos dar prosseguimento para o último
paradigma.

● Paradigma transformador

Dentro do paradigma transformador a educação assumirá um caráter completamente


diferente do que foi visto anteriormente no paradigma redentor, compartilhando da crítica dos
teóricos reprodutivistas, mas não se prostrando pessimistas em relação à utilidade das escolas,
o paradigma transformador encara a educação como uma ferramenta mediadora de um
projeto pedagógico capaz de emancipar, de forma individual, o sujeito. É válido salientar que
o paradigma transformador é, essencialmente, um paradigma formado a partir do pensamento
marxista, logo, a educação assume essa possibilidade de ferramenta emancipatória
considerando agora a realidade em que esse indivíduo está inserido. Sendo assim, o
paradigma transformador valoriza o contexto e o ensino ético como dois de seus pilares
fundamentais, isso pois, em larga medida, o paradigma transformador é influenciado pelo
pensamento marxista e pelo materialismo histórico-dialético o que o faz considerar toda a
construção histórica que resultou na realidade apresentada daquele determinado indivíduo.

É no sentido também de se constituir enquanto um paradigma ético que haverá a


possibilidade das escolas se tornarem espaços realmente democráticos, onde os sujeitos
poderão se tornarem conscientes de suas opressões, através do conhecimento, e assim
pleitearem mudanças concretas na sociedade. Importante destacar que o paradigma
transformador realmente se constitui enquanto uma proposta de paradigma da educação que
encare a educação como uma forma de promover a emancipação do indivíduo e, para que isso
ocorra, é necessário uma atuação interdisciplinar, tanto na construção do conhecimento
desses sujeitos, como efetivamente nas mudanças pleiteadas por eles.

Portanto, dentro do paradigma transformador, o indivíduo irá dispor de um ambiente propício


para a construção de sua autonomia mediante duas ferramentas que o próprio Marx julga ser
imprescindível para que isso torne-se possível: a práxis, ou o trabalho enquanto categoria
constituidora dos sujeitos, e a teoria, ambas amparadas num caráter revolucionário para que
torne-se possível a libertação desses sujeitos, findando no homem omnilateral.

A omnilateralidade é, portanto, a chegada do homem a uma totalidade


de capacidades produtivas e, ao mesmo tempo, a uma totalidade de
capacidades de consumos e prazeres, em que se deve considerar,
sobretudo, o gozo dos bens espirituais, além dos materiais, e dos quais
o trabalhador tem estado excluído em conseqüência da divisão do
trabalho. (Ferreira Jr, A; Bittar, M. pg. 9, 2008)

A partir dessa breve explanação dos paradigmas da educação, poderemos dar continuidade
para a última parte deste artigo, que visa relacionar o pensamento e as proposições de Karl
Marx para a educação e como essas ideias podem ser traduzidas dentro do âmbito escolar.

● Karl Marx e a educação

A ideia de Marx é que o homem adquira uma instrução omnilateral e com ela conseguirá ter a
totalidade de suas capacidades produtivas. A omnilateralidade está relacionada ao trabalho
para Marx e entende-se que o trabalho é a essência que firma o homem, essa essência
depende da propriedade privada no sistema capitalista.Para esta educação omnilateral se fazer
presente é necessário que exista condições em que o indivíduo possa aprimorar essas
capacidades, que por sua vez não existem dentro de uma sociedade que impera o
capitalismo.É preciso que a sociedade esteja estruturada para elaborar bases materiais e
espirituais com harmonia, então a exploração do trabalho tem que ser eliminada junto com a
divisão de trabalho e classes. A divisão do trabalho possibilita que as atividades materiais e
espirituais se deem para todos os indivíduos.

Utilizando das armas que se têm em mãos, a brecha encontrada para mudar e transformar a
sociedade, a ascensão social da classe oprimida está em como as aulas são administradas
pelos docentes, depositando assim uma enorme responsabilidade educacional e social nos
ombros dos professores, para que de fato e na prática não exercessem apenas o papel de
avaliador, detentor e reprodutor de todo o conhecimento em sala de aula. Para exemplificar
essa possível solução dentro do paradigma transformador, podemos tomar como exemplo as
ideias do psicólogo Lev Vygotsky.

Lev Semionovitch Vygotsky, foi um psicólogo russo e pensador importante em sua


área e época, apresentando uma proposta de psicologia Histórico-Cultural, foi o pioneiro no
conceito de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações e
condições de vida.

Vygotsky enxergava o desenvolvimento do ser humano usando uma perspectiva


sociocultural, ou seja, ele afirmava que o homem se constitui na interação com o meio que
está inserido, por isso, sua teoria ganhou o nome de socioconstrutivismo ou
sociointeracionismo. Nessa interação, o indivíduo não só internaliza as formações culturais
que recebe do seu meio, como também intervém e os transforma.

Tem-se a seguir algumas de suas principais ideias capazes de contribuir dentro do


pensamento marxista e do paradigma transformador:

ZDP: zona de desenvolvimento proximal – “define aquelas funções que ainda não
amadureceram, mas estão em processo de maturação, funções que amadurecerão mais cedo
ou mais tarde, mas que atualmente estão em estado embrionário” (Vygotsky,1978).

Mediação: Bastante discutido a partir do trabalho do professor, ou seja, o professor visto


como mediador desse conhecimento. O professor funciona como um agente que traz todo
esse conhecimento acumulado, propicia para o estudante meios para que ele se interesse em
desenvolver essa aprendizagem, ferramentas que a criança tem acesso, outros objetos
culturais, obras de artes, revistas, livros, tudo isso é considerado como mediadores.

Vygostky dizia que não se adquire conhecimentos apenas com os educadores, defende que a
aprendizagem é uma atividade conjunta, que relações colaborativas entre alunos podem e
devem ter espaço nas salas de aula. Nesse contexto, o professor seria não um portador do
conhecimento, mas sim um grande orquestrador de todo o processo de aprendizagem.

Ainda no campo da educação, outro pensador proeminente influenciado pelo pensamento


marxista é Paulo Freire, especialmente em sua "Pedagogia do Oprimido". Ambos os
pensadores compartilham uma visão dialética da realidade, reconhecendo contradições e
conflitos como motores do desenvolvimento social. A práxis, conceito central para Marx,
também permeia a pedagogia de Freire, destacando a importância da ação transformadora
sobre a realidade.

Com Paulo Freire, a emancipação deixa de ser somente uma proposta filosófica,
social ou crítica, mas passa a ser fundamentalmente uma tarefa educacional,
direcionada especificamente para a práxis pedagógica. Dentro desta proposta de
Paulo Freire, a emancipação ganha o significado de humanização, onde se opõe e
luta contra a desumanização. (BATISTA, Hilton Sales; 2019, pg. 79-80)

A conscientização, preconizada por Marx como um processo fundamental para a


transformação social, encontra eco na ideia de conscientização de Freire, que busca despertar
nos educandos uma consciência crítica de sua realidade opressiva. Ambos criticam o modelo
bancário de educação, onde o conhecimento é depositado passivamente nos alunos,
defendendo uma abordagem mais participativa e dialogical.

A contextualização histórica e social, uma preocupação constante em Marx, também é


abraçada por Freire, que destaca a importância de relacionar o ensino às experiências
concretas dos educandos. O objetivo final, comum a ambos, é a libertação das classes
oprimidas e a humanização das relações sociais através da educação como prática de
liberdade.

Dessa forma, a "Pedagogia do Oprimido" pode ser compreendida como uma extensão do
pensamento marxista no campo educacional, adaptando e expandindo os princípios marxistas
para o contexto da educação crítica e libertadora. Ambos os pensadores compartilham a
crença fundamental de que a educação deve ser uma força para a transformação social e a
libertação das classes oprimidas.

● Considerações finais

Em suma, as influências do pensamento marxista no campo da educação são vastas e


profundas, refletindo uma visão crítica e transformadora da sociedade. A concepção marxista
permeia a educação de várias maneiras, moldando não apenas teorias, mas também práticas
pedagógicas. Em conjunto, essas influências do pensamento marxista têm moldado uma
abordagem crítica, socialmente engajada e orientada para a transformação no campo da
educação. A busca por uma educação mais justa, equitativa e emancipadora continua a ser
impulsionada pelos princípios fundamentais do pensamento marxista, adaptados e aplicados
aos desafios contemporâneos.

● Referências

LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994.


BATISTA, Hilton Sales. Reflexões acerca do pensamento marxista e weberiano: O
Estado, as políticas públicas e a educação. Distrito Federal: Revista Com Senso, vol. 6, nº
1, pg. 74-85, 2019.
FERREIRA JR., A; BITTAR, M. A educação na perspectiva marxista: uma abordagem
baseada em Marx e Gramsci. Tiradentes, Minas Gerais: Revista Interfaces - Comunicação e
Saúde, vol. 12, nº 26, pg. 635-646, 2008.
OLIVEIRA DE ALMEIDA, R. A CONCEPÇÃO DE TRABALHO NA FILOSOFIA DO
JOVEM MARX E SUAS IMPLICAÇÕES ANTROPOLÓGICAS. Marília, São Paulo:
Revista Kínesis, vol. 2, nº 3, p. 72-88, 2010.
WELLEN, H. Karl Marx e a economia política: da rejeição moral à assimilação crítica.
São Paulo: Serviço Social, nº 137, p. 35-53, 2020
DONÁRIO, Arlindo A.; SANTOS, Ricardo Borges dos. A Teoria de Karl Marx. Lisboa,
Portugal: CARS - Centro de Análise Econômica de Regulação Social.
JOIA PEREIRA, J. J. B.; FRANCIOLI, F. A. S.; MATERIALISMO
HÍSTÓRICO-DIALÉTICO: CONTRIBUIÇÕES PARA A TEORIA
HISTÓRICO-CULTURAL E A PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA. Londrina,
Paraná: Germinal, vol. 3, nº 2, p. 93-101, 2011.

Você também pode gostar