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FICHA DE LEITURA 2 – FUNDAMENTOS DA PEDAGOGIA

TEMA 2: A Pedagogia no Sistema das Ciências da Educação

1.1. Conceitos Básicos

1.1.1. Pedagogia

O termo pedagogia, deriva do grego antigo “pai da gogos”, era inicialmente composto por
“paidos” = criança e “gogia” = conduzir ou acompanhar.

Outrora, este conceito faz referência dos escravos da antiga Grécia, os pais dos gogos que eram
encarregados de acompanhar as crianças que iam a escola. Por meio dessas interacções esses
escravos desenvolveram grande habilidade no trato com as crianças. E actualmente, o pedagogo
é um especialista em educação, e pedagogia, é o conjunto de conhecimentos sistemáticos que
competem a educação.

Também a pedagogia pode ser entendida como sendo a filosofia, a ciência e a técnica da
educação (Piletti, 1986).

A Pedagogia é uma ciência da educação, juntamente com as outras ciências da educação, embora
distinguindo-se delas por causa do seu carácter científico e, por conseguinte, formando um grupo
à parte. As ciências da educação incluem a Pedagogia: mas a Pedagogia não inclui as "Ciências
da Educação". (...) tenhamos em conta que a pedagogia deve fundamentar-se nas "Ciências da
educação"...”. (J. M. ª. Quintana Cabanas)

Enquanto fenómeno tipicamente social e especificamente humano, trata-se de uma ciência


aplicada de carácter psicossocial, cujo objecto de estudo é a educação.

Assim, mais tarde, o significado deste termo adquiriu outro valor; assim começou-se a chamar às
pessoas que se dedicavam a educação das crianças e, para isso, tinham uma preparação especial.
Dessa maneira, surgiu a Pedagogia como ciência da educação das novas gerações. Hoje,
pedagogo é o especialista em assuntos educacionais.
1.1.2. Educação

É um processo que visa ao desenvolvimento integral (físico, afectivo e intelectual) da


personalidade.

É um processo pelo qual a pessoa se auto-realiza ao mesmo tempo se integra à sociedade


(Karling, 1991).

Segundo o ICCP (1988) se entende por educação o conjunto de influências que exerce a
sociedade sobre o indivíduo. Isso implica que o ser humano se educa durante toda a vida.

A educação consiste, ante todo, em um fenómeno social historicamente condicionado e com um


marcado carácter classista. Através da educação se garantirá a transmissão de experiências de
uma geração à outra. (ICCP, 1988, p.31)

Segundo Lênin, V (apud. ICCP, 1988), a educação é uma categoria geral e eterna, pois é parte
inerente da sociedade desde seu surgimento. Também, a educação constitui um elo essencial no
sucessivo desenvolvimento dessa sociedade, a ponto de não conceber progresso histórico-social
sem sua presença.

Para Martins, J (1990), a educação é um processo de acção da sociedade sobre o educando,


visando entregá-lo segundo seus padrões sociais, económicos, políticos, e seus interesses.

Reconhece-se aqui a necessária preparação para a vida, já referida em outras definições e que só
se logra a através de convicções fortes e bem definidas de acordo com esses padrões. Para uns,
Educação é processo, para outros é categoria, ou fenómeno social, ou preparação, ou conjunto de
influências, e muitos conceitos mais.

Ainda seguindo a linha de pensamento de J. Martins, (1990), se concorda que a educação tem as
seguintes características:

 É fato histórico, pois se realiza no tempo;


 É um processo que se preocupa com a formação do homem em sua plenitude;
 Busca a integração dos membros de uma sociedade ao modelo social vigente;
 Simultaneamente, busca a transformação da sociedade em benefício de seus membros;
 É um fenómeno cultural, pois transmite a cultura de um contexto de forma global;
 Direcciona o educando para o auto-consciência;
 É ao mesmo tempo, conservadora e inovadora. (Martins, 1990, p.23)

Deve-se analisar que a educação, mais que processo, mais que conjunto de influências, e outras,
é uma actividade. Como toda actividade tem orientação, por tanto pode ser planejada. É
processo, pois está constituída por acções e operações que devem ser executadas no tempo e no
espaço concreto.

Portanto, a educação é uma actividade social, política e económica, que se manifesta de diversas
formas e que seu sistema de acções e operações exercem influências na

formação de convicções para o desenvolvimento humano do ser social e do ser individual.

Neste último aspecto vale destacar que o ser humano que se pretende construir, desde a óptica
como ser social deve ser desenvolvido simultaneamente nos planos, físico e intelectual, que tem
consciência clara de suas possibilidades e limitações. Um homem munido de uma cultura que lhe
permita conhecer, compreender e reflectir sobre o mundo. (Martins, 1990, p. 22)

Desta feita, o processo pedagógico, como aspecto consciente dentro do planeamento


educacional, surge a partir das mudanças sofridas pela sociedade e com o objectivo de construir
determinado protótipo de ser humano. Por isso, um dos meios importantes para influir na
construção desse novo ser, é através do adequado planeamento educacional. Os programas,
planos, e projectos, resultados dessas actividades de gestão educativa, sejam introduzidos e
generalizados como forma ideal para orientar, executar e controlar o trabalho educativo.
2. Ciências Pedagógicas

2.1. Conceitos

2.1.1. Ciência

É o conjunto de conhecimentos científicos que explicam um determinado fenómeno da realidade


natural e/ou social. Esse conjunto de conhecimentos resulta de uma reflexão profunda, rigorosa
(não só) de métodos próprios.

Pedagogia – já definida – Verificar o ponto 1.1.1.

Apos definir Ciência e Pedagogia passamos a definir ciências pedagógicas:

Na visão de Debesse (1974) Ciências Pedagógicas são um conjunto de saberes que se


encarregam da educação como fenómeno tipicamente social e especificamente humano, com
caracter Pisco-socio-pedagógico cujo seu foco central é o estudo da educação.

2.2. Estatuto Científico da Pedagogia

Hoje a pedagogia é uma ciência independente; independente no sentido de ter o seu objecto de
estudo, os seus métodos de investigação, as suas categorias chave. Como ciência, mantém uma
relação com outras ciências afins, nomeadamente as da educação (BRETT, 1960)

Importa sublinhar que o que é a pedagogia hoje resulta de um longo processo de reflexão e
desenvolvimento do pensamento pedagógico.

 Inicialmente, a pedagogia foi entendida como arte de educar;


 Num estágio posterior, ficou conhecida como técnica de educar;
 Finalmente como teoria, ciência e prática de educar.

Neste sentido, as ciências pedagógicas fundamentam-se num conceito mais abrangente de


educação, porquanto as práticas educativas não se restringem a escola e a família; elas ocorrem
em todos os contextos e âmbitos da vida social, de forma institucionalizada e não-
institucionalizada, com elevado grau de intencionalidade e sistematicidade ou ainda sem
intencionalidade explícita. São todos esses processos educativos que constituem objecto de
estudo das Ciências Pedagógicas, demarcando-lhe um campo próprio de investigação, com vista
a explicitar finalidades, objectivos sociopolíticos e formas de intervenção pedagógica para a
educação. Esta função orientadora confere as ciências pedagógicas uma relevância peculiar, pelo
facto de que, as práticas educativas não ocorrem de forma isolada; elas reflectem a lógica das
relações. Cabe as ciências pedagógicas reorientar o rumo das práticas educativas e esclarecer que
tipo de homem se pretende formar coma realização de tais práticas: Sociais, culturais,
económicas e políticas vigentes na sociedade (DEBESSE, 1974).

Portanto, as Ciências Pedagógicas se configuram como área de conhecimento, cuja


especificidade é realizar uma reflexão global da realidade educativa e se constitui em um
domínio que possui objecto, problemáticas e métodos próprios de investigação enquanto ciência
da educação.

Na visão de Dilthey (1940) as Ciências Pedagógicas pelo seu carácter teórico e prático,
compreende:

 Disciplinas filosóficas – teoria da educação, história da educação, filosofia da educação,


antropologia, educação comparada e política educacional;
 Disciplinas cientificam – Psicologia educacional, sociologia da educação, biologia
educacional e metodologias de pesquisa educacional;
 Disciplinas técnicas – didácticas, teoria e desenvolvimento curricular, tecnologia
educacional, administração e gestão escolar, entre outras.

3. Relação da Pedagogia com outras Ciências

3.1.1. Relação com a Psicologia

A pedagogia se relaciona com a psicologia que lhe fornece subsídios sobre as actividades
mentais do ser humano, as particularidades psicológicas (temperamento e carácter), a motivação,
as necessidades especiais, em fim um conjunto de aspectos que se manifestam através do
comportamento e que evidenciam os níveis de desenvolvimento cognitivo, socio-afectivo e
psicomotor do mesmo.

Os opostos da psicologia subsidiam ainda a elaboração de currículos, planos de estudos,


programas, projectos educativos da escola e da sala de aulas, organização das matérias de estudo,
gestão de relação interpessoais, etc.

3.1.2. Relação com a Sociologia

A sociologia estuda as sociedades as instituições dessa mesma sociedade e as relações que se


estabelecem entre os membros que a integram. A educação como fenómeno social, como
mecanismo de reprodução equilibrada das relações sociais, mas, ao mesmo tempo, funciona
como mecanismo de renovação e transformação. Dessas relações, as instituições educativas
quais quer que sejam, funcionam como agência dos membros da sociedade.

3.1.3. Relação com a Filosofia

A filosofia proporciona à pedagogia fundamentos consubstanciados nos seguintes questionários:


o que é a educação? O ser humano é educado? Para que tipo de sociedade educar? Que
finalidade almeja essa sociedade? Como que valores educar membros dessa sociedade?

3.1.4. Relação com a História

A história estuda o passado das sociedades e da humanidade em geral, para melhor compreender
o presente e perspectivar o futuro. Ela se articula com a pedagogia para melhor compreender os
processos de construção do pensamento educativo.

3.1.5. Relação com a Antropologia Cultural

A pedagogia se relaciona com a antropologia cultural com intuito de entender-se ao complexo


educativo cultural, das tradições, dos hábitos e costumes que presidem as relações humanas.
3.2. A Importância e a Necessidade da Pedagogia

 Fica claro que a educação como acção exercida pelos adultos sobre a jovem geração não
é um processo fácil. Torna-se ainda mais complexo com o desenvolvimento social que
vai exigindo mais capacidades de adaptação e integração do homem no seu grupo.
 Fica claro ainda que garantir o desenvolvimento do homem é uma tarefa não só difícil,
mas também complexa, se se pretende uma educação mais completa e adequada às
exigências da sociedade;
 Assim, estamos cientes de que garantir o desenvolvimento do homem, proporcionando-
lhe uma educação de qualidade, exige um trabalho pedagógico mais elaborado (e não só),
mais renovado e dinâmico, sobretudo nos seus métodos, no seu conteúdo. Isso exige
exercício de reflexão que é essencialmente a tarefa e missão da ciência pedagógica;

4. O carácter Sistemático da Ciência Pedagógica

O primeiro carácter do conhecimento científico, reconhecido até por cientistas e filósofos das
mais diversas correntes é a objectividade, no sentido de que a ciência intenta afastar do seu
domínio todo o elemento afectivo e subjectivo, deseja ser plenamente independente dos gostos e
tendências pessoais do sujeito que a elabora. Numa palavra, o conhecimento verdadeiramente
científico deve ser um conhecimento valido para todos.

De acordo com Vieira Pinto (1969), refere que a objectividade da ciência, por isso, pode ser
também, e talvez melhor, chamado de intersubjectividade, até porque a evolução recente da
ciência, e especialmente da Física, mostrou a impossibilidade de separar adequadamente o
objecto do sujeito e de eliminar completamente o observador.

Este reconhecimento que essencial na teoria da relatividade e na nova física quântica, torna o
carácter da objectividade mais complexo e problemático do que parecia no século XIX, todavia,
não elimina de modo algum da ciência o propósito radicalmente objectivo.

Outro carácter do conhecimento científico da pedagogia reside na sua Racionalidade. Não


obstante a oposição de toda a corrente empirista, a ciência moderna é essencialmente racional,
isto é, não consta de meros elementos empíricos, mas é essencialmente uma construção do
intelecto.

A ciência pode ser definida como um esforço de racionalização do real, partindo de dados
empíricos, através de sínteses cada vez mais vastas, o cientista esforça-se por abraçar todo
domínio dos factos que conhece num sistema raciona, no qual de poucos princípios simples e
universais possam logicamente deduzir-se as leis experimentais mais particulares de campos à
primeira vista aparentemente heterogéneos.

Além disto, os cientistas modernos verificam unanimemente no conhecimento científico um


carácter muito alheio a mentalidade científica do século XIX, o da revisibilidade. Não há nem
nas ciências experimentais, nem mesmo na matemática, posições definitivas e irreformáveis.
Toda a verdade científica aparece, em certo sentido, como provisória, susceptível de revisão, de
aperfeiçoamento, às vezes mesmo de uma completa reposição em causa.

Todos os conhecimentos científicos são aproximados, quer pela imperfeição das


observações experimentais em que se fundam, quer pela necessária abstracção e
esquematização com que são tratados. Os conceitos de adequação total e perfeita
devem ser substituídos pelos de aproximação e validez limitada. Esta nova
mentalidade científica que deve ser mantida num só equilíbrio é principalmente o
fruto de numerosas crises e revoluções da ciência. (Veiga, 1995)

Finalmente, um último carácter do conhecimento científico é a autonomia relativamente à


Filosofia e à fé. A ciência tem o seu próprio campo de estudo, o seu método próprio de pesquisa,
uma fonte independente de informações que é a Natureza.

Isto não significa que a Filosofia não possa e não deva levar a termo uma indagação crítica sobre
a natureza da ciência, sobre os seus métodos e os seus princípios [uma indagação levada a cabo
pela Epistemologia -- nota d'O Canto] e que o cientista não possa tirar vantagem do
conhecimento reflexivo, filosófico e crítico da mesma actividade de cientista.

Mas em nenhum caso a ciência poderá dizer-se dependente de um sistema filosófico ou poderá
encontrar numa tese filosófica uma barreira-limite que impeça a priori a aplicação livre e integral
do seu método de pesquisa. E o mesmo se dirá no que respeita à fé: ela poderá constituir uma
norma directriz e prudencial para o cientista, enquanto homem e crente, nunca será uma norma
positiva ou restritiva para a ciência enquanto tal. O conhecimento é multifacetado e com várias
classificações. Segundo Morin, não se tem mais um porte seguro para o mesmo. Mas dentro da
tradição positivista, o conhecimento precisa de alguns pré-requisitos para ser científico. Dentro
das Ciências Naturais, este são os critérios para ser científico. No entanto, em outras áreas, segue
outros critérios.

O conhecimento científico é fáctico: Parte dos factos, respeita-os até certo ponto e sempre
retorna a eles. A ciência procura descobrir os factos tais como são, independentemente do seu
valor emocional ou comercial: a ciência não poetiza os factos. Em todos os campos, a ciência
começa por estabelecer os factos: isto requer curiosidade impessoal, desconfiança pela opinião
prevalecente e sensibilidade à novidade.

Nem sempre é possível, nem sequer desejável, respeitar inteiramente os factos quando se
analisam, e não há ciência sem análise, mesmo quando a análise é apenas um meio para a
reconstrução final do todo. O físico perturba o átomo que deseja espiar; o biólogo modifica e
pode inclusive matar o ser vivo que analisa; o antropólogo, empenhado no seu estudo de campo
de uma comunidade, provoca nele certas modificações.

O conhecimento científico é claro e preciso: os seus problemas são distintos, os seus resultados
são claros. A ciência torna preciso o que o senso comum conhece de maneira nebulosa.

O conhecimento científico é comunicável: não é inefável, mas expressável; não é privado, mas
público. A linguagem científica comunica informações a quem quer que tenha sido preparado
para a entender. O que é inefável pode ser próprio da poesia ou da música, não da ciência, cuja
linguagem é informativa e não expressiva ou imperativa.

O conhecimento científico é verificável: deve passar pelo exame da experiência.

Para explicar um conjunto de fenómenos, o cientista inventa conjecturas fundadas de algum


modo no saber adquirido. As suas suposições podem ser cautelosas ou ousadas, simples ou
complexas; em todo o caso, devem pôr-se à prova.
O teste das hipóteses fácticas é empírico, isto é, observacional ou experimental. Nem todas as
ciências podem experimentar; e em certas áreas da astronomia e da economia, alcança-se uma
grande exactidão sem ajuda da experimentação.

5. Os Fundamentos Científicos da Pedagogia

A pedagogia sendo a ciência dessa educação crítica também precisa ser crítica ao olhar para os
fenómenos educativos, para que no momento da práxis a acção seja consciente.

Para Pimenta: “[..] a pedagogia precisa revelar de modo crítico/ analítico as contradições sociais,
os momentos de alienação na práxis educacional e socialização anteriores, para daí criar as pré-
condições teoricamente conscientes para uma prática consciente dessa alienação” (1994, p. 14).

Sendo a pedagogia uma ciência prática, ela possui “a estrutura peculiar de ser uma ciência da
educação para a educação, porque a educação, enquanto seu objecto, representa uma acção do
homem sobre o homem” (Schmied-Kowarzik, 1983, p. 128- 129).

Pedagogia e educação estão numa relação de interdependência recíproca; a


educação depende tanto de uma directriz pedagógica prévia quanto a pedagogia
de uma práxis educacional anterior. Por isso a pedagogia nem pode tematizar de
uma maneira puramente teórica a práxis educacional, como um evento passível
de representação, nem pode se voltar a uma intervenção prática directa, já que ela
é uma ciência da educação somente quando é simultaneamente uma ciência para
a educação, e vice-versa. Nesta medida, a instância medidora entre teoria
pedagógica e práxis educativa repousa no educador, graças ao qual ela pode,
enquanto ciência tornar-se prática na pesquisa e no ensino (Schmied-Kowarzik,
1983, p. 24).

A educação enquanto uma prática social precisa ser crítica, ou torna-se alienada. Nesta
perspectiva, a pedagogia enquanto teoria é entendida como àquela que faz a crítica da práxis na
sociedade e ao fazê-la está tomando partido em relação aos conflitos e as lutas reais da
sociedade. Cabe a pedagogia transformar esta práxis social pela própria prática.

Este olhar transformador que a pedagogia deve estabelecer sobre a realidade, a dialéctica da
práxis social, é o pensamento central da teoria dialéctico materialista de Karl Marx. Neste
contexto a “educação é concebida no momento da prática social [...] é àquela prática que serve à
produção e reprodução [...] à formação dos indivíduos enquanto portadores da práxis social.

Em acordo com Schmied-Kowarzik (1983), entendendo a pedagogia como ciência apenas


quando através da prática educativa do educador a sua teoria assume na práxis carácter
humanizador, buscou-se identificar como pedagogos estão ocupando seus espaços de trabalho
como cientistas.

A pedagogia, como já bem se apresentou neste estudo, chega na contemporaneidade por meio de
um curso que forma professores e pedagogos para actuar nas diferentes esferas onde se façam
necessários conhecimentos pedagógicos e/ou educacionais.

O termo pedagogia se aplica ao campo teórico-investigativo da educação (em


conexão com as demais ciências da educação) e ao campo técnico-profissional de
formação do profissional não directamente docente e, o de “pedagogo”, ao
profissional formado nesse curso. É dissolvida, assim, a designação pedagogia
para identificar o curso de formação de professores para as séries iniciais do
ensino fundamental, postulando a regulamentação do curso de Pedagogia
destinado a oferecer formação teórica, científica e técnica para interessados em
aprofundamento na teoria pedagógica, na pesquisa pedagógica e no exercício de
actividades pedagógicas específicas - planeamento de políticas educacionais,
gestão do sistema de ensino e das escolas (Libâneo, 2001, p. 14).

A pedagogia, para além da nomenclatura de um curso, e como descreve Libâneo (2008), “é um


campo de conhecimento sobre a problemática educativa na sua totalidade e historicidade e, ao
mesmo tempo, uma directriz orientadora da acção educativa” (p. 29- 30).

É a pedagogia que se ocupa da intencionalidade na acção educativa, investigando e contribuindo


para a construção da sociedade ao passo que contribui para a construção de seres humanos
sociais. Contudo, a pedagogia só é ciência por meio do próprio ser humano, do pedagogo
enquanto cientista, aquele que realiza as acções com base em seus estudos. Por este motivo é que
se faz necessário:

[...] a formação de estudiosos que se dediquem à construção do conhecimento científico na área,


uma vez que a educação também é considerada como um campo teórico- investigativo e que a
produção desse conhecimento é requisito fundante de toda formação técnica e docente (Libâneo,
2001, p. 15).

Segundo Charlot: Não há sujeito de saber e não há saber senão em uma certa
relação com o mundo, que vem a ser, ao mesmo tempo e por isso mesmo, uma
relação com o saber. Essa relação com o mundo é também relação consigo
mesmo e relação com os outros. Implica uma forma de actividade e,
acrescentarei, uma relação com a linguagem e uma relação com o tempo”. (1997,
p.63).

A prática pedagógica, entendida como essência do trabalho profissional dos professores, é assim
revitalizada. Torna-se prática científica e, por isso, metódica, sistemática, hermenêuticamente
elaborada e teoricamente sustentada. Uma prática pedagógica de carácter social, portanto,
socialmente elaborada e organizada conforme intencionalidades, conhecimentos.

Em suma: “A prática pedagógica é uma dimensão da prática social e pressupõe a relação teoria-
prática, e é essencialmente nosso dever, como educadores, a busca de condições necessárias à
sua realização” (Veiga, 1994, p.16)

Para tal acção, é fundamental o modo como têm se organizado os cursos de licenciatura,
privilegiando fundamentação ou prática, conforme suas crenças.

Nessa organização, a Pedagogia é fundante, enquanto ciência, pois:

O trabalho pedagógico não se reduz ao trabalho escolar e docente, embora todo


trabalho docente seja um trabalho pedagógico. Vai daí que a base comum de
formação do educador deva ser expressa num corpo de conhecimentos ligados à
Pedagogia e não à docência, uma vez que a natureza e os conteúdos da educação
nos remetem primeiro a conhecimentos pedagógicos e só depois ao ensino, como
modalidade peculiar de prática educativa. [...] A base da identidade profissional
do educador é a acção pedagógica, não a acção docente. Com efeito, a Pedagogia
corresponde aos objectivos e processos do educativo. (Pimenta, 2006, p. 120).

Isso posto, acredito na possibilidade de os professores reconstituírem seu lugar social como
profissionais, inseridos em sua comunidade política e socialmente organizada, imersos em
movimentos mais ampliados, nos quais evidenciam-se políticas públicas, as quais reverberam
nas acções pedagógicas. Por isto, reflectir sobre os aspectos pedagógicos na escola, para mim,
implica tais inter-relações e tem como possibilidade de revitalizar socialmente o trabalho dos
professores, trabalho que é a produção da aula, este evento pedagógico, por excelência.
6. Conclusão

Qualquer actividade humana é realizada tendo em conta determinados procedimentos, regras ou


princípios. O processo de ensino-aprendizagem não constitui uma excepção. A pedagogia
apresenta os seus resultados de pesquisa aos fazedores da educação como forma de melhorar
cada vez mais os resultados da educação das gerações mais novas.

Concluímos, de maneira mais especifica que:

Em relação a função orientadora confere as ciências pedagógicas uma relevância peculiar, pelo
facto de que, as práticas educativas não ocorrem de forma isolada; elas reflectem alógica das
relações. Cabe as ciências pedagógicas reorientar o rumo das práticas educativa se esclarecer que
tipo de homem se pretende formar com a realização de tais práticas: Sociais, culturais,
económicas e políticas vigentes na sociedade (DEBESSE, 1974).

Portanto, as Ciências Pedagógicas se configuram como área de conhecimento, cuja


especificidade é realizar uma reflexão global da realidade educativa e se constitui em um
domínio que possui objecto, problemáticas e métodos próprios de investigação enquanto ciência
da educação.
7. Referências Bibliográficas

BRETT, G. S. Historia de la Psicologia. Buenos Aires: Rialp, 1960.

DEBESSE, M; MIALARET, G. Tratado das ciências pedagógicas. São Paulo: Nacional,1974.

DILTHEY, W. F. Fundamentos de un sistema de pedagogia. Buenos Aires: Editora Losada, 1940.

MIALARET, G. As ciências da educação. 1ª ed. Lisboa, Moraes Editores, Col. Psicologia e


Pedagogia, 1976.

NÍQUECE, A. F. & Mahalambe F. M. Fundamentos de Pedagogia: teoria e prática educativa. –


Maputo, 2010.

CHARLOT, B. (1997). Da relação com o saber. Porto Alegre: Artmed.

LIBÂNEO, J. (2002). “Ainda as perguntas: o que é pedagogia, quem é o pedagogo, o que deve
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perspectivas. São Paulo: Cortez,

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perspectivas de mudança”. IN: PIMENTA, S. G. (Org.) Pedagogia e pedagogos: caminhos e
perspectivas. São Paulo: Cortez.

PIMENTA, S. G. (2006). “Panorama actual da Didáctica no quadro das Ciências da Educação:


Educação, Pedagogia e Didáctica” IN: PIMENTA, S. G. (Coord.) Pedagogia, ciência da
educação? 5 a ed. São Paulo: Cortez.

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