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Processos Grupais - Psicologia
Processos Grupais - Psicologia
GRUPAIS
Antecedentes
históricos dos
processos grupais
Maria Beatriz Rodrigues
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
O entendimento de grupos na psicologia serve a vários objetivos e configura uma
forma privilegiada de participação social do psicólogo. A abordagem grupal pode ser
utilizada em diferentes âmbitos do trabalho em psicologia: clínica, empresa, escola,
comunidades, organizações e movimentos em geral, etc. A condução adequada e
criativa do processo grupal contribui para o crescimento e a aprendizagem dos
grupos e dos indivíduos que participam. Qualquer que seja a abordagem teórica
utilizada, ela pode favorecer a cooperação e o compartilhamento de ideias.
Os estudos sobre a importância do processo grupal não começaram pro-
priamente na psicologia, mas sim na sociologia, que, por determinado período,
garantiu para si o primado da compreensão dos fenômenos sociais. O psíquico
ficou sujeito ao social, e a psicologia, à sociologia. Esses antecedentes históricos,
entre outros, fizeram com que a psicologia em geral e a psicologia social em
específico encontrassem seus caminhos e focos nos estudos grupais. Kurt Lewin
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cognitiva, etc. Osorio (2013, p. 18) propõe essa lista de influências e um con-
ceito mais atualizado de psicologia grupal: “tem como objeto de estudo os
microssistemas humanos, entendendo-se por tais todos aqueles em que os
indivíduos possam se reconhecer em sua singularidade [...], mantendo ações
interativas na busca de objetivos compartilhados”.
Além dos autores importantes que vimos na seção anterior, vamos discutir
algumas contribuições de teorias fora da psicologia que nos farão compreen-
der conceitos utilizados no trabalho com grupos. Osorio (2013) aponta a teoria
geral dos sistemas de Ludwig von Bertalanffy (1901-1972), que, juntamente
com a cibernética e os estudos sobre a comunicação humana, representou o
novo paradigma científico, que criticou e superou a ênfase linear das expli-
cações do tipo causa-efeito entre os fenômenos. Novas palavras e sentidos,
derivadas das novas abordagens, começaram a ser introduzidas nos estudos
sociais, como interpessoal, interacional, sistemas ou microssistemas humanos,
entre outras. A teoria sistêmica trouxe um diferente olhar para as interações
grupais e para o jogo interativo dos indivíduos no grupo, potencial catali-
sador das mudanças possíveis no sistema. A cibernética introduziu a noção
de retroalimentação, ou feedback, ou seja, a processualidade das relações
e as influências mútuas entre as pessoas. A teoria da comunicação humana
trouxe o conhecimento sobre o fluxo operativo das relações humanas, os
ruídos, os mal-entendidos e os nós comunicacionais, que podem influenciar,
positiva ou negativamente, as relações interpessoais (OSORIO, 2013). Essas
teorias são muito mais complexas, mas as influências que trouxeram para o
estudo dos grupos na psicologia foram essas citadas, principalmente a visão
da processualidade e da multidimensionalidade dos fenômenos, que não
podem ser explicados unicamente por uma relação causa-efeito.
A ideia de paradigma é a de um conjunto de normas ou modelos e, no
caso das ciências, significa os princípios norteadores de teorias. Existe uma
estabilidade natural de um paradigma, quando a teoria está sendo construída
e aprofundada, mas nenhum paradigma está livre da concorrência de outros
ou da refutação de seus princípios. T. Kuhn (1922-1996) propôs uma nova forma
de entender a sucessão de paradigmas, pois acreditava que as crises eram
pré-condições para a emergência de novas teorias ou revoluções científicas.
“A transição de um paradigma em crise para um novo, do qual pode surgir
uma nova tradição de ciência normal, está longe de ser um processo cumu-
lativo obtido através de uma articulação do velho paradigma” (KUHN, 1998,
p. 116). Essa é a explicação original de quebra de paradigma ou de revoluções
científicas, usada para diferentes propósitos.
O novo paradigma, concorrente do linear, é o sistêmico-relacional. Osorio
(2013, p. 25), enumera alguns importantes conceitos sobre isso; veja a seguir.
A B
Essas não são fases que se sucedem, nem mesmo aparecem em todo o
grupo, pois podem estar colocadas em individualmente em alguns membros
que tenham mais facilidade para assumir os diferentes momentos, por carac-
terísticas pessoais. Sempre que aparecem os diferentes momentos, individual
ou coletivamente, eles são importantes para a tarefa grupal, pois podem
potencializá-la. Os papéis são complementares, e esses momentos poderiam
ser vividos individualmente com sofrimento e estereotipia, mas no grupo eles
podem encontrar complementariedade. Nas palavras do autor, “cada um vai
incorporando momentos dos demais e retifica assim, paulatinamente, sua
própria estereotipia: com isso atinge-se não só um alto rendimento grupal,
como, também, uma integração da informação, da aprendizagem e do eu de
cada membro” (BLEGER, 1998, p. 89).
Cada grupo, com propósitos diferentes, tem o seu processo grupal. Esse
processo depende do referencial teórico utilizado pelo coordenador ou te-
rapeuta, assim como dos objetivos ou das tarefas que ele propõe atingir. A
forma, a duração e as regras estabelecidas para o funcionamento do grupo
vão fazer a diferença em seu processo e conclusão. Ainda, mesmo mobilizando
conteúdos inconscientes e passados durante o processo grupal, os grupos
operativos e de trabalho (não psicoterápicos) concentram-se no presente e
no futuro, que condicionam e monitoram seus trabalhos.
Referências
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