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Copyright © 2024. 一 Diana Novak 一 Todos os direitos reservados.

Esta é uma obra de ficção. Semelhanças como nomes, datas ou acontecimentos reais é mera
coincidência. É proibido armazenamento e/ou reprodução total, ou parcial desta obra através de
quaisquer meios existentes 一 tangíveis, ou intangíveis 一 sem a prévia autorização da autora.
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PLÁGIO É CRIME!
Proibida a cópia total! Cópia parcial somente para resenhas. Todos os direitos reservados.
PIRATARIA (PDF) É CRIME!
ESSE LIVRO SÓ ESTÁ DISPONÍVEL COMPLETO NA AMAZON E KINDLE
UNLIMITED
Capa: Designer Ttenório
Revisão e Leitura Crítica: Danielle Oliveira
Ilustração: Carlos Miguel Artes
Diagramação: Diana Novak
Assessoria: Devassa Literária
SUMÁRIO
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA
EPÍGRAFE
AVISOS
SINOPSE
NOTA DA AUTORA
PLAYLIST
GATILHOS
SÉRIE SETE DESEJOS
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
CAPÍTULO 49
CAPÍTULO 50
CAPÍTULO 51
CAPÍTULO 52
CAPÍTULO 53
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
DEDICATÓRIA
Para todas as pessoas que já erraram tentando acertar, lembre-se que somos humanos, falhos, e
a vida não vem com um manual de instrução.
EPÍGRAFE
Também se um homem se deitar com a sua tia, descobriu a nudez de seu tio; seu pecado sobre si
levarão; morrerão sem filhos.
(Bíblia Sagrada – Levítico 20:11–21)
AVISOS
LEIA COM ATENÇÃO
Nosso Segredo Ilícito é um livro hot, onde os personagens possuem uma linguagem
própria de conexão através dos toques e contato sexual. Ambos possuem o mesmo sangue, mas
nenhum vínculo afetivo. A história trata-se de personagens maiores de idade com um
envolvimento consentido. Caso não se sinta confortável com a temática, não recomendo a
leitura. Este livro é fictício, assim como todos os meus outros publicados, não encontrarão aqui
ensinamentos sexuais, muito menos conscientização sobre doenças transmissíveis ou coisas do
tipo. São histórias que fogem da realidade, desde a temática aos acontecimentos, se você
procura orientação, ensinamentos, valores sociais, embasamentos 100% reais, sinto muito, meus
livros não são para você, mas se deseja ler, se entreter, conhecer a histórias dos personagens, as
escolhas erradas, o aprendizado deles dentro da realidade literária, compreendendo que é
puramente uma criação irreal, desejo uma ótima leitura. Não é necessário ler os livros
anteriores da série. Este livro é independente e pode ser lido separadamente.
SINOPSE
E se a sua alma gêmea fosse o irmão bastardo do seu pai? Poderia o amor estar acima dos
laços sanguíneos?
Ele é metódico.
Ela é inconsequente.
Ele a deseja.
Ela o provoca.
Ele nunca perdeu a linha.
Ela o levará aos limites.
Ele tem uma nova obsessão: ELA.
Ela tem um novo vício: ELE.
Eles não buscam redenção nem segundas chances, mas sim o coração um do outro, sem
promessas, sem limites morais, apenas cru e deles. Chiara anseia por ser dele para sempre,
enquanto Ricardo declara que ela é seu novo céu, independentemente das circunstâncias.

Aviso 1: Este livro trata-se de um romance tabu consentido entre personagens maiores
de idade, e ambos não possuem um vínculo afetivo de criação familiar. Ricardo é fruto de uma
traição e irmão bastardo do pai da protagonista. LEIA POR SUA CONTA E RISCO.
Aviso 2: Não é necessário ler os livros anteriores da série. Este livro é independente e
pode ser lido separadamente.
NOTA DA AUTORA
Ricardo e Chiara foram dois personagens intensos que me fizeram esquecer tudo que eu
acredito para mergulhar em suas mentes e trazer a vocês as partes mais imorais e
incompreendidas de duas pessoas que se apaixonaram por algo que não vemos, mas sentimos: a
alma um do outro. Não é fácil abrir a mente, deixá-la criar, mergulhar tão fundo, mas eu aprendo
todos os dias em cada palavra que escrevo nas páginas brancas. Não direi aqui que não tive
medo, dúvidas, angústia, e ansiedade, esse livro foi um combo máster porque eu nunca sei o que
esperar de vocês. Escolhi permanecer na linha de criação que gosto desde o início, e com mais
um fragmento da minha essência criativa eles ganharam vida e agora estão aqui para serem
julgados.
Apeguem-se a eles, como eu me apaguei, não leia pensando no que você faria, seja os
protagonistas, se permita sentir como eles e então talvez vocês consigam chegar naquelas
palavras finais, “fim”, com a sensação de descobrirem um novo elo paralelo de amor, e sim, ficar
feliz com o rumo que as escolhas deles causaram para ambos. Não deixem de avaliar, é muito
importante, nem deveria ter que pedir, mas sempre com respeito. Uma ótima leitura!
Com amor, Diana Novak.
PLAYLIST
Que tal curtir a playlist de NOSSO SEGREDO ILÍCITO? Ela foi criada com muito
carinho e totalmente baseada na vida e na personalidade dos personagens. As músicas
proporcionarão uma experiência intensa, permitindo entrar no clima do livro e se conectar ainda
mais com a história.
Para ouvir, abra o aplicativo do Spotify e escaneie o código com a sua câmera ou clique
aqui para acessar e comece a desfrutar das músicas que inspiraram a nossa história.
GATILHOS
Este livro contém: relacionamento incestuoso, conteúdo sexual explícito, abuso sexual,
violência física e verbal, tortura física e emocional, assassinato e morte.
SÉRIE SETE DESEJOS
A Série Sete Desejo remete aos 7 pecados capitais. Em sua essência encontrarão os
principais erros ou vícios cometidos pelos personagens que dão origem a diversas ações
pecaminosas e indecentes. A série contará histórias que poderão ser lidas separadamente, sem
uma ordem cronológica, e que poderão se conectar ou não.
Aviso: Esse é o livro 4, sendo um volume único.
PRÓLOGO

Aponto a agulha na veia do braço, furo a pele, inspiro profundamente, pois perdi as
contas de quantas vezes tenho feito isso. Injeto a morfina, apertando os olhos ao fechá-los, não é
como se controlasse mais. Na verdade, faz uns meses que perdi o controle. A sensação se dissipa
relaxando todos os meus músculos; os ombros caem deflagrando qualquer dor pertinente, e
afasto a seringa e o frasco colocando-os na mesa de cabeceira.
Flutuo, nuvens sob o meu corpo, é quase real, mas em teoria é o efeito dela se espalhando
na corrente sanguínea, seguindo um caminho maléfico. As dores no peito desaparecem, fico
etérea, com o alívio e a plenitude quase palpáveis. Poderia me punir por isso, mas todas as vezes
que sinto toda essa euforia, esqueço a merda errada que estou fazendo.
Inspiro profundamente, preenchendo meus pulmões de ar, sorrio, nada existe além do
arrebatamento corrosivo. A porta se abre bruscamente e mamãe se aproxima. Sobressalto,
querendo esconder tudo, mas seus olhos indiscretos me flagram.
一 Porra, Chiara! Onde arrumou essa merda? Há quanto tempo está usando escondido?
一 Mãe... Achei que você tinha saído, eu… ainda dói. 一 Ela captura o medicamento
apertando na palma da mão, os olhos faiscando em fúria.
一 Não existe dor, você não tem mais nenhum ferimento. Está viciada. Quem arrumou
para você? Foi durante os seus serviços comunitários? 一 Comprimo os lábios, pisco os olhos
fortemente, demorando a abri-los novamente.
Esse era para ser o meu momento de paz, onde o mundo deixaria de existir e a dor do
segredo obscuro dentro de mim também. Jurei a mim mesma, após a noite em que eu e meus
amigos sofremos um acidente de carro, que nunca mais esconderia nada. Dói morrer sufocada
ainda viva, entalada com palavras que não posso dizer. As pessoas vivem dizendo que é fácil
superar, que basta querer, e eu quero, mas nada ameniza a dor, nem faz desaparecer o rosto da
Caroline, repleto de sangue, com hematomas roxos na região frontal da cabeça e os lábios
cianóticos sem vida. Exceto pelo líquido incolor em minhas veias, ludibriando a realidade em
uma felicidade inexistente. Sou uma maldita iludida, sobrevivendo à base de uma satisfação
irreal.
一 Ninguém!
一 Não sou sonsa, Chiara, você está esquecendo que tenho coragem o suficiente para sair
na rua gritando, perguntando quem é o filho da puta que está traficando medicamentos para a
minha filha se drogar.
一 Ninguém! 一 Torno a afirmar.
一 Amanhã mesmo entrará na reabilitação.
一 O quê? 一 Balbucio sobressaltando da cama. 一 Não. Acabei de terminar os
serviços comunitários obrigatórios. Não!
一 Ligarei para o seu pai, você irá morar com ele já que não quer me contar o que está
acontecendo. 一 esbraveja 一 Quem sabe ele consiga arrancar algo de você.
一 Mãe, eu juro, sinto dores ainda.
一 O acidente foi há um ano, sua perna quebrada está recuperada, não tem nenhuma
sequela, o que está sentindo é psicológico. Eu sei que foi difícil ser indiciada por estar bêbada,
vocês foram irresponsáveis, mas agora precisa crescer. Daqui a alguns meses, quando sair da
reabilitação, ficará um tempo na Austrália. É isso, a minha decisão está tomada. Estou cansada
de lidar com você sozinha, não fiz você com os dedos, seu pai terá que ajudar.
一 Não, não, eu não quero.
一 Chega! Eu sou sua mãe e você acabou de fazer 18 anos, precisa ser responsável.
Corro até a janela, as lágrimas escapam dos meus olhos, o medo de ficar presa em
tratamento é assustador, mas talvez mamãe esteja certa, preciso esquecer, preciso superar os
erros. Não quero mais sentir essa dor que se estende por todo corpo, ora comprimindo o peito,
outras formando um nó na garganta, dificultando minha respiração. Preciso reviver a Chiara que
morreu naquela noite.
O vento forte bate no vidro, as nuvens densas e cinzas encobrem o crepúsculo. Suspiro
angustiada.
一 Chiara, eu te amo. Não pode viver deprimida. Você não tem culpa da morte da
Caroline, foi um acidente. 一 Cubro o rosto com as mãos, deixando o choro incontrolável
emergir e as imagens daquela noite assombrar minha alma. Eu não sinto culpa, só não consigo
compreender.

A garrafa de cerveja rolava no asfalto, o vidro raspando nas pedras espalhadas. Ergui os
olhos; tudo girava, as linhas amarelas duplicadas, enquanto ouvia a gargalhada extensa da
Caroline repercutindo no meu ouvido esquerdo. Estava frio, mas o álcool blindava qualquer
sensação térmica, tudo parecia muito quente. Caroline ergueu as chaves do carro chacoalhando
no ar; ela mal ficava em pé, as pálpebras caídas de sono e duas vezes mais bêbada do que eu
estava.
一 Sua vez de dirigir, Chiara. 一 Neguei, ela lançou as chaves em meu rosto que passou
raspando em minha bochecha antes de tocar no chão.
一 Bryan dirige. Eu estou vendo duas de você.
一 Eu vejo 4 Chiara’s, é possível? 一 Gargalhei, procurando com os dedos a chave na
superfície irregular e suja do asfalto.
Bryan grunhiu um pouco atrás, vomitando.
一 Eu tô bem, foi o lanche. 一 Avisou esfregando o pulso na boca.
一 Chiara, Chiara… 一 diz mamãe.
Tudo desaparece como fumaça.

一 Ficará tudo bem, você confia em mim? 一 Foco em seu rosto.


Abraço-a e gesticulo com a cabeça que “sim”.
一 Filha, em um ano tudo estará diferente. Prometo.
CAPÍTULO 1

1 ANO DEPOIS
Percorro a visão no aeroporto de Camberra; papai deveria estar aqui, mas não encontro
seu rosto entre os vários sorrindo. O celular vibra; encaro o aparelho conferindo uma mensagem
dele, que é de meia hora atrás, mas estava sem sinal. “Houve um imprevisto, a reunião aqui
atrasou, o seu tio Ricardo irá te buscar, está aí perto”. Franzo a testa, procuro novamente ao
redor, são tantos rostos, impossível destacar qual seria porque nunca o conheci.
A última vez que ouvi esse nome foi há uns oito anos, quando mamãe disse que os dois
haviam se reencontrado no exército. A família Mandolini não queria ter contato com o Ricardo,
porque ele foi fruto de uma traição do vovô, e o assunto era proibido. A vovó ficava depressiva
ao relembrar, mas tem um ano que ela faleceu.
Puxo a mala revivendo as palavras da mamãe: “preciso que você me dê um pouco de
paz”.
Encho os pulmões de ar e grito pelo nome dele.
一 Ricardo Mandolini. 一 Os olhares focam em mim, mas ninguém se manifesta.
Ah, que ótimo, outro selvagem igual ao meu pai, que não cumpre os horários. Não
ficarei esperando, nem sei quem ele é.
Caminho perdida, mas encontro uma cafeteria ampla; através dos grandes vidros, é
possível ver os aviões pousando. Entro no local, colapsando pela falta de cafeína. A cabeça
latejante, as mãos frias e o suor excessivo manifestam que preciso suprir meu novo vício: café.
Ainda acho menos deletério; afinal, alguns comprimidos de dor de cabeça resolvem facilmente o
problema.
一 Bom dia, gostaria de um café com leite de amêndoas. 一 A atendendo sorri.
一 Com baunilha ou sem?
一 Com baunilha, por favor.
一 É o último, teve sorte.
一 Ufa, tive mesmo. 一 Sorrimos.
Assim que sou servida, sigo até a mesa de madeira, sento e engulo uma quantidade
enorme de uma vez. Os raios do sol estendem-se entre os móveis, formando sombras escuras no
piso branco. O aroma de grão tostado penetra em minhas narinas, embebendo meus sentidos, e
relaxo os músculos, expelindo a tensão, completamente satisfeita.
OH God, acabo de ter um orgasmo!
Admiro o céu azul, as nuvens rasas e um novo avião pousando na pista longa. O lugar é
realmente lindo, e talvez morar aqui me faça esquecer o passado. Fico imersa no ambiente,
dando goles rasos e assistindo às pessoas conversarem nas mesas. Os minutos passam, e quando
confiro o relógio de pulso, meia hora se foi em um piscar de olhos. Afobada, me levanto
bruscamente para pegar um táxi e acabo girando o corpo, esbarrando em um homem. Meu copo,
ainda na metade, cai no chão instantaneamente.
一 Meu doce e amado café… não, não. 一 Choramingo devastada analisando o líquido
marrom se espalhando no piso branco.
一 Sinto muito, menina, se quiser eu pago um café para você. 一 Elevo o rosto,
cravando um olhar penetrante no sujeito que acaba de destruir o melhor momento do meu dia.
Ele abre um enorme sorriso; posso jurar que seus dentes brancos brilham, as covas se
formando em suas bochechas, tornando a minha admiração incisiva. Os olhos azuis como gelo
oceânico são atraentes, roubando toda minha atenção. Suspiro petrificada. Ele possui a pele clara
e os cabelos ruivos caídos na lateral do rosto. Nunca me senti atraída por ruivos; também sou
uma e sempre pareceu meio estranho, mas com ele não, é diferente. Está vestindo roupas sociais
pretas despojadas, mas os músculos robustos dos braços marcam o tecido com exatidão
conforme gesticula ao falar. Ele é alto, imenso e forte. Deve ter uns 36 anos, porque tem aquele
charme que só os homens mais velhos possuem, são experientes em sexo, têm feromônios
irresistíveis e uma pegada inesquecível. Pelo menos é o que a minha mente imagina.
Puta merda, que homem gostoso! Só perdoaria você se me desse um beijo agora,
gatinho. Chacoalho a cabeça dispersando os pensamentos desajuizados.
一 Nem 10 milhões de cafés são capazes de suprir o dano que você me causou nesse
momento. 一 Solto sem pensar.
一 O que tinha de tão especial nesse café? 一 Questiona com a voz aveludada, mas
grossa, aquela de fazer até o último pelo do corpo se arrepiar.
一 Era o último com leite de amêndoa e um leve toque de baunilha! 一 Ressalvo,
torcendo para ele compreender a minha frustração.
一 Porra, mil perdões, agora entendo seu sofrimento!
一 Tudo bem, gatinho, eu te perdoo simplesmente por ser muito lindo e ter tornado o
meu dia mais bonito. 一 Ele parece um pouco envergonhado, o rosto ganhando cor, mas os
olhos se fixam nos meus lábios.
一 Está na cidade a passeio?
一 Sim, um evento, ficarei 2 dias. 一 Minto, um mecanismo de defesa, todavia, não o
conheço.
Ele solta uma risadinha sibilada, os olhos penetrantes roubando os brilhos dos meus, em
uma corrente energética de desejo.
一 Quantos anos você tem? Parece tão jovem.
一 É uma entrevista de emprego? 一 Ele espalma com a mão direita a própria nuca,
inclinando a lateral do pescoço. Tímido, sorri novamente, as covas mais expressivas, movendo
toda face.
Fico nas pontas dos pés e beijo o seu rosto. O perfume estupidamente sensual me
desmonta. Inspiro fascinada. Uma sensação distinta me aflige, e refreio um tremor forte que quer
me dominar.
一 Foi um prazer. Até mais. 一 Afirmo.
Juízo? Nunca tive, talvez por isso mamãe queira me deixar aqui.
O homem perde as palavras, o rosto agora inteiramente vermelho. Me desvencilho dele,
puxando a mala, andando em direção à saída.
一 Qual o seu nome? 一 Questiona, e sem olhá-lo respondo.
一 Você não precisa saber, nunca mais nos veremos mesmo! Tchauzinho.
Piso na calçada longa de pedras, procurando um táxi, e encontro um a poucos metros.
Sigo até o senhor de idade, cumprimento, entro no veículo e quase 40 minutos depois ele me
deixa no endereço marcado.
一 Obrigada! Um ótimo dia.
一 Eu que agradeço. 一 Desço e pego minha mala.
Deveria estar descansando a essa hora, porém só me atrasei, e nem posso reclamar porque
tive o prazer de conhecer aquele homem, e valeu a pena. Analiso a fachada: a casa de três
andares margeia um bosque e se estende além das árvores grandes; a arquitetura é moderna, com
toques rústicos.
O cheiro de musgo está presente no ar, a brisa suave golpeando minha face. Acho que
gostei.
Puxo a mala até a entrada principal. Papai saiu do exército e precisou morar em outro
país; poderia ter ficado mais próximo dos Estados Unidos, mas escolheu a Austrália com a
desculpa de que aqui as coisas fluiriam, e que estaria perto do vovô. E estava certo; hoje é um
bancário de sucesso.
Os homens da minha família possuem um histórico extenso de serem aventureiros, e o
país oferece lugares incríveis e fervorosos. Aperto a campainha e rapidamente alguém abre a
porta. É uma mulher de pele parda, cabelos lisos longos, cor castanho-claro, olhos verdes e um
sorriso encantador.
一 Olá, você deve ser a filha do Rico, a Chiara.
一 Sim, prazer, e você deve ser a Amy, a secretária do meu pai? 一 Papai havia
mencionado que ela sempre está por aqui.
一 Exatamente. Seu tio chegou há alguns minutos dizendo que não te encontrou.
一 Aposto que ele nem sabe como é a minha cara, nunca nos vimos antes.
一 Sim, ele esqueceu de pegar uma foto sua, às que seu pai tem são de quando você
ainda era criança e você não tem redes sociais… 一 Desvio o olhar, sem jeito, quando sofri o
acidente apaguei tudo e ainda não tive coragem de reativar. 一 Falei que você deveria chegar
logo.
一 Me diz que tem café! Please? 一 Ela sorri.
一 Tem sim, está lá na cozinha, vem, eu te mostro. 一 Largo a mala seguindo a Amy.
A sala é ampla, com decoração minimalista, demonstrando totalmente a personalidade do
meu pai. Os painéis de vidro nas laterais se ramificam por toda a casa, permitindo a entrada de
luz natural. Atravessamos a porta da cozinha vasta; os armários são em uma tonalidade cobre
com bancadas pretas, e ao lado encontro um homem de costas, em frente à cafeteira. A mão
direita segurando uma xícara preta no ar, as roupas sociais, e o perfume singular, quase familiar.
Irresistível. Quase posso afirmar ser o mesmo cheiro da pele do desconhecido do aeroporto.
一 Então você deve ser o meu tio, aquele que nem conhece a cara da sobrinha? 一 A
risada entrecortada ressoa antes mesmo dele se virar, mas quando ficamos frente a frente meu
coração congela. 一 Você é o meu tio Ricardo? 一 Os olhos dele aumentam de tamanho, o
rosto empalidece, mas logo suaviza.
É o mesmo homem que derrubou meu precioso café, e também o mais gostoso e atraente
que tive o prazer de conhecer na vida.
一 Parece que sim, gatinha! — Revida.
一 Não acredito, vocês já se conhecem? 一 Pergunta Amy.
一 Houve um pequeno mal-entendido. Nos vimos no aeroporto, mas não sabia que ela
era a Chiara; inclusive, disse que estava na cidade para um evento.
一 Você era um estranho; deveria ter imaginado que, por ser ruivo e ter esses malditos
olhos azuis, seria o irmão desconhecido do meu pai.
一 Você é igual, cabelos de fogo, olhos azuis, mas existem muitos ruivos por aí.
Também não imaginei que fosse você, embora agora essa falta de atenção pareça ridícula. Como
não percebi? 一 Arqueja, punindo-se, mas eu sei a resposta. Estávamos focados demais em
flertar.
Entreabro os lábios para respondê-lo, mas a voz do meu pai ressoa ao meu lado.
一 Cadê a melhor filha do mundo? 一 Puxa-me para um abraço caloroso e demorado.
一 Não pense que aprontará aqui o que aprontava com a sua mãe, viu mocinha! 一 Beijo o
rosto dele.
一 Jamais, papai, sou uma garota muito obediente! 一 Sorrio ironicamente, ele devolve
com um aperto no nariz entre dois dedos, algo que ele adorava fazer quando eu era criança e
morávamos juntos.
Papai é um homem charmoso, com cabelos curtos ruivos, corpo forte, músculos bem
definidos e alto. Os 42 anos só o tornam mais interessante; afinal, todas as minhas amigas
queriam conhecê-lo. O corpo está molhado do banho e a camisa social aberta com o mesmo
cheiro de sempre, o de família. Senti tanta falta dele.
一 Vem, te mostrarei o quarto. 一 Sigo-o pelos corredores.
Subimos a enorme escada de madeira, um aroma cítrico de plantas no ar até chegarmos
ao terceiro andar.
一 O que tem no segundo andar?
一 Os escritórios meu e do seu tio, tem um cômodo sobrando, se quiser pode montar um
para você estudar ou ler, seja lá o que você tem costume de fazer. Ainda assiste desenhos? 一
Reviro os olhos.
一 Pai, tenho 19 anos, eu cresci.
一 As atitudes não condizem. 一 Sorrimos, ele abre a última porta no corredor. 一
Entra. 一 Analiso o ambiente.
Meu coração se aquece, quase sendo enclausurado por uma camada de esperança.
Igualmente ao andar inferior, há vitrais integrando a natureza ao quarto. A respiração pacífica
irrompe suavemente de minha boca enquanto admiro a imagem da varanda, com um jardim
florido distante, árvores lenhosas de grande porte, os galhos sinuosos alcançando os painéis de
vidro, as pontas raspando-se com o balançar do vento, provocando ruídos rasos.
一 Uau, é perfeito!
A cama de casal fica no centro, com duas mesas de cabeceiras nas laterais, um guarda-
roupa embutido do lado esquerdo, as paredes brancas de concreto com detalhes em madeira, e
um tapete cor areia, felpudo ocupando quase todo o chão.
一 Vou pegar sua mala. A única coisa que não tem aqui é um banheiro, mas use o do
corredor; eu e o Ricardo temos os nossos privados no quarto. Fique à vontade com ele. A
temperatura da casa fica normalmente em 21ºC, mas se quiser, pode aumentar até 23ºC, no
máximo.
一 Tudo bem, qual é o seu quarto?
一 O primeiro do corredor, e aqui, ao lado do seu é o do Ricardo, então não se preocupe,
o lugar é seguro e estamos há poucos metros de distância. Embora a casa fique mais afastada da
cidade, tem bastante moradores ao redor. 一 Concordo. 一 Já volto.
Aproximo-me dos painéis de vidro, tocando os dedos neles, idealizando a satisfação que sentirei
ao dormir admirando a lua reluzente. Elevo o rosto; os raios de sol se infiltram nas folhas,
ofuscando minha visão. Talvez estar aqui, no fim, possa ser um recomeço.

Passo o dia arrumando o quarto, organizando as poucas peças de roupas por cor. Finalizo
o banho, seco a pele com a toalha e coloco o meu pijama favorito de seda branco. Saio do
banheiro e encontro a porta do quarto do meu tio aberta. Tento não olhar, mas falho, vasculhando
o ambiente. Os móveis são todos pretos, as luzes baixas, quase na penumbra, e a decoração é
azul.
Minha respiração intensifica e o coração acelera quando o vejo de lado, esfregando a
toalha branca nos cabelos molhados, movendo-os no ar com o atrito do tecido. Está de cueca
branca. Perco o ar, as emoções travando o meu corpo, e desço a visão até a região íntima,
desprovida de pudor, conferindo o volume grande, côncavo na parte baixa e o formato
lateralizado do seu pênis, imenso. Se está assim mole, imagina duro.
Os braços movem a toalha até as costas, secando. O corpo é monstruoso, com um peitoral
largo com tatuagens, bíceps avantajados e abdômen desenhado com partículas de água. É
excitante. Não deveria sentir nada diferente, mas uma sensação dolorosa queima no meio das
minhas pernas. Molho os lábios descendo mais, querendo ver tudo, todas as partes do seu corpo.
As pernas são arrogantemente robustas, e os músculos da coxa proeminentes. Minha garganta
seca em uma nuvem atraente carregada de complexidade, mas ele me nota porque inclina o rosto
na minha direção. Nossos olhares se encontram, e corro para o quarto. Droga, ele é mais gostoso
do que pensei.
Mexida por vê-lo quase nu, entro perdida, afofando os cobertores, sem saber como agir.
Minutos depois, uma batida suave na porta me deixa nervosa.
一 Pode entrar! 一 Ele entra me analisando, os pés descalços andam sobre o tapete.
Ele está usando apenas uma bermuda, com parte do corpo malhado à mostra. Consigo
identificar agora, na luz mais forte, uma tatuagem de caveira no músculo direito do peitoral e
alguns corvos pretos no esquerdo. Os braços são repletos de tribais.
一 Deseja algo titio? 一 Os lábios descarnados se curvam em um sorriso aliciante.
CAPÍTULO 2

Ricardo limpa a garganta, o olhar me admirando, descendo para onde não deveria, no
meus seios sem sutiã. Ele fica alguns segundos fixos em silêncio e sobe para o meu rosto.
Envergonhado, desvia o olhar para o chão e estica o braço, a mão encarcerando a minha
enquanto nossos dedos roçam um no outro.
Uma explosão vibrante faz um arrepio irradiar em meu braço, correndo por toda minha
espinha. O ambiente torna-se pesado, a densidade sufocando o meu ar, mas bruscamente ele se
afasta, finalizando o contato.
一 Prazer, fiquei surpreso mais cedo e nem me apresentei direito. Então quer dizer que a
gatinha do aeroporto é a minha sobrinha?
一 Parece que sim, a menos que realmente minha mãe tenha me feito com os dedos,
como ela diz. 一 O olhar corre para os dedos da minha mão direita apoiada na cintura.
Talvez essa resposta não tenha sido adequada, mas sim, infelizmente somos parentes, era
o que eu gostaria de dizer. Não é todo dia que se encontra um homem estupidamente perfeito
assim.
Sorrindo ele arruma a postura.
一 Vim me desculpar por derrubar seu café! Juro que foi sem querer, estava procurando
justamente por você.
一 Tudo bem, sem problemas, está apenas me devendo uma semana de café. 一 Dou
uma piscadela.
一 Com certeza pagarei essa dívida. 一 Sorrimos 一 Não se preocupe, fecharei a porta
da próxima vez que tomar banho, preciso me acostumar com a ideia de ter uma menina morando
aqui agora.
Não sou uma menina, sou uma mulher.
一 Eu não vi nada, juro. 一 Arqueio a sobrancelha, ele me encara pensativo, sopra um
som indecifrável e vira de costas, saindo em seguida.
Não sei bem o que pensar do olhar insistente, mas por um momento senti desejo, e isso
não pode acontecer. Isso é errado, muito errado! Apago as luzes pendentes amarelas, entro
embaixo das cobertas, suspirando ao apreciar a luz noturna da lua transpassando os vidros,
enquanto os galhos tortos formam desenhos sombreados no tapete.
A voz do papai surge do corredor.
一 Quer comer algo, filha?
一 Não precisa, estou cansada da viagem, amanhã cedo me alimento no café da manhã.
一 Tudo bem. Amanhã é sábado, aos finais de semana estamos aqui. Faremos um
passeio se quiser. Boa noite.
一 Quero sim. Boa noite, amanhã conversamos.
一 Certo. Descansa.

Acordo com o brilho intenso do sol em minha perna direita, aquecendo ao ponto de me
tirar o sono. Procuro o celular e percebo que já passei do horário que normalmente levanto, que é
antes do sol nascer, quando o céu está tingido de um azul grisáceo[1] pontilhado de estrelas, com
feixes amarelados surgindo, entre às 5h e 6:15h. Lembro das palavras do papai de sairmos hoje e
rapidamente escolho um cropped e uma saia curta, cor branco com listras verticais azul-marinho.
Fico descalça, porque tenho o hábito de usar sapatos somente para sair na rua, penteio os cabelos
e sigo até o banheiro para lavar o rosto e escovar os dentes.
Faço a higiene, aplico um gloss nos lábios para não os ressecar e sigo até a cozinha no
andar de baixo. O ambiente está vazio, mas escuto vozes distantes e retorno para a escada. Subo
novamente, entrando no corredor largo. Vejo que as duas primeiras portas estão abertas e a
terceira fechada. A voz fica audível a poucos metros, vem da primeira. É o Ricardo sorrindo, mas
uma voz feminina delicadamente surge.
一 Agora estão proibidos de trazer mulheres aqui? Acabou a farra? 一 Levo o polegar à
boca mordendo o canto da unha, curiosa com a resposta dele.
Não tinha pensado sobre isso. Caramba, eles são dois homens no auge da idade, juntando
com o histórico da família, não há dúvidas de que poderei trombar com alguma mulher ao sair do
quarto.
一 Pare! 一 Tem diversão na voz dele, deve estar sorrindo 一 É temporário, a menina
não ficará muito tempo aqui com dois velhos que não sabem nem cozinhar direito, eu mesmo só
sei fazer panqueca e hambúrguer.
Eu gosto de panquecas e hambúrgueres, mas, afinal, sei cozinhar, não sou nenhuma
criança.
一 Você é quase um chefe de cozinha, pior é o Rico, que só sabe transar. 一 Ela rebate,
os dois gargalham e sopro uma risada alta, tapo a boca dando conta que saiu alta demais, mas o
Ricardo aparece na porta me encontrando.
Levo a mão à cintura abrindo um sorriso, os olhos descem do meu rosto aos pés.
Movimento os dedões no chão frio juntando as pernas, envergonhada.
一 Estava apenas passando…
一 Bom dia! 一 Ele diz com um breve sorriso aparecendo nos lábios e meu estômago se
agita.
一 É... bom... meu pai 一 gaguejo 一 disse algo sobre ter um escritório sobrando aqui.
一 O olhar permanece no meu, profundo, diferente de uma pessoa normal, quase posso afirmar
que consegue ler meus pensamentos.
A mulher sai da sala. É alta, com cabelos curtos loiros, vestindo um longo vestido floral
verde, e sorri para mim. Sua pele é branca e madura, mas é linda e jovial.
一 Bom dia, é um prazer conhecê-la, Chiara, sou a Audrey, diretora de marketing no
banco do seu pai.
一 Prazer. 一 Aceno brevemente, e papai aparece atrás de mim.
一 O que faz aqui, Audrey? Hoje é sábado, minha filha agora está conosco, decidimos
não trazer mais trabalho para casa.
As palavras do meu pai me deixam feliz. Ele está preocupado e quer aproveitar nosso
tempo juntos. Quando meus pais se divorciaram, foi doloroso porque amava tê-lo em casa.
Quando se mudou para a Austrália, senti que o havia perdido, mesmo com os vídeos, as ligações;
ele não estava mais lá para quando eu precisasse chorar. Estar aqui, ao lado dele, é bom. Seus
braços grandes me envolvem e ele beija meu rosto com carinho.
一 Bom dia, filha.
一 Bom dia, pai.
一 Eu sei, era um contrato urgente, de última hora, o Ricardo já assinou. Estou de saída.
一 Ótimo, nos vemos segunda. 一 A mulher sorri antes de descer as escadas, retribuo, e
meu pai segue até a terceira porta me chamando.
一 Aqui, essa é sua sala. Pode decorar como desejar. O que acha? 一 Analiso.
一 É espaçosa… 一 O cômodo é largo, quadrado, com teto alto, paredes brancas e uma
janela imensa de madeira. Desse ângulo da casa a vista dá na entrada principal.
一 Posso pintá-la? 一 Pergunto.
一 Claro, quer comprar a tinta agora?
一 Agora, tipo, agora? 一 ele sorri.
一 Sim. Preciso ir no mercado, é na mesma rua, o Ricardo te acompanha enquanto eu
pego algumas coisas que estão faltando.
一 Tudo bem, vocês já tomaram café da manhã?
一 Deixei panqueca no forno, são suas, coma e depois iremos. Vou colocar outra camisa
e desço. 一 Confirmo balançando a cabeça.
Papai sai e analiso novamente o cômodo, não sei bem o que fazer aqui, nunca tive um
possível escritório. Talvez deva colocar algumas prateleiras para livros e um sofá grande.
Escuto alguns passos silenciosos e encaro a porta. Vislumbro parcialmente o rosto do
Ricardo, com os olhos grandes e azuis fixos em mim. Abro a boca para dizer algo, mas as
palavras estão embaralhadas, e antes que eu consiga falar, ele desaparece, entrando no escritório
dele e fechando a porta. Certo, ele não quer conversar.
Um ronco alto escapa do meu estômago que torce de fome. Saio da sala, fecho a porta e
sigo para a cozinha.
Chiara sorri ao olhar as variedades de cores de tinta, seus olhos correndo por todas. A
dúvida paira em sua feição, juntando os lábios e torcendo um pouco para o lado. Ela é linda. Não
imaginei que meu irmão fosse capaz de criar algo tão perfeito. Aliás, ela é quase perfeita, exceto
por um detalhe, o maior de todos: é minha sobrinha. Suas mãos delicadas abrem a lata, e o
indicador percorre a borda, acredito que imaginando aquele tom nas paredes. É um alaranjado,
mas com um pouco de vermelho, e lembra a cor de uma cereja.
Quando nos esbarramos no aeroporto, foi um momento marcante. Afinal, quando vi seus
enormes olhos azuis, parecia que nada e nem ninguém que estava ali importava! Quis saber o seu
nome, para não esquecer da garota mais linda que já vi na minha vida. É claro que ela tinha que
ser minha sobrinha. A porra da minha vida nunca foi justa mesmo. Ela ergue o rosto, o olhar no
meu, sorri enquanto o homem atrás do balcão a admira, talvez também tenha achado ela linda e
isso me incomoda.
一 O que acha dessa, titio? 一 Pergunta, e a porra da palavra “titio” saí tão sexy de seus
lábios que mexe com meus sentidos.
一 Ricardo, pode me chamar de Ricardo. 一 A sobrancelha dela arqueia, mas ignora.
一 Então, titio, acho que ficará incrível com a madeira da decoração. 一 Disfarço,
fingindo não ouvir sua provocação.
一 Essa cor é bonita, combina com você. 一 Elogio, ela inclina o rosto para o atendente.
一 Quero duas latas, por favor. Vou aproveitar para pintar uma parede do meu quarto.
Sabe, passarei alguns anos aqui, então eu realmente amei essa cor. 一 O homem concorda
puxando duas latas de baixo do balcão.
Alguns anos? Certo, talvez eu deva voltar para o meu apartamento e deixá-la com o
Rico. Pai e filha. Cacete, mas ele só come porque o obrigo e encheria a casa de mulheres, a
deixaria sozinha todo final de semana. Por enquanto, ela estar aqui é novidade, mas daqui a
pouco ele volta à rotina de pegador, eu conheço.
一 Posso ver alguns objetos de decoração? 一 Pergunta.
一 Pegue o que quiser. 一 Ela se afasta pegando uma cesta de plástico, vou atrás.
É impossível não notar seu corpo. Está usando um cropped curto que mais parece um
sutiã, pois deixa toda a barriga nua, e a saia minúscula que, se bater um vento mais forte,
mostraria tudo. Não sei como o Rico não disse nada.
Passamos pelos corredores, a mão direita enchendo a cesta: primeiro um porta-canetas,
um suporte de livros, umas três estátuas de porcelana diferentes, uma agenda, um papel de
parede, pincéis, e a cada corredor novo pega mais coisas. Puxo a cesta do seu braço porque está
ficando pesada demais, e ela sorri.
一 Obrigada, juro que só falta um quadro.
一 Fica lá nos fundos. 一 Caminhamos até lá.
Uma parede de quadros montada expõe algumas pinturas, e nas prateleiras laterais está
uma fileira com todos da loja. Ela fica nas pontas dos pés porque gostou dos que estão mais no
alto. Os desenhos são abstratos, bonitos, e ela puxa um por um, escolhendo. Coloco a cesta no
chão rente ao meu pé e, quando a olho, percebo que os braços elevados e as pernas esticadas
fizeram a saia subir, quase posso ver a parte de trás. Vasculho ao redor para ver se alguém não
está vendo, bufo e me aproximo dela.
一 Chiara, precisa de ajuda? 一 As mãos seguram ao menos uns dez quadros,
equilibrando-os na tentativa de ver o desenho do próximo.
一 Eu… 一 Ela inclina a cabeça me procurando, está nas pontas dos pés, e se
desequilibra. 一 Ai, titio, socorro. 一 Suplica quando todos os quadros pendem para frente e
estão a ponto de caírem em sua cabeça. 一 Não consigo segurá-los, me ajuda, por favor. 一
Corro por trás do seu corpo segurando, mas sem querer a prenso na prateleira.
A bunda, a porra da bunda encostada no meu pau. Fico nervoso instantaneamente.
Impulsiono com os braços os quadros todos para a parede, ela move o corpo, minha pele
esquenta. Não deveria estar ficando tão quente aqui, é difícil me concentrar enquanto ela pula
para me ajudar, empurrando também, me obrigando a sentir sua bunda roçar para cima e para
baixo no meu corpo. Fico excitado.
一 Ah… 一 geme fazendo força 一 Isso tio, pronto, mais um pouco.
Porra, minha mente é podre.
CAPÍTULO 3

Ricardo empurra os quadros, impulsionando-os com força, suas veias saltadas no


antebraço denotam o esforço excessivo. Meu coração acelera, gostando do que estou sentindo,
com seu corpo roçando no meu. Pulo para ajudá-lo, o lugar é alto, mas algo duro está em atrito
com minha bunda. Não, não pode ser. Será? Minha garganta fica seca, paro de ajudar, ficando
quieta. Minhas mãos suam, uma onda de calor queimando por todo o corpo, se concentrando no
centro das minhas pernas. Fecho os olhos, e ele fica nas pontas dos pés para ajustar todos os
quadros retos, roçando novamente, provocando meus instintos, me deixando molhada. A
sensação acaba quando ele se afasta. Abro os olhos, triste porque queria mais. Sei que é errado,
mas eu quero sentir isso de novo. Foi gostoso.
A respiração dele está ofegante atrás de mim. Giro o corpo, ficando de frente, e vejo seu
rosto enrubescido, com algumas gotas de suor escorrendo nas laterais das têmporas. Espalmo seu
peito, e ele arregala os olhos, o coração acelerado pulsando sob a pele quente. O tecido de sua
camisa branca é fino, permitindo-me confirmar que ele também sentiu aquele calor diferente de
segundos atrás. É nítido que está quase em chamas, assim como eu. Ele dá alguns passos para
trás, recuperando a postura, e eu fico de costas, pegando qualquer quadro, sem de fato escolher.
一 Desculpe, eu fui desastrada. 一 Ele sorri.
一 Tudo bem, se todos caíssem te machucariam, são pesados.
一 Obrigada por me salvar. 一 Enfio o quadro embaixo do braço e aproximo o rosto do
dele para beijá-lo em agradecimento, mas sua mão segura o meu queixo, me impedindo.
一 Não faça isso. 一 Repreende.
一 Por quê? 一 Questiono.
一 Você sabe por que, sentiu tanto quanto eu. 一 Nossas íris azuis quase se fundem em
um oceano único pois me sinto afogar.
一 Tudo bem! 一 Desvio o olhar, nervosa, sentindo minhas pernas formigarem. 一
Nunca mais farei isso. Peguei tudo, podemos ir? 一 Encaro o chão andando em direção ao
caixa.
O lugar não é grande, mas de repente parece enorme.
一 Chiara, desculpa, você não fez nada de errado. 一 Ignoro e ando mais rápido,
pegando a cesta da mão dele e colocando-a sobre o balcão.
O homem passa os itens, tem em torno de 30 anos porque é atraente e bonito. Ele sorri ao
terminar, puxando as sacolas para empacotar.
一 Nunca vi você por aqui, é nova na cidade?
一 Sim.
一 Tem um bar no fim dessa rua, eles fazem várias bebidas doces ótimas, os pratos são
bons também, todo sábado à noite estou lá… 一 Ricardo pigarreia.
一 Parece legal. 一 Respondo desinteressada, mas não quero parecer rude.
一 Pare de falar. 一 diz Ricardo impaciente. 一 Só passe os itens, não dê em cima
dela. 一 Os punhos estão fechados rente ao corpo, os ombros tensos, fico sem reação, isso foi
estranho.
O homem concorda e apressa o empacotamento, abro a bolsa para pegar o cartão, mas
Ricardo entrega o dele. Não digo nada, ainda estou confusa sobre o que aconteceu e é estranho
olhar para ele porque sinto um ar gélido atingir todo o meu corpo, como se fosse ventania.
Pegamos as sacolas e saímos em direção ao carro. Papai está encostado na traseira e abre o porta-
malas.
一 Compraram toda a loja?
一 Pai, precisa pagar o Ricardo, ele deu o cartão antes de mim. 一 Ele meneia a cabeça
que não, e sorrimos.
一 Pagou porque quis. Vamos!
一 Não precisa, Chiara, não me fará falta, de verdade.
一 Ricardo não precisa de dinheiro e sim de uma mulher. 一 Poderia rir, mas fico tensa.
Os dois brincam se socando e nunca o vi tão feliz, nem com a mamãe. Deve ser por isso
que moram juntos, realmente se dão bem. Entramos no veículo, ele coloca suas músicas de rock
antigo, algumas são chatas, mas a maioria é boa. O acontecimento na loja retorna em minha
mente fazendo meu estômago se comprimir, com a mesma sensação ardente que senti quando
Ricardo me prensava contra seu corpo. Não deveria estar pensando nisso. Arfo, mordendo o
canto da bochecha.
O carro para, descemos e entramos na casa. Após guardar tudo, sigo até a cozinha. Papai
está abrindo uma lasanha congelada para o almoço.
一 Peguei algumas coisas prontas, colocarei no forno.
一 Eu faço, pai, pode deixar. Sei cozinhar, não precisamos comer todo dia essas coisas
cheias de conservantes, em casa fazia o jantar quase todos os dias.
一 Não é uma obrigação. filha, cozinhe quando sentir vontade, tomarei um banho então,
pode ser?
一 Sim, combinado. 一 Ele beija meu rosto, sai e puxo a lasanha retirando o plástico
protetor. Ligo o forno, e coloco para assar.
Abro a geladeira e pego uma peça de carne. Comer só a massa ao molho com queijo não
deveria sustentá-los; são grandes e fortes, e nem imagino como sobreviviam. Papai nunca deixou
faltar nada, e cozinhar enquanto estiver aqui será o mínimo que posso fazer. Com ele, sei que
conseguirei sentar à mesa para comermos como uma família. Mamãe era irredutível, comia na
hora que queria e sempre fazia as refeições sozinha.
Ligo a chapa e coloco a manteiga; ela borbulha, derretendo com um aroma próprio que
amo. Disponho os três filés espessos, polvilho o sal e a pimenta. É minha segunda noite e não
posso negar, estou gostando. Mamãe estava certa, será bom esse tempo aqui.
Ricardo surge na porta; elevo os olhos e vejo que está sem camisa, apenas de bermuda.
Definitivamente, não vejo problema em usar meus pijamas à noite, já que eles não se importam
em exibir os corpos quase nus. Direitos Iguais.
一 O cheiro está incrível. 一 Ele elogia, mas não respondo. Após nosso contato na loja,
as coisas ficaram mais perturbadoras e obscuras em minha mente.
Ele vai até a geladeira, pega uma cerveja e retorna, abrindo-a. Puxa o banco e se encosta
na ilha, me observando. Fico nervosa; os olhos seguem os movimentos das minhas mãos. Alguns
instantes sobem até o meu rosto, outros descem pelo meu corpo, e a intensidade do olhar
aumenta a cada gole. É estranho ser tão observada, mas estou gostando. E se eu o provocasse?
Será que ele me olharia mais? Sentiria desejo? Vontade de me prender em uma parede e fazer
aquilo novamente? Sei que foi sem querer, mas e se ele quisesse? Eu iria gostar. Sei que é errado
porque é meu tio, mas não o vejo assim. Meu primeiro pensamento foi de interesse, ainda no
aeroporto. Não consigo mudar o que ele despertou primeiro em mim.
Meu corpo esquenta com os pensamentos imorais, viro de costas para ele, não quero ter a
sensação de que sabe o que acontece na minha cabeça. Vou até a geladeira e pego uma cerveja
também, tento abrir sem sucesso e ele estica o braço oferecendo ajuda mesmo sem falar. Aceito,
ele joga a tampa longe e engulo o líquido só parando quando metade está em meu estômago.
一 Está tudo bem? 一 Pergunta. 一 Quase bebeu tudo em um único gole.
一 Por que está aqui me olhando? Sei lá, não vai sair para ver mulheres, ou ficar com
elas? 一 Ele sorri.
一 Essas coisas, faço à noite, no escuro, quando ninguém está olhando 一 Estremeço.
O que ele faz no escuro? Ainda sou virgem, mas tenho uma noção pelos vídeos que
assistia com minhas amigas. Para todas elas peguei vários garotos. Adotei uma personalidade
sexy, brincava com os meninos na escola, nas festas, flertando o tempo todo e nunca liguei deles
mentirem que ficaram comigo, mas é porque tinha vergonha de admitir que nunca fiz sexo por
medo da dor. Cada uma que perdia falava sobre o quanto tinha doído, e reprimi à vontade, então
comecei a fingir, mas não sei como é ser tocada, sou uma fraude.
一 Em breve sairei também para fazer as coisas que você faz no escuro. 一 Ele mira
meus lábios, sério, dando um novo gole na cerveja.
一 Por que veio morar aqui? O que aconteceu lá? 一 Retiro os filés, e jogo a cebola
para fritá-la, mas sua pergunta mexe comigo.
一 Não quero falar sobre isso. Entendi o porquê está aqui me observando, foi o meu pai,
ele pediu para tentar descobrir por que estava deprimida? Está perdendo seu tempo, não tenho
motivos para confiar em você.
一 Nem desconfiar. Seu pai não me pediu nada.
一 Mas contará a ele, não é? 一 Ricardo levanta, apoia os cotovelos na ilha ficando
mais perto.
一 Não, não contarei, até porque você não dirá nada. 一 Sorrimos.
一 Inteligente. Fale de você…
一 O que quer saber?
一 Por que estão morando juntos?
一 Eu tenho o meu apartamento, mas eu e o Rico sempre nos demos bem quando
crianças, por um tempo, antes da sua vó me proibir de entrar na casa de vocês, éramos grudados,
e sempre dissemos que um dia ficaríamos próximos. Após o exército, as coisas deram certo, me
mudei e ele me chamou para dividir a casa.
一 Fico feliz que possam viver como irmãos agora. Vovó foi cruel com as regras idiotas,
você não teve culpa de nada. 一 Ele suspira pesado, levanta, joga a garrafa na lixeira pegando
outra na geladeira.
一 Quer mais uma?
一 Sim. 一 Viro a minha nos lábios tomando a outra metade, ele sorri abrindo antes de
me entregar.
一 19 anos… 一 diz baixinho.
一 Você tem quantos anos? 一 Ele coça a barba rala, em dúvida se fala ou não.
一 36.
一 Não perguntarei se já foi casado ou se tem filhos, porque provavelmente dirá que sim,
e que inclusive está divorciado porque adora curtir a vida. 一 Gargalha.
一 Está fazendo um pré-julgamento, deveria perguntar.
一 Acho melhor não, prefiro não saber. 一 Ele arqueia a sobrancelha curioso.
Desligo a chapa retirando as cebolas douradas, espalhando sobre os filés. Elevo o olhar
até ele, eu realmente queria saber, mas não posso perguntar, cada palavra que trocamos aumenta
as sensações estranhas que sinto sobre ele.
一 Por quê?
一 Não quero sentir que estamos íntimos demais. 一 O olhar carregado de confusão
anseia questionar, mas meu pai entra na cozinha.
一 O cheiro está quase no andar dos quartos, isso está simplesmente maravilhoso.
一 Pegarei os pratos e os colocarei na mesa. 一 Diz Ricardo, indo até o armário.
Pegamos tudo e colocamos na mesa. Sento na cadeira dominada por um sentimento de
felicidade, não almoçarei sozinha hoje, e isso é tão bom. Os dois se servem e saboreiam a carne.
一 Não me importaria de comer isso todo dia. 一 Papai brinca.
一 Muito menos eu, está delicioso.
一 Obrigada, agora que estou aqui, poderão comer sempre.
Sirvo-me e desfrutamos de um almoço tranquilo. Eles devoram tudo, e ao finalizar,
Ricardo lava a louça enquanto papai limpa a chapa. Particularmente, achei justo, embora tenha
me oferecido para ajudar, eles negaram.
O restante do dia será para descansar, e papai me convidou para assistir a um filme com
ele à noite no quarto, e aceitei. Ricardo disse que precisaria sair, e não duvido que encontrará
uma das “namoradas” que deve ter.

Amanhece, e decido enrolar um pouco mais na cama. Assisti a um filme até tarde ontem
e, quando fomos dormir, papai avisou que só acordaria perto do almoço. Passo algum tempo com
o olhar nas árvores balançando lá fora; o vento está mais forte, o céu com poucas nuvens, sol
forte, e não duvido que esteja calor. Poderia entrar na piscina; ainda não conheci a área de lazer.
Levanto, escolho um biquíni branco, coloco uma saída de banho por cima e sigo até o
banheiro para fazer a higiene pessoal. Desço até a cozinha, está vazia; ligo a cafeteira para passar
o café. Analiso pelo vidro a garagem e um carro está faltando, deve ser o do Ricardo. Ontem
fiquei na curiosidade de saber aonde iria, mas pelo visto estava certa, foi aproveitar a noite e
ainda não retornou. Não deveria achar ruim, mas meio que acho, e é estranho, porque não faz o
menor sentido.
Puxo uma xícara no armário e a encho de café, decidindo tomá-lo perto da piscina. O
lugar é gigantesco, com uma varanda linda repleta de plantas aromáticas que se estendem por
toda a cobertura. Há duas mesas de madeira nobre e a piscina extensa ocupa grande parte do lado
esquerdo. Deve ter em torno de cinco metros, a água azul e límpida, refletindo um brilho
ofuscante com a luz do sol. A temperatura quente me faz querer entrar agora mesmo e molhar o
corpo.
Por que não? O café não esfriará tão rápido.
Dou um gole longo no café, levanto, retiro a saída de banho, me aproximo da borda,
sento no chão quente pelo sol, enfiando os pés e as pernas na água. Está gelada, mas não recuo,
pulando mesmo assim. Mergulho até o fundo, contorno ela completa até sair para respirar
novamente. Passo as mãos nos cabelos seguindo até a borda, apoio os braços, pego impulso e
saio para terminar o café. Fecho brevemente os olhos com o sol incidindo em minha pele.
Suspiro feliz e torno a abri-los enquanto passo as mãos no corpo retirando o excesso de água.
Sobressalto de susto ao ver uma sombra. Papai está com visitas? Inclino a cabeça para olhar.
CAPÍTULO 4

Saio da garagem ouvindo um barulho de água e a vejo, de longe, saindo da piscina


sorrindo. Ando até ela; está de olhos fechados rente à beirada, o sol fazendo a pele brilhar, a água
escorrendo por todo o corpo molhando o chão ao redor. Mas então, tem algo pior: suas curvas,
suas particularidades absurdamente fascinantes.
O biquíni branco de malha fina está agarrado à pele, molhado e transparente. Consigo ver
seus mamilos duros, rosados, marcando o tecido, o formato delineado, o que faz todo meu corpo
tremer. Desço o olhar, a barriga é reta e o centro das pernas está com o tecido fino da peça
enfiado no relevo, desenhando o formato perfeito da sua boceta, é impossível não a desejar, meu
coração acelerado no peito doido para descobrir se seus pelos de baixo são ruivos ou se é toda
lisa.
Há tantas coisas que queria saber: quantos caras beijou, quantos a fizeram gozar. Se
gostaria de ser tocada por mim. Maldição. O Rico que me perdoe, mas essa diaba está querendo
me corromper. Enfeitiçado, paro ao seu lado e ela sobressalta de susto, mas me vê.
一 Que susto! 一 Ela leva a mão direita ao centro dos seios, o tecido agarra mais sua
pele, as aréolas grandes agora também visíveis. Aperto os punhos, querendo não sentir essa
vontade louca de tocá-la.
Não digo nada, nem sei o que dizer.
Ela balança a cabeça, inclinando para trás, tentando escorrer os cabelos. Os fios estão em
um tom mais escuro, e com passos suaves, ela me ignora e não se intimida, muito menos tenta
esconder o corpo, sai molhando o chão até a mesa. Admiro sua bunda, arredondada, não é grande
demais, nem pequena demais, é perfeita. A mão captura a xícara, tomando o café. Giro o corpo e
caminho para a casa sem capacidade de conversar; o que poderia dizer a ela?
Nem sei, estou bagunçado.
Sempre fui um cara certinho, centrado, extremamente bem-comportado. Aprendi a ser
assim, era indesejado aonde ia, rejeitado pelos pais, e sempre achei que cumprir as regras e andar
na linha faria as pessoas me aceitarem. Jurei nunca ser um pecador, que erra sem calcular os
danos, e eu gosto de ser assim; com o tempo, fiquei polido, mas ela está mexendo comigo. Desde
o primeiro olhar, por vezes me pergunto se seria errado paquerá-la. Até ouço meu coração dizer
que não, mas a razão me faz despertar para a porcaria errada que é tudo isso.
Subo as escadas, indo para o meu quarto, e entro seguindo para os vidros, daqui eu possa
vê-la sem correr o risco de dizer ou fazer algo errado. Chiara está sentada na cadeira, os bicos
dos seios ainda acesos, meu corpo reage e meu pau endurece na calça, contorno-o com a mão.
Fique quieto, você está proibido de subir para ela, entendeu amigo? Óbvio que ele não me
obedece. Não consigo controlar. Inspiro profundamente, atento nela que levanta. As mãos
pequenas seguram a saída de banho e segue até a espreguiçadeira deitando o corpo.
O que ela vai fazer?
Ela arruma a parte de cima do biquíni, mas os seios arredondados acabam escapando e
saltam expostos, são os mais lindos que já vi. O sol incide sobre eles. Sim, as aréolas e os
mamilos possuem uma coloração avermelhada, e alguns fios de cabelo grudam nas laterais.
Enfio a mão dentro da calça, tocando o meu pau, todos os músculos do meu corpo
retraem em desejo. Nunca fiquei assim por alguém, de olhar, endurecer, fechar os olhos e vê-la.
Deslizo o polegar na glande sensível, arfo, observando enquanto ela os esconde novamente,
sorrindo de sua própria falta de atenção.
A porta do meu quarto abre, e eu travo, retirando rapidamente a mão de dentro da calça.
Rico entra, lendo algo no celular, e por sorte não percebe.
一 Você leu o último contrato que Audrey trouxe? 一 Ele eleva os olhos vendo que
acabei de chegar. 一 Chegou agora? Por quê? Sua mãe voltou para o Canadá?
一 Achei que você tivesse dito que não trabalharíamos mais no final de semana. E sim, li
o contrato, está tudo certo.
一 Esqueci de quem era, o cara é um bom investidor.
一 Sim, por isso ela fez questão de trazer ontem.
一 E sua mãe?
一 Foi embora, o voo saiu agora cedo, passei a noite com ela no apartamento. Ela mudou
tudo de lugar. 一 Rico sorri.
一 Pelo menos veio este ano, foi bom para ela porque passeou bastante.
一 Sim. Vou tomar um banho. Planejou algo para hoje? Estou cansado; irei dormir um
pouco, passei a madrugada falando sobre gatos e roupas. Amanhã começa a semana e estamos
repletos de contratos novos. Preciso analisar várias contas que estão inativas. 一 Ele nega.
一 Não, pode dormir. Chiara quer conhecer a cidade e daremos uma volta de carro, mas
nada demais.
一 Tudo bem. 一 Arranco minha camisa e abro a calça e Rico sai fechando a porta.
Retorno ao vidro somente de cueca e meia nos pés procurando-a, mas ela não está mais
lá. Melhor assim, não posso pensar nela com desejo. Caramba, o que estou fazendo? Ela é filha
do meu irmão, não faz sentido sentir isso.
Arranco tudo e entro no banheiro, ligo o chuveiro na água bem gelada que cai em cascada
nas costas, fazendo todo meu corpo encolher de frio, é isso que farei toda vez que pensar nela até
parar de ser atordoado com besteiras doentias.
A primeira semana aqui está sendo boa. Puxo o suporte de tinta e forro todo o chão para
não sujar. Quase não tenho visto o papai e o Ricardo; nos encontramos só no fim do dia para o
jantar. Hoje já é quinta-feira, estou na terceira mão de tinta, e a cor ficou melhor do que o
esperado. Meu celular toca e travo a mandíbula ao ver que é o Bryan, mas atendo no viva-voz.
一 Boa tarde, estou com saudades… 一 Ele diz.
一 Eu também, sabe, aqui não está sendo tão ruim assim.
一 Aqui está péssimo sem você, quase todos os dias passo em frente à sua casa e lembro
de quando te gritava para me acompanhar no futebol com os caras. Espero que esteja se
divertindo por aí.
一 Estou, não igual antes, eu mudei após a reabilitação, acho que amadureci um pouco.
一 Fizemos muita merda, certo?
一 Sim, mas já consigo dormir sem lembrar o tempo todo do rosto da Caroline.
一 Domingo faz dois anos, as vezes nem acredito que isso aconteceu.
一 Você conseguiu perdoá-la? 一 Bryan fica em silêncio, a respiração provocando um
chiado alto no telefone.
一 Sim, agora estou feliz de novo, não penso mais sobre estarmos do outro lado com ela,
mas a perdoei, sabe, ela não deveria estar bem. E você? Conseguiu?
一 Não 一 confesso 一 , mas um dia conseguirei.
一 Chiara, seja feliz, faça o que tiver vontade, ficamos muito tempo deprimidos, não
merecemos isso. Ela errou, nós erramos em mentir e não dá para voltar no passado, pelo menos
curtimos pra caralho e temos as melhores memórias.
一 Você está certo. 一 pauso a fala 一 Bryan…
一 Oi.
一 Com 19 anos é permitido fazer merda também?
一 Não existe idade para curtir. 一 Talvez o conselho dele esteja designado há algo
diferente do que imagino, mas tomarei como quero, e posso até me arrepender depois, mas pode
ser que não.
一 Curta bastante aí por mim, quem sabe eu volto.
一 Espero que volte logo, te amo.
一 Também te amo, obrigada por ligar.
一 Valeu por atender. 一 Desligo.
Suspiro enfiando o rolo de espuma na tinta distraída.
一 Que tipo de merda você quer fazer? 一 Uma voz diz, pulo para trás derrubando o
rolo que bate no chão respingando tinta por todo meu rosto e corpo.
一 Puta que pariu, que susto! 一 Ricardo se aproxima com a mão na testa.
Não tinha ninguém na casa, bom acabei de descobrir que tem e nem me dei conta.
一 Desculpe, achei que tinha ouvido que cheguei, tem uns quinze minutos.
一 Estava escutando música alta antes, não ouvi você chegar. 一 Ele se aproxima de
mim, dou alguns passos para o lado, evitando pisar na tinta espalhada no chão.
Ele sorri suplicando perdão com o olhar e passa a mão na maçã do meu rosto tentando
limpar um pouco de tinta. Seu toque queima como brasa, cada esfregada dos dedos faz uma
batida aumentar no meu peito.
一 Só preciso tirar mais um pouco aqui… 一 Avisa, com o dedo rente ao meu lábio
inferior.
Admiro seu rosto, uma avalanche de oscilação escapa através de mim porque quero
agarrá-lo, seria errado? Ele me rejeitaria? Queria tanto sentir aquela sensação de novo.
Sem calcular, o abraço envolvendo o seu quadril, encosto o rosto de lado em seu peitoral
forte, e fecho os olhos. Ricardo trava, mas acaba cedendo, talvez pense que estou triste, então os
braços descem apertando fortemente o meu corpo contra o seu. Eu só preciso de um abraço, é só
um abraço, nada mais.
O nariz topa com a minha cabeça e ele move o rosto enfiando-o nos meus cabelos,
inalando lentamente meu perfume. Arrepio com o gesto, aperto-o mais, ficando quente. Eu gosto
de sentir isso, é a mesma sensação esmagadora da loja, como se uma pedra comprimisse o meu
peito.
一 Titio… 一 sussurro, esfregando o rosto na camisa perfumada, na curvatura alta do
peitoral, querendo grudar o seu cheiro em minha pele.
O tórax dele expande, o coração acelerado, as mãos subindo por toda lateral do meu
corpo se aninhando em meus cabelos enquanto subo o nariz até o seu pescoço, roçando devagar.
一 Chiara, o que está fazendo? 一 Mordo-o na clavícula; seus braços travam com força,
batendo nossos corpos, e ele me empurra sobre a mesinha nova.
Ele me senta sobre ela, encaixando o quadril no meio das minhas pernas. Minha saia
levanta, nossas partes íntimas se encostam enquanto seu rosto se esfrega no meu. Ficamos
ofegantes, enquanto uma chama fervente cresce desenfreada, quase nos consumindo. Sua boca
para ao lado da minha, eu puxo seu quadril contra mim, esfregando minha boceta em seu pau,
que a cada segundo fica mais duro na calça, quase arrebentando o zíper, mas ele está resistindo,
eu sinto.
Os dedos apertam os fios e ele morde meu queixo. Sua mão desce pelo meu abdômen até
a perna direita, contornando minha coxa e descendo para a parte interna. Afasto nossas
extremidades, querendo que ele me toque lá. As pontas dos dedos resvalam em minha calcinha e
escuto os dentes rangerem. Solto um gemido antecipado, quero tanto isso que estou molhada,
mas ele me abandona. Afastando-se, arfo, ambos em uma luta injusta, porque ele me deseja, e eu
só precisava ter certeza.
一 Você está carente, não faça mais isso. 一 Diz segurando o pau com força, sem me
olhar novamente. 一 Saia e arrume um garoto para te foder, entendeu? 一 Finalmente ele me
olha, um calafrio sobe em minha espinha. Seus olhos encovados quase sem cor, sombrios porque
está furioso.
一 Arrumarei mesmo, um bem novinho, de pau grande, que me coma sem medo até que
eu não consiga mais andar. Você não tem capacidade para isso, já entendi. 一 Seu rosto ganha
cor, um vermelho fogo, as veias saltando em seu pescoço enquanto cerra os dentes.
Retiro a calcinha que estava enterrada na bunda, pego o celular e saio, deixando-o se
afogar em sua própria raiva. Não falarei com ele por uns dias; talvez esteja fora de mim. Preciso
pensar, embora esteja brava por ele ter me rejeitado.
CAPÍTULO 5

Mal preguei os olhos durante a noite nos últimos quinze dias. O pensamento indo e
voltando na Chiara após o incidente daquela tarde, em que quase a beijei. A menina é atraente,
não nego. Hoje começa mais um final de semana, e estamos sem nos falar. Ela passou quase
todos os dias no escritório, decorando, e lendo alguns livros que chegaram, e o contato visual se
tornou mínimo durante o jantar. Sempre que saio no corredor do quarto e ela me vê, foge. Ontem
fomos obrigados a permanecer no mesmo ambiente porque Rico nos chamou para jantar e
assistir a um filme.
Não sei como agir, principalmente porque seu jeito irreverente de sorrir, mover o corpo, e
o olhar que desde o primeiro contato rouba a clareza dos meus pensamentos me fazem esquecer
que ela é minha sobrinha. Só consigo focar no azul faiscante de sua íris, que faz meus nervos
vibrarem. E no fogo lustroso que pinta os seus cabelos quando alguma luz a atinge. É insano e
fode a moralidade. Droga, mas ela é gostosa, meu irmão caprichou.
Imaginei ela nua, dançando sobre o tapete do quarto sem aquele pijama, após vê-la ontem
preparando o jantar, e sinto vergonha disso. Desço as escadas bufando entredentes, indo
diretamente para a cozinha. No sábado, eu e o Rico agora decidimos tomar café todos juntos na
área externa. Ele sente que ela está distante, eu sei o motivo, mas ele não. Pego os grãos de café,
passando-os no triturador, e ao formar o pó, coloco na cafeteira.
Puxo algumas xícaras do armário e levo item por item até a mesa de madeira, fixa na área
externa, embaixo da enorme cobertura de plantas rasteiras nas treliças que se projetam por todos
os pilares de sustentação. Quero que a Chiara coma bastante, afinal, desejo que se sinta bem.
Segundo o pouco que o Rico disse, a menina estava com problemas emocionais.
Não me interessei de início, mas talvez pergunte sobre isso quando ela se sentir
confortável.
Despejo o café na garrafa térmica e levo até a mesa. Sento, despejo um pouco na xícara.
O sol está surgindo por entre as árvores, e dou um gole no líquido fervente. Chiara
inesperadamente sai pela porta, vejo tudo em câmera lenta. Ela ergue os olhos encontrando os
meus. Perco o ar e as palavras que poderia dizer, apenas a admiro se aproximar a passos lentos e
preguiçosos, não mais lento que a minha mente, eternizando essa imagem. O sol incide em seus
cabelos, brilhando os fios em um vermelho cereja. O rosto enrubescido, as sardas intensas na
pele aveludada, o suor sobre o lábio superior carnudo, evidenciando o formato da boca rosada.
Ela sorri, e seu sorriso é perfeito, é como ver o nascer do sol. O vestido curto com
desenhos de corações vermelhos deixa as pernas finas à mostra. Senti falta de olhá-la, porque
não estamos nos vendo tanto.
一 Bom dia, tio! Uau, vamos tomar café aqui? 一 Os olhos azuis descem no meu
peitoral sem camisa.
A língua transpassa nos lábios entreabertos mordendo o lábio inferior em seguida.
Cacete. Ficarei excitado.
一 Sim, eu e seu pai decidimos tomar café na parte externa aos finais de semana! Sente-
se… 一 A mão direita delicadamente segura a cadeira, puxando-a.
Ela senta inclinando o rosto para a lateral, os olhos no jardim, e posso ver as cores das
plantas refletidas em suas pupilas. Sorrindo, inspira profundamente, apreciando o cheiro do
ambiente. Ela está linda, seus cabelos quase totalmente soltos balançando com a leve brisa que
sopra. E me encara, notando evidentemente a minha vigilância em seus movimentos, até mesmo
os respiratórios; com ela, não consigo ser discreto. A boca se abre levemente, mas pausa; sorri
sem quebrar nosso vínculo visual. As mãos se projetam até os cabelos, jogando-os para trás e,
por fim, fala. A voz é suave e calma.
一 O que foi? Tem algo no meu rosto? Você não para de me olhar. 一 Pergunta,
diminuindo a abertura dos olhos, instigando-me violentamente.
一 Não, estava apenas admirando os seus traços…
一 Todos? 一 A ponta do indicador direito toca na testa, escorrega no centro do rosto,
transpassa o nariz, e ela eleva a cabeça. O dedo continua percorrendo os lábios úmidos de gloss
que ela passa toda manhã, o queixo fino, seguindo para o pescoço, delineando seu corpo até o
centro do decote. 一 Todos esses traços? Até aqui?
O formato arredondado dos seios perfeitos e os mamilos entumecidos, marcando o tecido,
fazem meu corpo enrijecer. O mamilo direito terrivelmente duro no centro de um dos desenhos
do coração é de salivar a boca. Os poros da pele branca se arrepiam pelo próprio toque, arfo, e
meu pau começa a esticar na bermuda. Ah, porra, ela quer acabar comigo.
Rico surge na porta, meu corpo esfria, abaixo o rosto, transpirando. Ele senta e se serve
de café.
一 Bom dia! É um belo dia para comemorar! 一 Brinca.
一 Comemorar? 一 Ela diz franzindo a testa.
一 Sim… 一 respondo 一 Hoje é o meu aniversário, teremos uma festa amanhã, mas
será no fim do dia, coisa simples, assaremos hambúrgueres. 一 Afirmo.
Ela me olha fixamente, provavelmente pensando se me parabeniza ou não.
一 Dê um abraço no seu tio menina, é o aniversário dele. 一 Ordena Rico.
Ela levanta rapidamente, se aproxima e para em minha frente. Levanto-me e, sem esperar,
ela pula nos meus braços. Agarro-a com força na cintura fina; ela envolve meu pescoço. Ergo-a
do chão; Chiara é mais baixa que eu, e sorri, beijando meu rosto, e os lábios macios permanecem
por segundos. Malditos segundos sombrios. Tudo parece girar, ao mesmo tempo que minha
consciência é dominada por uma queimação desenfreada, porque recordo do nosso contato de
dias atrás, do quanto queria fodê-la naquela mesa. A leve brisa da manhã, o cheiro adocicado de
jasmim e baunilha dos fios ruivos preenche meu olfato. O rosto afasta-se do meu; admiro-a. Ela
treme, a pele vibrando contra o meu corpo. Não quero soltá-la, mas faço, aprumando-a de pé.
Levo os dedos à maçã do seu rosto, acariciando com carinho, a textura aveludada e macia
semelhante a um pêssego.
一 Obrigado, querida! 一 Agradeço, o tempo voltando ao normal, mas despenco na
cadeira anárquico, puro caos e instinto.
Droga, o que significa isso que estou sentindo?
Abraçar meu tio agora foi como sentir uma avalanche cair em cima de mim e ser
soterrada viva. Foi ainda melhor que antes porque a cada dia o quero mais, e ele parece sentir o
mesmo. Minhas mãos continuam trêmulas, o cheiro dele preso em minha pele é amadeirado, com
toques de ébano, sândalo e camurça. Meus instintos avivaram, ativando uma ferocidade. Estava
pronta para agarrá-lo, mas não poderia; é doentio. Sento e não foco em nada, apenas fixo meus
olhos famintos sobre ele, que retribui.
Um arrebatamento prolongado, causando dor no meio das minhas pernas, minha calcinha
umedece, cruzo as pernas tentando disfarçar a nuvem tempestuosa de sensações desconhecidas,
como se todos pudessem ler meus pensamentos impróprios. Ao mesmo tempo envergonhada, o
que estou pensando? Isso é errado. Passei os últimos dias me convencendo que era uma fantasia,
que realmente estou carente, mas voltar a ter contato com ele após nos evitarmos fez tudo piorar.
Refreio o tremor e os sentimentos, despejo café em uma xícara e a levo ao lábios, Ricardo
segue cada movimento que faço, com as pupilas dilatadas, a boca entreaberta e o semblante feral.
Uma voz grita dentro de mim, rasgando meu tórax em desejo porque queria que ele me quisesse
em sua cama. Corpo com corpo no escuro. Com ele eu poderia chegar do outro lado, o sexual
que nunca vivi, mesmo com toda razão dizendo que é impróprio e imoral.
Chiara leva a xícara aos lábios, a ponta do dedo indicador justaposta na alça, segurando
com sutileza. A boca rosada beija a xícara, o líquido molhando os lábios, e por segundos,
gostaria de ser aquele pequeno pedaço de porcelana. Os pensamentos impuros só aumentam;
imagino também sua boca em meu corpo, resvalando nas partes proibidas, enquanto a língua
faria um estrago irreversível. Um lampejo de sanidade me faz retrair, passo a mão direita no
queixo, coçando-o, mudando o foco de atenção, pacificando a vergonha em meu peito.
Contradizendo minha razão, meu corpo quer o oposto.
Meu pau cresce desenfreado no calção, minhas bolas latejam enquanto não resisto em
admirá-la, procuro-a novamente, e está sorrindo para mim. Não qualquer sorriso, aquele lascivo,
que faz o coração acelerar. Puta que pariu, eu estou louco por desejá-la sexualmente, só pode!
Bufo, irritado. Como frear o incontrolável? É demolidor.
Racionalizo mesmo com os instintos pulsando, capturo minha xícara, engolindo o café de
uma vez, a sensação de queimação seguindo do esôfago até o estômago. Os dois se distraem
conversando, e me levanto, indo diretamente para o banheiro externo, próximo à área da piscina.
Tranco a porta ansioso, minha respiração desalinhada, e desesperado abaixo o cós do
calção precisando aliviar o tesão que mantém a porra do meu pau duro. É inefável o desejo. Não
posso tocá-la porque é errado, mas posso me masturbar pensando nela. Envolvo a mão ao redor a
minha ereção, tremendo à medida que desço e subo por todo comprimento. Uma onda de
queimação ascendendo em minhas pernas, ofego, aumentando o ritmo. Fecho os olhos
idealizando seu rosto, a boca carnuda sendo preenchida com a cabeça do meu pênis, fazendo-a
gemer enquanto bombeio em sua boca molhada de saliva. Comprimo o aperto da palma,
murmuro quase chorando enquanto ela diz aquelas palavras nocivas.
一 Titio, eu não quero outro cara me fodendo, só você. Por favor, me coma agora.
Imagino as mãos pequenas arrancando os próprios seios do vestido balançando-os no ar,
os bicos duros, rosados e grandes, enquanto levanto a barra do vestido, abrindo suas pernas. Ah
porra, como eu queria ver sua boceta. Abro os olhos, perco o ar idealizando o formato, minha
mão subindo e descendo freneticamente. Franzo o nariz, querendo sibilar, mas reprimo e me
masturbo com pressão, forçando a redução máxima, certo que socar em sua boceta seria assim.
Bem apertada. Minhas pernas enrijecem, queria o seu corpo grudado ao meu, o toque, a pele
macia roçando na minha.
A sensação potente esmaga meus sentidos, inflo os pulmões, segurando o ar, com a
euforia crescendo, mantenho o ritmo, os batimentos do meu coração ficam na garganta, as
contrações involuntárias latejando as bolas, os músculos rígidos, minha mão dura de dor, o pau
vermelho do aperto excessivo. Torno a fechar os olhos imaginando estar dentro dela, as paredes
quentes, a boceta molhada gozando em mim.
一 Isso, estou gozando, você é tão gostoso e grande.
Explodo sem conter um ruído que irrompe de minha boca enquanto cerro os dentes, o jato
de gozo indo longe, o líquido espesso e perolado caindo no chão. Não cesso os movimentos, as
pernas trêmulas, o peito doendo e torno a respirar deixando a satisfação amolecer os músculos
abdominais. Aproximo da pia, lavo o meu pau, as mãos e enxugo com papel. Limpo o piso com a
culpa fibrilando no peito, pela primeira vez realmente me masturbei pensando nela.
Que porra eu fiz? Me masturbar sem tocá-la não torna a situação menos insana, e o pior
é saber que farei isso de novo porque foi gostoso imaginá-la sendo fodida por mim.
CAPÍTULO 6

Meu tio retorna minutos depois, e ainda não compreendo por que saiu apressado, mas ele
se senta com calma. Olho para o seu rosto, nossos olhares se encontram, mas ele desvia de
maneira antipática, com um semblante sombrio, em um movimento repentino que demonstra
desprezo.
Há segundos atrás, ele me devorava com os olhos. O que aconteceu? Puxo um croissant,
mas sinto um vazio no estômago, e não é fome, são dúvidas.
Aposto que se tocou pensando em mim, que foi ao banheiro e fingiu que sua mão era
minha boceta, porque o olhar é o mesmo daquele dia que me desprezou.
Ricardo empurra o pote de geleia em minha direção; é de cereja. Encaro-o, mas ele desvia
o olhar novamente, inerte, focando na própria xícara. Inspiro, frustrada, pois percebo a
estranheza entre nós, evidenciada pelos gestos hostis. Externo a tensão, largo tudo, levanto-me, e
os dois me encaram.
一 Não quero fazer nada hoje, estou muito cansada. Não se sintam obrigados a mudar os
planos de sempre só porque estou aqui. Vivam a vida de vocês, podem sair e se divertir comendo
mulheres, comemorem o aniversário do titio como quiserem. 一 Ricardo franze a testa, meu pai
abre os braços no ar em questionamento enquanto me afasto.
一 O que aconteceu? Não vai comer? Por que está dizendo essas coisas, Chiara? 一
Pergunta papai, mas ignoro entrando na casa.
Corro subindo a escada, pisando a cada dois degraus. Atravesso a porta do quarto,
batendo-a. Eu estava gostando do jogo que estávamos fazendo, eu e o meu tio. Os olhares desde
o aeroporto continham as mesmas faíscas, causando calafrios, sensações profundas, tal como o
desejo, pois nunca fui olhada assim. Claro que tinha os garotos da escola, mas são apenas
garotos, ele não, o ar indomável, a masculinidade e o gostinho do errado com sua vasta
experiência de idade fibrilando em cada respiração é o oposto do que imaginei experimentar um
dia. Eu gosto dele, quero sentir suas mãos em mim, ao ponto de ficar furiosa porque rejeitou o
meu flerte. Talvez eu só esteja carente e precise de fato arrumar um namorado. É isso que farei.
Deito-me na cama e fecho os olhos. Um clarão reflete entre a escuridão, distorcendo as
memórias, as listras amarelas da pista noturna se desfazendo como um borrão, e a vejo: repleta
de sangue, olhos acinzentados, sem vida, no banco do motorista. O sangue impregnou seus
longos cabelos pretos e sua pele cadavérica. Engulo o mar de lágrimas que quer emergir.
Abro-os, fixando a visão turva nas copas das árvores lá fora. Caroline, sinto sua falta. Eu
tentei impedir o acidente, mas falhei. Não deveria ter escondido o que aconteceu naquela noite,
mas não consegui dizer, parecia errado. A verdade se perdeu, junto com minha dor, e não
consigo superá-la; ela está sempre retornando, de novo e de novo, como o ruído do vento em
uma tempestade sem fim. Tem sido fúnebre, rodeada de trovoadas escabrosas, sepultando
qualquer plano de futuro. Não consigo ver além, a linha se rompeu.
Saio do banho percebendo que esqueci novamente a porta do quarto aberta, mas diferente
da primeira noite, Chiara não está ali, com seus olhos azuis grandes me analisando escondido, e
por mais perturbador que pareça, gostaria que estivesse. Desde cedo não a vi; ela se trancou no
quarto. Rico xingou, dizendo o quanto a menina cresceu e está difícil compreendê-la.
Enrolo a toalha na cintura andando até a minha varanda que se conecta com a dela, a
única separação é a divisória de vidro que não chega a ter nem um metro de altura. Está tudo
escuro, anoiteceu e é como se não houvesse ninguém lá, sem voz, sem música, sem qualquer
porra de som que indique que está apenas frustrada comigo. Aposto que vivia rodeada de
amigos, que saía aos finais de semana para se divertir, Rico disse uma vez que ela era sua cópia,
gostava de bagunçar.
Retorno ao quarto, me visto e desço para a cozinha. Rico está gritando ao telefone.
一 Estou tentando! Ela viveu 19 anos com você e não quis contar o que está
acontecendo, por que caralhos acha que ela me dirá em poucos dias? Ligue para ela, pergunte
como está. 一 Nervoso bate os dedos em fileira sobre o mármore. 一 Colocarei ela para
trabalhar no banco, irá distrai-la. Adeus. 一 Desliga batendo o celular na bancada da ilha.
一 O que foi? Vocês precisam se acalmar, ela precisa de espaço. 一 Amenizo, ele nega
balançando a cabeça.
一 É complicado. Chiara, há dois anos, sofreu um acidente de carro e a amiga que dirigia
morreu. Estavam os três, todos haviam bebido, mas segundo o relato deles, um animal cruzou a
pista. Como encontraram no outro dia um animal ferido na região, pegaram uma sentença leve,
em prestação de serviço. Ajudei também; ela não sabe, mas é claro que peguei um favor aqui e
ali para livrá-la de uma condenação mais severa. Ela tinha 17 anos; todo mundo faz merda nessa
idade.
一 Deve se sentir culpada pela morte da amiga, por deixá-la dirigir alcoolizada.
一 Sim, mas já faz dois anos.
一 Algumas pessoas superam rápido, outras não. Ela será levada para trabalhar no
banco?
一 É, acredito que será bom, o que você acha?
一 Não acho nada, você é o dono, faz o que quiser.
一 Vou chamá-la para fazermos algo para o jantar. 一 Ele anda até a entrada da
cozinha.
一 Eu faço e deixo a comida lá, não se preocupe. Ela está processando a mudança. Pode
ir dormir.
一 Certeza? Na verdade, não vou dormir. Lembra da Laurel, daquele restaurante onde
almoçamos na semana passada? 一 Confirmo com um aceno de cabeça. 一 Ela me passou o
telefone, então...
一 Vai porra! Pode ir transar. 一 Rico solta uma risada, pisca agradecendo e
desaparece.
Claro que sobraria para o tio certinho cuidar da pirralha, apesar de, com 19 anos, os
cuidados que ela precisa são de outro tipo, aqueles feitos em cima de uma cama, no escuro, bem
quietinha.
Acerto a palma da mão em minha própria testa. Doente, você é 17 anos mais velho, o tio
bastardo dela. Tenha juízo! Já pensamos sobre isso; a barreira continuará. Ela é proibida.
Foco nos armários procurando algo simples para preparar. Panqueca. Sempre cozinhei,
não porque gostava, mas porque precisava. Crescer sendo rejeitado até pela minha própria mãe
não foi nada fácil. Meu pai não podia me trazer para a família Mandolini porque a esposa não
aceitava, como se eu fosse culpado da safadeza deles. Minha mãe, por outro lado, descontava em
mim a frustração de ter sido a descartada, e nunca assumida. Entendo a Chiara querer ficar
sozinha para superar suas dores, eu fiz o mesmo, embora eu ache que está reclusa porque a
rejeitei, mas porra, ela é minha sobrinha, não vejo futuro nisso.
Esquento a chapa, preparo a massa e frito as panquecas. Coloco-as em pilhas em um
prato. Pego chantilly na geladeira e desenho com a espuma branca brilhante, semelhante a uma
montanha, e no topo encaixo duas cerejas. Pego um garfo, caminho para a escada topando com o
Rico, arrumado com as chaves na mão.
一 Prometo que estarei aqui para o café da manhã.
一 Certo, amanhã na festa ela ficará feliz e mais animada.
一 Ela ama cereja. 一 Diz olhando para o prato.
一 Agora entendi por que comprou um estoque gigantesco. 一 Ele sorri andando até a
porta, abre, acena e sai.
Vou até o quarto da Chiara e verifico por debaixo da porta se há luz, mas está escuro.
Coloco o prato no chão, dirijo-me ao meu quarto, e pego um post-it e uma caneta na gaveta da
mesinha de cabeceira. Talvez ela não queira falar frente a frente. Escrevo no papel, colo-o no
canto do prato, bato na porta, abro-a e empurro o prato para dentro, fechando-a em seguida.
Esfrego os olhos ao ouvir uma batida na porta, que se abre, permitindo que uma claridade
extensa ilumine parcialmente o quarto. Um ruído de porcelana vem do chão e, em seguida, tudo
fica novamente escuro. Elevo a cabeça, esticando o pescoço, mas não vejo nada além das
sombras dos galhos dançando no tapete. Levanto arrastando o corpo com dificuldade para fora
da cama e acendo o interruptor perto da cama. Ao virar, encontro um prato repleto de panquecas,
com chantilly e cerejas. Um sorriso escapa, e eu ando até ele, sentindo a textura fofa do tapete.
一 Oi, espero que esteja com fome. 一 É a voz grossa do Ricardo do outro lado,
ressoando no silêncio. Me arrepio.
Pego o pequeno papel escrito: “Quer conversar? Talvez não olhando nos olhos, mas por
aqui. O que acha? Pegue a caneta e o papel que chegará por debaixo da porta.” Ergo os olhos,
vendo-os passarem raspando na fresta de um centímetro. Sento no chão, encostado na porta, e
pego a caneta, respondendo: “Oi, tio. Por que evitou me olhar hoje mais cedo?” Envio a
mensagem, estico o braço para puxar o prato para o meu colo. Passo o indicador no chantilly e
levo à boca, sentindo o sabor doce suave. Sua respiração é ruidosa; posso ouvir daqui, assim
como o som da ponta da caneta no papel.
Pego uma panqueca, dou uma mordida. Está fofa, com aroma de baunilha e deliciosa. O
papel retorna, e eu olho de canto para a mensagem: “Quer começar pela parte mais difícil? Eu te
conto se me disser por que está triste”.
CAPÍTULO 7

Sorrio da resposta do Ricardo, engulo a panqueca e limpo os dedos passando na barra do


vestido, o mesmo de cedo porque não levantei nem para o banho.
"Sabe, é um segredo... já guardou algum segredo difícil de digerir?" Envio o papel, e ele
sorri, pois consigo ouvir sua risada rasa.
"Sim, todos temos segredos, mas alguns podem ser compartilhados para conseguirmos
dormir à noite." Leio as palavras pensativa, paraliso colocando tudo no chão, e encosto o rosto
lateralmente na porta tentando ouvir sua respiração. Inspiro profundamente, com uma sensação
de similaridade. Recordo da sua tatuagem de caveira, das de corvos, e sinto uma conexão
mística, uma atração fatal que experimentamos quando nossos dois oceanos azuis se encontram.
Talvez ele me compreenda. Talvez a regeneração esteja em estar com ele, sob seu olhar,
compartilhando segredos. Parece meio louco, dado que não faz nem um mês desde que nos
vimos pela primeira vez.
Pego o papel novamente e escrevo em letras miúdas, querendo que caiba tudo nos 10 cm:
“Na noite do acidente, bem, estou triste porque não consigo perdoar a Caroline. Tentei evitar que
aquilo acontecesse, mas não consegui, e agora a vejo sempre que fecho os olhos. Ela está me
chamando, dizendo que deveria estar morta.” Envio de volta. Segundos depois, vem sua
resposta: “O perdão acontecerá quando estiver pronta. Foi assim que perdoei minha mãe e meu
pai por me culparem por seus erros.”
Analiso a pilha de panquecas, o chantilly um pouco derretido escorrendo na lateral delas,
e escrevo sem ponderar as palavras: “Não quero que evite o meu olhar novamente, porque ele faz
algo se agitar dentro de mim, algo que nunca experimentei antes, e eu gosto da sensação.” Envio.
Ele pega o papel, pois escuto-o rebater no chão. Espero, mas nada acontece, nem um som, nem
uma respiração mais profunda, apenas o silêncio, até que finalmente aparece na fresta: “Não
consegui mais te olhar porque meus pensamentos eram impuros. Talvez seja melhor continuar
longe de mim”.
Pisco lentamente, sentindo meu rosto esquentar com as palavras. Pego a caneta
rapidamente e respondo: “Não quero ficar longe de você...”. Envio, com o coração palpitando no
peito, imaginando o que ele dirá. Alcanço a panqueca, pego uma, melando a ponta no chantilly
antes de enfiar na boca. Termino-a toda, mas a resposta ainda não veio. Encosto novamente o
rosto na madeira e não há nada, nem um som. Levanto confusa, pego o prato e coloco na cama.
Retorno até a porta, envolvendo a maçaneta com a mão e giro. O corredor está vazio. Vou até o
centro, vasculhando com o olhar de um lado a outro, mas não há nada aqui, apenas o papel no
chão. Ele realmente estava aqui? Ou eu sonhei com isso? Frustrada, capturo o papel entre os
dedos, releio o que escrevi “Não quero ficar longe de você…”, amasso-o e entro novamente para
pegar a toalha e tomar um banho.

O céu está clareando, o alaranjado esparramado junto as nuvens acinzentadas. Enfio o pé


direito no tênis, terminando de me arrumar. Preciso espairecer, e caminhar será bom. Elevo os
braços acima da cabeça, esticando todo corpo em um alongamento que dura 15 minutos.
Saio do quarto com pouca visibilidade e desço as escadas, aproximando-me da porta,
destranco-a e saio para a área externa, caminhando em direção ao grande bosque que margeia a
casa. A calçada de lajotas larga e contínua alonga-se entre as árvores de troncos retos e lisos,
ramificadas em coloração clara e manchada, algumas com raízes agressivas. O gramado ao redor
está repleto de folhas escuras, que contrastam com algumas pequenas flores brancas e melíferas.
Elevo o rosto vendo alguns ramos e folhagens se encontrando e entrelaçando-se mesmo
distintas. Enfio o celular no suporte encaixando na cintura. Caminho na sombra, as copas fartas e
altas fazendo os primeiros raios de sol incidirem irregularmente em meu rosto. O vento
sussurrando nas folhas movimentam os meus cabelos, o cheiro de musgo exalando das cascas
úmidas no chão. Inspiro profundamente, a tensão da noite mal dormida esvaindo gradativamente.
Dormi tanto durante o dia que parte da noite passei pensando no meu tio, o que pareceu estranho
no início, mas depois me fez sorrir ao lembrar das nossas mensagens trocadas na porta.
Continuo o caminho, fechando brevemente os olhos, adorando a sensação do vento
tocando minha pele, o cheiro de terra e das flores. É como se levasse minha mente novamente ao
passado na casa da minha mãe. Sinto saudades dos finais de semana que viajávamos para a praia,
do cheiro do mar vindo da maresia e de estar imersa na água salgada. Das ondas beijando o meu
corpo e de querer mergulhar naquele imenso oceano para um mundo paralelo.
A caminhada dura quase uma hora, e quando olho ao redor, percebo que estou em uma
área densa, fechada pela mata. Giro 360 graus, sorrindo pela minha falta de atenção em ter ido
tão longe. As pernas estão suadas, a musculatura repuxando na parte distal da panturrilha, e
decido retornar. Durante o caminho até aqui, vi algumas casas, mas agora não há nada além de
verde. Continuo no mesmo ritmo, com a temperatura mais quente e o sol mais alto, bufando
cansada em alguns momentos.
Assim que chego na frente de casa, o celular toca. Confiro o visor e é uma ligação da
mamãe. Desde que cheguei, não entrou em contato. Pode ser que estivesse ocupada, mas talvez
estivesse aproveitando a liberdade, sem uma filha para vigiar, porque, no fundo, estava cansada
de lidar comigo.
Fico em uma confusão mista, pensativa se devo ou não atender, mas aceito colocando no
viva-voz. Meu rosto está suado e os cabelos desgrenhados pelo vento, o que acabaria sujando o
aparelho.
一 Oi mãe.
一 Filha me desculpe, queria ter ligado antes.
一 Mas não ligou. 一 Falo por cima dela.
一 É, sinto muito. Como você está? Como se sente morando aí? Seu pai está te dando
suporte?
Sua pergunta me leva ao passado, quando era criança e meus pais estavam casados. Meu
estômago revira porque não foi uma época boa, exceto pelo fato de que estávamos juntos. Eles se
conheceram durante a faculdade. Minha mãe engravidou um tempo depois, e eles decidiram
trocar alianças. O casamento durou 8 anos, marcados por brigas e poucos momentos felizes.
Nunca foram compatíveis; meu pai já estava no exército, e cada patente que subia exigia mais
dele. Com o tempo, a ausência por conta do serviço militar aumentou, as missões que às vezes o
deixava meses longe acabaram pesando no convívio, até que decidiram se separar. Hoje consigo
ver que ele está feliz. Mesmo com toda a distância, sempre foi um pai presente. Ligava todos os
dias, me visitava uma vez por mês, e eu nunca me senti de fato distante dele. No entanto, me
sentia quase sempre distante da minha mãe.
Ela não queria ter filhos, e acho que, no fundo, não estava preparada. Tudo piorou muito
nos últimos 3 anos. Ela arrumou um namorado idiota, ele era grosseiro e queria me controlar.
Nos desentendemos, o que a fez confessar em uma discussão que sempre atrapalhei sua vida,
impedindo-a de viver. Ela era uma garota que gostava de beber, ir a shows de rock, e não que eu
não goste, eu amo, mas não era culpa minha se engravidou cedo. Por que alguns pais descontam
nos filhos os seus erros? Mesmo não querendo, penso no Ricardo, em como deve ter sido
doloroso ser um filho bastardo, rejeitado, e entendo sua escolha de ficar longe de mim. Demorou
tanto para ter a família que sonhou e só estragaríamos tudo.
一 Chiara, está ouvindo? Está tudo bem?
一 Estou bem, papai é sossegado, e o Ricardo é um cara legal.
一 Seu pai é muito ciumento, então evite levar namoradinhos para casa. 一 Reviro os
olhos enquanto atravesso a porta entrando na sala.
Papai e o Ricardo encaram o celular ouvindo a última frase que ela disse, estão sentados,
bebendo whisky. Confiro o relógio de pulso que marca 9h. Aceno com o indicador movendo os
lábios sem voz “é muito cedo para beber”. Os dois sorriem.
一 Não se esqueça de usar sempre camisinha, os homens podem carregar muitas
doenças. 一 Papai encara o aparelho, franze a testa, ela precisava dizer isso? Embora ela nem
ligue, falaria facilmente isso na frente de qualquer pessoa, ela é assim.
一 Aí Jesus, mãe é sério isso? 一 Sento no sofá, suando em todas as partes do corpo.
Os dois sorriem conforme mamãe continua falando.
一 Você lembra aquela vez que beijou o Calton, seu pai quase pegou um avião só para
bater nele. 一 Meu pai ergue a sobrancelha negando com a cabeça, fingindo ser mentira, mas
quase fez isso sim, eu lembro. 一 Seu pai é o próprio capeta quando está com ciúmes, ainda me
lembro do dia que me viu beijando o Antônio, mas eu juro que ele que me agarrou.
Papai move toda face torcendo os lábios, bravo e mostra o dedo do meio para o telefone,
enquanto Ricardo gargalha, e me seguro para não fazer o mesmo.
一 Seu tio Ricardo é um gatinho, não vá aproveitar demais. 一 Meu rosto esquenta,
sobressalto tirando o telefone rapidamente do viva voz.
一 Tá bom, mulher rock and roll, chega, preciso tomar um banho, te ligo depois, tchau!
一 Antes que responda desligo.
一 Sua mãe é sem limites, por isso que sempre quis que morasse comigo. Olha as coisas
que ela te fala. 一 Ele está chateado, negando com a cabeça e sinto culpa pelas coisas que venho
sentido em relação ao meu tio, corro o olhar até o Ricardo, que está com o copo de whisky na
boca, pensativo, encarando a parede, não duvido que se sente péssimo, assim como eu, e tento
amenizar.
一 A parte da camisinha ela está certa, preciso evitar doenças.
一 Você precisa é não pensar nisso agora, você é muito nova para namorar, Chiara.
一 Pai, tenho 19 anos, uma hora você terá que aceitar que eu cresci.
一 É difícil, ainda penso que deveria ter trazido você para morar comigo quando saí de
lá.
一 Não dá para voltar no passado, mas agora estou aqui! 一 Papai levanta, puxa-me em
um abraço longo, afetuoso.
Ricardo finalmente me olha, e sinto tanta culpa por querê-lo, mas sei que não consigo
mudar ou frear os sentimentos; sou fraca. Se não fosse o desprezo dele, talvez estaria arrependida
agora. Embora não consiga achar totalmente errado, ele nunca foi meu tio de verdade, não
convivemos juntos, não houve amor familiar, e não é como se isso despertasse só porque ele
possui esse título.
一 Pai, e se eu dissesse que encontrei alguém? 一 Ricardo estava desviando o olhar,
mas retorna. Ele é tão lindo, a claridade vinda da janela iluminando parcialmente seu rosto,
deixando os olhos em um tom azul cintilante.
一 O quê? Você conheceu alguém? Onde? Quase não saiu ainda, nem foi ao escritório
para conhecer alguém. Não vai me dizer que é algum dos vizinhos? Me diz quem é o cara que
precisarei matar e esconder o corpo? 一 Sopro uma risada longa, acho que será difícil namorar
morando com ele, e sinto que preciso de alguém para matar os sentimentos proibidos em meu
coração.
Ricardo está isento de medo, com uma expressão confiante, como se não se importasse se
eu falasse o seu nome. Mas não faria isso, embora só essa possibilidade esteja fazendo meu
coração palpitar como o de uma adolescente boba. Só quero provocar o papai, e acho que
consegui.
一 Estou brincando pai, ainda não tem ninguém, mas vá se acostumando com a ideia.
一 Aviso saindo de seus braços, andando em direção à escada.
一 Era só o que faltava. 一 Retruca. 一 A festa do seu tio começa daqui a pouco, é um
almoço, se troque.
一 Posso usar a piscina, mesmo com eles aqui? Posso usar biquíni? 一 Ricardo trava a
mandíbula, eleva o tronco, os dedos perdendo a cor com o aperto mais forte no corpo, e sacode a
cabeça levemente discordando, se afogando com as palavras que não pode dizer.
Ele está com ciúmes porque usarei biquíni?
一 Não vejo problema. 一 Diz meu pai olhando no celular, viro de costas, e por algum
motivo insano quero sorrir.

Droga, deveria ter trazido mais roupas ou ido ao shopping!


Termino de passar hidratante na minha pele após o banho, em seguida borrifo o perfume
e paro nua em frente ao guarda-roupa confusa sobre qual das minhas únicas 20 peças de roupa
deveria usar. Pego o biquíni enquanto minha mente pensa, escolho um cortininha vermelho, para
combinar com meus cabelos, e a calcinha dele é fio dental, o que deixará minha bunda bonita.
Visto-o. Puxo um dos vestidos da prateleira e coloco por cima. É tomara que caia preto, grudado
ao corpo, curto, deixando minhas pernas quase toda à mostra.
Penteio meus cabelos longos e faço alguns cachos nas pontas para dar volume. Passo um
corretivo leve nas olheiras e, para finalizar, um batom vermelho sangue que combinará com o
meu salto também vermelho. Meu reflexo me agrada, principalmente porque quero estar linda.
Fui insensível ontem e nem comprei nada de presente para o Ricardo. Talvez tenha sido imatura,
mas sentir que ele quer evitar estar perto de mim ou me olhar me machucou. Não deveria,
entendo seu ponto de vista, mas ainda assim doeu mais do que imaginei.
O que poderia dar a ele? Meus olhos seguem direto para o quadro ainda no canto da
parede rente ao chão, dentro da sacola. Uma lembrança de quando seu corpo encostou a primeira
vez no meu. Vou até ele, pego, analiso a pintura abstrata preta encaixada em uma moldura
entalhada, toda prateada. É isso, e daí que ele pagou com o próprio dinheiro? Há algo simbólico
aqui, pelo menos para mim. Levo-o comigo quando saio do quarto, daqui do corredor posso
ouvir algumas vozes no andar de baixo, aproveito para lentamente entrar no quarto dele.
Sou golpeada pelo cheiro intenso, masculino, e sinto uma necessidade inconsciente de
fechar os olhos e inalar bem fundo. E faço. A sensação é crescente e deliciosa, prendendo-me em
um transe lancinante. Desperto junto ao interfone; mais alguém chegou, e rapidamente sigo até a
mesa de cabeceira depositando o quadro. Vejo sobre a superfície lustrosa o post-it e escrevo uma
mensagem: “Parabéns, olhe esse quadro, o que te faz lembrar? Apenas feche os olhos que se
torna real.” Colo no vidro sorrindo. A cama está bagunçada, os lençóis revirados, e tateio
puxando-os até o meu nariz. Cheiro. Todos os meus pelos se arrepiam; é sexy, ardiloso e faz meu
estômago torcer. Devolvo, mas se pudesse, deitaria e rolaria em seu perfume como um animal
faz na grama verde enquanto toma sol.
Desço as escadas caminhando para a sala e encontro o papai recebendo algumas pessoas.
Todos seguimos para a área externa, ao lado da piscina. Ele rapidamente me chama para me
apresentar para um homem, e abro um sorriso.
一 Essa é minha filha, Chiara.
Ele é alto, de idade avançada, os cabelos castanhos jogados para trás com fios grisalhos, e
usa camisa e calça social.
一 Oi Chiara é um prazer conhecê-la, sou o Ferdinando.
一 O prazer é meu.
一 Sua filha é muito linda Rico, estou apaixonado! 一 Brinca, provocando-o.
一 Nem pense em paquerar minha filha, sou um pai ciumento!
Algumas mulheres novas, logo à frente, me olham sorrindo, aceno. No canto esquerdo
tem vários homens gargalhando e bebendo whisky.
一 Todas elas trabalham no banco, filha. A loira é a Manu, a de estatura baixa e cabelos
curtos pretos é a Téa, e a de cabelos longos é a Moira. Os homens são o Felipe, Bernard, Harry,
Josh, Adam e Paul.
一 Vou cumprimentá-las. 一 Sigo até elas, me apresento, e faço isso nos próximos
cinco minutos com todos que encontro.
Cumprimento ao menos 30 pessoas; mais da metade são homens, alguns casados, outros
solteiros. As mulheres são novas e bonitas. Quando chego no último, sou surpreendida por um
rosto jovem e atraente. Ele tem cabelos castanhos claros bagunçados, pele clara, olhos verdes, é
alto, forte e está usando roupa esportiva de marca. Seus olhos curvados grandes se fixam nos
meus e ele sorri, esticando o braço para apertar minha mão.
一 Prazer, você deve ser a Chiara, os cabelos alaranjados e olhos azuis te entregaram.
一 Sorrimos e aceito sua mão, apertando-a.
一 Prazer, a genética da família é forte, né? Qual o seu nome?
一 Juliano Cárron, filho de um associado do seu pai, trabalho no banco também.
一 Isso é ótimo, deve ser bom trabalhar lá. 一 Solto incerta, não sei o que dizer, são
muitas pessoas e isso me sufoca um pouco.
一 O pessoal se dá super bem, é agradável.
Afasto-me sorrindo, procurando uma cadeira livre e sento. Procuro o Ricardo e o vejo
separando as bebidas enquanto um homem faz os hambúrgueres. Não consigo tirar meus olhos
dele, como se minha própria mente o caçasse, e isso é torturante porque tudo que queria era um
pouco de sua atenção. Não só do olhar, mas da sua raiva, dos seus desejos, e é embaraçoso
suplicar por isso. Alguém entra em minha frente, tampando minha visão. Estou tão focada em
olhá-lo que desvio a cabeça, tentando não o perder de vista.
一 Opa, estou atrapalhando você a ver algo?
CAPÍTULO 8

Minha mente volta a consciência e olho para a pessoa parada me impedindo de continuar
vigiando o meu tio, é o tal Juliano, que se levantou para chegar mais perto.
一 Não, estava apenas distraída.
一 Posso me sentar ao seu lado?
一 Claro. 一 Meus instintos me traem, meus olhos procuram o Ricardo de novo, que
retribui como um ímã, conferindo em seguida quem está ao meu lado.
一 Você chegou faz tempo na cidade? 一 Suspiro e foco em Juliano, preciso parar de
ser controlada pelos meus sentimentos.
一 Acho que tem uns 20 dias.
一 Ah, e qual sua idade?
一 Tenho 19 e você?
一 Tenho 28. Precisa conhecer alguns restaurantes, fora os pontos turísticos que são
incríveis. Se permitir, posso te levar para jantar qualquer dia dessa semana.
Ele sorri, abro a boca para respondê-lo, porém a voz grossa do Ricardo responde por
mim.
一 Rico não gostará de saber que o filho de um dos seus sócios está querendo levar a
filha para jantar, pode parecer um encontro, então, esqueça isso. 一 Fico abismada com as
palavras, que nem consigo responder para pedir que pare.
Meu pai ou ele não irá gostar? Isso é específico.
Juliano arregala os olhos.
一 Imagina, Ric, jamais daria em cima da filha do Rico.
一 Acho bom mesmo! 一 Juliano abre um sorriso amplo, negando com a cabeça.
一 Um tio e um pai ciumento, você tem dois cães de guarda na sua cola.
Dou risada, tentando disfarçar a raiva que corrói meu peito. Ricardo não tem o direito de
falar por mim. Engulo a frustração e me levanto, desorientada, precisando de ar fresco, indo do
balcão repleto de hambúrgueres acabados de assar para o freezer. Pego uma bebida, tento abri-la
sem sucesso, e então Ricardo se aproxima, pega a garrafa da minha mão, remove a tampa da
cerveja e me devolve. Seu rosto se inclina para perto do meu, como se fosse sussurrar algo.
一 Chiara, esses caras não valem a pena. 一 Pisco lento, inspirando profundamente.
Eu sei o que ele está tentando fazer, está enciumado e gosto disso, mas quero tanto
provocá-lo, porque mesmo que pareça fofo seus cuidados, ele não pode me privar de me
aproximar de outro homem, quando foi ele mesmo quem disse que estou carente.
Mordo o lábio inferior mirando seus olhos, ele oscila com o gesto. Encosto o bico da
garrafa em meus lábios inclinando sutilmente enquanto deixo um pouco escorrer no canto da
boca seguindo direto para o centro do meu decote. Levo o indicador até lá, ele contrai a
mandíbula em desaprovação, enquanto limpo retornando até a boca, chupando o dedo em
seguida. Juliano está observando de longe e sorri discretamente porque gostou do que viu.
Uma mulher para na nossa frente, não havia reparado nela, mas é bonita, os cabelos
castanhos longos com mechas loiras, pele clara, vestido colado ao corpo e um sorriso sensual.
一 Oi Ricardo, parabéns. 一 Ela puxa-o para um abraço, as mãos dele se encaixam ao
redor de sua cintura.
Eu não deveria sentir essa fúria palpitando em minha pele porque nunca teremos nada
além de um desejo proibido que não será saciado.
一 Obrigado, Eleonora. Essa é a Chiara. 一 Ele aponta para mim, e sem interesse ela
apenas sorri, mas retorna à atenção nele, puxando assunto.
Afasto-me e caminho até o papai, que está conversando com vários dos seus amigos.
一 Pai, aqui está tão quente. 一 Abano com a mão o meu rosto. 一 Posso entrar na
piscina? Não estou acostumada com esse clima nessa época do ano.
一 Entra filha, assim encoraja quem mais estiver a fim de nadar.
Sorrio, e sensualmente dou um passo à frente em direção à enorme espreguiçadeira.
Retiro os saltos pisando no chão quente, o sol forte em minha pele. Todos os homens ficam
atentos em mim. Levo as mãos à cintura, tocando meu corpo, descendo até a barra do vestido,
puxo-o para cima, deixando meu quadril exposto. Tiro toda peça, e procuro por ele, que está
distraído, em compensação os olhares de todos são meus, menos o que eu mais queria.
Arrumo a alça da calcinha e neste instante seu olhar me encontra. Os olhos aumentam de
tamanho, girando a cabeça para verificar quem está me admirando. Meu coração acelera, mas
foco na piscina. Levo os pés a água, está gelada. Sorrio dando um salto para trás, como se
sentisse um forte choque, os homens também sorriem do meu jeito, quase enfeitiçados, exceto o
Ricardo, ele nem respira. Pulo na água, mergulhando.
Chiara, sem dúvida, é a garota mais linda que já vi. O corpo perfeito, o jeito delicado de
mover as mãos ao retirar o vestido do corpo, foi sensual. Eu e todos os outros funcionários não
conseguimos tirar os olhos dela. Estou perto da porta da sala e apoio o braço na parede,
procurando uma posição confortável para assisti-la. Os cabelos ruivos e as sardas me deixam
totalmente enfeitiçado.
一 A filha do chefe é uma gata. 一 Diz um deles.
一 No entanto, jamais ficaria com nenhum de nós. 一 Exclama outro.
Talvez com eles não, mas quando ela me olhou ao se apresentar, senti que ficou
interessada, havia a mesma intensidade no flerte das outras mulheres que fico no banco, mas com
algo mais, afinal, ela é a protegida. Rico é conhecido por ser um homem acessível, está sempre
de bom humor, mas quando perguntavam sobre sua filha se fechava.
一 Com vocês não, mas comigo será diferente. 一 Um deles torce o nariz e faz um
gesto com as mãos no ar incrédulo.
Não é segredo que me envolvo com todas as mulheres solteiras. Há algum tempo, até tive
problemas por me envolver com uma comprometida, mas por sorte, não passou de sexo e não
deu em nada. Chiara mergulha novamente. Aproximo-me do balcão e pego uma cerveja. Rico
está do outro lado encarando a filha, com o semblante furioso, mas é inevitável não olhar.
Alexander, da recepção, encosta ao meu lado gesticulando com a sobrancelha para a
piscina.
一 Gostosa demais!
一 Quer fazer uma aposta? Pegarei ela, será fácil demais.
一 Para, Juliano, ela é diferente.
一 Não é diferente, ela deseja a mesma coisa que todas as meninas da idade dela, um
cara que dê tudo.
Ela não será difícil para mim, todas me querem.
一 O chefe irá te demitir. 一 Brinca.
一 É só uma boceta nova, mais uma para minha lista. Ele não me demitirá se ela for
minha namorada.
— Ih, namorada? Está vendo, até você sabe que não poderia simplesmente pegar por
pegar a filha do chefe. 一 Ele acerta meu ombro sorrindo. 一 Você é terrível, mas eu aposto
100.
一 Fechado, quando comê-la, vocês ficarão sabendo. 一 Inclino o rosto e me assusto
porque nem notei quem estava ao meu redor, e o Ricardo está me encarando.
Merda! Tomara que não tenha ouvido nada.
Não ouço nada além do som das minhas mãos se movendo. Contorno toda piscina, o sol
refletindo ao fundo, ofuscando meus olhos abertos enquanto prendo por mais tempo a respiração,
nadando mais, gostando de estar presa aqui, sem qualquer pessoa ou dúvida. Quando não
consigo mais ficar sem ar retorno a superfície. Ricardo está na borda, esperando, sentado na
espreguiçadeira com uma cerveja na mão. Espalmo o chão quente e pego impulso saindo da
piscina.
Meu corpo arrepia com o vento e o olhar dele recai nos meus seios, os mamilos duros, em
relevo no tecido, e preocupado olha as pessoas, acho que avaliando se estão olhando minha
bunda porque estou de costas. Ignoro-o girando o corpo, deixando que todos vejam a parte da
frente, não há nada errado nisso. A atenção é unânime, até mesmo as mulheres estão olhando, e
não acho que seja algo bom o comentário que fazem sobre mim, em sussurros. Não ligo. Papai
coça o queixo e se aproxima, cada passo torce um pouco a boca, irritado.
一 Chiara, porra, com tanto biquíni, poderia não ter escolhido um minúsculo.
一 Esse é o tipo que toda garota da minha idade usa. Qual o problema?
一 Se você abaixar, todos poderão ver o seu útero, simples assim.
一 Uso o que eu quiser e se seus amigos gostam do que vê, significa que você é ótimo
em fazer filhos. 一 Papai inclina a cabeça, range os dentes, mas desvio de seu corpo e sigo em
direção ao freezer.
Ricardo levanta, como um cachorro vindo atrás, mas escuto-os trocando algumas
palavras.
一 Rico, vai deixar todos olharem para ela? Que porra!
一 O que eu faço? Ela não vai me obedecer, ela é a minha versão, mas um pouco pior e
com hormônios. 一 Sorrio discretamente.
一 Merda!
Chego na área coberta, pego uma cerveja e um pão encaixando um hambúrguer dentro.
Desde cedo que saí para caminhar não comi nada. Não preciso conferir, mas sinto os olhares em
mim, na minha bunda, nos meus seios, nas pernas e principalmente quando uma das mulheres
desdenha torcendo o nariz. Pressiono a mão na tampa da garrafa girando-a para abri-la e não
consigo. Caramba. Juliano aparece, abre a mão pedindo para me ajudar, entrego a ele que em
segundos destampa.
一 Obrigada, estou com muita sede. 一 Engulo o líquido e só paro quando não sobra
nenhuma gota.
一 Acho que todos de repente ficamos com muita sede também. 一 Seguro o lanche nas
mãos, mas de soslaio percebo ele dando um passo, aproximando-se mais, querendo um contato
maior, e nervosa me afasto dando um passo para trás, mas trombo em algo.
Inclino o rosto, é o Ricardo, tampando qualquer visão da minha bunda, igual uma
sombra, ele estica o braço oferecendo um roupão de banho.
一 Coloque no corpo. 一 Arqueio a sobrancelha. 一 Agora, Chiara, ou prefere que eu
acabe com a festa por sua culpa? 一 Sua fala me entristece pois ele não diminuiu o tom,
simplesmente cuspiu na frente de algumas pessoas, como se a minha atitude fosse ridícula e por
segundos é assim que me sinto, uma boba ridícula implorando por seu olhar e atenção.
Pego-o colocando no corpo, reprimo o nó em minha garganta, e a vontade de chorar.
Juliano se dispersa conversando com as outras pessoas que voltam a sorrir e a beber. Papai
estava longe, não deve ter ouvido, assim espero. Aproveito a distração de todos, exceto o
Ricardo, seu olhar furioso não me abandona, largo tudo sobre a mesa e saio nervosa, com o
estômago embrulhado. Entro na sala correndo para a escada, subo atropelando os passos,
querendo não sentir mais essa estupidez. Como fui estúpida.
As mãos grandes do Ricardo inesperadamente me seguram.
一 Chiara, desculpe, me excedi. Está tudo bem?
一 Não, não está! Primeiro você responde por mim, depois me trata com arrogância na
frente de todos, como se eu fosse uma criança birrenta.
一 Você é, mas que caralho, está com um biquíni minúsculo de propósito, só porque
queria que todos te olhassem. 一 Eu queria que ele me olhasse, só ele, mas não posso confessar
isso.
一 Todos amaram me olhar, até mesmo o Juliano.
一 Ele está dando em cima de você, por isso respondi que não sairão juntos.
一 E daí?
一 Não o deixarei pensar que pode se aproveitar de você!
一 E por que exatamente você acha que ele quer algo comigo? Ele não deixou isso claro.
一 Mas aposto que pensou!
一 Você não sabe o que ele pensou… 一 Ele se aproxima, sinto meu coração bater
mais forte, quase doendo, a uma batida de sair pela boca e cair em minhas mãos.
一 Não importa, eu sei o que se passa na cabeça de um homem. 一 O rosto a
centímetros do meu, a veia em seu pescoço pulsando.
Os lábios tão perto, eu queria agarrá-lo, queria sentir novamente aquela explosão de
sensações que quase me fez suplicar por um beijo dias atrás. Minhas mãos suam, as pernas
formigam, desejando que me toque, mesmo que seja com raiva, eu não ligo.
一 O que se passa na sua cabeça de homem? 一 Ele sorri de lado, as pupilas se
dilatando concentradas em mim.
一 Não queira saber o que se passa na minha cabeça agora. 一 Seus olhos descem até os
meus lábios por segundos e sobem novamente.
Meu coração quase falhando, e eu quero puxá-lo para um beijo, mas luto contra meus
instintos, me proibindo de fazer isso. Essa é a sua família, meu pai é a sua casa e eu nunca
passarei de uma sobrinha nova, que em pouco tempo será esquecida.
Ele impulsiona a cabeça vindo em direção à minha e antes que me beije, eu corro. Não
posso permitir que isso aconteça, jamais! Entro no quarto e tranco a porta. Meu tórax subindo e
descendo desenfreado, suplicante por ar. Ouço as batidas do meu coração ecoando em meus
tímpanos, e acho que podem ser ouvidas a distância. Sento no chão, atrás da porta com o desejo
me corroendo e assumindo cada parte do meu corpo, é insistente e começa a se fundir em minhas
entranhas.
Desço minha mão direita em minha perna até a calcinha. Preciso me acalmar, preciso
matar esse desejo louco e insano. Rastejo os dedos entrando no tecido, minha pele está quente,
mesmo molhada da água gelada. Toco em meu clitóris gemendo, imaginando ser os dedos dele,
grandes, ásperos, e movimento-o em círculos contornando o meu botão. Meu peito se enche de
satisfação, ondas de prazer refletindo em meu corpo que esquenta mais enquanto abro as pernas,
com total acesso.
Introduzo dois dedos em mim, sem aprofundar muito, retirando em seguida, espalhando
minha umidade por toda minha boceta. Estou tão molhada, ah, Deus, como eu queria senti-lo.
Calafrios sobem pelas minhas pernas, o coração acelerado, e potencializo o toque, voltando ao
clitóris, esfregando-o, sentindo-o resvalar, correr entre meus dedos, criando espasmos em minhas
coxas. Fico de joelhos e movo o quadril, um atrito explosivo, em um ritmo intenso. Idealizando-
o aqui, excitado, e é na sua mão que estou me esfregando enquanto assiste meus lábios gemendo,
meu corpo todo tremendo e encharcando seus dedos com meus fluidos.
一 Isso, você gosta assim? Quer que eu continue, Chiara? Quer ser fodida por mim?
一 Sim, eu quero, titio, eu quero… é tão gostoso.
O prazer me domina, fecho os olhos, movo freneticamente o meu corpo todo, em um
frenesi incontrolável e gozo, melando todos os dedos, ofegante, gemendo baixo, mas com
vontade de gritar. Isso foi tão bom.
Recupero o fôlego e arrumo minha calcinha, mas estou tão molhada que pego alguns
lenços umedecidos na bolsa e me limpo. Escuto uma batida na porta.
一 Quem é?
一 Sou eu, Ricardo. 一 A vergonha me atinge, não posso olhá-lo agora, acabei de me
tocar pensando nele.
Isso é errado e me sinto doente por sentir tesão.
一 Vai embora! Quero ficar sozinha, achei que já estava lá embaixo.
一 Fui até metade do caminho e voltei, não quero que fique aqui, triste. Por favor, me
desculpe, eu preciso te ver.
Meu coração quer que eu abra, mas minha razão diz que não. Coloco a mão na maçaneta,
suando, com a sensação do prazer ainda batendo em meu íntimo, mas não quero ficar assim, com
a estranheza entre nós, igual dias atrás, porque machuca vê-lo distante. Inspiro profundamente,
destranco e abro. Ele entra devagar me encarando fixamente, e fecha a porta fazendo meu
coração acelerar.
一 Sinto muito, eu fui um babaca lá fora, você pode me desculpar? 一 A fisionomia
carregada de súplica, as sobrancelhas curvadas, os lábios tensos, em uma linha única.
一 Tudo bem, desculpo você. 一 Desvio o olhar para o trinco da porta retornando a ele
em seguida.
Quero expulsá-lo, mas não consigo. Ricardo fica parado, o olhar penetrando
profundamente no meu, despindo minha alma e as minhas palavras porque as deixo sair.
一 Eu não posso sentir isso… 一 confesso sussurrando.
一 Sentir o quê?
一 O que estou sentindo desde que te reencontrei dentro dessa casa, e não diga que estou
carente, porque eu só sinto isso com você. 一 Suspiramos ao mesmo tempo.
O semblante de surpresa demonstra que, no fundo, tinha dúvidas do que eu estava
sentindo, e agora eu que tenho dúvidas do que ele sente.
CAPÍTULO 9

Chiara acaba de me confessar que sente algo por mim, e fode com a minha sanidade ter
essa certeza. Antes era abstrato, uma faísca aqui, um desejo mesmo que insistente ainda
indefinido, mas ela sente algo desde o primeiro dia e isso não mudou, nem para mim, nem para
ela. Olho-a surpreso, acho que desejava que só eu sentisse algo para evitar problemas, porque
estava tentando me convencer de que ela estava carente, talvez ainda esteja, mas o que fez hoje
me deixou desnorteado, porque sei que fez aquilo desejando que eu a olhasse cada segundo mais.
No entanto, não fiquei só furioso porque todos os homens estavam desejando o seu corpo, e sim
porque queria ser o único a ter os seus sentimentos e a poder tocá-la. Ouvir o Juliano apostando
com os caras, como se ela fosse uma garota qualquer que chegou só para enfeitar a cama dele,
quase me tirou do sério. Ele não está só desejando-a, quer tocá-la, e não porque sente algo, mas
apenas para usá-la. Nunca me simpatizei com ele, agora, tenho raiva, porque sei de suas
intenções.
一 Por que me disse isso? 一 Questiono tenso, com meu corpo viril, louco para segurá-
la em meus braços.
一 Eu não sei, só saiu enquanto você me olhava assim como um lobo, pronto para atacar
sua presa. 一 Solto uma gargalhada alta, ela não está errada, tenho sido bem incisivo no olhar.
一 Me desculpe, não consigo evitar olhar para você.
Quero dizer que ela está fodendo com minha saúde mental, porém sou interrompido por
Rico que abre a porta e entra. Por sorte não a agarrei ou seríamos pegos no flagra.
一 O que vocês fazem aqui? Está tudo bem? 一 Fico sem reação, não sei o que falar,
mas Chiara responde.
一 Desculpa pai, eu me senti mal e o tio Ricardo veio ver se está tudo bem.
一 O que houve? O que está sentindo?
一 Sinto ânsia e uma dor no estômago… 一 Ela leva a mão à barriga e não acho que
esteja mentindo porque não vi ela comer nada desde que o almoço começou. 一 Deve ser
porque não comi nada.
一 Vamos, estava chamando-a para comer, Rico. 一 Ele concorda sacudindo a cabeça.
一 Seu tio está certo, precisa comer, você não pode ficar tantas horas com o estômago
vazio.
Rico abraça a filha e beija sua testa.
一 Filha, assim que se alimentar e a festa acabar quero conversar com você, tudo bem?
一 O rosto empalidece, as bochechas que eram vermelhas contraem enquanto responde que sim.
一 Tudo bem, pai.
Sigo para a porta e eles me acompanham voltando para a festa. Não há muito o que fazer
agora, todos se alimentaram, alguns me parabenizaram e não quiseram bolo, é apenas um
encontro para não passar em branco.
Chiara coloca novamente a roupa, sorri e conversa com algumas mulheres. Em alguns
momentos vejo um cara ou outro a admirando, mas não é como se fosse possível controlar,
talvez até gostaria de arrancar os olhos deles e nunca tive esse tipo de pensamento, mas a menina
definitivamente tem se tornado minha obsessão.
Algumas horas depois, já no fim do dia, todos se despedem. Juliano demorou tempo
demais falando com ela, sorrindo, mesmo sob o meu olhar vigilante e intimidador. Quando fecho
a porta acenando para o Ferdinando, que foi o último a sair, estou agradecendo por ter acabado,
não aguentava mais dividi-la com eles, torturava minha consciência todos ao seu redor. Não
consigo parar de repassar em minha mente as palavras que disse antes, sobre sentir algo
diferente.
Eu sei que esse desejo é somente carnal, afinal ela é gostosa, tem os lábios perfeitos, a
pele macia e uma bela bunda, mas não cometerei esse erro. É só um desejo proibido, puro sexo...
e não farei isso com a minha sobrinha, meu irmão jamais me perdoaria.
Lavo os últimos pratos, Ricardo entra trazendo um saco de lixo cheio, recolhendo o
restante da bagunça enquanto papai abre uma garrafa de cerveja.
一 O que queria falar comigo? 一 Ele puxa o banco, senta, fixa o olhar no meu
apreensivo.
一 Filha, agora que está morando aqui, pensei que de repente gostaria de trabalhar no
banco. Sabe, enquanto pensa sobre a faculdade. 一 Estudo a proposta por alguns segundos,
secando a mão no guardanapo.
一 Bom… nunca pensei em trabalhar lá, mas talvez seja legal sair um pouco daqui. 一
Ele sorri. 一 Quando posso começar?
一 Na outra semana, pode ser? Termine de arrumar seu escritório, falta o sofá? 一
concordo 一 No final de semana que vem reservei uma pousada para comemorarmos o
aniversário do Ricardo. 一 Meu tio o encara, parecendo perdido sobre isso.
一 Do que está falando? 一 Retruca e papai retira a carteira do bolso, abre e entrega um
papel a ele.
一 Feliz aniversário, irmão. 一 Ele pega o papel, lê, sorri discreto enquanto os dois se
abraçam.
一 Valeu, é tipo um final de semana na fazenda, mas com a condição de levar vocês de
brinde? 一 Questiona e escuto as palmas das mãos batendo nas costas do outro, tipo fraternal.
一 É exatamente isso, quem mais quer levar? A Amy, espera, talvez a Eleonora, ou pior,
as duas juntas? 一 Um gelo transpassa o meu peito, certo, isso foi doloroso.
Ricardo tem algo com a Amy? Ou com aquela mulher bonita do corpo perfeito? Elas são
mais velhas, talvez tenham quase 30 anos, e não são virgens. Droga, eu sabia que ele era como o
meu pai, por que pensei que fosse diferente? O olhar doce e compreensivo me enganou, encaro-
o, o rosto corado e nega com a cabeça.
一 Não viaja Rico, é óbvio que prefiro levar vocês.
Ignoro o aperto ao redor do meu coração, fingindo que saber disso não me fez mal. Não
estou triste, mas com raiva. Pego um copo de água, sem olhar para eles, e sigo em direção à
escada. Só quero dormir para esquecer o quanto agi como uma adolescente neste final de
semana. Afinal, tenho 19 anos, que porra estou pensando? Ele prefere as experientes, além de
que somos família, e de repente não quero mais que ele me olhe, não agora, não depois de saber
que ele tem seus contatos femininos para enfiar o pau após flertar comigo. Claro, não pode
enfiá-lo em mim.
一 Chiara, aonde vai? 一 Ele pergunta, engulo o nó preso na garganta fingindo não me
importar.
一 Dormir, estou cansada, boa noite para vocês dois.
Chiara sai furiosa, o comentário do Rico a deixou desconfiada. Não tenho nada com a
Amy, o fato é que ela até queria ficar comigo e considerei dar uma chance, mas o Rico tem
passado algumas noites com ela, mesmo que sem compromisso, e agora é diferente. Quem eu
quero, está bem na minha frente, subindo as escadas batendo os pés e eu não posso tê-la. Com a
Eleonora tive um lance de uma noite, mas foi há um tempo e não desejo repetir. Não quero que a
Chiara crie uma barreira entre nós, quando evitamos um ao outro o tempo parece não passar,
durmo mal e só piora tudo que sinto, tornando deprimente.
Olho para o papel conferindo as reservas e será bom passar um final de semana com eles
em um lugar diferente. Longe dessas paredes, desse sentimento que está impregnado em cada
canto, no cheiro do perfume dela que já domina até os objetos da casa, é sufocante e deveria ser
um crime querer alguém assim. É doentio.
一 O lugar é novo, tem bar, lago e várias atividades massa, será divertido. 一 Rico diz.
一 Você fez isso pensando nela, certo? Apenas usou o meu aniversário como pretexto.
一 Filho da puta. 一 Ele sorri.
一 Seu jeito de dizer que ama é diferente, pare de rodeios, ela é sua filha e não será
menos machão se chamá-la para passear ou algo do tipo. Não que eu ache ruim, irei desfrutar
também, mas você pode ser carinhoso. Não há nada errado nisso.
一 Vai se foder. Eu sou assim, não diga nada a ela. Agrado os dois com um presente só.
一 Aproximo-me dele dando um abraço fraterno.
一 Será bom, aproveitaremos muito. Valeu pelo presente.
Pego uma cerveja e subo para o quarto. Quero dormir e esquecer o quanto lidar com a
Chiara, com os meus sentimentos e com todos os convidados foi intenso demais. Paraliso na
porta olhando para o quarto dela, está tudo escuro. Inspiro frustrado, entro no meu e a primeira
coisa que meus olhos veem é o quadro na mesa de cabeceira. Sorrio.
Ando lentamente até lá, coloco a garrafinha de cerveja na superfície e seguro-o em
minhas mãos lendo o seu bilhete: “Parabéns, olhe esse quadro, o que te faz lembrar? Apenas
feche os olhos que se torna real”.
Queria não sorrir ou sentir felicidade nisso, mas é impossível. Não faço o que ela pedi
porque imaginaria nós dois, na cama, no escuro e todas as coisas proibidas que gostaria de fazer
no seu corpo. Não existiriam regras Chiara, porque seria imoral demais para mantermos o
controle.
O início da semana passou rápido, não foi ruim, mas estranho. Acordo ainda sonolenta,
os últimos três dias foram difíceis para dormir. Antes Ricardo estava me evitando, agora quem o
evita sou eu. Puxo o celular, a luz brilha indicando que a quarta-feira começou e receberei
finalmente o sofá novo que escolhi. A entrega demorou um pouco, mas agora tudo ficará como
eu queria. Confiro o horário e ainda é cedo, talvez até pegue os dois na cozinha tomando café.
Faço minha higiene, não tiro o pijama com preguiça, mas passo o meu gloss. Desço as
escadas, o aroma de café por toda casa é delicioso, não há dúvidas de que estão aqui. Entro na
cozinha, a máquina está ligada, a porta que dá para o jardim está aberta, e admiro através dos
vidros o céu amarelado da manhã, com o sol começando a nascer. A voz do meu pai me tira da
hipnose.
一 Bom dia, filha, acordou muito cedo. Está dormindo bem aqui? Sei que uma mudança
pode afetar o sono.
一 Estou sim, fique tranquilo! 一 Ergo o olhar vendo-o sem camisa, com a calça social
ainda aberta e o cinto metade transpassado ao redor.
Pego os waffles no congelador e esquento a panela para fazê-los.
一 Farei para vocês comerem. 一 Ele sorri enquanto bate as mãos nos cabelos,
respingando água por todo chão.
Escuto duas pessoas conversando e vindo do jardim. Ricardo e Amy entram pela porta,
ela está sorrindo, com a mão direita segurando o bíceps musculoso dele e quero voar nela para
arrancar os seus cabelos. Oh meu Deus, preciso parar com isso, eu e ele não temos nada.
Ricardo está de bermuda, sem camisa, e sinto tanta raiva por imaginar o que eles faziam
lá fora. Nosso olhar se encontra, desvio, não tenho conseguido sustentar, diferente de antes,
porque agora uma angústia me domina toda vez, e sinto vontade de chorar, não sei bem o porquê.
一 Bom dia, Chiara. 一 Ele diz, não respondo, apenas dou um sorriso raso.
一 Bom dia, Chiara, tudo bem? 一 Diz Amy.
一 Tudo, o que faz aqui tão cedo? Dormiu aqui? 一 Ricardo enrijece, papai pigarreia
enquanto ela fica envergonhada.
O olhar correndo no rosto dos dois, depois no corpo do meu pai e há tanta confusão agora
que estou enjoada. Isso é estranho, ela está com o meu pai, com o Ricardo ou pior, com os dois?
一 Ah, não, estou sem carro, mas moro aqui perto, seu pai ofereceu uma carona.
一 Mas são 6h da manhã, achei que só saíssem às 8h.
Amy abaixa a cabeça sem graça e meu pai fica atônito.
一 Filha, a Amy está sempre aqui.
一 Não, não está. Faz quase um mês que estou aqui e não a vi um único dia, a menos que
saia durante a madrugada para evitar ser vista. 一 Brinco sorrindo, ela arregala os olhos, papai
também e Ricardo fica mudo.
一 Chiara, eu… 一 Ela tenta dizer, mas papai finalmente fala, e pelo semblante talvez a
brincadeira não tenha sido legal.
一 A casa é minha, Chiara. 一 Meu sangue ferve com sua fala, o calor subindo em meu
pescoço. 一 Não gosto do seu tom, faz realmente quase um mês que está aqui e estou tentando
entender como você se sente e tudo que aconteceu quando estava com a sua mãe, mas não faça
isso. Eu te acolhi… 一 Interrompo-o, ele está fazendo aquilo, na pior hora, querendo uma
conversa quando não estou pronta para falar.
一 Não diga… 一 esbravejo. 一 Não venha me dizer que está me fazendo um favor e
que me chamou para morar aqui porque quer me ajudar. Minha mãe escolheu isso por mim. Qual
é o problema de vocês? Eu sou um fardo? Está com raiva porque questionei sua secretária sobre
por que ela está aqui às 6h? Não posso perguntar? Não, não posso, porque esta não é a minha
casa, certo? Não é isso que você disse. 一 Ele nega, mas sabe que disse. 一 Porque me diriam
algo, não é? É a sua casa e estou apenas passando um tempo até que finalmente sintam que não
estou deprimida e possa me virar sozinha.
一 Chiara… 一 Ele interrompe, desligo o fogo, solto tudo com uma dor pertinente
crescendo, quase como um vulcão em erupção.
一 Por que acham que estou deprimida? Ah, já sei, por que eu estava usando remédio
para dor? Por que estava enfiando aquela porcaria na minha veia para tentar esquecer como me
sentia? Mas deixe-me contar para vocês, eu estava quebrada, tentando compreender algo que não
entendia e talvez nunca entenderei, e para vocês dois, eu só precisava superar, não é? 一 Papai
leva as mãos a cabeça, nervoso, ele perdeu a paciência, percebo pelo olhar que começa a se
erguer para encontrar o meu e Amy se afasta, indo para a sala.
一 Caralho, Chiara, o que é difícil de entender? Vocês foram irresponsáveis, dirigiram
bêbados, a sua amiga morreu, faz dois anos, o que você não consegue entender?
一 Rico, pare. 一 Ricardo interfere.
一 Não, caralho. 一 Rebate para o meu tio, deixando toda frustração em lidar comigo
sair, igual mamãe quando me enviou para sua casa, mas ele está atrasado 一 Você é tão fraca
que não consegue superar o fato de que as pessoas morrem sem que se tenha controle sobre isso?
Ninguém pode salvar ninguém, Chiara. O que você poderia ter feito? 一 Meu corpo treme, as
lágrimas ardem nos olhos, porque só eu entendo o que aconteceu naquela noite.
Talvez, se não julgassem tanto a minha dor, eu conseguiria ter compartilhado com eles a
verdade. Não por obrigação, mas porque confio neles. Eu precisava de um tempo, mas eles não
deram, só cobraram.
一 Não foi um acidente. 一 Papai paralisa, as mãos no ar, em frente ao rosto, ao mesmo
tempo que o Ricardo suspira, não sei o que se passa na mente deles. 一 Aquela noite não foi um
acidente. Percebemos que não estávamos bem e esperamos a bebida estar menos forte para
voltarmos para casa. Claro que ainda estávamos alegres, tínhamos bebido pra caralho. Caroline
parecia bem, o caminho era curto, mas ela estava estranha, falando sobre a morte, sobre o quanto
estava deprimida, da última briga com os pais. Até que as palavras saíram de sua boca: "Eu não
quero mais viver, mas também não quero partir sozinha." E eu nunca consegui entender o que
leva uma pessoa a querer se matar e prejudicar outras duas que ela dizia amar. Porque se eu não
estivesse tentando segurar o volante, o Bryan e eu não estaríamos aqui, mas do outro lado.
Durante muitas noites, e ainda algumas vezes quando fecho os olhos, escuto-a me chamar
solitária, mas era apenas a minha dor. 一 O choro escapa, as lágrimas densas, meus olhos
ardendo enquanto luto para continuar falando. 一 Eu não estava deprimida porque não via
sentido na vida, mas porque não conseguia perdoá-la por ter tentado tirar a minha também. Eu
simplesmente não conseguia revelar e mudar a dor que os pais dela estavam sentindo. Como eles
ficariam sabendo que não foi um acidente? Eu me calei, mas não porque sou fraca. Na verdade,
eu me achei forte o suficiente para guardar só para mim. 一 Passo as mãos nos olhos, inspiro
pela boca oscilando, querendo diminuir essa angústia. 一 Pronto, era isso 一 Engasgo com a
voz embargada 一 Para você e para mamãe, o mais importante era saber, não era? Isso não
muda nada para mim, nem como me sinto por dentro, mas me fez bem vir morar aqui, mas acho
que está na hora de voltar para a minha verdadeira casa.
As lágrimas tornam a sair, engulo-as junto com o amargor em minha boca seca. Papai
cobre o rosto com as mãos e saio, preciso de ar, preciso tirar essa sensação de que alguém está
pressionando meu peito tão forte que dói. Subo as escadas, concentrando em respirar melhor, em
controlar a dor expansiva que me deixa tão pequena. Estava tão bom não pensar sobre isso e
focar no meu tio, no sentimento que ele faz borbulhar aqui dentro, algo como querer tudo,
carregar o mundo e não ser nada pesado.
Entro no quarto e abro o guarda-roupa, olhando para a mala no fundo, começando a sentir
aquele cheiro de mofo. Puxo a mala, a porta se abre, mantenho o rosto abaixado. Não quero lidar
com isso agora, com meu pai, com suas palavras que talvez não sejam as que eu gostaria de
ouvir, porque doerá mais. A vontade de chorar aumenta, as lágrimas continuam escorrendo no
meu rosto, salgadas, pinicando a pele. Mas algo toca minha cintura, enquanto sinto um corpo
grande me envolver, abraçando-me por trás. É ele, Ricardo. Seu cheiro, a mesma sensação
arrasadora de ser congelada viva, porque o calafrio se expande dos pés à cabeça.
一 Chiara… 一 Ricardo sopra sussurrando em meu ouvido, em uma frequência baixa
que amolece o meu corpo.
O nariz roça em minha nuca inalando o meu cheiro, depositando beijos até chegar na
lateral do meu rosto, apenas sinto, a explosão corrosiva, a chama crescente e que faz meu corpo
tremer em seus braços. Nosso encaixe é perfeito, meu quadril sentindo o seu, o peitoral largo
emanando calor.
Solto a mala deixando-a cair no chão, giro o corpo, não quero olhá-lo, o que ele causa em
mim é ilícito, e me enterro em seus braços. Afundando o rosto em seu peito, o cheiro é tão bom,
faz a dor diminuir. Finalmente respiro, mesmo as lágrimas continuando a sair, mesmo enfiando o
nariz em sua pele, e me embebedando com seu perfume natural.
一 Não deixarei você ir embora. 一 Confessa.
CAPÍTULO 10

É tão fácil fingir que não aconteceu nada enquanto estou presa no corpo dele. Há tantas
coisas querendo extravasar, palavras, gestos, sentimentos, mas reprimo junto com a angústia
porque não parece ser o momento, estou bem aqui, protegida em seus braços, recebendo em meu
tímpano esquerdo as batidas profundas e aceleradas do seu coração.
Os filamentos de pelos estão aderidos à maçã do meu rosto, e luto contra meus instintos
pulsando, pedindo que eu experimente sua pele, que o beije ali mesmo, provando seu peitoral.
Quase posso dizer que ele me tira da dor, e que o desejo faz as lágrimas evaporarem.
Papai entra no quarto, fecho os olhos, não queria vê-lo agora. Ricardo suspira pesado, e
pela tensão que domina o seu corpo não acho que queria me soltar, mas ele faz. Soluço incontida,
e em menos de um minuto papai está me abraçando, e era esse abraço que desejei receber quando
o acidente aconteceu, mas ele não estava lá. Quando chegou no Colorado, lembro que ficou
furioso, isso e tantas outras coisas me forçaram a mentir.
O olhar dos pais da Caroline, as palavras do Bryan dizendo “as pessoas terão raiva dela
por tentar fazer isso com nós dois” e não era essa lembrança que queria que tivessem, e por mais
difícil que tenha sido cumprir os serviços comunitários, ouvir os julgamentos, não me arrependo.
Ela era minha amiga e estava sofrendo, queria que tivesse pedido ajuda porque eu não hesitaria
em fazer qualquer coisa por ela.
一 Filha, me perdoe, por favor, eu fui insensível, sua mãe também. A ânsia em querer te
ver bem, em saber que superou tudo, cegou ao ponto de ignorarmos os sinais. Era mais fácil
brigar, e sabíamos que escondia um segredo, mas falhamos quando imaginamos que fosse algo
pior, porque você sempre nos entregou o melhor. Será que podemos recomeçar? Poderia ficar?
Não quero que vá embora, quero que fique, sua casa é aqui também, e é verdadeira e se quiser te
passo todo cronograma do dia, quem entra, quem sai. 一 Não seguro um sorriso, papai sempre
teve esse poder, de me fazer sorrir.
一 Eu não sei… 一 Limpo o rosto com as mãos. 一 Talvez seja melhor partir.
Ricardo está encostado na parede ao lado da porta, o semblante abatido, quase posso
dizer que está sofrendo, que me quer por perto. Ele realmente não me deixaria ir embora? A voz
alta e grave dele ecoa no quarto.
一 Você ficará aqui, certo? Porque posso muito bem não comprar sua passagem, roubar
os cartões do seu pai, e dizer para a Suzanne que está dando trabalho e precisa ficar mais tempo
aqui, até entrar na linha. 一 Não seguro o sorriso, que vem automático.
Adoraria entrar na linha com ele, droga.
一 Claro que ficará. 一 Papai responde.
一 Sim, eu ficarei.
Sinto uma pontada de medo em imaginar que a Chiara poderia partir. Ela acha que tenho
algo com a Amy e me encontrar com ela aqui a decepcionou. Ela ficou furiosa, dominada pelo
ciúmes e por isso questionou, mas como eu diria na frente deles que não tem nada entre nós,
soaria estranho e ficaria nítido que estamos sentindo atração. Ouvir sua confissão sobre o
acidente, a dor que estava sentindo fez meu peito rasgar em aflição porque queria segurá-la,
beijá-la, e dizer que estou aqui, que faria qualquer coisa para não a ver triste.
Rico pegou pesado, a machucou com palavras e quase soquei a cara dele, mas precisavam
disso, da verdade, e agora tudo está finalmente esclarecido. As lágrimas rolam em seu rosto,
entre soluços, as pálpebras inchadas, e só queria transferir sua dor para mim e aliviar seu
sofrimento. Tento não a desejar, mas é incontrolável, porque depois de ontem esse sentimento
está se espalhando como uma doença contagiosa.
一 Pai, obrigada por pedir desculpa, isso significa muito para mim. 一 Agradece o
abraçando.
一 Te amo, filha, você é tudo que importa!
Confiro meu relógio e estamos atrasados.
一 Rico, precisamos ir. Vou me trocar 一 Chiara morde o lábio inferior ao se afastar
dele, com o olhar preso ao meu.
一 Tio Ricardo, obrigada pelo abraço.
一 De nada. 一 Respondo nervoso saindo em seguida.
Há tantas coisas que queria dizer a ela, mas não agora, talvez a noite, escondido, no
escuro. Me puno por querer isso, mas hoje quase a perdi e algo adormecido está pulsando aqui
no meu peito, trazendo sensações proibidas.
Afrouxo a gravata recostando na cadeira de couro. Fecho brevemente os olhos e a
primeira imagem é a da Chiara no aeroporto, depois ela na loja escolhendo a tinta, em seguida,
como um borrão, vejo-a na piscina de biquíni, saindo aquela manhã da água, o corpo nu por
baixo do tecido branco transparente. Fico excitado e me toco por cima da calça. Imaginá-la tem
sido complicado porque me desarma, me faz querer quebrar as regras e nunca fui esse tipo de
cara.
Cada minuto que convivemos, que nos encontramos nos corredores, ela rouba uma parte
do meu coração. Cada olhar, e foram tantos, ela passou a dominar os meus pensamentos. E,
nossos toques, mesmo que mínimos, tem me deixado obcecado em vigiá-la enquanto encarcero
meus sentimentos e o desejo louco de fodê-la bem fundo, na parte inacessível da minha alma.
Pego meus pertences, espero cinco minutos para que meu corpo esfrie, e então me
levanto, analisando o céu que escurece, percebendo que sairemos mais tarde do que o esperado.
Saio da sala, me despedindo dos funcionários que estão saindo, e encontro Rico ao lado da Amy
no elevador.
一 Acho que pegarei algo para o jantar. O que acha? 一 Diz ele.
一 Não precisa, consigo fazer qualquer coisa.
Amy suspira parecendo cansada e no fim nem falamos sobre o que aconteceu hoje de
manhã.
一 Amy, a Chiara só estava confusa e não quis te ofender. 一 Aviso, ela sorri.
一 Eu sei, não se preocupe, realmente cheguei cedo demais, e se vocês dois são
ciumentos com ela, com certeza imaginei que ela também seria com vocês. 一 Rico sorri,
movendo a mão no ar.
一 Ela é difícil, tem um gênio forte, mas tem o maior coração do mundo.
一 Sim, mas por favor, me deixe em casa, Rico, novas visitas só no próximo mês. 一
Gargalhamos e os dois seguem para o carro do Rico.
一 Até amanhã. 一 Entro no meu, ligo e vou para casa, louco para vê-la e descobrir se
está melhor.
Atravesso a porta, um cheiro aromático de temperos me golpeia. Algo com alho tostado e
cebolas caramelizadas. É bom. Deixo a carteira e a chave do carro no aparador ao lado da porta e
sigo até a cozinha.
Chiara está debruçada sobre a mesa e a bunda arrebitada. Está usando um short curto, e
parte da popa da bunda está exposta. Inspiro, ao mesmo tempo que um calafrio surge, é o efeito
que essa garota tem tido sobre mim. Desconfiada inclina o rosto de lado conferindo quem é, e
sorri ao me ver. Ela poderia apenas levantar, mas não, a diaba deixa os braços escorregarem para
frente, encaixando o abdômen na mesa, com a bunda mais alta.
一 Oi, titio. 一 Levo a mão a nuca com o pensamento mais podre pairando sobre minha
cabeça. Estamos a sós. Só eu e ela.
一 Cadê o meu pai?
一 Foi deixar a Amy na casa dela. 一 Sem pudor Chiara empurra o celular derrubando-
o da mesa.
O aparelho cai ao seu lado, rente ao pé direito.
一 Tio, poderia pegar para mim?
É claro que está fazendo isso, quer me deixar com a cara quase enterrada em sua bunda.
Por que é tão safada? Ah é, estava me esquecendo de quem é o pai dela.
一 Pegue você. 一 Ela sorri, pensa por alguns segundos antes de falar.
一 Estou ocupada aqui, sabe? Terminando a torta de frango para vocês dois ficarem
fortes. 一 Franzo a testa indo mais para o lado e sim, a infeliz está passando a gema sobre a
massa antes de levar ao forno.
Foquei tanto em seu corpo que não reparei em qualquer outra coisa. Culpado, me
aproximo, abaixo para pegar o telefone e seu quadril projeta-se para trás, vindo ao encontro do
meu rosto, sabia que ela me provocaria.
São segundos de uma sensação filha da puta quando a mordo, bem na dobra da bunda,
sentindo a maciez da pele em meus dentes e o seu cheiro doce de hidratante recém passado.
一 Ai! 一 Ela sorri enfiando de vez a bunda em minha cara, e seguro o seu quadril
tentando me equilibrar, mas caio puxando-a comigo para o chão.
Seu corpo cai por cima do meu, de costas, e fico excitado quando se mexe.
一 Na próxima vez que fizer isso, morderei mais forte. 一 Aviso, ela sorri, mas não
levanta, apenas fica em meu colo, fazendo um calor novo subir em minhas pernas.
Apoio o meu peitoral em suas costas, seu perfume penetrando em minhas narinas,
roubando meus sentidos, porque roço meu rosto em sua nuca por entre os fios de seus cabelos
ainda úmidos do banho. Fecho os olhos, ela coloca as mãos sobre as minhas e as envolve em sua
cintura, abraço-a.
一 Você cheira a cereja… 一 Confesso, não resistindo em beijar seu ombro direito.
Ela arrepia, mexe o quadril esfregando-se no meu pau e deixa o corpo amolecer e se
desmanchar nos meus braços. Aperto-a, e sinto, todas as porras estranhas que jamais estiveram
aqui no meu peito.
O contato pele a pele propaga um calor entre nossos corpos. Levo a mão direita a sua
cintura acariciando-a, a textura macia e aveludada entre os meus dedos é estimulante. Meu
coração acelera, os nervos vibrando, endurecendo todo meu corpo e principalmente o meu pau,
eu a quero.
Respiro contra o seu ouvido, ela geme, e pela primeira vez na vida eu tremo por alguém,
e não ligo se é minha sobrinha, porque eu quero desesperadamente estar dentro dela.
Levanto-a junto comigo, em meu colo, os olhos se erguem encontrando os meus
enquanto a coloco de pé. Chiara pisca fracamente, a pele amarelada pela luz com aspecto ceroso,
o suor do nervosismo sob o lábio superior e os olhos azuis faiscando enquanto a respiração
intensifica, certa de que irei além, de que quero devorá-la com um beijo. Não a pretextos que me
impeça, nem censura, o que nos envolve é algo maligno, selvagem, aquele tipo de sensação
sombria, que deveria trazer medo, mas faz o oposto, corrompe.
As emoções eclodem, avanço sobre ela como se carregasse um caminhão nas costas,
segurando seu rosto com força, a boca entreabre soprando uma respiração ruidosa, o corpo
trêmulo, e transito o olhar por todos os seus detalhes, admirando sua beleza, ela parece uma
pintura de tão perfeita. A pele de porcelana, macia como um pêssego, o aroma amendoado fresco
do hálito invadindo meu olfato, e a maçã do rosto angulosa, repleta de sardas e agora quente e
corada.
一 Titio… 一 Sussurra, fecho os olhos inclinando lateralmente a cabeça, sentindo
prazer nessa palavra e não pelo peso que ela tem, mas pela voz límpida e meiga que excita meu
corpo todo.
一 Não me chame assim… 一 suplico, ela molha os lábios, enquanto o supercílio
esquerdo se curva em um ar de afronta.
一 Por que não? 一 Com violência puxo sua cintura fina, agarro seus cabelos
debruçando-a na mesa com a bunda elevada e me esfrego nela.
Chiara murmura, o rosto de lado, aderido na madeira.
一 Um tio não pode fazer isso… 一 Agarro o cós do short enrolando o tecido na palma
da mão oposta, puxo-o para baixo e sua bunda fica exposta, está sem calcinha, é claro que está,
acerto um tapa, ela salta de susto. 一 Tio pode te bater assim? 一 Ela movimenta a cabeça
dizendo que sim. 一 E isso aqui… pode fazer? 一 Levo os dedos até as suas coxas indo para a
parte interna, está quente, meu pau lateja quando chega em sua virilha. Droga. Sem controle toco
em sua boceta, um frenesi louco faz uma onda de tesão correr desenfreada porque estou a ponto
de cometer uma loucura. 一 E isso, pode fazer? 一 Os olhos dela se fecham, sentindo meus
dedos percorrerem seu tamanho, arfo, ela está tão molhada que fraquejo, sigo os dedos até o
botão pequeno, circulo com intensidade e travo a mandíbula. É lisa, simétrica, do tamanho certo
e aposto que apertada pra caralho. 一 Responde… 一 Ordeno apertando os fios de seus
cabelos nos dedos, ela geme querendo mais.
一 Não, um tio não faz isso… te chamarei de Ricardo, meu Ric. 一 Meu peito palpita,
engulo em seco.
Afasto os dedos que a tocavam e trago ao nariz, ansioso por sentir seu cheiro íntimo e
inalo profundamente, é doce, lascivo, e meus testículos contraem e o meu pau ereto marca a
calça. Faço força para conter meus instintos e falho, porque ansioso a solto e abro minha calça
descendo o zíper. Chiara não se move, apenas suspira, o olhar incisivo de lado preso ao meu,
suplicante.
Um barulho de chave me faz recuar, a porta da frente bate, Chiara sobressalta puxando o
short e afobado fecho a calça, xingando e agradecendo. Um misto entre o certo e o errado. É o
Rico, e demora apenas alguns segundos até que entre na cozinha. Ela está pincelando novamente
a torta enquanto vou até a geladeira tomar algo para molhar minha boca seca de nervosismo.
Quase perdi o controle. Cacete!
CAPÍTULO 11

Tento equilibrar o pincel culinário nos dedos, mas minhas mãos trêmulas quase o faz cair.
A palpitação em meu peito dói, porque meu coração está a um palmo de sair pela boca. Ricardo
fez todos os meus músculos tensionarem enquanto contrações dolorosas acontecem no meu
íntimo. Estávamos a um passo de cometer uma loucura, e eu não iria pará-lo. Eu queria.
Segundos atrás até esqueci que sou virgem e que ele é meu tio. Se não fosse o papai chegar
agora, teríamos quebrado as regras da moralidade.
一 O cheiro está ótimo. O que está fazendo aí, filha? 一 Forço um sorriso raso.
一 Torta de frango, colocarei para assar. 一 Pego a forma quase derrubando-a, mas
inspiro profundamente seguindo até o forno.
Ricardo de esguelha nota que preciso de ajuda e abre as portinhas de vidro. Minha
garganta seca porque olhar suas mãos faz calafrios correrem em minha espinha. Os dedos
grandes, tocando minha boceta suavemente, de cima a baixo, circulando meu clitóris, a sensação
foi deliciosa e delirante.
一 Obrigada, ti.. er… Ricardo. 一 Os lábios se curvam em um aparente sorriso.
一 Preciso de um banho, daqui a pouco desço para o jantar. 一 Ele avisa e papai segue
atrás.
一 Eu também. 一 Os dois sobem as escadas e volto a respirar, estava presa em um
sufocamento.
O que aconteceria se papai não tivesse chegado? Ele teria tido coragem de transar
comigo? Acho que sim. A calça já estava aberta, e quase vi o seu tamanho, e droga, eu queria ter
visto.
Cubro o rosto com as mãos recuperando o ritmo normal de respiração, ainda estou
afobada, e parecia que eu ia morrer. Talvez por isso as pessoas fazem sexo o tempo todo, porque
é explosivo e viciante sentir isso. Não pode acontecer, mas se acontecesse jamais confessaria que
sou virgem, ele gosta das experientes e me rejeitaria.
Os talheres batem nos pratos, os dois sorrindo falando dos clientes e o jantar termina.
Elogiaram na primeira garfada e gosto de como prestam atenção em tudo que faço, talvez seja
combinado para me verem sorrindo, mas ainda assim me deixa animada. Ricardo não me olhou,
nem uma vez, e nem posso achar ruim porque fiz o mesmo. Coloco a louça na lavadora e em
seguida me despeço subindo para o quarto.
Pego o roupão de banho e entro no banheiro. Meus pensamentos estão em outro lugar, no
meu tio. Sei que isso não é saudável, mas novamente ele está aqui, se apropriando de tudo,
consumindo meus sentidos. Entro no chuveiro deixando a água gelada cair em minha nuca na
esperança de conter esse fogo que cresce e queima a razão.
Levo os dedos ao clitóris, seguindo o caminho e os movimentos que os dele fizeram, mas
xingo baixo. Caramba, não farei isso novamente, pare agora mesmo Chiara. Afasto a mão e
afogo o desejo dentro de mim. Termino meu banho, coloco o roupão e volto para o quarto. Visto
a calcinha e um cropped, deitando-me na cama.
Encaro o teto, não tenho sono, em contrapartida algo ardiloso fervilha em meu âmago,
pior que afogar no oceano, e consigo notar a diferença porque aconteceu uma vez quando era
criança e o que sinto por ele não chega nem perto, é corrosivo. Fecho os olhos revivendo o
momento que me lançou de bruços na mesa, do pau esfregando-se em minha bunda, dos dedos.
Quero gritar, levo as mãos aos cabelos apertando os fios, é horrível não ter controle disso, do que
ele faz dentro de mim.
Minha mente não desliga, eu vejo seus olhos, o sorriso, o corpo musculoso, e o cheiro
fixado em minha memória, como se estivesse aqui, ao meu lado. Encolho-me no cobertor,
fugindo da minha própria desilusão. Quero o Ricardo e isso prejudica a racionalidade, mas um
lampejo de insanidade aumenta minha fome imoral. E, se fizesse uma proposta a ele. Algo
perverso, eu sei, mas ninguém precisaria saber, só nós dois, seria nosso segredo. Eu preciso dele,
com a mesma dependência que sentia quando me drogava. Meu tio é meu novo vício, minha
podridão imoral.
Poderíamos transformar essa atração em algo particular, sem beijo, sem penetração,
apenas os toques. Talvez jamais aceite, e nem eu mesma se não estivesse me sentindo no fundo
do poço. Eu não respiro sem que esteja vendo o seu rosto em minha mente. Somos
codependentes, com ele perco a sanidade e recupero, porque é controverso a esse ponto.
Inexplicável. Somos indecifráveis, porque em alguns momentos queremos nos afastar e no
seguinte nos permitir.
Ignoro a dúvida e fecho os olhos forçando o sono a surgir. Não vem, mas fixo a atenção
nas árvores lá fora, na luz da lua e no som das folhas balançando com o vento até os meus olhos
pesarem e adormeço. Reviro algumas vezes na cama, acordo novamente e torno a dormir em
seguida, mas o ciclo se mantém até que me sento. Puxo os cobertores para o lado, bufo baixo
chateada, eu só queria dormir e nem isso consigo mais, porque ele não me deixa. Rastejo até a
beirada, coloco os pés no tapete e levanto. Confiro o relógio de pulso sobre a mesinha e marca
quase três horas.
Certo, vou tomar um copo de água.
Aquela bunda, a sensação de ardência que correu em minha palma ao acertá-la mais cedo.
O cheiro daquela boceta, diferente de todas que comi, apesar de poucas. Não costumo dormir
com qualquer mulher, diferente do meu irmão, sou seletivo, e nem é porque prefiro a mais bonita
ou qualquer superficialidade estúpida e machista. Eu tinha um trauma, parece ridículo para um
homem admitir isso, mas é a verdade.
A expulsão da família Mandolini foi dolorosa, mamãe até tentou evitar que eu
desconfiasse mudando de Nova York para o Canadá, mas eu sempre fui esperto, sabia a porra
que estava acontecendo.
Fiquei com raiva do meu pai, ele foi safado ao trair a esposa. E me transformei no oposto
do que ele era, justamente por ver o quanto minha mãe sofreu se sentindo uma amante qualquer.
Sou certinho, calmo, e só tive uma namorada na adolescência que durou poucos meses. Dormi
com algumas mulheres, mas nenhuma fez meu coração bater tão forte como o que sinto quando
estou diante dela, da minha sobrinha. Eu não sou um cafajeste, nem um aventureiro como o Rico,
eu sou carinhoso, fiel, e a Chiara é o maior erro que poderia cometer porque irá contra os meus
princípios, contra tudo que venho tentando ser desde que aprendi sobre o mundo.
E não é só a porra doentia dela ser minha sobrinha, mas a imoralidade de saber que se
dormir com ela a farei minha mulher, independente do que acredito ser o certo. Não posso
magoar meu irmão, nem o meu pai que agora se tornou um homem melhor, e principalmente a
mim mesmo. Estou decidido, Chiara não irá mudar meus pensamentos e não deixarei esse
sentimento quebrar as regras que criei. Ela é gostosa, o sorriso é perfeito, a voz mais doce e
sedutora que já ouvi, mas é apenas o meu corpo querendo violentamente chegar ao orgasmo.
Coloco a mão no meu pau duro na cueca, basta pensar nela e meu corpo vibra. Estou a
madrugada toda tentando dormir, mas a tentação, esse tesão, essa atração que me puxa e me
conecta a ela precisa ser contida.
Às vezes me pergunto, e se ficássemos? Isso acabaria com esse desejo insano que está
arrebatando todo meu equilíbrio? Claro que não. É o meu pau falando. Tento manter minha
mente lúcida e racional, mas não consigo desligar, é como uma luz sem interruptor. O latejar
constante nos testículos, preciso me aliviar, mas só tenho feito isso pensando nela. E mesmo
lutando contra, não nego que queria estar me afundando em sua boceta, segurando seu corpo em
meus braços.
Queria agarrar sua cintura fina e esbelta, e devorar seus lábios carnudos e rosados. Puta
que pariu, era só o que me faltava, não dormir mais. Furioso com meus próprios instintos, me
levanto. Preciso de água para tentar conter essa labareda que só aumenta. E, definitivamente,
apagarei esse sentimento intenso, impetuoso que está alcançando grandes proporções.
Saio no corredor, está totalmente escuro e desço as escadas até o primeiro andar. Chego
na cozinha, a luz do lustre está acesa, e paraliso ao atravessar a porta. Lá está Chiara só de
cropped e calcinha. Está abaixada com a bunda para o alto pegando algo na parte baixa da
geladeira. Eu poderia avisar que estou aqui, mas não faço. Admiro-a. O corpo se move como se
dançasse uma música, mas está silencioso. As mãos mexem em algum plástico retirando uma
maçã verde, mas é em sua bunda que meu olhar se fixa.
É redondinha e perfeita. A calcinha fio dental está enfiada em sua abertura, me
permitindo ter um vislumbre da sua boceta gostosa. Porra! É imoral, e é imensurável a dor que
começa a comprimir o meu peito, o tesão que ela desencadeia tensionando todos os meus
músculos.
Chiara levanta lentamente sem saber que está sendo vigiada pelos meus olhos famintos.
Aproximo da ilha depositando minhas mãos em cima, ela nem percebe e continua concentrada.
Pega com cuidado a garrafa de água e se vira para colocar na bancada, mas tem um espasmo de
susto ao me ver.
一 Puta merda, que susto do caralho!
一 Olha a boca, menina. 一 Sorrimos.
一 O que faz aqui, veio beber água também ou apenas me vigiar? 一 Provoca nenhum
pouco tímida em estar apenas de calcinha.
Chiara deve ter dormido com tantos garotos idiotas e nem deveria me preocupar com
isso. Em teoria, o que fez no passado pouco importa, mas fomenta um ciúme em meu peito,
como se ela fosse minha desde sempre. O que é ridículo.
一 Vim beber água, mas te vigiar foi um bônus, ainda mais com a visão privilegiada que
tive dali. 一 Aponto para a entrada do corredor que dá acesso à cozinha.
一 Achei que estava sozinha aqui, mas você gostou do que viu? 一 Suas palavras
provocam um zunido em meus tímpanos, como se um vento frio atravessasse minha alma.
Estamos nós dois, e o desejo louco quase se evadindo através do meu descontrole. O
rosto dela ganha cor ao admirar meu peitoral, igual uma pequena cereja que adoraria comer.
一 É claro que gostei, mas precisava ver melhor, mais de perto, de repente poderia tocar.
一 Chiara morde o lábio inferior, desço o olhar em seus seios, o bico apontando no tecido fino.
一 Quer ver mais? 一 sussurra e me arrepio todo.
Cacete, cadê a porra do homem que minutos atrás jurou matar esse sentimento? Não
existe, perto dela eu não penso, só sinto.
Ricardo tem tanta fome no olhar que quase posso ver nossos corpos em posições
proibidas através de suas pupilas. Não ligo se me viu de bunda para cima. Perguntar se ele quer
ver mais foi cuspido sem pensar, a mandíbula contrai, os olhos azuis intensos quase brilham e os
músculos do abdômen flexionam.
一 Eu quero ver mais, poderia experimentar, passar a língua. 一 Estremeço com sua
safadeza. Droga, estou fora de controle.
Salivo. Meus batimentos aceleram, e aperto a maçã em minha mão. Corro o olhar para a
sua cueca, o pau duro, reprimo o espanto com o tamanho, é colossal. Aquilo me destruiria por
dentro. Queria correr, evitar o erro, mas de repente estamos presos em uma cápsula impenetrável
e não há censura aqui, só a depravação violenta.
Puta merda, estamos excitados, acho que poderíamos resolver nosso problema sem
dormimos juntos.
Aquele acordo que idealizei em minha mente poderia matar esse desejo até que pare de
existir. Talvez seja minha mente insana me pregando uma peça, mas sem pensar duas vezes, até
porque se tem algo que não estou fazendo é pensar, apenas agindo. Largo tudo na bancada e sigo
até o outro lado da ilha e ficamos frente a frente. O pomo de adão desce e sobe deglutindo com a
boca seca.
Está nervoso.
一 E se você me tocasse, bem aqui… 一 Os meus dedos tocam em minha boceta por
cima da calcinha, Ricardo ofega. 一 Está quente e estou tão molhada só por te ver assim, duro.
一 Ele fecha os olhos, o tórax expandindo-se de excitação.
一 Chiara… 一 Encara-me.
一 Shiu, escuta. 一 Silencio sua voz com o indicador, colocando-o em seus lábios. 一
E se toda noite você pudesse me tocar? No escuro? Sem que ninguém saiba. Algo nosso, que
jamais poderia ser revelado. Seria o… 一 A voz grossa sussurrada completando minha fala.
一 Seria o nosso segredo ilícito.
CAPÍTULO 12

Meu corpo pulsa em cada palavra absurda que sai dos lábios da Chiara. Sua proposta
provoca tantos sentimentos, o cômodo parece reduzido porque estou encurralado. Quase vejo
uma porta e atrás dela toda merda, como corações quebrados e dor, mas aqui olhando seus olhos
eu só quero invadir sem pedir licença porque ela é como o oxigênio e de repente preciso senti-la
para sobreviver. Suas mãos delicadas e macias capturam as minhas depositando nas laterais de
sua cintura, e aperto a região com o emocional abalado.
一 Você poderia me tocar quantas vezes quisesse, poderia passar a língua no meu corpo
todo. 一 Minha respiração aprofunda, com algumas dores surgindo em meu peito, e é a porra do
meu instinto querendo devorá-la. 一 Eu poderia, Ric… 一 A voz suaviza, e aproxima o rosto
do meu 一 Tocar em você assim. 一 As mãos sobem nos meus braços apertando os músculos
seguindo até os meus ombros descendo em seguida no meu peitoral e abdômen.
Não respiro mais, sou incapaz, porque meu corpo está queimando ao seu toque. A mão
direita continua o caminho na região distal até chegar na cueca e enfiar os dedos por dentro. Meu
pênis cresce mais e fica rígido quando ela toca na glande. Oscilo.
一 Resolverei o seu pequeno problema aqui, posso fazer você gozar gostoso. 一 Perco
todos os pensamentos, só consigo focar nos seus lábios cheios se movendo ao falar e nos
mamilos inchados no tecido fino. 一 Não precisamos fazer penetração, só nos tocar, assim. 一
Provoca e retira a mão da cueca fazendo meu corpo amolecer, e eu preciso que ela continue.
Ela dá palmadas na bancada, me indicando para sentar.
一 Senta aqui! Agora. 一 Ordena baixo e firme, meu corpo obedece sem qualquer
resquício de dúvida, isso parece tão certo.
Sento na bancada quase em colapso, transpirando enquanto arrepios frios ascendem em
meu estômago. Estou fodido!
Chiara coloca a mão direita em cima da cueca com carícias sexuais. Contorna o tamanho
passando a palma da mão por toda extensão e eu poderia gozar agora mesmo, são tantos dias
reprimindo o desejo, mas iria parecer um adolescente que viu pela primeira vez uma mulher na
vida. O toque para na cabecinha e o polegar estimula o prazer com pequenos círculos suaves
enquanto nos olhamos intensamente e estou a ponto de deixá-la fazer o que quiser comigo.
Chiara encosta a boca no meu ouvido soprando uma respiração quente e fecho os olhos.
Impulsivo seguro o seu rosto aproximando nossas bocas. Quero tanto beijá-la, porém ela se
afasta rapidamente em um misto de desejo e tristeza no olhar.
一 Não podemos nos beijar, você sabe que muitas pessoas se apaixonam pelo beijo? Essa
é uma das condições do nosso acordo, sem penetração, sem beijo, eu afogarei esse prazer que
sinto em suas mãos e você afoga dentro da minha boca, despejando seu líquido aqui. 一 Morde
o lábio inferior.
一 Eu não posso acreditar que você está propondo que façamos sexo oral e nada mais.
一 A mão solta o meu pênis e ela fica de costas, enrijeço, não quero que vá, agarro sua cintura
colando nossos corpos, sua bunda gostosa roça no meu pau.
一 Essa é a condição, mas posso simplesmente voltar para o meu quarto e me tocar
sozinha. 一 Minhas mãos deslizam em sua barriga e aperto seu corpo no meu.
Porra, só de tocá-la assim, sentir seu calor e ser chupado por ela acho que me sentirei
satisfeito. Espalmo sua boceta, a calcinha úmida e quente, não preciso de mais nada. É insano
acreditar que direi isso, eu sou doente por aceitar.
一 Eu aceito. 一 Passo minha boca em seu ouvido, mordendo o lóbulo de sua orelha,
Chiara murmura esfregando-se manhosamente.
一 Quero tanto sentir sua língua…. 一 Arfo.
一 Quando as luzes apagarem, deixe a porta destrancada para brincarmos na escuridão,
eu e você! 一 A pele dela arrepia com meus sussurros.
一 No escuro, enquanto estiver me tocando posso te chamar de titio? 一 Provoca e
mordo seu pescoço, ela geme.
一 Pode, mas só enquanto te fodo com minha língua e com meus dedos. Talvez eu até te
bata por isso.
一 Eu gosto de apanhar, talvez até deixe em uma dessas noites você enfiar o seu pau em
mim.
一 E na sua bundinha? Me deixará fodê-la também? 一 Esfrego seu clitóris, o tecido
umedecendo mais, ela está gostando das minhas palavras sujas.
一 Sim… 一 Sorrimos e a coloco de frente para mim.
Puxo-a grudando seu corpo ao meu, ela fecha os olhos, entregando-se aos meus toques
que percorrem suas costas parando em sua bunda, aperto e esfrego sua boceta no meu pau.
Chiara beija o meu rosto.
一 Você é muito safado, e eu gosto disso. 一 Levo a mão direita aos seus cabelos
puxando-os para trás com força, expondo seu pescoço.
一 Você também é uma safada! 一 Ela pisca lento, quase perverso e deposito um beijo
rápido em sua pele.
一 Diz o que você quer fazer comigo? 一 Louco de tesão com essa pergunta, não
modero as palavras, solto seus cabelos e seu rosto vem ao encontro do meu para ouvir bem de
perto.
一 Eu queria te foder gostoso agora, bem aqui na cozinha. 一 Ela morde meu queixo
enquanto nossos corpos vibram em um confronto quente, esfregando-se um no outro. 一 Quero
te comer de todas as formas, mas eu me contento em te tocar e fazer você ficar louca com os
meus dedos.
Chiara enfia a mão dentro da minha cueca tirando o meu pênis para fora e meu coração
palpita no peito ansioso para sentir sua boca envolta dele.
一 Quero bater meu pau nessa sua carinha linda.
一 Assim? 一 Ela abaixa enfiando o rosto no meio das minhas pernas.
Os olhos presos conferindo o tamanho e não sei o que está pensando, mas pela respiração
ruidosa, talvez ache que a machucaria, mas faríamos com jeitinho, sei que sou grande.
A mão direita segura na base, e arqueia a sobrancelha enquanto um sorriso ardiloso
aparece em sua boca. Com golpes leves bate o meu pau na maçã do rosto, mas as pupilas se
dilatam, está sedenta e muda o ritmo, aumentando os golpes, alternando entre beijos, e fico
ofegante enquanto sua pele ganha cor a cada batida mais forte.
Ela é safada igual a mim, e isso ativa meu predador interior. Meu corpo endurece quando
ela para e o segura firmemente deslizando a língua por toda glande robusta. Sibilo, a boca se abre
sugando, desencadeando uma aflição que nunca senti antes. Faço força para não enfiar em sua
garganta ou jogá-la sobre a mesa abrindo suas pernas para comê-la.
Chiara chupa, mas é algo fora do comum porque a cada segundo a fome aumenta e ela
faz com gosto. Alguns gemidos escapam atiçando meus nervos, e sinto o meu pau bater em sua
garganta. Tranco a respiração em uma luta escabrosa com meu íntimo porque estou louco para
gozar. Minha lubrificação brilhante escapa, a mão pequena mantém gradativamente os gestos,
me masturbando, alternando com a língua molhada, que me lambe gostoso.
一 Nossa, seu pau é tão grande, queria engoli-lo todo, mas não cabe aqui. 一 Diz
abocanhando, os lábios macios roçando na pele sensível, em uma fricção corrosiva, engolindo
centímetros por centímetros.
一 Que boca gostosa, puta que pariu. 一 Sopro ofegante.
Ela passa uma única lambida por todo o comprimento, indo da glande até a base.
Continua sugando de leve a pele chegando até os testículos onde com certa dúvida intensifica a
sucção. Uma leve pontada de dor me atinge, mas gosto da sensação porque faz tudo latejar, e
agarro seus cabelos pressionando sua cabeça para que continue porque eu gostei pra caralho.
Chiara pega o ritmo, a mão me masturbando, a boca chupando no ponto certo. Nunca senti essa
tentação antes, quero gozar e lambuzar todo seu rosto delicado, mas ainda pretendo beijar o seu
corpo enquanto nos tocamos no escuro.
Afasto-a de mim, e sua fisionomia muda. Não irei rejeitá-la como deve estar pensando, só
quero nós dois na cama macia. Agarro sua mandíbula trazendo seu rosto ao meu. Beijo o canto
de sua boca enquanto fecha os olhos.
一 Continuaremos no quarto, na sua cama, e você ficará bem quietinha enquanto te
experimento devagar. Promete ser uma boa menina?
一 Prometo, tio Ric. 一 Levanto, pego-a em meu colo.
Chiara envolve as pernas ao redor da minha cintura e encosta a cabeça no meu peitoral.
Apago a luz do lustre, subo as escadas na penumbra, meus pés descalços nem fazem barulho e
ando mais devagar ao passar pela porta do Rico para que não escute nada. Atravesso a porta do
seu quarto, coloco-a no chão e fecho bem devagar. A única claridade é as luzes dos postes
amareladas e da lua pálida. Ficamos de frente, estagnados em uma conexão visual intensa, seu
rosto está bem visível.
Não existe razão que nos impeça porque a barreira da moralidade foi rompida. Louco de
tesão abaixo minha cueca e ela desesperada arranca o cropped e a calcinha do corpo. É perfeita,
deliciosa, e olhá-la traz tesão. Avanço sobre ela envolvendo-a em meus braços. A estatura é
mais baixa e nosso encaixe é perfeito. Sua pele macia, quente, presa na minha é infame. Quero
tocar todas as suas partes. Pego-a com um braço e jogo na cama deitando por cima do seu corpo.
Apoio meu peso no cotovelo e antes de beijá-la admiro suas curvas. Chiara fica ofegante, o
peitoral em um subir e descer intenso enquanto assisto os seios seguirem o mesmo ritmo.
Os mamilos grandes rosados durinhos visíveis graças a luz se infiltrando por entre as
folhas da árvore. Abaixo o rosto e envolvo meus lábios chupando-o, é quente, macio e raspa em
minha língua com tanta sutileza que salivo. Ela arqueia as costas com a sensação, gemendo
baixinho, e a mão direita se enfia em meus cabelos apertando os fios. Saio de um direto para o
outro, sugando com euforia, com a mão envolvo um deles e aperto gostoso. Ele preenche toda a
palma, e fazer isso só me deixa mais eufórico. O sabor de sua pele é adocicado, mordo ao redor
dos seios, a textura é aveludada impossível parar e aproveito para beijá-la. Subo minha boca até
seu pescoço, chupando e torno a descer lambendo até sua barriga. A respiração acelera conforme
desço mais, chegando em sua virilha.
一 Ah Meu Deus, isso é tão gostoso… Ric, não para. 一 Sussurra apertando as pernas
uma na outra excitada.
Sorrio da sua aflição e só quero deixá-la pior, implorando por mim. Encaixo-me no meio
de suas coxas, abrindo as pernas. O olhar não me deixa, a boca entreaberta procurando por ar, sei
que está sentindo o mesmo que eu, um sentimento indecifrável, forte, e que não nos deixa parar.
Minha atenção desce para sua boceta, aberta para mim, é deliciosa, nem pequena demais,
nem grande demais, é natural, lisa, sem pelos, simétrica, a vulva avermelhada e toda molhada.
Inspiro profundamente controlando meu pau, que pulsa loucamente ansiando penetrá-la, mas
apenas o seguro encostando a glande em seu clitóris, ela abre os braços, espalma o colchão, puxa
o lençol entre os dedos fechando os punhos.
Inicio os movimentos, projetando meu quadril, esfregando a cabeça do meu pênis em seu
botão macio. Que sensação sombria e prazerosa. É proibido fazermos isso, nós dois, e torna-se
pior porque é gostoso ao ponto do meu pré-gozo escapar e se misturar com a sua lubrificação, e
condenso em meu peito a pressão do desejo.
Ele quer mais, muito mais, quer senti-la por dentro, mas reprimo. Apalpo suas coxas
conhecendo seu corpo todo, Chiara quer gemer, o pescoço e o rosto enrubescido, mas apenas me
olha intensamente mordendo a própria boca e continuo tocando, subindo em sua cintura,
apertando seus seios enquanto meu pau mantém o ritmo. É tão gostosa, cacete, por que tinha que
ser tão gostosa? Esfrego nossas extremidades, e poderia fazê-la gozar com meus dedos, mas
farei com minha boca.
Torturo mais um poucos seus sentidos, mas estou ansioso para experimentar o seu sabor.
Encaixo-me no seu corpo aproximando o rosto da sua boceta. Beijo suas coxas, chupo a pele
com força deixando marcas, ela treme enquanto continuo até sua virilha. As pernas suadas
querendo se fechar pelo prazer, mas piora quando beijo seu clitóris porque ela fica mais molhada
instantaneamente, passo a língua sentindo seu gosto se desmanchar na boca. É o melhor. Puta
que pariu. Abocanho distribuindo meus lábios em seu tamanho todo enquanto enfio a língua em
sua entrada.
As mãos agarram meus cabelos puxando-os, está desesperada e não paro, sugo-a com
gosto igual fez com o meu pau e quero que sinta a mesma explosão que senti.
一 Não pare por favor… isso é incrível. 一 Sussurra e parece receosa.
Afasto levemente o rosto para olhá-la, a Chiara atrevida e safada sorri, tocando nos
próprios mamilos, me enchendo de tesão.
Continuo a chupá-la, faço movimentos lentos e graduais com a língua, acariciando toda
sua boceta, e esfrego os lábios alternando entre esfregadas suaves e intensas. Ela choraminga, as
coxas em espasmos ao redor do meu rosto, está extremamente excitada, quente, o clitóris
sensível e inchado ganhando uma coloração avermelhada enquanto as mãos querem me impedir
de continuar. Sinto que está no limite, a pele vibrando na palma das minhas mãos que seguram
seu quadril. Ela se movimenta em um misto de prazer, quer mais e, ao mesmo tempo, quase
fecha as pernas pela euforia.
一 Ah, eu vou gozar… 一 confessa e mantenho o ritmo das chupadas.
Assisto seu sofrimento enquanto continuo esfregando os lábios em seu botão, os mamilos
estão inchados enquanto seus fluidos escapam tornando a boceta úmida e gostosa. Chiara não
contém os gemidos baixos e se contorce, as mãos apertam com rigor os próprios seios,
estimulando os mamilos e move o quadril contra o meu rosto esfregando-se em minha boca.
一 Isso, ah, isso é gostoso… 一 O corpo está trêmulo e a excitação atinge o auge
porque goza em minha língua.
Deleito-me com cada gota, é insano porque não quero parar de chupá-la e fico cinco
minutos provocando, sentindo seu tremor enquanto amolece no colchão sem forças.
Desesperada, ela puxa os meus braços e deito-me por cima dela, encaixando meu quadril no
meio de suas pernas, meu pau em contato com sua entrada faz um calor subir das pernas a
cabeça, foco em seu rosto colado ao meu. Chiara beija minha mandíbula seguindo para a lateral
do rosto, e faço o mesmo, conhecendo todos os seus detalhes. As mãos descem em minhas
costas, cravando as unhas em alguns pontos e mordo-a na maçã do rosto enquanto sorri.
Os toques chegam em minha bunda e ela a aperta com safadeza, correndo a mão direita
por entre os nossos corpos, envolvendo o meu pau em um aperto excessivo.
一 Fode minha mão, faz de conta que está dentro de mim. 一 Sussurra no pé do meu
ouvido, então movimento meu quadril.
Minha grossura desliza em sua palma quente e fecho os olhos gostando de imaginar sua
boceta apertada.
一 Isso, você está dentro de mim, e é tão quente e úmido. 一 Ofego, aumentando o
ritmo bombeando forte, o comprimento todo deslizando em seus dedos, a glande roçando em sua
boceta.
Esfrego nossos rostos chupando sua pele, louco de vontade de beijá-la e de perder o
controle totalmente.
一 Goza, gostoso, em cima de mim, amanhã eu deixo você colocar só um pouquinho,
bem devagar.
一 Porra, Chiara, você está me destruindo. 一 Confesso entredentes, sua mão comprime
mais ao redor, fico ofegante, e meus testículos retraem, estou quase lá.
一 Quero que goze em minha boca… 一 Sugere manhosa e desesperado me levanto.
Chiara senta e fico de joelhos. A boca envolve a glande enquanto me masturbo em sua
língua macia. O olhar safado preso no meu e a mão direita acariciando os meus testículos,
levando meu corpo ao limite.
一 Cacete, vou gozar. 一 Aviso agarrando seus cabelos e enfiando gostoso até sua
garganta e gozo sob seus gemidos de súplicas.
Minhas pernas travam, ela engole todo líquido, continuando a sucção suave quase me
fazendo chorar. A sensibilidade é monstruosa e sua língua molhada é uma perdição. Saio de sua
boca respirando acelerado, com os batimentos desordenados. Caio na cama agarrando seu corpo,
e a encaixo deitada por cima de mim.
一 Droga, Chiara, olha o que estamos fazendo. 一 Abraço-a possessivo, tem um feitiço
em seu olhar que está me encantando.
一 Isso só acontecerá a noite, no escuro, aliás, daqui a pouco acaba, mais um pouco e
amanhece.
一 Ah que droga, preciso aproveitar ao máximo então esse pouco tempo, te dando
prazer. 一 Ela sorri beijando o meu peitoral.
A pele suada e quente grudada na minha. Queria fazer tantas coisas com ela, mas seria
doentio demais, porque já estamos errando. Chiara deita ao meu lado, viro-a de costas, me
encaixando por trás, envolvendo o braço ao redor de sua cintura, juntando nossos corpos. Meu
pênis endurece em contato com sua bunda, mas não quero assustá-la. Fizemos um acordo, nada
de penetração e de repente me sinto até um “meio filho da puta”, porque não nos comemos de
verdade, apenas estamos adiando, pois não vou desistir, eu a quero, quero tudo, e quando isso
acontecer, não terá mais volta.
一 Olha o que você está fazendo comigo, olha as coisas que estou dizendo para você.
一 confesso.
一 Está começando a se sentir culpado? 一 Questiona, e aperto-a em meus braços. 一
A culpa não é só sua.
一 Me desculpa por não me segurar, isso é um erro. 一 Beijo seu pescoço, e ela não diz
nada, apenas ouço sua respiração profunda.
一 Isso nunca mais acontecerá, entendeu? Era um acordo, não quero que me peça
perdão, e nem desculpas ou nada disso. Dizer que foi um erro não mudará o que aconteceu. Eu
gostei e quero de novo.
一 Chiara, não é isso…
一 Acho melhor você voltar para o seu quarto. 一 Reprimo a angústia em meu peito ao
ouvir essas palavras.
Eu não deveria ter dito isso agora, praticamos o errado e quase pareço um cafajeste por
me lamentar. Mas, prefiro ser um filho da puta nesse momento e poupar os nossos corações do
que machucá-la depois, porque se acontecer de novo, estarei aqui todas as noites e não falharei
nenhum dia.
一 Você está certa, segunda trabalharemos juntos, e o pior, eu sou seu tio.
一 Finja que isso nunca aconteceu, e agora saia do meu quarto, por favor. 一 Ordena,
me atingindo com violência.
Porra, meu peito dói, certo, eu mereci isso. Mas dói.
Admiro-a confuso por um longo tempo enquanto fica encolhida na mesma posição.
Cubro seu corpo com o cobertor, inspiro profundamente e saio fechando a porta, mas meu
coração se estilhaça em tristeza.
CAPÍTULO 13

Ricardo está tentando me afastar e tudo porque não consegue lidar com o fato de que me
deseja e que anseia, sim, deitar todas as noites comigo no escuro para aproveitar cada segundo
com o meu corpo. Não sou inocente, nunca fui, e mesmo sendo virgem, posso ser o que ele
precisa.
É triste imaginar que ele irá procurar outra mulher para se satisfazer. Foi incrível sentir os
toques e preciso disso novamente. Fecho os olhos revivendo os beijos na minha pele, a boca na
minha boceta e dos braços ao meu redor, prensando nossos corpos.
Furiosa me levanto, e nua sigo até a porta. Abro-a devagar, analiso o corredor escuro e
silencioso. Nas pontas dos pés ando até o seu quarto, giro a maçaneta devagar e entro. Ricardo
está no banheiro e corro para sua cama, aqui é mais escuro que o meu quarto, as árvores
encobrem mais as luzes noturnas e puxo a coberta dele até minha cabeça para que não me veja. O
cheiro masculino invade minhas narinas e gostarei de passar algumas horas aqui qualquer noite
dessas.
Escuto a porta do banheiro abrir, um barulho de roupa e tento ver qualquer coisa por um
pequeno espaço que seja, vejo que está nu. Dorme pelado, que delícia. Ele caminha até os vidros
olhando na direção da minha varanda, inspira profundamente e retorna deitando, mas em
segundos puxa os cobertores confuso.
一 Porra, Chiara. 一 Sussurra sorrindo.
Pulo por cima do seu corpo encostando os lábios em sua bochecha. Ricardo aceita
envolvendo minha cintura enquanto me desmancho sobre ele.
一 Eu sei que disse aquilo da boca para fora porque no fundo está louco para me comer.
一 Movimento meu quadril encaixando minha boceta no seu pau que endurece com o contato.
一 Precisará trancar sua porta se não me quiser aqui. 一 Inesperadamente encosto nossos lábios
enquanto uma sensação explosiva me domina e me afasto rapidamente para não exceder os
limites.
Pressiono minha entrada na sua ereção, ele arfa, e os braços tentam me agarrar, mas
rapidamente pulo da cama indo em direção à porta. Seus sussurros quase saem altos.
一 Chiara, volta aqui. Ei… 一 Apressada fujo para o meu quarto e ao entrar tranco a
porta.
Demora segundos para a maçaneta girar lentamente e com força tenta abrir sem sucesso.
Deito na cama sorrindo, porque sei que amanhã ele estará aqui de novo.

Escuto meu celular tocar. O vento da tarde batendo em meu rosto, o sol ardendo em
minha pele enquanto o cheiro de fast food está preso por toda entrada do shopping. Passei o dia
comprando roupas para começar a trabalhar no banco na semana que vem e aproveitei para andar
um pouco na cidade. Almocei por aqui mesmo e agora no fim do dia espero o táxi na entrada
principal. Confiro o aparelho e é um número desconhecido, e decido atender.
一 Alô!
一 Oi, é a Chiara?
一 Sim. 一 A voz é masculina, não muito grossa e parece familiar. 一 Quem é?
一 É o Juliano Cárron, tudo bem? Seu pai me passou seu número. Lembra de mim?
一 Sim, claro, estava no aniversário do Ricardo.
一 Isso, hoje seu pai comunicou que trabalhará aqui no banco, estou muito feliz com a
notícia e achei que de repente poderíamos jantar amanhã. O que acha? Posso te contar como tudo
funciona. 一 Penso por alguns segundos em silêncio.
一 Eu não sei, amanhã à noite estarei um pouco ocupada e nesse final de semana
estaremos fora da cidade.
一 Entendo, tudo bem. Espere… olhe para trás. 一 Confusa giro o corpo vendo-o a
alguns metros dentro do carro. 一 O que faz aqui no shopping? Espera, estou indo aí. 一
Desligo conferindo o horário e falta pouco para o papai sair do banco.
Juliano estaciona e se aproxima com passos rápidos.
一 Oi, estava passando por aqui, está esperando alguém?
一 Oi, fiz algumas compras e estou esperando o meu pai ou o Ricardo, ligarei agora para
me buscarem.
一 Eles já saíram, hoje ninguém atrasou, por sorte não tinha reunião. Eles falaram algo
sobre passar em um bar antes, estavam com a Amy e a Eleonora. 一 Meu estômago revira,
encaro o aparelho nas mãos nervosa e disfarço mexendo nas sacolas.
一 Vou pedir que me busquem quando saírem de lá. 一 Ele sorri como se as minhas
palavras fossem ridículas.
Droga, não queria ter certeza de que foram transar.
一 Eu te levo, vamos, é caminho.
一 Sério?
一 Claro, eu te ajudo com essas sacolas. 一 Ele pega todas facilmente e o sigo até o
carro fingindo não estar abalada.
Não queria que o Ricardo dormisse com outra mulher, e chega a ser ridículo achar que se
privaria só porque segurei o seu pau ontem à noite. Sento no passageiro quando ele abre a porta,
e em seguida Juliano coloca as sacolas na parte de trás e vem para o assento do motorista.
Permaneço em silêncio quando liga o veículo seguindo pelas ruas. Não é como se
quisesse conhecê-lo, estou apenas agradecida pela carona. Admiro a cidade, é extremamente
linda e bem projetada.
一 O banco é tranquilo para trabalhar… 一 Diz do nada, rompendo o silêncio e levo o
olhar a ele que está sorrindo.
Juliano é bonito, parece um modelo de revista, o rosto é quadrado, a barba bem-feita e o
olhar marcante. Ele é atraente.
一 Ainda não sei o que farei exatamente.
一 Será minha secretária. 一 Abro os lábios surpresa e sorrio na sequência.
一 Eu realmente não perguntei ao meu pai, não sabia, desculpe.
一 Tudo bem, será bom ter a filha do chefe me ajudando, espero que goste de dividir os
dias comigo. 一 Juliano entra na rua de casa e fico confusa ao ver o Ricardo no portão falando
com meu pai.
一 Irei gostar com certeza. Olha, eles chegaram, acho que desistiram do bar.
一 Parece que sim. 一 Juliano estaciona no momento em que papai entra em casa, mas
o Ricardo paralisa me encarando enquanto desço.
一 Obrigada pela carona.
一 De nada. Pegarei suas sacolas.
Ele se aproxima, o semblante carrancudo, os olhos em um azul intenso de amargura e
para ao meu lado, incomodado.
一 Onde estava, Chiara? Por que estão juntos? 一 Abro a boca para respondê-lo, mas
Juliano traz as sacolas sorrindo e me entrega, porém o Ricardo toma à frente pegando todas.
一 A encontrei no shopping, apenas dei uma carona.
一 Deveria ter me ligado, Chiara. A casa do Juliano fica do outro lado da cidade. 一
Franzo a testa confusa, porque juro que ele disse algo sobre ser o mesmo caminho.
Aceno e ignoro os dois indo para a casa.
一 Obrigada, Juliano. 一 Os dois se encaram por alguns segundos e Ricardo vem logo
atrás.
Atravesso a porta e papai está largado no sofá.
一 Pedirei pizza para o jantar e outra coisa Chiara, relacionamentos com os caras do
banco é somente profissional. 一 Avisa, reviro os olhos e concordo pegando minhas sacolas da
mão do Ricardo.
一 Engraçado, vocês podem ter relacionamentos não profissionais com as funcionárias,
chega a ser estúpido me falar isso. 一 Meu pai leva a mão à testa, e sabe que estou certa, por
isso não diz nada.
一 Por que não ligou? 一 Pergunta o Ricardo baixinho. 一 Eu pegava você e trazia
para casa.
一 Não faz diferença, já estou aqui. 一 Ele fica confuso e subo a escada, indo para o
quarto.

O jantar foi tranquilo, comemos assistindo televisão e quando terminamos, coloquei os


pratos na lava-louças e retornei para o quarto. Retiro a roupa, e por algum motivo insano quero
dormir nua. Talvez esteja esperando que ele venha, mesmo que minha mente esteja insólita. Há
uma grande lacuna, dúvidas divergentes e fica difícil saber o que esperar, mesmo tendo a plena
convicção de que estou esperando tudo.
Deito, puxando as cobertas, e hoje papai pegou pesado na temperatura porque está frio na
casa. Fico minutos encarando a porta e confiro no relógio da mesinha de cabeceira que já passa
de uma hora. Ele não vem. Tudo bem! Não, na verdade não está tudo bem, mas sou orgulhosa
demais para ir até lá.
Fecho os olhos, a mente desnorteada rodando as mesmas incertezas. Um peso faz meu
corpo relaxar e adormeço brevemente.
Acordo quando um perfume domina o ambiente, e nem preciso abrir os olhos para saber
quem está aqui. Entrou tão silenciosamente que não ouvi. Um dos braços passa por baixo do meu
corpo me abraçando por trás. Ele está de cueca, sinto o tecido roçando em minha pele enquanto
os lábios beijam o meu pescoço.
一 Oi, minha cerejinha… 一 Arrepio.
一 Oi, achei que não viria. 一 Ele sorri mordendo meu ombro direito.
一 Não resisti, embora tenha me deixado furioso hoje por chegar com o Juliano. 一
Meu corpo esquenta porque é gostoso perceber que ele sente algo, principalmente ciúmes.
一 Direitos iguais, você tem os seus contatos, então terei os meus. 一 Provoco, e
poderia facilmente ser engolida pelo seu peitoral. 一 Quando não tocar em mim estará enfiando
o pau na Amy ou na Eleonora? 一 Ricardo sorri arrancando a cueca, e segundos depois volta a
me apertar em seu corpo, mas agora é mais borbulhante a sensação porque seu pênis está colado
em minha bunda.
一 Está com ciúmes? 一 Mordo o lábio inferir, desperta pelo seu calor.
一 Não, só não quero ser usada. Nossos desejos ilícitos não começaram hoje, mas sim
naquele aeroporto, então não foi em um dia.
一 Vamos esclarecer algumas coisas. 一 Com força, me vira até que eu esteja de frente.
A perna direita transpassa por cima das minhas, fixando nossos corpos. O frio que eu
sentia desaparece porque nossa troca é intensa. Seu olhar indecifrável percorre meu rosto, indo
em todos os pontos, suspirando pesado, como se quisesse dizer tantas coisas e talvez até diga,
porque conectados tão intimamente fica fácil confessar todos os nossos pecados.
一 Não sou como o Rico, nem como o meu pai, que gostam de ficar de cama em cama,
escolhendo a dedo qual será a próxima companhia. 一 Meu coração acelera e não sei bem por
quê. 一 Odeio ser um filho da puta ou cafajeste, então, não, as duas não significam nada. Nunca
nem sequer fiquei com a Amy e com a Eleonora foi uma noite, há meses, e não pretendo repetir.
Estar aqui com você é a minha escolha, mesmo errada, eu escolhi, e não é como se fosse querer
outra mulher, sei que você é só uma menina, que está no auge da puberdade, querendo
desesperadamente sexo. Faz quanto tempo que não fica com algum garoto da sua idade? 一
Minha boca seca, desvio o olhar para as árvores lá fora antes de retornar a ele, procurando a
desculpa perfeita.
Não sou uma menina, mas ele me vê assim, e talvez seja pior se souber que sou virgem.
Como ele reagiria se eu contasse? Talvez eu deva.
一 O último foi um dia antes de vir. 一 Minto, porque parece mais fácil e na minha
mente ao saber desse detalhe irá virar as costas e partir.
Não quero ser rejeitada porque com ele não sinto medo de tentar.
一 Certo, não sou como eles, Chiara, eu tenho 36 anos, uma vida feita, e só aceitei o seu
acordo porquê… 一 Ele trava, desvia o olhar para minha boca e retorna nosso contato visual.
一 Nunca senti essa atração antes, esse desejo. Não sei quantos dias entrarei aqui ou me deitarei
na sua cama, porque uma hora esse feitiço irá passar e me darei conta da merda que estamos
fazendo. Não dormimos de fato é a melhor opção, eu sou possessivo naturalmente, e me
apaixonar só nos faria sofrer, porque não há possibilidade de um relacionamento acontecer, a não
ser o familiar, como seu tio. Não é porque estamos só brincando no escuro que ficarei com
outras.
Elevo a mão esquerda tocando seu rosto, nossas respirações perdem o ritmo, é como se o
conhecesse desde sempre. Uma dor de angústia surge em meu peito junto a um tremor e
calafrios. Desço o olhar nos seus lábios, meu rosto esquentando como se uma bola de fogo
começasse na garganta e subisse desenfreada, talvez tenhamos cruzado os limites e de repente
não há mais volta.
Ricardo se aproxima mais, a mão direita rasteja em minhas costas subindo até a nuca. Um
aperto firme no pescoço conduz meu rosto ao seu. Cada segundo mais perto, cada batida do meu
coração mais inconsistente. A boca para a milímetros da minha, o ar quente do seu hálito
acariciando os meus lábios e não reajo, apenas sinto quando se encontram. Ficamos segundos
assim, com todas as sensações, como se lavas vulcânicas corressem por minhas veias,
dispersando em cada parte do meu corpo uma chama corrosiva que nunca imaginei que pudesse
existir.
Ele me beija, a língua perpassa suave entrando em minha boca, confrontando a minha.
Perco o ar e os sentidos, deixando que me prenda em seu corpo com arrogância, com fome, os
toques doem porque as mãos juntam meu quadril ao seu com tamanha potência que fecho os
olhos imersa nas sensações. Envolvo meus braços ao redor do seu pescoço e as mãos possessivas
apertam todos os cantos, querendo roubar partes de mim. Murmuro contra sua boca, ele não
diminui a intensidade, me engole mais. Os dentes capturam meu lábio superior em uma mordida
gostosa enquanto nos esfregamos sedentos, querendo mais.
Fico molhada, o pau duro se enfiando no meio das minhas coxas, arrepio. Ricardo faz um
jogo corpo a corpo ficando por cima de mim. Abro as pernas, a ereção esfregando-se em minha
umidade, estremeço. A língua em movimentos graduais, envolvendo a minha com paixão. Paro
de corresponder porque preciso dizer…
一 E se eu disser que quero que penetre seu pau em mim? 一 Os lábios travam nos
meus, entreabertos querendo responder.
一 Não repita essa frase porque não terei dó de você quando enfiar com força. Além
disso, se isso acontecer, será na minha cama, no meu território, onde você seria minha
propriedade e não acho que goste de ser mandada por alguém.
一 Eu não ligo de ser sua putinha na cama, de te obedecer enquanto faz o que quer
comigo, porque eu irei gostar de me sentir sua.
一 Chiara… 一 sussurra me beijando, mordendo minha boca, esfregando-se em mim.
一 As coisas estão fugindo de controle.
一 Quer parar, Ric? 一 Murmuro agarrando sua bunda pedindo que me pressione com
seu pau.
一 Não, eu não quero parar e você?
一 Também não, titio.
Sua boca beija a minha, o corpo quente, a pele suada, deve estar em uma batalha interna
para não ultrapassar os limites que coloquei. Não teríamos beijos, mas agora com seus lábios nos
meus não quero mais que isso não aconteça. Na verdade, meu corpo está pedindo mais,
implorando, e maldito acordo inútil, era uma grande pegadinha dos meus sentimentos imorais,
porque não quero mais que se controle comigo. Eu quero ser inteiramente dele nem que seja por
uma noite.
CAPÍTULO 14

Chiara com suas palavras está sempre me levando a ponta do precipício. Estou sendo
segurado por um cordão fino, e nele tem algumas falhas, que são os meus desvios de
comportamento e moralidade. Eu queria fodê-la com força e veio a porra da sua voz sensual com
um acordo que parecia nos “colocar e tirar” do pecado.
Sexo oral, nada mais.
Que brincadeira perigosa, é claro, quanto mais se brinca com fogo, mais se queima.
Foi só uma noite e hoje além dos toques reivindiquei seu beijo. E que delícia. Enfio a
língua em sua boca, nossas salivas se misturam transpassando para o queixo porque não consigo
parar. Sugo sua pele, mordo e seu cheiro é tão gostoso que me endurece todo.
A boceta molhada roçando no meu pênis, movendo o quadril junto com o meu. Que porra
de controle é possível ter sobre isso? Quase nulo. Encaixo a glande em sua entrada, ela sopra
uma respiração profunda no meu rosto.
一 Só a cabecinha… 一 Pede manhosa, sibilo, contendo todos os músculos tensos que
querem deflagrar. 一 Só um pouquinho, tio Ric. 一 Meus testículos contraem e penetro
pausadamente.
Meu corpo enrijecido como nunca esteve, não é fácil manter o controle quando toda sua
mente e seu corpo querem o contrário. É um pequeno fio de razão sustentando toda pressão do
desejo, toda minha incapacidade de lutar contra. Minha grossura invade suas paredes quentes, é
tão úmida e apertada que algo pesa em minhas costas.
Prendo o ar nos pulmões, porque se eu respirar, enfiarei tudo. Chiara geme, o rosto
expressivo, os lábios cheios abertos de excitação e aqui presa ao meu corpo faz todos os meus
nervos vibrarem. Ela arqueia o corpo, os mamilos duros resvalando em meu peito. Tremo por
completo.
É impossível, não posso mais controlar isso.
一 Ah, você é grosso, muito grande, não tira, por favor, está gostoso. 一 Suplica,
encharcando meu pau com seus fluídos, está pronta para me receber, forço mais entrando justo,
as paredes de sua boceta se contraem ao redor da minha ereção e solto um rosnado baixo,
fervendo por dentro.
Chiara me toca, os dedos correndo em minha pele, perpassando no meu peitoral, e fico
fumegante, cada vez menor diante do poder que tem de me persuadir. Ela é tão gostosa que
poderia arrancar um pedaço de sua pele em uma mordida violenta. Não consigo, eu a quero toda
e jamais me perdoarei por isso. Afasto-me querendo voltar, seu corpo amolece e o olhar confuso
me quebra.
一 O que aconteceu? Só mais um pouquinho. 一 Levanto da cama desnorteado, há tanta
porra estranha correndo em meu peito, em minha mente.
Pego a cueca coloco-a e sigo em direção à porta. Não tenho coragem de olhá-la se não
voltarei e terminarei o que começamos. Ela vem atrás, mas afasto suas mãos de mim, encarando
o tapete.
一 Hoje não dá. Não terei controle, não me peça para ficar. 一 Olho-a, nua, os cabelos
grudados na pele suada, o rosto corado e triste. 一 Com você estou perdendo o controle, sabe
que cacete pode acontecer se ultrapassarmos os limites? 一 Corro a mão na minha barba rala,
estou abalado 一 Vou querer te comer em qualquer lugar. Seus beijos e o seu gosto não serão
suficientes, porque vou querer entrar dentro de você o tempo todo, sentindo que é minha. 一 ela
suspira, umedecendo os lábios.
一 Espera, tudo bem, será como combinamos, sem beijo, sem penetração. Vem aqui!
一 Vamos esfriar as coisas, após o final de semana na pousada eu volto, mas não consigo
me segurar hoje. 一 Giro a maçaneta percebendo que minha voz saiu mais alta do que devia.
Por sorte Rico não acordou, que desculpa diria a ele? “Desculpa irmão, estava quase
comendo sua filha”. Merda. Entro no meu quarto e passo a chave. Preciso pensar sobre isso,
Chiara me tem nas mãos e cada palavra me enfeitiça mais. Necessito de no mínimo 24 horas sem
toques e recuperarei o controle do meu corpo e dos sentimentos.
Estou me sentindo um adolescente, confuso, e porra, eu sou um homem, preciso colocar a
cabeça no lugar, nem deveria ter aceitado esse acordo. Fui impulsivo.
Fecho os olhos trazendo a coberta até o queixo. Não queria que acabasse assim. Ficamos
atraídos, excedemos ao permitir que o desejo falasse mais alto e nem é possível exatamente frear
o que o corpo produz inconscientemente. Erramos em pensar que os sentimentos não afetariam o
nosso acordo, mas cada segundo queremos mais.
Foi somente uma noite de toques e falhamos hoje com um beijo. Reviro nos lençóis,
penso nele, em toda angústia que deve estar sentindo porque estou igual. Meu corpo está quente,
implorando que ele continue o que começou, mas fica só a ansiedade, queria que apenas me
devorasse sem promessas, sem segundas chances, totalmente imoral e cru.
É avassalador, real e revolta. Me puno quando minhas palavras provocativas saem
desgovernadas ou quando quero que ele continue sussurrando aquelas palavras sujas que me
deixam molhada.
Amasso o tecido entre os dedos, com uma chama latente subindo em meu estômago e
desmanchando-se na boca em um amargor indigesto. Suspiro, frustrada, olhando o céu, a lua
encoberta pelas nuvens densas. Um rastro de estrelas em camadas brilhantes enquanto o vento
corre por entre as copas das árvores, provocando um ruído ao bater-se contra os vidros.
Um espasmo de susto domina todo meu corpo quando a porta abre. Ergo o olhar e o
encontro, ofegante, nu, duro. Ele voltou para mim.
Desesperada, abandono as cobertas sentando na cama receosa, enquanto ele fica ali, na
penumbra, as sombras das folhas dançando no seu corpo. O tórax expandindo-se amplamente, e
seu corpo viril brilhando pelo suor e mantenho nossa conexão visual com um ar gélido me
atingindo, é o efeito que passou a ter sobre mim. Levanto pisando no colchão indo de encontro a
ele.
Pulo em seus braços que me envolvem com tamanha velocidade que leva meus
sentimentos a fervilharem inquietos de emoção. Ricardo me encaixa no colo, anda suavemente
para o corredor em total silêncio. Atravessamos a porta do seu quarto, e ele a fecha.
O ar que estava dentro dos meus pulmões escapa e inspiro novamente, lutando, porque
meu peito dói em palpitação. Estou em seu território, onde ele queria estar para me fazer sua por
uma noite.
一 Não consigo resistir, eu preciso te sentir por completo. 一 Confessa sussurrando.
一 Pode fazer o que quiser comigo. 一 O olhar fixo em meu rosto, atento genuinamente
aos detalhes enquanto admiro sua mandíbula dominante, os lábios que ele umedece com a língua
nervoso.
Ricardo é tão viril e forte que não consigo refrear o tremor quando me olha assim. Os
olhos azuis cintilam, e impulsivamente nos entregamos a um beijo, meus lábios grudam nos dele,
o desejo dominando todo meu íntimo. As mãos quentes e grandes apalpando todo meu corpo,
indo da nuca a bunda enquanto minhas pernas se fixam ao redor do seu quadril.
Queimo por dentro, as contrações dolorosas surgindo no meu âmago quando ele força
nossas extremidades com movimentos intensos. Quero ser possuída por ele, devorada por sua
boca enquanto perdemos a razão. Fico molhada, o prazer provocando a pulsação em minha
boceta enquanto ela fica em um atrito lascivo, de subir e descer no seu pau duro.
Meu coração palpita desenfreado com os arrepios se condensando em minha espinha. Os
movimentos da língua ao redor da minha é urgente. Os lábios macios dançando, sugando e
mordendo os meus.
É impossível definir o quanto nossa conexão nos transporta além do material, como se
estivéssemos só nós dois e nada mais importasse. Ricardo encaixa o pênis na minha entrada e
murmuro quando desliza apertado, invadindo devagar, levando todos os meus sentidos ao limite,
porque quero gritar tão alto que perderia a voz. Estremeço porque estou com medo da dor e dos
seus prováveis 25 cm que entrarão rasgando.
Quero confessar que sou virgem, que ele será o meu primeiro homem, mas não consigo,
ele iria parar e não quero, não conseguirei suportar sua rejeição. Ele me leva à parede, o corpo
está extremamente quente que começamos a transpirar de ansiedade. Ele projeta o quadril,
penetrando um pouco mais. Calafrios me dominam enquanto solto um gemido mais alto, sem
controlar, com a dor e o prazer se misturando em minha pelve.
一 Não quero te machucar, droga, você é tão apertada, está sentindo essa pressão? 一
Levo as mãos ao seu rosto roçando nossos lábios, e tento falar, mas a voz falha.
一 Sim, você… 一 balbucio.
一 Shhh, fique quietinha… essa boceta é minha.
Com calma penetra mais, minhas pernas fraquejam, ele aplaca a sensação me beijando.
Nossos lábios se sugam com euforia enquanto a textura gelada da parede se fixa em minhas
costas. Ele corre a boca em meu pescoço, descendo para a clavícula onde aplica uma mordida.
Meu corpo reage com contrações, choramingo enquanto umedeço seu pau repleta de desejo.
As veias do pescoço, braços e abdômen estão saltadas, ele está tenso, todos os músculos
rígidos, fazendo força para não enfiar de uma vez, e a pouca luz que reluz em sua pele o faz
brilhar, está mais suado, o perfume masculino exalando de sua pele invadindo minhas narinas é
deletério.
Relaxo, estou pronta para recebê-lo porque é imensurável o quanto minha boceta está
quente e pulsa em súplica. Uma respiração ruidosa irrompe de sua boca contra a minha quando
crava bem fundo. A grossura parece atingir o meu útero, arde, queima, e enfio minhas unhas em
suas costas com uma explosão incendiando todas as partes do meu corpo.
一 Puta que pariu, Chiara, eu não me controlo com você… 一 Ele me leva em seus
braços até a cama deitando o meu corpo com cuidado, ficando por cima.
Ricardo nos mantém conectado e afasta nossos quadris o suficiente para assistir seu pau
iniciar os movimentos, tremo inteira com todos os poros arrepiados. Dói e, ao mesmo tempo, é
gostoso.
一 Isso é corrosivo, titio, me fode com força. 一 As pupilas se dilatam, o rosto corado e
meu coração perde o ritmo.
一 Você é tão apertada… 一 Rosna mordendo meu pescoço.
一 Sim, os garotos gostavam de estar comigo, diziam que minha boceta é deliciosa. 一
Provoco querendo sua violência, seus toques dolorosos em minha pele.
Ele range os dentes contraindo a mandíbula e com a mão direita agarra meu queixo
encostando nossas bocas.
一 Droga, eu não gosto de pensar sobre isso… 一 cospe as palavras entredentes arfando
一 porque não quero que seja de mais ninguém. O que eu te disse que aconteceria se
perdêssemos o controle? 一 O corpo grande encaixa no meu, o pênis entrando justo, minhas
coxas adormecem, recebendo todo seu calor, porque estou cada segundo mais faminta.
一 Que irá me comer toda hora, que me fará sua.
一 E agora você é minha.
一 Sou sua, minha boceta é sua, minha bunda virgem, e só você pode me comer gostoso,
no escuro, sem que ninguém saiba. É o nosso segredinho ilícito sujo, titio.
一 Diabinha… 一 sopra excitado, a voz falhando porque move o corpo, golpeando o
pau dentro de mim.
A boca estupidamente beija minha pele iniciando no pescoço, descendo até os seios onde
para e suspira pesado. A língua contorna a aréola, os dentes raspam no mamilo, solto um gemido,
está sensível, e ele suga de leve, provocando reações eletrizantes. Meu corpo todo anseia por ele.
Inesperadamente me gira, fico de bruços, e ele admira o meu corpo por longos segundos, talvez
tentando conhecer todos os detalhes devido a poucas luz. O indicador desce pelo centro das
minhas costas, e sinto um arrepio, só parando acima da minha fenda interglútea. Ele sorri
satisfeito.
一 Você tem uma pinta bem aqui… 一 pressiona o dedo e leva a boca até lá 一 Sua
pele é cheirosa, hidratada e eu quero tanto te morder. 一 Passa a língua no local com uma
provocação corrosiva enquanto morde com força.
Arqueio o corpo e sua mão aperta minha bunda escorregando os dedos em minhas coxas.
Ele se encaixa de joelho por trás abrindo minhas pernas, não são só toques, nem apenas o desejo,
tem algo mais, ele está memorizando cada pedaço do meu corpo.
Ansioso, morde em vários pontos enquanto me debato empinando a bunda, pela dor
gostosa que irradia. Ele somente para de me instigar quando as mãos abrem as bandas da minha
bunda admirando meu ânus. Sem pudor penetra a língua chupando, oscilo enfiando as cobertas
em minha boca, reprimindo os gemidos que escapam sem controle. Murmuro tentando formular
qualquer frase, mas meu sangue ferve nas veias, o prazer que estou sentindo é intenso ao ponto
de paralisar todo meu corpo.
一 Não consigo. Isso, meu Deus, eu, por favor pare, eu quero chorar, não, não, continue,
só continue… 一 Os dedos entram por baixo do meu quadril tocando meu clitóris.
Meus olhos lacrimejam de prazer, os movimentos contínuos suaves espremendo meu
botão com apetite, e minha boca seca, o coração acelerado com o prazer latejando, roubando
todo meu ar, surgindo como uma avalanche desordenada.
一 Ric, continua, eu vou gozar… 一 Suplico, mas ele não para, a língua molhada
entrando e saindo, os dedos causando tremores nas pernas porque fraquejo com a sensação.
A excitação atinge o auge porque escuto zunidos em meus ouvidos, e reflexos
descontrolados por todo meu corpo como se estivesse sendo eletrocutada. Poderia morrer e voltar
a vida em segundos. Ondas de calor sobem dos pés à cabeça enquanto minha boceta contrai em
seus dedos gozando. Grito, mas o som se perde no tecido que prenso em meus dentes quando
travo a mandíbula, louca de prazer. Ele sorri enquanto amoleço, sem forças, e sua língua
persistente continua, provocando até a última contração. Quando termino de gozar ele leva os
dedos à boca provando meu sabor e sussurra contra minha bunda.
一 Isso foi fascinante, quase gozei só de te ver aflita. 一 Morde minha nádega direita
antes de me virar novamente de barriga para cima e me cobrir com seu corpo.
CAPÍTULO 15

Chiara desliza a mão nos músculos do meu abdômen, mordendo o lábio inferior ainda
aflita pelo prazer que sentiu. Abre as pernas querendo mais e forço minha ereção em sua
abertura, sentindo-a tão encharcada que afago todo meu desejo entrando nela, um golpe único até
o talo sendo comprimido em uma tortura colossal porque seu aperto é decadente ao ponto de
fazer meu corpo todo entrar em um frenesi louco. Cacete, mas que porra, isso é infame.
As mãos pequenas dela me apertam, os olhos se fecham de prazer, e desce o toque
selvagem, espalmando minha bunda forçando que eu continue. Diaba gostosa. Perco o controle
acertando um tapa em sua coxa direita, ela sorri.
一 Ai titio, bate aqui? 一 Coloca a mão direita na maçã do rosto, está toda corada e a
voz é baixa, sedutora, que obedeço sem pensar.
Estapeio seu rosto, ela sorri cínica, o olhar implorando por mais, e agarro seu pescoço
comprimindo os dedos ao redor. Ela geme e sei que está gostando porque agora bombeio meu
pau com tanta facilidade de tão molhada que ficou.
Seguro meus instintos, porque quero sentir mais dessa sensação. O quadril dela se move,
fecho os olhos, está estupidamente quente o nosso confronto que meus batimentos cardíacos
sobem na garganta. Deslizo as mãos sentindo sua pele aveludada, aperto os seios, é
extremamente macio, e continuo tocando-a, percorrendo sua barriga, até parar nas laterais de sua
cintura onde fixo o aperto porque preciso fodê-la com força e assim faço.
Acelero sentindo o suor e os calafrios em minha nuca. Meu pau batendo fundo em sua
boceta, sendo esmagado em cada movimento. Retiro até ficar só a ponta da glande repleta com
seus fluidos íntimos, minha boca seca e penetro com força de novo, e novamente, em uma
espécie de transe.
Ela quer gritar, eu não paro, é tão gostoso que não consigo me segurar. Ela perfura com
as unhas minha bunda pressionando para que eu avance mais, e faço. Meus testículos retraem,
meu pau pulsa dilatando todas as veias do meu corpo porque estou em combustão, quase no
limite. A boceta rosada ficando inchada, sibilo, introduzindo todos os meus desejos junto porque
meu peito dói. Minhas pernas travam mantendo o ritmo, e contraio o abdômen prendendo o ar,
pronto para preenchê-la com meu líquido.
一 Porra, Chiara, boceta gostosa do caralho! Não conseguirei tirar, mas que porra, você é
minha.
一 Ah, eu vou gozar de novo… 一 avisa fechando os punhos ao meu redor 一 ai que
delícia, eu sou sua, titio. 一 Meu coração falha, o prazer torcendo todas as minhas entranhas.
Toco em seu clitóris, está dilatado e sensível, ela treme quando estimulo sutilmente.
Seguro toda explosão por mais alguns segundos, ansiando vê-la saturada, louca por mim.
一 Ric, puta que pariu, algo está acontecendo, eu vou chorar, eu não sei, e, ah, droga vou
fazer xixi… 一 Minhas pupilas dilatam assistindo-a, os mamilos rosados inchados, o corpo
trêmulo, o tórax prendendo todo ar, porque suas costelas ficam marcadas e a vulva e o clitóris
lubrificados e entumecidos.
Ela se entrega, todo corpo se contorce, as paredes da boceta se contraindo no meu pau, e
o líquido incolor escapando junto com seu gozo, é um squirt [2]. Meus nervos me fazem delirar
porque rosno, e ela se derrete.
一 Ah que delícia, aposto que nenhum garotinho fez você sentir isso, mas o titio sim. 一
Bombeio forte dentro dela, trazendo todas as sensações lancinantes para o meu corpo.
Enrijeço todo, o corpo dela em espasmos e perco o discernimento, com todos os meus
músculos vibrando em prazer, porque gozo em sua quentura, pulsando involuntário, abraçando
seu corpo porque sou um maldito doente obcecado.
Procuro sua boca, beijo-a, nossas línguas ensopadas de saliva se misturando enquanto nos
atracamos, esfregando-se um no outro. Continuo os movimentos sutis dentro dela terminando de
gozar. O cheiro proibido de sexo é pungente, é nosso, obsceno, sem pudor. Aperto-a com tanta
força que murmura, o corpo quase se fundindo ao meu.
Não é normal isso, porra, ela é minha, minha e sim, minha. O rosto se desmancha em
meu peitoral, perco as forças e só a abraço com carinho. Ficamos conectados, seu quadril preso
ao meu, e nossas intimidades encaixadas, porque a sensação é boa pra caralho. Ela estica o
braço acariciando meus cabelos. Recupero o fôlego, nossas peles grudando uma na outra de suor.
Não conseguimos dizer nada, apenas sentir. O cheiro doce de seu corpo está mais intenso
que antes, ela se afasta franzindo o nariz e a testa enquanto fica de costas. Parece com dor e
talvez tenha pegado pesado. Encaixa seu quadril no meu, e abraço-a por trás. Afundo o nariz em
seus cabelos inalando seu perfume inesquecível enquanto minhas mãos acariciam seu abdômen.
Ele sorri, a voz falhando um pouco.
一 Você acabou comigo… não consigo me mover e estou até um pouco envergonhada
por fazer xixi em você.
一 Não é urina, foi um squirt, não sabe o que é isso? 一 Franzo a testa, ela é tão safada,
como não sabe? Certo, talvez não saiba mesmo.
一 Não. 一 Confessa, sorrimos e beijo a maçã do seu rosto.
一 É uma ejaculação, é um líquido diferente, não se preocupe, isso é incrível, como se
sentiu? Foi tão sexy assistir sua aflição.
一 Foi sensacional, diferente de quando gozo normalmente, eu fui ao céu e depois
relaxei e travei o corpo. Quero sentir isso de novo, foi diferente.
一 Sentirá de novo, não se preocupe minha cerejinha, farei você sentir. Você toma
anticoncepcional?
一 Não. Eu… 一 Pausa a fala parecendo confusa e amenizo.
一 Tudo bem, amanhã compro uma pílula, fique tranquila.
一 Estou ficando sonolenta e se dormirmos sem querer? 一 Sussurra.
一 Pode dormir, eu te levo para a cama quando estiver perto do amanhecer. 一 A
respiração aprofunda enquanto concorda com um balançar de cabeça.
Minutos depois ela dorme, sem se importar de estar com o meu líquido ainda dentro dela.
Abraço-a mais forte, não consigo decifrar como me sinto, Chiara atingiu sentimentos diferentes,
e isso assusta. Fecho os meus olhos e nunca tive essa satisfação no peito, em que ficaria assim
para sempre.
Caramba, não posso me apaixonar, não por ela. Inspiro; o cheiro dela é como matar
minha fome, saciador. Relaxo todos os músculos e adormeço com seu corpo em meus braços.

Acordo ouvindo um ruído no vidro, é um galho balançando com o vento, e pisco lento me
adaptando a claridade que começa a surgir. Chiara ainda está aqui, cheiro-a em delírio, e com
cuidado para não a acordar me levanto. Falta cerca de 1h para amanhecer totalmente e
levantarmos, hoje é a viagem e Rico aparecerá daqui a pouco.
Puxo as cobertas e encontro uma mancha grande vermelha no lençol abaixo do quadril da
Chiara. Fico tenso, fecho os punhos em dúvida, são duas opções, eu a machuquei ou… Caralho,
não pode ser, ela não esconderia isso. Minha garganta seca, inspiro o ar me acalmando. Pego
uma toalha no banheiro, umedeço com água corrente e sei que irá tomar banho quando acordar,
mas não posso deixá-la suja.
Aproximo-me e lentamente puxo uma das pernas, ela se mexe espreguiçando o corpo,
não queria acordá-la ainda, mas seus olhos piscam lento. Estão levemente inchados e um sorriso
lindo se forma em sua boca, mas desaparece ao ver a toalha na minha mão e a boceta suja de
sangue. Sobressalta fugindo pela lateral da cama, e puxa o lençol sujo para os braços enrolando-o
desesperada, querendo ser capaz de esconder, e seu olhar me entrega a verdade. Em silêncio
abraça o tecido, os olhos marejados e porra como eu sou um idiota. Ela mentiu, ela era virgem.
Levo a mão a testa, sento na cama furioso, porque se eu soubesse as coisas seriam
diferentes. Caralho foi tão bom, é claro, por isso foi tão difícil preenchê-la. Idiota, sou um
safado idiota. Envergonhada e vulnerável caminha para a porta querendo fugir, mas avanço em
sua direção abraçando-a por trás. Esfrego meu rosto na lateral do seu, sussurrando em seu
ouvido.
一 Por que mentiu? Está com dor? 一 Ela nega.
一 Se eu tivesse dito, teria dormido comigo?
一 Não… 一 respondo sem calcular.
Chiara escapa dos meus braços e agarro-a novamente e adoro sentir sua pele na minha.
一 Chiara, não deveria ter mentido, virgindade é responsabilidade, tem noção do que
fizemos? Eu sou seu tio e caralho, eu me sinto um cuzão agora, porque tirei sua inocência. 一
Furiosa se afasta, ficando de frente, os olhos vermelhos em um misto de raiva e tristeza.
一 Eu não sou inocente, eu sabia que se soubesse me veria como uma menina, mas eu
sou uma mulher. A virgindade não me tornava pura. 一 Quase grita tentando controlar o
volume da voz.
一 Chiara, responsabilidade. Caralho, você não entende, como ficarei agora? Fui seu
único homem, o único que te comeu, inferno, como lidarei com isso sem que eu queira… 一
travo, o olhar fixo no meu, tentando decifrar meus sentimentos.
一 Diz, sem que queira se arrepender? Era isso que ia falar? 一 Arfo nervoso, passando
a mão na nuca, envergonhado em admitir, para mim nunca será só isso, seria simples demais.
一 Não… como lidarei com o fato de que quero continuar sendo o único. 一 Ela fecha
os olhos correndo até o meu corpo, me abraçando e a aperto tão forte, que acabo de perceber que
cai do precipício.
Engoli toda moralidade, e as minhas regras sobre nunca errar quando fui atrás dela
novamente. Não conseguia dormir com o pau doendo de tesão porque fechava os olhos e via o
seu rosto como se fosse minha nova escuridão. Senti-la por dentro foi a coisa mais eufórica,
excitante e gostosa que já provei. E o cheiro, puta que pariu, a menina consegue ser cheirosa em
todas as partes.
Beijo-a, os lábios macios em movimentos lentos e graduais sobre os meus, nossas línguas
em uma carícia quente fazendo todo meu corpo reagir. Não resisto a ela, e agora que sou seu
único homem será difícil não a procurar todas as noites, e não quero pensar em como lidarei com
tudo, com o Rico, mas ela é minha. Afasto nossas bocas.
一 Vá para o seu quarto, durma mais um pouco, seu pai irá acordar daqui a pouco.
Ela concorda e antes de permitir que saia a agarro novamente mordendo sua boca,
sugando sua língua, dando um novo beijo longo que não queria encerrar. Quando sai pela porta
me dou conta de que não sei como resolverei tudo isso, talvez seja uma atração passageira, e em
breve quando enjoarmos cada um seguirá sua vida fingindo que isso nunca aconteceu. É o que
preciso acreditar, eu errei, mas enquanto estiver com ela serei só dela.
CAPÍTULO 16

Puxo a mala e enfio no carro, Ricardo aparece na porta, o sol surgindo, a cerração da manhã
anuviando o ambiente em um cinza fosco. Ele inspira soltando o ar pela boca dispersando a
fumaça fria enquanto se aproxima. Na mão esquerda traz a mala dele preta e na direita uma
vermelha com um cobertor por cima que provavelmente é da Chiara.
一 Caralho, está frio hoje, o que aconteceu com o tempo?
一 O outono está acabando. 一 Pego as malas e enfio no espaço livre. 一 Cadê a
Chiara?
一 Está terminando de tomar o leite quente. 一 Fecho a traseira do veículo.
Ela atravessa a porta batendo-a com força antes de passar a chave. O rosto se cora
instantaneamente pelo vento gelado e Ricardo corre até ela jogando o cobertor dobrado ao redor
do seu corpo. Estou feliz por ver que se dão bem. Estava com medo de que a Chiara não o
aceitasse como tio, mas ele tem cuidado dela como um pai. As vezes até penso besteiras do tipo
“se eu morrer, ela terá um segundo pai” e isso meio que me tranquiliza.
Entramos no carro e inicio o caminho. O parque Talbingo Caravan fica a quase três
horas de distância e será divertido. O alojamento que peguei é espaçoso e possui um quarto, com
sala e cozinha integrada. Quero me reconectar com minha filha, ela passou muito tempo
deprimida e não quero que pareça algo forçado, mas sim natural.
一 Rico, poderia passar em uma farmácia? 一 Pergunta o Ric.
一 Claro, se estiver precisando de comprimidos para enxaqueca tenho lá atrás. 一 Ele
fica em silêncio, as mãos transpassando nos cabelos caídos jogando-os para trás, e normalmente
faz isso quando está chateado com algo.
Vejo uma a poucos quarteirões e pararei naquela mesmo.
一 É produtos de higiene.
一 Entendi. Pegue umas… 一 Ele me olha, não direi em voz alta, Chiara está no banco
de trás, inclino a cabeça para olhá-la e está com fones de ouvido. Ainda bem. 一 Pegue alguns
preservativos, falaram que terá tipo um luau perto do rio, então nunca se sabe, posso encontrar
uma mulher solteira e sozinha para passar a noite.
Ricardo faz o mesmo que eu, olha a Chiara antes de responder.
一 Você é um velho safado.
一 Vai se foder. 一 Gargalho. 一 Você que não sabe aproveitar a vida, precisa arrumar
uma vagina. 一 Ricardo sorri fazendo um gesto obsceno, mostrando o dedo do meio.
一 Já volto! Cuide da sua vida amorosa.
Meu irmão sempre foi tranquilo, por vezes até tento empurrar uma gostosa para ele, mas
é certinho demais e isso é tão chato, é muito mais atraente do que eu, poderia ter qualquer
mulher, é um idiota.
一 Vagina? Achei que falassem boceta, que bonitinhos. 一 Meu corpo gela, engasgo
com a minha própria saliva girando no banco para olhá-la.
一 Achei que estivesse de fone, porra! 一 Chiara sorri.
一 Estou, mas a música ainda não tinha começado.
一 Desculpe, merda, não… 一 Levo a mão a testa frustrado.
一 Pai, eu tenho amigos homens, sabia?
一 E eles falam sobre boceta com você? Pelo amor de Deus, ainda bem que agora está
aqui.
一 Falam às vezes, mas esquece isso. Pai, por que quis morar com o Ricardo? 一
Encaro ela pensativo do porquê estaria fazendo essa pergunta, não gosta dele?
一 Não planejo me casar de novo e seu tio está solteiro, achei que seria bom dividir a
casa com ele, não precisaríamos ficar sozinhos e também gosto de cuidar dele, é o único irmão
que tenho e meio que fomos obrigados a ficar distantes.
一 Normalmente é ele que cuida de você… 一 conclui debochando 一 Ele já fez algo
que te magoou? 一 Franzo a testa, não faz sentido suas dúvidas.
一 Nunca, Ricardo é certinho demais para magoar alguém, a menos que ele tenha te
tratado mal. Foi isso? Mas não é da personalidade dele ser impaciente ou grosseiro.
一 Não, ele é calmo, nunca me tratou mal.
一 Que susto, por que está perguntando?
一 Curiosidade, esqueceu que vocês não me deram irmãos? Sou filha única.
一 O trabalho que você dá vale por três. 一 Sorri negando.
Ricardo retorna com duas sacolas e entrega uma para Chiara.
一 Peguei umas balas para você, de cereja. 一 Ela pega.
一 Obrigada, tio, espero que não tenha esquecido as camisinhas do papai. 一 Não
reprimo uma risada, Chiara é a melhor filha do mundo e Ricardo fica vermelho de vergonha.
Ouvi-la falando besteiras pela primeira vez deve ser assustador para ele. Com rapidez
senta, fecha a porta e ligamos o som para distrair. Ele é o tipo de irmão que todos gostariam de
ter, está sempre cuidando de mim, embora o mais velho seja eu. E não me lembro de ter ficado
triste desde que estamos morando na mesma casa. O amo muito, só não demonstro, mas ele sabe
que é o meu exemplo de integridade.
Abro a sacola que o Ricardo me entregou e encontro várias balas, alguns doces e a
medicação que preciso tomar após nossa noite. Retiro o comprimido disfarçadamente, pego uma
garrafa d’água e tomo. Não queria que descobrisse daquela forma sobre a minha virgindade,
porque estava com medo de ser rejeitada, mas foi o contrário. Ricardo não é como qualquer outro
homem, é responsável, carinhoso, safado e não posso continuar pensando nele 24 horas por dia.
Deito no banco, estou cansada e com o corpo dolorido. Minha boceta, mesmo sensível,
segue esquentando sempre que ele me olha, porque estou louca para senti-lo novamente. Minha
cabeça está pesada pela noite mal dormida, a música Your Love do The Outfield toca enquanto
admiro o rosto dele, mesmo daqui consigo vê-lo de perfil. Seu olhar encontra o meu, algo
queima em meu estômago quando dá uma piscadela e sorrio desviando a atenção.
Não posso olhá-lo demais, é diferente agora, como se precisasse desesperadamente beijá-
lo, mas não posso fazer isso, não com o meu pai aqui. Adormeço pouco tempo depois e só
acordo quando o carro para. Levanto esfregando os olhos analisando o lugar. Vislumbro um
extenso gramado verde com diversas árvores folhosas, alguns trailers, e as casas de alojamento
ao fundo.
一 Chegamos… 一 Avisa papai descendo do carro.
Ele pega todos os documentos e caminha até a pequena recepção. Saio do carro
inspirando profundamente o cheiro terroso de Pinheiros. Ricardo bate à porta retirando os óculos
de sol que estava usando. Elevo os braços esticando todo corpo, nem percebi que passei quase
três horas na mesma posição. Instantaneamente ele confirma se papai não está voltando e se
aproxima. As mãos agarrando minha cintura e o nariz roçando em meu pescoço com saudades.
Meu coração acelera.
一 Está com dor? 一 Sussurra.
一 Não, mas estou com saudades. 一 Com carinho morde o lóbulo da minha orelha e
arrepio.
一 Olá, bom dia. 一 Sobressalto de susto, Ricardo fica tenso, mas é uma mulher
desconhecida de cabelos longos e loiros, olhos castanhos expressivos e grandes.
一 Bom dia! 一 Respondo me afastando um pouco dele.
一 Aqui está a chave do alojamento! 一 Engulo em seco, será que papai nos viu?
一 Cadê o meu pai? 一 Pego da mão dela sorrindo.
一 O homem grandão ruivo?
一 Sim.
一 Disse que precisava ir ao reservado e pediu para que eu entregasse a chave a vocês.
一 Meu peito fica menos aflito.
一 Avisem a ele que temos atividades de Trilha ao ar livre, passeio pelas montanhas,
golfe, caiaque, natação, tênis, esqui aquático, observação de pássaros, pesca e cavalos selvagens.
一 Uau, é bem completo. Isso é incrível. 一 Papai sai na porta e vem ao nosso
encontro.
一 Olha ele aí…
A mulher repete as atividades, ela parece ser nova, em torno de 35 anos e papai aproveita
para jogar seu charme. Minutos depois estamos entrando pela porta da casa minúscula. Tudo é
compacto, a sala e cozinha no mesmo ambiente e na lateral o banheiro e um quarto pequeno com
uma cama de casal e duas de solteiro.
一 Só passaremos uma noite aqui, eu e o Ricardo ficamos com as camas de solteiro e
você fica na de casal. 一 Papai avisa.
一 Tudo bem! Tio… 一 O chamo, e Ricardo leva a mão a nuca com aquele olhar ilícito
de que me dará umas palmadas por chamá-lo assim. 一 Poderia me ajudar com a minha mala,
está um pouco pesada, quero colocá-la no armário.
一 Claro.
一 Pegarei as outras coisas no carro. 一 Avisa papai saindo pela porta.
Entro no quarto e ele vem pegando a mala do chão trazendo-a até a superfície lustrosa do
balcão, onde a deposita.
一 Só isso?
一 Não… 一 Mordo o lábio inferior e elevo meu vestido deixando a calcinha cair nos
meus pés. 一 Ele arfa juntando as sobrancelhas extremamente aflito.
一 Porra, Chiara!
Fico de costas mostrando minha bunda, dançando sensualmente.
一 A noite te esperarei… 一 Retiro a calcinha do chão e enfio no bolso da calça dele.
Ricardo rosna, e antes que avance sobre mim, papai entra.
一 Aqui é um ótimo lugar porque não precisamos trazer muita coisa.
一 Tem mais coisas no carro, Rico?
一 Só um cooler com cervejas, trouxe para tomarmos à vontade.
一 Posso ficar bêbada? 一 Pergunto e papai nega.
一 Não vou cuidar de você, sua mãe me contou que direto tinha que te ajudar, não farei o
mesmo. Fique avisada.
一 O Ricardo cuida, não é mesmo, tio? 一 Ele engole em seco, o suor escapando nas
têmporas e sorrio da sua aflição.
一 Não prometo nada, pretendo beber também.
一 Então eu cuido de você se ficar muito ruim. 一 Papai gargalha.
一 Ricardo nunca fica bêbado, o homem tem álcool nas veias no lugar do sangue.
一 Pegarei o cooler no carro. 一 Ricardo foge correndo e particularmente adoro vê-lo
assim, sem saber como lidar comigo.

Papai está de pé na prancha sobre a água, segurando firmemente na corda com as mãos.
一 Pai, tem certeza de que quer fazer esqui aquático?
Arrumamos tudo no alojamento, trocamos de roupas e cada um escolheu fazer algo para
se divertir.
一 Eu já fiz isso, sou bom…
一 Cuidado, Rico.
O homem liga o motor do barco e sai. Somos surpreendidos, pois inesperadamente ele
realmente se mantém de pé. Quando está bem distante meu corpo esquenta como se soubesse que
terei minutos para estar com o Ricardo. Corro para longe, vendo uma grande vegetação repleta
de árvores que margeiam o lago Jounama.
一 Chiara, aonde vai?
一 Ver uma coisinha ali… 一 Acelero os passos e ele me segue.
Corro por entre as árvores lenhosas, os galhos longos sinuosos entrelaçando-se uns aos
outros. A brisa da manhã ainda gélida tocando minha pele, projetando meus cabelos ruivos para
trás. O chão repleto de folhas secas manchadas, em uma coloração avermelhada, laranja e pálida.
Meus pés triturando-as ressoando o despedaçar delas enquanto meus pulmões ardem implorando
por oxigênio.
Ricardo me alcança, os braços musculosos envolvem minha cintura, desequilibro e caio
no chão. Ele sorri inclinando o tronco para me ajudar, mas puxo seus braços e seu corpo cai por
cima do meu.
一 Chiara, você é muito vibrante, sabe o que tem feito comigo? 一 Sussurra.
一 O que eu faço com você?
一 Cacete, nem eu sei explicar… 一 O azul de seus olhos brilham pela luz do sol
incidindo em seu rosto.
Puxo minha saia, a respiração dele acelera enquanto analisa ao redor se tem alguém, mas
todos estão tão distantes que parecem formigas. Enfio a mão por baixo de sua camisa sentindo a
umidade dos seus músculos suados.
一 Deveria ser só no escuro… 一 Ele afirma.
CAPÍTULO 17

一 Pode ser de dia, no escuro, a hora que quisermos… Nesse jogo ilícito não existe
regras, eu sou sua, Ric, e estou tão carente de você. O que aconteceu na sua cama só fez algo
feroz nascer dentro de mim, eu preciso saciar isso que estou sentindo, é o nosso segredinho.
Sabia que estou sem calcinha?
一 Dizer essas coisas só aumenta a minha fome de você.
Mexido com minhas palavras, ele eleva o quadril puxando o pau de dentro da bermuda,
duro, grosso e quente. Ele roça em minhas coxas procurando minha boceta. Abro mais as pernas
sentindo-o resvalar em minha virilha antes de se encaixar em minha abertura.
一 Você está tão molhada, que delícia. 一 Penetra sua ereção lentamente, a cada
centímetro mais fundo gera latejos no peito.
Meu coração quase falha, ficamos alvoroçados enquanto o prazer preenche cada fibra
muscular em uma necessidade inconsciente de que nunca mais quero escapar dos seus braços.
Ele se move entrando e saindo gradativamente, aproveitando cada roçar da nossa conexão. Os
lábios procuram os meus para um beijo calmo e suave. A língua dança sensualmente na minha
enquanto a mão grande percorre lateralmente o meu corpo, acompanhando a curvatura do meu
seio. O polegar faz carícias, brincando com o meu mamilo que marca o tecido. Uma chama
quente sobe pelas minhas pernas se desmanchando nas nossas extremidades, no entrar e sair.
一 Fui obrigado a ir escondido ao banheiro cheirar a maldita calcinha que colocou no
meu bolso. O que me deixou mais louco por você. 一 Murmura 一 Que delícia, está gostando
do perigo? 一 Sussurra.
一 Sim, seu pau é tão colossal que tudo dói e ao mesmo tempo é tão gostoso. Estava
ansiosa para te sentir de novo.
一 Eu não quero te machucar… 一 Oscila temeroso, em um misto de prazer porque
beija os meus lábios com um apetite voraz.
Pressiono sua bunda, ele golpeia mais forte, fazendo calafrios se espalharem por toda
minha pele.
一 Não se atreva a sair de mim…. tio Ric, eu… 一 Puxa os meus cabelos.
一 Está gostando de ser fodida por mim? De me ver louco por sua boceta? Possessivo ao
ponto de estar te comendo aqui no meio de um monte de pessoas? 一 Suas palavras causam um
frenesi louco porque encharco o seu pau e ele sorri, está tão escorregadio que cada atrito me faz
sufocar.
一 Sim, não pare, me fode com força.
Um barulho de galho nos assusta e escutamos vozes se aproximando.
一 Caralho, estávamos quase lá. 一 Lamenta enquanto me satisfaço com o gosto do
perigo, e irei provocá-lo tanto que precisará me experimentar gradativamente até que possa me
foder com liberdade no seu quarto.

Ricardo me observa de longe enquanto um dos pássaros preto pousa em meu pulso.
Abro um sorriso amplo, sentindo o vento promovido pelo bater de asas se desmanchar no meu
anterrosto. Papai está com um fixado em seu ombro.
一 Eles são lindos, filha, acho que você iria gostar de ter um desse. 一 O criador sorri, é
um homem de meia-idade, bonito e se aproxima pegando na minha mão oposta para depositar
ração.
一 Gosto mais de vê-los aqui, livres na natureza.
一 Vamos ver, virá um agora mesmo comer isso. 一 Diz o homem, e demora segundos
para um dos maiores do recinto pousar e se alimentar.
一 Isso é incrível!
Admiro as penas pretas reluzentes, em um aspecto envernizado, os pequenos olhos
redondos brilhantes e algumas penugens cinzas ainda aderidas ao peitoral do animal. O homem
fica mais perto, e Ricardo surge automaticamente, um olhar furioso que o faz se afastar
instantaneamente.
一 Ricardo… 一 Seu olhar desce até os meus lábios. 一 Esses pássaros me lembraram
das suas tatuagens de corvos. Elas possuem algum significado? 一 Ele sorri abrindo o braço e
um pássaro pousa em seu pulso.
一 Sim, foi da época que eu estava no exército, trabalhava no setor operacional, nada de
campo, significa o espiritual, como um guia de orientação para o início ou encerramento de um
ciclo.
一 Ric é um exemplo de homem, todo espiritualizado. 一 Elogia papai, ele desvia o
olhar em uma súbita inspiração.
Ainda sinto aqui dentro todas as sensações insanas que me dominaram quando estávamos
nos beijando em meio às árvores. Quero agarrá-lo quase o tempo todo. É inexplicável o quanto
me entrego sem pudor, o quanto as palavras safadas que nunca disse a ninguém soam tão
facilmente em seu ouvido. Ricardo desperta um lado feminino desconhecido, talvez seja a parte
adulta e responsável que me faltava. Com ele não ligo de errar, porque nessa história toda, no
nosso segredo sujo e ilícito, a maior errada sou eu. Provoco-o diariamente e é viciante fazer isso.
Papai está certo, é um exemplo de homem, mas comigo sinto que deixa toda essa parte
avassaladora e sem limites se libertar.
Os pássaros voam, retornando às árvores.
一 O dia foi ótimo, hora de voltarmos, está escurecendo. Hoje tem um luau na beira do
lago, precisamos nos arrumar. 一 Papai avisa e ajudo-o recolhendo nossas coisas que deixamos
sobre o banco.
Limpamos as mãos, agradecemos a todos e retornamos para o alojamento. Jogo-me no
sofá, o dia foi curto porque estar aqui, com eles, foi realmente divertido.
一 Pode tomar banho primeiro, Chiara, eu e o Ricardo esperamos porque nos arrumamos
rápido.
一 Tudo bem. 一 Pego a toalha e sigo para o banheiro.
Fico nua revivendo em pensamentos os toques do Ricardo no meu corpo, o tamanho
monstruoso me preenchendo, o calor das nossas peles grudadas, a voz grossa causando calafrios,
da boca me beijando e não conseguirei passar essa noite longe. Talvez esteja o transformando em
minha nova droga, porque os estímulos e o desejo é ainda mais intenso e mais viciante do que
quando fechava os olhos para usufruir do prazer momentâneo da Morfina. A diferença é que com
ele esse prazer permanece até mesmo em uma simples troca de olhar.
Ligo o chuveiro e a água mais gelada que já senti na vida cai em minhas costas, grito
sem calcular pelo susto. Papai abre a porta, cubro meu corpo com a mão, e o Ricardo vem logo
atrás, mas ele o impede de entrar.
一 Ela está nua. O que aconteceu, Chiara? Algum bicho?
一 Não, a água está muito gelada. 一 Ele xinga saindo e fechando a porta novamente.
Sorrio dos dois que mais parecem meus guarda-costas.
Mudo a temperatura e termino o banho, enrolo-me na toalha e sigo até o quarto. Passo
todos os meus cremes habituais para hidratar a pele e o perfume. Escolho um vestido curto
tomara que caia branco colado no corpo, deixo os cabelos soltos e passo gloss nos lábios.
Terminando, sento-me no sofá, eles seguem para se arrumar, e espero.
Pego meu celular e me pego divagando, lembrando que já faz mais de um ano desde a
última vez que falei com minhas amigas, exceto o Bryan. O período pós-acidente que quebrei a
perna quase nenhuma me visitou e depois começaram os serviços comunitários, a internação e as
reuniões de narcóticos anônimos. E, me afastar foi a melhor decisão naquele momento, eu estava
quebrada, foram dias de dor, sofrimento, descontrole emocional e precisei aprender a lidar
comigo mesma.
Ainda não estou pronta para retornar para as redes sociais, nem para fazer novas
amizades e me abrir. Envio uma mensagem carinhosa para o Bryan guardando o aparelho em
seguida. Após 20 minutos os dois surgem arrumados, papai com uma camiseta larga azul e
bermuda, enquanto Ricardo veste uma regata cinza e um calção de malha preto. Levanto e meu
tio analisa minha roupa inclinando um pouco a cabeça, passando a mão na barba feita, certo,
talvez o vestido seja curto demais, mas não ligo. Algumas vozes ressoam lá fora, e um som de
violão começa a tocar.
一 Eles liberaram as bebidas hoje, levaremos um cooler. 一 Ricardo concorda pegando
na geladeira, e adiciona uma garrafa de whisky dentro.
一 Vamos. 一 Saímos do alojamento.
Poucos metros à frente avisto as tendas havaianas repleta de luzes pequenas amareladas,
tem várias cadeiras e uma fogueira repleta de pessoas ao redor, e ao lado um rapaz jovem toca
violão.
Caminhamos até lá, a grama abarrotada de gotas de orvalho, a brisa suave fazendo os
poros de minha pele se arrepiarem com a sensação fria. As vozes se tornam mais audíveis, o som
se torna nítido, e nós puxamos algumas cadeiras, sentando perto do fogo que crepita suavemente,
suas chamas contidas apenas aquecendo o ambiente. Fico no meio dos dois e pego a mão do meu
pai que se surpreende.
一 Pai, posso falar uma coisa?
一 Claro, filha.
一 Depois da nossa discussão em que confessei o que aconteceu no dia do acidente, me
sinto mais leve, você e a mamãe estavam certos sobre me abrir, mas eu precisava esperar
realmente o momento certo. E ainda assim, me fez bem dizer antes da hora, porque a dor
diminuiu. 一 Os olhos dele ficam marejados, desvia a atenção e sorri abrindo o cooler.
一 Vamos comemorar bebendo. 一 Sorrio do quanto sempre foge de um momento
sentimental.
一 Pode chorar, Rico, sua filha acabou de te encher de orgulho dizendo que você estava
certo, não precisa ter vergonha. 一 Provoca Ricardo.
一 Vai se foder, eu não choro. 一 Ele estica o braço entregando as cervejas e pego uma.
Ricardo abre a minha e viro em meus lábios, feliz. Há muito tempo não experimentava
essa paz, e só faltava a mamãe aqui. Fixo minha atenção nas mãos do garoto tocando violão, os
dedos deslizando nas cordas formando uma melodia agradável. Os rostos sorrindo, algumas
mulheres cantam com ele, outros casais dançam. Vasculho cada canto, a mulher que nos atendeu
quando chegamos, está de longe admirando o meu pai, ela usa um vestido florido vermelho, o
corpo bem desenhado e não duvido que devam estar flertando porque estão se entreolhando.
一 Ela é bonita, pai.
一 Chiara, você nem deveria entender dessas coisas de casal. 一 Enrugo a testa e
Ricardo disfarça um sorriso.
一 Pai, eu também flerto, aquele moço, por exemplo, 一 aponto para um homem que
aparenta ter a idade do Ricardo. 一 Está flertando comigo. 一 Ele faz careta para o homem que
sem graça vira o rosto.
一 Poxa, eu estava gostando.
一 Velho demais… 一 Ricardo sibila um ruído incrédulo.
一 Ei, ele deve ter a minha idade, não sou velho.
一 Não é velho, mas para a Chiara um homem da sua idade é. Sabe a única coisa que ele
quer de você, hem Chiara?
一 Vag…
一 Não ouse dizer isso em voz alta. 一 Sorrio, Ricardo não se contém com uma
gargalhada.
一 Eu cresci, papai, uma hora terá que aceitar.
Ele levanta incomodado, o olhar fixo na mulher distante e pela ajeitada de postura, irá
tentar se aproximar.
一 Preciso dar uma volta, só existe um homem que pode ficar perto de você, que é o seu
tio Ricardo, ele irá te proteger de qualquer safado que queira se aproveitar. Preciso tomar um ar,
já volto.
Se papai soubesse o que eu o Ricardo fazemos no escuro, talvez jamais me mandaria ficar
perto dele.
Ricardo puxa minha cadeira grudando-a na sua, nos entreolhamos, e uma voz interna
grita, porque estarmos assim tão próximos é quase danoso.
一 Ouviu o seu pai falando? Homens da minha idade são muito velhos para você. 一
Cruzo minhas pernas e seu olhar recai nelas, as admirando. 一 Chiara, ele não está errado. 一
Não respondo nada, uma brisa mais forte transpassa nossos corpos, um cheiro de terra úmida
invadindo as narinas.
一 Acho que irá chover… está vendo, o céu está acinzentado e não há estrelas.
一 É filha do seu pai mesmo… 一 provoca e agarro sua mão entrelaçando nossos dedos.
Seu olhar corre direto para o meu pai, mas ameniza a preocupação quando constata que
está conversando distraído.
一 Você é sim mais velho, e isso fez minha atração por você ser ainda maior. Não é
como os garotos da minha idade, você é responsável, tem uma pegada única, a voz grossa que
me faz tremer toda, e as suas atitudes o tornam irresistível. Não me importo, eu quero você.
A mão transpõe a minha e aperta. Uma música romântica começa a tocar, fico de pé e o
puxo pela mão.
一 Dança comigo. 一 Os olhos azuis cintilando pela luz do fogo, descendo por todo
meu corpo.
一 Não acho uma boa ideia.
一 Então acho que serei obrigada a chamar outro homem. 一 Giro e sua mão grande
segura o meu pulso.
一 Ninguém te toca a não ser eu... 一 Meu coração bate forte contra o peito.
CAPÍTULO 18

Ricardo levanta, andamos até os outros casais dançando e envolvo os braços ao redor do
seu pescoço enquanto suas mãos agarram minha cintura. Nossos abdomens se encostam, meu
estômago pesa e refreio todas as emoções que querem emergir. Não sou muito baixa e o encaixe
é perfeito. Papai nos olha sorrindo, ele realmente não imagina a atração que sentimos. Não me
orgulho de desejá-lo, sei que é errado, mas meu coração tem suas próprias escolhas e não
consigo controlar.
Ricardo luta para manter nossas partes íntimas afastadas, e mesmo assim posso dizer que
estou em chamas. Massageio suavemente com os dedos o seu pescoço, em carícias sutis nos
cabelos presentes na nuca enquanto seus dedos grandes pressionam levemente a minha cintura.
Movemos as pernas em sincronia, pegando um ritmo lento. Cada nota e brisa parecem estar em
câmera lenta, criando um vínculo íntimo que nunca imaginei que pudesse existir. Levada pelo
impulso encosto totalmente nossos corpos, quero viver cada segundo sufocante enquanto me
embala em seus braços.
Meus sentidos tornam-se mais aguçados, seu cheiro masculino, o corpo viril trocando
feixes de calor. A umidade fria da noite grudando na pele, e os sons dos animais começam a se
tornar mais distintos em nossos ouvidos, mesclando com a melodia das cordas do violão. Suas
mãos comprimem minha cintura e um ar gélido me atinge. Meus olhos se ajustam em seu rosto
sob a luz do luar, e do fogo. Ric sorri, meu peito dói desgovernado, os batimentos intensos, um
mundo novo , pulsante, colorido e eletrizante se descortina através dos nossos olhares.
Uma densa nuvem de desejo envolve minhas emoções enquanto seus olhos azuis
contemplam meus lábios. O que sentimos é tão confuso que não sei se o domino ou se ele me
domina. A música cessa, mas nós continuamos, seguindo fielmente o instinto carnal, só para
sermos despertados quando papai retorna, sorrindo.
一 Você fez o Ricardo dançar, isso é novo. 一 O rosto do meu tio enrubesce, e toca a
maçã do meu rosto, roçando o polegar, desfrutando da textura da pele.
一 Você teve sorte de eu não pisar nos seus pés. 一 Brinca tentando amenizar a tensão
sexual entre nós.
Sentamos novamente e pegamos novas bebidas.
一 Não deu certo com a sua paquera, Rico?
一 Não, ela está trabalhando esta noite; estava apenas flertando por diversão. Vamos
tomar uma bebida, é melhor. Hoje, estou focado apenas na minha filha. 一 Sorrio, mas meu
olhar permanece no Ricardo, viciado, querendo devorá-lo.
Uma nova música começa e observamos os casais dançando, os funcionários adicionando
mais lenha na fogueira, as mulheres gritando animadas à medida que a bebida faz efeito. Meu pai
troca a cerveja pelo uísque, eles conversam bastante, relembram a infância, falam sobre o
trabalho e ficam afetados pelo álcool. Meu ritmo é suave; depois do acidente, aprendi a me
controlar.
Após algumas horas, fizemos novas amizades, dançamos mais e meu pai está bastante
alterado, começou a xingar minha mãe, mesmo ela não estando presente. Ricardo segura sua
cintura, ajudando-o a caminhar até nosso alojamento. Ele continua falando sem parar, segurando
a garrafa de uísque pela metade na mão direita.
一 Ah, há quanto tempo eu estava ansioso para beber até cair.
一 Percebemos, Rico. 一 Passamos pela porta sorrindo e os dois seguem para o quarto.
一 Chiara, seu pai ainda falará por mais 2 horas até que durma de fato.
一 Boa noite. 一 Digo triste, indo para o sofá.
Fico meia hora em pensamentos profundos, com o rosto afundado na almofada,
revivendo a dança com meu tio. Pego a toalha que está estendida na cadeira e decido tomar outro
banho, desta vez quente. Enquanto os dois continuam conversando lá fora, entro no banheiro, tiro
o vestido, reúno os fios de cabelo em um coque no topo da cabeça e ligo o chuveiro. A água cai
em cascata pelos meus ombros, relaxando os músculos das costas. Fecho os olhos, inspiro
profundamente, enquanto meus pensamentos giram de forma estranha.
Saio do banheiro com a toalha ao redor do corpo, e está silencioso. O banho durou uns
bons minutos e talvez tenham dormido. Abro suavemente a porta do quarto, está tudo escuro,
mas a luz do corredor me permite ver na penumbra. Papai está de barriga para cima, o corpo
esparramado, sem camisa, a garrafa de whisky pelo fim no pé da cama, a boca aberta soprando
um ruído persistente. Certo, ele não está bêbado, mas definitivamente estava a um passo de
ficar. Meu olhar procura o Ricardo, está de lado, com a coberta até o pescoço e olhos fechados.
Pela expansão torácica está dormindo. Fico triste, não deveria, mas algo remexe em minhas
entranhas, como um peixe nadando contra a correnteza.
Entro no quarto, sem pensar, fecho tão silenciosamente a porta que os dois não acordam.
Só quero o calor do corpo dele no meu por alguns segundos. A janela minúscula ilumina apenas
o canto da parede e com dificuldade caminho nas pontas dos pés, sento na beirada da cama, solto
a toalha que protege meu corpo e entro embaixo das suas cobertas. Ricardo se move confuso
quando eu estendo a mão e a coloco em seu peito nu, abraçando-o.
一 Sou eu… 一 Sussurro.
一 Chiara, seu pai está na cama ao lado… 一 Cochicha.
一 Eu fico quietinha… 一 Sorrio discretamente.
Troco de posição ficando de costas e ele puxa minha cintura, colando nossos corpos.
Esfrego minha bunda no seu pau, ele sopra uma respiração em minha nuca, ficando excitado,
porque sinto-o ganhando volume, ficando ereto, a cada segundo mais duro. A mão direita sobe
da cintura até o seio esquerdo, apertando-o.
一 Está nua, meu Deus; Chiara, por que você faz isso comigo? Como devo lidar com
você? 一 Morde meu ombro, esfregando em seguida os lábios na pele, diminuindo a dor aguda
suportável.
Inclino a cabeça, soprando as palavras baixas contra seu rosto.
一 A melhor maneira de lidar comigo, é me dando o que eu quero.
A mão esquerda sobe para o meu pescoço enquanto a direita está por baixo de mim,
pressionando, querendo mais contato. Os dedos me estrangulam, ele move o quadril resvalando a
ereção constante e prolongada, esticando-se mais no calção. Refreio um gemido de escapar,
apenas ofego com todo meu corpo trêmulo de desejo. Ricardo solta minha pele e com aflição
enfia a mão embaixo das cobertas arrancando o calção. O pênis enorme caça minha boceta,
deslizando pela fenda da minha bunda, pressionando de leve até parar na abertura.
一 Encontrei… 一 brinca 一 É isso que você quer? 一 Encaixa a glande meticuloso,
minha boceta fica molhada e ele introduz lentamente.
一 Sim… quero você.
Os dedos correm em minha cintura, passando na virilha até parar em meu clitóris. Mordo
o lábio inferior me contendo, mas uma onda eletrizante se concentra no âmago, é gostosa e
ardilosa a forma que seus dedos circulam o meu botão.
一 Caralho, meu irmão que me perdoe, mas é impossível resistir a você aqui, na minha
cama. Fique quietinha e só respire, para não o acordar. 一 Cochicha em meu ouvido, e concordo
com um balançar de cabeça.
Em um jogo corpo a corpo, ele me vira, ficando por cima, abro minhas pernas enquanto
sua grossura queima lascivamente até estar totalmente enterrada em mim. Ele me beija, afobado,
cada segundo mais urgente, mordendo o meu queixo em seguida, descendo as mordidas até os
meus seios. As mãos apertam cada parte de mim, os dentes raspam em meus mamilos enquanto
os chupa, alternando entre os seios. Ricardo está faminto. A língua molhada de saliva faz
movimentos graduais nas aréolas, depois nos mamilos e arqueio as costas totalmente preenchida
por prazer.
Quero tanto gemer, mas engolfo em meu peito as sensações, deixando apenas uma grande
corrosão que faz meus poros arrepiarem. Deslizo minhas mãos em suas costas larga, os músculos
contraindo, transpirando, e a respiração ofegante. Papai se mexe na cama dele, paramos o ato,
um calafrio de pavor atravessa a nuca, mas ele apenas volta a dormir resmungando algo
indecifrável. Escapo dos seus braços, ele me caça agarrando meu quadril e o empurro. Ricardo
cai sentado na cama e subo em seu colo.
A luz fraca do luar transpassando o vidro da janela, me permite ver apenas um esboço
suave do seu rosto, ele está sorrindo. As mãos seguram meu quadril apertando minha bunda,
esfrego minha boceta em sua ereção, é tão gostoso que murmuro. Ele me beija, segura na base do
pau e encaixa na minha boceta. Inspiro profundamente, sua língua atiçando a minha enquanto
desço, deixando que sua ereção me penetre totalmente. Minhas pernas se fixam ao lado do seu
quadril, e me perco nos seus lábios carnudos.
Fico parada apenas me adaptando com seu tamanho, com os instintos novos borbulhando,
essa é a primeira vez que estarei por cima. Ricardo abraça meu corpo e me auxilia, as mãos
descem por baixo das minhas coxas e eleva o meu quadril. Quando a penetração está só na
glande ele solta cravando o pau bem fundo. Sibilo e bufo com todas as veias inflamando, a
boceta pulsando, implorando por mais e ele continua. Pego o ritmo e ele me deixa comandar
sozinha.
一 Ricardo… 一 sussurro 一 Você gosta da minha boceta? Eu quero ser melhor na
cama, quero ser a única a te tocar e quero também fazer isso todos os dias. 一 Ele esfrega a
boca no meu anterrosto e a risada soa irregular.
一 Chiara, mesmo sendo sua primeira vez ontem e ainda aprendendo, você é a melhor. A
única que faz o meu sangue ferver e eu sou todo seu, não quero nenhuma outra mulher, só você.
一 Cravo as unhas em suas costas, ele arfa. Inicio a cavalgada lenta, rebolando, projeto minhas
pernas para frente, empino a bunda, contraio os músculos das coxas e subo e desço, aumentando
o ritmo lentamente.
As mãos soltam minha bunda subindo para os meus seios, meu clitóris roça em sua pele e
meu coração bate fortemente descompassado. É imensurável e surreal sentir todo meu corpo
desintegrar em prazer, os instintos todos em polvorosa.
一 Estamos brincando com o perigo, seu pai pode acordar, mas porra, que delícia. 一
Os dedos brincam com meus mamilos, sopro um gemido alto e Ricardo sorri trazendo a mão
direita a minha boca, tampando-a. 一 Shhh, fique quietinha, seja uma boa menina, ou quer que
sejamos pegos no flagra? 一 Mordo sua mão, ele murmura e sensualmente deslizo meus lábios
até as pontas dos seus dedos, chupando-os.
Ele rosna excitado. A outra mão aperta o meu seio esquerdo, louco com o meu gesto.
Intensifico as sentadas, rebolando no seu pau agora quente como fogo, a cada entrada uma
ardência flui em meu ventre e explode em uma eletrizante onda de prazer que me obrigada a
continuar, mais forte, querendo gozar.
Chiara chupa os meus dedos, os lábios grossos, a luz quase nula brilhando a saliva no
contorno fino dos seus lábios, os olhos amendoados semifechados, os gestos expansivos do
quadril, porque mesmo que seja a sua primeira vez por cima, está fazendo algo grave, me
deixando louco. A voz é um ruído manhoso cortando o silêncio, o som da sua boceta molhada e a
bunda suada batendo em meu colo é obsceno. Desço o olhar para tentar ver algo, mas só o cheiro
do nosso descontrole causa uma compressão torácica, desarmando todos os meus medos, de
repente nem me importo de estar com ela em segredo.
Levo as mãos ao seu corpo tocando sua pele, suas curvas são envolventes, não me
contenho, agarro sua nuca puxando seu rosto ao meu, mordo seu lábio inferior carnudo, e sua
língua invade minha boca sugando com força. Sufoco, minha respiração entrecortada, esforço-
me para segurar o prazer latejante que faz os meus testículos retraírem a cada engolida de sua
boceta. Ela é tão apertada que o penetrar faz um calor queimar nossas partes íntimas. Fecho os
olhos, esfregamos os nossos corpos, sua cintura fina rebolando continuamente nos levando a um
transe bárbaro, nosso beijo em câmara lenta piorando a sensação cáustica que me corrói de
dentro para fora.
Os bicos dos seios ficam enrijecidos, os poros de sua pele eriçados, ela está quase lá
porque o corpo fica tenso. Meu indicador percorre seu abdômen até chegar no clitóris, ela treme,
a pouco luz reluz em seu corpo, os movimentos sincronizados das pernas, o quadril subindo,
tirando meu pau quase todo e segundos depois sou esmagado com seu aperto. Meu batimento
cardíaco vai às alturas, minhas pernas travam, os espasmos de prazer ocorrendo no meu pau.
Seus lábios param o beijo, sussurrando contra minha boca.
一 Goza dentro da minha boquinha, engolirei tudinho, bem gostoso.
一 Não antes de você gozar, te satisfazer é minha prioridade.
一 Estou pronta…
一 Respire fundo então, está tão molhada, e esse botãozinho aqui pronto para sentir o
poder dos meus dedos experientes. 一 O indicador contorna em uma pressão perfeita todo
tamanho, a lubrificação excessiva permitindo um deslizar contínuo, ela arfa, uma pressão
adormece minhas coxas enquanto a safada aumenta o ritmo, sentando no meu pau tão forte que
me enfraquece todo.
Com o polegar e os outros dedos brinco com seu tamanho, enquanto sinto minha ereção
ensopada com seus fluidos, o barulho das sentadas faz dores surgirem em meu testículos, e
minha boca seca.
一 Ah… 一 sopra, mas mordo sua boca, ela engole o gemido sussurrando aflita. 一
Vou gozar. 一 As pernas e o quadril tremem enquanto se entrega ao prazer, me molhando todo.
Beijo-a e continuo tocando-a, circulando seu clitóris. Meu coração fica em um ritmo
irregular, um quase ataque cardíaco, minha respiração trava, porque quero gozar. Rosno baixo,
fazendo força, tensionando os meus músculos, minha mandíbula contrai tentando me conter de
deflagar minha porra em sua quentura. Chiara ouve o ranger dos meus dentes e mesmo mole sai
de cima do meu colo enfiando meu pau em sua boca. Agarro seus cabelos, enrolando os fios na
minha mão, aperto-os sem controle, pressionando sua cabeça, batendo meu pau em sua garganta,
ela engasga gemendo e despejo meu líquido. Uma onda de calor sobe por todo meu corpo, meu
estômago pesa e reprimo um rosnado que quer escapar. Puta que pariu, é impossível sentir isso
por uma pessoa. Que prazer do caralho!
Relaxo, meus dedos afrouxam o aperto dos fios enquanto a Chiara continua mamando o
meu pau com gulodice. Falta o ar, está tão sensível que me tremo. Suas mãos pequenas passeiam
em minha coxas e puxo-a aflito. Ela senta novamente em meu colo, a boca estupidamente
cheirando a gozo, engulo seus lábios com os meus, sugando a sua língua. Queria experimentá-la
devagar, apreciando tudo, e preciso fodidamente estar a sós com ela, sem qualquer risco de
sermos pegos. Chiara é tudo para mim, me faz perder o controle, me liberta das minhas amarras
internas, da minha constante cobrança, porque ela me aceita até tendo essa parte podre e doentia
dentro de mim.
Deito na cama puxando-a comigo e aperto seu corpo ao meu, seu rosto esfrega-se em
meu peitoral. Transpiramos exaustos e satisfeitos, Rico se mexe e ficamos quietos. Um ruído de
vidro arrastando no chão corta o silêncio, um pavor me domina, mas tento manter a calma. Ele
tenta levantar, mas desaba no colchão de novo, caindo em sono profundo. Chiara respira
profundamente e não dissemos nada, apenas queremos continuar sentido isso, a adrenalina, o
perigo e o prazer proibido que tem roubado nossa sanidade. Merda, tê-la em meus braços é
minha nova obsessão, quero isso todo dia. Já erramos, agora quero aproveitar tudo.
CAPÍTULO 19

Um aroma de café faz meus olhos abrirem totalmente. Salto de susto, adormeci, está de
dia e estou na cama de casal. Suspiro aliviada, tateio o corpo confirmando que sim, estou vestida
com uma camiseta. Verifico a cama do meu pai e do Ricardo, estão vazias. Levanto, pego o
roupão de banho porque a toalha não está aqui, saio do quarto, e os dois estão sentados na mesa
minúscula, distraídos, conversando.
一 Precisa comer, Rico, ontem exagerou na bebida.
一 Deitei e simplesmente apaguei.
Percebemos, papai.
Entro no banheiro, faço a higiene pessoal e ao terminar coloco o roupão de banho no
corpo molhado. Penteio o cabelo, passo o gloss para hidratar os lábios e saio indo direto para a
mesa. Ricardo me olha, automaticamente arrepio, ainda sinto os toques bem vívidos em minha
pele.
一 Espero não ter roncado muito, filha. Quando bebo demais, acaba acontecendo.
Sento e preencho a xícara com café, negando com a cabeça.
一 Não, estava tão cansada que desmaiei, não ouvi nada. O que faremos agora de
manhã?
一 Pensei em bebermos, tomar banho de lago, preciso relaxar e não sair daqui com o
corpo dolorido. A idade de ficar me aventurando acabou. 一 Pausa dando um gole no café antes
de continuar 一 Tem uma área privada do outro lado do lago, então não teremos problemas. No
almoço farão carne assada com molho barbecue, estou ansioso por isso.
一 Por mim, tudo bem, fazer nada é uma das coisas mais relaxantes. 一 Apoia Ric,
sorrindo.
一 Colocarei um biquíni antes de irmos, quero entrar na água.
一 Chiara, hoje está mais fresco, ficará doente. 一 Ricardo contraria e enrugo a testa
mirando o seu rosto.
一 O clima está perfeito, sou forte, tio Ric, não fico doente fácil. 一 Lanço uma
piscadela antes de virar a xícara na boca.
Levanto e os dois me analisam.
一 Rápido, se arrumem, daqui a pouco temos que ir embora, vamos aproveitar!

Retiro a roupa, a brisa gelada me atinge, mas o sol quente ameniza o frio da manhã. A
grama está repleta de orvalho, as borboletas pousam nas flores que margeiam o lago e poucas
pessoas desfrutam dessa parte reservada, a maioria prefere a agitação e o contato humano.
Prefiro ficar aqui, sob a vigilância do Ricardo em cada movimento que faço, daqui posso vê-lo
distante, se aproximando lentamente.
Coloco a roupa na espreguiçadeira que arrastei até a margem do rio, pego o protetor solar
e passo uma camada no rosto. Ricardo para ao meu lado, e papai que estava na área aberta da
pousada traz um lençol grande nos braços, mas está com o olhar fixo no celular. Meu tio arranca
a camisa, o peitoral musculoso e tatuado me faz suspirar, ele senta na espreguiçadeira, focado em
mim.
一 Preciso ir do outro lado, para ver uma coisa. 一 Avisa meu pai e Ricardo revira os
olhos.
一 A coisa deve ter um rosto lindo. 一 Provoca.
一 Não é isso não, é rápido, daqui a pouco estou de volta.
一 Tá bom, pai, pode ir tranquilo. Fingiremos que não irá beijar alguma mulher por aí
一 Papai gargalha e sai, retornando para o alojamento.
Aproximo-me do Ricardo e sento em seu colo de costas.
一 Chiara, seu pai ainda pode nos ver.
一 A vida é feita de oportunidades.
一 É mesmo? Não esqueça que sempre tem funcionários andando no local.
一 Tio, poderia passar protetor em mim?
Junto meus cabelos fixando-os no ombro esquerdo, deixando minhas costas exposta.
Movimento o quadril instigando seus sentidos, esfregando minha bunda no seu pênis. As mãos
grandes imediatamente espalmam os meus ombros e a boca beija minha nuca. Arrepio.
一 Precisa parar de me provocar assim, é difícil pra caralho me conter. Nem consigo
mais sentir que essa porra é errada, porque, Chiara, você faz o que quer comigo.
Inclino a cabeça, olhando-o de soslaio, e seu rosto vem de encontro ao meu. O nariz roça
em minha bochecha e a língua molha minha pele sugando-a, percorrendo um caminho gostoso
até o meu ouvido.
一 Quero te foder o dia todo. Sabia que seu pai fará uma viagem no mês que vem? 一
Sussurra 一 Teremos dois dias juntos, dois dias para matarmos esse desejo e depois apagá-lo do
nosso sistema. Não posso continuar te comendo porque estou possessivo ao ponto de não me
importar mais se ele vai ver.
Suas palavras fazem meu coração acelerar, minhas mãos suarem e entrego o frasco de
protetor a ele, vasculhando minha mente, em busca das palavras certas.
一 Eu não quero apagar, e quando não me quiser mais, terá que trancar a porta do seu
quarto, porque se eu pudesse, estaria te beijando o tempo todo. 一 Ele sorri.
Deslizo o quadril me encaixando no meio de suas pernas. Ele abre a tampa do protetor,
despeja na palma da mão e passa em minhas costas. O toque é suave, a textura úmida aderindo
em minha pele, a brisa suave aguçando meus sentidos. Ele percorre os dedos em cada canto, nos
ombros, no pescoço, no dorso, nas laterais, e desce lentamente pela lombar até a região superior
da minha bunda.
一 As suas covinhas de Vênus são bem-marcadas, vamos protegê-las também. 一 Ele
perpassa os dedos aplicando mais creme.
Fico de joelhos na espreguiçadeira, ele aperta minha bunda e desliza as palmas por toda
nádega. Chegando na popa, escorrega para a parte interna das minhas coxas, não resisto e abro
um pouco as pernas.
一 Droga, está vendo? É difícil resistir, está tão quente aqui e não é pelo sol. 一 Giro o
corpo, ficando de frente.
一 Agora aqui, na parte da frente. 一 Mordo o lábio inferior, dobro uma das pernas
sentando por cima do meu pé esquerdo e a outra estico tocando o chão.
Fixamos nossos olhares. Puxo o frasco de sua mão e despejo acima dos seios.
一 Me toca tio, Ric… passa direitinho, por favor. 一 Ele abre e fecha a boca, desiste de
falar e sorri de canto.
As sobrancelhas de juntam enquanto percorre o olhar no meu corpo, jogo a cabeça para
trás, apoiando as mãos em suas coxas, e ele traz os dedos até o líquido espalhando por todo meu
peito, sobe na clavícula e retorna para o meio dos meus seios, circulando ao redor deles. Meus
mamilos endurecem em uma excitação instantânea, ele molha os lábios e um pouco de suor
escorre em suas têmporas.
一 Caralho, cada segundo que passo olhando para você, fico em dúvida se devo
agradecer ou amaldiçoar o dia em que pecamos. 一 Sorrio, arrumando a postura, elevo os
braços e passo ao redor do seu pescoço.
Aproximo meus lábios dos seus e estico a língua contornando sua boca. Faminto, ele a
morde, murmuro de dor. Nossos olhares parecem se fundir, porque uma conexão inexplicável
não me deixa reagir, suspiramos, há tanta súplica flamejando em suas pupilas, tanta distorção de
sentimentos em suas íris azuis, que está a cada segundo mais estreitas.
É doentia e gostosa a intensidade que atravessa minha alma, não é só desejo,
conversamos pelo olhar, na respiração que hora está lenta ou ofegante, nos toques, na
confrontação dos nossos corpos no escuro. Ricardo não é apenas um desejo insano, é minha
punição, porque nossas partes se completam, é meu tormento, e sim, ele é real.
Sua mão direita rasteja para dentro do meu biquíni passando protetor no seio direito,
aproveita para estimular meu mamilo e em seguida segue para o outro enquanto mantemos nosso
vínculo visual. Solto seu pescoço, me entregando a sensação gostosa, ele coloca mais creme na
palma e passa em minha barriga, descendo para a pelve, me levanto e fico de pé ao seu lado. Ele
lambuza minhas pernas com mais e espalha por toda pele, apalpando minhas coxas, panturrilhas
e retorna na virilha que ficou sem passar. Um sorriso malvado se forma em sua boca, as covinhas
marcando sua face. Como é capaz de existir um homem tão atraente como ele? Quase como um
sonho, e se não estivesse em minha frente, até duvidaria da realidade.
Ricardo aplica creme nas mãos, olha ao redor e então me toca, na virilha, levando a mão
para dentro da calcinha, deixando minha pele arrepiada. Fecho os olhos porque as carícias são
prazerosas, as mãos correm nas laterais da alça e retornam ao centro, esquentando todo meu
corpo. Quando afasta, volto a abrir os olhos, triste por ter terminado.
一 Pronto, sua pele está protegida.
一 Posso passar em você… 一 ofereço, ele arqueia a sobrancelha.
一 Chiara, já passei, e outra, você excitada ninguém percebe, mas se eu ficar mais duro
do que já estou, vão chamar a polícia. 一 Inesperadamente agarra minha cintura, se levanta e me
abraça com carinho. 一 Vamos deixar as coisas proibidas para as nossas noites, no escuro.
Amanhã você começa no banco, não se esqueça.
Retorno a realidade com suas palavras, estava perdida em seus braços. O puxo para a
grama, escondendo nós dois atrás da espreguiçadeira. Acomodo-me sentando no meio de suas
pernas e ele me abraça.
一 Acha que consigo trabalhar lá?
一 Claro que sim, está com medo?
一 Não sei se quero seguir os mesmos passos de todos vocês, ser bancária e trabalhar
com isso, mas papai ficaria tão decepcionado comigo. 一 Ele me aperta e beija meu pescoço
negando com a cabeça.
一 Ele jamais ficaria decepcionado, nem eu, e ninguém, sabe por quê? Todos queremos
que escolha o que te faz feliz. 一 Inspiro profundamente e inclino o corpo para olhá-lo.
一 Queria te beijar… 一 Suas mãos agarram meu rosto grudando nossas bocas.
Um beijo longo, intenso, calmo, com muito desejo, experimentando a textura, o sabor de
nossas línguas e lábios. Quando termina, quero mais, mas Ricardo encara algo ao longe e inclino
a cabeça para olhar, papai está retornando.
一 Vamos aproveitar, almoçar bastante e depois voltar para casa. Hoje não irei ao seu
quarto porque precisa descansar para prestar atenção em tudo que te ensinarem amanhã,
entendeu?
一 Tudo bem, mas precisará me compensar depois. 一 Sorrio, levanto e corro para o
lago pulando na água.

Papai se despede da mulher, beijando-a. Confiro através do vidro o ambiente, me


despedindo do lugar, foi incrível, os momentos que vivi aqui com o Ricardo não serão
esquecidos. Meu estômago está pesado porque comemos demais no almoço. Ricardo sai de
dentro da recepção guardando o cartão na carteira. Os dois entram no carro e em minutos
estamos na estrada seguindo para Camberra. Pego um livro na bolsa, recosto no banco e leio.
O caminho é tranquilo, os dois conversam sobre o banco e de repente sou retirada da cena
dramática, porque papai me chama.
一 Chiara, amanhã saímos bem cedo.
一 Estarei pronta, papai.
一 Resolveu, Rico, em que departamento ela irá trabalhar?
一 Sim, Juliano me disse durante a semana que estava precisando de uma secretária.
一 Ele me contou no dia que me deu carona que serei a secretária dele. 一 Ricardo nega
com a cabeça.
一 Não concordo.
一 Por quê? Qual o problema? 一 Pergunta papai.
一 O Juliano ficou dando em cima da Chiara na minha festa de aniversário, e até a
chamou para jantar.
一 Juliano é um bom gerenciador, ele só foi simpático, mas de qualquer forma… 一 Ele
pensa por alguns segundos, se tem algo que tira a paz dele é imaginar um homem tendo algo
comigo, o que é ridículo 一 … então ela fica com você.
一 O quê? comigo?
一 Sim, assim não corro o risco de nenhum macho alfa querer ficar com a minha filha.
一 Pai, tem certeza de que é uma boa ideia eu ficar com o tio Ricardo? 一 Rebato,
afinal, será difícil manter o controle.
一 E por que não? Me dê um bom motivo. 一 Paraliso, mordo o canto da bochecha.
一 Bom, é… Não tem motivo! 一 Gaguejo completamente nervosa, os motivos eu não
posso contar para ele.
一 Decidido então, você será a nova assistente pessoal do seu tio!
一 Tio, não se preocupe, prometo fazer tudo que pedir direitinho e estar sempre
disponível para o que precisar, serei uma excelente assistente. 一 Ele se inclina, de esguelha me
encara, sorrio de canto, escondendo a satisfação que sinto toda vez que o provoco com duplo
sentido que só nossa mente corrompida entende.
Precisarei ser forte, ele me deixa tão rebelde, como se fizesse toda indecência se
apoderar de mim.
CAPÍTULO 20

Deixo meu corpo cair na cama após um longo banho quente, o cansaço faz todos os meus
músculos doerem. Passei as últimas três noites com o Ricardo, mal dormimos e realmente
preciso estar bem para amanhã. O que ameniza a tristeza de não o receber hoje, é que agora
passarei o dia todo ao seu lado. Apago a luz da mesa de cabeceira, puxo as cobertas, fecho os
olhos, mas a porta se abre.
Ricardo adentra sorrindo, sem camisa, apenas de bermuda. Hoje especificamente
ninguém quis jantar, o almoço ainda estava pesando e papai foi dormir cedo. Silenciosamente
para ao meu lado e me beija com paixão, seus lábios deslizam suavemente nos meus e desde que
tudo aconteceu entre nós, entreguei-me de corpo a alma a ele.
Ricardo afasta o rosto me admirando, as mãos acariciam os meus cabelos ainda úmidos e
leva uma mecha ao nariz, fechando os olhos enquanto inala o cheiro de shampoo floral.
Suspiramos, um misto de emoções invade o meu peito sempre que estamos frente a
frente, por menor que seja o contato. Ele esfrega o rosto no meu, a barba crescendo arranha
minha pele, o perfume de loção pós-barba amadeirado é irresistível e toco com os dedos sua
mandíbula, contornando-a com gestos sutis. Ele cheira a lateral do meu pescoço e beija meu
ombro.
一 Só passei para te dar um beijo de boa noite. 一 Sussurra puxando as cobertas que me
cobriam, admirando o meu corpo nu.
Projeta o dorso beijando meus seios, na sequência a minha barriga, a parte superior da
minha boceta e para, umedecendo os lábios antes de beijar meu clitóris. Murmuro abrindo as
pernas, e os dedos me tocam, sentindo-a por completo antes de iniciarem uma estimulação tão
lenta que esquenta meu corpo.
Solto um gemido gostoso, a língua desliza como uma lança, os lábios grossos chupando e
soprando picantemente, agarro os seus cabelos, com força. Minhas pernas amolecem e às dobro
elevando o quadril, pressionando minha boceta em sua boca.
一 Quando você toca em mim, perco totalmente o meu raciocínio. Ric, só de você relar
no meu corpo, eu gozaria. Seus dedos são tão grandes, ásperos e habilidosos, e a língua dança tão
eroticamente que é impossível não querer você o tempo todo. 一 Ele sorri, parando as chupadas
para falar.
一 Seu gosto é delicioso, eu que não consigo resistir… 一 o hálito quente desmancha no
meu botão, fico molhada 一 Olhar você se contorcendo, gemendo e querendo mais é a coisa
mais sexy que já assisti. 一 Os dedos me penetram seguindo para o ponto certo porque meu
corpo produz espasmos de prazer.
Os lábios carnudos perpassam com rigor, alternando com a língua. Comprimo o
abdômen, os reflexos corporais distribuem pequenos choques, as ondas flamejantes elevando as
contrações simultâneas em minha boceta. Arqueio o corpo, os dedos dele brincando com o meu
ponto interno, e arrepios frios correm nos meus braços. Os batimentos ganhando força, massivo
em meu peito, e inconscientemente forço minhas pernas a fecharem, totalmente sensível e
entregue.
A língua profana em um ritmo potente, sem aumentar, nem diminuir, ele sabe o que está
fazendo, e o quanto me leva ao delírio. Os dedos golpeando, deslizando facilmente pela
lubrificação potencializada. Uma sensação crescente e deliciosa me conduz ao êxtase.
一 Ah vou gozar, tio. 一 Minhas palavras o atiçam, e com o golpe final pressiona um
pouco mais a língua no clitóris, no mesmo ritmo, e perco o ar atingindo o auge do prazer,
gozando em sua boca.
Meu quadril se projeta em sua face, ele chupa todo meu líquido, enfraqueço, o atrito
fazendo meu estômago torcer, é corrosivo. Ricardo só para quando estou sem mais nenhuma gota
porque estava faminto do meu sabor.
一 Você é viciante, Chiara, a personificação da própria dependência. Estou muito fodido.
一 Agarro seu pescoço e puxo-o, seu corpo cai por cima do meu e nos abraçamos forte.
一 Também quero fazer carinho em você. 一 Cochicho, sua boca me morde na maçã do
rosto.
一 Descanse, eu que sou apressado e estava angustiado por não ter te proporcionado
prazer hoje. Amanhã você me recompensa, tudo bem?
一 Fica comigo, dorme aqui, eu quero tanto ficar abraçada com você. 一 Esfrego minha
face em seu pescoço, o peitoral nu está quente, e o perfume inebriante.
一 Chiara, não me peça assim, eu…
一 Por favor, só ficaremos assim, grudados. Não me deixe sozinha. 一 Ele me aperta e
se encaixa ao meu lado, e puxo rapidamente as cobertas, cobrindo nossos corpos.
一 Tudo bem, eu fico até você dormir. 一 Beijo suavemente seus lábios e me
aconchego em seu peito. 一 Descansa, amanhã temos trabalho, minha linda assistente.
Sorrio, e fecho os olhos com o calor do seu corpo relaxando todos os meus músculos e
em segundos adormeço em seus braços.
Amanhece, tateio a mão na cama procurando por ele, mas não o sinto. O sol surgindo por
entre as nuvens. Confiro no relógio e levanto pegando a toalha para tomar um banho. Finalizo e
escolho entre as roupas novas algo executivo. Um terno de manga longa preto chama minha
atenção, pego-o, e decido colocar um vestido vermelho de gola alta colado ao corpo e um salto
preto. Visto a roupa, que fica no tamanho ideal e sem decote, mas o formato das minhas curvas
ficam sensuais. Estou sexy. O ambiente é profissional e quero passar uma imagem de responsável
e deixar o papai feliz.
Arrumo os meu cabelos, deixando-os soltos, os fios longos estão com o caimento perfeito
nos ombros e passo um leve batom avermelhados para realçar os meus lábios. Meu pai é
extremamente bem-sucedido, um bancário que criou uma rede de bancos privados e agora
acumula dezenas de funcionários em cada agência. Hoje possui seus gerentes e diretores
administrativos, como, por exemplo, o meu tio, que saiu do Canadá para liderar uma parte desses
bancos.
Pego a bolsa com meus pertences e sigo para a cozinha.
Adentro o cômodo com o aroma de café invadindo minhas narinas. Ricardo está de
costas, vira-se ao ouvir o barulho dos meus saltos batendo contra o piso, a blusa social está
aberta enquanto desliga a cafeteira. Os cabelos molhados estão aderidos à testa e ele bate as mãos
tentando secá-los.
Seu olhar me encontra, desliza no meu corpo e sorri.
一 Bom dia, cerejinha! Está simplesmente perfeita. 一 Seu rosto está um pouco corado.
一 Quer café?
一 Bom dia, obrigada, eu quero.
一 Não esqueci da minha dívida… 一 enrugo a testa pensativa 一 Amanhã mesmo
comprarei um estoque de leite de amêndoa e baunilha.
一 Tudo isso é para me agradar? 一 Arqueio a sobrancelha assistindo suas mãos
puxarem a camisa enquanto abotoa de baixo para cima.
一 Sim! Gosto de te ver sorrindo. 一 Minha boca se abre ilustrando um sorriso largo.
Papai entra na cozinha arrumado.
一 Bom dia, coloquem o café nos copos térmicos, vamos tomando, quero mostrar o
banco para você antes de ficar com seu tio na recepção dele.
一 Claro, estou pronta.
一 Colocarei os sapatos, estarei de carro logo atrás. 一 Avisa Ricardo, servindo um
copo e me entregando.
一 Obrigada, tio.
一 Tome, precisará estar bem atenta, não pegarei leve com você, lá não será minha
sobrinha e sim minha funcionária. Nada de privilégios. 一 Engolfo a vontade de respondê-lo
dizendo que sou o que ele quiser, sobrinha, funcionária, desde que me deixe beijá-lo escondido
algumas vezes.
一 Tudo bem, eu sou prestativa. Juro.
一 Isso mesmo, filha, logo você pegará o jeito. Vamos!

Chegamos ao banco alguns minutos depois. O trajeto não é longo, o prédio de três
andares é imenso e todo espelhado por fora. Encontramos o Ricardo no estacionamento e
entramos, o chão é de mármore, um branco lustroso, refletindo nossas imagens de tão polidos, os
lustres são dourados e estão espalhados por todo teto alto emoldurado. As paredes cinzas, com
diversos itens decorativos, desde estátua, flores e uma diversidade de caixas eletrônicos.
Passamos as portas magnéticas, os dois cumprimentam e acenam para cada funcionário
que encontram. Papai chama atenção, mas é pelo meu tio que elas suspiram admiradas enquanto
ele fala o nome delas, seguido de um “bom dia” sorrindo. Nem me notam.
Ricardo tem quase 2 metros de altura, os olhos extremamente azuis como dois oceanos
petrificados, um sorriso perfeitamente branco e um olhar que pode matar qualquer mulher de
prazer.
一 Chiara, essa é a recepção de atendimentos gerais. 一 Avisa papai, mostrando a
enorme sala principal.
O lugar possui bancos confortáveis espalhados de maneira ordenada, os balcões de
atendimento são de madeira na cor preta e os funcionários uniformizados para atendimento ao
público. Ele continua andando adentrando um corredor ao fundo, em direção às outras áreas
administrativas.
一 Aqui é a minha recepção, e do lado oposto fica à do Ricardo. O restante você
conhecerá gradualmente, conforme forem ocorrendo as atividades do dia. Boa sorte com o seu
tio. 一 Ele me abraça.
一 Obrigada, acho que irei precisar.
一 Você, na verdade, teve sorte, todos amam o Ricardo. Nos encontramos na hora do
almoço no refeitório. 一 Confirmo seguindo o meu tio.
O balcão está vazio e entramos direto em sua sala, fechando a porta. A postura de homem
de negócios se desfaz e, senta-se na cadeira mais relaxado.
一 Pronta para começar?
一 Sim.
O ambiente é amplo, de frente para a porta de entrada fica uma enorme janela de vidro
que se estende por toda parede, com vista para a cidade. Atrás de sua mesa de trabalho tem um
armário de madeira embutido na parede, está repleto de objetos decorativos, certificados e livros.
Tem duas cadeiras para atendimento frente a mesa que fica no centro, porém, próxima ao
armário.
A coloração cinza das paredes se mesclam perfeitamente com a cor tabaco dos móveis. O
restante da sala possui 4 poltronas no lado esquerdo sobre um enorme tapete preto, com um
aparador decorado com flores e uma cafeteira de cápsula.
一 Em primeiro lugar, você tem que fazer tudo que eu pedir, certo?
一 Certo, senhor Ricardo Mandolini. 一 Aproximo-me da mesa, sentando na cadeira.
一 Aqui está minha agenda, controlará tudo aqui no escritório, desde reuniões até
viagens, então você precisa estar disponível o tempo todo.
一 Eu estarei sempre disponível para você!
一 Ótimo, a qualquer hora, entendeu? 一 O olhar malicioso preso ao meu.
一 Estarei disponível até nas madrugadas, chefinho. 一 Sorrio semicerrando os olhos e
somos interrompidos por uma batida leve na porta.
一 Pode entrar! 一 Ordena.
Juliano e meu pai entram, levanto da cadeira e os dois se aproximam.
一 Queria dar bom dia para sua mais nova assistente, a que fez questão de roubar de
mim. 一 Ironiza Juliano.
一 Bom dia, Juliano, é impossível roubar algo que nunca foi seu. 一 O homem sorri,
mas fica tenso, como se as palavras do Ricardo o atingisse de maneira negativa.
一 Não fique triste, Juliano, mandei a Bethany contratar uma moça com experiência
para você, assim não atrapalha seu rendimento. Ricardo tem tempo de sobra, o trabalho dele está
sempre dias à frente do esperado.
一 Organização, esse é o meu lema. 一 Provoca fixo no rosto do Juliano, desde o início
o Ricardo acha que ele está interessado em mim.
一 Bom dia, Juliano, estou feliz por trabalhar aqui com o meu pai e o meu tio. 一
Chiara responde, seu rosto fica corado, ela sabe que não gosto dele, que sim, estou com ciúmes.
O comportamento dele me preocupa, dizer que a roubei fez meu sangue ferver e analiso o
seu comportamento. Juliano se aproxima e coloca a mão levemente no braço dela e beija a maçã
do seu rosto. Chiara sorri tímida e depois seus olhos pousam nos meus. Ele continua deslizando a
mão no braço, e quero quebrar todos os dedos dele, um de cada vez. Só posso estar louco por
pensar isso, mas imaginar e ver outro homem tocando nela me deixa puto de raiva.
一 Você está muito linda, filha, a roupa está perfeita! 一 Rico sorri para a filha ao
elogiar a roupa dela. Eu já havia reparado nisso, embora ele não tivesse notado.
Ela realmente está linda, a boca está mais rosada e ela abre um sorriso animada.
一 Obrigada, papai!
一 Está linda mesmo. 一 Completa o Juliano. 一 Nos vemos na hora do almoço! 一
Os olhos dele encaram os meus, como se me xingasse mentalmente.
Pode chorar, filhinho de papai, mas nela você não colocará as mãos.
Eles saem da sala e fecham a porta. Assim que escuto o trinco, me aproximo da Chiara.
Seguro sua cintura apertando com força, ela me olha atentamente, o azul de suas íris estão
vívidos. Quero ter certeza de que não sentiu nada ao olhar para o Juliano, que só se sente atraída
por mim, que jamais precisarei vê-la nos braços de outro homem porque agora ela está aqui,
repleta de olhares para admirá-la e talvez eu esteja exagerando na preocupação.
Levo minha mão direita ao seu rosto e deslizo os dedos, acariciando suas bochechas
coradas e mordo seus lábios. Grudo minha boca na dela e enfio minha língua pedindo passagem
para beijá-la. Chiara abre a boca e quando nossas línguas se chocam, um misto de possessão e
desejo borbulha em meu peito. Quero tê-la a qualquer custo, estou fascinado pelo seu cheiro,
pela sua pele, pelos seus lábios e pela sua imensidão.
Tudo nela me atrai.
As mãos delicadas deslizam no meu peitoral, sentindo os músculos por baixo do tecido
porque apalpa forte, e continua descendo até parar na minha calça, ela abre o zíper e entra com
sua mãozinha macia na minha cueca. A essa altura, já estou duro demais e só fecho os olhos. Ela
puxa o meu pênis para fora e o envolve com movimentos de descer e subir em todo
comprimento. Apenas a beijo profundamente enquanto geme contra os meus lábios e me
masturba lentamente.
Meu coração palpita, minhas coxas ficam tensas, o toque é gostoso, e afasto meu rosto
para olhá-la, ela morde os próprios lábios excitada e aperta a mão ao redor do meu pau, solto um
gemido de desespero e prazer. Não deveríamos estar fazendo isso, não aqui, mal chegamos. Ela
fica de joelhos, esfrega a glande em sua boca e engole o meu pau de uma vez. Fecho os olhos
atordoado, mas não quero pará-la. Puxo seus cabelos com cuidado, tirando minha ereção da sua
boquinha gostosa. Ela entristece, mas o olhar é safado.
一 Quer mesmo que eu pare, titio? 一 Ela acaba de foder com toda minha mente.
CAPÍTULO 21

Chiara sabe como me deixar louco. Seu olhar suplicante fixado no meu. A boca
esfregando-se na glande, estou tão duro que queria fodê-la aqui. Sou salvo por alguém que bate
na porta, eu seria incapaz de afastá-la, jamais. Arrumo minha calça e fecho o zíper, ela levanta-se
com uma expressão torturante, aquela bem safada que me ganha todas as noites. Sento na minha
cadeira atrás da mesa, Chiara arruma o vestido no corpo sorrindo.
Safada.
一 Pode entrar. 一 Eleonora minha recepcionista entra, Chiara a reconhece porque bufa
baixo, deve ter se lembrado quando contei que tive um caso com ela, de uma noite no ano
passado.
Eleonora é bem insistente quando se trata de dar em cima de mim e todos no escritório
sabem que ela queria algo a mais. Os homens em particular me pressionaram por não ficar com
ela, até que em uma conferência bebi demais e acabei aceitando. Porém nunca a tratei mal e
expliquei que não aconteceria de novo.
Ela é uma mulher muito bonita e uma excelente profissional, nada mais. Um sorriso está
em sua face ao olhar para a Chiara com simpatia.
一 Bom dia, Chiara, seu pai está todo orgulhoso que a filha agora também está na
empresa.
一 Bom dia, tenho certeza de que será uma experiência incrível trabalhar em família. 一
Diz irônica, me encarando.
Não quero que Chiara pense que eu não presto porque tem algo mais acontecendo dentro
de mim. De repente quero parecer o homem certo para ela, mas nunca serei. Não sou apegado a
ninguém, nunca fui, mas ao vê-la perco meu foco, como se uma onda de devoção tomasse conta
de tudo que penso e faço. Hoje meu foco principal é tê-la ao meu lado, ouvir sua voz suave no
meu ouvido e senti-la ceder ao meu toque.
一 Muito bem, Chiara, vou te auxiliar no que precisar, antes de ser a recepcionista do
Ricardo, fui a assistente pessoal dele, então conheço bem a agenda de reuniões e os prazos de
entregas de documentos. 一 Chiara enruga a testa encarando-a, queria saber o que tanto pensa.
一 Não precisa, Eleonora, eu mesmo ensinarei tudo a ela. 一 Ela arregala os olhos
surpresa, mas disfarça com meio-sorriso.
一 Tem certeza, meu alfajor? 一 Chiara a olha na mesma hora, o nariz franze, os lábios
se comprimem e está furiosa, droga, será difícil saber quem é mais ciumento aqui, a expressão
muda.
一 Alfajor não é a maneira adequada de chamar o seu superior. Ele chama-se Ricardo,
alfajor é um doce, apelido ridículo para uma funcionária usar ao invés do nome. Onde está o seu
profissionalismo? 一 Eleonora junta as mãos à frente do corpo, amedrontada.
一 Me desculpe, senhorita Mandolini.
一 Que isso não se repita.
Ela me olha sem graça achando que irei ajudá-la, mas, na verdade posso dizer que Chiara
me tem de todas as formas e pode falar o que quiser, para quem quiser, que estarei ao lado dela.
Decido quebrar a tensão.
一 Temos uma reunião, começa em cinco minutos. 一 Chiara olha a agenda
concordando. 一 Fazemos essa especificamente todo início de expediente para manter o pessoal
focado, unidos e confiantes. Vamos lá, Eleonora por favor, peça para a funcionária do refeitório
mandar os cafés para a sala de reuniões, e fale para não esquecer o pedido especial.
一 Claro, senhor Ricardo, com licença.
Ela olha para a Chiara tentando sua aprovação antes de sair, mas minha cerejinha está
folheando a agenda, séria. Rico sempre me falou do gênio marcante da filha, e já consigo sentir
que nossos sentimentos serão completamente intensos e agudos.
一 Podemos ir?
一 Sim. 一 Ela passa em minha frente e sigo logo atrás.
Passamos pelos corredores, apresento todas as salas e os funcionários até chegarmos na
sala de reuniões, entramos e todos se acomodam.
Os funcionários que não conhecia me cumprimentam, e em seguida todos se sentam. O
lugar é gigante, a mesa possui ao menos 50 cadeiras, e alguns até permanecem de pé por não ter
lugar para todos. Ricardo assume a frente ficando no centro, ele é excessivamente lindo, seu
olhar é confiante, possui um porte de homem forte e determinado. Seus cabelos são
extraordinariamente sedosos, com um caimento perfeito que se alinha com seu rosto quadrado.
Ele me olha arrebatadoramente, extorquindo para si toda minha admiração, meus sentimentos e
meus pensamentos.
Estou entregue a esse homem, e tudo que quero é ficar com ele mesmo que seja proibido.
Juliano senta no lado oposto, de frente para mim. Ele é muito bonito e interessante e acho que
realmente está tentando se aproximar. Volto minha atenção para o Ricardo que pigarreia e todos
ficam em silêncio, concentrados nele.
一 Hoje é mais um dia de oportunidades, dia de concentrarmos nossas energias no
melhor que temos aqui. 一 Leva o indicador a cabeça, se referindo a mentalidade e inteligência.
一 Não olhe para o relógio, faça como ele, continue se movendo, continuem transformando
pensamentos em ações. Nosso maior sucesso vem da dedicação, dediquem-se sempre a evoluir e
tudo ao seu redor será transformado. E, para começarmos bem o dia tomaremos café, nosso
maior companheiro de trabalho. Para cima, pessoal, ajudaremos nossos clientes com amor e
dedicação. 一 Todos aplaudem, faço o mesmo, ele é perfeito.
A funcionária entrega os copos térmicos para todos. Papai para ao lado dele provocando-
o.
一 Meu irmão, o homem que inspira as pessoas. 一 Os dois sorriem.
Ricardo anda até a porta, outra funcionária segura um copo diferente de todos os outros
na mão. Ele pega, agradece a mulher e caminha em minha direção. Para ao meu lado e empurra
para mim.
一 Esse é seu, não fala para ninguém, mas tem leite de amêndoa e baunilha. 一 sussurra
e se afasta.
Meu coração quase falha uma batida quando pego o café, levo de uma vez aos meus
lábios, dando um gole enorme. Solto um gemido de satisfação, ele abre um sorriso amplo,
formando as covinhas em suas bochechas. Ricardo é melhor do que imagino, melhor do que
qualquer pessoa que já conheci na minha vida, só consigo sentir nesse momento uma paixão
violenta aquecer meu coração. Droga, estou me apaixonando por ele, claro que estou.
一 Você deixará essa menina muito mimada, Ricardo. 一 Avisa papai como um alerta,
Ricardo nega, e Juliano arqueia a sobrancelha, dirá algo porque estava prestando atenção em nós.
一 Tio é para isso mesmo, Rico, é como um segundo pai. 一 A expressão do Ricardo
muda drasticamente após o comentário.
Ele leva o olhar ao chão coçando os cabelos ruivos sem graça. Porém não é só eu que
estou de olho nele porque de repente a Eleonora fala comigo do meu lado oposto.
一 A forma como o seu tio fica sem graça com algo é incrível, ele é um homem gato
demais, às vezes nem acredito que dormi com ele, mas também, um homem lindo desse, pode ter
a mulher que quiser no mundo.
Ele pode ter várias mulheres mesmo. Menos eu!
Encaro-a e sei que enfatizou o “dormir com ele” para passar a impressão de posse. Tola,
mal sabe ela que o Ricardo já tem dona, que sou eu, e ao contrário do que pensa, não me importo
com o seu passado, o que nutro, esse sentimento que cresce e desabrocha como uma flor está
firme, é extremamente forte e impenetrável. Levanto, saio de perto dela e fico ao lado do
Ricardo, ele desvia o olhar do meu, algo o está o incomodando, mas sei que tenho que esperar o
momento certo para perguntar.
Retornamos para a sala dele, não quis falar o que o incomodou e percebo que trouxeram
uma mesa nova, menor, para que eu fique próxima. Sento na cadeira, abro o notebook e me
familiarizo com o sistema online. Ricardo tira um tempo para explicar toda a agenda, mostrar a
lista de contatos, como acessar as contas dos clientes, fazer depósitos específicos, quais os sócios
e quando paro para respirar um pouco é o horário do almoço. Entramos no refeitório, nos
servimos com a comida e papai está sentado almoçando com vários funcionários, conversando,
sorrindo, ele é um homem simples, loquaz, não se sente superior a ninguém, e o amo por isso.
Amy acena de longe, Ricardo segue até ela e sentamos na mesa.
一 A comida aqui é perfeita, toda semana entregamos cestas de doces e chocolate para as
meninas da cozinha. Uma ideia do seu tio, claro, e elas merecem muito.
Admiro-o, ele sorri levando o garfo a boca.
一 Os funcionários precisam ser reconhecidos, todos tem valor aqui na nossa empresa.
一 Eu tenho valor, tio? 一 Provoco, ele engasga, dá um gole em uma das várias garrafas
de água que deixam sobre a mesa.
一 O maior valor de todos. 一 Confessa me olhando com ternura.
Minha boca seca, a comida parando na garganta, não esperava essa resposta.
一 Ah, que fofos, uma família completa agora.
Recupero a fala após beber uma água.
一 Amy, me desculpe por aquele dia lá em casa, eu não quis te ofender, é que as vezes
eu não penso direito e falo as coisas impulsivamente.
一 Não fiquei ofendida, e se não fosse impulsiva, desconfiaria, seu pai é igual, vive
xingando quando algo dá errado e depois ressurge com o rabo entre as pernas pedindo desculpa.
一 É exatamente assim. 一 Concorda o Ric sorrindo.
一 Obrigada por entender que temos uma personalidade forte.
一 Esquece isso, nem me lembrava mais.

O dia passa rápido, foram horas de muito trabalho, e quando estamos saindo da sala não
consigo parar de sorrir. Estive tanto tempo sofrendo, após o acidente me isolei, e me deixei cair
no vício e perdi tantas coisas, mas agora eu quero aprender, quero ser melhor. Ricardo foi tão
atencioso, quando me frustrei tentando fazer algo que estava errado, ele disse que eu conseguiria
e sim, eu consegui.
Entramos no elevador e papai me abraça.
一 Como foi?
一 Perfeito, me senti viva de novo, eu gosto disso, eu só tinha me esquecido do quanto
gostava. 一 Ele beija minha testa com carinho e ficamos abraçados até chegar no
estacionamento.
Ricardo segue para o carro dele.
一 Chegarei alguns minutos depois, passarei em um lugar. 一 Queria perguntar para
onde vai, mas engulo as palavras e abro a porta do carro, entrando.
一 Tá bom, Ric. 一 Diz papai.
Meia-hora depois chegamos em casa e corro para tomar um banho, mas penso nele, no
quanto estou agoniada por dentro sem saber onde está. Saio do banheiro e travo os passos ao
passar por sua porta, está fechada, ainda não chegou. Inspiro profundamente, e sigo para o meu.
Coloco o pijama de seda branco, calço minha pantufa e desço para preparar algo para o jantar. O
cheiro do Ricardo está aqui, talvez esteja ficando obcecada demais. Passo pela sala de jantar e
encontro os dois, meu pai e o Ricardo sentados na mesa.
Papai está apenas de bermuda, com os cabelos molhados, enquanto meu tio ainda veste a
camisa social do trabalho, que está aberta, revelando o peitoral seminu, e o terno jogado na
cadeira ao lado. Meus olhos percorrem as pizzas de vários sabores sobre a mesa.
一 Demorou no banho, estávamos te esperando. 一 Ele diz.
一 O quê? Mas… 一 balbucio.
一 Seu tio quis fazer uma surpresa e comemorar seu primeiro dia.
Levo a mão direita ao peito, na região do coração e me aproximo.
一 Obrigada, Ricardo, isso significa muito.
Queria correr para os seus braços, beijá-lo com violência, mas apenas sigo até ele
depositando um beijo em seu rosto, em seguida vou até o meu pai e faço o mesmo.
一 Nem a mamãe me mima tanto. 一 Sorrimos.
一 Vamos comer que ainda tem a sobremesa e preciso muito de um banho.
一 Quer tomar banho primeiro? Esperamos. 一 Ele nega.
一 Aí a surpresa perde a graça.
Pego uma fatia da pizza de queijo e mordo afobada. Ricardo me observa, e parece mais
feliz que eu mesma. Certo, talvez as coisas estejam fora de controle e pela primeira vez sinto o
medo de que ele insiste em relembrar quando estou em seus braços. Como faremos depois?
Ignoro as dúvidas e comemos devagar, degustando cada sabor diferente que trouxe. O jantar é
bem divertido, os dois conversam bastante e falam sobre o dia, sobre os clientes que eles
atenderam.
Ricardo conta os erros e acertos que fiz. Agora talvez ele esteja sendo apenas o meu tio e
gosto de ter os dois, o Ricardo obsessivo que dorme na madrugada comigo e o meu tio que me
mima e me elogia na frente de todos.
Quando estamos satisfeitos ele rapidamente vai até a cozinha retornando com uma caixa
e deposita em minha frente.
一 O sabor foi seu pai que escolheu, disse que é o seu preferido.
一 Cereja… 一 Respondo abrindo a caixa empolgada.
Encontro uma torta redonda grande, a massa crocante dourada à mostra nas laterais, com
um creme de chocolate e muitas cerejas com chantilly decorando por cima. Minha boca saliva, e
passo o dedo no chantilly levando os lábios, chupando o gosto doce. O rosto do Ricardo
enrubesce, e sem jeito caminha até o aparador pegando os pratos de sobremesa.
一 Adoro isso, obrigada.
一 Aqui a faca, corte um pedaço para nós. 一 Pede papai e corto servindo os dois.
Coloco uma fatia grande no meu prato e experimento amando a explosão de sabores
doces. Meu celular toca em cima do aparador, levanto e pego conferindo que é a mamãe. Coloco
no viva-voz e me sento para continuar comendo.
一 Oi mãe.
一 Ah, minha bebê, teve o seu primeiro dia de trabalho hoje. Já liguei para o Ricardo e
fiz um ótimo trabalho em elogiar você… 一 Ergo o olhar fixando nele, que sorri e gesticula um
“sinto muito” com os lábios por não ter contado. 一 Como foi? Diga.
一 Foi incrível, olha o que eles fizeram agora a noite, te enviarei por mensagem… 一
Tiro uma foto e envio, demora alguns segundos para ela ver.
一 Meu Deus, não sei quem estragará mais você, seu pai ou o Ricardo.
Papai aponta para o Ricardo, sorrindo.
一 Esse é o primeiro de muitos dias, aprenda bastante, em breve estará na faculdade e
será de grande ajuda essa experiência.
一 Sim, senhora.
一 Credo, senhora não.
一 Aproveite muito também, jovem senhorita. Até mais.
一 Filha, espera… 一 desligo.
一 Bom, estou satisfeito, preciso dormir. 一 Papai levanta.
一 Pode ir, eu coloco os pratos na lava-louça.
一 Tá bom, filha, boa noite para vocês. 一 Ele beija minha testa e sobe para o quarto.
O silêncio é ensurdecedor, e agora somos só nós dois. Nosso desejo exalando porque
queríamos estar sozinhos onde poderíamos nos tocar, foi difícil manter o controle no banco e
agora estamos livres para compartilhar nosso segredo sujo. Levanto, sigo até ele puxando a torta,
paro ao seu lado e enfio o dedo no chocolate, Ricardo suspira pesado.
Passo o doce no meu pescoço descendo pelo meio dos meus seios e tiro um deles para
fora melando o meu mamilo de chocolate.
一 Porra, Chiara. 一 Protesta aflito.
Pego uma cereja e esfrego no bico que endurece e depois enfio na boca saboreando-a.
Passo a perna direita por cima do seu corpo, sentando no seu colo, uma perna de cada lado com
os pés apoiados no chão. Ele ofega. Deslizo as mãos no seu peitoral e retiro a camisa, deixando-a
cair por trás dele na cadeira.
一 Preciso que chupe a minha pele, estou toda suja.
一 A sua falta de modos me deixa com vontade de te bater. 一 Ele beija meus lábios e
desce a boca em minha pele, transpassando o queixo, o pescoço onde lambe o chocolate e segue
para o centro dos meus seios.
Arrepio, e esfrego minha boceta no seu pau, que está ficando duro. Está faminto,
desesperado. A boca chega ao meu mamilo e chupa com tanta força que solto um gemido.
Escutamos passos na escada e escorrego por entre suas pernas, me enfiando embaixo da
mesa. Por sorte a toalha branca estende-se até quase o chão. Ricardo junta a cadeira na mesa e
vejo os pés do meu pai na porta.
一 Cadê a Chiara?
CAPÍTULO 22

Meu coração bate desgovernado, papai acaba de perguntar por mim.


一 Disse que ia no banheiro, por quê? 一 Ele se aproxima sentando na cadeira que eu
estava.
一 A secretária nova do Juliano é a mulher perfeita para você nesse momento. 一
Ricardo ri alto.
一 Achei que falaria outra coisa. 一 Responde com a boca cheia.
一 Sério, ela tem um corpo bonito, 30 anos, a bunda é perfeita, até procurei ela na
internet.
一 Você procurou só para me mostrar? Rico, vou vê-la amanhã. 一 Espalmo a perna
dele, assusta-se, mas não reage, finge que nada está acontecendo.
Rastejo as mãos em suas coxas, a cadeira está bem encaixada na mesa o que me permite
tocá-lo tranquilamente. Ele não precisa de outra mulher, só de mim.
一 Olha essa bunda. 一 Aperto seu pau com força.
一 Cacete… 一 Grita aflito.
一 Não disse, uma bela mulher, você precisa curtir um pouco, não quero que sinta que
estou deixando a Chiara com você enquanto aproveito, não é isso. Ela sabe se virar sozinha.
Nossa vida de homem livre precisa ser retomada. 一 Abro o zíper da calça, as pernas travam
enquanto puxo sua ereção de dentro.
一 Caralho… 一 solta nervoso.
一 O que foi?
一 Não estou pensando nada disso, é, fica tranquilo, não tenho saído com ninguém
porque estou cansado, só isso. 一 Disfarça.
Passo os meus lábios na cabeça do seu pênis, em seguida engulo enfiando até minha
garganta. Ricardo tosse aflito.
一 Nossa, engasguei com a torta.
一 Faz mais de um mês que não sai com mulher nenhuma.
一 Cara, eu estou bem assim, em breve aparece uma gostosa. Pare de cuidar da minha
vida amorosa. 一 A última palavra sai arrastada porque começo a masturbá-lo forte, está tão
duro e excitado que fico molhada. 一 Agora saia daqui antes que a Chiara volte, pensará que
somos dois safados. 一 Papai levanta e chupo-o mais rápido, adorando o fato que nem com o
meu pai aqui seu pau se abalou.
Deslizo as mãos em suas pernas, amaciando seus músculos, subo para as coxas, sua
grossura ficando encharcada de saliva porque não diminuo o ritmo, engulo gostoso.
一 Paul te ligou hoje? 一 Ele oscila, arrastando a voz, em uma luta insana para
continuar falando.
一 Paul? 一 Nem raciocina.
一 Ricardo, como esqueceu dele, caralho. O Paul da prefeitura.
一 Ah, sim, falei! 一 mexe o quadril aflito 一 Está tudo certo, não se preocupe.
一 Ótimo, vou dormir então, Chiara deve ter desistido de comer mais, não voltou até
agora.
一 Deixe-a dormir, deve estar muito cansada. Eu guardo tudo aqui, ainda preciso ler
alguns papéis no escritório, pode descansar. 一 Enfio a mão no meio de suas pernas segurando
um dos testículos, ele bate o talher no prato.
一 Bom, boa noite, amanhã depois que ver a garota me fale o que achou. Ela se chama
Emily.
一 Eu falo, seu safado. 一 Papai sai do cômodo e sobe a escada sorrindo.
O corpo do Ricardo se desmancha na cadeira, as pernas trêmulas enquanto degusto seu
pau com tanto desejo que ele finalmente geme. Arranco seus sapatos, as meias e puxo as calças
com força. As mãos entram por baixo da toalha segurando minha cabeça.
一 Droga, o que está fazendo? Quase não consegui me segurar. 一 Inesperadamente
escorrega para debaixo da mesa.
Sua estatura enorme faz a cabeça bater na madeira, sorrimos e suas mãos grandes me
prendem no chão. Ficamos ofegantes, ele gira o meu corpo, puxa meu short do pijama deslizando
em minhas pernas até arrancá-lo, estou sem calcinha e deita-se por trás de mim. O pau duro
percorre a fenda glútea até achar minha boceta. Penetra, a boca estupidamente beija minha nuca,
segundos depois morde minha pele, o quadril se projetando de encontro o meu corpo,
introduzindo sua ereção bem fundo. Murmuro.
Os dentes marcam meu ombro com uma mordida forte, os dedos deslizam a alça do
pijama deixando meu seio esquerdo exposto. Ele o aperta, o indicador estimulando o bico e um
calafrio percorre a minha espinha.
一 Chiara, você me tira do sério. Droga, estou nu te comendo debaixo da mesa. Olha só
o que você me faz fazer.
一 Não para, por favor… 一 suplico 一 Eu gosto de sentir essa adrenalina com você.
一 O quadril colide fortemente contra o meu, o pênis cravando tão fundo que tremo.
Minha pele suada grudando no chão frio, seu corpo quente distribuindo calor no meu.
Não seguro os gemidos porque suas investidas são quase uma punição pela minha indiscrição.
Gosto de provocá-lo, de fazê-lo perder a postura não importa como. O pênis entra e sai apertado,
ardendo minha boceta e curvo o corpo querendo mais.
一 Vamos, você tomará banho comigo.
一 Está falando sério?
一 Sim, você me deixou louco, agora preciso de você. Lembre-se…
一 Sem barulho, ficarei quietinha… 一 respondo, ele sorri.
Saímos debaixo da mesa, recolocamos as roupas e afobados limpamos tudo. Apagamos
as luzes e subimos para o quarto. Paro na porta do meu pai e a televisão está ligada, ele sempre
dorme assim. Ricardo me puxa para o quarto e seguimos direto para o banheiro.
Ansioso, tira a peça de cima do meu pijama, admira os meus seios, toca-os sutilmente e
desce as mãos para a cintura, segura no cós do short descendo a peça em minhas pernas
deixando-me nua. Seu olhar despe a minha alma, e não sinto vergonha, ao contrário o que mais
gosto é de estar assim, sob seu olhar incisivo. Agarro sua camisa aberta e a arranco. O peitoral
forte fica exposto, está brilhando de suor, desço a mão em sua calça abrindo o botão e o zíper
enquanto nos mantemos presos em uma conexão visual.
一 Chiara… 一 sussurra.
一 Ricardo… 一 Grudamos nossos corpos nus.
Há tanta urgência em nossos toques, na pressão que suas mãos distribuem em minha pele.
Sugo seus lábios em um beijo frenético. Esse sentimento avassalador está se espalhando como
uma doença contagiosa, derrubando todas as barreiras morais que existiam enraizadas em nossas
mentes. Deixo que ele possua meu corpo em um abraço doloroso, pungente, esfregamos nossas
peles, meus mamilos dançando no seu peitoral tatuado. As mãos descem e agarram minha bunda
puxando-me para o seu colo. Envolvo as pernas ao redor de sua cintura. Minha boceta encaixa-se
em seu pau, ele penetra, sem cerimônias, cru, ardente e sussurra com a voz grossa em meu
ouvido.
一 Eu não consigo tirar minhas mãos de você. 一 Todos os poros de minha pele se
arrepiam, torno a beijá-lo, lento e intenso.
Sua língua perpassa sobre a minha como se estivessem em coexistência, como se uma
dependesse da outra para viver. Esqueço tudo ao redor, deixando que me beije loucamente
enquanto a chama da paixão cresce pouco a pouco. O perfume do seu corpo adere-se ao meu,
nossos toques esquentam a minha região íntima porque estou pulsando. Ricardo com facilidade
me segura no ar, as mãos por baixo das minhas coxas me projetam para trás, e assistimos ele
bater nossas extremidades, penetrando com força em minha boceta.
Um gemido gutural me escapa, incontido, seu pau imenso entra rasgando as paredes,
causando um incêndio sem precedentes. Apalpo seus braços musculosos, as veias dilatadas
estendendo-se por todo antebraço. Ele é forte, gostoso e rosna bombeando mais forte. Meus seios
balançam tamanha força e os seguro brincando com os mamilos, ele morde a boca, fascinado,
louco, assistindo meu prazer crescer, quase roubando minhas forças. Desço os meus dedos da
mão direita até o meu clitóris e o estimulo, quero sentir tudo, a explosão, os sentidos eletrizando
no meu corpo, e as sensações excitantes começam a borbulhar em meu peito.
一 Não para por favor, Ric, está tão gostoso, eu… não vou aguentar muito. 一 O tórax
dele se expande, as mãos continuam firmes, batendo minha boceta, enterrando seu pau bem
fundo e fico trêmula.
Ricardo me olha faminto e pronto para me jogar na parede para fazer tudo que quiser do
meu corpo, e ele faz. A parede gelada nas minhas costas me faz arrepiar, enquanto o suor escorre
pelas suas têmporas, os cabelos ficando úmidos enquanto deixo alguns gemidos escaparem.
一 Porra, eu estou viciado em foder você, Chiara. 一 Mordo seu lábio inferior, minha
língua em sua pele, sentindo o gosto salgado viciante, o cheiro do nosso sexo.
一 Ah, eu amo ser fodida por você. Eu sou sua, titio, e em breve minha bunda virgem
também, então não para, por favor, mais forte… 一 Ele franze o cenho, contrai a mandíbula
penetrando com força, meu corpo bate contra o azulejo, a mão desce ao meu clitóris e os dedos
experientes massageiam meu botão sensível. Murmuro perdendo as forças.
Meu corpo fica em espasmos.
一 Vou gozar… 一 Ele rosna, os dedos mantém o ritmo, o quadril desenfreado batendo
o pênis com força.
Ricardo arfa, o corpo enrijece, os músculos do abdômen musculoso contraem assim como
os meus, no limite, perdendo o controle.
一 Porra, vou gozar dentro de você, não consigo sair, é tão gostosa, puta que pariu. 一
Jogo minha cabeça para trás batendo na parede, uma onda colossal roubando todos os meus
sentidos, e chego ao ápice, flamejando em todas as veias, estou queimando.
Gozamos juntos, nossos corações acelerados, quase saltando na boca, ficamos trêmulos
porque não contenho a sensação, não é só o gozo, é um squirt molhando toda suas coxas, ele
sorri e beija minha boca. Fechamos os olhos com o prazer se distribuindo por cada parte que
parecia adormecida demais para sentirmos, nos faltando o ar e murmuramos em nossas salivas,
na troca quente e fervorosa de imoralidade.
Ele para de bombear, ficando lá dentro. Os dedos soltam meu clitóris. Afastamos nossas
faces ofegantes, nos admirando com fervor. Ricardo é o único homem que quero ter em minha
vida, não importa como, nem o caos que tudo ficará, não quero ser tocada por outras mãos, nem
beijada por outra boca, só quero ele.
一 Minha Chiara… 一 Enche a boca ao falar, e fecho os olhos.
一 Meu Ricardo… 一 Confirmo, abrindo os olhos, vendo seus dois oceanos
apaixonados, ele está sentindo isso, eu sei que está.
一 Sou louco por você. Hora do banho! 一 Ainda presa em seu colo me leva para o box
e liga o chuveiro.
A água quente relaxa nossos músculos e ficamos abraçados por longos minutos, apenas
desfrutando da sensação. Ricardo pega o sabonete e passa por todo meu corpo fraco, lava minha
região íntima e depois faz o mesmo em seu corpo. Eles nos enxagua e passa o seu shampoo nos
meus cabelos.
一 Ficará com o meu cheiro.
一 Eu amo o seu cheiro. 一 Abraça-me gostoso.
O banho é lento, calmo, e quando terminamos nos enrolamos nas toalhas e retornamos ao
quarto. Seco minha pele e depois me enfio em suas cobertas. Ricardo se encaixa ao meu lado,
nosso olhar se encontra e só quero me afogar nos olhos azuis que me remetem ao oceano e sua
enorme profundidade. Ficamos assim, fixados, por tempo demais, no silêncio da noite, na
claridade das luzes noturnas. Adormeço pouco tempo depois, e no meio da noite acordo com a
sensação do seu abraço carinhoso. Ele sorri timidamente e fala baixinho.
一 Preciso sentir o calor do seu corpo para dormir em paz. 一 Afundo o rosto em seu
peito, coloco minha mão sobre seu abdômen próximo à cintura.
O corpo é quente e me faz ter pensamentos sujos. Beijo o peitoral que está colado em
minha bochecha e ele revida me apertando em seus braços. Adormeço novamente.
Quando amanhece o procuro, mas estou no meu quarto. Como eu queria tê-lo aqui e
agora.

Já se passaram 15 dias desde que comecei no banco. Tenho me adaptado à rotina:


reuniões todas as manhãs, revisão de contas e contratos administrativos antes do almoço. À
tarde, revisão das contas inativas, oferta de novos benefícios, agendamento de videoconferências
e assim por diante. Ricardo tem se mantido calmo ao me ensinar, e temos nos beijado escondidos
várias vezes. Cada dia ao lado dele no escritório e nas madrugadas tem mexido comigo, porque
sempre quero mais.
Hoje ele está preso em uma reunião importante com um cliente, e anoto tudo sobre os
novos planos de investimentos, créditos, seguros e empréstimos apresentados pela Audrey.
一 Estagiárias... 一 Aponta o indicador nos papéis, encarando-nos do canto direito da
sala. 一 Façam as planilhas de juros, por favor, queremos tudo anotado para não ocorrer
confusões, fixem junto aos documentos de vocês. 一 Todas concordam. 一 Podem ir, estão
liberadas.
Juliano levanta a mão, está com o notebook digitando tudo.
一 Audrey, pode repassar os números, alguns passaram batidos nas minhas anotações.
一 Elevo a mão, ele me encara.
一 Anotei tudo, posso te passar.
一 Claro, tem problema ser agora? Eu gosto de deixar tudo pronto instantaneamente.
一 Por mim, tudo bem.
Chiara se levanta; hoje está usando um vestido acima do joelho, colado, cinza, e as curvas
do seu corpo são deslumbrantes. No pescoço, um colar dourado brilha demasiadamente, e os
lábios reluzem de gloss. Suspiro; ela definitivamente é linda. Rodeia a mesa e traz suas
anotações. Os cabelos ruivos caem no rosto quando puxa a cadeira e senta ao meu lado. O cheiro
doce que ela exala invade minhas narinas, e aprecio fascinado.
一 Aqui estão todos os números. 一 Encaro o papel e anoto no arquivo digital.
一 Não seria mais fácil trazer seu notebook? 一 Questiono.
一 Minha memória é ótima, só preciso anotar coisas específicas que dificilmente
lembrarei. 一 Os olhos azuis dela encaram a tela e com o indicador aponta para um dos
parágrafos que escrevi.
一 Aqui, está errado. 一 Franzo a testa e analiso ao redor, notando que estamos a sós.
一 Audrey disse que esses juros menores serão inseridos na taxa de seguros para imóveis, está
faltando essa informação.
Fixo minha atenção nela. Encontrei alguém mais detalhista do que eu; isso é insano.
Sempre fiquei pilhado com a falta de atenção das estagiárias; algumas estão aqui há um ano e
ainda fazem tudo errado, mas Chiara chegou há poucos dias. Meu coração acelera. Nunca fui de
ficar pensando em uma mulher específica porque sempre concentro minha atenção em produzir e
trabalhar, mas desde o aniversário do Ricardo, ela não sai da minha cabeça. Algumas vezes
chego a fantasiar como seríamos juntos e até me sinto um louco por isso. Talvez seja uma paixão
platônica, porque sei que não deveria nem tentar ficar com ela; afinal, o Rico e o Ricardo jamais
iriam concordar, mas eu gosto de imaginá-la, de fantasiar nós dois conversando, saindo, na cama
nos beijando; é gostoso, e quero que ela me deseje também. Saber que ela é perfeccionista,
detalhista, organizada como eu só faz minha identificação aumentar.
一 Sempre foi organizada? 一 Ela sorri, encara-me, levando à caneta a boca e mordisca
a tampa pensativa.
一 Sim, é algo meu, sabe, eu gosto de deixar tudo pronto com antecedência. O meu tio
Ricardo é bem pior, então estou pegando o ritmo dele.
一 Confesso que às vezes sou exigente demais.
一 Logo as meninas pegam o jeito, é que aos finais de semana gostava de ajudar minha
mãe com as organizações bancárias dela.
一 Certo, você seria a assistente perfeita, droga, saí perdendo nessa quando seu tio ficou
com você. 一 Ela sorri, puxa os papéis levantando-se, queria que ela ficasse mais e uma
pontada de raiva até surge por me lembrar que o Ricardo me tirou essa oportunidade.
Ele aparece na porta e fixa o olhar nela.
一 Terminei a reunião, posso te passar tudo? 一 O olhar vem até mim.
一 Claro, estava indo até você.
一 Obrigado, Chiara. 一 Agradeço.
一 De nada. 一 Segue até ele, que apoia a mão em suas costas e a conduz pelos
corredores.
É ela, eu sei, é exatamente como imaginei, a garota perfeita para mim.
CAPÍTULO 23

O fim do dia chega, hoje foi intenso, e faltam poucos minutos para irmos embora. Coloco
as pastas por ordem alfabética, estou na sala de arquivos. Agacho para encaixá-las nas últimas
gavetas e vejo dois pés fixados ao meu lado. Assusto caindo para trás, elas se espalham no chão
enquanto ergo o rosto para identificar quem é. É o Juliano. Ele se abaixa, as mãos seguram
minha cintura descendo para o quadril, fico incomodada e jogo o corpo para o lado caçando as
pastas com a mão.
一 Desculpe, não queria te assustar, entrei apenas para pegar um arquivo que preciso
para amanhã. Eu te ajudo.
一 Não precisa, está tudo bem, estou guardando isso aqui mesmo. 一 Ele afasta as
mãos.
一 Chiara, queria te perguntar algo.
Abro a gaveta e rapidamente encaixo na ordem, forço as pernas e levanto quando
termino.
一 Claro, pode falar.
Juliano cruza os braços rente ao peito. Está usando um terno cinza, os cabelos estão
alinhados para trás e os olhos verdes em uma análise intensa, indo do meu rosto, aos meus
cabelos e depois descendo no meu corpo. Ele não é ruim, sempre que nos encontramos pelos
corredores me cumprimenta, tenta puxar assunto, hoje na sala de reuniões o ajudei, mas é
desconfortável porque sempre o encontro até onde não deveria, por exemplo, aqui. Normalmente
as assistentes pegam as pastas, onde estaria a dele? Por vezes parece forçar um contato.
一 Quando te conheci no aniversário do seu tio gostei muito de você. Eles são
ciumentos, então tenho ficado distante, mas estou disposto a enfrentá-los para jantar com você.
Gostaria de sair comigo?
一 Não posso, é proibido qualquer tipo de relação entre funcionários. 一 Ele gargalha,
certo, talvez essa desculpa tenha sido ridícula.
一 Acho que quem fez as regras não as cumpre, viu?
一 Olha, não acho uma boa ideia, mas obrigada pelo convite.
Projeto o corpo dando um passo em direção à porta, ele entra em minha frente. Fico
tensa.
一 É por causa deles? Eu sei que você quer tanto quanto eu.
Enrugo a testa assimilando suas palavras. Ele está dizendo como me sinto? Tentando
falar por mim?
一 Não Juliano, não é isso. Estou há pouco tempo aqui na Austrália, me adaptando, não
tenho interesse em me relacionar agora.
Só quero o Ricardo.
一 Acho que está sendo sufocada, viver numa casa com dois homens ciumentos afeta
qualquer mulher. Espero que possamos ser amigos, o que acha? 一 Estica a mão como se
fossemos selar um acordo.
一 Claro, sem problemas. 一 Aperto nossas mãos, querendo sair rápido da sala.
一 Prometo estar sempre por perto, seremos bons amigos.
Chiara rejeitou meu segundo convite para jantar; isso nunca aconteceu comigo antes, e
uma lacuna imensa se formou em meu estômago. Passo a mão direta nos cabelos, sentindo uma
agonia nova dentro de mim. Deveria ser fácil, mas por que não está sendo? Saio da sala, tentando
passar despercebido pelos caras que estavam olhando, mas é impossível; todos estão esperando
para saber quando irei "comê-la", como havia afirmado na festa.
一 Ela te deu um fora, certo? 一 Nego com a cabeça, disfarçando minha irritação.
一 Claro que não. Nem falei nada sobre sairmos ou algo do tipo, estava apenas falando
sobre o trabalho.
一 Melhor evitá-la, Juliano, Rico é um bom patrão, não faça ele te demitir por dormir
com a filha dele.
一 Não dormirei porque eu não quero, mas aposto que ela está a fim de mim. 一 Um
deles gesticula a cabeça discordando.
Uma das estagiárias, a Beca, se aproxima, paramos o assunto, pego os papéis que me
entrega, confiro e devolvo.
一 Está errado. Refaz.
一 Juliano, está certinho, igual a todos os outros. 一 Ela afirma.
一 Está diferente, espaçamento, impressão, refaça. Vocês precisam ser mais atentas,
todas estão sempre fazendo tudo errado. 一 Ela fica cabisbaixa e sai levando os papéis.
Pego minha pasta e retorno para a minha sala. Está anoitecendo, hoje demorei mais que o
normal para concluir as metas do dia, porque não parava de pensar na Chiara, nos olhares que
trocamos na sala de reuniões.
Pego os meus pertences, saio da sala apagando as luzes e sigo em direção ao elevador.
Vejo-a, ao lado do Ricardo, sorrindo, as mãos nos braços dele segurando-o. Com ele parece estar
sempre à vontade, diferente do restante das pessoas, e de mim. Eleonora corre para aproveitar e
descer comigo, seguro a porta e ela se posiciona ao meu lado, sorrindo.
一 O que aconteceu? 一 Indaga.
一 Como assim? 一 As portas se fecham.
一 Nosso senhor perfeccionista está mais rigoroso hoje do que normalmente é. 一
Sorrio, certo, esse apelido é só porque sou exigente demais, mas na verdade não posso contar que
sou obsessivo por controle e odeio tudo diferente do que planejei e quase sempre as estagiárias
fazem um trabalho péssimo.
一 É que hoje elas erraram mais, só isso. 一 Analiso-a, Eleonora é uma das poucas que
não levei para a cama, talvez porque fica sempre suspirando pelo Ricardo. 一 O que fará
amanhã à noite? 一 Ela franze o cenho e entrelaça os dedos das mãos, está nervosa.
一 Por enquanto nada, por quê?
一 Gostaria de sair para jantar? 一 Pensa por alguns segundos fazendo charme.
一 Claro, seria ótimo. 一 Aceita, aperto os punhos, era só um teste, e a minha mente
instantaneamente pesa a porra da mesma pergunta do dia todo, por que a Chiara não respondeu o
mesmo?
A porta do elevador se abre, aceno, ela se despede com um sorriso e sigo para o meu
carro. O caminho é um pouco longo, mas nada exagerado, quando estaciono em casa, percebo
que mais uma vez a minha funcionária mudou os vasos de planta de lugar. Desço furioso, é
difícil para as pessoas conseguirem fazer do jeito certo?
Passo pela sala e escuto-a na cozinha preparando o jantar, subo direto para o meu quarto.
Arranco a roupa do corpo e entro embaixo da água quente, há vários projetos novos e preciso
focar neles. Quando termino o banho coloco uma camisa, a bermuda e desço para o jantar. A
mesa está posta e Lenna está parada segurando a jarra de suco. Sento-me.
一 Boa noite, senhor.
一 Boa noite.
一 Servirei o seu suco. 一 Coloca o copo em minha frente e despeja, bufo subitamente.
一 Esqueceu que dia é hoje, Lenna? 一 Ela faz uma expressão de tristeza abaixando a
cabeça.
一 Não senhor, é que infelizmente as polpas de laranja do mercado estavam em falta.
一 Fosse em outro comprar.
一 Eu fui senhor, em mais dois, mas era o mesmo fornecer e também não tinha. O outro
mercado mais próximo ficava na saída da cidade, demoraria duas horas andando, atrasaria todo o
jantar.
一 Não importa o quão longe precisasse ir, quando estiver marcado no cardápio de dieta
suco de laranja, não troque pela porra do suco de maracujá. que é para amanhã. Além disso,
esteja avisada de que descontarei do seu salário qualquer atraso no jantar.
Lenna foi uma indicação da minha ex-babá, a Janete, estava precisando de um serviço,
mas nunca faz nada direito, as roupas do meu trabalho, que ela deveria passar impecavelmente,
sempre ficam amarrotadas, por vezes atrasa o jantar em quase dez minutos, muda tudo de lugar,
eu tenho sido legal, mas estou perdendo a paciência. Cresci sem a presença dos meus pais, eles
passavam muito tempo no trabalho e era a Janete que cuidava de tudo. Nunca me faltou nada
material, e sempre tive tudo que sempre quis, com os anos fui ficando sistemático, gosto de
controlar as coisas, de ter tudo planejado, e quando tudo desanda, fico bagunçado.
Ela concorda apressadamente gesticulando com a cabeça.
一 Pode trazer o jantar, preciso descansar, amanhã tenho uma reunião importante.
一 Sim, senhor.
A semana passa rapidamente, e quando percebo, já é sexta-feira. Ontem, durante o café
da tarde, fiz amizade com algumas meninas da recepção principal. Estar aqui tem sido divertido,
embora ainda tenha dificuldade para me enturmar completamente. O sol começa a se pôr, e
admiro a cidade através das janelas da sala do Ricardo. Ele continua preso em uma
videoconferência, enquanto estou sentada em sua mesa, passando os dedos pelos itens sobre a
superfície.
Observo a caneta cromada que ele sempre segura para assinar os contratos, e a ampulheta
que marca o tempo dos atendimentos presenciais. Deslizo as mãos em sua gaveta, abrindo a
última, e encontro uma foto minha. Estou sorrindo com um dos pássaros negros no pulso, tirada
durante nosso final de semana de viagem. Ele a tirou escondido. Sorrio ao ver a imagem.
Escuto vozes do lado de fora e fecho a gaveta, levanto e sigo até lá. As meninas estão
guardando tudo, e falam com a Eleonora na recepção. Beca, uma das recepcionistas,
uniformizada, cabelos longos pretos soltos eleva a mão me chamando.
一 Chiara, espera… 一 Vem a passos rápidos me encontrar, parando em minha frente.
一 Faremos um encontro hoje, acabamos de decidir, é só entre os estagiários, você está
convidada.
一 Ah, muito obrigada, onde será?
一 Na casa do Miguel, espero que você vá. Poderá se enturmar e fazer novas amizades,
prometo que ninguém te tratará como a filha do chefe.
一 Isso seria ótimo. 一 sorrimos. 一 Claro, eu vou sim!
一 Começa às 21h, seu pai ou seu tio sabe onde o Miguel mora.
一 Tudo bem, combinado, agradeço muito o convite!
Afasto seguindo para a recepção do meu pai, Amy desliga tudo e me entrega uma barra
de chocolate.
一 Ricardo mandou te dar por ter deixado você de castigo sozinha.
一 Onde ele está? 一 Meu estômago se agita, adoro quando faz essas coisas, me sinto
especial.
一 Está finalizando ainda, um dos associados atrasou tudo, ele disse que pode ir com seu
pai, ainda demorará uma hora. 一 Confiro o relógio de parede que marca 18h.
一 Posso falar com o meu pai?
一 Claro, ele terminou a reunião dele, pode entrar na sala, mas bata antes, política da
empresa.
一 Tudo bem. 一 Aproximo da porta e bato, e a voz dele me pede para entrar.
A sala enorme está bem iluminada, a mesa grande no centro repleta de papéis e ele ergue
o olhar verificando quem é.
一 Oi filha, seu tio continua em reunião, certo?
一 Sim. Pai, eu queria te perguntar uma coisa.
一 Claro, sente-se aqui. 一 Sigo até lá, e sento na cadeira.
Analiso a barra de chocolate em minhas mãos, sabor cereja, sorrio.
一 Os estagiários farão um encontro hoje, uma festinha, só queria avisar que vou,
poderia me dar uma carona? Não quero dirigir, acabo lembrando da Caroline. 一 Ele suspira,
concordando.
一 Claro filha, será bom sair um pouco. Que horas começa?
一 Às 21h.
一 Ele confere o relógio de pulso.
一 Certo, pegue sua bolsa, vamos embora.

Analiso minha imagem no espelho e sinto que algo está faltando. Meus cabelos ruivos
soltos estão em simetria com a blusa tomara que caia e a saia midi curta preta que abraça o corpo.
Pego uma peça chemise de renda branca e coloco por cima. Ao abrir o porta-joias, escolho um
brinco de pérola. Passo um batom vermelho bordô nos lábios. As sardas estão bem-marcadas nas
bochechas, mas decido não as cobrir, quero manter um aspecto natural. Calço uma sandália e
pego a bolsa. Ricardo não veio ao meu quarto; talvez esteja muito cansado.
Passo em frente à sua porta e está fechada. Desço as escadas, papai está deitado no sofá
lendo um livro de finanças. Ergue o olhar me observando da cabeça aos pés.
一 Cuidado lá, em filha, não quero você envolvida com nenhum dos funcionários do
banco!
一 E por que não, papai?
一 Porque nenhum está à sua altura, filha. 一 Aproximo-me e beijo o seu rosto com
amor.
一 Seu tio te levará, ele se ofereceu, está tomando banho, descerá em alguns minutos.
一 Tudo bem, sem problemas.
Sento ao lado dele que fecha o livro.
一 Como está no banco, as meninas estão sendo legais com você?
一 Sim, não se preocupe. 一 O celular dele vibra e ao conferir bufa impaciente.
一 O que foi?
一 Seu avô está querendo nos visitar em alguns meses, mas não quer ficar aqui.
一 A casa é grande.
一 Sim, mas ele gosta de complicar as coisas.
一 Faz meses que não o vejo, ele foi me visitar na reabilitação, me acolheu, estou com
saudades.
一 Eu sei, em breve irá vê-lo.
Escuto passos na escada, inclino a cabeça vendo o Ricardo descer. Os braços musculosos
marcados na regata preta, o short de treino deixando as coxas proeminentes à mostra e tênis
brancos.
一 Oi, deixarei você na casa do Miguel. 一 Avisa inexpressivo, evitando o meu olhar.
Meu peito dá um nó angustiado, aconteceu algo? Estou incerta, mas os gestos me
lembram do início, quando evitava sentir a nossa conexão.
Abraço o papai e me despeço seguindo-o até a garagem. Entramos no veículo em
silêncio, ele liga o carro e dirige pelas ruas. Ricardo não profere nenhuma palavra, fico aflita e
com muitos pensamentos nefastos. Encosto a cabeça no banco e inflo meus pulmões captando o
ar profundamente, admiro a cidade lá fora, a arborização esteticamente preparada. Preciso olhá-
lo, preciso entender o que aconteceu, viro o rosto atenta a ele.
一 Aconteceu alguma coisa na reunião hoje? Fizeram algum comentário que te deixou
assim? 一 Ele leva a mão ao queixo e de esguelha analisa minha roupa, mas concentra o olhar
na estrada de novo.
一 Não! 一 O tom é seco, como nunca ouvi antes.
CAPÍTULO 24

Hoje, durante a reunião, Juliano fez questão de mencionar a Chiara, em dizer na frente de
todos o quanto sou um “segundo” pai excelente. Eu odeio esse cara porque ele a deseja e suas
menções são puramente falsas, com o intuito de evidenciar suas qualidade, mas não passa de um
filhinho de papai safado, que já se aproveitou de metade das mulheres do banco que suspiram
por sua boa aparência.
Apesar disso, ele não está errado, deveria ser sim alguém que faria a Chiara se sentir
acolhida no âmbito familiar, não na cama, com sexo, me senti um merda e a sensação continua
aqui, massacrando minha moral, meu de modo agir.
Não quero afastá-la, mas preciso. São dias sentindo seu corpo, beijando sua pele,
experimentando o maior desejo que um homem pode ter na vida, ela é a mulher que eu queria,
que sempre sonhei, mesmo com a pouco idade, é nela que encontro razões para querer ter uma
família, algo que nunca senti antes. Contudo, a realidade me fere, sou um tio que ao invés de ver
a sobrinha como uma filha a vê como uma amante.
Sou a pior pessoa desse mundo. Quero dizer que precisamos parar tudo isso, mas eu não
consigo, o que sinto é maior que minha razão.
Ela continua me olhando, acho que pela maneira seca que a respondi. O braço se estica, a
mão esquerda toca na minha perna direita, mas não desvio meus olhos da estrada. Estou bravo
por vê-la sair com o pessoal do banco, apreensivo em imaginar qualquer um dos garotos tocando
nela, isso me deixa desnorteado. Chegamos no endereço, estaciono o carro rente ao portão,
Chiara se aproxima e beija o meu rosto, quero beijá-la, possuir seu corpo com minhas mãos e
dizer “você não vai”, porém absorvo essa vontade insana e a deixo ir.
Ela desce do carro, os lábios se abrem querendo dizer algo, mas desiste. Afasta-se e
acena atravessando o portão aberto até chegar na porta. Fico parado, observando. Uma das
meninas a recebe sorrindo, dando um abraço carinhoso e entram na casa. Suspiro frustrado. Ligo
o veículo mais uma vez. Tinha pensado em treinar para liberar a tensão, mas agora estou ainda
mais agitado. Não sei o que ela fará lá dentro, quem falará com ela, se ficará triste por algo.
Dirijo por mais alguns metros e decido voltar. Estaciono algumas casas antes e fico olhando para
os portões brancos escancarados, em um conflito interno sobre se devo ir embora ou ficar aqui
vigiando.
Quero enfurecidamente invadir o local, carregá-la nos meus ombros e voltar para casa,
para a nossa cama, na escuridão, onde nada mais importa além do que sentimos um pelo outro.
No entanto, sei que agir assim pareceria que estou obcecado e agindo de forma impulsiva.
Analiso o meu celular e tem uma mensagem da Eleonora:
“Boa noite, querido chefinho, o homem mais gato e gostoso deste mundo. O que
estava te irritando hoje? Se quiser, posso ajudar a diminuir seu estresse.”
Tem também uma mensagem da Amy:
“Boa noite, Ric, irei almoçar com o Rico amanhã, poderia fazer companhia para a
Chiara?”.
Ignoro todas e volto meus olhos para a casa do Miguel.

Uma hora se passa, meus dedos tamborilam no volante ao ritmo da música. Continuo
olhando, o tempo parece ter parado, porque de repente não a ter por perto meio que não faz
sentido. O que farei quando não estiver vendo-a sorrir? Claro, tenho milhares de coisas que
poderia fazer, mas não despertariam a mesma emoção. Só quero vê-la sair ou que me ligue
pedindo para ir embora.
A porta da frente se abre, luzes coloridas incidem no chão em feixes luminosos.
Movimento meu corpo, aprumo a coluna e então o vejo, Juliano.
O que caralho esse cara faz aqui?
10 MINUTOS ANTES
Juliano se aproxima e me abraça. Fico surpresa com sua presença, já que o encontro era
apenas para os estagiários. Por uma hora, respondo apenas o necessário, esperando que ele
desista de continuar falando, mas ele parece mais determinado. Seu braço permanece ao redor do
meu ombro, e eu me desvencilho, levantando do sofá. Bebi várias garrafinhas de cerveja e tudo
começa a girar. Fazia meses que não exagerava, mas quanto mais escuto sua voz, mais eu bebo.
Perdi o controle, droga! Desiquilibro e quase caio, mas Juliano se sobressalta e segura minha
cintura, juntando meu corpo ao dele. Empurro-o e me apoio na parede ao meu lado.
一 O que você faz aqui? É um encontro de estagiários.
一 E se eu dissesse que vim porque sabia que estaria aqui sem seus dois cães de guarda?
一 Eles se preocupam, só isso.
一 Percebi, principalmente o seu tio, ele cuida de você muito mais que o seu pai. 一
Minhas bochechas se coram e disfarço abaixando a cabeça, tentando esconder o quanto ouvir o
nome dele mexe comigo.
一 Quer outra cerveja, Chiara? 一 Beca pergunta e nego com um balançar de cabeça.
一 Já deu para mim, preciso tomar um ar lá fora, e pedirei para o meu tio me buscar,
estou cansada. Obrigada pelo convite.
一 Está cedo, fica mais. 一 Queria dizer que sim, mas com o Juliano aqui a festa está
um porre.
一 Amanhã cedo tenho um compromisso, mas prometo ficar mais na próxima.
一 Combinado.
一 Eu acompanho você. 一 Diz o Juliano.
Não concordo e nem nego, Juliano sai primeiro e sigo logo atrás com a visão meio turva e
borrada pelas luzes coloridas ofuscantes. Chego à calçada inspirando profundamente, o ar estava
pesado. Olho para o céu admirando a lua cheia brilhar. Meu primeiro pensamento é no Ricardo,
em como queria estar fazendo amor com ele, mas é o Juliano que está aqui ao meu lado. Ele
também olha para o céu.
一 No que está pensando? 一 Levo meu olhar ao dele e não sei o que responder.
一 Nada, apenas olhando para a lua, ela é tão linda.
一 Ótimo, darei um motivo para você pensar. 一 Enrugo a testa confusa, e antes que eu
calcule ou entenda suas ações, ele me puxa beijando minha boca.
Os lábios dele engolem os meus loucamente, sua língua se enfia com desespero,
buscando a minha. Tento afastá-lo colocando uma mão em seu peito, mas antes que minha boca
se afaste completamente da dele, seu corpo é bruscamente puxado por alguém que aplica um
soco em sua face direita com brutalidade. Um grunhido alto irrompe de sua boca ao cair no chão,
e a tontura que me dominava desaparece instantaneamente quando vejo o Ricardo. Seu punho
está fechado, coberto de sangue, seus olhos encovados e sombrios, seus lábios descarnados, e seu
nariz franzido em fúria.
Quando vi o Juliano sair da casa com a Chiara, meu sangue ferveu, perdi completamente
a sanidade e meu corpo reagiu por conta própria. O beijo que ele deu nela foi minha ruína. Saí do
carro batendo os pés, minhas narinas se dilataram enquanto os encarava, cerrei os dentes, fechei
os punhos e soquei a cara desse idiota atrevido. Quem ele pensa que é para beijar os lábios dela?
Nesse momento, ele cai no chão com a força do golpe. Estou expelindo ódio, meu corpo
está quase dormente de fúria, meus nervos estão tensos e palpitantes. Chiara arregala os olhos,
assustada.
一 Ricardo, pare agora. 一 Sua voz é um comando magnético que controla tudo dentro
de mim.
Aproximo-me dela tocando em seu rosto.
— Você está bem?
— Estou, mas o que faz aqui? — Juliano cobre o ferimento com a mão.
— Desculpa, Ricardo, eu não deveria tê-la beijado, mas você não precisava ter me batido
assim. — Tenta justificar-se.
— Se encostar sua boca de novo nela, quebrarei os seus dentes, entendeu?
一 Para com isso, você acha que não sei me defender? 一 Chiara sussurra com um tom
ríspido.
一 Não é isso. 一 Ela se afasta, a mão direita toca o portão, parece chateada porque vejo
angústia em sua expressão.
一 O que está acontecendo entre vocês? 一 Juliano pergunta e contraio a mandíbula.
一 Não está acontecendo nada entre nós. Estou apenas protegendo a minha sobrinha de
caras que não prestam, sua fama de garanhão é grande, fique longe dela.
Com raiva, ele se levanta, tira as chaves do carro do bolso, aperta o alarme e segue até o
veículo estacionado há dois metros, o supercílio sangrando, está furioso, fecha a porta ligando o
carro e desaparece na rua em alta velocidade.
Chiara caminha na direção que vim, procurando pelo carro sem me olhar. Aproximo-me
dela a passos rápidos e seguro seu pulso. Ela nega, dá um passo para o lado e empurra minha
mão.
一 Não me toque. 一 Meu mundo quebra, o chão parece se abrir e me engolir em uma
enorme escuridão.
Aponto para onde está o carro e ela entra apressadamente. Ao sentar e fechar a porta, o
ambiente se torna sufocante, e percebo que estou fora de controle. Dirijo em silêncio, o caminho
parece mais longo devido à luta de emoções, as palavras entaladas em minha garganta querendo
expressar que estou louco por ela, que sinto ciúmes, que não queria que nossa relação secreta
terminasse. Um silêncio ensurdecedor nos acompanha durante todo o trajeto. Não me atrevo a
falar nada; o que fiz foi demais até mesmo para mim, porém não me arrependo, aquele babaca
mereceu.
Assim que estaciono na garagem, Chiara sai como um furacão, sua indiferença me
machuca. Poderia tentar me justificar, mas a verdade é que ela está magoada por dois motivos:
primeiro, por tratá-la friamente mais cedo (e ela não tem culpa se estou péssimo); segundo, agora
agi basicamente como um perseguidor que fica escondido sufocando a vítima. Ela atravessa a
sala carrancuda, Rico a encara e abre os braços, percebendo que ela está brava.
一 O que houve? Por que está com essa cara de brava? 一 Chiara ignora, subindo num
atropelo os degraus.
Rico se vira perdido, esperando uma resposta.
一 Ela está brava comigo. 一 Não contenho um traço de aborrecimento na voz.
一 Por quê? O que aconteceu?
一 Saí da academia e decidi esperar por ela lá na frente, então acabei vendo o Juliano
tentando beijá-la. 一 A testa dele enruga, os olhos diminuem de tamanho, furioso.
一 O quê? O Juliano beijou minha filha?
一 Sim, fiquei com raiva pelo atrevimento dele e dei um soco naquela cara ridícula. 一
Rico começa a rir. 一 Não tem graça Rico, Juliano estará com raiva na segunda-feira.
一 Você nunca foi de perder o controle, Meu irmão dando um soco em alguém? 一
Debocha 一 Você me ligava para ir em outro país te defender nas brigas da escola. 一
Relembra alguns momentos engraçados do nosso passado.
一 Só achei a atitude dele demais para mim.
一 Já está adotando minha filha, é? 一 Sacudi a cabeça com movimentos bruscos.
Se meu irmão soubesse o que eu e Chiara andamos fazendo escondido, ele jamais me
perdoaria. Precisamos parar, não podemos mais ficar juntos. Essa é a primeira vez que decido dar
um basta nessa paixão louca e nesse nosso caso proibido.
一 Preciso dormir e começar a me preparar para segunda, quando o Juliano vier me
metralhar com sua indignação.
一 Calma, tem o final de semana todo pela frente. Aposto que ele fingirá que não
aconteceu nada.
一 Tomara. Boa noite, irmão!
一 Boa noite, não se culpe, agora está feito. 一 Concordo subindo as escadas.
A porta do quarto da Chiara está fechada, esfrego meu rosto com as mãos lutando para
não ir lá, entro no meu seguindo direto para o banheiro. Abro o chuveiro na água fria, preciso de
um choque de realidade, mas a imagem do Juliano a beijando ativa minha fúria interna e ao
mesmo tempo me sinto aflito, consumido pelo remorso.
Talvez esse fosse o motivo perfeito para finalmente encerrar o que acontece entre nós
dois. Estou perdidamente apaixonado pela Chiara, e nunca senti algo assim antes. Um sentimento
dominador, que me escraviza mentalmente e fisicamente. Não tenho controle dos meus atos, ela
é tudo que me importa e por isso mesmo precisamos acabar com esse erro.
Engulo um analgésico e encaro meu rosto ensanguentado no espelho do banheiro. É bom
isso não deixar uma cicatriz. Abro a torneira, encho a mão de água, deixando-a escorrer sobre o
ferimento, o sangue cai na pia e franzo o nariz com a ardência. Entendo que beijei a Chiara, e foi
inesperado. No entanto, o que não faz sentido foi o Ricardo surgir do nada e simplesmente me
agredir. O que ele fazia lá? Estava vigiando? Por quê? O jeito que ele a tocou, perguntando se
estava bem, era diferente, como se fossem um casal.
Ela queria, estava prestes a se entregar ao meu beijo e finalmente aceitar ficar comigo,
mas novamente as coisas desandaram e estou furioso por não ter acontecido como planejei.
Talvez seja proposital; hoje, a atitude dele só demonstra que sim, estava lá porque a sufocam.
Antes de sair da festa, Chiara disse que precisava ligar para que ele fosse buscá-la. Durante a
noite, conversamos sobre vários assuntos. Ela é, de fato, a garota dos meus sonhos porque,
quando estava próxima, a ouvi conversando com as meninas sobre o amor.
Uma perguntou o que ela mais queria, e ela respondeu que desejava um amor que jamais
a rejeitasse. Identifiquei-me com suas palavras. Não é apenas atração física que sinto por ela; é
mais do que isso. Sempre almejei alguém que não me rejeitasse, assim como ela. Então, por que
me rejeitou antes? Deve ser por causa do Ricardo. Preciso descobrir o que acontece entre eles.
Algumas ideias insanas até passam pela minha cabeça, mas seriam perturbadoras demais. No
entanto, ao analisar a intensidade do olhar que o Ricardo sempre lança sobre ela, é de causar
calafrios.
Passarei a vigiá-la para entender melhor a relação deles e, principalmente, porque tem se
negado a aceitar meus convites.
CAPÍTULO 25

Estou puta, e em conflito com os milhares de sentimentos que sinto agora. Como ele pode
bater no Juliano como se fosse meu guarda-costas? A indignação é maior porque havia sido seco
comigo, e sei que algo está acontecendo. Enxugo minha pele molhada do banho, mas estou
devastada e assustada com a atitude do Ricardo. Claro, que se o visse beijando outra mulher faria
provavelmente o mesmo. Esse sentimento maluco, insano que controla e manipula minhas ações,
que me induz a querer cometer qualquer loucura. Me vejo nele, no que ele sente e no que faz.
Desisto de colocar o pijama e deito-me diretamente na cama apagando as luzes da mesa
de cabeceira. Fecho os olhos, mas meus impulsos estão martelando, mexendo com todo meu
emocional. Nem me permiti definir o que senti com o beijo do Juliano e sim, seria algo como
nojo e repulsa. Esfrego a palma da mão nos lábios tentando apagar qualquer resquício que tenha
ficado. Inspiro lentamente, acalmando meus ânimos exaltados, cessando os pensamentos em
busca do sono.
Reviro na cama por uns 40 minutos, escuto o papai ir dormir, e fixo meus olhos na rua lá
fora. Hoje está uma noite silenciosa, sem ventos, sem ruídos vindo do vidro, apenas os meus
gritos internos me impedindo de esquecer os acontecimentos dessa noite. Fico mais meia hora
lutando contra meus instintos, pedindo que eu o confronte para entender o porquê me tratou mal
hoje, e porque agiu assim. Olho para o relógio marcando meia-noite.
Levanto, coloco os pés para fora da cama, caminho descalça até a porta, abro, saio no
corredor a passos suaves para que meu pai não escute. Preciso extravasar essa raiva, o que estou
sentindo. Giro a maçaneta do quarto dele, imperceptível e entro. Ricardo está esparramado na
cama, de lado, mas de costas para a porta. Antes que o surpreenda ele se vira.
一 Senti seu perfume doce, o melhor cheiro do mundo. 一 Pulo em cima dele com
raiva, com os punhos fechados dando golpes aflitos, mas não para machucá-lo.
Ricardo segura meus braços, lança-me na cama me cobrindo com seu corpo contendo os
meus braços acima da minha cabeça. Seu olhar é audacioso e ardente, que me revela medo,
desejo, e me entrega todas suas fraquezas.
As mãos firmes seguram meus pulsos violentamente enquanto a boca, vermelha de
excitação, se aproxima dos meus seios. Ele roça seu queixo com a barba por fazer sobre meu
mamilo direito. Arrepio-me com o gesto. Ele desliza língua ao redor da minha aréola, depois
suga lentamente meu mamilo e arqueio de prazer.
一 Não ouse mais me tocar. 一 Ignora meu pedido, meu corpo diz o contrário, ele está
entregue como se sempre o pertencesse.
一 Isso entre nós não acontecerá mais. 一 Fala enquanto chupa meus mamilos, o hálito
quente me excitando.
Ele solta minhas mãos e agarra meus seios, apertando e juntando-os para chupá-los de
forma ávida e deliciosa. Passo as mãos em seus cabelos enquanto fecho os olhos, sentindo-o
balançar a cabeça e esfregar a boca nos meus mamilos com desespero. Seu corpo desliza sobre o
meu, nossas peles quentes começam a transpirar, e seus lábios consomem os meus em um beijo
sensual. Seus dentes mordem meu lábio inferior, repuxando-o carinhosamente, enquanto
murmuro contra sua boca.
一 Isso não pode mais acontecer. Ponto final. 一 Empurro-o com força, ele senta, e
ansiosa subo em seu colo.
Ricardo segura minha bunda enquanto esfrego minha boceta no seu pau duro, quase
pulando da cueca.
一 Preciso sentir você uma última vez e depois isso termina. 一 Sussurro.
Ricardo desliza as mãos quentes por todo meu corpo. Os dedos escorregam suave,
aspirando gravar cada imperfeição de minha pele. A pressão é minuciosa e arfo em sua boca
gostando do quanto me deixa arrepiada. Minha língua percorre o contorno dos seus lábios e sigo
beijando sua face, passando no queixo e em seguida no pescoço. O cheiro de sua loção pós-barba
é alucinante e o perfume que exala de sua pele agita meus instintos, porque o mordo. Ele geme
quando extrapolo na força dos dentes. Ele apoia a mão na cama, eleva o quadril e fico de joelhos
puxando a cueca do seu corpo.
A peça passa pelas pernas e ele a joga longe. Monto novamente em seu colo, estamos
nus. Esfrego-me nele, projetando meu quadril suavemente, usufruindo da sensação de queimação
e prazer que nossas extremidades produzem pela excitação. As mãos grandes, quentes e suadas
travam em meu rosto e nos admiramos.
一 Desde que te vi naquele aeroporto, que sorriu e beijou o meu rosto, eu te quis, mas
nada se compara ao agora. Seu espírito indomável marcou minha alma para sempre. E não é só
por isso aqui… 一 Ele segura minhas coxas por baixo, levanta meu quadril, fico no ar, os
braços fortes me sustentam enquanto encaixa a glande na minha abertura e introduz gradativo.
一 Não é só sexo, mas o sentimento que essa conexão causa no meu coração, que me deixa
totalmente rendido a você. 一 Sopro um gemido quando ele solta meu corpo, se enterrando
fundo em mim.
一 Eu não quero que isso acabe, que pare de me desejar, de me comer. Eu sei que isso
não deveria acontecer, mas eu te quero tanto.
一 Essa noite não tem regras, te desejarei cada segundo mais e quero você toda, não
vamos pensar na separação, por favor, seja minha. 一 Estremeço.
一 Eu sou sua, para sempre a sua Chiara. 一 Cala-me com um beijo voraz.
Minha boceta pulsa ao redor da sua grossura e lentamente início os movimentos, subindo
e descendo. Nunca imaginei que após passar pela dor que tanto falavam da primeira vez, fosse se
tornar algo tão gostoso. O problema é que só tenho vontade de fazer isso com ele e não quero me
despedir.
Espalmo seus braços desde o pulso e subo tocando até seus bíceps, os músculos
desenhados, protuberantes e maciços me fazem arrepiar. Meus toques chegam nos seus ombros e
descem em seu peitoral.
Os pelos úmidos devido à pele suada resvalam em meus dedos enquanto mantenho o
ritmo, rebolando, de um lado a outro, porque cada fricção me deixa faminta. Ricardo admira o
meu rosto, as expressões que faço a cada batida funda do seu pênis dentro de mim. Minha boca
entreaberta respirando desordenada, ganhando fôlego para suportar todas as sensações e não
parar. Quero mais, quero ser sempre dele.
Ricardo com uma mão aperta minha bunda e com a outra toca os meus lábios, gostando
da brasa lenta e do fogo ao nosso contato gradativo. Não estamos com pressa porque amanhã não
teremos mais essa chama viciante nos consumindo.
O polegar contorna o meu lábio inferior enquanto o indicador entra em minha boca
deslizando em minha língua. Chupo-o, ele rosna, fico encharcada com o seu olhar e forço as
coxas e as panturrilhas a não pararem porque algo borbulhante está me dominando. Murmuro
enquanto a mão escorrega do quadril até minha boceta, tocando o meu clitóris.
一 Isso, goza no meu pau enquanto te toco. 一 Os dedos contornam meu botão e a cada
movimento ardiloso deles, eu chupo os outros que estão em minha boca mais forte.
一 Eu quero que você coma minha bunda hoje. 一 Sopro por entre seus dedos, ele os
tira da minha boca.
一 O que você disse? Repete… 一 Provoca intensificando a estimulação em meu clitóris
e minhas pernas ardem trêmulas em cada cavalgada.
一 Quero que coma o meu cuzinho virgem… 一 Ele contrai o maxilar, os dentes rangem
e não é de raiva, é excitação, a mesma que ferve o meu estômago subindo até a garganta. 一
Quero que nunca me esqueça. 一 As pupilas dele se dilatam, meus batimentos aceleram pela
nossa atração mútua e o desejo exalando em nossas respirações ofegantes.
一 Esquecer você seria como matar parte de mim. Nosso vínculo é duplo, de alma e de
sangue e um dia você será minha. Pode ser nessa ou em outra vida. É impossível esquecer você!
A pele branca da Chiara reluz com a claridade vinda dos painéis de vidro. Está
transpirando, algumas gotículas de suor em suas têmporas umedecendo seus cabelos vermelhos
enquanto me encara fixamente arfando contra o silêncio. Ela quer que todas as partes do seu
corpo sejam minhas e adorarei devorá-la.
As pernas estão ficando engenhosas, o quadril investindo com gestos expansivos, se
alargando nas projeções, enquanto transpõe nossas partes íntimas. Quando a noite cai, é que eu
sinto o quanto ela me faz falta, mesmo estando tão perto, não é o suficiente. Tocá-la me dá
saudades, e não passa, mesmo aqui, grudada em mim.
Nossas declarações são anônimas, ditas na troca de olhar, nos toques ardentes, no calor
do nosso confronto enquanto estremecemos um contra o outro. Seu líquido me molhando
conforme intensifico os dedos em seu clitóris é deletério, porque perco o fôlego excitado por vê-
la gemendo comigo. A sombra dos galhos dançam em seu corpo, e até na penumbra ela é a coisa
mais linda que aconteceu na minha vida. Ela me ofereceu o que nunca tive antes, seu coração de
moradia, e me aceita, mesmo com toda podridão do nosso segredo.
As palavras doces e sujas que saem de sua boca em todas as horas do dia me
enlouquecem, ela sabe como mexer comigo, sem truques, límpida, e dói tentar esquecê-la, e até
mesmo pensar nessa possibilidade. Os gemidos invadem os meus tímpanos, intensifico a
estimulação sentindo os músculos de suas coxas tremerem sob meu colo. Meu pau adentra suas
paredes apertado, mas seus fluidos excessivos esquentam o meu âmago porque é insanamente
gostoso. O rosto contrai, os lábios abrem-se mais, e estão tão cheios pelo desejo que os sugo.
一 Vou gozar… 一 sussurra trêmula.
As pernas mantendo os movimentos, o quadril chocando-se no meu. Os seios pulam com
a força do impacto, e ela goza puxando meus cabelos para trás, ao mesmo tempo que elevo a
cabeça recebendo suas mordidas frenéticas no maxilar. Molha meus testículos com o gozo
intenso, se entregando a sensação, sem pudores ou medo, cada noite de amor é mais gostosa,
inesquecível. Afundo o nariz em seu pescoço, sentindo o cheiro doce de sua pele enquanto os
espasmos percorrem sua boceta, ela está vibrando nos meus braços.
Quando desfalece, a lanço na cama, um sorriso largo na boca, ofegante, e giro-a deixando
com a bunda para cima. Abro as bandas de sua bunda, admirando sua boceta e o ânus molhados,
está escorregadia, e meu pau lateja. Abro suas pernas, dobrando os joelhos, ela está toda
esparramada no colchão, relaxada ao ponto exato de me receber. Fico posicionado no meio de
suas coxas, inclino o torso esticando o braço para pegar uma pomada lubrificante no meu
aparador lateral.
O rosto dela esfrega-se no lençol, manhosa, e de esguelha observa o que seguro.
一 Quer realmente tentar?
一 Sim, quero experimentar como é ter você atrás também. 一 Rebola o quadril,
subindo e descendo no colchão. 一 Eu gostei quando enfiou os dedos, foi gostoso e quase
desmaiei. 一 Estapeio sua bunda, ela sorri e enfia o cobertor em sua boca com medo de gritar
demais.
Coloco lubrificante na cabeça do meu pênis e abandono o frasco ao lado. Deslizo as mãos
em sua bunda, percorrendo o formato arredondado, sentindo a textura cremosa e macia da pele,
apertando as nádegas excitado, assistindo o esfíncter se contrair. Chiara arrepia, está nervosa,
mas continuo as carícias progressivamente, acalmando seus poros arrepiados.
一 Não irá doer, é só relaxar, esqueça tudo, só foca em nós, no nosso momento juntos, eu
jamais te machucaria. 一 Ela balança a cabeça e sei que confia em mim.
Encosto a cabeça do pênis no seu ânus, ela inspira profundamente, relaxando as pernas,
então a penetro, o gel incolor se espalha, permitindo uma entrada leve e lenta, por dentro começo
a ferver de calor. Sua boceta é apertada, mas aqui é imensurável, meu pau é esmagado
gostosamente a cada centímetro mais fundo. Arfo, sem controlar, demonstrando prazer nas
minhas expressões, ela assiste apertando os dentes no tecido, gemendo. É absurdamente intenso.
Começo as estocadas, a pressão é massiva e meu coração palpita no peito. Ela abre os
lábios cuspindo a coberta, querendo falar.
一 Doeu um pouco, mas passou, por favor, continua, Ric, estou sentindo algo novo. 一
Cada metida dentro dela faz meu corpo se arrepiar.
Rosno, não pode ser normal ela ser gostosa em todas as partes, mas ela é. Mesmo
gostando pra caralho, sinto falta da quentura de sua boceta, então tateio suas coxas, tocando-as
até estar com os dedos dentro dela, alternando com seu clitóris inchado. Chiara rasteja como um
cobra na cama, em polvorosa, e mantenho o ritmo do meu pau e dos dedos. Seus braços voam
soltos no lençol, esfregando na aspereza, soltando gemidos baixos, deflagrando as emoções que
tomam conta do seu corpo, as mesmas que martelam em meu peito, me fazendo perder o ar.
Nossos reflexos corporais palpitam e pequenos choques correm por entre minhas veias, se
esvaindo não sei como até a minha espinha.
Chiara está absurdamente quente, molhada de fluidos, o cheiro do nosso confronto sendo
ardiloso, batendo como um sino na cabeça, perfurando a razão. Ela eleva o tronco, ficando de
quatro, se move junto a mim, de encontro, bombeando nossas extremidades com tanta força que
deveria ter medo de machucá-la, mas não, estamos famintos, suplicando que todo prazer
existente se condense aqui entre nós, na nossa paixão.
Ondas de calor me sobem dos pés à cabeça, meu pênis vermelho de tanto a penetrar, as
pernas delas trêmulas, as costas curvada, ensopada de suor e rompemos mais uma vez o desejo,
se consumindo com ele, gozando juntos.
Ela duplamente se desfaz, gozando comigo por trás e na frente, me enchendo de
satisfação com sua entrega desalmada. Somos um único corpo, um só coração repartido em dois.
Chiara era a metade sombria, inconsequente e infame que me faltava, e eu, seu equilíbrio e
lucidez. Juntos somos como um todo, e nada muda, mas separados padecerei. Não há retorno,
ficar sem ela será como morrer vivo. Essa paixão está enraizada em cada pedaço de nossa carne,
enfiada nos ossos e aderida na alma. Não sei como será amanhã, nem daqui a 24 horas, mas não
quero perdê-la, mesmo sabendo que nunca será minha. Por que isso parece tão certo? Não sei,
apenas sinto!
Caímos juntos na cama, saio de dentro dela indo limpar meu pau. Quando retorno, a pego
pela cintura e faço o mesmo, ela se limpa e depois nos agarramos por baixo das cobertas. Seu
corpo fica por cima do meu enquanto nos beijamos. Minhas mãos não param de tocá-la, na
bunda, nas costas, nos cabelos, nos lábios e quero sentir mais, se pudesse entraria em sua mente
para saber o que tanto pensa me olhando agora. O cheiro natural que exala é de secar a boca, e
ainda sinto um zunido nos meus ouvidos pelo prazer. Seus mamilos enrijecidos se esfregam em
meu peitoral, e seus dedos deslizam no meu rosto, passando em todos os pontos, correndo na
mandíbula.
一 Você é tão lindo, sua pele, seus olhos, seu cabelo, tio, eu teria gostado de crescer
perto de você. Talvez assim, nada disso estaria acontecendo agora. 一 Suas palavras me
desmontam.
一 Eu sei, desde o primeiro momento foi errado, e depois tudo piorou. Fizemos sexo
com seu pai ao nosso lado, isso é insano, talvez doentio.
一 Será que temos a mesma doença? Existe algo genético que possa nos distorcer tanto
que fez os sentimentos ficarem bagunçados?
一 Talvez, ou apenas erramos porque somos fracos. 一 Ela morde o lábio inferior.
Levo os dedos até sua boca, contornando seus lábios, os cabelos caem em meu pescoço,
alguns fios no meu anterrosto. Acaricio suas bochechas marcadas de sardas, ela é perfeita.
一 Se for doença, é grave, Chiara, porque sinto uma dor aguda em todo corpo quando
penso que iremos parar os nossos encontros, mas é necessário. Precisa me enxergar como o seu
tio, não dá boca para fora como sempre fala para me provocar. 一 Ela sorri 一 Preciso te ver
como minha sobrinha, a garota que deveria cuidar, proteger, mas sem sexo, sem paixão, um amor
restrito.
一 Acha que iremos conseguir?
一 Eu não sei, só tentando para descobrir.
CAPÍTULO 26

Noventa e seis horas sem tocá-la. Nunca pensei que ficar sem uma pessoa causasse tanto
dano. Conto os minutos e os segundos, pois tem sido depressivo viver assim. O soco que dei no
Juliano não deu em nada, ele recuou, mas lembro daquela noite todos os dias, foi a última vez
que fiz amor com a Chiara. Penso em conversar com outra mulher para tentar sentir por outra
pessoa o que sinto por ela, mas algo me impede e não sigo adiante. É um ano de sofrimento
dentro de quatro dias.
Não durmo, estou ansioso, inquieto, perdi o apetite e às vezes até alucino imaginando-a
nos meus braços. Coloco a cueca, o banho quente relaxou meus músculos distendidos, mas meu
coração segue angustiado. Escuto um barulho ressoando do portão de entrada e me aproximo do
vidro, então a vejo. Seus olhos azuis encontram os meus, os pingos grossos da chuva borrando
seu rosto no vidro, molhando sua blusa branca de alça, transparecendo sua pele por baixo, o
contorno das aréolas e os mamilos.
Que porra, aonde ela vai com essa chuva? Com essa roupa?
A saia se ergue com uma rajada de vento, o tênis pisa na calçada, deixando um rastro de
lama. Puxo uma camisa, a primeira que encontro no armário, enfio no corpo, em seguida uma
bermuda, o tênis e saio desembestado pelo corredor, descendo as escadas para segui-la. Rico
desistiu da tal viagem que havia esse mês, e agradeci, porque se tivesse ido, seria nossa ruína, e a
tentativa de burlar nossos sentimentos se perderiam. Avanço pela calçada de lajotas larga e
contínua, me alongando por entre as árvores de troncos encharcados, a chuva está caindo há
horas, as folhas caídas pintam a grama de marrom.
Aquela criatura anda mais rápido do que pensei, sua silhueta é um ponto distante e me
apresso atrás. Nunca estive aqui no bosque antes, estou sempre ocupado e me acostumei a ir à
academia. A brisa agita os galhos no topo, formando uma chuva de folhas que, ao caírem no
chão, aderem à superfície como se fosse uma colagem.
Uma rajada atinge meu rosto golpeando água dentro dos meus olhos, arde, enevoando a
visão, mas passo os dedos retirando o excesso. As nuvens cinzentas sob nossas cabeças estão
densas, ficando luminosas pelos raios e trovões, mas ela continua, fugindo de algo, me deixando
ainda mais preocupado.
Chiara só para quando não há mais casas e a coleção de árvores forma um arvoredo
fechado, com menos luz, as copas altas se entrelaçando e tenho a sensação de entrar em uma
caverna. Uma golfada fria atravessa meu corpo, estremeço, as minhas roupas estão ensopadas e
me aproximo, procurando-a, porque ela simplesmente desapareceu na grama alta.
Em meio algumas vegetações a encontro, uma figura branca no verde opaco, sentada
sobre um tronco grande de uma árvore caída. Sigo até ela, os poros dos meus braços arrepiados e
cada passo mais perto confirmo que está tremendo, encolhida, olhando as flores alaranjadas se
moverem com a brisa.
一 Chiara, está frio, chovendo, você ficará doente, o que faz aqui? 一 Ela permanece de
costas, os dedos roçando nas hastes da grama.
一 Não pedi para me seguir, quero ficar sozinha, pode voltar para o seu quarto quente.
一 Eu sei que não pediu, mas você sabe que não consigo evitar querer cuidar de você.
一 Como meu tio ou como um homem que me quer na cama? 一 Minha garganta raspa,
os meus ombros caem e ela permanece com a visão no chão, tocando as plantas.
Perco as palavras, deveria dizer, na verdade, o certo seria dizer “como tio”, mas não sai, e
sopro uma súbita inspiração com uma dor de angústia no peito. As mechas frontais de seus
cabelos se projetam para trás quando uma rajada bate nas laterais do bosque e retorna como um
redemoinho, fazendo-a tremer fortemente. Sento ao seu lado, a pele toda arrepiada e não consigo
vê-la batendo os dentes sem ao menos tentar esquentá-la. Agarro sua cintura e com um solavanco
puxo-a para o meu colo.
Encontro seus olhos, estão vermelhos, inchados, a boca mordida, e contraio a mandíbula.
Ela está sofrendo tanto quanto eu. Um ar gélido nos atinge, sua blusa agarrada na pele, pingando
água, é impossível não a admirar, porque os mamilos eriçados apontam no tecido, volto meu
olhar para o seu rosto, pressionando-o contra o meu peito, enquanto ela recua na defensiva.
Solto-a, mas mantenho meus braços ao redor de sua cintura.
一 Não quero que fique com frio. Porra, olha isso, não quero que fique doente, estou
falando sério. 一 Um ruído farfalhante ressoa entre os galhos, o ambiente escurecendo à medida
que avançamos para além das 18 horas. 一 Levarei você para casa. 一 Ela nega e pula do meu
colo se colocando de pé.
As mãos se enrolam nos próprios braços, enquanto trêmula junta as pernas. Os pingos
caem das pontas do cabelo e os relâmpagos e trovões intensos indicam que está começando, irá
chover mais.
一 Chiara…
一 Me deixa em paz, vai embora, não quero ficar no quente, não quero estar na mesma
casa que você. Será que é tão difícil entender? 一 As palavras saem de sua boca num atropelo,
os olhos marejados e as pálpebras caídas segurando o choro 一 Preciso sentir qualquer outra
coisa, não me importo se for frio, se for as dores de uma doença ou até mesmo hipotermia. 一
Treme, a voz começa a soar irregular 一 Preciso sentir qualquer coisa que não seja a paixão
louca por você, dói demais, então me deixe aqui substituindo o que sinto por você por qualquer
outra coisa, só me deixe. 一 Entrega-se ao choro e avanço sobre ela, puxando-a para o meu
corpo.
一 Essa dor irá passar, esse sentimento em breve irá amenizar, eu prometo. Precisamos
passar por isso e entender, o que está acontecendo, Chiara, estamos fora de controle, estávamos
ultrapassando os limites, quebrando as regras. 一 Com o polegar enxugo suas lágrimas do rosto,
mas a chuva fina caindo em sequência molha novamente e sei que não sairá daqui, mas não
posso deixá-la assim. 一 Podemos sentir frio juntos? Também preciso sentir qualquer outra
coisa, porque agora, olhando em seus olhos, de repente estou chamas, é tão forte que nem o frio
está apagando. 一 Ela concorda, trazendo os braços ao meu pescoço.
Sento-me no tronco e ela senta em meu colo, entrelaçando as pernas no meu quadril.
Afundo o rosto em seu pescoço, beijando sua pele, está tão fria, os poros dilatados e arrepiados.
一 Qual foi o momento mais triste da sua vida? 一 Sussurra, e aperto-a mais em mim.
一 Além de ficar sem você? Porque pareço viver um luto. 一 Sorrimos e ela balança a
cabeça que “sim”. 一 Uma vez quando fiz uma apresentação na escola, acho que eu tinha uns
13 anos, a minha mãe não foi. Era frequente ela nunca aparecer, sempre dizia que estava
trabalhando, e naquele dia achou que eu estaria na escola, mas fomos liberados antes. Quando
cheguei em casa, ela estava discutindo com o meu pai, ele havia ido ao Canadá me ver, e ela o
proibiu de ir à apresentação. Disse que estava cansada, que se arrependia de ter engravidado e
que mesmo assim me amava tanto, mas não conseguia me olhar porque se lembrava das noites
deles. Ainda não entendia, mas falavam de amor, sexo, enfim, ela disse que me colocaria em um
internato até que eu fosse para a faculdade. 一 Pauso, inalo profundamente mais um pouco do
seu cheiro, sinto saudades, mesmo aqui em meus braços, sinto saudades dela.
一 O que o vovô disse?
一 Que não poderia ficar comigo, que ele já tinha a família dele. 一 Meu coração
aperta, superei, mas a dor que senti aquele dia parece voltar apertando meu peito. 一 Esse foi o
momento que percebi que não tinha uma família, que era indesejado, e por mais triste que fosse,
escolhi que seria o oposto de Carlos Mandolini, que seria um bom pai e um bom marido quando
encontrasse a pessoa certa.
一 Morar com o meu pai te trouxe um pouco de felicidade, certo? Por isso tem tanto
medo de magoá-lo?
一 Sim, nos separar não significa que eu não queira estar com você, Chiara, mas não
quero machucá-lo, ele foi o único que manteve contato, mesmo com a mãe dele pedindo que não.
Ficamos anos assim, até nos reencontrarmos no exército. Até sua vó morrer e meu pai finalmente
assumir que falhou comigo. Você também é a minha família e está errado sentirmos isso. 一
Meus olhos ficam marejados, mesmo reprimindo toda dor que é rejeitá-la. 一 Prometo que essa
dor vai passar.
一 Tudo bem! Não quero que você perca nada, nem sua família, nem eu. Ainda sou sua
sobrinha, apenas sua sobrinha agora, nada mais. 一 Inesperadamente ela se levanta, então
seguro sua mão, impedindo que vá para longe.
一 Espera, e você, qual o momento mais triste que viveu? A morte da sua amiga? Os dias
na reabilitação? 一 Ela nega, recolhendo a mão da minha, cruzando os braços no abdômen.
Fico de pé, o dia tornando-se noite, as luzes do poste se acendem, ela eleva a cabeça
olhando e depois retorna sua atenção em mim.
一 Hoje, agora, esse é o momento mais triste. 一 Sinto a carne ser arrancada dos meus
ossos, porque a dor dessas palavras me dilacera. 一 O momento em que acabei de matar a
Chiara que estava pela primeira vez apaixonada, que está tão sufocada de rejeição que queria
usar morfina de novo, que queria esquecer dos erros que cometeu, da proposta que te fez, do
mundo, das pessoas, de você. Ficar sem você mata uma parte minha, mas ainda tenho a outra,
certo? A que continua com você porque sou sua família, mas não espere amor dela, porque ela só
quer ficar longe de você. 一 Perco as forças, minhas pernas ficam dormentes enquanto algo
agudo dói no meu coração.
Não desejo perder minha Chiara, não quero que ela seja enterrada viva por minha causa.
Perco a fala, meus músculos doem e não consigo agir, estou sem forças. Ela limpa as lágrimas e
corre, retornando para casa. Fico parado olhando-a ir, cada vez mais distante. Estou sem ar, com
um peso de um mundo nas costas, eu tinha certeza de que era errado, que deveríamos ficar
distantes, mas perdê-la apaga minha alma e de repente queria que o errado fosse certo.
Amy aponta para o vestido rosa na vitrine e Beca puxa minha mão para entrarmos na
loja. Elas me chamaram para passear no shopping e aceitei, estava cansada de passar os dias no
quarto e por sorte hoje dormirei na casa dela, uma madrugada sem desejar estar com o Ricardo,
isso me traz alívio. Alguns dias passaram desde a nossa última conversa, na chuva, agora tudo
que falamos é sobre contratos, clientes, juros e dinheiro.
一 Acho esse vestido perfeito para o casamento, Beca. 一 Afirmo.
Ela vai a uma festa no próximo final de semana e a missão do dia é ajudá-la a encontrar a
roupa perfeita.
一 Sério? Eu realmente amei essas pedrarias. 一 Os dedos correm nos detalhes do
tecido.
一 Sim, concordo com a Chiara, ficará lindo. Prove. 一 Sorrindo, ela junta a peça ao
corpo e corre até a atendente.
O enorme sofá de veludo verde está vazio e sentamos para esperar. Amy de viés me
analisa e sei que quer falar algo.
一 O que foi? 一 Sorri.
一 Está acontecendo alguma coisa na sua casa? 一 Elevo a sobrancelha esquerda e nego
meneando a cabeça. 一 Seu tio não tem feito a barba, isso é grave. 一 Sorrimos.
一 Está tudo bem, deve estar cansado.
一 Não, acho que ele sofreu uma desilusão amorosa.
一 Por que acha isso?
一 Ricardo sempre esteve dias adiantado em tudo e agora não, está fazendo tudo no
prazo, como se estivesse sendo forçado apenas a cumpri-los. Você está bem? 一 Arregalo os
olhos.
一 Eu?
一 Sim, parece triste nesses últimos dias.
一 Acho que o ver assim tem me deixado triste, mas nada demais. Daqui a pouco ele
volta a ser o mesmo, deve estar cansado por sempre fazer tudo muito rápido. 一 Ela concorda.
一 Pode ser! 一 Beca surge e suspiro aliviada por encerrar a conversa.
O vestido em seu corpo é deslumbrante e bato palmas animada.
一 Perfeito. 一 Elogio.
一 Beca, se você não levar, eu ou a Chiara levaremos, é esse.

O filme começou há uma hora e não consegui entendê-lo por que minha mente não presta
atenção, são apenas imagens circulando, rostos, falas desconexas e o vazio de estar aqui, com
saudades dele. Eu disse que havia matado a Chiara apaixonada, mas não consegui, ela é maior
que minha outra parte, então a adormeci.
O interfone toca e saltamos de susto.
一 Meu Deus, quase morro. 一 Diz Amy e gargalhamos alto.
一 Isso que dá assistirmos filme de terror. 一 Brinca Beca.
Lentamente Amy segue até a porta no fim do corredor lateral e fica longos minutos lá
fora.
一 Deveríamos ter pedido sorvete de chocolate. 一 Digo sorrindo.
一 Concordo, só as barras de chocolate não me satisfez. 一 Escutamos os passos dela
retornando, então ela para no início do corredor me encarando.
一 Chiara, é o Ricardo, ele disse que precisa perguntar algo para você. 一 Meu coração
acelera e algumas pontadas de dor surgem em meu estômago.
Levanto e agradeço, seguindo até lá. Vejo-o, a mão esquerda apoiada na parede lateral, o
corpo largo cobrindo todo espaço da porta e os olhos azuis fixos nos meus enquanto me
aproximo. Todo meu corpo sinaliza que está vivo e vê-lo causou o colapso dos meus órgãos,
porque estou sufocada de euforia, mas não posso demonstrar. Desvio o olhar e ele abre uma
brecha me deixando sair. Quando passo, ele fecha a porta e me encolho com a brisa fria que
atravessa a rua.
Ricardo está usando uma calça moletom preta e uma camiseta larga fina de malha cinza.
一 Oi… 一 Inclino o corpo de lado presa em seu olhar. 一 No que posso te ajudar?
一 Precisava te ver antes de dormir, você ficou fora o dia todo e o Rico me disse que
dormiria aqui, queria saber se você está bem. 一 Um nó embola em minha garganta, pesando
tanto que bate no estômago forte, instigando um tremor amplo por todo meu corpo.
一 Vai embora, tio. 一 Dou um passo para pegar na maçaneta e sua mão toca na minha.
Um frio infinito faz meus batimentos acelerarem e uma onda de calor me consume.
Fecho os olhos sentindo seus dedos roçarem nos meus e Ricardo oscila nervoso. Calafrios se
dissipam e uma sensação arrebatadora me desarma porque não o afasto e deixo que sua mão
transponha a minha e aperte forte.
一 Vamos para casa, minha cerejinha, para a minha cama, estou definhando sem você.
一 Uma onda de emoções eclodem dentro de mim, mas refreio todas, lutando contra os meus
próprios sentimentos.
Quando eu o queria, me rejeitou, disse que precisávamos ficar distante. Procuro qualquer
pretexto para não ceder. O que acontecerá após passar a noite com ele? Dirá que se arrependeu?
Que estamos errando? Estou cansada de achar que não sou suficiente. Ele não lutará por nós,
estamos na mesma atmosfera, mas parece que caí e não tem volta. Engulo o desejo de chorar, de
beijar sua boca, de sentir mais dos seus toques e encaro seu rosto, com toda dor vívida e pulsante
acontecendo.
一 Não sei do que está falando, tio Ricardo, te vejo amanhã, boa noite. 一 Abandono
sua mão e abro a porta.
Ferozmente ele me puxa e meu corpo colide com o seu, então sua boca me beija.
Estremeço. A língua desesperada para encontrar a minha, e me entrego ao momento, gemendo
em sua boca. Ele me prende na parede ao lado deslizando as mãos em minhas costas e bunda,
aumentando nosso confronto. Minhas pernas amolecem, fico ofegante, o suor excessivo surgindo
em minha nuca. Seus lábios perpassam os meus em um roçar quente, o sabor do álcool em sua
língua me traz saudades. Eu senti tanta saudades, mas forço meu corpo a reagir e o afasto.
Estamos na rua, em frente à casa da Amy, e se alguém nos vir? Minha boca seca e com a voz
irregular o rejeito.
一 Não podemos. Isso é errado. 一 Um carro liga a distância, minha barriga dói, por
sorte a pessoa não deve nos conhecer.
Forço minhas pernas para dentro, elas querem voltar, mas impeço. Ricardo cobre o rosto
com as mãos e afobada fecho a porta.
Não existe mais jogo, o nosso segredo ilícito precisa ser enterrado.
CAPÍTULO 27

Ricardo estava certo em dizer que precisávamos de um tempo para definir o que
sentíamos, para determinar se poderíamos matar a nossa paixão proibida e manter o
relacionamento familiar, ou se estávamos fadados a sofrer por algo que não é compreensível.
Quando entramos no jogo perigoso de pisar na moralidade e pecarmos, não calculamos que
poderíamos acabar presos em uma guerra atemporal.
Todos os dias achávamos que poderíamos controlar os riscos, mas, na verdade, já
estávamos presos em uma mesma dimensão, onde nada e nem qualquer tempo poderia afetar o
crescimento desenfreado da paixão. Sinto que sou dele, que estamos em uma relação, mesmo
achando que não deveríamos ter uma.
Passamos mais uma semana sem contato, foi impossível dormir, só pensava nele, nas
nossas noites de amor, e percebi que não era só gostoso estar com ele porque fazíamos um bom
sexo, o sentimento mútuo que compartilhamos é o responsável por nos deixar viciados e
obcecados um pelo outro.
Eu amo a sensação da mulher que sou em seus braços, ou quando estamos conversando, e
se existem almas gêmeas, o Ricardo sem dúvidas é a minha, meu coração dói por ficar sem seus
abraços ou até mesmo por não ouvir sua respiração contra minha pele.
Sento em sua frente esticando o braço para entregar os contratos que ele precisa assinar.
A cabeça permanece baixa quando os pega, as pálpebras estão pesadas, sendo visível as olheiras,
a barba grande, os cabelos um pouco bagunçados e o rosto apático. São dias sofrendo, mas eu
posso usar maquiagem para disfarçar, ele não. Cansei de lutar contra, de mentir e fingir que estou
bem, não estou, preciso dele.
一 São só esses contratos? 一 Ergue o olhar, encontrando o meu, o coração acelera no
meu peito.
一 Sim. 一 Suspiro antes de deixar que as palavras saiam livres 一 Ricardo, eu não
tenho dúvidas do que sinto, será que podemos nos encontrar de madrugada? Não preciso de
respostas, elas sempre estiveram aqui, estou com saudades. 一 Ele fecha brevemente os olhos e
os abre em seguida, a mão direita solta os papéis e percorre a mandíbula.
Encara-me, a expressão suaviza, como se minhas palavras tirassem um peso de suas
costas.
一 Graças a Deus, eu também tenho as minhas respostas. 一 Um brilho novo surge em
suas pupilas, como se ganhassem vida.
Quero dizer tantas coisas, implorar que não me deixe mais nenhuma noite sozinha, que
me dê esperanças e diga que ficaremos juntos, mas uma batida na porta quebra nossa conexão
visual. Ele limpa a garganta, mas está menos tenso, precisávamos disso, não podemos fugir dos
nossos sentimentos, eles são reais.
一 Pode entrar. 一 Juliano surge, está vestindo calça preta e camisa social azul.
Ricardo eleva o queixo e franze o cenho.
一 Quero conversar com você, Ricardo, sobre um assunto importante da empresa, é
particular, entre nós dois. 一 Fico confusa.
一 Chiara, poderia nos deixar sozinhos? 一 Pergunta e concordo meneando a cabeça.
一 Claro, quando terminarem retorno, adicionarei os contratos no sistema.
一 Obrigado.
Levanto, pego algumas pastas na minha mesa, passo sem olhar para o Juliano e saio pela
porta. O que acontecerá lá dentro? Droga.
Chiara sai da sala, Juliano não tirou os olhos dela até que a porta se fechasse, o que me
deixa enfurecido. Com o semblante arrogante se aproxima e senta na cadeira à minha frente.
Encaramo-nos, como dois lutadores antes de uma grande batalha medindo as forças.
一 Eu sei o que está acontecendo entre você e a Chiara. 一 Meu corpo trava, isso é
ruim, pior do que esperava.
Mantenho o foco, demonstrando não entender sua fala, ele só está especulando e não
posso cair nesse jogo.
一 Não entendo o que você quer dizer. 一 Desvio os meus olhos para a tela do
notebook, como se não fizesse sentido para mim.
一 Aposto que comeu ela.
Suas palavras incitam uma onda de revolta em meu peito, comprimo os dedos do pés no
sapato social, controlando todo meus músculos para não o agredir. Não posso socar a cara dele
de novo, como naquela noite, porque aqui é ambiente de trabalho.
一 Do que você está falando? Você não tem respeito? Saia da minha sala.
一 Não precisa me confirmar nada, Ric, mas eu sei que vocês ficaram, reparei na forma
como ela te olha, além do fato dela não te chamar de tio e sim de Ricardo na frente de todos.
Fora que alguns dias atrás eu vi vocês, em frente à casa da Amy, se beijaram. 一 Perco o ar e
ruídos surgem em minha cabeça. 一 O que o Rico acharia disso se soubesse que o irmão está
comendo a filhinha dele?
Perco o controle, sobressalto voando por cima da mesa agarrando com força o colarinho
da camisa.
一 Olha aqui seu babaca, acho melhor tomar cuidado com o que fala! Você pode magoar
pessoas, isso é algo da sua cabeça, não aconteceu nada entre nós. Não teve beijo nenhum, você
está alucinando.
A expressão dele muda, como se esperasse um soco meu, os olhos piscando mais rápido e
o nariz franzido. Juliano tenta empurrar as minhas mãos, por sorte estou atrás da mesa, ou teria
derrubado o filho da puta no chão. O solto.
一 Não é nada da minha cabeça, darei só um aviso. Afaste-se dela e parem com isso ou
contarei para o Rico. Ele te expulsará dessa empresa e nunca mais deixará você se aproximar da
Chiara. É ridículo você brincar com os sentimentos dela, sabe que jamais ficariam juntos, encheu
a boca quando me socou dizendo que não presto, mas você é muito pior, come a própria
sobrinha.
一 Saia da minha sala agora, porra! Não conte mentiras por aí, quer bater de frente
comigo?
一 Estou batendo agora, as pessoas podem não acreditar, eu só preciso que o Rico
acredite. Estava todos esses dias esperando se deveria ou não falar, mas a imagem daquele beijo
nojento não saiu da minha cabeça. Você sempre age de forma correta, então não use a desculpa
de que ela é sua família porque você não a conhecia desde criança. 一 Juliano caminha até a
porta. 一 O aviso foi dado, essa situação é repugnante, pois envolve abuso sexual. Chiara já
estava passando por problemas, não é? Ela veio morar com o pai para superá-los e o tio abusador
se aproveitou da situação. Deveria ter vergonha. 一 Perco a paciência, ele abre a porta e sai
apressadamente.
Filho da puta!
Descontrolado bato as mãos na mesa, os punhos fechados e jogo tudo no chão.
Como posso estar nessa situação? Com esse merdinha me ameaçando?
Uma coisa que ele disse infelizmente é verdade, meu irmão nunca me perdoaria ou
aceitaria. Sento, apoio os cotovelos na mesa afundando a cabeça nos meus braços. O que meu pai
diria sabendo que o filho ficou com a neta? Caralho!
Chegamos ao fim da linha e sabia que isso aconteceria, mas não dessa forma. Nossa
paixão é proibida e os nossos encontros não podem voltar a acontecer mesmo que estejamos
destruídos.
Ricardo disse poucas palavras o dia todo, principalmente após falar com o Juliano. Não
sei o que conversaram, mas é como se uma parede invisível surgisse ao redor dele. Ficou
pensativo e várias vezes foi necessário chamá-lo seguidamente até que me ouvisse. O jantar foi
como todos os outros dias, com conversas paralelas e risadas.
Agora deito na cama, nua, esperando-o entrar pela porta. Foram dias esperando esse
momento, o nosso reencontro, e poderei dizer que o amo. Sim, eu o amo.
Pouco tempo depois Ricardo aparece. A fisionomia séria, sento no colchão e ele sobe na
cama se fixando em minha frente. Hoje a luz da lua está mais reluzente, mesmo no escuro
consigo visualizar bem todos os seus detalhes. O peitoral largo nu e o short do pijama branco
deixando parte das coxas grossas à mostra. Aproximo rastejando o quadril, mas ele coloca a mão
na minha perna, parece pedir que eu pare.
一 Chiara, preciso falar sobre a resposta que eu procurava durante os dias que estivemos
distantes. Não sei como dizer isso, porque dói. 一 Meu coração fica apertado.
Não esperava algo assim, pelo olhar mais cedo achei que continuaríamos juntos até
definir como agir no futuro.
一 Estou confusa… 一 Ele inspira calmamente, soltando o ar pela boca.
一 Chiara, a resposta é que não podemos continuar. Não é saudável, e só machucaríamos
muitas pessoas.
一 O quê? Não! 一 Uma dor surge em meu peito, fixo o olhar em seu rosto e mesmo
que não queira, avanço sobre ele sentando em seu colo.
Ficamos na mesma altura, meu rosto de frente ao dele.
一 Quando entrei no avião para vir morar aqui eu estava com raiva. Sempre amei o
papai, mas não queria largar toda a minha vida e as amizades para trás. Claro que estava distante
de tudo, que estava juntando os cacos que meu coração tinha ficado após o acidente, a
reabilitação, mas eu achava que estava sendo punida. 一 Confesso 一 Eu me sentia vazia, mas
aí te conheci, e você despertou sentimentos que nunca senti, fez toda aquela dor se transformar
em paixão. Esse sentimento proibido me fez sair da escuridão, parei de sonhar com a Caroline,
em seus braços estou feliz e não é meia felicidade, é completa. Não diga que não poderei mais
beijar você, nem dormir na sua cama, nem ouvir sua voz grossa que me arrepia toda, eu não
aguento mais ficar sem você, por favor, não faz isso comigo.
一 Cerejinha, não diga essas coisas… 一 Ele fecha os olhos, os braços se fixam ao redor
do meu corpo, me apertando em seu colo.
一 Não gosta de mim? Descobriu que era só sexo para você? 一 Os olhos se abrem,
estão marejados.
一 Chiara, eu estou loucamente e completamente apaixonado por você. Sua voz, seus
olhos, seu sorriso e os gestos irreverentes, tudo em você é apaixonante. Eu preciso de você o
tempo todo, mas isso não muda a verdade, que esse sentimento é errado. Hoje você tem 19 anos,
está começando a viver, ainda irá se formar, poderá conhecer um homem bom com uma idade
mais compatível com a sua… 一 Ele eleva a cabeça encarando o teto em pensamento e retorna
o olhar ao meu rosto 一 Quando estiver com 30 anos, definindo seu futuro, estarei com 47, mais
velho que a idade que seu pai tem hoje. É injusto roubar as experiências que ainda terá te
prendendo a mim, trazendo dor para a nossa família, você não merece isso. O que sinto por você
provavelmente nunca sentirei por outra mulher, mas sou o responsável, o que não deveria ter
deixado essa paixão acontecer entre nós. 一 Interrompo-o.
一 Eu não ligo se você estará mais velho, sentimentos não envelhecem, só a nossa
aparência, e não me apaixonei exatamente pelo seu corpo, claro que você é gostoso, mas foi por
causa de quem você é aqui dentro. 一 Coloco a mão em seu coração 一 Se ninguém aceitar,
poderemos fugir, morar em outro país, ter muitos filhos e dormir todas as noites juntos até o sol
nascer. 一 Ele sorri, beijo seus lábios, ele não resiste e aceita.
Um beijo apaixonado e longo, até perdermos o fôlego.
一 Também estou apaixonada por você… não me rejeite, irá doer insuportavelmente.
一 Cochicho em sua boca.
一 Em algum momento a dor irá passar… não podemos, Chiara.
一 Por quê? Aconteceu alguma coisa? Juliano disse algo que te fez pensar essas coisas?
一 As mãos dele sobem em minhas costas com carícias suaves, suspira e nega.
一 Não, ele não disse nada. Só estive pensando claramente, eu amo meu irmão, estou me
colocando no lugar dele, Chiara. Seu pai se sentirá traído, não é justo pensarmos só em nós
quando também amamos as pessoas que poderemos magoar. Prometo que só irá doer agora, mas
lá na frente não se lembrará de como foi, porque estará ocupada demais vivendo a vida. 一 Um
nó se forma em minha garganta, minha boca seca e as lágrimas se formam em meus olhos.
Saio de seu colo, ele fica triste, me afasto, entro embaixo das cobertas e deito de costas.
Não posso olhá-lo, porque não conseguirei esconder o quanto ele está me quebrando com suas
palavras.
一 Por favor, só peço que não me trate bem, me machuque e faça com vontade, porque
essa é a única forma de me fazer te esquecer. Não seja legal comigo, saia do meu quarto, preciso
ficar sozinha. Fique com a sua dor, titio, que eu fico com a minha.
Estou com raiva dele por me deixar, mas também estou triste, com todas as angústias
dominando meu coração enquanto começo a sufocar. As lágrimas escapam e tento segurá-las,
mas é impossível porque não queria perdê-lo. Não quero vê-lo se esquecendo de mim, nem ver
minha fantasia de segundos atrás desaparecer ao pensar no futuro conosco juntos.
Ricardo se levanta, caminha até a porta; fecho os olhos, não quero vê-lo. Cubro o rosto
com as mãos, e quando escuto a maçaneta fechar, deixo que a dor exploda em um choro
incontrolável. Será muito cedo para dizer que o amo? Porque o que sinto é a pior sensação que já
experimentei na vida: perder alguém vivo, alguém que me fazia sentir completa, me mata por
dentro.
Viverei essa dor com intensidade para nunca esquecer como é ser destruída mais uma
vez.
CAPÍTULO 28

Queria abrir o jogo, confessar tudo que sinto e tudo que aconteceu para o papai, mas
tenho medo de machucá-lo. O olhar do Ricardo é acolhedor, aquele mesmo que encontrei pela
primeira vez no aeroporto. Ele quer me defender do mundo e de todos. Deveríamos ser capazes
de escolher quem amar, mas o coração é teimoso e traiçoeiro. E, de repente, você se vê
apaixonado e amando alguém que você não pode ter. Em que momento passei a gostar
justamente dele? Talvez tenha sido no primeiro sorriso ou no primeiro olhar, ou nos beijos
quentes e sedutores, ou na nossa incrível conexão.
Esse sentimento vem me consumindo, não consigo pensar em outra coisa a não ser nele.
Passo uma semana cinza, dias presa na minha dor, na escuridão sozinha, sem ele para me abraçar
ou beijar e sussurrar o quanto somos bons juntos. Estou presa em uma nuvem densa de
tempestade, há trovões descarregando angústias em meu coração, e raios roubando toda
eletricidade que ele fazia correr em minhas veias. A vida é mesmo injusta, e de repente estou
revivendo as memórias passadas quando estava internada na clínica de reabilitação. Na agonia
que corria em cada fibra muscular que queria deflagrar e fugir da realidade.
Lembro das palavras de apoio, das noites chorando, das horas que pareciam não passar.
Ficar sem o Ricardo é igual, uma abstinência corrosiva, mas no fim não há um paraíso, uma
liberdade, só ficará a sensação em cada batida do meu coração de que não queria matar nossa
paixão, porque nada de bom acontecerá quando esquecê-lo. Que outro homem poderia ser como
ele? Nenhum, ele é único, real, mas nunca será meu na luz do dia.
Sem ao menos esperar chegou e tomou conta do meu coração. Esse ainda não é o
momento, a guerra que ele vive é mais pesada que a minha. Tenho 19 anos, ele 36, deveria ser o
responsável? Certo! É o que o papai dirá. Em nossas veias correm o mesmo sangue familiar. Não
existe um futuro para nós sem que haja perda.
Ricardo está apático, desconectado do mundo, com algumas olheiras, sempre parecendo
cansado, e sei que está como eu, desnorteado. Cumprirei o que combinamos na nossa última
conversa, mesmo que seja praticamente impossível passar por cima desse sentimento e seguir em
frente.
Dói no coração, dói em cada fibra muscular, em cada respiração e nas lágrimas de sangue
que tenho derramado toda noite desejando sua sombra.
UMA SEMANA DEPOIS
Cada dia que passa tem sido pior, lembro das palavras do Ricardo dizendo que em algum
momento a dor irá passar, mas ela continua aqui, e tem sido difícil conseguir segurar esse
sentimento que só cresce.
O dia chega ao fim e saio da sala dele para guardar as pastas do dia. Beca está
conversando com a Amy e me aproximo para cumprimentá-las. Tenho passado todo o tempo na
sala, mexendo apenas no notebook, pois é assim que lido com minha tristeza, me isolando.
一 Olá, meninas… 一 elas levam a mãos aos lábios parecendo surpresas com algo. 一
O que houve?
一 Você não sabe da maior fofoca que está rolando hoje na empresa?
一 Não, estava tão atarefada... o que aconteceu? 一 Amy segura meu pulso me puxando
para a sala de café da tarde.
一 A Emily, assistente do Juliano, revelou algo inesperado para a Beca. 一 Encaro-a
esperando que diga o que foi revelado.
Os cabelos castanhos cobrem metade do rosto pelos movimentos de empolgação, porque
parecem emocionadas.
一 Diga logo, Beca. 一 Ordeno quase infartando de curiosidade.
一 Eleonora está cuspindo fogo porque a Emily me disse que o Ricardo a convidou para
um jantar hoje. 一 O sorriso que estava em meu rosto desaparece e meu coração aperta.
Espasmos de dor percorrem cada parte de mim; ele está seguindo em frente, me
esquecendo. Volto a sorrir, engolindo toda a indignação.
一 Uau, isso é novo. Que horas eles irão jantar? 一 Balbucio.
一 Não é? Seu tio deve estar mesmo interessado nela, nunca convidou ninguém do
escritório para um encontro. Ela disse que seria às 21:30h. 一 Droga, é um encontro! Isso
jamais aconteceria entre nós dois porque nunca poderíamos sair em público, e normalmente as
pessoas transam ao fim dele; eles dormirão juntos.
Aperto as pastas na palma da mão, magoada com a notícia.
一 Preciso guardar isso, até segunda, aproveitem o final de semana.
一 Você também. 一 Sorrio e com passos rápidos fujo para a sala de arquivos sentindo
uma lágrima intrusa escorrer na minha bochecha direita.
Enxugo-a, não quero mais sentir isso.
Guardo todas as pastas, um pensamento insano e amargo surge em minha mente. Ele quer
acabar comigo, não ficarei vendo-o ser feliz enquanto morro por dentro. Engolfo em uma cápsula
de força a vontade de chorar e saio da sala de arquivos indo em direção à recepção do Juliano.
Emily está lá atrás do balcão e Ricardo em sua frente, sorrindo. Por que dói tanto? É errado
desejar que ele estivesse sorrindo para mim? Engulo as lágrimas que surgem, inspiro
profundamente e sigo até os dois. A mulher é linda, os cabelos são longos, castanhos, pele parda,
corpo extremamente malhado, cheio de curvas e os olhos cor de mel. Ele fica tenso ao me ver,
nem olho em seu rosto, ignoro-o e ela sorri para mim.
一 Boa tarde, Chiara.
一 Boa tarde, posso falar com o Juliano? Ele está ocupado?
一 Vou interfonar, só um minuto. 一 Ricardo passa as mãos no cabelo, não preciso
olhá-lo para perceber que está incomodado, demora segundos para sua voz surgir em meus
tímpanos, arrepiando meu corpo.
一 É algo do serviço que precisa ver com ele? Posso verificar. 一 Não respondo
mantendo o olhar fixo na porta da sala dele. 一 Chiara…
一 Ele está sozinho, pode entrar.
一 Obrigada, Emily. 一 Passo por ele, o perfume invadindo minhas narinas e só consigo
sentir raiva.
Ele quis ir por esse caminho e irei fazer o mesmo. Fecho a porta ao passar, Juliano está
sentado, a sala é pequena, com apenas uma mesa no centro e duas poltronas. Ele sorri e arruma a
postura, caminho até a poltrona em sua frente e me sento.
一 Posso te ajudar com alguma coisa?
一 Sim, estive pensando no beijo daquele dia. 一 Os olhos dele brilham e o rosto
enrubesce 一 Adoraria aceitar aquele jantar com você hoje para nos conhecermos melhor. O
que acha? 一 Ele perde a fala e apenas sorri, as mãos gesticulam no ar empolgado.
一 Claro, eu conheço um restaurante italiano ótimo, você gosta?
一 Sim, pode me pegar em casa às 21h?
一 Claro, será um prazer, obrigado por me dar uma chance, te mostrarei que sou um cara
bom.
一 Tem uma condição.
一 Qual?
一 Nada de sexo, é apenas um jantar.
一 Tudo bem, combinado. 一 Sorrio 一 Te espero no horário, não se atrase.
一 Não me atrasarei. 一 Levanto, aceno e sigo em direção à porta, saindo da sala.
Ricardo está na recepção me esperando e passo reto seguindo para o escritório dele.
Adentro indo direto a minha mesa para pegar a bolsa.
一 Chiara. Eu… 一 Ignoro. 一 Fala comigo, por favor. 一 Encaro-o amargurada, sem
conter meus olhos de se encherem de lágrimas.
一 O que foi?
一 O que você queria com o Juliano? Aquele cara é… 一 Sorrio, é inacreditável, ele é
ridículo.
一 Você não é o meu pai, me deixa em paz. Até amanhã, chefe. 一 Caminho na direção
da porta.
一 Cerejinha… 一 Não olho para trás.
一 Meu nome é Chiara, nunca mais me chame assim. 一 Sigo para a saída, papai está
no elevador e entro.
一 Cadê seu tio?
一 Deve estar vindo.

Escolho um vestido curto acetinado na cor champanhe, a minha silhueta ampulheta é


realçada por um decote suave em formato de coração e as alças finas. A barra possui um babado
que confere volume, movimento e um ar feminino delicado, mas sensual. O caimento sexy
evidencia as curvas do meu corpo. A calcinha fio dental rosê está invisível na peça e suspiro
aliviada. Penteio os cabelos deixando parte dele na frente, passo um batom vermelho queimado e
coloco um salto prata.
Estou deslumbrante, pareço uma mulher e não uma garota de 19 anos, Ricardo ficará
impressionado.
Não deveria ter feito isso para provocá-lo, mas de repente Juliano pode ser um cara legal
e a noite pode ser divertida.
Passo perfume, confiro minha imagem novamente no espelho, pego a bolsa e olho o
relógio que marca 21h em ponto. Uma mensagem do Juliano surge no meu celular: “cheguei”, e
respondo avisando que sairei em dez minutos.
Saio do quarto e desço as escadas, escuto papai e Ricardo conversando na cozinha.
Poderia ouvir escondido, mas meus saltos pontiagudos batendo no chão avisaram da minha
chegada. Os dois focam em mim, Ricardo não contém a surpresa. Ele está arrumado, vestindo
um terno preto que o deixa irresistível. Ignoro os dois e pego um copo de água.
一 Pai, tenho um jantar, não sei que horas chego, mas não se preocupe, estou com a
chave.
一 E onde pensa que vai assim? Com quem? 一 Irritado coça a cabeça 一 Chiara, se
bater um ventinho sua bunda aparece de tão curto que esse vestido está.
Olho-o por cima do ombro e nego.
一 Pai, não exagera, meu celular está ligado, qualquer coisa manda mensagem.
一 Com quem sairá? 一 Irrita-se.
Meu tio não se move, parece em choque, finalmente desperta franzindo a testa,
deslumbrado com meu corpo porque não tira os olhos.
一 Jantarei com o Juliano. 一 Ricardo lança um olhar fumegante, contraindo os lábios.
一 Você não sairá com esse cara. 一 Esbraveja ciente do que está acontecendo.
一 E por que não, tio? Sou solteira, ele também, qual o problema? 一 Minhas palavras o
deixam mudo.
Papai bate a garrafa de cerveja na ilha enquanto se levanta do banco.
一 Chiara, as regras que criei na empresa são bem claras… 一 O interrompo.
一 Ah, sério? Quais regras? Que funcionários não podem sair? 一 Deposito o copo no
balcão, giro o corpo encarando os dois de frente 一 Inclusive, tio Ricardo, desejo um ótimo
encontro hoje com a Emily, que a propósito, é funcionária também, e não se esqueça de pedir
para ela contar todos os detalhes para as amigas amanhã. 一 Papai cobre o rosto com as mãos.
一 Quanto a você, pai, fingiremos que ninguém sabe sobre a Amy. 一 Ele bufa sem argumento.
一 Essas regras são ridículas já que quem as criou não dá exemplo, sou uma Mandolini, estou
fazendo a mesma coisa que vocês. 一 Os ombros do Ricardo caem, a mão direita espalma a
nuca, o olhar consternado. 一 Juliano está me esperando lá fora, não se preocupe, pai, usarei
preservativo se algo acontecer entre nós dois. 一 Papai enfurece e acerta um tapa no balcão.
一 Chiara Mandolini...
一 Tenho 19 anos, não sou mais uma criança. Boa noite!
Com passos lentos, saio do cômodo em direção à saída. Chegando na área externa vejo o
carro, Juliano acena do banco do motorista e sigo até lá. Abro a porta do passageiro e os dois
estão na porta, frustrados, Ricardo dá um passo em nossa direção com o semblante carrancudo e
fecho rapidamente a porta.
一 Boa noite, você está maravilhosa.
一 Obrigada. Vamos, antes que me arrastem de volta para dentro. 一 Ele liga o veículo
e sai em alta velocidade.
CAPÍTULO 29

Perdi o rumo e qualquer discernimento quando Chiara disse que jantaria com o Juliano.
As alegações que usou para o Rico são verdadeiras e também estou ciente que pisei na bola.
Todos os dias que passamos longe destruíram meu coração. Às vezes não me reconheço, adotei
uma nova identidade enganando minha dor e o quanto estou apenas sobrevivendo longe dela.
Ver seu rosto e não poder segurá-lo, sua boca e não poder beijar tão intensamente como
queria é insano. Uma pedra comprime meu peito e parece descer rasgando tudo, arrebentando o
meu estômago. Meu coração dói, estou assombrado, e me sinto um nada diante de tanta agonia
por vê-los saindo juntos. Não contei sobre as ameaças do Juliano porque queria protegê-la e
estava convicto que ficaria longe daquele filho da puta. Porra, estamos apaixonados, mas eu sou
tão idiota.
Chamei a Emily para sair justamente para enganá-lo, para tentar mostrar que nunca houve
nada entre nós, e assim evitar que o Rico descobrisse da pior maneira o nosso segredo ilícito. Ele
xinga ao meu lado, está com ciúmes da filha e engolfo toda minha frustração engolindo-a
amargamente.
一 Caralho, espero que ele deixe as mãos e a boca bem longe da minha filha,
principalmente o pau, ou o arrancarei fora.
一 Não se preocupe, ele sabe que se brincar com os sentimentos dela irá receber outra
porrada. É um jantar de amigos, ela só está saindo um pouco para se divertir, fique calmo,
quando a Chiara disse aquelas coisas para você foi somente para te irritar. 一 Aviso puxando as
chaves do carro do meu bolso, minhas mãos trêmulas, e as palavras que saem da minha boca são
mentirosas, por dentro estou queimando de raiva.
一 É verdade, mas é difícil ver minha filha se tornando uma mulher, até ontem era uma
criança.
一 Preciso ir, mandarei mensagem para a Chiara, eu a trago para casa.
一 Tá bom, fico mais aliviado. Bom encontro.
一 Bom descanso. 一 Sigo direto para a garagem.
Entro no carro sufocado, o corpo tenso tomado pela dor, estava me segurando na frente
do meu irmão. Com força acerto um soco no volante. Dói na alma fechar os olhos e imaginá-la
beijando aquele cara, em idealizar as mãos dele passeando em seu corpo ou pior, os dois em
cima de uma cama fazendo sexo. Achei que poderia vê-la com outra pessoa, mas agora percebo
que mesmo que não fosse o Juliano estaria da mesma forma, consternado. Como conseguirei
ficar o resto da noite sem notícias? Sem saber que está bem, que ele não se aproveitará dela?
O restaurante é aconchegante, com dois espaços, um interno e outro externo. O garçom
sorri e nos leva até o jardim onde as mesas são mais reservadas e com uma distância expressiva
uma das outras, o suficiente para dar privacidade ao casal. O ambiente é decorado com flores e
plantas ornamentais, e a mesa é em estilo parisiense com pintura laqueada laranja. Sentamos em
lados opostos, ficando frente a frente.
一 Boa noite, sejam bem-vindos, aqui está o cardápio. 一 Diz o garçom.
一 Boa noite! 一 Respondo simpática, analisando as opções.
一 Queremos o melhor vinho da casa e o meu prato, pode ser um… 一 diz Juliano
pensando por alguns segundos 一 Bucatini all’amatriciana.
一 E a senhorita?
一 Lasagna Bolognesa.
一 Anotado, servirei o vinho. 一 Retira-se seguindo para a adega na área interna.
Juliano me admira, o olhar passando no meu rosto, em seguida nos lábios, descendo para
os seios.
一 Você está linda.
一 Obrigada.
一 Esperei tanto por essa oportunidade, prometo que nossa noite será inesquecível.
一 Não sei o porquê queria tanto sair comigo, conversamos pouco.
一 Você não é como as outras mulheres, Chiara, tem algo especial, é autoconfiante,
inteligente e tem se saído muito bem na empresa. Os clientes têm elogiado sua simpatia e o
quanto se sentem seguros ao abrirem suas contas novas.
一 Espero aprender mais, quero ser melhor e mais eficiente.
Admiro a Chiara, eu sabia que não queria me rejeitar, nunca quis. Suspiro
profundamente, pensando sobre tudo. A primeira vez que olhei para ela experimentei sensações
novas. Ela tem as características físicas que sempre desejei encontrar em uma mulher. Sou
apaixonado por ruivas, não importa a altura, ou o formato do corpo, é algo que me atrai, um
gosto particular. Desde que comecei na empresa, há um ano, tenho colecionado mulheres que
suspiram por mim. Sempre tive todas que desejei e não foi nenhum esforço consegui-las.
Chiara se tornou, de início, um desafio gostoso, mas então virou algo mais. Curioso,
desde que a vi no aniversário do Ricardo fui procurar sobre sua vida, não encontrei suas redes
sociais e fiquei frustrado. Não satisfeito, pesquisei as pessoas próximas a ela, como a mãe, que se
chama Suzanne, mas encontrei poucas postagens que pudessem suprir minhas dúvidas. A garota
mal saia da casa do Rico e quando tive a primeira oportunidade de vê-la dei uma carona.
Naqueles segundos dentro do meu carro, com seu cheiro preso em minhas narinas, tive
certeza de que ela era a mulher certa para mim, e o início dela no banco facilitaria as coisas, nos
conheceríamos melhor. Porém, opondo-se a tudo que planejei, nada aconteceu, ao contrário, ela
ficou cada vez mais distante, e desde a festa não falou mais comigo. Ricardo terá que aceitar,
agora a Chiara será minha, e farei questão de demonstrar que fui maior que ele. Pego meu
celular, Chiara está com os olhos vidrados na decoração ao redor, em cada detalhe e
disfarçadamente tiro uma foto sua. Escrevo uma mensagem junto à imagem e envio para ele.
Agora não pode fazer nada, não se quiser manter seu segredo sujo.
Saí de casa e parei o carro assim que virei na primeira rua. Permaneço 10 longos minutos
com uma dor destruidora no peito. Preciso confiar na Chiara, sei que ela não deixará nada
acontecer hoje. Todo o meu corpo está insistindo que não, que ela não pode ficar perto dele.
Meu celular vibra, bufo sem respirar direito, estou aflito, pego o aparelho que havia
depositado sobre o painel. É uma mensagem do Juliano, semicerro os dentes contraindo a
mandíbula e abro. Meu coração martela no peito de ódio.
É uma foto da Chiara, está de perfil atenta há algo, é nítido que nem viu ele tirá-la, mas o
que ferve o meu sangue é a frase que adicionou.
“Não se preocupe, Ricardo, cuidarei muito bem da sua sobrinha a noite toda, hoje
ela dormirá com um homem de verdade”.
Um suspiro terrível e prolongado escapa das minhas narinas.
Homem de verdade? Mostrarei o que é ser homem para esse merda.
Falhei, porque agora perdi o controle e irei buscá-la. Preciso agir.
Não vou deixá-la com ele, não vou deixá-la com homem nenhum, porque ela é minha, eu
a amo e foda-se se sou o seu tio. Analiso a foto novamente, ao redor está visível uma parte do
restaurante, é um de luxo, italiano, sei exatamente onde estão.
Ligo o veículo, a cada milha que ando, sou inundado por novos pensamentos torturantes.
E se por acaso ele colocar a mão em sua coxa? Ou tentar beijá-la?
Acelero o veículo com o olhar de águia e ao chegar estaciono feito um louco, dominado
pela fúria. Fiquei tão impactado e cego que esqueci do principal, que também tenho um encontro
hoje. Inspiro profundamente frustrado, claro que não aconteceria nada entre mim e a Emily.
Droga, até me esqueci dela, não posso deixá-la esperando.
Envio uma mensagem de texto enquanto saio do carro.
Ricardo deve estar se lamentando com a minha mensagem. É nojento e inaceitável que
eles ficassem juntos, ele deve ter praticado vários abusos com o corpo dela. Eu o ameacei, ele
recuou, sou o salvador da Chiara e nada me impedirá de possuí-la esta noite, afinal, deu até para
o próprio tio, por que não daria para mim? Sim, eu sou o homem certo. Cada dia me sinto mais
obcecado em fazê-la se apaixonar por mim.
Ela está perfeita com esse vestido curto e o mínimo que espero ganhar dela é a sua boceta
e uma noite intensa de prazer, como imaginei repetidas vezes em minha mente, quero que ela
abra muito bem as pernas para compensar tantos dias me masturbando pensando nesse rostinho
lindo.
O garçom coloca as taças na mesa e preenche com vinho nos deixando sozinhos em
seguida.
一 Chiara, posso te fazer uma pergunta? 一 Os olhos azuis me fitam com atenção e a
boca dela é tão gostosa que vou adorar vê-la me chupando, espero que saiba usar a língua.
一 Claro, pode sim. 一 Sorri.
一 Como era antes, quando morava no Estados Unidos?
一 Muito bom, estudava, saia bastantes, tenho muitos amigos, mas estou feliz por morar
com o meu pai.
一 Deixou algum namorado para trás? 一 Arqueia a sobrancelha.
一 Ah não, relacionamentos a distância não dão certo, não sou idiota, ganharia muitos
chifres. 一 Sorrimos.
一 Gostou do meu beijo? 一 A testa enruga.
一 Para ser sincera, aquilo nem foi um beijo. 一 Cadela, está dizendo que beijo mal?
一 Lembre-se, é apenas um jantar, não acontecerá nada entre nós. Você disse que seríamos
amigos, certo?
Encaro-a, tentando esconder o quanto minha mente está em turbilhão. Não consigo
acreditar que vou pagar o jantar neste restaurante, um dos mais caros da cidade, atoa. Além
disso, a salvei ao afastar o tio abusador dela, e ainda assim não ganharei ao menos um beijo? É
inadmissível! Quando sairmos por aquela porta e entrarmos no carro, ela será obrigada a me
chupar, e quando colocar meus dedos em sua boceta, ela irá mudar de ideia, ninguém me recusa
depois de uma noite romântica.
一 Claro, seremos amigos. 一 O garçom aparece com os pratos.
Chiara agradece, degusta o vinho, e depois a refeição.
一 Hum… 一 geme ao provar 一 Está uma delícia.
Pego a taça, experimento, o sabor seco do vinho desce em minha garganta. Recosto na
cadeira, admirando-a. Finalmente comerei a filhinha do chefe e a deixarei caidinha por mim. Ela
é gostosa demais.
Escuto uma voz grossa ressoando da área interna, o olhar da Chiara segue até lá, ela trava
o garfo no ar assustada. Inclino o rosto e o vejo.
一 Ricardo… 一 Ela diz.
Que merda!
CAPÍTULO 30

Reconheceria a voz grossa dele a milhas de distância. Ergo o olhar, meu braço trava no ar
com o garfo próximo a minha boca. É o Ricardo. Ele se aproxima da porta de acesso, o olhar
encontra o meu. Meu coração perde o ritmo, o garçom diz algo a ele que apenas concorda,
movendo-se em nossa direção, Juliano fica tenso, e os passos pesados ficam cada vez mais
próximos, me fazendo tremer.
Ele para ao meu lado, deposito o talher rente ao prato e nos entreolhamos intensamente.
A mandíbula dele está travada, as pupilas faiscando, me punindo por estar aqui, não precisa
dizer, as nuances emocionais expandindo-se através da nossa conexão falam nitidamente.
Os dedos da mão direita seguem até o punho do terno, dobrando-o, em seguida o da
camisa, e faz o mesmo na manga do braço oposto. Minha boca seca, ele agredirá o Juliano?
Talvez. O silêncio é de embrulhar o estômago.
一 Vamos embora, cerejinha… 一 Ele diz e levo o olhar ao Juliano, que está inquieto,
fazendo gestos nervosos no ar com as mãos.
一 Ela está jantando comigo, Ricardo. 一 Meu tio comprime os lábios, o osso malar
destacando-se em sua face, e fecha os punhos ao girar o corpo para encará-lo de frente.
As sobrancelhas se curvam e toda face se move em uma expressão violenta. O braço
direito se desloca contra ele, o punho o atinge com um soco no meio do rosto, o impacto do
golpe produz um som de galho se quebrando, e a força faz a cabeça dele chocar-se contra o
próprio prato que se quebra, sujando-o com a comida. Juliano brada com a voz soando irregular
pela dor. Impaciente, Ricardo agarra a nuca dele, pressionando a face contra a porcelana,
esfregando-a no caldo branco.
Sobressalto da cadeira, algumas pessoas arregalam os olhos e espalmo o peito do Ricardo
quase implorando para que fique calmo, mas ele está fora de controle. A porcelana corta o rosto
do Juliano e o sangue escorre. Meu tio franze o nariz enquanto prensa mais forte, levando-o a
grunhir na defensiva, então aproxima a boca do ouvido dele, mantendo o aperto firme,
impedindo-o de se levantar.
一 Não bata de frente comigo, terei prazer em acabar com a sociedade do seu pai no
banco e a sua família irá à falência. Deveria me agradecer, playboyzinho, por ter uma vida tão
boa, você sabe que se não fosse por mim seu pai ainda estaria batendo de porta em porta
esperando alguém dar uma oportunidade a ele depois de ter perdido tudo. Caso conte algo ao
Rico, ficarei feliz em levar você para o buraco comigo. É exatamente isso que um homem de
verdade faz, cuida do que é seu. Fique longe dela! 一 Juliano contrai o rosto.
Deslizo a mão pelo braço musculoso tentando pará-lo, Ricardo me fita da cabeça aos pés,
aquele mesmo olhar de desejo que me devorava quando nos amávamos em segredo.
一 Ela é a garotinha do titio e gosta de ser... 一 ele deixa a resposta no ar 一 todas as
noites é na minha cama que ela geme o meu nome. 一 Um ar gélido me atinge como se fosse
uma noite de inverno.
Juliano sabia sobre nós? Como assim?
Tento compreender e talvez esse tenha sido o teor da conversa secreta daquele dia. Por
isso ele me afastou e encerrou nossos encontros?
Ricardo solta o pescoço dele sorrindo irônico, pega o guardanapo e seca o sangue
espalhado nos dedos. Juliano está sem forças e mantém-se na mesma posição. O garçom se
aproxima com os braços elevados pedindo calma.
一 Ele irá pagar a conta e os danos com a porcelana. 一 Meu tio diz, o garçom concorda
com um balançar de cabeça se afastando.
Ricardo vira-se para mim, apontando o dedo indicador em minha face, está furioso.
一 Você é minha e vem comigo. 一 Solto um suspiro que estava preso.
Ele avança sobre o meu corpo, agarra minha cintura e me joga em seu ombro.
一 Ricardo… — Grito — O que está fazendo? 一 A mão oposta cobre minha bunda e
caminha até a saída do restaurante.
As pessoas assistem à cena enquanto me debato. Que porra! Ele pensa que sou uma
criança?
Chegando ao estacionamento amplo e vazio, coloca-me no chão e abre a porta do
veículo.
一 Entra! 一 Ordena.
O olhar é tão sombrio que obedeço e me sento.
Ele fecha a porta, dá a volta e senta-se atrás do volante. Não diz nada, ficamos parados,
estou confusa. Outro garçom se aproxima trazendo algo nas mãos.
一 Aqui estão as imagens das câmeras, senhor, apagamos todas. 一 Ricardo pega a
carteira, retira várias notas de dólares australiano e o entrega.
一 Obrigado! Espero não precisar acionar o meu advogado, ela é menor de idade e isso
traria grandes consequências para o seu restaurante.
一 Não senhor, fique tranquilo.
一 Ótimo, boa noite. 一 Escondo uma risada irônica, ele foi capaz de dizer que sou
menor? Realmente o deixei desnorteado.
Ele liga o carro partindo pelas ruas.
一 Para onde está me levando? 一 Não diz nada. 一 Você tinha um encontro, eu
também tenho o direito de ter um.
一 Não, não tem, e o meu encontro com a Emily era somente para enganar o Juliano, que
estava desconfiado sobre a nossa relação. Graças a você, agora ele tem certeza! 一 Mordo o
canto interno da bochecha, ele quer dizer que a culpa é minha?
一 E achou que eu fosse adivinhar isso? A fofoca do dia era que pela primeira vez você
convidou alguém para um encontro. Como acha que me senti? Eu nunca fui a um encontro, e
fiquei magoada porque... 一 pauso a fala, ele me olha 一 queria estar no lugar dela. Queria ser
eu a te encontrar, a tomar vinho caro, comer cerejas de sobremesa e no fim da noite estar na sua
cama. 一 Meus olhos ficam marejados e viro o rosto, para que ele não descubra o quanto sinto
saudades dele.
Ricardo suspira e fica calado. Não há muito o que dizermos. Volto minha atenção no
caminho que está fazendo, que é curto, porque cinco minutos depois ele estaciona embaixo de
uma árvore em frente a um mercado.
一 Já volto. 一 Sai, deixa o ar ligado, mas tranca o carro e desaparece lá dentro.
Encosto a cabeça no banco, levo o olhar lá fora, os galhos das árvores se movendo com a
brisa noturna interpõem-se ao luar. Forço meu coração a extirpar as raízes de tristeza enterradas
nele.
Ricardo foi me buscar, não suportou me ver com o Juliano, não suportou a ideia de me
perder. Só não conseguiu admitir ainda. Ele retorna dez minutos depois com algumas sacolas,
colocando-as no porta-malas e seguimos novamente pelas ruas até entrar em um prédio de luxo.
Não compreendo por que estamos aqui.
Ele estaciona no subterrâneo e abro a porta do veículo descendo afobada.
一 Onde estamos? Por que não diz nada? 一 Fecho a porta.
Ele faz o mesmo e finalmente parece respirar, o tórax expande-se regular, as emoções que
sentia devem estar se equilibrando, porque me olha intensamente. Desvio o olhar, mas de
esguelha vejo-o contraindo a mandíbula.
一 Ricardo… 一 sussurro docemente e ele reage avançando sobre mim.
As mãos grandes espalmam minha bunda puxando o meu quadril para o seu colo. Passo
as pernas em volta de sua cintura e colamos nossos corpos ofegantes. Estamos bagunçados de
novo, com todas as emoções novamente em conflito. Ele me prensa na porta do carro, esfregando
o pau duro em minha calcinha. Minhas mãos deslizam em seus braços, fixando-se ao redor do
seu pescoço. Ficamos com os rostos a centímetros de distância, apenas sentindo essa sensação
corrosiva de finalmente nos tocarmos novamente. Falta o ar, o coração em um ritmo acelerado
desencadeando os instintos adormecidos.
一 Não aceito te ver com ninguém, só comigo. 一 Sussurra.
一 Você me afastou, escolheu por mim, eu não queria ficar sem você. 一 Confesso com
o olhar fixado, transitando entre sua boca e seus olhos.
一 Foda-se se é imoral, Chiara, se o que sinto fere os princípios de outras pessoas,
porque o meu coração é seu e ele não liga para isso.
一 Ric, meu coração também é seu! 一 Ricardo me beija.
Sua língua envolve a minha, faminto de saudade, acariciando em movimentos rápidos e
intensos. Um calor irradia em minhas pernas, queimando tudo. Ele abre o zíper da calça puxando
a ereção para fora e com a glande empurra minha calcinha para a lateral, me penetrando de uma
vez, até o talo. Solto um gemido gutural. Minha boceta pulsando de desejo, encharcando-o todo.
Estou sedenta, carente dele.
一 Ah Chiara, que delícia, senti tanto sua falta... 一 cochicha esfregando nossas faces,
roçando nossos lábios em um transe magnético. 一 Não posso te perder, eu te amo minha
cerejinha. 一 Perco o ar com sua confissão, ele disse as palavras mágicas que faz meu corpo
todo amolecer.
Meus olhos lacrimejam em um misto de prazer e emoção, mordo sua boca eufórica, eu
senti tanta falta dele, da voz, do cheiro e de como somos bons em amar um ao outro. Deixo que
as palavras saiam suaves dos meus lábios, confessando a ele todo sentimento que fervilha em
meu peito.
一 Eu também te amo, Ric. 一 Ele oscila, admira meu rosto e me segura pela bunda.
Fecho os olhos com o prazer latejando e correndo por todo meu corpo. Ele move o
quadril, chocando nossas extremidades, introduzindo rápido e fundo. Seus dentes raspam em
meu queixo, mordendo minha pele, fico ofegante, a sensação é crescente e deliciosa. Nossas
fricções queimam feito fogo, então abro os olhos fixando nossos olhares.
一 Ah Chiara, eu te quero tanto…
一 Não para, por favor. 一 Suplico, sua boca me beija, as mãos deslizam em minhas
coxas, sentindo minha pele arrepiada.
Prensa-me mais forte contra o carro, em cada investida do pau imenso em minha boceta,
transpiro, eu queria tanto sentir o seu calor, nossas peles em atrito, mas a roupa não deixa.
Aperto seus cabelos forçando seu rosto no meu, para que não pare de me beijar. Quando
perdemos o fôlego, recuperamos o oxigênio arquejantes, em uma admiração genuína. Ricardo
traz uma mão aos meus seios, apertando-os, mamilos inchados marcam o cetim, e sua boca
captura um, mordendo-o por cima da roupa, molhando-a de saliva, e choramingo excitada. Um
farol surge na entrada subterrânea, ele reclama indecifrável, chateado por ter que parar o nosso
momento quente.
Ele me segura com firmeza no quadril e segue até o porta-malas, acopla as sacolas no
braço, o fecha colocando o alarme e caminha para o elevador, nos mantendo conectados
sexualmente. Aciona o último andar me prensando em seguida no espelho atrás de nós. O quadril
se projeta bombeando com força, está com tanto apetite que não quer me deixar. As portas se
fecham, a boca me sufoca com um beijo gostoso e longo.
Chegando na cobertura, ele caminha para fora, puxando do bolso a chave enquanto com
outro braço me mantém em seu colo. Ricardo é forte, viril e seu pau está tão enterrado que dá a
impressão que não sairá tão cedo de mim.
Entramos, ele deixa as sacolas no chão, me põe de pé, e fico confusa. Arruma o pau
dentro da cueca, fecha o zíper da calça e nego enfaticamente, eu quero mais de nós. Admiro o
ambiente de relance, o lugar é imenso, mas está tudo escuro. Ele acende a luz parecendo ouvir
meus pensamentos. O ambiente é moderno, os móveis sofisticados, as paredes azuis,
combinando com a madeira escura.
一 O que houve? 一 Ele sorri.
一 Temos um encontro antes, não vamos atropelar as coisas.
一 Encontro? Como assim? 一 Ricardo pega as sacolas mostrando-as sorrindo.
一 Um encontro particular para tomar vinho caro, falar sobre nós, comer sobremesa e
depois sim, se você me achar interessante o suficiente, poderemos dormir juntos na minha cama
até o amanhecer. Aceita ter um encontro comigo agora? 一 Meu coração acelera e não consigo
evitar um sorriso bobo.
一 Aceito.
Acendo as velas palitos espirais branca e vermelha no centro da mesa, são de aniversário,
mas foram as únicas que encontrei no mercado. Chiara sorri, e fica tão linda assim, sorrindo. O
forno micro-ondas apita. Sei que ela merecia muito mais que uma comida congelada, mas
contrariando tudo, acho que nunca estivemos tão felizes. Seus olhos azuis brilham na luz das
chamas assistindo cada movimento que faço. Abro o vinho e sirvo as taças, depois pego as
refeições dispondo no prato e coloco na mesa.
Sentamos frente a frente, meu coração perde o ritmo. Limpo a garganta, somos nós dois e
o tempo que precisarmos. De repente não sei o que dizer e tenho a impressão de nunca ter tido
um encontro antes, como se ela fosse a primeira e única. Disperso o nervosismo bobo e elevo a
taça.
一 Obrigado, Chiara, por aceitar o meu convite para jantar. Espero que seja uma noite
divertida. 一 Ela enche a boca de ar soltando em um sorriso de alegria, não me contenho e faço
o mesmo.
Ela ajeita os cabelos jogando os fios caídos nas laterais do rosto para trás, adotando uma
expressão de flerte.
一 Tenho certeza de que será uma noite incrível. 一 Degusta o vinho.
一 Está vendo a cidade por essas janelas? 一 Ela inclina o rosto e confirma com a
cabeça enquanto a atenção está lá fora, nas luzes pequenas das ruas.
一 Sim, a vista daqui é linda.
一 É aqui que iremos morar juntos. 一 Ela morde o lábio inferior, os olhos cheios de
lágrimas e não segura as emoções, chorando.
O tórax se movimenta incontido enquanto ela sufoca com as lágrimas. Meu coração
aperta, eu sou tão idiota, eu a amo tanto que não deveria ter tornado tudo tão doloroso. Levanto,
sigo até ela e a pego em meus braços. Beijo sua boca enquanto se aconchega em meu colo. Sinto
o gosto salgado de suas lágrimas em minha língua e aprofundo nosso beijo ansioso, não quero
que ela sofra mais, ou que tenha dúvidas.
一 Chiara, eu te amo. 一 Sopro em sua boca.
一 Eu também te amo, quero fazer amor com você. 一 Sorrimos.
Sento-me na cadeira com ela fixada em meu colo, lentamente desço o zíper lateral do seu
vestido, ela o tira do corpo e está totalmente nua por baixo. Meus nervos afloram quando
imagino que estava perto daquele filho da puta assim, bastava ele tirar sua roupa e fazer com ela
o que só eu faço, porque eu sou o seu homem, não ele.
Retiro as pernas de baixo da mesa deixando a cadeira de travessa. Chiara levanta e
desabotoa minha camisa social a retirando junto com o terno. Abre o cinto de couro, o botão da
calça e o zíper, mantendo o olhar dominante sob o meu. Seu rosto está corado, os olhos
vermelhos do choro, e o batom ainda pinta seus lábios.
Elevo meu quadril e ela puxa a calça e a cueca, arrancando os sapatos ao passá-las nos
pés, me deixando nu. Ela senta em meu colo esfregando a bunda no meu pênis que fica ereto de
excitação. Arrumo-a em minhas pernas, e ergo seu corpo, a mão direita segura na base do meu
pau e encaixa a cabeça em sua boceta, ela dobra as pernas apoiando os pés gelados em meus
joelhos e introduzo dentro dela. Meu coração palpita, meus músculos da coxa retraem e ela força
o quadril se elevando e sentando continuamente. Todos os meus sentidos despertam.
Nossa troca de amor e confissões se dá através dos nossos corpos, dos toques, do suor e
do cheiro que exalam de nossas peles sempre que nos conectamos, como se fôssemos um só.
Deslizo o nariz em seu ombro inalando seu perfume e o pouco cabelo em minha nuca ficam em
pé. A posição é gostosa porque seu clitóris pulsa e posso tocá-lo. Confiro o ato, meu pau ficando
cheio do seus fluidos e levo os dedos ao seu botão, está ruborizado, entumecido e molhado. Sua
boca se abre, os gemidos que tanto fizeram falta saem livres pelo apartamento. Não precisamos
reprimir nada aqui, é só nós dois.
Chiara desliza a mão esquerda em minha coxa, as pernas contraindo os músculos a cada
penetração. Meus nervos vibram de prazer, e o ritmo quente da nossa colisão faz meu peito doer
pela falta de ar, preciso lutar com todas as minhas forças para não me entregar ao desejo. Meus
dedos intensificam a estimulação em seu clitóris, e a outra mão segura o seu seio esquerdo,
brincando com o mamilo duro.
一 Ah, Ric, não quero mais ficar sem você, sem te sentir assim, dentro de mim.
一 Minha cerejinha, só eu posso te comer, gostoso, devagar ou forte. Todo o seu corpo é
meu, assim como sou seu.
As contrações em sua boceta me levam ao delírio, porque sei que falta pouco para nos
deliciarmos com a sensação. O quadril mantém os movimentos, sentando com força no meu pau
enquanto a faço tremer toda. Encho os meus pulmões de ar quando uma avalanche de fogo
queima em meu peito. Os bicos dos seios dela ficam enrijecidos como se estivesse sentindo frio,
sim, é um misto de gelo e calor dominando nossas almas quando estamos perto do ápice.
Meus batimentos estão em um ritmo desenfreado e Chiara joga a cabeça para trás,
soltando os gemidos mais sensuais que já ouvi. É ardiloso, queria ter ouvido antes, quantas vezes
os reprimimos, e eles me deixam em êxtase. Seus clitóris sensível pulsa, as pernas trêmulas
forçando-se a continuar porque está no limite. A lubrificação excessiva traz uma sensação
crescente deliciosa e entramos em um transe porque rosno, mordendo sua pele do ombro.
Minhas veias são lavas vulcânicas derretendo toda sanidade e juntos gozamos gemendo
alto. Meu líquido jorra dentro dela, suas paredes quentes contraindo ao redor da minha ereção é
explosivo. Solto a respiração presa deixando o prazer dominar todo meu corpo. Chiara se
desmancha em meu colo e a abraço com tanta força, contraindo nossos corpos em uma junção
intensa. Tento recuperar o fôlego, as palpitações dolorosas quase gritam e serei levado ao limite
de todas as formas quando se tratar dela.
Arrumo-a em meu colo e permanecemos sentados, na mesma posição, sentindo nossa
troca infame. Meu líquido escorre, e gosto da nossa bagunça. Seguro seu maxilar e inclino seu
rosto de lado, beijando sua boca com certa habilidade, nossas salivas lambuzam nossos lábios,
tamanho apetite. Ficaremos a noite toda assim, esse é só o começo.
Finalmente satisfeitos por matar uma parcela do nosso desejo acumulado, nos limpamos e
sentamos à mesa. Não precisamos de roupa, somos só nós dois e nossa intimidade. Chiara
retorna ao seu lugar e puxamos os pratos para comermos.
A lasanha congelada parece a mais saborosa do mundo. Sua boca cheia de molho fala
sem parar, o rosto iluminado, e a cada segundo a amo mais. Queria que o tempo congelasse nela,
no seu sorriso, no brilho de sua pele sob a luz amarela.
Quando terminamos a refeição, puxo uma bandeja repleta de cerejas em calda e ela
sobressalta feliz, sentando em meu colo para comermos juntos.
A cauda rosa escorre em seu queixo, chupo sua pele e nos beijamos com o doce em
nossas línguas. Não conseguimos conter todas as emoções que sentimos ao mesmo tempo. Seus
dentes mordem a cereja, depois a minha pele do peitoral, então sugo seus mamilos, um alvoroço
insano que nos deixa eufóricos, somos exóticos, nossos toques são intensos, porque é nossa
forma de falar de amor. Quando estamos com o pico alto de açúcar no sangue, a pego no colo e a
levo para o quarto. Meu olhar a devora, tantos dias sonhando com ela na minha cama.
Somos só nós dois no meu apartamento, sem riscos de sermos pegos. Chiara tem um
brilho no olhar avassalador, talvez esteja delirando, ou simplesmente seja a luz. Vê-la assim nua
pulando sobre a cama é de enlouquecer qualquer homem, por sorte, ela é minha, só eu irei
admirá-la e prová-la noite após noite, e em breve sob qualquer olhar indignado, porque direi ao
meu irmão que a amo como mulher. Talvez quando eu disser “Quero me casar com ela” ele diga
“não”, mas me casarei de qualquer maneira, não vejo um futuro sem ela em meus braços.
Chiara senta-se na cama gesticulando com o dedo, me chamando. Deslizo a mão ao redor
do meu pau e movimento da base até a glande, ansioso para estar dentro dela de novo. Seu cheiro
já está aqui, fixado nele. Aproximo-me parando na beirada, ela engatinha em minha direção
ficando de joelhos. As mãos delicadas apertam os músculos dos meus braços e a boca rosada e
úmida beija meu peitoral. Ela suga a pele perpassando a língua junto, mexendo com meus
sentidos, porque fico mais excitado. Levo a mão direita aos seus cabelos ruivos correndo os
dedos nos fios longos e sedosos.
Ela mantém o olhar fixo ao meu enquanto desce os beijos no abdômen, as mãos
espalmam minha bunda e quando chega no meu pênis esfrega-o por todo rosto. A boca brinca
com a glande, o sorriso safado surgindo ao atiçá-lo com a língua. Chiara abaixa o dorso indo
para as minhas coxas onde morde em diferentes pontos os músculos da perna. Jogo-a na cama e
caio por cima do seu corpo.
Beijo seus lábios sem pressa alguma, quero desfrutar de cada minuto ao seu lado. Ela é
proibida, não dá para mudar isso. A aventura e a adrenalina de estar possuindo seu corpo, e saber
que não é certo, queima em meu coração, alimentando meus instintos. Beijo suavemente seus
lábios e ela retribui com um beijo intenso e devorador até estarmos suplicantes por ar.
一 Eu não consigo mais ficar sem você… 一 Sussurra.
一 Eu também não consigo! Não posso mais lutar contra isso, está me destruindo.
一 Quero ficar com você, tio Ric, como sua mulher, dormindo na sua cama, tendo um
lugar só nosso.
一 Eu também, minha cerejinha, falarei com o seu pai. 一 Encosto nossas testas com
carinho, fechando os meus olhos por finalmente sentir que por essa noite estamos livre.
一 Eu amo você!
一 Eu também te amo. 一 Beijo-a intensamente despertando essa paixão louca que
durará a noite toda.
CAPÍTULO 31

Não consigo parar de sorrir. O final de semana fazendo as pazes com o Ricardo foi
inesquecível. A luz do sol em nossas peles ao acordar foi mágico, queria viver isso mais um
milhão de vezes. Nossas confissões, as juras de amor ao pé do ouvido e imaginar um futuro com
o meu tio fez uma felicidade genuína dominar meu coração. A parte mais difícil ainda não
chegou, estou com medo da reação do meu pai, das palavras ácidas que sairão de sua boca
quando souber a verdade, mas tento não pensar muito sobre isso porque fico ansiosa e
angustiada.
Aperto os dedos ao redor do meu copo de café, a sala de reuniões está lotada e papai fala
sem parar.
一 Essa semana, tivemos novos investimentos que tornaram nossas ações mais
lucrativas. Nosso banco está sendo visto e evidentemente mais solicitado, então precisaremos nos
empenhar ainda mais! 一 Só vejo o movimento da boca dele, mas minha mente está em outro
lugar.
Exatamente à direita, em uma pessoa sentada ao seu lado, com os olhos azuis mais
penetrantes e ardilosos que já vi. Quase podemos falar através da nossa conexão, as minhas mãos
suam, meu coração acelera e todos os meus sentidos ficam desordenados mesmo estando à noite
juntos. Ricardo me domina, porque o amor que sentimos é expansivo demais. Enquanto ficamos
presos em uma nuvem de desejo a reunião termina. Nem ao menos tínhamos percebido, levanto-
me, descarto o copo na lixeira.
Ricardo e o meu pai estão conversando com os gerentes e seguem para o elevador. Sigo
em direção à porta quando a mão do Juliano segura o meu braço. O rosto dele,
surpreendentemente parece bem, e o ferimento é quase imperceptível, provavelmente passou
algo na pele. As pessoas conversam paralelamente enquanto saem da sala e ele aproveita da
distração para sussurrar em meu ouvido.
一 Não se esqueça, Chiara, conheço o seu segredo sujo, sei muito bem que seu tio está te
comendo escondido! Acho que você não quer que seu pai fique sabendo, certo? Posso apagá-lo
da memória se passar uma noite comigo, se me deixar te comer também. 一 Estremeço de
medo, algo em sua voz soa perverso.
Ele está me ameaçando porque sabe que o Ricardo jamais prejudicaria o pai dele, que é
um bom homem. Então tentará me manipular em segredo, achando que cederei ao seu pedido.
Esse homem é perigoso. Afasto o meu rosto de sua boca e sem respondê-lo saio da sala. Chego
rapidamente ao elevador torcendo para estar nesse andar, mas desceu com o pessoal. Juliano me
alcança, agarra os meus braços puxando-os com força, deixando-me de frente a ele.
一 Você ouviu o que eu disse? 一 Uso o indicador fazendo um movimento de distância
entre nós dois.
一 Você acha que pode ter algum controle sobre essa situação? Sobre o que devo ou não
fazer? Acha que dormirei com você? 一 Nego enfaticamente meneando a cabeça 一 O que
acha que eu sou?
一 Uma puta que dorme até com os homens da sua família, por sorte só tem um tio, se
não dormiria com todos. 一 Fico enojada, vasculhando ao redor, mas não restou ninguém aqui,
os outros funcionários provavelmente desceram os dois lances de escadas e penso em fazer o
mesmo, mas ele me seguiria de qualquer forma.
一 Que liberdade você pensa que tem para me dizer isso? Nem se eu fosse uma prostituta
receberia para dormir com você. É isso que você quer? Dormir comigo? O único que pode me
tocar é o Ricardo. 一 Os olhos dele escurecem em uma névoa de ódio, ao mesmo tempo que a
raiva explode em meu peito. 一 Eu não sou o Ricardo e você está muito confiante em achar que
controlará minhas ações ou minha vida! Ninguém me controla. Você pode ter conseguido domá-
lo por dias, porque ele é uma pessoa extremamente correta, mas eu não sou como ele! Não queira
me usar, porque não conseguirá nada comigo! Ele te deu uma chance de ouro, não perca essa
oportunidade de ficar quieto e bem longe de mim. Todos têm alguns segredinhos que devem
permanecer guardados! Não queira que eu descubra os seus! Fique na sua!
Juliano sorri, a voz ganhando uma entonação grave, assustadora.
一 Veremos então o que seu pai acha do seu envolvimento com… 一 Antes que termine
de falar o interrompo.
一 Shiiiiiiu! Lembre-se daquele ditado “em boca fechada não entra mosquito”, guarde
para a vida.
一 Chiara, está me desafiando? Não sabe do que sou capaz. Acha que não tenho coragem
de contar? Se não estivesse sendo comida pelo Ricardo estaria sendo por mim e não desistirei até
ter você por uma noite.
一 Você é apenas um playboy com o ego ferido, que nunca foi rejeitado, tenho nojo de
você. 一 O elevador chega e o Ricardo sai, encarando-o furioso.
一 O que houve que vocês ficaram para trás? 一 Fecha os punhos pronto para me
defender se for preciso.
一 Está tudo certo! Estávamos tirando dúvidas de trabalho! Vamos que ainda preciso te
passar algumas coisas. 一 Ricardo nos olha desconfiado, entramos no elevador e quando as
portas se abrem no andar principal me segue até a sala dele.
Assim que fecho a porta, seus braços me puxam em um abraço caloroso, está
preocupado.
一 Aquele babaca falou alguma coisa para você? 一 Passo a mão direita suavemente em
seu rosto e aproximo nossas bocas, roubando um beijo.
Ricardo me aperta contra o seu corpo, intensificando nosso beijo, está feroz e excitado. É
a nossa forte atração. Quando meus lábios deixam os seus, permanecemos com os rostos colados.
一 Não me esconda nada, sei que não quer me ver em conflito com ele, mas sou o seu
homem e te protegerei. Não precisa ser durona sozinha. Você não percebe que eu te quero cada
dia mais?
一 Eu também quero você, quero sentir seus lábios, seu corpo, sua voz no meu ouvido.
Eu sei que quer cuidar de mim e me proteger dele, por enquanto está tudo bem.
一 Não é fácil, Chiara, lutar contra o que sinto, tentar enganar a todos, mas o Juliano está
na nossa cola, se ele nos entregar, perdemos a chance de mostrar que realmente nos amamos.
一 Eu não me importo com o Juliano ou com as ameaças dele! Não podemos deixar ele
determinar o que podemos ou não fazer!
Ricardo me beija de novo, as dúvidas se perdem nos movimentos sincronizados de nossas
línguas. As mãos caminham pela lateral do meu corpo, seguindo o contorno dele. Arrepio
recordando das nossas noites de sexo quente.
一 Eu preciso de você, estou com saudades, somos insaciáveis. 一 Provoca, sorrimos.
一 Também estou com saudades! À noite faremos amor gostoso e dormiremos
agarradinhos hoje! 一 Afirmo.
一 Estou ansioso por isso.
Passei o dia todo remoendo a conversa que tive com a Chiara após a reunião. Ela está
mexendo com toda minha racionalidade. Como pode dizer que não ficaria comigo nem
recebendo dinheiro? Não aceito sua rejeição, é o Ricardo que está usando-a ao ponto de fazê-la
perder a noção da realidade, ela foi a minha sala e aceitou jantar comigo, ela queria tentar algo.
Será que ela não percebe que está sendo manipulada? Que ele a faz se afastar de mim? E
tudo isso porque sabe que ela estaria comigo. Sou o cara ideal, filho do sócio do pai dela, tenho
porte físico, estudo, posso dar tudo que ela desejar, tanto material quanto emocional.
Preciso separá-los, achei que com as ameaças ele pararia finalmente de usá-la, mas não, o
controle que tem sobre a mente dela é mais profundo do que imaginei. Chiara não enxerga os
abusos, aposto que diz que a ama, que não é errado eles estarem juntos, mas não passa de
mentiras. É nojento, inaceitável e o Rico precisa descobrir.
Não posso dizer diretamente a ele porque ficaria um ar de perseguição, justamente porque
me agrediu. Ricardo ligaria a informação a mim, mas posso usar alguém para entregar a verdade
a ele, por isso mandei chamar a Amy. Rico irá expulsá-lo do banco e não poderá prejudicar o
meu pai, além disso, será obrigado a ficar longe da Chiara, quebrando o feitiço que fez sobre ela.
As manipulações acabarão e ela me enxergará como o seu salvador. Ela gosta de mim, me
deseja, quer dormir comigo, só não enxerga porque está cega por aquele falso moralista.
Está escurecendo, alguém bate na porta.
一 Pode entrar. 一 Amy entra.
Será a cobaia perfeita para levar a informação ao Rico.
一 Queria falar comigo?
一 Sim, sente-se, é importante
Ela senta em minha frente, sorri e apoia as mãos sobre os joelhos.
一 Precisa de algum documento específico?
一 Não, na verdade o que irei falar é algo que ainda não diz respeito aos negócios, mas
em breve pode refletir… 一 Passo as mãos no rosto fingindo estar nervoso e receoso em revelar.
一 O que aconteceu?
一 Não é fácil dizer essa barbaridade que inventaram, tudo para tentar prejudicar o Rico.
Sabe, precisamos ficar muito atentos porque nossos concorrentes estão apenas esperando uma
brecha para nos derrubar. 一 Amy leva a mão direita aos lábios, ansiosa.
一 Diga de uma vez.
一 Queria eu mesmo contar para o Rico, mas os caras saberiam que fui eu, então Amy,
chamei você porque é a pessoa de confiança dele, pode contar essa fofoca e quem sabe se algo
explodir estará preparado para contra-atacar.
一 Claro, é sempre bom estarmos à frente desses abutres.
一 Eles adoram inventar mentiras, bom, essa particularmente achei pesada. Hoje, antes
de iniciarmos a reunião, um dos caras comentou que recebeu informações de um funcionário da
concorrência para cair à credibilidade do banco. Um escândalo pessoal porque faz mais estrago,
afinal, aqui na empresa jamais conseguiriam nada para prejudicar nossa reputação. 一 Ela
concorda atenta. 一 Bom, parece que um dos homens de lá viu o Ricardo e a Chiara juntos.
一 O que tem? Acho que sabem que a filha do Rico está estagiando na empresa.
一 Sim, mas os rumores são diferentes, eles estão querendo criar um relacionamento
entre os dois. Ricardo não a conhecia, não possuem laços afetivos, o que disseram é que viram os
dois se abraçando e começaram a espalhar uma mentira nojenta por aí. 一 Amy arregala os
olhos cobrindo a boca com as mãos, perplexa.
一 Isso é um absurdo. Eles são família, Ricardo jamais faria isso, mas é claro que
querem destruir a imagem dele, hoje é o rosto mais conhecido entre os bancários.
一 Sim, estou extremamente preocupado, não acho certo o Rico escutar esse rumor por
aí, precisa alertá-lo.
一 Com certeza, se Rico ouvisse essa fofoca suja partiria até os concorrentes e os faria
engolir o que foi dito.
一 Amy, eu sei que é nojento toda essa notícia, mas ele precisa saber para estar
preparado. 一 Concorda aflita.
一 Com certeza, é uma acusação séria e envolve a família, o nome deles, então sim, darei
um jeito de avisá-lo sobre isso.
一 Ufa, obrigado Amy, estava triste, não tinha nem coragem de dizer, e se eu contasse ao
Ricardo, ele ficaria destruído.
一 Sim, você fez certo em me dizer, falarei com o Rico e nenhum deles precisará saber
disso. Povo doente, pegam pesado nas invenções, é um absurdo. Falarei hoje, no off, para
evitarmos surpresas futuras. Podem jogar isso a qualquer momento.
一 Infelizmente sim, e penso muito na Chiara, veio morar com ele tem pouco tempo,
ficaria arrasada.
一 Sim, ela não pode passar por isso agora, seria destruidor.
CAPÍTULO 32

Pego os papéis de rendimento enfiando na maleta, o celular está no viva-voz com a


Suzanne falando sem parar. Amy entra na sala, a porta estava entreaberta e ao passar ela a fecha.
Franzo a testa enquanto ela se aproxima na defensiva, a face rígida, parecendo que algo a tirou
do sério. Faço um sinal com o indicador avisando da ligação.
一 E como ela está se saindo aí no banco? Parece estar menos deprimida? Semana
passada me ligou, ficamos uma hora falando ao telefone, estava triste com algo. Estou
preocupada, estou pensando em pedir que volte para casa.
一 De jeito nenhum, ela está super bem, voltou a sair, jantou com o filho do meu sócio
na última sexta-feira, está fazendo amizades com as meninas. Ela está bem, deveria estar triste
porque se lembrou da amiga. Chiara ficará comigo agora.
一 Tudo bem, mas se ela quiser voltar não tem problema, o lugar dela sempre será ao
meu lado.
一 Não comece, sou o pai dela, também tenho esse direito.
一 Você é impaciente.
一 Sim, a Chiara também, e justamente por isso ela me disse toda a verdade, poderia ter
contado para você, mas foi comigo que se abriu.
一 Ficará jogando isso na minha cara agora? 一 Inspiro frustrado.
一 Preciso desligar, estou indo para casa, Chiara está me esperando. Tchau.
一 Qualquer coisa me ligue, entendeu? Tchau. 一 Desligo.
Amy senta na poltrona, cruza as pernas e sorri.
一 Chiara está feliz, é adulta, vocês a tratam como uma criança.
一 É, eu sei, estou tentando desapegar. 一 Sorrio.
一 Rico preciso falar sobre ela com você.
一 Como assim? 一 Os ombros dela caem, e tem tristeza no olhar. 一 Aconteceu algo?
Ela ofendeu alguém?
一 Não, Chiara tem sido excelente. Bom, é que hoje na reunião ouvi uns burburinhos que
a concorrência pegará pesado.
一 O que eles dirão agora? Na vez passada disseram que cobrávamos juros a mais nas
contas durante a aplicação. Provamos que era mentira. Não acho que tenham portfólio para um
novo embate.
一 Esse é o problema, querem jogar sujo, bomba familiar. 一 Suas palavras me
preocupam, sento na cadeira atento.
一 Descobriram que ela teve problemas com medicamentos? Que era viciada? Ela era
adolescente, isso não afetará em nada aqui. 一 Amy nega.
一 Algo pior. 一 Apoio os cotovelos sobre a mesa.
一 Qual a merda que inventaram agora?
一 Justamente a falta de laços afetivos entre a Chiara e o Ricardo. 一 Fecho o
semblante, confuso.
一 Os dois estão construindo, Ricardo tem mimado demais ela, está sempre a agradando.
Ele basicamente a adotou. 一 Brinco.
一 É, mas estão vendo isso com outros olhos.
一 O quê? 一 Travo a mandíbula. 一 Que porra estão dizendo? 一 Amy desvia o
olhar, e não é possível que dirá o que estou pensando, isso é inadmissível.
Ela bate as palmas das mãos nos joelhos soltando de uma vez.
一 Que eles vivem um romance, que estão praticando incesto.
Meu peito aperta, levanto furioso batendo as mãos na mesa.
一 Quem é o filho da puta desgraçado que está dizendo isso? Ninguém usará o nome da
minha filha e do meu irmão em uma nojeira dessas. O que eles estão pensando? Que podem
inventar qualquer porcaria e destruir a vida das pessoas? 一 Esbravejo e Amy sobressalta com
as mão espalmadas a frente do corpo pedindo calma.
一 Rico, controle-se, os dois não sabem disso. 一 Fecho os olhos numa súbita
inspiração.
Meu sangue borbulha por cada parte do meu corpo e estou tão furioso que mataria com as
mãos o filho da puta que disse isso.
一 Não podem saber. Ricardo ficaria devastado e minha filha poderia se afundar
novamente naquela merda de droga. Acabaram de se conhecer, Ricardo tem cuidado dela, e
sempre faz de tudo para vê-la bem. Era só o que me faltava, inventarem isso é doentio, Ricardo
jamais faria isso, tem índole, é um exemplo de homem íntegro.
一 Eu sei, o importante é nos prepararmos para revidar se isso tomar proporções
maiores.
一 Sim, falarei com nosso advogado e pedirei que fique atento e entre com processo em
sigilo caso essa notícia cresça.
Saio do banho atordoado, as palavras da Amy rodando em minha cabeça que lateja de
dor. Coloco a roupa e um calçado descendo até a sala. Pego a garrafa de whisky sobre a estante e
sirvo um copo. Meu celular vibra, dou um gole na bebida e não duvido que seja a Amy me
pedindo para não pirar de vez. Essa seria uma ótima noite para transar e esquecer tudo isso.
Confiro que é uma mensagem de texto de um número desconhecido, abro e meu corpo
adormece “A sua doce filhinha está sendo comida pelo seu querido irmãozinho, não feche
totalmente os olhos ao dormir”.
Puta que pariu. Quem me mandaria uma mensagem dessa? Que absurdo!
A raiva cresce como uma erva daninha em um solo arenoso, roubando qualquer espaço
de calma que ainda existia em mim. Preciso descobrir quem está insinuando algo tão grave.
Furioso, jogo meu celular longe, que acerta o sofá e se perde no chão.
Meu irmão jamais faria isso, eu vejo como eles se tratam, é normal. Quem poderia
inventar uma maldade dessas?
Engulo de uma vez o líquido, o amargor queimando a garganta torna-se suave diante do
meu corpo amargurado. Sento na poltrona lateral pensativo, rodando na memória os rostos dos
meus concorrentes, estipulando qual teria coragem de me enfrentar dessa maneira, com algo tão
sujo.
Por que diriam essa barbaridade? Isso jamais aconteceria entre eles. O Ricardo é tio da
Chiara, e não se veem com os olhos que esses doentes estão vendo.
Imerso em pensamentos nem noto a Chiara passar, só quando senta em meu colo e me
abraça.
一 Pai, está tudo bem? Nunca te vi assim, está quieto, o rosto vermelho de tensão desde
que saímos do banco. Aconteceu algo lá? 一 Fito-a, com seus cabelos ruivos parcialmente
cobrindo o rosto, os olhos doces e azuis agora estão tristes.
Minha bebê é tão pura; como podem fazer isso comigo? Querer usá-la para me atingir.
Abraço sua cintura e ela se desmancha em meu peitoral. A última vez que a peguei no
colo nem me lembro ao certo, tinha uns 13 anos, e olha agora, com idade suficiente para lidar
com essa podridão de seres humanos que não tem o mínimo de respeito. Toco seu rosto e beijo
sua bochecha.
一 Está tudo bem. Foi só um cliente que me estressou hoje. 一 Ricardo desce as
escadas, ergo o olhar, ele está só de bermuda e o corpo ainda molhado do banho e para o meu
azar, ouviu minhas palavras.
一 Quem? Posso resolver amanhã. 一 Chiara beija meu rosto, levanta e pega o copo de
minha mão indo até a estante para servir mais.
一 Nem esquenta, você sempre resolve tudo, pode deixar que esse eu resolvo do meu
jeito. 一 Ele oscila, contrai a mandíbula.
一 Pelo nervosismo que você está não acho que seja uma boa ideia. 一 Sorrimos. 一
Diz quem é, amanhã ligo, ofereço um plano diferente, reavalio os números dos rendimentos. 一
Chiara entrega o copo cheio, e segue para a cozinha.
一 Eu resolvo. 一 Ele concorda. 一 Pensei em pedir algo para jantarmos, o que acham
de comida japonesa? 一 Levanto entrando na cozinha.
Chiara está com os pés descalços, essa menina nunca fica de sapato.
一 Amo comida japonesa, pai, pode ser. 一 Ricardo se aproxima, pega uma cerveja na
geladeira, puxa o banco e apoia os cotovelos na ilha.
一 Tio Ricardo… 一 Ela diz, encarando-o 一 Poderíamos comprar algumas coisas
naquela loja de tintas amanhã? 一 Ele concorda, mas franze o cenho.
一 O que pretende comprar? 一 Pergunta.
Ela para, me olha, gira o corpo e parece sem jeito em dizer.
一 Quero pintar um quadro para o meu escritório, faz dias que não entro lá e quero usá-
lo todo final de semana, em breve me inscreverei na faculdade. 一 Suas palavras me tiram da
agonia de minutos atrás.
Ela quer dar um passo adiante, finalmente minha filha superou os seus traumas.
Sigo até ela e a braço forte.
一 Isso é incrível, filha. Estou tão orgulhoso. 一 Ricardo se aproxima e quando a solto,
ele a abraça.
一 Lembre-se, só queremos que seja feliz, independente das suas escolhas, cerejinha.
一 Ele diz, ela sorri com os olhos marejados.
一 Amo vocês.
一 O que vai pintar nesse quadro? 一 Questiono.
一 O que meu coração escolher.
Analiso os dois, convicto de que destruirei quem estiver por trás da notícia falsa. Somos
uma família, não há nenhum segredo ou sujeira entre nós.
Chiara coloca os pratos na lavadora e Rico acena subindo as escadas para dormir. Algo
aconteceu, ele não está bem, ficou preocupado o jantar todo, com o olhar vazio fixado em
qualquer lugar, parecendo viver uma guerra interna. Tentei puxar assunto, descobrir quem foi
esse cliente que o deixou furioso, mas não adianta, quando fica assim, só revelará no tempo dele.
Chiara é sua cópia, por isso os dois batem tanto de frente.
Abraço-a por trás, correndo o nariz da nuca até o ombro, meu pau endurece e lateja
dentro da cueca em imaginar eu entrando e saindo de sua boceta gostosa. Definitivamente eu a
amo, é o maior sentimento que experimentei em minha vida. Eu amo fazer sexo com ela, mas
não é só sexo, é nossa conexão, o amor, e me dou conta que estou completamente fodido porque
precisarei falar com o meu irmão depressa, não quero mais só tê-la em segredo. O pijama está
extremamente sexy e queria arrancá-lo no dente.
一 Chiara, chegou o momento de falar com o seu pai. 一 Os poros de sua pele se
arrepiam enquanto a aperto em meu corpo, roçando minha ereção em sua bunda.
一 Estou com medo. Não sei como dizer a ele.
一 Eu que falarei com ele, não se preocupe, será uma conversa difícil. Preciso que
compreenda que nos amamos e que cuidarei bem de você.
一 E se ele te bater? Não quero que briguem. Não quero que a relação de vocês fique
estremecida.
一 Algumas mágoas são inevitáveis, mas é o preço que pagaremos. Tentamos nos
separar, lutar contra os sentimentos, mas não posso mais ficar sem você. 一 Giro seu corpo,
colocando-a de frente para mim 一 Minha cerejinha, não podemos mais esconder, está ficando
nítido nos nossos olhares, o sentimento que temos um pelo outro.
一 Sim, você está certo, precisamos dizer a verdade. 一 A voz é manhosa e
completamente sexy, mordo seu lábio inferior, ela geme.
一 Você acredita no nosso amor? 一 Sento-a na ilha, encaixo-me no meio de suas
pernas e fixo minhas mãos em seu rosto.
Nosso olhar se conecta.
一 Você me faz perder o controle, eu que sempre fui metódico, Chiara, me sinto
completamente livre com você. O nosso amor é puro e está acima de qualquer laço sanguíneo.
一 Eu te amo, Ric.
一 Você é tudo para mim, faço qualquer coisa por você.
一 Você acredita em almas gêmeas? 一 Miro seus lábios úmidos sorrindo, ela é tão
delicada, meu coração acelera apaixonado.
一 Não acreditava até te conhecer. Nós ficaremos juntos, não importa o que aconteça,
você me pertence. 一 Devoro seus lábios enquanto suas pernas se trançam em minha cintura.
Minhas mãos passeiam em seu pescoço acariciando sua pele macia, e sigo os beijos em
sua pele, primeiro no canto da boca, em seguida no pescoço, chupo-a deixando vestígios do meu
desejo. Estou sedento e louco para enfiar meu pau dentro dela.
Chiara joga o torso para trás, retirando os seios para fora da blusa de seda. Minha boca
saliva ao ver seus mamilos durinhos e sua auréola rosada pedindo para serem chupados, e assim
faço. Deslizo a língua com desespero, o sabor é adocicado e o cheiro é de cereja. Mordo com
carinho, abrindo suas pernas extensamente. O tecido adere ao seu corpo desenhando o formato
de sua boceta, está excitada, porque molha a peça quando se enfia na sua entrada.
一 Que boceta deliciosa, ficaria olhando o dia todo para ela, pronto para comê-la sempre
que eu quiser.
一 Ela é toda sua, pode devorá-la quando quiser. 一 Rosno.
一 Vamos para o quarto matar a saudade.
Puxo-a para o meu colo e apago as luzes ao sairmos da cozinha. Subo a escada devagar,
na penumbra é difícil definir algo, por sorte não há móveis no caminho. Entro no corredor, está
silencioso. A luz da rua reflete do quarto da Chiara para o corredor, ela deixou a porta aberta
então ando até lá, fechando-a. Os seus lábios grossos beijam meu pescoço, adoro essa sensação
de excitação que apenas um beijo desencadeia dentro de mim. Retorno ao meu quarto, fecho a
porta ao passar e a levo até a cama.
Deito com seu corpo por cima do meu. Chiara não diz nada, apenas desce os lábios no
meu corpo, os dedos correndo nos músculos, a textura dos seus lábios é cremosa porque estão
úmidos de saliva. Toco no seu corpo tirando sua blusa e eleva o quadril para que eu retire seu
short, ficando nua, o corpo quente em contato com o meu, e ansiosa puxa minha bermuda junto
com a cueca, expondo meu pênis.
Deita-se totalmente sobre mim, o quadril se move lento esfregando nossas extremidades,
estou tão excitado que me lubrifico. Espalmo sua bunda enquanto sua boca continua sedenta. Ela
encaixa a boceta na glande e rebola atiçando minha ereção que pulsa querendo senti-la. Abraço-
a, não estamos fazendo sexo há muito tempo, é amor.
CAPÍTULO 33

Analiso as luzes da rua se projetando nos móveis, esse lado oposto da casa também
possui árvores, no entanto, ao invés do bosque vejo a cidade ao longe. Normalmente durmo com
a claridade da tv e o volume alto, mas estava tão desnorteado que esqueci de ligá-la. Escuto duas
portas fechar, Ricardo e Chiara foram dormir, confiro na mesa de cabeceira que é meia-noite.
Talvez deva subdividir essa angústia, meu irmão é um visionário, cuida do marketing ao
lado da Audrey, estou sendo um tolo em esconder isso dele, ele pode saber exatamente qual
artifício ideal para minar os planos dos nossos concorrentes.
Sento na cama passando as mãos pesadas nos cabelos. Estou intrigado com a mensagem,
e confesso que estou desajuizado porque cheguei a imaginá-los juntos e meu cérebro fritou
cessando todo o meu equilíbrio emocional.
É justamente isso que querem provocar nas pessoas, essa indignação, a dor de algo se
destruir, que maldade insana. Estou sufocado, com a revolta travada na garganta, porque preciso
dizer o quanto isso é inaceitável.
Falarei com o meu irmão, Chiara está dormindo, é o melhor horário, mesmo que fique
chateado, é o que mais tem a cabeça no lugar e resolverá tudo isso, estou assombrado.
Coloco o meu roupão saindo no corredor lentamente. Não quero acordar a Chiara, ela
acabou de se deitar. A passos lentos sigo até a porta do Ricardo que está fechada, abro e procuro
com a mão o interruptor, acendendo a luz.
Travo.
A imagem que vejo em minha frente é incompreensível.
Chiara está nua, por cima do corpo dele, se movimentando e se esfregando enquanto se
beijam. Os dois sobressaltam, ele a abraça puxando o lençol para cobri-los. Não reajo, estou em
choque. Um enorme buraco se abre no chão, engolindo a minha alma. É o meu próprio irmão
com a minha filha? Então toda aquela porra que estão falando é verdade?
Quando exatamente isso aconteceu?
Enquanto eu dormia, ele a molestava?
Meu peito dói, o meu único irmão, que jurei ser íntegro, acaba de me trair. Dentro da
minha própria casa. Esperava muita merda de várias pessoas, menos dele. Há quanto tempo está
tentando dormir com a Chiara? Não posso acreditar que possam ter transado.
一 Rico, eu posso explicar. 一 Ricardo escorrega as pernas na lateral pegando a cueca,
Chiara agarra o tecido cobrindo o rosto.
A raiva domina todos os meus sentidos e matarei o meu irmão na porrada. A partir de
hoje ele não tem mais família e nada do que possa dizer mudará a dor e a quebra de confiança.
Nunca mais ele chegará perto da minha filha, isso é doentio.
一 Que porra é essa, caralho! 一 Esbravejo, o sangue fervendo em minhas veias, hoje
não respondo por mim.
Perco todas as forças, a luz se acendeu e ele estava aqui. Meu peito dói, o estômago
acidifica e minhas pernas amolecem. A voz do meu pai ecoa pelo quarto silencioso, na mesma
intensidade que os ecos atingem o meu coração, fazendo-o fibrilar de pavor. Ricardo com as
mãos trêmulas veste a cueca e tateio a cama procurando meu pijama. Puxo enfiando no corpo
desesperada, papai não se move. Está em choque. O rosto enrubesce enfurecido, os olhos
bárbaros destilando ódio e avança sobre o Ricardo.
一 Vou matar você, seu desgraçado. Há quanto tempo está se aproveitando dela? 一
Os braços aplicam socos em sequência, e a força faz o Ricardo cair.
一 Pai, não, por favor! 一 Grito o mais alto que consigo, isso não deveria acontecer.
Não era dessa forma que imaginamos contar. Meus olhos enchem de lágrimas, os sons
dos golpes invadindo os meus sentidos, a luta corporal, Ricardo tentando se defender, ao mesmo
tempo que suplica que ele pare.
一 Rico… 一 Um soco acerta sua boca.
一 Eu vou matar você. Safado. Acha que continuará usando a minha filha? 一 Minhas
mãos ficam geladas, não quero o meu pai triste e nem o Ricardo machucado.
一 Não é como você está pensando… 一 Um chute acerta seu estômago, o rosto contrai
de dor.
一 Como você pode fazer isso com a minha filha? Com a sua sobrinha?
一 Rico, por favor, vamos conversar! 一 Não me seguro, corro até eles pulando nas
costas do meu pai.
Seguro os braços dele, querendo impedi-lo de machucá-lo. Ricardo apenas recebe sem
revidar, o corpo marcado por hematomas, o supercílio e o lábio esquerdo sangram, e fico aflita,
reprimindo o choro dentro de mim, sei que o Ricardo pensa que merece, mas também tenho
culpa nisso, não só ele.
一 Pai, para, por favor, está machucando-o. Eu quis ficar com ele, também é culpa
minha.
Meu pai me olha, não o reconheço, está descontrolado, a mandíbula tensa, os dentes
semicerrados e se levanta jogando meu corpo para trás. Pega-me em seu colo com força.
一 O que você está fazendo? Me solta! Pai. 一 Ele ignora meus protestos e me carrega
até o quarto dele.
Joga-me no chão, meu corpo dói, os cabelos cobrem minha face com o impacto, afasto-os
com a mão e encontro seu olhar.
一 Fique aí, nossa conversa será depois, se você sair te mandarei de volta para a sua
mãe! 一 Suas palavras me ferem e choro devastada.
Ele sai batendo a porta e inesperadamente me tranca girando a chave. Pego impulso com
os braços e corro até lá, giro a maçaneta forçando-a, não abre. Apoio a face direita na madeira
ouvindo os grunhidos, as pancadas e as vozes alteradas dos dois. Meu mundo acabou de
desmoronar e meu coração dói.
As lágrimas são densas, ácidas, torturante, principalmente porque não consigo me
imaginar sem o Ricardo. O desespero cresce desordenado, comprimindo meu corpo, esmagando
meus sonhos futuros, sufocando meu ar, ao mesmo tempo que uma sensação de perda se
manifesta.
Não era assim, não deveria ser assim, e dói mais que qualquer soco o ver me odiando
agora. O sangue de minha boca respinga no chão, minha visão turva, a ardência na face
espalhando-se até na nuca. Perco a força do braço direito que tentava segurá-lo. Sinto os socos,
um no olho direito, o segundo mais forte, fazendo mais sangue escorrer, oscilo, o terceiro no
nariz, a pontada aguda reverbera em meu peito, acho que quebrou. Caralho, ele vai me matar! A
imagem fica duplicada e perco todas as forças esparramando o meu corpo no chão.
Minha face adormece pela dor intensa, mas o inchaço me impede de ver direito.
Movimento as pernas, juntando-as para me levantar. Sinto-me um tremendo idiota por ele ter nos
visto assim. Chiara grita ao longe; parece estar presa em algum lugar, porque sua voz soa
abafada, ou talvez eu esteja prestes a desmaiar, pois tudo está enevoado e confuso. Contraindo o
rosto e mostrando os dentes, percebo que estou acabado; a dor é intensa.
一 Rico, me escute pelo amor de Deus! Eu amo a Chiara, foi algo que aconteceu! Eu
juro! 一 Ele se afasta, ofegante, sacudindo os braços, deve ter se cansado, me bateu com
vontade, nunca imaginei levar uma surra dessa aos 36 anos. Eu mereço.
Ele é o meu irmão, e eu sou um louco apaixonado por sua filha, que tirou sua virgindade
e mesmo que eu a ame para um cacete, ele está machucado. Eu causei isso, fui irresponsável e
levo quantas porradas ele quiser dar, desde que não me odeie depois, porque sempre foi o único
que nunca me rejeitou.
一 Você nunca mais chegará perto da minha filha de novo, entendeu? Vocês transaram?
一 Transpiro receoso 一 Responde.
一 Sim, Rico. 一 Trocamos olhares tenebrosos.
一 Há quanto tempo essa putaria está acontecendo?
一 Rico, não é putaria, eu me apaixonei por ela, eu a amo.
一 Foda-se, porra, ela é minha filha e você é o meu irmão. Não acredito nesse amor, só
queria se aproveitar dela, quantas vezes abusou dela?
一 Puta merda, Rico! Jamais abusaria dela, nos apaixonamos e aconteceu. Puta que
pariu, você me conhece, sabe que eu não sou um abusador.
一 Eu não te conheço mais, o Ricardo que eu confiava, que eu jurei ser o meu irmão,
jamais dormiria com a minha filha. 一 Suas palavras são pesadas, Rico se afasta colocando as
mãos na cintura.
Passo os dedos no canto direito da boca retirando o excesso de sangue. Estou péssimo e
despedaçado, meu irmão sempre foi meu melhor amigo. Ver ele se sentindo traído me machuca
demais.
一 Eu não queria que você descobrisse assim. Contaríamos essa semana, quero me casar
com ela. 一 Rico gargalha furioso, a mão correndo na barba, negando enfaticamente.
一 Está de palhaçada, certo? Ela é uma criança, caralho, tem 19 anos, você lembra
quantos anos você tem? Está esquecendo que é o tio dela? Deveria cuidar dela, impedir que
filhos da puta como você se aproveitassem do seu corpo, mas está me dizendo que quer casar
com ela? Quer esconder os abusos? Fingindo sentir algo por que eu descobri?
一 Rico, nós nos conhecemos no aeroporto e foi uma conexão instantânea. Quando ela
chegou aqui descobrimos que éramos parentes. Lutamos contra isso, mas eu a amo demais, me
apaixonei por ela.
一 Com tantas mulheres no mundo, por que fazer isso com a minha filha?
一 Sim Rico, você está certo, tem muitas mulheres no mundo, para você tudo é sexo,
poderia mesmo dormir com várias, mas não é isso. Meu coração escolheu a Chiara e não
consegui fugir do sentimento.
一 Não fala mais nada, você morreu para mim e eu quero você longe da Chiara. Pegue
suas coisas e dê o fora da minha casa. Você tem até de manhã para pegar tudo e nunca mais
aparecer na minha frente. 一 Rico sai do quarto sem me dá mais chance de falar.
Perder a Chiara e o meu irmão ao mesmo tempo acaba de me destruir. O que farei da
minha vida sem ela? Não posso acreditar que isso está acontecendo.
CAPÍTULO 34

Limpo minhas lágrimas e pego o celular do meu pai que está na cama, disco o número da
mamãe. Chama algumas vezes até que sua voz aguda fale.
一 Rico, aconteceu alguma coisa com a Chiara? Por que está me ligando esse horário?
一 Quero falar, mas a voz falha.
一 Sou eu ma… 一 balbucio, limpo a garganta engolindo as lágrimas 一 Mamãe, sou
eu.
一 Filha, aconteceu alguma coisa?
一 Sim, eu preciso de você, o papai está batendo no Ricardo, está fora de controle, muito
bravo comigo!
一 Por quê? O que houve? 一 A voz soa irregular de preocupação.
一 Eu amo o Ricardo, mãe, não consigo ficar sem ele, dormimos juntos.
一 Porra, Chiara! 一 Pausa por alguns segundos, suspira pesado antes de continuar 一
Em 24h chego aí, preciso comprar passagem e avisar no serviço que ficarei afastada. Daqui a
pouco chego aí! Amo você!
一 Te amo mãe, vem logo, por favor.
一 Ligarei para o seu pai para ir amenizando as coisas. Não discuta com ele, não o faça
agir sem pensar, isso é pesado filha.
一 Ele nos pegou na cama.
一 Puta que pariu. Estou indo para o aeroporto, te amo. 一 Ela desliga, e eu choro, a dor
que sinto torna-se torturante, queria abraçá-lo, sentir seu cheiro, não quero ficar sem o Ricardo.
Sobressalto de susto quando a porta se abre. Corro até lá tentando sair, mas papai me
impede.
一 Você ficará aqui, teremos uma conversa amanhã, entendeu? Minha cabeça está a
ponto de explodir.
一 Pai, eu preciso vê-lo, tenho que ajudar com os machucados, não deveria ter feito
aquilo. Eu o amo.
一 Ricardo não te ama, só queria abusar de você.
一 Ele nunca abusou de mim. Não diga isso. 一 Tento sair, mas ele tranca novamente a
porta e esconde a chave na mão. 一 Ricardo. 一 Grito aflita.
Não contenho o choro, sobrevém, a sensação é de ter uma pedra dilacerando o meu peito.
Golpeando forte o meu coração. Me desmancho no chão, deixando a angústia sair em lágrimas
compulsivamente, só queria dizer para não esquecer que eu o amo. Ricardo bate na porta e meu
coração ganha um ritmo alterado, ele está aqui, a centímetros, mas não posso vê-lo e nem dizer o
quanto estava certo em ter medo.
一 Rico, por favor, deixa eu me despedir da Chiara? Por favor!
一 Despedir? O quê? Não, pai, não, ele não pode ir embora. 一 Engasgo em meio aos
soluços e colo o rosto na porta, ansiando tocá-lo, mas não consigo 一 Ricardo me desculpe, eu
amo você!
一 Também te amo, minha cerejinha, não me peça desculpas, nós dois erramos, mas foi
pela paixão desenfreada que sentimos um pelo outro.
一 Vai embora Ricardo, e você, Chiara, vá dormir. 一 Diz papai.
一 Chiara, amanhã conversaremos todos com calma, descansa, não chore por favor, isso
despedaça meu coração.
一 Não se esqueça de mim. 一 Suplico, as lágrimas pinicando minha bochecha.
一 Nunca, minha cerejinha. 一 Escuto-o caminhar para longe, uma mescla de medo e
tristeza lateja em meu estômago, fazendo-o embrulhar.
Deste momento em diante tudo mudou. O silêncio domina minha alma, como se uma
parte de mim se desprendesse no tempo e fosse levada à escuridão. Choro incansavelmente,
tentando diminuir a dor que sinto, mas cada lágrima que cai aparenta estar mais pesada, difícil de
suportar. Os pensamentos revivendo os nossos momentos tamborilam em minha mente, quero
gritar, sair correndo e enfrentar o mundo, mas me sinto presa.
Com os pés cravados na lama que transformamos as nossas vidas. O nosso segredo ilícito
não é mais nosso, porque não estamos mais juntos para alimentá-lo, e isso dói.
Papai apaga a luz, e eu deito no tapete do quarto, com o olhar na porta, na pequena fresta
de 1 cm. Lembro dos bilhetes que trocamos quando fez panqueca para mim, mas uma pontada
aguda traz tudo de volta ao pesadelo desta noite.
Após uma hora na mesma posição, sem forças e desfalecida, adormeço acordada, minha
consciência está ativa, mas meu corpo não tem forças para se mover.
Papai me pega no colo e me coloca na cama ao seu lado. Um silêncio absurdo se arrasta,
apenas o som do meu choro cortando a escuridão até o amanhecer.
Quando os raios de sol se infiltram nas folhas das copas das árvores, não aparentam ter
mais o mesmo brilho, e papai se levanta. Ele mal pregou o olho, e deveríamos estar nos
arrumando para o trabalho, mas estamos destruídos demais. Essa tempestade dolorosa apenas
começou.
一 A senhorita trate de ficar aqui, você não tem permissão para sair. Não até tudo isso se
resolver. Vocês têm noção do que estão fazendo comigo? 一 Ele cobre o rosto com as mãos, em
seguida eleva o queixo, pisca mais rápido e solta uma respiração profunda. 一 Brigar e sentir o
que estou sentindo pelas duas pessoas que tanto amo, Chiara. O que vocês fizeram não tem
perdão.
一 Você preferia que chegássemos em você e disséssemos o quê? Pai, estou gostando do
meu tio? Tenho fantasiado momentos indecentes com ele? É isso? Acha que é fácil amar alguém
escondido e querer contar todos os dias? Acha que o Ricardo não tentou evitar que isso
acontecesse? Não ache que só você tem razão! Eu sei que erramos, sim, muito, mas não fizemos
por mal, mas por amor.
一 Chiara, você não tem idade para amar, e o Ricardo apenas se aproveitou de você, da
sua inexperiência.
一 E o que você entende de amor? Só fica de cama em cama, o amor não tem nada a ver
com a idade, olha você, pai, não conseguiu nem amar minha mãe. 一 Furioso ele pega uma
roupa enquanto gesticula.
一 Chiara, você me respeite, estou por um fio de perder a paciência com você também.
Preciso avisar para o Ferdinando que todos estamos doentes e ficaremos 15 dias de molho, tudo
pela irresponsabilidade de vocês. Estou sem a menor condições de trabalhar. 一 Papai abre a
porta e sai sem dizer mais nada, levando as roupas no braço.
Fecho brevemente os olhos tentando captar o sono. Eles ardem sensíveis pelo choro
intenso. Inspiro profundamente, o corpo dolorido e sem que eu perceba adormeço cansada.
Pego um copo de whisky após avisar o Ferdinando que ficaremos alguns dias sem ir ao
banco, mas que faremos reuniões online caso fosse necessário. Por dentro estou profundamente
arruinado. Desde que reencontrei meu irmão no exército anos atrás, temos dividido tudo, e a casa
foi apenas mais uma parte dessa troca. Sempre aparentou ser um cara correto, reservado, que
pensa nas pessoas em primeiro lugar, pelo menos eu achava que era.
Estou exasperado, e pensar sobre isso a cada segundo faz o rancor aumentar.
Eu confiava nele, na sua índole, no nosso vínculo familiar. Minha filha está iludida,
achando que ele a ama, mas tudo que queria era o seu corpo. Fui enganado. E se ele tivesse
acompanhado o crescimento da Chiara? Faria o mesmo? Como nunca percebi seu desvio de
caráter? Meu sangue borbulha quando fantasio em minha mente a imagem dos dois em uma
situação pior do que vi.
Noite após noite, ele me enganou, a levou para o seu quarto e fez tudo de errado com ela.
Meu peito aperta, eu deveria protegê-la, mas falhei, e agora a Chiara terá um novo trauma
para superar. Quero ser firme com os dois, mas dói, porque os amo demais. Espero que isso
passe, e mesmo diante de tanta decepção, não consigo idealizar a minha vida sem o Ricardo ao
meu lado, porém, não aceito o romance proibido entre os dois.
Pego meu celular e envio uma mensagem para o nosso pai: “Preciso de você aqui, não
consigo lidar com algo e acho que você pode, é urgente”.
Deixo o corpo cair no sofá, um peso paira em minhas costas, jogo a cabeça para trás
encarando o teto, mal dormi, e menos ainda com a Chiara chorando sem parar. Fecho os olhos,
saturado. Escuto passos descendo a escada, é o Ricardo. Não quero encará-lo, porque sei que
perderei a linha.
Fixo minha visão no lustre preso ao teto.
Ele sai sem dizer nada, arrastando algo, provavelmente a mala, fico puto e, ao mesmo
tempo, queria pedir que ficasse, mas não tem mais volta, ele morreu para mim.
A cada passo que dou, uma pontada ressoa em meu coração. Estou sendo esmagado vivo,
dilacerado de dentro para fora, como se minhas entranhas fossem arrancadas do meu corpo
enquanto agonizo em dor. Só penso nela, na minha cerejinha. Queria correr até aquela maldita
porta e mentir dizendo que tudo ficará bem.
Eu mentiria por ela, só para não a ver chorar compulsivamente como escutei a noite toda.
Perdê-la e ficar distante é a pior sensação do mundo. Minha alma parece vazia, e somente
o seu sorriso e o seu cheiro poderiam trazer minha força vital de volta, ou se ao menos eu
pudesse vê-la para amenizar essa tortura.
Dói.
Sufoca.
Chego até a garagem, coloco minha mala no carro e torno a admirar a casa. Estou
partindo daqui, sendo obrigado a deixar para trás o cheiro dela, os cômodos em que estivemos
juntos, todos os cantos nos quais a vi sorrindo. Meus olhos se enchem de lágrimas.
Estou deixando o som de sua voz, os olhares, os beijos, o prazer de tocar em sua pele, os
sussurros doces que cortavam a escuridão. Parte de mim ainda está lá dentro, pairando no ar,
tentando beijar o seu rosto para confortá-la.
O meu coração não vai comigo, ele fica em casa, porque é lá que me sinto completo e
vivo.
Uma lágrima escorre, nem me lembro a última vez que senti o salgado delas se
misturando na minha saliva. Talvez quando era criança e chorava por ficar abandonado. Enxugo
os olhos com cuidado, as marcas da revolta do meu irmão estão aqui, ardendo na pele. Passei a
noite com uma bolsa de gelo na face, o inchaço diminuiu um pouco, mas vê-lo decepcionado
comigo foi mais nocivo do que as porradas que ganhei.
Refreio toda a tristeza crescendo em meu peito, preciso ir, porque só assim o Rico me
dará uma chance de conversar. Ele precisa pensar, e sei que isso levará um tempo, mesmo que
aparente uma eternidade, ele é o pai da Chiara. Voltarei para pedir a mão dela, talvez seja meu
último dia de vida, porque ele com certeza tentará me matar, e na verdade não sei como fazê-lo
me ouvir. Meus pés travam, e as pernas enrijecem, meu corpo não quer ir, nenhuma parte de
mim quer, mesmo sabendo que é necessário.
Fecho os punhos, inspiro profundamente e sigo para dentro do carro. Conecto a chave na
ignição, mas com raiva soco o volante. É imensurável a dor, e sei que quando chegar ao meu
apartamento o fantasma dela também estará lá me esperando, tornando a solidão insuportável,
estou perdendo tudo, só não posso perder o amor da Chiara.
Pego o celular e decido me explicar para a Suzanne, não quero jamais que pense o
mesmo que o Rico, que abusei dela. Não sou esse tipo de monstro.
Após alguns toques ela atende.
一 Alô, Ricardo, como está minha filha? O que aconteceu? Eu já sei de tudo!
一 Suzanne, primeiro preciso te pedir desculpas, me apaixonei pela Chiara e eu a amo.
Tentamos não deixar o sentimento falar mais alto, mas perdi o controle, falhei com você e com o
meu irmão. Não queria magoar ninguém, mas acho que isso seria impossível. Eu a amo, eu juro,
quero me casar com ela, espero o tempo que for, pode ser 10, 30 anos, não importa, esperarei.
一 Ela fica em silêncio, me deixando aflito.
一 Ei, Ricardo, sei da sua índole e é claro que a Chiara se apaixonaria. Você é uma boa
pessoa e nunca houve uma relação familiar entre nós todos, você viveu distante. Sinto muito que
tenham que passar por isso, mas o Rico, diferente do resto da família, tem uma relação de amor
com você, ele tem esse vínculo e se sentiria traído, mas meu objetivo sempre será a felicidade da
Chiara em primeiro lugar. Se vocês se amam, farei de tudo para ajudar vocês. 一 Sinto
acolhimento nas palavras da Suzanne e suspiro com um peso a menos dentro de mim.
Saber que ela entende o nosso amor me deixa mais aliviado, não aguentaria machucá-la
também.
一 Prometo que jamais quis me aproveitar dela, resistimos com todas as forças, e quando
aconteceu, eu sabia que ela seria a minha escolha hoje e sempre, só estava esperando o momento
certo para contar e conversar com vocês, mas pisamos na bola e tudo aconteceu diferente do que
queríamos.
一 Estou entrando no avião, não se preocupe, acredito em você, conversaremos
pessoalmente quando eu estiver aí. Tudo ficará bem.
一 Combinado, uma ótima viagem, nos falamos logo. 一 Me despeço dela e desligo a
ligação.
Relaxo no banco, os músculos costais pulsando de tensão. É hora de ir. Ligo o veículo,
aperto o controle do portão e saio nas ruas, cada segundo mais longe.
Despedaçado, perdido e atordoado.
CAPÍTULO 35

Sinto um ar frio e esfrego os olhos, ainda sonolenta. O sol está se pondo; dormi o dia todo
e, mesmo ao abrir os olhos neste instante, estou cansada, mas não fisicamente, e sim
emocionalmente. Minha cabeça lateja, e com calma me sento na cama. Levanto-me nauseada,
dando passos suaves em direção à porta. Giro a maçaneta e sorrio ao constatar que não está
trancada.
Corro automaticamente para o quarto dele, invadindo o ambiente.
一 Ric... graças a... 一 Travo a fala, o ambiente está na penumbra, e acendo a luz.
A cama está arrumada; no entanto, não preciso confirmar, há um vazio inexplicável aqui.
Falta o cheiro dele, que deveria estar mais forte agora após o banho. Falta a toalha molhada na
porta do banheiro; falta a alma. O lugar está desguarnecido de vida. Ele foi embora, e eu me sinto
oca por dentro, sentindo a falta da nossa energia que se condensa sempre que estamos no mesmo
local.
Saio do quarto e desço as escadas num atropelo. Passo os olhos na sala de jantar,
lembrando de nós dois, debaixo daquela mesa após o meu primeiro dia de trabalho, provocando-
o. Meus olhos ficam marejados. Sigo até a cozinha, não há ninguém. Retorno ao pé da escada e
subo para o segundo andar.
Nunca entrei em seu escritório, mas abro a porta desesperada. Está vazio. Aproximo-me
da mesa e tudo permanece como ele deixou: papéis espalhados, a caneta destampada, um copo
vazio de café ao lado, mas está frio e falta seu corpo aqui.
Papai surge na porta, o olhar fixo no meu. Abaixo a cabeça e saio, voltando para a sala.
Ele me segue; chegou o nosso momento de colocar as cartas na mesa.
一 Não precisava mandá-lo embora. 一 Digo, acendendo a luz. Sento no sofá,
cruzando os braços.
一 Sim, eu precisava. O Ricardo não é mais o meu irmão. O que ele fez matou qualquer
relação que construímos. Além disso, a casa é minha e não deixarei vocês ficarem de putaria
embaixo do meu teto.
一 Pai, não diga isso. 一 Levanto, agarrando seus braços. 一 Eu o amo. Nós tentamos
não sentir, mas não consigo ficar longe dele. Não o rejeite, por favor. O Ricardo ficará arrasado.
一 Eu quero saber como tudo aconteceu, como exatamente ele te procurou na primeira
vez? Se for preciso, irei denunciá-lo. 一 Solto-o, indignada.
Meus lábios tremem, os nervos aflitos. Por que não compreende que estamos
apaixonados?
一 Ele não abusou de mim, eu fui atrás dele... 一 Grito impaciente, querendo que
entenda a verdade. 一 Eu me ofereci porque estava desesperada por carinho, pelos toques dele.
Eu o trouxe para a minha cama enquanto ele dizia que era errado, mas nunca o vi como o meu
tio. 一 Os olhos dele semicerram, perplexo com as minhas palavras. 一 Nada do que você
diga me fará desistir. Ficarei com ele, você aprovando ou não. A vida é minha, eu não sou mais
criança e fico com quem eu quiser.
一 Não, porra, não ficará! Enquanto você morar na porra da minha casa, vocês não vão
ficar juntos! 一 Berra, a voz em um tom destruidor ressoando estridente.
一 Eu vou e você não irá me impedir, não vai! 一 Retruco.
一 Você está me desafiando, Chiara? 一 A mandíbula contrai; escuto o ranger dos seus
dentes enquanto dá um passo em minha direção, ficando em minha frente, mas não me intimido.
一 Sim, eu estou! 一 Sem que possa imaginar, o céu recai sobre os meus pés quando
sinto um tapa forte atingir o meu rosto.
Fico sem reação, atônita, inteiramente quebrada. A sensação de ardência irradia por todo
o lado direito do rosto, e levo a mão ao local que queima demasiadamente. Um silêncio profundo
e ensurdecedor paira no ar. Abaixo a cabeça, fixando os olhos no chão, recuso-me a encará-lo
neste instante. Não posso acreditar que ele acabou de me bater.
一 Filha, eu… filha, me perdoe. 一 Pressiono os dedos na pele e uma gota de sangue
escorre dos meus lábios, foi tão forte que o cortou.
Exasperada o encaro, deixando as palavras saírem, sei que não deveria irritá-lo, mas não
consigo ouvir em silêncio.
一 Eu só te direi uma coisa: você pode me bater se quiser, mas ficarei com ele, quer
você queira ou não. Não faz diferença; quem dormirá todas as noites com o Ricardo sou eu, não
você. 一 Furioso, ele abre a fivela do cinto e, em uma única puxada, tira-o de sua calça.
Com ódio acerta uma cintada em meu quadril, o estalo seguido de dor e ardência me faz
fechar os olhos e franzir o nariz. Dói. Não me movo, apenas sinto.
一 Repete o que você disse? Não irá me obedecer? 一 Engulo a saliva seca, o amargor
na boca, buscando o ar para respondê-lo.
一 Não, não sou mais uma criança, eu tenho escolha, e escolho continuar com ele. 一
Friso mordendo o lábio inferior.
Fecho os olhos com força, esperando sua próxima cintada, e ela vem. Uma seguida da
outra, sobressalto a cada golpe. O som do couro em contato com a minha pele repercute limpo,
deixando em cada parte que acerta uma lesão.
Meu peito dói em angústia, minhas mãos esfriam pela sensação horrível de estar sendo
punida. Cerro os dentes, me impedindo de gritar. Algumas cintadas acertam as costas, o tórax e
os braços, despejando sobre mim toda a fúria e mágoa encarcerada dentro dele.
Eu sei, ele acabou de perder o controle da raiva. Levo as mãos ao rosto, cobrindo-o, os
espasmos incontidos a cada golpe.
一 Você irá me obedecer, eu sou seu pai, quantas cintadas precisarei te dar para que me
obedeça? 一 Os vergões marcam minha pele branca, e cada novo golpe arde nos músculos,
fazendo-me perder as forças nas pernas, até que caio sentada sobre o tapete.
Com as mãos, desesperadamente, acaricio os hematomas ruborizados e quentes, tentando
amenizar as fisgadas agudas. As lágrimas se formam nos meus olhos e ele para, com o semblante
sombrio, o nariz enrugado, as sobrancelhas curvadas, os lábios pressionando um no outro com
firmeza e os olhos arregalados.
Estou com medo dele; pela primeira vez, ele me assusta. Não consigo segurar o choro; as
lágrimas rolam espinhosas, e entreabro a boca para falar, com a voz cortada e sibilada.
一 Pode me matar se quiser, mas não vou deixar de amá-lo. 一 Ele solta o cinto, rosna
e, impaciente, me pega no colo, levando-me escada acima.
Meu coração dispara no peito; estou apavorada. Ele me coloca na cama, e apenas me
deito e viro de lado. Não adianta espernear; ele está fora de si. Encolho-me com a dor irradiando
pelo meu corpo, e a porta se fecha. Talvez ele me deixe aqui por dias, achando que me guardar
presa, distante do Ricardo, mudará meus sentimentos, mas só intensifica.
Fecho a porta do táxi, passo o endereço para o motorista e recosto no banco quando o
carro se move. Confiro novamente o celular, sem qualquer resposta da Chiara ou do Rico. Passei
16 horas no voo, e já se passaram um pouco mais de 24 horas desde que tudo aconteceu. Estou
aflita por não conseguir falar com minha filha.
Envio uma mensagem para o Ricardo, tranquilizando-o e avisando que em breve darei
notícias sobre minhas conversas com o Rico. Ele está tão preocupado quanto eu, pois me enviou
várias mensagens. Após 40 minutos, o motorista estaciona em frente à casa. Admiro o local; é
melhor do que eu imaginava. Rico havia dito que estava morando próximo a um bosque e que o
ambiente é agradável, e realmente é.
Quando foi dispensado do exército por ajudar o Blake Lodge, Ricardo precisou mudar às
pressas do país. Ele foi para o Canadá vender suas propriedades, e os dois se reencontraram aqui
na Austrália para finalmente morarem juntos e viverem como irmãos. Entendo a decepção dele,
mas ele precisa racionalizar e não agir por impulso.
Sentimentos podem acontecer, e se os dois se apaixonaram é porque houve uma conexão.
Chiara era vibrante, gostava de sair e se divertir, mas nunca foi de namorar muitos garotos
diferentes; teve um ou outro, mas o Rico sempre esteve por perto, talvez por medo de ela se
tornar como ele.
Após a perda da amiga, preferia a solidão, saía apenas para cumprir os serviços
comunitários obrigatórios e para ir nas reuniões de viciados em narcóticos. Aperto o interfone, as
luzes estão acesas, segundos depois a porta se abre.
一 Suzanne? O que faz aqui? 一 Diz Rico, com os olhos arregalados.
Está sem camisa, cabelos desgrenhados, apático e cheirando a whisky. Empurro minhas
malas para dentro, ele se afasta.
一 Por que não responde às porcarias das minhas mensagens? 一 Entro pela maldita
porta procurando por Chiara. 一 Onde está minha filha?
一 Como ficou sabendo? 一 Ignoro.
一 Porra, eu perguntei onde está minha filha?
一 Ela está no quarto, não precisa surtar. O Ricardo te mandou mensagem?
一 Ela me ligou, como eu ficaria sabendo? Por que você expulsou o Ricardo? 一 Ele
bufa, fecha a porta, senta no sofá levando as mãos ao rosto, alisa a barba e nega com a cabeça.
一 Expulsei porque a casa é minha, não o deixarei perto da minha filha. E você precisa
saber que fiz algo que não me orgulho… 一 Confessa e sento na poltrona preta de veludo de
frente para o sofá.
一 O que você fez?
一 Chiara disse coisas que não deveria dizer no momento errado e me fez perder o
controle. 一 Os olhos dele se enchem de lágrimas, nunca o vi assim, algo aconteceu, eu sinto, e
sobressalto ficando de pé. 一 Machuquei ela, não sei o que dizer, nem como me desculpar,
talvez ela nunca me perdoe pelo que fiz, merda, eu não sei o que fazer!
一 Você machucou a minha filha? Onde ela está? Você bateu nela? Encostou o dedo
nela? 一 Avanço sobre ele perdendo o controle do meu corpo.
Enfurecida seguro seu maxilar fazendo-o me encarar.
一 Suzanne, eu sinto muito, passei dos limites. 一 Indignada, acerto um tapa forte em
seu rosto, ele se encolhe.
一 Você nunca mais irá encostar o dedo nela ou eu te mato, entendeu? 一 Solto-o, sigo
até a escada perdida e subo sem saber bem para onde ir.
Procuro-a nos corredores do segundo andar, afoita, mas só há escritórios, subo para o
próximo abrindo as portas até encontrar o quarto dela e destranco. Está de toalha, de costas, o
corpo molhado do banho. Ela pula na cama, se encolhendo, pensando ser o Rico.
一 Saia daqui, eu não quero te ver. 一 Esconde o rosto nos travesseiros, meu coração
aperta e corro até ela, deitando ao seu lado.
As pernas estão todas marcadas, pintadas de vermelho e roxo dos hematomas, e não
suporto vê-la assim.
一 É a mamãe, estou aqui. 一 Ela afasta o rosto do travesseiro e se vira aflita, os olhos
vermelhos e inchados.
Chiara chora incontrolável, fazendo meu peito doer, não queria ver minha filha
machucada, sofrendo, eu só quero que seja feliz.
一 Mamãe… 一 Balbucia se enfiando em meus braços e se agarra ao meu corpo
afundando o rosto no meu peito.
一 Estou aqui filha 一 Acaricio os seus cabelos enquanto ela chora sentida 一 Seu pai
não irá te bater de novo, eu prometo, agora ele está mais calmo, arrependido, perdeu o controle,
não deveria ter te machucado, mas está de coração partido por perder a cabeça. Estou aqui.
Resolveremos tudo.
A voz soa fraca, e ela eleva a cabeça, deitando-se ao meu lado.
一 Estou com tantas saudades do Ricardo, queria vê-lo. 一 Acaricio sua bochecha, a
boca está com um corte no lábio superior, no canto esquerdo, bufo irritada por saber que o Rico
fez isso. 一 Estou com medo do meu pai, não quero ele perto de mim, mãe, me deixa ir para o
apartamento do Ricardo, por favor? 一 Um barulho na porta nos faz olhar, é o Rico, ele ouviu
as palavras dela, porque mesmo triste por agredi-la, está atordoado pelo romance proibido entre
eles.
一 Eu já te disse, Chiara… 一 Rico esbraveja de lá mesmo, incontido 一 nunca mais
irá vê-lo.
Rico desaparece em seguida, e sufocada por tantas lágrimas, Chiara puxa um papel
debaixo do travesseiro e me entrega, está dobrado e com um adesivo para mantê-lo fechado.
一 Ma… 一 soluça desolada 一 mamãe, entrega para o Ricardo, mas prometa que não
irá ler?
Poderia discordar, mas ela está sofrendo, é a primeira vez que está apaixonada, posso ver
em seus olhos aquela chama intensa.
一 Prometo.
CAPÍTULO 36

Uma semana se passou desde que tudo aconteceu. Suzanne me pediu paciência, disse que
as coisas foram por um caminho mais difícil e por dentro eu estou apreensivo. Meu irmão está
irredutível? Não conseguiram conversar? Chiara está bem? Estou sem respostas, e a cada minuto
estou mais preso no poço de dor que mergulhei e não consigo sair.
Há dias em que me sinto sufocado, dentro de uma enorme redoma de sofrimento,
esperando que a qualquer momento ela seja rompida para que finalmente eu possa voltar a viver
novamente.
Encho meu copo de café, olho para a mesa e lembro dela, do nosso jantar, das velas de
aniversário improvisadas, do seu sorriso, da única noite em que esteve em meus braços quando o
sol surgiu no horizonte. Enrolo nos dedos o pequeno pedaço de papel, abro e admiro as palavras,
relendo todas as horas do dia desde que o recebi da Suzanne. As letras cursivas estão trêmulas,
algumas borradas, e sei que é por lágrimas.
"Existe alma gêmea? Pessoa predestinada? Talvez eu nunca saiba essa resposta
concreta, mas contigo sinto que deveríamos ser apenas um, pois quando estamos juntos
nossas almas se liquefazem. Não precisamos de mais nada, apenas do nosso amor. Não
desista de mim, pois eu nunca desistirei de você. Te amo, para sempre sua, Chiara."
Sinto tanto a falta dela, das nossas noites sussurrando, nos amando, dos beijos doces, do
seu cheiro de cereja preso em minhas roupas após um momento em segredo. Deveria ter
aproveitado mais, porque sinto que nem todo o tempo que passamos juntos foi suficiente. Nada
supre sua ausência, nem ameniza a dor enraizada em meu coração, danificando-o e tornando-o
infértil de amor.
Estou pronto para ir ao banco, trabalhar; não importa se o Rico disse que todos pegamos
uma virose para disfarçar o pior momento de nossas vidas. Mas é impossível continuar aqui,
passando horas em claro, lamentando no silêncio, morrendo um pouco mais de saudade. Preciso
ocupar minha mente ou acabarei invadindo a casa do meu irmão e fugindo com ela. O inchaço no
olho e no nariz diminuiu, e precisei comprar um protetor solar com base para disfarçar os
hematomas.
Termino o café, guardo o papel na carteira, pego as chaves do carro e meu terno,
vestindo-o por cima da camisa social. Saio do apartamento direto para o carro e, cinco minutos
depois, estou no banco. Comprei o apartamento pensando na proximidade, mas morar com o
Rico era muito melhor. Atravesso a recepção sorrindo, e todos os funcionários me
cumprimentam normalmente. Por sorte, ninguém sabe do caos particular que estamos vivendo.
Chego à minha recepção e vejo o Juliano no balcão, conversando com a Eleonora.
Quando ele me vê, para de sorrir e fica carrancudo. Se soubesse do que aconteceu, iria
comemorar, e não darei esse gosto a ele. Aproximo-me, e os dois param de conversar.
一 Bom dia, Ricardo, fico feliz de ver que está bem. 一 Engulo toda minha amargura e
dor, vestindo uma capa de felicidade falsa, uma dura maneira de sobreviver.
一 Bom dia para vocês. Fui o único que escapou rapidamente da doença; estou ótimo.
Algum dos Mandolini’s precisa se manter firme. 一 Ela sorri. 一 Avisa a Audrey e ao
Ferdinando que a nossa reunião sobre os novos planos de implementação de juros será
presencial. Pode reservar a sala número um de reuniões.
一 Claro, tudo bem, precisa de ajuda com a agenda e os documentos? A sua assistente
ainda não voltou.
一 Não, fique tranquila. Chiara é tão eficiente que havia separado tudo anteriormente.
一 Juliano sorri de canto, um semblante diferente atravessando seu rosto.
一 Espero que a Chiara não esteja tão ruim. 一 Ele diz, mas há um tom irônico na voz.
一 Está melhorando, ontem fiz questão de passar a noite perto dela, conferindo se não
precisava de ajuda. 一 Provoco-o, ele enruga a testa, minhas palavras não eram as que ele
esperava ouvir, é claro que menti, mas porque exatamente ele parece desconfiar disso?
Sento na cama e papai traz o prato de café da manhã. Não olho para ele, apenas pego para
colocar sobre a mesa de cabeceira, hoje é mais um dia que não tenho fome, estou cansada de
ficar presa no quarto, porque ele insiste que preciso pensar e reconhecer meus erros. Mamãe
entra impaciente.
一 Chega disso. Vamos conversar. 一 Afirma, e ela está certa, precisamos nos entender,
porque preciso ver o Ricardo de novo.
一 Me desculpa, mãe e pai, eu juro que não fizemos por mal. 一 Decido me abrir 一
Tudo começou antes, quando nos vimos no aeroporto e nem sabíamos que éramos parentes, mas
não houve nada, por dias, claro que tinha a tensão, mas só aconteceu algo um dia antes do nosso
passeio após o aniversário do tio Ric.
Papai senta, cruza os braços e suspira frustrado, e mamãe balança a cabeça concordando.
一 Eu sei filha, conversei com o Ricardo e ele me contou tudo. 一 Ela confirma.
一 Você está do lado deles, Suzanne? 一 Interroga papai, irritado 一 Sabia que assim
você fica totalmente contra mim? É inaceitável!
一 Rico, diferente de você, conversei com os dois e tentei compreender o que aconteceu.
一 É uma palhaçada tudo isso, sabe de quem é a culpa… 一 insinua papai e meus
músculos tensionam, começará a discussão porque ele estica o braço apontando o indicador para
a mamãe 一 Sua. Não soube criá-la enquanto eu estava defendendo o nosso país.
一 Como é que é? 一 Vocifera mamãe, estou cansada dos dois.
一 Chega, não aguento mais vocês. Pai, eu não ficarei longe do Ricardo não importa
quem errou, se foi a criação, se foi eu ou o meu tio, o que você não entende é que existe amor
entre nós dois. Por que não entende quando digo que o amo?
一 Posso te manter aqui, presa, por anos. 一 Ele diz, e abro levemente a boca
arregalando os olhos em choque.
一 Rico, o que você está fazendo? Nossa filha tem 19 anos, ela faz o que ela bem
entender. Não pode trancá-la e afastá-la do mundo como se isso fosse a resposta.
一 Não, aqui na minha casa ela não faz o que quiser.
一 Droga, você sempre foi um maldito ciumento e cabeça dura.
一 Saiam daqui, eu não aguento mais, saiam. 一 Berro inconformada 一 Não aguento
mais ouvir vocês falarem de mim como se eu não fosse capaz de fazer minhas escolhas. Saiam,
por favor. 一 Tapo meus ouvidos suplicante, as lágrimas brotando em meus olhos, deixando
minha visão borrada.
Os dois caminham para a porta, e papai tranca na chave ao sair. Quanto tempo eles acham
que me manterão aqui? Por que não me escutam? É difícil se colocar no nosso lugar? Aceitar as
desculpas? Sim, erramos, mas nos amamos.
Será que realmente ele nunca mais me deixará ver o Ricardo? Papai não pode fazer isso
comigo. A cada passo para mais longe, escuto os dois gritarem, mamãe está tentando há dias
fazê-lo ao menos ouvir.
一 Eles estavam morando com você, não percebeu nada? Ricardo é o seu irmão, sabe
muito bem que ele é uma pessoa maravilhosa, Rico. 一 Levanto-me e corro até a porta tentando
abri-la.
Quero fugir daqui, quero andar na rua sozinha, ouvir os sons do carro, os pássaros
cantando, sentir o vento envolver o meu corpo enquanto me sinto livre de novo. Chuto a porta
sentindo um pavor borbulhar dentro de mim. Lembro-me dos dias na internação, quando lutava
contra o vício e queria fugir de mim mesma, dos meus próprios pensamentos destrutivos. Me
sinto igual aqueles dias, acuada, com medo, sem esperança, despedaçada. Chuto novamente a
porta, com força, mas não abre. Choro consternada, com o peito doendo.
一 Me deixem sair, por favor, eu estou ficando louca aqui, não aguento mais. Mamãe,
papai, por favor, me tirem daqui… 一 suplico em lágrimas, batendo os punhos na madeira.
A raiva corre em minhas veias a cada hora, deteriorando minha lucidez. Não sou mais
criança; estou definhando há uma semana sozinha, corrompida pela dor, e tenho o direito de
amar e fazer o que quiser da minha vida. Ando de um lado a outro agoniada, com a ansiedade
batendo em meu íntimo tão intensamente que não sou mais capaz de permanecer confinada.
Preciso sair desse pesadelo.
Escuto o interfone e aproximo-me da varanda, olhando para fora, assustada ao ver quem
não esperava, não agora: meu avô Carlos chegando. Seus cabelos estão em um ruivo grisalho,
corpo magro da idade, pele madura, mas ele continua jovial e bonito. Ele retornou aos Estados
Unidos assim que o Ric veio morar aqui. O intuito era ficarem próximos um do outro, mas ele
trabalha demais.
Droga, agora estou mesmo fodida, nunca mais verei o Ricardo, mas não desistirei, darei
um jeito de sair daqui agora mesmo e sem fazer barulho.
Um enorme desespero me domina enquanto vasculho ao redor, girando em busca de
qualquer coisa que possa me tirar daqui. Estou afogando em desgosto; o ar denso não me deixa
relaxar, e nem consigo ser mais positiva. Estou abalada, com dor no coração pela tristeza, e me
sinto incompreendida. Avanço sobre a cama, puxando o lençol e o cobertor, e amarro um no
outro. Meu corpo estremece pela adrenalina; estou em surto. Eu sei, é aquele mesmo desespero
das crises de ansiedade que sentia antes, quando tudo era cinza e sem vida.
Abro a porta da varanda; quase nunca saio porque o ar da casa está ligado, mas preciso
fugir daqui, estou enlouquecendo. Amarro o cobertor no pé da cama; é de madeira maciça,
pesada, e forço os nós, conferindo se está firme. Aproximo-me da sacada de vidro inteiriço. Se
ao menos houvesse uma grade, mas papai fez tudo clean. Pendo o corpo para trás, em pé, parada
no mesmo lugar, testando a resistência da cama; não se move. Com cuidado, um pouco trêmula,
ergo a perna, transpassando o vidro que não tem nem um metro de altura, colocando os pés para
fora.
Apoio os dois pés na base de concreto onde o vidro está aderido e inclino o rosto olhando
para baixo. Não vejo ninguém lá fora, e esse é o momento exato para descer. Calculo um pé-
direito triplo de cerca de 5 metros; estou no terceiro andar.
Certo, eu consigo! Com o lençol e o cobertor, a altura diminuirá em 2 metros e meio. Eu
consigo! Poderei sair, andar, correr até o Ricardo; eu só preciso abraçá-lo para não sentir mais
essa dor dilacerante.
Inclino o corpo segurando com força, começando a descer, deslizando o tecido entre as
coxas, centímetro por centímetro. Quase posso tocar os galhos tortos das árvores, enquanto as
folhas verdes vívidas farfalham com o vento da manhã. Aperto os dedos com tanta força no
lençol, com medo, tensa, deslizando aos poucos. Tudo parece ir bem até que sinto um tranco;
meu coração dispara, uma sensação gélida corre dos pés à cabeça quando escuto o ruído da cama
se arrastando, e um espasmo de susto me faz travar. A cama bruscamente bate forte contra a
porta de vidro, que estilhaça com o impacto, e o solavanco faz o lençol rasgar.
Empalideço; é grave, um suor frio na nuca, e o estômago torce, pois despenco dominada
por uma corrente de angústia. Meu corpo está em uma queda súbita, e o tempo parece congelar
em frações de segundos. Penso no Ricardo, em tudo que queria dizer a ele, enquanto os raios do
sol aquecem minha pele, iluminando meus olhos. O brilho ofusca minha visão. Há tantas coisas
que eu gostaria de dividir com ele, explicar e, principalmente, sentimentos que queria sentir.
Apavorada, solto um grito estridente à medida que olho para o céu e tento me virar de
lado. O chão está ali, e estou a segundos dele. Fecho os olhos, sentindo o forte impacto do meu
corpo, que cai de lado no piso quente. A dor irradia por todos os músculos, e tudo fica escuro e
sombrio.
Não há mais dor, nem medo e nem angústia.
CAPÍTULO 37

Suzanne continua falando sem interrupção, até que um barulho estrondoso de vidro
quebrando seguido de um grito nos faz sobressaltar da mesa. É a Chiara. Meu batimento acelera
no peito quando o som de algo pesado repercute no chão com força.
一 O que foi isso? 一 Diz meu pai, levando as mãos ao rosto.
一 Foi o grito da Chiara, mas parece que estava vindo de lá de fora 一 Afirma
Suzanne, correndo para os jardins.
一 Chiara! 一 Berro procurando por ela. Há estilhaços de vidro por todo lugar, e
finalmente a vejo.
Perco o ar dos pulmões; Chiara está inconsciente, completamente imóvel. Ao lado, um
lençol rasgado, e olho para cima, ela caiu. Uma forte dor aguda surge em meu coração. Minha
filhinha acaba de cair porque eu a deixei trancada. A culpa domina meus pensamentos, e levo as
mãos à cabeça em choque. O que eu estava pensando? Por que a deixei presa? Como sou
irresponsável!
Suzanne treme, as lágrimas surgem em seus olhos, mas ela suspira fundo, mantendo o
equilíbrio, e liga para o resgate. Ajoelho-me ao lado do corpo de Chiara, tocando em seu rosto.
Uma mancha de sangue surge abaixo da cabeça, e não contenho meu desespero.
一 Chiara, acorda por favor…
一 Filho, não toque nela. Pode ter fraturado a coluna; não podemos movê-la. — Orienta
meu pai, segurando meu braço.
一 É culpa minha, filha, eu sinto muito. 一 Balbucio.
一 Por favor, preciso rapidamente de uma ambulância no condomínio Greenville. É com
urgência, minha filha caiu de uma altura... 一 Analisa, a voz entrecortada de angústia. 一 De
quase 6 metros.
Suzanne anda de um lado a outro, tentando controlar as emoções. Fico aqui, na
degradação interna, com minha filha inconsciente por causa do meu orgulho. Estou atônito,
sendo devorado por um sentimento desolador. Não precisava tê-la trancado no quarto; ela tem o
meu temperamento, e eu deveria ter imaginado que tentaria sair de lá uma hora ou outra. E piora
a dor que lateja porque ela suplicou para que eu a deixasse sair, e o meu orgulho me impediu de
ouvir o meu coração. Fecho os olhos, atordoado, devastado, tentando não pensar no pior.
Sem calcular, com a mão trêmula, puxo o celular do bolso da calça jeans e ligo para o
meu irmão. Sei que estou com raiva, mas eu ainda preciso dele ao meu lado. Ele atende em
segundos.
一 Oi, Rico, finalmente, como está tudo por aí?
一 A Chiara caiu e está inconsciente, a ambulância está vindo levá-la para o Hospital,
eu… 一 travo, meu pai gesticula com a cabeça me encorajando a continuar 一 preciso de você.
一 O que aconteceu? Como ela caiu? De onde? Pelo amor de Deus, Rico, explique. —
Interroga com a voz soando irregular. Escuto barulhos de algo batendo e ele fica ofegante; deve
estar transtornado.
一 Foi culpa minha, ela caiu da sacada do quarto no jardim.
一 Puta que pariu, é muito alto, estou no carro indo para o hospital agora, encontro vocês
lá.
一 Tá bom! 一 Desligo e ouço a sirene da ambulância se aproximando.
O som delas invade meus sentidos violentamente. Flutuo em pensamento, preso em uma
autorreflexão, totalmente culpado e desesperado. O som fica cada vez mais alto, deixando-me
paralisado e exausto. Suzanne pega as chaves da minha mão e abre o portão. Os paramédicos
descem rapidamente da ambulância e imobilizam a Chiara em segundos. Ela permanece
completamente inconsciente. Suzanne me chacoalha, tentando me tirar dessa dor profunda em
que mergulhei. Estou submerso e escuto sua voz ressoar de longe, como se fosse através de um
vidro.
一 Rico, Rico, acorda, Rico. Ela ficará bem… 一 estapeia o meu peito 一 Rico… 一
Volto a realidade, consciente, e ela me puxa até o carro. 一 Vamos agora para o Hospital.
Sento-me atrás do volante, minhas mãos tremem, mas respiro fundo. Suzanne e meu pai
se acomodam, e seguimos a ambulância até o hospital. O caminho é longo e silencioso, e estou
ansioso por notícias da minha filha. Ao chegarmos no estacionamento, ela é levada às pressas
para dentro da unidade. Descemos do carro e seguimos diretamente para a recepção.
一 Bom dia, meu nome é Rico Mandolini e minha filha, Chiara, acabou de dar entrada,
preciso entregar os documentos e preencher a ficha.
一 Bom dia, aqui está. — A mulher de meia-idade e cabelos loiros coloca a prancheta no
balcão e puxa uma caneta do suporte. Suzanne preenche em segundos.
一 Pronto, preenchi certinho. Ela foi viciada em morfina, então não podem aplicar. Por
favor, não apliquem. — A mulher concorda e entrega apressadamente a ficha para a ajudante.
一 Entregue rapidamente ao médico, por favor. — A moça sai pelos amplos corredores,
iluminados por luzes de LED brancas, com diversas pessoas aguardando atendimento.
一 Podem aguardar na recepção da internação, em breve o médico dará notícias.
一 Tudo bem, muito obrigada. 一 Andamos até as cadeiras, papai está sentado olhando
para a parede, com o semblante triste.
Suzanne me abraça, e eu a aperto forte enquanto ela desabafa, chorando em meu peito e
deixando cair a armadura que usava.
一 Minha filhinha! 一 Inclino a cabeça e vejo o Ricardo do outro lado da recepção.
Apoio a mão na parede branca, o cheiro característico do hospital e as pessoas doentes
me deixam ansioso. Não foi assim que imaginei revê-la, em uma cama, machucada. Quero
esmurrar a parede em minha frente; estou nervoso porque deveria estar lá para protegê-la. Vejo o
Rico, a Suzanne e meu pai na recepção e sigo até eles. Há meses não reencontrava meu pai, e sua
presença é um grito de socorro do meu irmão. Ele não sabe o que fazer. Preciso de uma única
notícia da Chiara; estou despedaçado.
Coloco as mãos na cabeça, tentando buscar algum alívio para essa angústia torturante que
só aumenta. Rico se aproxima e me abraça, permitindo-se chorar. Uma dor aguda inflama, pois
isso prova que ela está em uma situação pior do que imaginei. Jamais vi meu irmão entregue à
tristeza; sempre foi o durão, insensível, mas está destruído.
一 Eu nunca vou me perdoar se algo acontecer com minha filha. 一 Confessa.
一 O que houve, Rico? Como isso aconteceu? 一 Ele seca as lágrimas com a mão e as
engole contraindo a face, está criando coragem para falar, mas não consegue, então vira-se de
costas, fugindo da resposta.
一 Ela estava presa no quarto e queria sair, mas o Rico a deixou de castigo, e ela tentou
descer pela sacada 一 Diz Suzanne.
一 Castigo? Presa? Que porra de castigo é esse? Ela ficou nessa situação quando estava
se recuperando do vício, e vocês a fizeram reviver isso de novo? Quantos dias a deixou no
quarto? 一 Esbravejo alterado, Rico se senta, apoia os cotovelos nas pernas e a mandíbula nas
mãos.
一 Uma semana, eu errei. Não deveria ter feito isso, nem... 一 Ele trava.
一 Nem o quê? O que mais você fez? Tudo isso porque ela quer ficar comigo? Até antes
de tudo isso acontecer, você também me amava como o seu irmão. Confiava em mim, e durante
todos esses anos que tivemos a chance de conviver, não foi suficiente para ao menos parar e
tentar compreender nossos sentimentos? Chiara não é qualquer mulher, não é uma garota que
quero levar para a cama e esquecer no outro dia. Eu a amo, e vou cuidar dela. Você pode não
aceitar, mas não me impedirá de vê-la. O que mais você fez? 一 Exclamo impaciente, e
algumas pessoas nos olham.
Inspiro profundamente, aqui não é lugar para discussão, podemos ser expulsos. Sento ao
lado dele para não assustar as pessoas.
一 Diz Rico, o que mais aconteceu? Por que ela teria essa atitude desesperada? 一 Ele
cobre o rosto esfregando as mãos no rosto, a pele ruborizada, as olheiras profundas.
一 Chiara nunca irá me perdoar, discutimos, perdi o controle e bati nela.
一 Bateu? Como? Você a machucou? 一 Fecho os punhos e Suzanne se aproxima
segurando minhas mãos.
一 Ric, nós precisamos vê-la, por favor, não briguem. 一 Fecho os olhos, as palavras
dele ainda ecoando nas paredes da minha mente, estou indignado, como teve coragem de agredi-
la? Isso é insano.
一 Se encostar a mão nela de novo, eu irei te agredir, pior do que fez comigo. 一 Aviso
levantando furioso e me afasto, seguindo em direção ao meu pai na máquina de café.
Ele me abraça, e permito que essa sensação boa de o ver amenize um pouco a bagunça no
meu coração.
一 Oi meu filho, queria falar com você em circunstância melhores, não assim.
一 Vai me dar muitos sermões, pai?
一 Claro que não, você nunca precisou disso, eu sempre tive motivos para me orgulhar
de você. Rico me chamou para resolver o problema para ele, e é isso que farei. Você e a Chiara,
meu filho, é difícil, seu irmão nunca foi um exemplo de calma, isso o desestruturou, acho que
não está sendo fácil para nenhum de vocês, mas conversaremos quando ela estiver bem e
saudável. Hoje não consigo pensar.
一 Nenhum de nós consegue, pai! 一 Suspiramos e puxo a carteira do bolso, preciso de
um café.
Analiso o desenho das opções, a imagem dos grãos de café tostados, e sou levado de
volta ao aeroporto, quando esbarrei nela. O momento em que o café caiu no chão e toda sua
expressão se entristecendo me vem à mente. Ela é linda, até mesmo triste ela é linda, e sinto falta
de olhá-la, de não conseguir dizer "não" a ela, e de quão persuasiva ela é ao ponto de cada
segundo longe dela doer.

Passamos horas aflitos, o som da televisão já não incomoda mais, o cheiro se tornou
familiar e está escurecendo quando um médico experiente chamado Williams finalmente se
aproxima com as informações.
一 Boa noite, vocês são a família da Srta. Chiara Mandolini, certo?
一 Sim doutor, me diga, como minha filha está? 一 Suplica Suzanne.
一 Foi uma queda bastante impactante; infelizmente, ela precisará de um tempo para se
recuperar. 一 O médico limpa a garganta, analisando a ficha antes de prosseguir 一 Vamos lá,
ela quebrou duas costelas do lado esquerdo devido ao impacto com o solo. É provável que sinta
muita dor muscular nos próximos dias, mas há outra questão que me preocupa... 一 Ele franze
os lábios, pensativo.
一 O que doutor? 一 Interroga Rico.
一 Ela teve uma contusão pulmonar! Com a queda e o impacto forte no peito, houve uma
lesão no órgão, resultando em menor absorção de oxigênio do que o necessário, levando a níveis
muito baixos de oxigênio na corrente sanguínea. Para controlar isso, ela precisará ser sedada nos
próximos dias. Não será uma dose alta que a deixará dormindo profundamente, apenas doses
mínimas para evitar agitação e permitir a terapia de oxigênio adequada. Ela também bateu a
cabeça, mas os exames não mostraram nenhuma alteração significativa, exceto pelo corte, que já
foi suturado. Vamos monitorar como ela responde nas próximas horas. Faremos tudo o que for
necessário para que ela se recupere bem e retorne para casa o mais rápido possível. Ah,
substituímos a morfina por outro medicamento, levando em conta o problema anterior. Não se
preocupem com isso.
一 Podemos vê-la, doutor, por favor? 一 Pergunto.
一 Tudo bem, administramos um ansiolítico para os exames e ela continua letárgica, mas
compreende tudo normalmente, não se preocupem.
一 Obrigada, doutor. 一 Agradece Suzanne, as pálpebras caídas de cansaço, foram
horas torturantes de espera.
一 Me sigam, mas por favor, silêncio no quarto, não façam muito barulho para não a
assustar.
Seguimos o médico até o quarto e ao passar pela porta, um formigamento percorre meu
corpo. Minha cerejinha está lá, deitada, os olhos fechados, a pele pálida e o corpo está protegido
com um cobertor para deixá-la quente. O soro de medicação está fixado no braço direito e a
máscara de oxigênio acoplada no nariz. Sinto medo, angústia, pânico e estou completamente
frustrado. Queria protegê-la, está vulnerável, com dor e gostaria de ser capaz de aliviar seu
sofrimento.
Rico se aproxima segurando na mão dela, os olhos piscam lento até que os abre
totalmente. Suzanne segura a outra mão, e seu olhar analisa o teto, os rostos deles e encontra o
meu, como se me chamasse.
Minhas pernas se movem sozinhas indo até ela, não calculo, apenas beijo sua testa com
carinho. Ela afasta a máscara de oxigênio com cuidado e sorri. Com a voz baixa e trêmula, fala
devagar:
— Se eu soubesse que precisaria sofrer uma queda para ver vocês juntos de novo, eu teria
caído antes.
Sorrimos. É impossível nos sentirmos bravos ou qualquer outra coisa nesse momento.
Rico, Suzanne e meu pai abraçam a Chiara com cuidado, e eu puxo a poltrona, sentando
ao seu lado. Seguro sua mão direita, pequena e macia, com ternura, e ficamos assim por um
longo tempo, apenas aliviados por estarmos ao lado dela. Ela adormece e, uma hora depois,
alguém bate suavemente na porta e a abre. Assim que vejo quem é, me tremo de irritação.
O que esse filho da puta do Juliano faz aqui? Como conseguiu entrar?
一 Com licença, Rico, fiquei sabendo do acidente, Amy me contou, estava na recepção,
mas não quis incomodar, só queria saber como ela está. 一 Me seguro para não socar a cara dele
de novo.
一 O que você quer aqui? 一 Questiono.
一 Só prestar apoio, trouxe flores para a Chiara em nome de todos.
一 Fique longe dela. 一 Rebato impaciente.
一 Ricardo… 一 Diz Rico franzindo o cenho, confuso 一 O que está acontecendo entre
vocês?
CAPÍTULO 38

Juliano sorri irônico, e engulo minha impaciência, amarga, goela abaixo.


一 Da minha parte, estou tão surpreso quanto a você. 一 Afirma.
Ele está aqui para me intimidar, deixando nas entrelinhas, mas o Rico detém a verdade,
estamos colhendo os frutos podres de dor e sofrimento do nosso erro, não preciso tolerá-lo mais.
一 Você é um tremendo filho da puta, vá embora.
一 Vocês não podem discutir aqui dentro, minha neta precisa descansar. Vão acordá-la.
Para fora agora se forem continuar. 一 Vocifera meu pai, me contenho e todos se entreolham
em um clima denso e pesado.
Juliano bufa, passa as mãos na barba e sorri, ocultando o enfurecimento.
一 Está tudo bem, só passei porque a Amy pediu.
Duvido.
一 Juliano, depois conversamos, obrigado pelo apoio, agradeça nossa equipe.
一 Claro, Rico.
一 Só podem ficar pessoas da família aqui, te acompanho até lá fora. 一 Rico diz.
Ele me encara por longos segundos, em desafio, está desapontado com algo, é nítido.
一 Certo, vamos. 一 Ele coloca as flores sobre o aparador lateral que fica abaixo da
janela.
Os dois saem do quarto e meu pai gesticula a cabeça querendo entender.
一 Ele sabia que eu estava com a Chiara e me fez ameaças para me afastar dela, a
verdade é que ele queria uma chance para ficar com ela.
一 Ele é estranho. 一 Meu pai analisa e Suzanne sorri.
一 Pode ser, mas é bonito. 一 Ela diz e reviro os olhos.
Chiara dorme tranquilamente e trago sua mão à boca, beijando-a, por sorte não acordou,
talvez seja a medicação. Meu pai nos analisa cuidadosamente, acho que se perguntando
internamente como irá resolver isso.

O tempo de visita termina, e não consegui dizer tudo o que queria; parte do tempo, ela
dormiu, e meu maior desejo era tirar todos os ferimentos do seu corpo e transferir para o meu.
Ficamos tristes quando o médico reaparece, pois temos que deixá-la.
一 Sinto muito, pessoal, mas ela precisa descansar! Amanhã o horário de visitas é o
mesmo, ela só pode ter um acompanhante.
一 Eu fico com a minha bebê, cuidarei dela. 一 Diz Suzanne e Rico concorda.
Despeço-me da Chiara afastando sua máscara, preciso senti-la para matar um pouco da
saudade. Os lábios estão secos, pálidos e suspiro angustiado por não conseguir levá-la comigo.
Conecto nossas bocas, seus olhos se abrem.
一 Eu te amo. 一 Sussurro e sua voz falha ao responder, ressoando tão baixo, quase
inaudível.
一 Também te amo. 一 Acoplo a máscara novamente, e abraço a Suzanne.
Meu pai e o Rico fazem o mesmo.
Dói, esmaga e machuca deixá-la aqui, mas é onde precisa estar e irei suportar cada
maldito minuto ansioso para segurá-la em meus braços novamente.
Quando cheguei ao hospital, a única informação que tinha era que a Chiara havia se
machucado. Amy me contou por que estava bastante triste com a situação, e avisei que levaria
flores em nome de todos. Ela fez um documento para o hospital, explicando que era apenas uma
entrega de flores para a filha do proprietário do banco e que seria em nome da equipe
empresarial. Eu queria ver a Chiara, saber como ela estava, entender o que havia acontecido,
afinal, agora o Rico sabia de tudo. A enfermeira aceitou o papel, mas devido às normas
hospitalares, só aceitava visita da família e não me deixaram passar. Fiquei uma hora sentado,
analisando cada enfermeira, estudando qual teria simpatia no olhar.
Finalmente, quando estava prestes a trocar de turno, uma enfermeira aparentava estar
bastante cansada, com olheiras, e o jeito calmo e amável com que tratava os pacientes me
indicou que ela poderia ser a pessoa que me deixaria passar por falta de atenção. Esperei o
segurança se distrair com algo e invadi o corredor de acesso, mantendo a calma aparente, e por
sorte, Chiara estava em um dos primeiros quartos do segundo corredor.
Quando saí, Rico me acompanhou até a recepção, e eu fiz questão de conversar com a
mulher ao lado dele. Depois de nos despedirmos, ele retornou ao quarto e eu permaneci na
recepção. Usei um nome falso para me apresentar, fingindo ser amigo da família, e ela acreditou
porque me viu com o Rico, e pensou que eu estava saindo de uma visita autorizada. Peguei o
contato da enfermeira porque ela correspondeu às minhas investidas simpáticas, e fiz isso
porque, ao ver a Chiara na cama, desacordada, senti a necessidade de voltar, sem que ninguém
soubesse.
Definitivamente, ela vive com uma família doentia. Revelei sobre o relacionamento dos
dois e não fez diferença, é claro, todos estão acostumados com todo tipo de perversão e os
apoiaram, mas ela é nova, tem só 19 anos e está sendo obrigada a aceitar tudo isso.
Provavelmente esse acidente foi proposital, e se ela estivesse querendo acabar com a própria vida
pelos abusos que sofre?
Chiara nunca me rejeitaria, é culpa de sua família louca, que deve obrigá-la a suportar
deitar com o próprio tio todas as noites. Queria matá-lo, assim talvez ela estaria livre para ficar
comigo.
Estaciono na garagem de casa. Eu a quero tanto que não ligo de fazer uma loucura. O
meu plano só deu errado porque os Mandolini’s são o problema. Adentro a sala indo direto para
o meu suporte de bebidas. Sirvo um pouco de whisky, frustrado. Desde que me interessei por
ela, nunca mais consegui comer uma boceta da mesma forma. Idealizo seu rosto em todas as
mulheres.
Toco o corpo delas desejando que seja a Chiara, estou ficando fora de controle. A semana
sem contato com ela na empresa estava me corroendo, e agora vê-la naquela situação piora tudo.
Ricardo a terá por completo, tem o apoio da família, tem o silêncio de Chiara, já que ela está em
uma cama.
Engoli a bebida, sentindo o amargor descendo pela garganta à medida que o ódio crescia
dentro de mim. Costumo conseguir tudo o que quero, mas a falta dela me consome, e a raiva
toma conta de mim, fazendo-me atirar o copo de vidro contra a parede que se estilhaça em mil
pedaços espalhando-se pelo chão.
Farei qualquer coisa para que ela seja minha, querendo ou não, só preciso alcançá-la. Sou
capaz de fazê-la me amar, só preciso de uma oportunidade de mostrar que sou o homem que
sempre quis. O nosso beijo e o jantar no outro dia foi interrompido, era para ter se dado conta
naqueles momentos, mas o Ricardo atrapalhou. Assim que fizer sexo comigo, nunca mais
desejará se afastar de mim. O meu novo contato no hospital pode me ajudar a visitá-la.
Quando abri os olhos, ainda sentia o frio na espinha da queda. Então, vi o branco da luz
ofuscando meus olhos e em seguida os meus pais, o vovô, e senti a dor, tudo estava pulsando:
minha cabeça, meu corpo. Até que o vi. Ricardo. Queria ter falado seu nome, queria ter beijado
sua boca e o abraçado com tanta força, mas meus músculos não reagiram. O beijo que me deu
antes de partir fez minha alma despertar e sentir saudades.
Depois que todos saíram, adormeci e agora acordei de verdade, totalmente consciente,
sem a medicação pesando a cabeça. Com dificuldade, elevo o braço trazendo a mão até a
máscara e a afasto. Mamãe está na janela, com os olhos vidrados lá fora. É dia novamente.
Confiro o relógio acima de sua cabeça, confusa; o tempo parecia petrificado, mas ele continuou,
eu que estava desacordada.
一 Mamãe. 一 Ela me olha, sorri e se aproxima.
一 Finalmente o efeito dos remédios começaram a diminuir, como se sente? 一 Acoplo
a máscara novamente ganhando uma nova dose de ar para responder sem sentir os pulmões
doerem.
一 Estou com dor no corpo e com fome.
一 Estávamos esperando você acordar para trazer o almoço. 一 Inesperadamente a porta
se abre, é o Ricardo.
Meu coração acelera, e ele se aproxima com passos lentos. Primeiro, entrega uma
mochila para a minha mãe e depois fica ao meu lado. Seus olhos têm tantas palavras, não precisa
dizê-las, nunca precisou. Sua mão direita acaricia meu rosto. Está em um terno cinza, com uma
gravata preta, os cabelos ruivos penteados e os olhos azuis presos aos meus. Seu cheiro domina o
ambiente e, de repente, toda a dor diminui. Inspiro com força, ganhando todo o ar que preciso
para dizer qualquer coisa a ele, e afasto a máscara.
一 Eu te amo, estava com tantas saudades. 一 Confesso, meu peito dói, o ar começa
faltar, mas ele aproxima o rosto do meu.
Não ligo de ficar sem respirar para ganhar um beijo dele, mas ele percebe minha
angústia, encaixa a máscara e espera o sufoco passar, retirando-a quando estou mais calma. Sua
boca encosta na minha, deslizo minha língua procurando a dele, e nos beijamos tão devagar,
saboreando cada movimento sutil. No entanto, somos obrigados a parar quando a aflição retorna.
一 Chiara, não vamos exagerar, você precisa ficar bem, minha cerejinha. 一 Mamãe nos
analisa discretamente, fingindo mexer nas roupas que ele trouxe na mochila.
A enfermeira entra trazendo o almoço e meu pai está logo atrás. Ainda tenho medo dele,
não deveria, ele agiu sem pensar, mas é vívida a lembrança da agressão, dos dias presa naquele
quarto, então desvio o olhar, evitando encará-lo.
一 Eu ajudo ela com o almoço. 一 Ele diz, mas nego com a cabeça.
一 Não, você não. 一 Papai fica triste, as pálpebras caem, os lábios se curvam e sem
jeito caminha até a janela.
Não quero magoá-lo, mas quando se aproxima sobrevém na mente a imagem do seu rosto
irado, aplicando os golpes intensos, como se me punir aliviasse sua alma enquanto a minha
estava sendo marcada.
一 Podem deixar, eu dou o almoço para ela. 一 Afirma Ric, e concordo.
Ele me ajuda a sentar, afasta os cobertores do meu corpo, mas trava ao encarar minhas
pernas marcadas pelo cinto de couro. O roxo ainda está visível, mas está começando a se apagar.
Seu rosto contrai brevemente, fechando os olhos como se sentisse culpa. Então, ele apoia
travesseiros macios em minhas costas para evitar um impacto mais forte ao me encostar.
Sentando ao meu lado, ele coloca o suporte de alimentos e a enfermeira entrega o prato - uma
sopa de legumes. Ele enfia a colher, assopra e traz até minha boca. Retiro a máscara e aceito.
Ricardo leva a colher com sopa à boca da Chiara, e dentro de mim há um misto de
sentimentos. De um lado, quero matá-lo, e do outro, fico mexido por ver que ele deseja
realmente cuidar dela. O médico disse que a recuperação será lenta, e não posso provocar uma
briga aqui dentro. Por mais que eu tente negar, Chiara agora tem medo no olhar, e dói ver isso.
Nunca imaginei que o sentimento de amor que ela sempre teve por mim se tornaria pavor.
Analiso os dois. Ricardo nunca olhou dessa forma para outra mulher, mas minha filha é
apenas uma menina. Não está na mesma fase de vida que ele, não está pronta para ter o
relacionamento que ele quer e nem se casar. Ele falhou em vê-la como mulher, porque ela ainda
é uma adolescente inconsequente.
Suzanne segura meu braço e faz um sinal com a cabeça, chamando-me para fora do
quarto. Sigo-a pela porta e caminhamos pelos corredores até a área externa.
一 Nada de brigar aqui dentro. 一 Avisa, sentando no banco frio de concreto.
O dia está nublado, o ar fresco e gelado, ela apoia os braços na mesa, cansada. Os olhos
se fecham e os polegares pressionam as têmporas em círculos suaves. Aproximo-me por trás,
colocando as mãos em seus ombros, os músculos rijos de estresse, afasto as alças de sua blusa,
massageando a região. Ela geme satisfeita. Faz tempo que não dividimos a mesma cama, ainda
lembro do seu corpo, de como era fazer sexo com ela, deveríamos praticar enquanto a Chiara se
recupera. Sem compromisso.
一 Controle seus pensamentos, aposto que só está criando barbaridades aí dentro. 一
Solto uma risada alta.
一 Não pensei nada.
一 Fica aí indignado que sua filha tenha se apaixonado pelo seu irmão, como se você
fosse um exemplo. 一 Arqueio a sobrancelha.
一 Ela não sabe de nada, nunca falei das minhas aventuras.
一 Pois é, tá no sangue. Essa parte falha vem de você. Conte para ela que dormiu com
metade das minhas amigas, que eu considerava “irmãs”, e não venha me dizer que não se
compara. 一 Reviro os olhos.
一 Não se compara. 一 Provoco. 一 Eu estava bagunçado, errei mesmo, mas sempre
assumi minhas merdas.
一 Exatamente, como os dois agora, não se faça de santo, nunca fomos normais. 一
Sorrimos juntos.
Sento ao seu lado, Suzanne me encara atentamente. Os cabelos continuam com o mesmo
tom, Chiara é tão parecida com ela, Suzanne é ruiva, nunca pensei em me interessar por uma,
mas aconteceu e agora a Chiara fez o mesmo, mas se esqueceu de que membros da mesma
família não podem se envolver. É errado, é pecado, e não é aceito por ninguém, nem por mim.
一 Os dois não podem ficar juntos. 一 Decreto, ela nega.
一 Então nós a perderemos, e preciso te lembrar que só temos uma única filha.
一 Suzanne, eles precisam entender que é nojento, são parentes.
一 Não é nojento, sabe o que seria nojento? Se ele tivesse visto seu crescimento, se fosse
presente, se o sentimento que tivesse por ela de criança se transformasse em perversão. Eles
nunca conversaram, nunca se viram antes, Chiara nem lembrava que você tinha um irmão. O
reencontro de vocês não foi perto de nós, estavam no exército, e ela em casa vivendo a vida dela,
sem saber quem ele era.
一 Droga, eles nunca se enxergarão como parentes. 一 Friso.
一 Claro que não. Ricardo é como você, mas em uma versão digna.
一 Ei… 一 Franzo a testa, incrédulo.
一 Sim, você não entende, na cabeça dela você sempre foi o super-herói, o melhor pai do
mundo, ela nunca conheceu suas falhas, sabe que você não é perfeito, mas sempre fez de tudo
por ela, e aí vem o Ricardo, alguém sem vínculo afetivo nenhum com ela, igual a você no
cuidado, na atenção, mas com algo a mais, é romântico, calmo, responsável e tem as suas
características, aquelas que ela amou a vida toda. Ele é perfeito para ela, mesmo você se negando
a enxergar. E não, antes que diga que concordo com esse envolvimento de sangue, quero que
saiba que não concordo, mas quero vê-la feliz, sorrindo, com aquele brilho que ela tem de viver
quando fala dele. Eu sei que o Ricardo trará o melhor dela, porque ele é bom, e mesmo sendo
errado, aceito, porque ela feliz é tudo que me importa. 一 Os olhos se enchem de lágrimas.
Entendo o que ela quer dizer, Chiara é o maior amor que tenho na vida, indestrutível, eu
daria minha vida para vê-la feliz.
一 Não sei o que pensar. 一 Admito derrotado.
CAPÍTULO 39

Hoje completo sete dias de internação. Refiz alguns exames de manhã; meu peito
continua doendo, e o oxigênio é necessário por 24 horas, mas estava cansada de ficar no quarto e,
graças a um cilindro ao meu lado, pela primeira vez saí para a área externa. O cateter na narina
incomoda um pouco, mas é melhor que a máscara, que estava machucando a pele. Ricardo, com
cuidado, segura minha cintura e me coloca sentada no banco. Ele tem passado todo tempo livre
aqui; lemos o mesmo livro em dois dias, jogamos xadrez em outro - ele me deixou ganhar, eu
percebi -, assistimos a filmes há duas noites atrás, e ele me trouxe um cupcake de chocolate com
cereja escondido.
Não sabia como era bom estar com ele, mesmo sem fazermos sexo. Nossa maior
linguagem é através dos toques, e de repente não podemos fazer isso. Ontem, quando se
despediu, estávamos só nós dois e escorreguei sua mão no meu corpo, mas não consegui
continuar; comecei a ficar ofegante e tudo doeu tão intensamente que chorei. E as lágrimas não
eram totalmente de dor; é porque sinto falta de estar com o meu corpo junto ao dele.
Fecho os olhos, os cheiros indistintos de comida, borracha, e construção se mesclam no
ar, invadindo o meu olfato. Inspiro profundamente, e Ricardo senta ao meu lado, segurando
minha mão com carinho. Estou ansiosa para voltar para casa, para a minha liberdade, porque sei
que papai não me trancará mais no quarto. Talvez até aceite conversar, e possa finalmente ficar
com o meu tio. Eles têm nos permitido passar horas juntos, e meu coração está esperançoso.
一 O que dirão de nós? 一 Seus dedos deslizam nos meus, o cabelo dele está mais
bagunçados e o sobretudo branco deixa seus olhos azuis mais cintilantes.
一 Os religiosos? As pessoas sem religião? Os funcionários do banco? O resto da nossa
família que nunca aparece, mas que farão questão de dar opinião? 一 Sorrio.
一 Sim, todos eles dirão a mesma coisa, certo? 一 Ele comprimi os lábios e inspira
profundamente antes de falar.
一 O que sempre dizem sobre incesto, que é pecado, que iremos para o inferno, que
estamos incentivando pessoas a errarem como se fossemos isentos de escolha, e o principal, que
é nojento.
一 Por que é tão difícil entenderem que nunca nos vimos antes? Que nos sentimos
atraídos como homem e mulher? Que a paixão aconteceu? Quando se tem realmente laços
afetivos desde criança isso seria motivo de indignação, mas nunca tivemos isso. 一 Meus olhos
ficam marejados, o ar começando a faltar porque estou inalando rápido demais, mas estou
exausta de sentir medo, de me privarem de escolher o meu futuro. 一 Acham que o sangue
sinaliza no corpo e faz um amor que nunca existiu, um laço que nunca aconteceu surgir de
repente e simples, você é o meu tio e pronto. Se alguém um dia conseguiu controlar o coração,
precisa explicar para a ciência, e assim poderemos escolher por quem nos apaixonar. 一 Faço
um movimento brusco com os braços no calor do momento, perco o fôlego, o cateter desloca,
meu corpo amolece e a náusea me faz fraquejar.
Ricardo sobressalta, enfiando-se entre minhas pernas e me envolvendo em um abraço.
Arruma rapidamente o cateter em minha narina, e respiro fundo, sentindo alívio. Seu rosto
mostra desespero, como se sentisse cada pontada aguda comigo. Às vezes, nossas almas parecem
conectadas, porque ele sempre sabe o que dizer, como me fazer sorrir, quando não dizer nada e
quando preciso de sua proteção.
一 Minha cerejinha, por favor não se altere, não importa o que dirão, não importa se
acham que é pecado, a escolha é nossa, e sempre escolherei você. 一 Minha voz entrecorta, a
vontade de chorar doendo em meu peito porque não quero que ele vá contra tudo que sempre
acreditou por mim.
一 Não quero que esqueça tudo, toda moralidade que sempre teve, por mim, não quero
mudar quem você é, eu te amo assim. 一 Ele me cala com um beijo.
Os lábios sugam os meus com tanta força que os sinto formigarem. Minhas pernas se
fixam entre o seu quadril enquanto nossas línguas se sentem, uma sobre a outra, com
movimentos sutis, intensos, que faz meus sentidos ficarem aguçados, um mundo de sensações e a
maior delas é que o nosso amor é inquebrável, incorrigível e incontrolável.
Suas mãos acariciam meu corpo e seu cheiro é tão gostoso que me faz gemer. Perco o
fôlego, mas desesperada não paro, continuo buscando mais de sua boca, não quero parar, mesmo
sem ar, mesmo sentindo as marteladas em meu tórax, porque o amo tanto que esse sentimento
nos blinda, em uma enorme redoma, e sou dele, para sempre.
一 Sentiu esse beijo? Esse sentimento? A explosão que nos enche de tudo, sim, com
você eu sinto tudo, você é o meu céu, Chiara, pode parecer errado, mas eu escolho o amor,
escolho você.
一 Prometo ser sua eterna parceira e te amar com todo meu coração.
一 Eu sei, cerejinha, não precisa dizer, seus lábios me contaram enquanto nos
beijávamos. Agora respira.
O som das conversas que permeiam o hospital durante o dia desaparece à noite, deixando
apenas os ruídos dos aparelhos e a energia que causa alguns bipes e zumbidos. Minha mãe se
aconchega na coberta, apoiando a cabeça em dois travesseiros que o Ricardo trouxe, e meu pai e
meu avô até tentaram argumentar com ela para ficarem uma noite comigo, mas ela foi
irredutível. Talvez hoje eu compreenda melhor seu jeito; sempre a achei distante, mas nestes
momentos ela demonstra todo o amor que sente.
Meus pais sempre foram assim, um casal distinto, exótico; os sentimentos deles sempre
estiveram por baixo das camadas de músculo aderidas ao coração, e para eles não é preciso
expressar constantemente, mas quando o fazem, me sufocam com as cobranças.
Movimento os dedos das mãos, sentindo dor, cada pedaço de carne em meu corpo
protesta contra minha irresponsabilidade ao descer pela sacada, mas naquele momento eu estava
desprovida de controle emocional.
Fecho os olhos e recordo as paredes brancas da clínica de reabilitação, a vontade
corrosiva correndo nas veias, necessitando do veneno que usava quase todos os dias, e jurei a
mim mesma que nunca mais queria sentir aquilo, aquela impotência.
O médico abre a porta e se aproxima da cama, espalmando o meu pé. Ele é um homem de
idade, alegre e muito competente.
一 Boa noite, Chiara, trouxe as medicações da noite! Como se sente agora?
一 Com muita dor, fraqueza, como se o meu corpo não conseguisse fazer nada além de
respirar com dificuldade! 一 Ele aproxima a bandeja, entrega os comprimidos e a água.
Engulo rapidamente.
一 Infelizmente, é o seu pulmão que está afetado devido à contusão, mas prometo que
com a medicação e a terapia de oxigênio, em breve a dor que você sente e principalmente o
cansaço diminuirão. As costelas quebradas tornam essa dor um pouco pior. Por favor, não fique
sem oxigênio; daqui a meia hora, a enfermeira virá colocar um cilindro novo. Não deixe de
praticar os exercícios respiratórios. 一 Concordo.
一 Como estão os exames dela, doutor? 一 Questiona mamãe.
一 Estão ótimos, e é sobre um deles que preciso falar com a Chiara em particular.
一 Como assim? 一 Protesta.
一 É um protocolo do hospital para os pacientes maiores de idade, mas não se preocupe,
poderão conversar assim que eu sair.
一 Está tudo bem mãe, pode ir. 一 Ela bufa, mas aceita, levanta rapidamente, coloca os
sapatos, pega a carteira e sai do quarto.
O médico coloca a bandeja na mesa lateral, puxa a prancheta e me analisa, pensa por
alguns segundos e enfim fala.
一 Bom, Chiara, repetimos os exames hoje, mas adicionei mais um porque algo diferente
apareceu no seu exame de urina. 一 Fixo a atenção nele, parece importante. 一 Hoje de manhã
solicitei uma ultrassonografia abdominal para confirmar; ainda é recente, quase que mínimo o
saco gestacional, mas você está grávida. 一 Perco o raciocínio; uma onda inquietante de medo
me domina e fecho os olhos com tanta força que uma dor aguda surge em meu estômago.
一 Grávida? 一 Torno a abri-los.
一 Sim, os exames mostram que são dois bebês.
一 Dois?
一 Gêmeos.
一 Meu pai vai… 一 engasgo 一 ele me matará. 一 Confesso, o rosto ganhando calor,
mas é de pavor, porque estou colapsando.
Não posso chorar, mamãe irá questionar e não posso dizer a eles sobre a gravidez, ainda
não.
一 Eu sempre gosto de dizer que filhos trazem muitos ensinamentos, mas também um
amor imensurável. 一 Limpo a garganta, inspiro profundamente evitando as lágrimas de se
formarem.
一 Posso tirar uma dúvida?
一 Claro.
一 O senhor promete não contar a ninguém? 一 Ele enruga a testa.
一 Não se preocupe, é sigilo entre médico e paciente tudo que conversarmos. 一 Mordo
o canto da bochecha e pela primeira vez irei falar sobre isso, era algo só nosso, meu e do
Ricardo.
O nosso segredo, mas agora papai e mamãe sabem e estou com duas vidas
inesperadamente se desenvolvendo dentro de mim.
一 Esses bebês são do meu tio, nós estamos apaixonados e ele é meio-irmão de sangue
do meu pai, gostaria de saber se os bebês ficarão bem? Eu sei que tem a questão genética. 一
Doutor Williams não demonstra surpresa, talvez esteja acostumado a ver casos como o nosso.
一 A relação foi consentida? Começou quando?
一 Sim, começou quando cheguei na Austrália, mas nunca tivemos uma relação familiar;
nos apaixonamos. Ele não fez nada de errado, não abusou de mim, eu juro. Por favor, acredita
em mim, eu o amo.
一 Acalme-se, são só perguntas rotineiras nesses casos, está tudo bem. 一 Recupero o
ritmo respiratório e ele se levanta parando ao meu lado.
一 Em casos como esse, os genes recessivos ligados a uma doença podem se encontrar
em um cruzamento genético, aumentando consideravelmente as chances de os filhos nascerem
com complicações. No entanto, tudo depende do grau de parentesco. Precisaremos acompanhar o
desenvolvimento dos bebês.
一 Tudo bem, mas não quero que meus pais saibam ainda.
一 Fiz a mudança de medicação por conta do desenvolvimento dos fetos e na sua ficha
ficará marcado, no entanto, isso não será mencionado para os familiares.
一 Obrigada, doutor, preciso melhorar e depois conto a eles.
一 Certo, descanse! 一 O médico recolhe tudo e depois se despede.
Fecho os olhos, e o rosto do Ricardo invade meus pensamentos enquanto reviro cada
momento em que fui descuidada. Talvez tenha sido aquela noite, depois do meu primeiro dia no
banco, quando nos escondemos debaixo da mesa e depois fomos para o quarto tomar banho.
Suspiro, pressionando os dedos nos olhos, tentando conter a mistura de medo e tristeza
que cresce dentro de mim agora. Algumas lágrimas escapam, e pontadas agudas e sequenciais
me atingem por dentro enquanto tento dominá-las, com medo de ser pega nessa situação. Nem
saberia como contar. E se não aceitarem os bebês? E se nos obrigarem a ficar distantes, ou pior,
se me forçarem a rejeitá-los e entregá-los para adoção?
Não, não, são meus, nossos filhos, fruto do nosso sentimento, não quero perdê-los
também.
Minha cabeça dói e estou quase entregue ao desespero quando mamãe surge entrando no
quarto. Engulo toda dor, é tão amarga e espinhosa que me rasga por inteira.
一 O que o médico queria falar, filha? 一 Abro os lábios, minha voz falha com a
angústia, mas recupero o controle para respondê-la.
一 Era para falar os resultados dos exames, de todos e que faremos um acompanhamento
prolongado.
一 Acho ótimo, precisa ficar sem sequelas, foi muita sorte não ter fraturado a coluna.
一 Consegui pensar segundos antes de cair no chão em virar de lado, imaginei que o
dano seria menor.
一 Não gosto nem de lembrar do desespero, filha, seu pai nem reagia.
一 Será que um dia ele me aceitará com o Ricardo? 一 Ela desvia o olhar.
一 Sinto muito, mas vocês não poderão ficar juntos, estamos concordando dele passar
um tempo aqui para vocês criarem laços e finalmente mudarem esses pensamentos.
一 Não, não… 一 esbravejo 一 Não diz isso, ele nunca será o meu tio.
一 Ele é o seu tio, você querendo ou não, não dá para mudar isso, tentei falar com o seu
pai, fiz de tudo, mas ele não aceita.
Dolorida, inclino o rosto para escondê-lo, as lágrimas ardendo na pele enquanto choro em
silêncio. Ela se afasta, a porta se abre, e um enfermeiro paramentado, com máscara, levanta a
mão e a chama em direção ao corredor. Antes de partir, ela toca minha mão com soro, num gesto
de carinho suave.
一 Acho que já é a troca de oxigênio, aproveitarei para comer algo.
一 Tudo bem, chegaram cedo hoje. 一 Ela abre a porta, o profissional diz algo, mas não
escuto.
一 Filha, eles trocarão em cinco minutos, o moço esqueceu o cateter novo.
一 Tudo bem.
一 Retorno em dez minutos, pode dormir tranquila. 一 Ela sai, e enxugo as lágrimas.
Preciso ser forte, na verdade, mais do que forte, eu quero ser capaz de esquecer tudo que
me machuca.
Fugiremos. É isso, falarei com o Ricardo, poderemos criar nossos bebês longe, em
qualquer outro país, e nunca poderão nos separar.
Minha boca está seca, então elevo o tronco lentamente. Com cuidado, pego um copo de
água que eles deixaram na mesa lateral. Não consigo me mover direito; qualquer pequeno gesto é
difícil. Devolvo o copo e me deito, fechando os olhos para permitir-me descansar. Adormeço
rapidamente, cansada de lutar por hoje; tudo recomeçará amanhã.
Só vejo escuridão e sinto algo pesado sobre mim. Estou em um quarto preto, as paredes
se movem lentamente em direções opostas, cada segundo mais próximas. A pressão comprime
meu corpo, e meus músculos começam a ceder; o sangue escorre, os ossos são prensados,
trincam, e a dor aguda perfura meu coração. Acordo sufocando, com a dor esmagadora no peito.
Não consigo abrir os olhos; sinto-me fraca e sem forças. Questiono-me inconscientemente, mas
percebo que não estou totalmente apagada; talvez tenha deixado o cateter de oxigênio cair
quando adormeci. Com esforço, consigo finalmente abrir os olhos.
Ah meu Deus, será que um trem passou em cima de mim?
Assusto ao notar que estou em um carro, no estacionamento, tudo é escuro, a pouca luz
amarelada do poste atravessando o para-brisa dianteiro. Quero falar, mas estou fraca e a voz é
um silvo inaudível. Inclino o rosto no banco para olhar quem está do meu lado.
Meu Deus, o que está acontecendo?
O enfermeiro puxa a máscara revelando o rosto.
Juliano? O quê?
一 Oi, Chiara. Não se preocupe, cuidarei de você!
Cheguei ao hospital quando anoiteceu, pronto para visitar a Chiara. Durante uma semana,
estive em contato com a enfermeira Paige, apresentando uma rotina fictícia que mostrava o quão
responsável eu era, tudo para conseguir visitá-la. Não conseguia parar de pensar nela e estava
muito preocupado com sua saúde. Essa dinâmica toda foi para entender como funcionava a
rotina hospitalar e entrar sem ser percebido, e a melhor maneira foi fingir ser um paciente.
Preparei uma identidade falsa, coloquei uma máscara no rosto e simulei estar com uma gripe
forte. Uma enfermeira fez o primeiro atendimento; é claro que meus sinais vitais estavam
normais, mas consegui fingir estar com dor.
Propositalmente, derrubei um copo de água no chão para distraí-los enquanto limpavam,
e aproveitei para sair pelos corredores. Entrei na primeira sala médica que encontrei e vi um
jaleco na cadeira, então o vesti. Caminhei calmamente, peguei uma prancheta que vi em um
balcão e continuei pelos corredores. Ao cruzar com outros funcionários, mantive o celular
próximo à orelha, fingindo estar em uma ligação para evitar perguntas. Felizmente, o ambiente
era grande e movimentado o suficiente para que ninguém realmente prestasse atenção nos rostos
uns dos outros.
Estremeci quando me pediram ajuda com medicações para um senhor de idade com dor e
quase fui descoberto enquanto passava por duas enfermeiras na ala anterior. Por sorte, a Chiara
estava em uma área tranquila. Quando cheguei ao quarto dela, o médico estava saindo. Fingi
conferir os medicamentos no carrinho de emergência fixado no centro do corredor, que ficava
próximo à unidade intensiva. Os equipamentos de oxigenação na parte inferior chamaram minha
atenção.
Paige disse algo sobre sempre passarem conferindo tudo várias vezes. Abri a porta com a
mão fria, ansioso para vê-la, mas a mãe dela estava lá, foi inesperado e por sorte ela mesma
questionou se era a troca de oxigênio e apenas confirmei com a cabeça. Os minutos seguintes
foram insanos, ela estava tão frágil, totalmente vulnerável e apenas deixei um desespero louco
falar por mim. Arranquei o cateter de seu nariz, algo me dizia que era minha chance, que nunca
teria outra oportunidade como esta, pois logo Chiara ficaria boa e continuaria sob o domínio do
Ricardo e da sua família disfuncional, e eu assistiria tudo de longe, sentindo repulsa e
imaginando como seria tê-la.
O impulso me fez retornar correndo, procurando nos quartos algo que me ajudasse.
Encontrei uma cadeira de rodas de um senhor de idade que dormia e a peguei. Voltei até a
Chiara, coloquei ela sentada, desfalecida e saí pelos corredores, confuso. Peguei dois cilindros de
oxigênio, mas ouvia vozes da movimentação ao redor, como eu faria para sair? Só existia uma
maneira, fazendo todos se distraírem.
Fui até o corredor anterior e com rapidez desliguei dois aparelhos importantes de
manutenção dos pacientes da tomada e acionei o alarme. Corri afobado enquanto eles vinham
apressadamente para verificar o que havia acontecido, estava quase colapsando, não era para ter
feito aquilo, mas fiz.
Passei pelos corredores e, ao chegar perto da porta, vi o segurança. Voltei para trás e
segui até outra saída, que estava fechada. Entrei com ela em um quarto vazio; a janela dava para
o estacionamento, então a abri e pulei. Peguei-a nos braços e corri até o estacionamento, parando
mais distante no meio das árvores para não ser totalmente visto. Coloquei a Chiara no banco,
retornei para pegar o oxigênio e quando entrei no carro arranquei o jaleco afobado.
Escuto-a gemer e agora minhas mãos tremem, ela acorda, me encarando assustada, mas
está salva comigo.
CAPÍTULO 40

Coloco tudo o que preciso levar amanhã sobre a mesa. Agora, meu objetivo é entreter a
Chiara. Ela passou tempo demais de sua vida presa em algum lugar: primeiro na clínica de
reabilitação, depois no vício, em seguida nos pesadelos obscuros, sozinha, vagando pela
escuridão, e agora no quarto do hospital. Ela continua lutando, e mesmo que parte dos conflitos
que vivemos sejam resultado de escolhas passadas, Chiara entrou nessa por honra. Ela assumiu
uma culpa que não era sua e ganhou uma dor imensurável para proteger a memória de uma
amiga.
Até mesmo o vício foi uma consequência da dor que sentiu. Mesmo querendo acertar, ela
errou, e estávamos no mesmo caminho, presos na mesma sensação de rejeição, de sermos um
fardo, cada um em sua fase da vida. Mas por que não juntá-las? Poderia ajudá-la a superar, mas
errei. Fui dominado por sua presença e por tudo que ela exalava. Sua respiração em meu ouvido
era proibida, sua boca em minha pele era proibida, suas mãos macias e espertas também eram
proibidas. A única permissão que tínhamos era não errar.
Agora, olho para a tela em branco que comprei para ela pintar, um dos últimos planos
antes de perdermos o chão. Corro os dedos nas tintas escolhidas, infinitas cores, os pincéis de
cerdas macias e a tábua fina de madeira para misturá-las se assim desejar. Não quero que fique
sufocada, posso aliviar isso enchendo-a de atividades.
Os dias em meu apartamento são solitários, e estou ansioso para ver seu rosto amanhã.
Uma sensação estranha me dominou há poucas horas porque queria tocá-la, e de repente tudo
parecia sem vida, desejei voltar ao passado, para a escuridão do quarto, das nossas confissões e
palavras sujas no escuro. Estávamos nos curando e nem ao menos percebemos. Chiara bagunçou
minhas verdades, e esse tipo de bagunça é profunda, deixa uma marca na alma, chama-se amor.
Analiso o relógio de pulso; são 20h. O hospital fica tão perto que poderia suplicar ao
médico que me deixe entregar isso a ela. Pelo menos pela manhã, poderá começar o dia menos
triste. Sigo até o quarto, troco de roupa, pego o presente e saio em direção ao estacionamento no
subterrâneo.
O caminho de carro é curto, e em dez minutos estou estacionando no hospital. A recepção
está vazia, as salas amplas e os corredores silenciosos. Uma recepcionista surge após alguns
minutos conversando com um segurança.
一 Boa noite, gostaria de deixar um presente para a paciente Chiara Mandolini, é uma
entrega rápida, sou o tio dela, Ricardo.
一 Infelizmente o horário de visita encerrou.
一 Por favor, ela ainda ficará muitos dias internada, só quero que ela tenha algo para se
distrair amanhã cedo. 一 A mulher tem ternura no olhar e os ombros relaxam, puxando o
telefone.
一 Doutor, poderia dar uma passada aqui na recepção para autorizar uma visita rápida, é
o tio da paciente Chiara Mandolini, o Ricardo. 一 Ele responde algo positivo, porque ela sorri e
desliga.
一 Ele acabou de fazer a medicação da noite, só um minuto que estará aqui para falar
com você.
一 Aguardarei, muito obrigado.
Sento nas poltronas de plástico, poucos funcionários fazem o turno da noite, mas a
recepção de atendimento e emergências está sempre com pacientes, fica no lado oposto e é
possível ver pelos vidros que dividem os espaços. O médico se aproxima, e aperto sua mão
cumprimentando-o.
一 Boa noite, a Chiara está bem, acabei de dar a medicação dela, ainda está com um
pouco de dor, mas acredito que mais uma semana estará bem e recuperada.
一 Gostaria muito de vê-la, só um pouco, prometo ser rápido… 一 Elevo o braço direito
mostrando a sacola grande de tecido 一 É um presente, ela queria pintar um quadro, então
trouxe para ela se distrair.
一 Ela não pode sentir um cheiro tão forte.
一 É tinta à base de água, sem cheiro, eu juro. Será rápido. 一 O homem analisa minha
face e concorda.
一 Tudo bem, vou abrir uma exceção para você, me acompanhe. 一 Seguimos pelos
corredores até o quarto, a porta está aberta e Suzanne corre de um lado a outro desnorteada, duas
enfermeiras estão ao seu lado.
一 Doutor, onde está minha filha? 一 Berra, as mãos espalmadas no anterrosto,
tremendo.
Minha pulsação cardíaca aumenta, corro invadindo o quarto, minhas mãos tateando o
lençol mesmo com a cama vazia. Estou aflito. O soro está caído na lateral, com algumas gotas de
sangue no chão, e minhas pernas enfraquecem. Entro em desespero levando as mãos à cabeça.
Os seguranças surgem, não sei definir quantos porque tudo é borrado, e meu peito dói enquanto
algo me parte ao meio, é a sensação de perda, de pavor.
一 Ela deveria estar aqui. 一 Avisa o médico aos homens.
Suzanne me abraça, tento acalmá-la, mas ela chora desolada.
一 O que aconteceu, Suzanne? Respire, só assim poderemos encontrá-la. 一 Ela
engasga, a voz se misturando aos soluços, mas gradativamente diminui o choro e respira
calmamente.
一 O enfermeiro veio trocar o oxigênio normalmente, então fui comer algo, sempre vou
esse horário porque ela está com sono, então sei que não precisará de ajuda, mas não foi nem 10
minutos.
一 O oxigênio está vazio. 一 Afirma o médico. 一 Não foi trocado. 一 Meu corpo
gela, Chiara foi levada, não teria forças para fugir e o principal, não tem motivo para isso.
一 Ela não pode ter ido para sua casa, Ricardo? 一 Diz Suzanne, querendo se agarrar a
qualquer esperança, mas a verdade é uma só, alguém a levou.
一 Ela não tem forças para isso, Suzanne. Alguém a levou.
一 Quem… 一 berra 一 Quem levaria minha filha? Por quê? 一 As lágrimas escorrem
em seu rosto enquanto reprimo as minhas de escaparem.
Um segurança atravessa a porta se aproximando.
一 Ela não está no hospital, cada segurança do setores conferiram e estão verificando as
câmeras dos corredores.
一 Chamem a polícia, é um sequestro, a paciente não teria condições de sair tão
rapidamente e sozinha, mas principalmente, sem oxigênio. 一 Ordena o doutor Williams,
visivelmente alterado.
O olhar recai em nós, o semblante de preocupação fixado em seu rosto.
一 Existe alguém que possa fazer uma barbaridade dessas? Sua filha é tão nova, duvido
que tenha problemas a esse nível.
一 Não, Chiara nem tem muitos amigos, está na Austrália há pouco tempo. 一 Afirmo.
Juliano, é o único que está obcecado por ela e não confio naquele cara, mas não posso
acusá-lo. Irei na casa dele agora, e se estiver com a Chiara, desejará nunca ter me conhecido.
一 Suzanne, fique aqui caso ela apareça, procurarei nas ruas de carro, eu ligo para o
Rico. 一 Ela concorda sentando-se na poltrona, o choro intenso, mas não posso ficar aqui,
preciso achá-la.
As luzes borradas da rua fazem minha cabeça doer. As faixas amarelas estão distorcidas,
meu tórax expande-se implorando por ar. Uma onda de pavor e angústia fluem em meu peito. O
que ele fará comigo? Como sobreviverei? Luto contra todas as sensações ruins que dominam
cada parte do meu corpo; preciso contê-las ou morrerei. Inalo o ar, mas com o pulmão
comprometido, a absorção é quase nula. Fecho os olhos tentando novamente captar, falho. Uma
dor forte eclode.
Queria sair correndo e pedir ajuda para qualquer pessoa, porém não consigo, minhas
pernas não se movem. Quero bater no vidro para ver se alguém me escuta ou me vê, mas não
tenho forças. O carro se move em alta velocidade, mas o tempo parece parar. Tudo escurece,
uma enorme aflição pulsa em meu coração irradiando em meu estômago, que pesa. Minhas
narinas ardem, a visão retorna. Tento mover os dedos para pedir socorro, que me ajude, que não
me deixe morrer porque estou sem ar. A sensação é que estou afogando, perco o controle do
corpo, debato-me, aprisionada por uma extrema fadiga. Não compreendo mais, onde estou?
Minhas pernas formigam, os dedos entortam, um calafrio gélido dissipa-se em minha
espinha, pinicando nas pontas dos dedos. O restante de oxigênio se esvai junto à escuridão da
noite, o vento ruidoso nos vidros, e tudo se apaga, mas não de fato. A vida passa diante dos meus
olhos.
Encaro a estrada, um pouco confuso com minha própria atitude. Quando que alguém
levaria um paciente debilitado? Nunca. Repasso tudo na mente. As câmeras não pegaram meu
rosto, fiquei de máscara o tempo todo e será fácil mantê-la comigo enquanto continuo
normalmente minha vida. A enfermeira não poderá revelar nada porque não sabe mina
identidade e nem que eu entraria no hospital. Pesquisei sobre ela, é uma mãe solteira, com dois
filhos pequenos.
Chiara estava fadada a ficar presa naquela família sofrendo abuso, eu a salvei, agora ela
ficará comigo, teremos uma vida, uma família. Fico mais seis meses no banco e depois digo que
precisarei me mudar. Ninguém jamais desconfiará. Aposto que eles nem chamarão a polícia,
afinal, ela poderia revelar toda sujeira que eles guardam embaixo do tapete.
Deixarei Chiara na casa da Janete, ela tem 79 anos, foi minha babá e sempre me tratou
como um filho, por sorte acredita em mim e sempre faz tudo que peço. A chave reserva da casa
dela fica comigo, enviarei uma mensagem pedindo ajuda para uma amiga. Ela jamais descobrirá.
Tenho tudo que quero, mas faltava a Chiara, sei que ela ficará com raiva de mim, mas lentamente
conseguirei reverter isso. Estou apaixonado e não consigo imaginar ficar sem ela, mesmo que
não tenhamos uma relação, é questão de tempo até desejar ficar ao meu lado por vontade própria.
Dirijo pensativo, não posso deixar nenhuma brecha para ser pego.
As dúvidas surgem, inspiro profundamente, agi sem pensar, mas era o momento perfeito
para roubá-la. Inclino o rosto, ela não se move, está inconsciente, o que me deixa preocupado.
Paro o carro no acostamento e pego no porta-malas um cilindro de oxigênio, que estavam no
carrinho de medicação do hospital. Amanhã darei um jeito de adquirir mais. Tive acesso ao
prontuário da Chiara durante a semana que estive enganado a Paige, e anotei os nomes das
medicações.
Caminho até o passageiro e abro a porta. Chiara está totalmente desfalecida, os dedos da
mão estão tortos, o rosto pálido, a boca seca e aberta, como se estivesse suplicando por ar. Fico
preocupado. Rapidamente coloco o cateter em seu rosto, ela precisa de oxigênio. Chamo seu
nome para verificar, e um dos dedos se move, mostrando que está consciente.
一 Chiara, aguenta firme, pronto, respira. 一 Ela inala com força, os olhos reviram
aflitos e levanta com dificuldade a mão, está fraca.
Deixo-a no oxigênio, sigo até o banco do motorista novamente e continuo o trajeto.
Ela começa a se movimentar um pouco e permito que fique no oxigênio mais dez
minutos e retiro novamente, não a quero totalmente consciente. Precisa pensar que está em outra
cidade e não em uma casa que fica só a duas milhas da dela. Janete mora próximo ao bairro do
Rico, o lugar perfeito para deixá-la, nunca desconfiarão. O Ricardo partirá para cima de mim, é
esperto, mas sou bom em fingir que nada está acontecendo. Caso envolva a polícia, terei que
revidar.
Chiara debate-se novamente sem ar, o corpo magro amolece e a cabeça colide com o
vidro. Seus gemidos de súplicas me agoniam, mas preciso que ela fique sem ar, sem consciência
para não identificar nada. Coloco o tubo de oxigênio no banco de trás e piso no acelerador. Em
segundos chego até a casa, entro no estacionamento e com rapidez a levo até o quarto vazio de
hóspedes. A cama de casal está forrada, Janete sempre foi impecável com a limpeza, deito-a, por
sorte só retorna amanhã, passou uns dias na casa da irmã, o marido dela morreu há três anos e
hoje é uma senhora sozinha em uma casa imensa.
Não teve filhos, e adoro que me trate como um, porque é extremamente carinhosa. Enfio
o cateter de oxigênio no nariz da Chiara, não quero que morra ou que fique com sequelas pela
falta dele. Libero a válvula e deixo-a inalando, sento ao seu lado me aconchegando no
travesseiro. Meu objetivo não é e nunca foi machucá-la, porque ela é minha paixão. Realmente
desejo que me ame, como eu poderia maltratá-la? Não faria sentido. Tudo que quero é o amor
dela e que escolha ficar comigo. Não tive chances de mostrar minhas qualidades, para que
pudesse me conhecer de verdade. Com ela só para mim, poderei finalmente despertar seus
sentimentos. Passo a mão nos seus cabelos ruivos e macios, ela parece serena.
Olho seus lábios, estão com algumas rachaduras e tenho vontade de beijá-la. Aproximo
minha boca da dela e dou um selinho calmo e longo em seus lábios. Ela ainda está inconsciente,
arrumo o oxigênio e a deixo nele, preciso que acorde e fique bem. Confiro meu relógio de pulso,
precisarei voltar e fingir que não tenho nada a ver com isso. O que estou fazendo pode parecer
loucura, mas sou capaz de qualquer coisa para que ela fique comigo.
Cochilo com a cabeça apoiada no travesseiro. Após quase uma hora ouço uma tosse
abafada e abaixo o rosto, a Chiara está de olhos abertos. Tenta falar, a voz falha se perdendo no
ar. Seguro sua mão.
一 Oi, Chiara, cuidarei de você, não tenha medo. 一 A voz ressoa indecifrável e tento
ouvi-la.
一 Me leve de volta para o hospital, você não percebe que acabará me matando.
一 Essa nunca foi a minha intenção, eu só quero que você fique comigo!
一 Você não pode me forçar a ficar com você! 一 Os olhos ficam marejados.
一 Eu sei, irei te provar que sou o homem certo para você, e não o Ricardo. 一 Passo a
mão suavemente na maçã do seu rosto, a pele é macia, mas o olhar é triste e sofrido. 一 Não se
preocupe, uma mulher de confiança que conheço cuidará de você e logo estará boa. Esqueça tudo
que viveu, nunca mais voltará para a sua família, ao meu lado está a salvo, nunca mais o Ricardo
abusará de você.
CAPÍTULO 41

Chego à frente da casa do Juliano e percebo que a maioria das luzes estão apagadas,
exceto por uma tênue brilhando no canto inferior esquerdo, no andar térreo. Notavelmente, o
carro dele não está na garagem à esquerda da casa, onde costuma estar. As paredes brancas e as
plantas ao redor estão parcialmente iluminadas pela luz do poste, criando uma atmosfera
sombria. Enquanto me aproximo da porta, vejo o carro do Rico estacionando atrás do meu. Ele
se aproxima rapidamente, o rosto cansado e os punhos cerrados, denunciando um estado de
desespero.
一 Como minha filha desapareceu do hospital assim? Que segurança de merda é essa?
Por que estamos aqui na casa do Juliano?
一 Porque ele sabia que estávamos vivendo um romance escondido e me ameaçou,
estava louco para ficar com a Chiara.
一 O quê? Porra, eu era o único que não sabia do que acontecia na minha própria casa?
一 Do que você está falando? Só ele sabia, mais ninguém. 一 Rico franze o cenho.
一 Não, a Amy me contou uma fofoca interna que estava rolando entre os nossos
concorrentes de que vocês estariam fazendo essa barbaridade. Fiquei furioso de saber que
alguém poderia usar algo sério como uma acusação dessa para prejudicar nosso banco, por isso
fui ao seu quarto naquela noite horrorosa, para pedir sua ajuda quando fossemos lidar com as
mentiras, até eu ver que era verdade. Fora que recebi também uma mensagem de texto
reforçando a notícia, era de um número anônimo.
一 Rico, é impossível, ninguém sabia. Ele nos intimidou a terminarmos, disse que se não
me afastasse dela contaria tudo a você, foi ele que armou tudo isso. Estávamos com medo de
você descobrir da forma errada, então sim, decidi me afastar da Chiara, porém foi torturante e
nos aproximamos de novo, não conseguimos ficar separados, estávamos nos destruindo. E, no
primeiro final de semana que decidimos revelar tudo, você descobriu, e nem tivemos a chance de
explicar ou de contar como desejávamos. Provavelmente ele falou para a Amy, fingindo ser uma
fofoca, e a mensagem no celular foi para reafirmar a mentira dele, de que deveria ser um
concorrente.
一 Filho da puta! 一 Xinga.
Bato com força na porta de madeira, cego de ódio, ansioso para resgatar a Chiara e nunca
mais soltá-la dos meus braços. Ninguém aparece, chuto a porta.
一 Ricardo, você não pode invadir a casa dele.
一 Eu posso, e se ele estiver com a Chiara lá dentro? E se ele a tocar? 一 Rico muda a
expressão, a fúria surgindo em seus olhos e chutamos juntos a porta invadindo a casa.
Desde o primeiro dia o Juliano queria ficar com ela, está obcecado e determinado a nos
separar.
Entramos na sala ampla e escura, o alarme ressoa, mas ignoramos vasculhando cada
cômodo. A cada segundo minha respiração torna-se mais pesada pelo meu desespero. Não a ver,
não encontrar sinais de sua presença e nem o seu cheiro nos deixa no escuro novamente.
Reencontro o Rico no corredor e confiro o relógio de pulso.
一 Precisamos ir, a segurança chegará em menos de um minuto. Ela não está aqui.
一 Caralho, eu quero a minha filha. Precisamos encontrá-lo para salvá-la. Nem que eu
precise matá-lo para protegê-la. 一 Afirma irado.
一 Não precisaremos matá-lo, Rico, mas faremos ele ser preso, então pagará por isso
sofrendo na prisão.
一 Se ele machucar minha filha eu não ligo de assumir as consequências, ela está fraca, a
base de oxigênio, e estou muito preocupado com a vida dela. Ela deve estar com medo, aflita e
querendo ajuda.
Uma dor avassaladora toma conta de mim, sacudindo meus ossos com uma intensidade
que nunca experimentei antes. É um sofrimento sombrio que mancha meu coração, e as lágrimas
correm livremente dos meus olhos, sem controle, sem que eu consiga sequer raciocinar. Talvez
devesse sentir vergonha por chorar dessa forma, mas a angústia que estou enfrentando é
insuportável, é como se não houvesse medida para ela. A simples ideia de perdê-la para a morte
é o suficiente para fazer com que eu perca a vontade de viver a minha própria vida. Como eu
poderia suportar a ideia de ficar sem ela? Sem seu amor, seus carinhos, seu cheiro
inconfundível e o sorriso que só ela possui? É uma perspectiva impossível de conceber.
Nunca amei alguém como amo a Chiara, e farei qualquer coisa para tê-la de volta. Rico
aperta meu ombro em um gesto de conforto enquanto corremos para o carro, o trajeto até o
hospital me permite deixar transbordar toda a tristeza que me invade. O que será de mim, de
todos nós, sem notícias dela? Imagino-a sem oxigênio, sofrendo sozinha, e a angústia se
intensifica, levando-me às lágrimas ainda mais intensamente. Queria tanto protegê-la de tudo, do
mundo, da crueldade que existe nele, e chego quase a me sentir culpado. Se ao menos tivesse
resistido, se não tivesse me entregado ao amor por ela. Prefiro vê-la bem, mesmo distante de
mim, mas viva, sem dor, sem o medo que deve estar enfrentando agora.
Juliano é um lunático, e ao fechar os olhos, relembro o horror de sentir-me morrer aos
poucos, definhando como se estivesse sendo despedaçada viva. Ele insiste em ficar comigo a
todo custo, mas a vida não funciona assim, muito menos o amor. O amor é uma conquista, é
cuidado, é acolhimento; mesmo que alguém tenha defeitos, você escolhe ficar com essa pessoa
por vontade própria, não por obrigação.
Observo o ambiente ao meu redor. O quarto é luxuoso, no estilo colonial, com móveis
antigos de superfícies lustrosas, muito bem conservados. Depois de duas horas no oxigênio,
finalmente sinto meu peito mais tranquilo, as pontadas agudas cessaram.
Juliano entra no quarto, e meu corpo se enrijece a cada passo que ele dá em minha
direção. Sinto o desejo intenso de fugir, pois sua presença macabra provoca arrepios de medo
que percorrem minha espinha.
一 São 3h da manhã, até queria te dar algo para comer, mas não sei fazer nada e a Janete
só chegará por volta das 9h, mas posso te dar banho. 一 Nego com a cabeça, meu coração
acelera e não quero suas mãos no meu corpo.
Finalmente consigo falar e minha voz soa regular.
一 Nem pense em encostar suas mãos em mim!
一 Você não tem outra opção, vem!
Juliano tira a camisa e se aproxima segurando minha cintura, forço uma resposta
corporal, me debato fracamente, mas não consigo pará-lo. Ele arranca a roupa do hospital que me
cobria, em seguida minha calcinha. Os olhos faiscantes descem no meu corpo, cada centímetro
que me analisa embrulha o meu estômago.
一 Não imaginei que fosse tão linda nua. 一 Cruzo as pernas envergonhada e antes que
consiga levar as mãos aos seios para esconder, ele me pega no colo.
Quero gritar, chorar, até mesmo agredi-lo, mas a maldita fraqueza dos meus pulmões e
músculos me impede. Entramos no cômodo, onde a banheira está cheia, o ambiente é todo em
alvenaria com piso branco. Ele me coloca na água, que está quente, e solto um suspiro pesado
enquanto ele arruma o cateter. Meu corpo treme, mas não é devido ao frio; é repugnância, pois
suas mãos tocam meus seios, criando a pior sensação que já experimentei, e a angústia forma um
nó em minha garganta, pois só quero chorar.
一 Não, por favor. 一 Suplico, minha voz abafada, mas audível.
一 Chiara, só irei te tocar um pouco, eu prometo que irá gostar, não consigo evitar, te ver
assim nua mexe comigo. 一 Meneio aflita a cabeça e tento acertá-lo com os braços, mas ele
segura meus dois pulsos com uma única mão.
O aperto é tão forte e meu corpo dói tanto que não tenho forças para escapar. A água
quente de repente parece tão fria porque meu esqueleto todo está gélido de pânico. As
palpitações em meu peito doem em cada respiração, porque fico ofegante sentindo sua outra mão
escorregar em minha pele, as pontas dos dedos continuam descendo, chegam na pelve e fecho os
olhos querendo ser capaz de me transportar para qualquer outro lugar, não quero sentir o que fará
comigo porque é repulsivo, nojento e destruirá meu coração.
O pior acontece e meu corpo trava, todos os músculos se contraem em uma sensação
gélida. Sinto seus dedos me invadindo com arrogância, causando dor, é a pior sensação que já
experimentei. Ele continua, e uma luz se apaga dentro de mim devido à repulsa intensa. A
intensidade aumenta, outra luz se apaga. Ele mantém o ritmo, e sinto uma parte de mim
morrendo a cada movimento.
Tudo ao meu redor se torna cinza, e só volto a respirar quando ele para. Só então percebo
que estava chorando e tentando me debater, o que foi totalmente involuntário.
一 Você é tão quente por dentro. Será incrível nossa primeira noite, mas não se
preocupe, esperarei você melhorar, porque quero você sorrindo. 一 A mão solta meus pulsos,
perdi toda força quando tentava me livrar dele.
Minha visão está turva pelas lágrimas, e ondas de dor sobem do estômago até a cabeça,
pois sinto nojo de mim mesma, como se estivesse contaminada. Tudo por causa do que ele fez
com os dedos, e eu simplesmente não consigo suportar ser tratada assim por ele. É uma carga
pesada demais para mim. Um zumbido ressoa nos meus ouvidos, e o tempo parece congelado
enquanto ele passa a esponja de banho pelo meu corpo, forçando-me a aceitar algo que não
quero. Começo a me debater novamente, desejando poder machucá-lo, mas meus esforços são
em vão.
一 Você vai se machucar, Chiara!
Como ele ainda pode afirmar que tudo isso é para ficar comigo? Nada nas atitudes do
Juliano faz sentido, e tudo o que sei é que ele abusou de mim. Farei qualquer coisa para não
sentir seus toques novamente. Fecho os olhos, tentando bloquear as imagens, mas vejo-o sobre
mim, forçando algo enquanto destrói minha alma.
一 Esqueci a toalha, já volto.
Juliano se levanta e sai. Atordoada, balanço a cabeça, ciente de que estou completamente
devastada. Coloco as mãos espalmadas, uma de cada lado da banheira, e concentro toda a força
que tenho nelas, tentando levantar o quadril e retraindo os pés para me erguer. No entanto, meus
músculos tremem, pequenos choques de dor aguda percorrem meu corpo, e acabo caindo sentada
novamente, com a água respingando em meu rosto enquanto as lágrimas continuam a rolar.
Não quero jamais sentir aquilo de novo.
É simplesmente repulsivo.
A dor que sinto na alma é insuportável, e não posso permitir que ele me faça passar por
isso novamente.
Queria gritar, mas minha voz parece ter sumido, e como conseguirei sair dessa situação?
Parece impossível escapar. Minha mente deflagra e suplico. Não, não, não. Queridos bebês, me
perdoem. Esperaremos pelo papai do outro lado. Por favor, Deus, perdoe-me por considerar
isso, mas não consigo imaginar viver com essa dor se algo assim acontecer.
A tensão muscular aprisiona meus sentidos. Lembro-me de casa, dos meus pais, do vovô,
da Caroline, do Bryan e dele, o único homem que desejava ter me tocado. Agora, como poderei
voltar para ele? Manchada? Suja? Com uma vontade insana de arrancar parte do meu corpo para
não lembrar? Não voltarei. Juliano nunca me deixará sair, e serei obrigada a suportar seus abusos
todas as noites.
Uma pontada atinge meu coração. Arranco o cateter do meu rosto e deixo meu torso
escorregar na porcelana, a água se aproximando a cada segundo, até cobrir meu nariz. Relaxo o
corpo, afundando. Sem forças para reagir, o ar foge, o teto dança ao ritmo da água. Vai doer um
pouco, mas depois passará. Minhas narinas são invadidas, tento respirar sem controle, arde, meus
pulmões se enchem de água. Ruídos ecoam na minha cabeça, pernas e braços agitam-se
involuntariamente, sufoco com a dor. Fico dormente, uma enorme tristeza me invade. Consigo
ver uma porta diferente se abrindo, do outro lado está escuro, vazio, mas nada pode me tocar lá.
Nunca mais.
Revivo memórias que nunca imaginei conhecer: meu desenvolvimento fetal na barriga de
minha mãe, sua voz através das camadas de músculo, risadas, o nascimento, o primeiro lápis de
cor que segurei, o primeiro dia na escola, a adolescência. As luzes da minha primeira festa, os
sorrisos dos meus amigos, o uso de drogas, os gritos na reabilitação, o Ricardo, nossos beijos.
Sinto uma paz indescritível, nunca antes experimentada. A porta se fecha, me vejo através de
uma janela, na banheira, fria, sozinha, como em um filme da minha própria existência. Perco os
sentidos, o mundo desaparece, sou apenas um grão de poeira cósmica em um universo infinito.
Não estou mais em lugar nenhum, pois parece que não existo mais.
CAPÍTULO 42

Os raios de sol se infiltram pelos vitrais da janela da delegacia. Passamos a noite


vasculhando as ruas da cidade e revisando as câmeras em busca de pistas, mas continuamos sem
respostas. Ouvimos a mesma coisa repetidas vezes: "Eles estão perto" e "Vão encontrá-la".
Tento ligar para o celular do Juliano, mas só dá desligado. Imagino que ele tenha levado a
Chiara para outra cidade. Meu corpo todo dói, e nada alivia o que estou sentindo. Cubro o rosto
com as mãos, procurando outras alternativas em minha mente.
一 Rico, precisamos achá-la. E agora? 一 Ele gesticula com a mão me chamando para
sair do prédio.
Piso no estacionamento, uma golfada fria me atinge, e penso nela, pequenos fragmentos
de momentos que dividimos me invadem, não existe um segundo que não esteja com seu rosto
em minha mente. Pego o celular passando os contatos, bufo, preciso salvá-la.
一 Você sabe que só existe um jeito de a acharmos tão rápido. 一 Frisa Rico.
一 É, faremos desse jeito mesmo. 一 Disco o número do Will Turner, ele é um amigo
militar, General do Exército Americano, o único dentre os quatro amigos inseparáveis que
permaneceu lá.
Ele não ajudou Blake Lodge a desaparecer; permaneceu em seu cargo enquanto meu
irmão e eu desertamos e viemos para a Austrália. Blake se tornou um negociante de armas e hoje
comanda o armamento ilegal em toda a América. Mesmo estando nos Estados Unidos, Will será
mais rápido do que qualquer polícia local em descobrir onde está a Chiara. Ele atende.
一 Ricardo, há quanto tempo não falo com você, como vai?
一 Oi, meu amigo, estou bem, porém preciso de um favor.
一 Claro, do que você precisa?
一 Preciso encontrar a Chiara, a filha do Rico. Ela foi sequestrada do hospital ontem à
noite e não temos nenhuma pista, sei que você é a única pessoa capaz de me ajudar agora, confio
em você e no seu trabalho.
一 Estou realmente interessado em conhecer a Austrália. Por favor, enviem-me os dados
dela: quando e onde foi vista pela última vez, e se há algum suspeito identificado. Esta missão
até agora será particular; no entanto, terei que entregá-lo às autoridades locais quando chegar.
Podem deixar o resto comigo; farei o possível para encontrá-la. Estarei aí em poucas horas,
pegarei um jato particular.
一 Faça o que tiver que fazer, desde que a encontre em menos de 48 horas. Quem a
pegou não quer matá-la, mas Chiara está debilitada por conta de um acidente doméstico.
一 Encontrarei ela até a madrugada, fique tranquilo.
Sentei-me à minha mesa no escritório; a madrugada foi longa e estou atrasado, com a
cabeça girando. Chiara quase morreu, e ao vê-la naquela banheira submersa, com a pele gelada e
o semblante pacífico, por alguns segundos pensei que ela tivesse partido, quase gritei. Puxei a
água com força do seu nariz e fiz respiração boca-a-boca para tentar trazê-la de volta. Os
batimentos estavam fracos e, quando sai para trabalhar, ela estava sob a cama, desacordada, mas
respirando com a ajuda do oxigênio. Deveria ter esperado mais antes de tirá-la do hospital, mas
agi por impulso e seguirei firme com meus planos.
Ao chegar em casa, encontrei a segurança lá; a porta havia sido arrombada e não tenho
dúvidas de que foi o Ricardo. Precisarei ser frio e decisivo ao lidar com ele. Agora a Chiara é
minha, e no final ela entenderá o que fiz e ainda limpará minha barra. E se ela não quiser ficar
comigo, se arrependerá porque não posso devolvê-la, não tem retorno.
A porta se abre batendo bruscamente na parede; é ele. As sobrancelhas curvadas, os
lábios pressionados um contra o outro ferozmente, e os olhos esbugalhados, expelindo fogo. Ele
se aproxima e me acerta com vários golpes até me derrubar da cadeira. Meu maxilar dói, a força
da agressão produz pontadas, o sangue escorre em meu rosto, e eu o empurro tentando escapar de
seu ataque.
一 Você perdeu o juízo, Ricardo? O que é isso?
一 Onde está a Chiara? Só vou te perguntar uma vez antes de socar essa sua cara de
novo. 一 Forço as pernas contra o chão e jogo meu corpo no dele, escapando da sua mira
certeira.
Levanto rapidamente e arrumo a cadeira caída. Rico entra pela porta com cara de poucos
amigos e o indicador levantado para o meu rosto.
一 Juliano, se você não falar onde está minha filha, acabo com você. Não estou
brincando!
一 Eu não sei da sua filha. Deve ter sido vocês que entraram na minha casa sem
permissão? Prestarei uma queixa por invasão de propriedade.
一 Faça o que você quiser, pode denunciar à vontade. 一 Rebate Ricardo.
一 Eu juro, a Chiara não está comigo, o que aconteceu? Ela não está no hospital? Como
isso é possível? 一 Os dois recuam me analisando, minhas palavras não convenceram, nem a
surpresa que fingi expressar no meu rosto.
一 E você acha que acreditaremos em você?
一 Podem não acreditar, mas como podem ver, ela não está comigo.
一 Veremos se a polícia não encontrará ela com você.
一 Acham que tenho medo? Ricardo, você pode falar com a polícia à vontade, eles não
encontrarão nada. Não tenho nenhuma relação com o sumiço dela.
Eleonora entra na sala assustada.
一 O que está acontecendo aqui? Lá de fora podemos ouvir uma grande confusão!
一 Não é nada, Eleonora, apenas o Rico e o Ricardo me acusando de algo sem
fundamento. O Ricardo estava comendo a própria sobrinha e acha ruim as pessoas descobrirem.
一 O Ricardo o quê? 一 Rico sem hesitar avança sobre mim, a mão direita colide
violentamente no meu olho esquerdo.
Perco o equilíbrio, a dor faz meus olhos lacrimejarem. Sopro um grunhido.
一 Olha o que você fala da minha filha, melhor ter cuidado. 一 Levo os dedos ao local
tentando amenizar a sensação desconfortável.
一 Meu Deus, acalmem-se, por favor. 一 Ela suplica.
Eu estava do outro lado, a porta se fechou, e através da janela me vi, mas agora vejo um
teto entalhado em madeira nobre, e este não parece ser o paraíso. Definitivamente não é. Mexo
meu corpo; é agonizante, como se cada músculo estivesse sendo perfurado, pior do que antes.
Certamente não fiquei tempo suficiente debaixo d'água para ficar do outro lado para sempre.
Ergo a mão com dificuldade e me sento na cama. Pelo menos o ar está em meus pulmões, mesmo
que dolorido. Deveria lamentar não ter partido? Não sei, nunca quis, mas ao lembrar daquela
sensação no banho, ontem, estremeço.
Assim que me sentir melhor, fugirei deste lugar e irei à polícia para que ele pague por me
ter sequestrado. Espero que essa mulher me ajude a escapar deste inferno. Não posso continuar
aqui. Ele é doente, um louco obsessivo, e ainda chama isso de paixão; isso é loucura.
A porta se abre, meu coração acelera, mas é a mulher desconhecida. Parece ser bem
idosa, de estatura encolhida, com linhas expressivas na pele e olhos cansados, mas uma
fisionomia amável.
一 Bom dia, eu sou a Janete… 一 Aproxima-se segurando algumas caixas e um copo de
água. 一 Finalmente acordou, meu menino disse que sofreu um acidente e ficarei muito feliz em
te ajudar, trouxe os medicamentos que ele pediu. 一 Confiro em sua mão, todas as caixas
lacradas e sinto alívio, poderei tomar sem medo. 一 Ele disse que você está delirando, mas fiz
trabalhos voluntários em hospitais, isso é passageiro.
Filho da puta manipulador, delirando? Tudo para que ela não acredite em nada do que
eu disser. Fico em silêncio, preciso poupar minhas forças para melhorar e finalmente fugir desse
lugar.
Janete abre as medicações, confere o papel escrito e os retira da cartela me entregando.
Aceito, enfio na boca e depois tomo a água, minha boca estava seca e engulo tudo afobada.
一 Farei uma sopa para você. 一 Ela sorri docemente e imagino que o Juliano deva
enganá-la completamente com sua pose de bom moço.
Ela senta brevemente ao meu lado, passa as mãos nos meus cabelos, admirando-os
encantada.
一 Aposto que o meu filho é apaixonado por você. Você é linda e o olhar dele não me
engana. 一 Dou um sorriso, tentando começar uma conversa calma, quero que ela acredite em
mim.
一 Você é a mãe do Juliano?
一 Não, eu fui a babá dele, e acabamos criando um vínculo muito grande, o considero
como um filho. 一 Meu peito aperta, flashes de sua mão me tocando, do momento em que me
assistia sufocar no carro e não fazia nada.
一 Ele é um monstro.
一 O quê?
一 Quero ir embora dessa casa, por favor me ajude.
一 Pobre menina, está delirando mesmo. Já retorno, farei uma sopa deliciosa rapidinho.
Descanse, minha doce menina. 一 Minha cabeça desmancha no travesseiro e fecho os olhos
triste.
Sou uma completa estranha e ainda doente, óbvio que ela não acreditaria em mim, ainda
mais pensando que estou mentalmente comprometida. Será que o Ricardo está com saudades e
preocupado comigo? Meus pais devem estar desesperados, e sei que não desistirão de me
procurar.
CAPÍTULO 43

Chego à minha base e vou atrás de um favor que me devem. Entro em contato com o
grupo de inteligência militar e peço à Dote para rastrear o telefone de Juliano, o principal
suspeito do sequestro da Chiara. Meus dias são ocupados aqui, supervisionando as tropas,
patrulhas e monitorando as fronteiras. O "Clube do Whisky" se dissolveu quando Blake Lodge
desertou, levando Rico e Ricardo Mandolini consigo. Ele se tornou o maior mafioso da região,
um negociante de armas imbatível, conforme planejou; hoje em dia, está acima do sistema,
enquanto os outros dois foram para a Austrália e levam uma vida "normal" longe daqui.
Uma das minhas soldadas, Janaina, é muito prestativa e tem se dedicado além das
missões oficiais. Os elementos se misturam, tornando praticamente impossível não usar um favor
ou outro em prol de algo “pessoal”.
一 Preciso disso agora, pegarei um voo para a Austrália em cinco minutos e quero
chegar lá com o alvo na mira. 一 Aviso à Dote.
一 Sim, senhor. Usarei os satélites espiões.
Fixo a atenção no notebook da Janaina, conferindo todas as imagens do veículo do
Juliano, em determinado ponto não há captura, o carro não esteve visível e tornou a aparecer
várias horas depois. Saiu do radar das câmeras em um local próximo à casa do Rico. Verifico as
ruas no ângulo suspeito , o tipo de construção e as pessoas que residem naquela parte da cidade.
Em sua maioria, são famílias de alta renda.
一 Janaina, procura quem são os proprietários da West Park Village.
一 Sim, senhor. A Inteligência acabou de mandar o rastreio do celular e também os
dados com o último local que o carro foi visto. Temos um raio em torno de 20 km.
一 Puta que pariu! Muito terreno para varredura. Precisamos diminuir essa área de
cobertura.
一 Sim, senhor.
一 Espera! Para quem foi as mensagens enviadas na madrugada? Rastreie o dono desse
número. 一 Ela digita rapidamente, entrando em programas de dados.
一 Janete Calderón, 79 anos.
一 Por que ele mandaria mensagem para uma idosa nesse horário?
一 Pelo que consta aqui, ela foi babá dele quando criança, está no registro profissional.
一 Ele precisava de alguém confiável. 一 Uma luz pisca em minha mente, esse cara é
um amador, está agindo por impulso. 一 Rastreie o telefone dela.
一 Montana Hill. 一 Analiso no mapa e solto um sorriso de canto.
一 Foi fácil, peguei você, filho da puta! 一 Gesticulo batendo continência.
一 Missão pessoal, Donavan no comando!
一 Sim, senhor. 一 Todos confirmam.
一 Senhor… 一 chama Janaina. 一 Posso acompanhá-lo?
一 E se eu dissesse que não? Estou indo como Will Turner, não o seu superior. 一 O
rosto dela enrubesce e confirma com um balançar de cabeça.
一 Quero acompanhá-lo como a Janaina Smith, e amiga pessoal.
一 Está querendo passar mais tempo comigo, soldada?
一 Talvez, Senhor. 一 Sorrimos.
Claramente, existe uma tempestade de fúria pairando sobre mim, obscurecendo qualquer
raciocínio. Embora Will provavelmente encontre Chiara rapidamente, cada segundo longe dela é
como uma punhalada no meu coração. Sinto-me dilacerado por dentro. Juliano nega
veementemente seu envolvimento, como era de se esperar, mas seus olhos traem a verdade
sombria: Chiara está sob seu controle. Nós não somos ingênuos nem negligentes; nossos anos
como militares nos moldaram e podemos facilmente discernir a mediocridade, pois ela deixa um
rastro de falhas evidente.
O que ele pensava? Que ficaríamos inertes? Que trataríamos o sequestro de Chiara com
desprezo? Por quê?
Eleonora nos instou à calma, Juliano revelou nosso segredo intencionalmente, incitando
indignação para justificar suas ações. Amy aparece atrás dela, apática.
一 A polícia está aqui, Juliano, quer conversar com você.
一 Pode deixá-los entrar, não tenho nada a esconder, quero que vocês dois estejam
conscientes disso. 一 Afirma arrogante.
A polícia entra na sala, sinto meu celular vibrar na calça e puxo-o, identificando uma
mensagem do Will: “Estarei aí em poucas horas”. Agradeço, voltando minha atenção aos
policiais que se apresentaram e iniciaram os questionamentos.
一 Não sei onde ela está! 一 Ele afirma.
一 Onde você estava ontem à noite, senhor Juliano?
一 Estava em casa a maior parte da noite, só sai para comprar um lanche e antes que
pudesse chegar ao local a segurança me avisou que a casa havia sido arrombada. Foram os dois
que entraram sem permissão.
一 Pode provar? Lá tem câmeras?
一 Não, não tem. Vocês possuem alguma prova contra mim?
一 Não, senhor Cárron, estamos apenas tirando dúvidas.
一 Não tenho mais nada para falar, e é como disse ao Rico e ao Ricardo, não tenho nada
a ver com o sumiço da Chiara.
一 Tudo bem, continuaremos investigando, mas saiba que estamos de olho em você.
Ficamos sabendo que já chegou a intimidá-la.
一 Porque é nojento e também crime um tio ficar com a sobrinha.
一 É uma acusação séria, o senhor possui provas disso? 一 Ele nega 一 Não pode
intimidar as pessoas.
一 Mais alguma coisa, policial?
一 Não, mas recomendo não sair da cidade até terminarmos a investigação.
一 Claro, sem problemas. 一 Minha vontade é de agredi-lo incansavelmente.
Estou com raiva, não consegui dormir e nem pensar direito em nada, porque o tempo
todo vem na imaginação o que a Chiara pode estar passando. Com a chegada do Will, sinto
esperança de encontrá-la.
Desço do jato particular, já é noite, o nevoeiro atinge nossas faces, o inverno está
começando por aqui e puxo o sobretudo do braço, vestindo-o no corpo. Janaina confere no
celular a localização da possível casa e encontramos o carro que alugamos na saída do
aeroporto.
一 Boa noite, senhor, aqui estão as chaves e autorização para dirigir. 一 O homem da
empresa estica a mão e me entrega a chave.
一 Obrigado, devolverei em algumas horas. 一 Entramos no veículo e inicio o trajeto.
Janaina inclina o celular mostrando a casa da Janete. Percorro os olhos no horário antes
de ver, são 22h.
一 Bem antiga. 一 Desço os olhos para a imagem.
一 Amo casas assim, tudo em madeira nobre, construção colonial, é linda.
Confiro novamente, não me atentei a tantos detalhes, possui dois andares, pelo ângulo
aparenta ocupar uma grande área e realmente tem seu charme. Franzo o nariz e ela sorri.
一 Parece mal-assombrada.
一 É linda, e de uma senhora de 79 anos, mas eu não ligaria de ter uma casa assim.
一 Só de imóveis velhos que você gosta, ou de homem velhos também? 一 Janaina
acerta um tapa no meu braço, gargalhando.
一 Está dando em cima de mim?
一 Sou seu superior, jamais.
一 Aqui, em uma missão particular, você não é nada meu, somos iguais.
Engulo em seco, ela estaria dando em cima de mim também? Talvez.
一 Envie agora uma mensagem para o Ricardo com o endereço. — Peço.
一 Rastreei as câmeras das ruas próximas e o carro dele foi nessa direção, como
esperado, pegaremos ele em flagrante. — Avisa.
一 Lembre-se, quando confirmar, você chama a polícia entendeu?
一 Sim, senhor.
Foco à atenção na rota marcada no meu celular e alguns minutos depois estamos entrando
na rua indicada. Estaciono distante, a entrada da casa é limpa, sem nada ao redor, exceto por um
pequeno jardim na lateral com as flores topando nas persianas brancas das janelas. As luzes estão
acesas e sigo até a porta traseira, puxando minha bolsa para pegar minha arma.
Minha cabeça lateja, e as palmas das minhas mãos ardem a cada movimento. Estou aqui,
definhando, e meus pulmões parecem pesar mais que uma tonelada, cada respiração rasgando
minha carne com dor intensa. As costelas quebradas causam pontadas no abdômen. Juliano
aperta minha mandíbula entre os dedos, a raiva em seus olhos quase perfurando minha alma.
一 Eu só quero ficar sozinha. 一 Murmuro.
一 Preciso que você melhore, que coma a merda dessa sopa. 一 Rebate me soltando,
levanta, larga a tigela na cômoda lateral, e em seguida caminha até a janela, está sempre assim,
conferindo a rua, e isso me deixa feliz porque eles devem estar atrás de mim.
一 Merda, puta que pariu. 一 Xinga, escondendo-se atrás da cortina.
一 O que foi? 一 Balbucio.
一 Precisamos fugir agora, um homem está do lado de fora analisando a casa. 一
Desesperado corre, saindo do quarto.
O som dos passos ressoa forte no chão, tornando-se gradualmente mais distante. Após
alguns minutos, um ruído e o som de líquido derramado ecoam de algum lugar indistinto. Janete
entra às pressas, trazendo nas mãos uma blusa de moletom rosa por causa do frio, e me ajuda a
vestir.
一 O que o meu menino fez? Ele está apavorado lá embaixo, jogando gasolina em tudo.
一 Gasolina, por quê? 一 Os olhos dela se enchem de lágrimas.
一 Minha casa, tantos anos morando aqui, mas é apenas um monte de madeira, certo?
Sua vida vale mais, não se preocupe, esse homem mal que quer te matar não colocará as mãos
em você. Juliano te protegerá.
一 Não existe homem querendo me matar, o homem mau na minha vida é o Juliano. 一
A porta bate e ele entra no quarto ofegante.
一 Janete, corre, saia pelos fundos e vá direto para a casa da sua irmã, entendeu?
Amanhã depositarei o dinheiro para comprar uma casa nova. 一 A expressão dela é tão triste
que parte meu coração.
Ela realmente acredita que ele é um exemplo de homem bom e carinhoso.
一 Tudo bem, não deixe de me avisar quando levá-la para outro lugar.
一 Claro. Vai, rápido. 一 Uma lágrima escorre em seu rosto, mas faz o que ele manda e
desaparece.
Juliano corre atrás dela, e eu tento forçar meu corpo a reagir, mas não consigo me
levantar. Ele volta, indo até a janela mais uma vez, e nervosamente leva as mãos à cabeça. As
caretas que aparecem em seu rosto mostram o quão perdido ele está. Parece ser o fim da linha
para ele.
一 Por que colocar fogo na casa?
一 Tem câmeras e não tenho tempo para apagar as imagens, eles terão provas contra
mim.
一 Você será preso, agora eles já sabem que estou com você. Não dá para fugir comigo,
estou doente, mal consigo me mexer após a banheira, em algum momento precisará me levar ao
hospital.
一 Cale a boca. 一 Berra 一 Eu só queria te salvar, te mostrar que sou o homem certo
para você. Precisa dizer a eles que veio por vontade própria, que o Ricardo abusava de você.
Inspiro profundamente.
一 Ricardo nunca abusou de mim, eu o amo, quis ficar com ele, você sim abusou de mim
me tocando sem permissão.
一 Está mentindo, sua família acoberta os abusos, seu pai descobriu e não fez nada. Você
queria que eu te tocasse, só está confusa.
一 Não estou confusa, Juliano, eu estava trancada no quarto como castigo, meu pai não
aceita a minha relação com o meu tio, por isso me machuquei, queria fugir para ficar com o
Ricardo. 一 Ele nega enfaticamente meneando a cabeça.
一 Isso é nojento.
一 Você pode ter me sequestrado e agora estou debilitada, mas assim que me recuperar,
não desistirei de fugir ou de te matar. 一 Engasgo, respiro com calma e continuo 一 Nunca
ficarei com você por livre e espontânea vontade, porque meu coração é do Ricardo. Se você me
deixar ir embora, não direi a ninguém que foi você quem fez isso; posso inventar outra história, e
ninguém saberá que foi você que me levou.
一 Acha que sou tão idiota? Chega de papo. 一 Sinto um cheiro de queimado, uma
fumaça densa começa a adentrar o cômodo.
一 Morreremos aqui dentro. Você ficou louco?
一 Coloquei em todo andar de baixo e na porta principal, eles não poderão entrar aqui.
一 Você é doente, o que está fazendo é loucura. Eu nunca sentirei nada por você. 一 Ele
avança sobre mim, a fisionomia apavorada transfigura-se em macabra, as pupilas crescem
enquanto o desejo que tinha vira ódio.
A mandíbula contrai, o osso malar marcando o anterrosto e as mãos grandes se apoderam
de mim. Uma gruda em meus cabelos puxando os fios violentamente, meus olhos lacrimejam e a
outra estapeia a bochecha esquerda.
一 Você não será minha, mas também não será de mais ninguém. 一 A voz sombria
petrifica meu corpo e um medo que nunca senti faz meus músculos tremerem.
Um ar gelado atinge meu estômago enquanto ele me tortura, aplicando mais força em seu
toque.
一 Prefiro te ver queimar junto com a casa do que livre e feliz enquanto passo meus dias
preso. Roubei você para te salvar, mas não passa de uma vagabunda, que quando estiver
dormindo comigo, pensará no tio. Sairei livre daqui... — Furioso, arranca o cateter do meu nariz
e joga longe. — Atravessarei aquela porta e fingirei que nunca soube de você enquanto as
chamas consomem sua carne até virar cinzas. Nunca saberão que esteve aqui porque será apenas
pó em meio à madeira e sem corpo, não tem condenação, você será esquecida, seu tio dormirá
todas as noites com outra mulher porque você não existirá mais. — As lágrimas escorrem de
mim, uma angústia formando um laço ao redor do meu pescoço levando todo meu oxigênio
embora porque as suas palavras doem.
一 Não, por favor… 一 Com grosseria, Juliano beija minha boca e depois me solta na
cama.
Meu coração acelera quando ele se levanta saindo do quarto. Forço meu corpo a reagir,
viro de lado e jogo as pernas, sentando-me fracamente. A fumaça preta dificulta ainda mais a
minha respiração, já que agora estou sem oxigênio.
Eu só preciso chegar no andar de baixo e sair pela porta.
Juliano entra com um galão na mão, que contém apenas um resto de gasolina, e não
consigo conter as lágrimas que surgem. Nunca imaginei que morreria dessa forma, sozinha,
queimada viva. Ele espalha a gasolina nas cortinas, nos cantos, nos móveis de madeira, e pega o
fósforo, mantendo seu olhar fixo no meu; não há nada neles, nunca houve, ele parece destituído
de alma.
一 Adeus, Chiara. 一 Ele acende, uma onda de pavor me faz torcer e gritar, não tenho
voz, mas grito, não quero morrer assim.
O fósforo cai no chão e as chamas se espalham rapidamente por todos os lados,
consumindo as cortinas, os móveis. Sem controle, começo a tossir enquanto a quentura ao redor
me enfraquece; o pico de adrenalina não é capaz de me dar as forças que preciso. Vejo-o como
um vulto desaparecendo por trás das chamas. Fecho os olhos, a fumaça sufocando meu âmago,
como se um plástico cobrisse meu rosto e impedisse minha respiração. Estou condenada e sou
transportada para uma memória enquanto meu corpo despenca na cama. Talvez nem sinta as
chamas me consumirem, pois morrerei antes, asfixiada pela fumaça densa.
A madeira estala, o calor torna-se insuportável, gotas de suor escorrem em minhas
têmporas enquanto revivo momentos com Ricardo. Nós dois dançando perto do lago, presos na
conexão avassaladora. Foi mágico e agora, na nova memória que crio, nos beijamos, sua boca
devorando a minha enquanto a imagem lentamente se desvanece. No fim, estou novamente
sozinha no escuro, mas por um tempo significativo, suficiente para que sua presença seja
inesquecível. Levo minha mão direita à barriga; não, não estou mais sozinha, pois terei meus
bebês comigo do outro lado. Só queria ver seu rosto novamente, mas tudo se apaga.
CAPÍTULO 44

Desço do carro, minha visão turva pelo nevoeiro cinza que cobre toda a rua. Identifico ao
longe a casa, com as chamas se espalhando por todos os lados, até mesmo nas janelas; os vidros
estouram um após o outro devido ao calor extremo. Corro em direção às sombras paradas
próximas à entrada principal, enquanto Rico vem logo atrás de mim. Ao chegar perto, vejo
Juliano no chão, imobilizado por Will. Janaina está parada com uma senhora ao seu lado. As
luzes azuis e vermelhas da polícia cortam a cortina de fumaça, parando ao nosso lado. Procuro-a
entre a grama, com o coração apertado.
一 Cadê ela? Onde está a Chiara?
一 Não estou com a Chiara, já disse. 一 Ele grita, a voz abafada pelo rosto grudado ao
chão.
一 Ele disse que não está com ela, Ric. 一 diz Will 一 Ele tentou fugir pelos fundos,
mas consegui pegá-lo e o trouxe para cá.
一 Verificaram a casa? 一 Pergunta Rico.
一 É impossível entrar; todas as portas e janelas do andar de baixo estão consumidas
pelo fogo. Se tentarmos entrar, talvez nunca consigamos sair. 一 Avisa Janaina.
Fecho os olhos enquanto os policiais se aproximam e começam a questionar, mas não
consigo me concentrar em nada além das chamas crepitando. Quase posso jurar que a voz da
Chiara está ressoando nelas, chamando por mim.
一 Ela está lá dentro. Eu sinto! 一 O policial segura meu braço.
一 Ninguém entra, a casa está instável, comprometida.
一 Não há ninguém na casa. 一 Juliano torna a gritar.
Meu coração diz o contrário; um tremor começa nas pernas e um calafrio diferente
percorre minhas entranhas porque nossa conexão está gritando, dizendo que eu só preciso entrar.
一 Eu vou entrar. 一 Garanto, Rico muda a expressão, está amedrontado, ele deve saber
tanto quanto eu que ela pode estar lá.
Arranco a camisa, e puxo os tênis dos meus pés.
一 Não deixaremos o senhor passar. 一 Afirma o policial e furioso acerto um soco em
seu rosto.
Rico grita enquanto me aproximo da porta. As chamas altas, quentes e intensas, mas ela
está me chamando, eu posso ouvir, quase como um sussurro.
一 Ricardo… 一 Interrompo-o.
一 Eu sei que ela está lá dentro; posso ouvi-la, e não a deixarei sozinha nunca mais, não
nesta vida nem em qualquer outra. . 一 Atravesso as chamas, o fogo se desmancha em minha
pele, fazendo farfalhar os pelos do meu corpo que derretem.
Grito com a sensação de queimação, cada passo é como brasa viva, queimando as solas
dos meus pés, enquanto bato as mãos na calça para apagar o fogo que tenta queimar o tecido.
Corro o olhar pela casa imensa, toda ela envolta em chamas, construída com madeira nobre. A
escadaria de carvalho envernizado está em chamas, inclusive os corrimões entalhados e os
degraus. Subo, sentindo meu corpo borbulhar pelo calor intenso e a fumaça densa. As fuligens
pintam o marrom das paredes e aderem ao meu corpo.
O corredor está repleto de labaredas e uma das portas está quase derretendo, potente em
chamas; é lá que avanço, cruzando a porta em chamas. Meus cabelos são atingidos pelo fogo e,
ao escapar das chamas, chacoalho a cabeça para tentar contê-los. Levanto o rosto e a vejo,
deitada na cama, inconsciente, com as chamas subindo pelos lençóis, tão perto de seu corpo que
não calculo, apenas pulo sobre ela, puxando-a do colchão e colocando seu corpo em meus
braços.
一 Não, não, não… você não pode me deixar, estou aqui meu amor, eu cheguei para te
levar para casa. 一 Abraço-a com toda a força que tenho e preciso tirá-la daqui, longe da
fumaça que deve estar matando-a pouco a pouco.
Cruzo a porta novamente sobre as chamas, com tanta rapidez que passamos ilesos.
Algumas gotas de suor escorrem em minha testa; a aura ao redor é intensamente quente, meu
corpo se endurece, pois preciso salvá-la. Sobressalto e corro pelo chão quente como lava, a
fumaça encarcerando os cômodos. As madeiras emitem ruídos semelhantes a gritos,
reverberando por entre as cinzas, alto, estridente e assustador. Salto algumas vigas semi-caídas e
atravesso as chamas vívidas. A escadaria parece mais extensa que o normal, minhas pernas doem
a cada passo áspero, as pequenas brasas machucando ao tocar a sola dos meus pés, quase
cedendo nas pernas, mas continuo, por ela, por mim, pelo nosso amor.
A porta principal está logo ali; só preciso atravessar a chama intensa. Fecho os olhos e
inspiro com tanta força que quase me sinto parte dela ao atravessá-la. Saio no jardim, a grama
levemente molhada pelo orvalho ameniza a ardência. Um suspiro escapa dos meus lábios, e o
fogo vivo brilha intensamente, tornando a noite clara. Meus pulmões ardem, e vejo a
ambulância; por sorte, Rico acreditou tanto quanto eu. Os enfermeiros se aproximam, e não
quero soltá-la, porque não quero perdê-la.
一 Filha… a meu Deus. 一 Rico grita apavorado.
Ele me abraça enquanto meus joelhos cedem, e caio ao chão; todo meu corpo está
dolorido, mas ele me ajuda a levantar.
一 Ela ficará bem. 一 Afirmo, soltando as palavras ao vento.
一 Você está preso, Juliano Cárron, por sequestro. 一 Will o levanta do chão e o
entrega aos policiais, enquanto a senhora ao lado de Janaina chora.
一 Jamais imaginei que meu menino fosse capaz de algo assim. 一 O policial a leva
como testemunha.
Aproximo-me da Chiara e observo seu corpo magro, coberto de fuligem que mancha sua
roupa até chegar ao seu rosto. Uma mescla de tinta preta brilha em sua testa suada, os poros da
pele evidentes, clamando por oxigênio. Seus lábios estão secos, o tórax suplicante, expandindo-
se violentamente; meu coração aperta, desejando poder dar meus pulmões a ela. Desde o início,
Chiara trava uma luta com a vida, desde que escapou daquele acidente. Ainda me recordo
quando ela escreveu naquele papel: "Ela está me chamando, dizendo que deveria estar
morta".
Essas palavras sempre tiveram peso, porque ela nunca quis partir; ela quer mais vida. No
entanto, sempre foi tão bonita para ser real. Lembro-me daquela manhã em que suspirei ao vê-la
tomar café no jardim, usando aquele vestido branco curto, colado ao corpo com desenhos de
corações vermelhos. É intensa a maneira como se eternizou em minha mente, os raios de sol em
sua pele sardenta, nos cabelos vermelhos cereja. Na verdade, Chiara sempre teve um olhar
distante, uma presença de saudade.
Quando ficou naquele hospital e agora aqui, continua lutando. Só quero mais um pedaço
dela, um sorriso, um cheiro, um beijo. Ela ainda tem seus sonhos, e eu ainda preciso descobrir
todos que pensa viver, mesmo que em seu olhar sempre encontre saudade. Ela ama a vida, mas
está sendo obrigada a quase se despedir, e não posso perdê-la.
Ela continua criando memórias, até aqui, segurando seus dedos quentes enquanto as luzes
vermelhas da ambulância dançam em seu corpo, continua deixando um pouco mais de si no meu
coração. Eles acoplam a máscara de oxigênio. Minha cerejinha, eu só preciso que lute um pouco
mais.
Chiara é como uma brisa forte que bagunça o cabelo, aparecendo com seu sorriso
irreverente, e quando sai, sempre deixa no ar seu perfume doce e, ao mesmo tempo, picante, que
deflagra meus sentimentos. Eu preciso dela, e não deveríamos precisar de alguém assim, mas
nenhum momento é suficiente... não há como explicar. Os paramédicos a colocam sobre a maca,
e aproximo meu rosto do seu.
一 O amanhã chegará e você ainda precisa estar aqui. 一 Sussurro contra seu ouvido.
Rico beija a testa dela e rapidamente a levam para o hospital. Por dentro, estou quebrado,
assustado, mas preciso me agarrar ao fio de esperança que permanece firme em meu coração.
Abraço Will, que retribui.
一 Ela ficará bem, você a salvou. Entrou nas chamas sem se importar em morrer com
ela, se fosse preciso. A alma dela precisa da sua.
一 Eu a amo.
一 Eu sei, Rico me contou antes de chegar na cidade, ele irá aceitar, no fundo ele te ama
e sabe que você cuidará bem dela.
一 Obrigado, Will, estou te devendo, você a encontrou.
一 Não me deve nada. Quando ela acordar e estiver conversando, chamem-me para
acompanhar o depoimento dela e dar o meu também.
一 Tudo bem.
一 Preciso avisar para a Suzanne, ela está desesperada. 一 Avisa Rico, que abraça o
Will em agradecimento também.
一 Nós mulheres somos fortes; não desistimos de lutar. Ela voltará para vocês. 一 Diz
Janaina com um sorriso acolhedor.

As horas seguintes passaram lentamente. O Dr. Williams refez todos os exames e eles
limparam Chiara, que estava repleta de fuligens. No entanto, precisou ficar na UTI; foi
necessário induzi-la ao coma por 24 horas devido ao pulmão fraco e à agitação. Rico e Suzanne
passaram uma hora ao lado dela, e agora finalmente posso vê-la após um banho e os cuidados
nos pés queimados, para pedir novamente que volte para mim. Puxo a poltrona, sentando ao lado
dela, e entrelaço minha mão na sua.
一 Às vezes não parece real que ela tenha passado por isso. Eu espero que ele apodreça
na cadeia. 一 Diz Suzanne.
一 Queria que ele sofresse o dobro do que fez com a minha filha. Doente, um lunático.
一 Esbraveja Rico, acariciando os cabelos no lado oposto. 一 Chiara, filha, você pode me
ouvir? Papai andou pensando, e há tantas coisas para conversarmos. Você não pode partir.
Preciso que me perdoe por ter te agredido, e prometo que tentarei aceitar o amor de vocês, mas
não me faça perder você. 一 Chora sentido, mas corre para limpar as lágrimas.
一 Cadê o nosso pai? 一 Pergunto e Suzanne suspira antes de responder.
一 Não quer vê-la assim, está abalado, disse que esperará a Chiara acordar.
一 Ricardo, eu e a Suzanne iremos tomar um banho e retornamos mais tarde. Será
rápido.
一 Fiquem tranquilos, o médico me deixou ficar aqui, meus pés estão enfaixados, então
tenho a desculpa perfeita para não sair de perto dela. 一 Os dois concordam.
Abraçamo-nos despedindo, e eles saem em seguida. Estão cansados, apáticos. Se dói em
mim, imagino para eles, a única filha assim, com os pés presos em dois mundos. Recosto a
cabeça na poltrona e não consigo soltar sua mão. Preciso guiá-la até aqui, para que não pense em
desistir. A porta abre, confiro, e o médico se aproxima com um exame nas mãos.
一 Bom, Ricardo, estava aguardando os pais da Chiara saírem porque preciso conversar
com você. 一 Meu coração acelera e arrumo a postura na poltrona.
一 Claro, doutor.
一 Então, pouco antes de Chiara ser sequestrada, tive uma conversa séria com ela, pois
um dos exames revelou isso 一 Ele me entrega os papeis, atordoado analiso e vejo o resultado
positivo de gravidez, uma dor aguda atinge meu peito, fazendo todo choro que tenho guardado
extravasar.
Cubro o rosto com as mãos, as lágrimas caem continuamente. É ainda pior, quase
esmagadora, porque quero trocar de lugar com ela e não posso. Engulo com dificuldade todas as
sensações, porque preciso aguentar essa pressão corrosiva, por ela, por nós. Enxugo as lágrimas e
o encaro.
一 Nosso bebê será lindo. — É tudo que consigo dizer.
一 São dois, na verdade, senhor Mandolini, gêmeos. 一 Meus lábios tremem enquanto
pisco rápido, segurando novamente minhas emoções.
一 Eles estão bem? 一 Ele suspira e puxa a outra poltrona, sentando-se.
一 Chiara está com algumas lesões novas no pulmão, características de afogamento. Isso
pode ter acontecido enquanto estava com aquele cara, e ela também inalou muita fumaça, mesmo
seus pulmões não funcionando adequadamente e mesmo com um aporte de oxigênio, embora
baixo. Serei honesto, tudo que ela passou é muito difícil para um corpo aguentar, ainda mais com
dois pequenos fetos em desenvolvimento. Após toda a manhã de exames, estou muito feliz por
dizer que os bebês estão bem. Por mais que ela esteja nessa condição, posso dizer que é um
grande milagre. Farei tudo que estiver ao meu alcance para que em uma semana ela esteja bem,
de olhos abertos e conversando com você. Tenho certeza de que a Chiara não irá desistir.
一 Chiara tem uma força gigantesca, não aceito ficar sem ela. Como o senhor sabia que
eu sou o pai?
一 Ela me contou, e eu sei que a ama porque me falaram como você entrou naquela casa
pisando no fogo para salvá-la. Tenha fé.
一 Estamos pecando, doutor, talvez Deus tenha nos abandonado.
一 Não sou cético, Ricardo, nem religioso também, mas garanto, um amor forte assim
estará sempre naquela esfera incompreensível. Deus pode ter abandonado vocês, mas as vidas
inocentes que ela carrega dentro dela ele protegeu. Vocês precisam escolher. Não sou bom em
falar sobre isso, mas o que você acha? 一 Levanto pisando com dificuldade e me aproximo da
Chiara na cama.
Puxo a coberta até o quadril e exponho sua barriga. Fecho os olhos passando a mão sobre
a região e em seguida aproximo o rosto beijando com carinho. O médico sorri, a cubro de novo e
suspiro profundamente.
一 Eu fiz minha escolha, doutor, aliás, nós fizemos juntos quando escolhemos nos amar,
posso receber minha punição indo para o inferno, mas ainda estou vivo e cuidarei da minha nova
família com todo amor que posso dar. Aqui na terra, Chiara é o meu céu, e viverei meu paraíso
ao lado dela enquanto meu coração estiver batendo.
CAPÍTULO 45

Após 24 horas em coma induzido e com os resultados positivos dos exames que faltavam,
o médico nos avisou que iria deixá-la despertar. Meu coração quase sai do peito devido à
palpitação quando os olhos se abrem. Ela passa um longo minuto encarando o teto, as pupilas
não se movem, e minhas mãos suam frias de nervosismo. Uma lágrima escorre pela lateral de seu
rosto e ela fecha os olhos novamente. Aproximo minha boca de seu ouvido; sei que ela está com
medo, mas agora está salva.
一 Minha cerejinha, você voltou para mim, estava com tanta saudade. 一 O rosto se
inclina e então se permite enxergar.
Nossos olhares azuis se encontram e dizem tantas coisas, mas eu só consigo deixar as
lágrimas saírem e nada mais. Sou levado ao passado, exatamente ao dia em que a vi pela
primeira vez naquele aeroporto. A garota que esbarrei, vi seu café ir ao chão e fui fuzilado por
seu olhar inconformado. A sensação que senti ainda borbulha em meu peito: um misto de "que
olhos lindos" e "como eu sou desastrado". Logo em seguida, a tristeza de vê-la se virar e ir
embora sem me dizer seu nome. Depois, o susto e o desespero quando a vi atrás de mim na
cozinha, para finalmente conhecê-la como minha sobrinha.
Nos olhando agora, as mesmas sensações que me preenchem são tão intensas quanto na
primeira vez, mas com uma pitada a mais: o enorme amor que construí por ela. Seu jeito doce,
mas firme. Seu gênio indomável, mas sempre forte, sem abaixar a cabeça para ninguém. Uma
garota e mulher que, na verdade, é uma verdadeira personificação de coragem e força. Ela
chegou e mudou tudo que eu sabia na minha vida. Fez-me querer cuidar e proteger alguém de
uma forma genuína. Se me perguntassem hoje por que me apaixonei pela Chiara, eu diria que a
minha alma se apaixonou pela dela, e que fomos feitos e destinados a ficar juntos. Posso não ser
perfeito, mas com certeza me transformarei na minha melhor versão só para vê-la feliz.
Deslizo o polegar no canto de seus olhos enxugando-os. Ela sorri e uma sensação de paz
me domina.
一 Serão longos dias de recuperação, mas estaremos juntos e não sairei do seu lado. 一
Afirmo.
一 Filha, estamos tão felizes, seu pai estava quase tendo um ataque, ansioso para te ver
abrindo os olhos. 一 Diz Suzanne, e os dois com cuidado abraçam e beijam o rosto dela.
一 Eu estava mesmo, mas agora finalmente estou aliviado, minha filha está protegida.
Meu pai vem em seguida e acaricia o rosto dela.
一 Graças a Deus, minha única neta, nós te amamos tanto. 一 Chiara tenta falar, mas a
voz falha.
Rico pega o copo de água sobre o balcão, e eu ajudo Chiara a sentar-se lentamente, com
receio de machucá-la. Ela toma alguns goles de água, e o médico realiza os exames necessários
para pacientes que estavam em coma. Após alguns minutos, ele sai da sala, e Chiara limpa a
garganta para falar.
一 Eu achei que teria que esperar o Ricardo do outro lado por muito tempo ainda. 一 Os
olhos ficam marejados. 一 Não tenho dúvidas de que foi você que me tirou de lá, porque sinto
aqui dentro que foi, eu estava tão apavorada sem você, só queria dizer que te amo. 一 Choro
levantando-me rapidamente e me ajeito ao seu lado, abraçando-a.
Sua cabeça repousa em meu peito, e eu analiso os rostos deles chorando também. Talvez
no fim, tudo isso nos tornará mais unidos. Nunca saberemos quando será o último dia, a última
palavra que iremos dizer, ou qual será a última respiração, mas temos o agora, e neste instante
vê-la viva é o maior motivo de felicidade.
TRÊS DIAS DEPOIS
Chiara recosta-se no travesseiro após mais uma bateria de exames, exausta. Sua cabeça
afunda no travesseiro, caindo para o lado, o tórax em constante expansão em busca de oxigênio,
e os olhos fechados. Levo a mão à sua coxa esquerda, e quando meus dedos a tocam, ela grita,
seu corpo reage com um afastamento súbito, e por sorte não cai da cama. Meu coração acelera; a
expressão de pavor em seu rosto dói no peito, pois não esperava por isso. Algo aconteceu lá que
ela ainda não mencionou.
一 Desculpe, não queria te assustar. 一 A rigidez do seu corpo ameniza e ela desvia o
olhar, triste.
一 Tudo bem, eu estava sonolenta, me assustei e agi por impulso.
一 Aquele filho da puta tocou em você? 一 As lágrimas se formam em seus olhos e ela
leva a mão ao rosto, tentando esconder o desejo de desabar.
一 Sim... 一 Confessa num sussurro.
Aperto os olhos ao fechá-los, uma fúria sobe do estômago para o rosto, pois estou
fervendo em revolta. Sento ao seu lado, controlando todos os sentimentos conflitantes, pois não
posso deixá-la se sentir pior. Encaixo-a em meu peito; ela chora enquanto acaricio seus cabelos.
一 Não quero que pare de me tocar... 一 Suplica com dor na voz, trêmula.
一 Não vou parar, você só precisa de um tempo. O doutor disse que amanhã começam
suas sessões com a psicóloga e a consulta com a psiquiatra; fale sobre isso e tenho certeza de
que, quando receber alta, estará bem.
一 Eu sinto muito. 一 Queria apertá-la em meus braços, mas não posso, então seguro
seu rosto e encosto nossas bocas.
一 Não me peça desculpas, você não fez nada errado, nada do que aconteceu é culpa
sua. Chiara, ficar alguns dias sem te tocar até que se sinta segura, não mudará nunca o meu amor
e a nossa conexão. Eu te amo, e prometo com a minha vida que jamais passará por isso de novo.
一 Ela afunda o rosto em meu peito e beijo o topo de sua cabeça.
É impossível medir o quanto eu odeio aquele cara, eu o mataria se pudesse, porque ele é
doente, e o ódio me dominou ao escutar seu desabafo, mas, por ora, estou focado na Chiara, em
fazê-la se sentir bem para que saia daqui menos traumatizada.
Acaricio sua barriga, ela se derrete, ergue o rosto, um sorriso doce surge em sua boca
enquanto as lágrimas molham sua face.
一 Eu te amo, cerejinha.
一 Eu ficarei bem, e nunca mais pararemos de nos tocar. 一 Sussurra.
40 DIAS DEPOIS
Inspiro lentamente e profundamente, desfrutando da sensação satisfatória de respirar sem
um cateter. Demorou mais do que o esperado, não porque tive complicações, mas pelos meus
pequenos bebês que crescem na minha barriga, não quis medicações que pudessem causar
qualquer dano a eles e tive muitas dores no corpo, e suportei cada uma delas. Fico arrepiada de
pavor por imaginar que em alguns anos o Juliano possa estar livre.
Há 30 dias dei meu depoimento, a polícia veio até o hospital e o Will compareceu para
dar apoio. Agradeci a ele por ter me encontrado. Foi difícil revelar tudo que aconteceu,
principalmente reviver o abuso do Juliano em me tocar sem permissão, Ricardo se lamentou por
não ter o matado, mas agora após as sessões de terapia e as consultas para falar sobre tudo que
aconteceu, me sinto forte.
Ricardo voltou a me tocar de forma gradual, com abraços e beijos, e não me assusto mais
com seus gestos, pois entendi a diferença e percebi que esses momentos são de amor. Agora, só
quero vivê-los daqui para frente. Acaricio minha barriga; os bebês estão bem, e tudo o que desejo
é que cresçam seguros.
Chegou o momento de voltar para casa e precisarei revelar sobre a gravidez. Estou pronta
para enfrentar todos e viver um amor proibido com o meu tio. Sei que não será fácil aparecer na
empresa e sentir os olhos julgadores das pessoas, mas não posso deixar isso determinar minha
vida.
Ricardo invade o quarto, um sorriso amplo na face, e desesperado fecha a porta
avançando sobre mim. Os braços fortes me puxam para o seu colo e me leva até a parede ao lado
da janela, me prensando nela. Meu coração acelera e ficamos ofegantes presos em um vínculo
visual inquebrável.
As mãos sobem nas laterais do meu quadril elevando meu vestido e sorri quando
confirma o que já sabia.
一 Está sem calcinha!
一 Acabei de tirar, eu sabia que quando assinasse a alta você entraria por essa porta
ansioso para me tocar. 一 Ele me senta sobre o aparador e joga o tecido para cima e abaixa o
olhar para matar a saudade.
Os dedos percorrem minhas coxas indo em direção à parte interna até me tocar. Arfo, os
movimentos sutis no clitóris é tão gostoso que fervo por dentro, senti tanta saudades dele. Mordo
o lábio inferior e permanecemos fixos genuinamente com todos os sentimentos intensos nos
consumindo, ele penetra dois dedos, solto um gemido, todos os nossos momentos retornam como
uma avalanche e o puxo afobada, beijando sua boca.
Ricardo se entrega, esfrega-se em mim, para de me tocar e ansioso abre o botão e o zíper
da calça puxando o pau para fora. A ereção roça em minhas coxas e vibro quando me penetra.
一 Puta que pariu, eu senti tanta falta de você, de estarmos assim. 一 Sussurra, e o
quadril se movimenta, golpeando fundo, entrando e saindo urgente.
Queria sentir sua pele na minha, o suor, a quentura da nossa conexão. Olhamos para
nossas partes íntimas em confronto querendo mais, mas a porta inesperadamente abre e vovô
entra fazendo-nos saltar de susto, e desesperados arrumamos as roupas.
一 Ricardo, o que é isso?
一 Pai, ah meu Deus!
一 Vovô, desculpa. 一 Ele fica de costas negando com a cabeça.
一 Queria não ter visto isso, agora sei como o Rico se sentiu. 一 Sorrimos.
一 Só estamos com saudades, eu sinto muito. 一 Afirmo triste, ele concorda.
一 Arrumaram a roupa? 一 Passo a calcinha nas pernas e arrumo no corpo.
一 Agora sim. 一 Ele nos encara.
Ricardo pega a mochila na cama enquanto o vovô cruza os braços perto da porta
querendo dizer algo, mas estou cansada, quase morri e só quero viver a minha vida fazendo
minhas próprias escolhas.
一 Olha vô, eu tenho 19 anos, posso muito bem escolher quem amar. O papai te chamou
aqui, mas nada do que você diga mudará o que sinto pelo Ricardo. Se não me deixarem ficar com
ele, não haverá mais nada para mim aqui, não conseguirei estar perto de vocês sabendo que me
privaram de ser feliz.
一 Chiara... 一 Ricardo chama e saio apressada pela porta.
一 Quero ir para casa.
Meus olhos percorrem o quarto, foram tantos dias no hospital e longe daqui que
automaticamente sou inundada com memórias das noites com o meu tio. Suspiro feliz, é bom
estar no meu cantinho, mas agora eu quero um novo, só nosso. Ricardo coloca a mochila na
cama e me abraça beijando meus lábios.
一 Hoje à noite conversaremos sobre a nossa relação com todos.
一 Sim, independentemente de qualquer coisa, continuarei com você.
一 Não existe outra opção, você é minha, Chiara, sempre será.
一 Papai talvez tenha um pequeno ataque de fúria quando souber da gravidez.
一 Não duvido. 一 Ele leva a mão à nuca, nervoso. 一 Por falar nisso, ainda não beijei
eles hoje. 一 Põe-se de joelho no chão e eleva meu vestido acima da barriga.
O rosto encosta-se na pequena curvatura quase imperceptível, e com carinho a beija, não
há dúvidas, eu sei que eles sentem que os amamos, mesmo sendo tão pequenos.
一 Eu te amo tanto. 一 Ele levanta, o nariz roça em minha bochecha direita descendo
até o pescoço. 一 Quero dormir com seu cheiro, não consigo mais ficar longe de você. 一
Sussurra.
一 Quero que você me toque aqui… 一 levo minha mão até o centro das minhas pernas
e afasto a calcinha 一 Bem assim. 一 Jogo a cabeça para trás me tocando.
一 É errado te jogar na cama agora e te foder com força? 一 Paro os toques e levo os
meus próprios dedos a boca dele que abocanha sentindo meu sabor. 一 Droga, Chiara, que
saudades. 一 Ele morde minha boca e me beija grudando nossos corpos, até ficarmos sem
fôlego.
一 Provavelmente alguém entrará pela porta e nos pegará no flagra. 一 Afirmo e
sorrimos.
一 Tome um banho, converse com seus pais, eles sentiram sua falta também, a noite
estarei de volta.
一 Não queria me afastar de você.
一 Aguenta só mais um pouco, minha cerejinha, só mais algumas horas. 一 Concordo e
seus lábios beijam os meus se despedindo.
O interfone toca e um enorme enjoo surge em meu estômago. Talvez seja por causa da
gravidez; não tive nenhum enjoo por conta das medicações no hospital, ou talvez seja puro
nervosismo por saber que chegou o momento de sermos ouvidos.
Desço as escadas com o coração acelerado, as mãos frias e suadas de medo das palavras
que ouviremos do meu pai e do vovô. Entro na sala e o encontro: Ricardo está usando roupa
social. Não consigo evitar sorrir ao vê-lo transpirando na testa, como na cena em que o garoto
pede a mão da menina em namoro. A diferença é que ele precisará pedir autorização para
namorar a sobrinha para o próprio pai e irmão.
一 Boa noite! 一 Ele diz e me aproximo pegando sua mão e entrelaçando nossos dedos
para sentarmos juntos.
Estou aflita, nervosa e completamente apavorada, esperando finalmente ter liberdade para
amar à vontade. Ricardo me olha de soslaio e transmite tantas coisas com seu olhar; a respiração
lenta e prolongada revela sua tensão, mas sei que ele me ama profundamente e nunca desistirá de
nós. Vovô aparece com o papai e eles se sentam no sofá à nossa frente, enquanto mamãe ocupa a
poltrona ao lado.
一 Bom, finalmente chegou o dia. 一 Diz o vovô Carlos 一 O Rico não sabia como
resolver a relação de vocês, então me chamou. Tantas coisas aconteceram; já se passou mais de
um mês, e tudo isso me fez refletir. Não vou mentir ao dizer que o Rico e eu não saímos
machucados quando soubemos do relacionamento de vocês. 一 Papai concorda limpando a
garganta para falar.
一 Senti como se algo tivesse atingido meu coração e essa dor me dilacerasse. 一 Ele
diz e Ricardo aperta com carinho minha mão tentando me transmitir calma.
一 Saber que meu filho estava se envolvendo com minha única neta quase me fez ter um
ataque. Ricardo, você sempre foi um homem íntegro, e eu te amo muito, meu filho. Chiara
sempre teve o mesmo temperamento do Rico, mas sei que ela nunca o magoaria
intencionalmente, tenho certeza disso. Tivemos uma conversa franca e chegamos finalmente a
um acordo. 一 Pausa, suspira profundamente e continua 一 Nosso maior medo era pensar que
vocês não apenas estavam nos magoando, mas também se machucando com uma relação que
nunca daria certo. Com o passar dos dias e tudo o que aconteceu, conseguimos enxergar e, mais
importante, sentir, o que acontece entre vocês. Sei que dariam um jeito de ficarem juntos, mesmo
se disséssemos que não aceitamos. Não podemos perder vocês, porque sei que se eu disser agora
que não, vocês irão embora e viverão esse amor longe de nós. Um amor que é proibido, mas nem
tudo que é proibido significa que não pode acontecer e dar certo! Decidimos, e principalmente eu
decidi, que vocês devem ficar juntos, e o que podemos fazer é apoiar. Nós aceitamos!
Ricardo inclina o rosto, o olhar se prende ao meu, sendo capaz de penetrar minha mente e
meus sentidos.
一 Eu amo você, Chiara, e hoje estou feliz por ficar com você sem precisar esconder o
que sinto. 一 Ele me beija com ternura e o abraço forte com medo de soltá-lo e tudo ser um
completo sonho.
Mas não é um sonho, é real, tão real quanto o toque que sinto em minha pele agora. A
felicidade e o alívio percorrem minhas veias, fazendo-me alucinar de alegria. Encosto minha
cabeça em seu peito enquanto sinto sua alma abraçar a minha. É inexplicável viver esse pequeno
momento de felicidade, e todo o sofrimento por estarmos distantes me fez amadurecer e perceber
que quero ser melhor para dar aos meus filhos muito amor.
Saio dos braços do Ricardo, endireito a postura e uno as mãos acima dos joelhos,
entrelaçando meus próprios dedos. Preciso revelar, contar sobre a família que vamos começar
agora. Papai se levanta e caminha até a garrafa de whisky.
一 Vocês só não poderão ter filhos, o Ricardo tirou isso de mim, a chance de ser avô, e
do nosso pai também.
一 Eu seria avô e bisavô ao mesmo tempo, olha que loucura. 一 Brinca vovô.
一 Eu seria tio e avô. 一 Engulo em seco. 一 Vocês poderão adotar no futuro. 一
Ameniza papai, achando que está dando uma solução.
一 Não tem por que vocês falarem de filhos agora, acabamos de aceitá-los juntos. 一
Brada mamãe.
一 É que os dois ficam o tempo todo… 一 Diz vovô sorrindo 一 Deixa para lá.
一 Eu tenho algo para dizer. 一 Ricardo coloca a mão direita sobre as minhas, ele irá
revelar.
一 Eu falo, cerejinha. 一 Concordo, estou tão ansiosa que minhas mãos tremem 一
Bom, eu a Chiara queremos falar algo importante. Com tudo o que aconteceu, e não só por causa
disso, foi antes, mas estávamos aproveitando intensamente e nos descuidamos. 一 Papai solta a
garrafa colocando-a de pé, o rosto tornando-se pálido, e coloco a mão suavemente na minha
barriga. 一 Não queríamos que isso acontecesse agora; queríamos que tivesse sido planejado,
conhecendo todos os riscos, como vocês bem sabem. Mas, desde o início, nada do que aconteceu
entre nós dois foi realmente planejado, e às vezes ficamos à mercê do futuro.
一 E o futuro escolheu que eu ficaria grávida do Ricardo. 一 Apenas deixo que as
palavras saiam de dentro de mim. 一 Eu estou grávida!
CAPÍTULO 46

一 Sim, seremos pais. Eu prometo ser o melhor pai do mundo para os meus filhos. 一
Ricardo me puxa para o seu colo envolvendo os braços em minha cintura e beija meu rosto com
euforia.
一 Pai, mãe, vô, eu deveria ter me cuidado, mas foi uma falha, eu nem sei ao certo o dia
que aconteceu a gravidez, mas estou com aproximadamente 2 meses. Com o problema da queda,
depois o Juliano, preferi esperar sair do hospital para contarmos.
Todos possuem a mesma expressão de surpresa no rosto. Por dentro acredito que devam
estar surtando. Ricardo me comprime em seu corpo e mesmo que não tenha sido planejado,
nossa família será linda.
Papai finalmente reage, senta-se no sofá, as mãos perpassando nos cabelos, está nervoso.
一 Grávida, filha? Como assim? Você é muito nova para estar grávida, Ricardo é o seu
tio, tem os riscos, não deveriam ter… porra!
一 Meu Deus, estou perdido! 一 Confessa vovô.
一 Calma, pai, é que tem mais uma coisa. 一 Ele arregala os olhos.
一 Mais?
一 Na verdade, estou grávida de gêmeos!
一 Dois bebês? DOIS? 一 Ele rebate, levantando, dá alguns passos e espalma a parede
logo à frente abaixando a cabeça.
Vovô cobre a boca com a mão deixando o corpo topar no encosto do sofá e mamãe
apenas continua impassível.
Um silêncio ensurdecedor paira no ambiente. Papai começa a andar de um lado a outro
pensativo.
一 Dois bebês? 一 Questiona novamente, claramente tentando digerir a informação.
Mamãe levanta e faço o mesmo, ela se aproxima de mim e me abraça.
一 Ei, filha, lembre-se, também engravidei cedo de você e deu tudo certo! Estamos aqui
para te apoiar!
一 Suzanne, você ouviu direito? São dois bebês, você tem noção disso, a minha filha
ainda é uma criança para cuidar de outras duas. 一 Rebate papai.
一 Agora está feito, Chiara passou por um trauma e precisamos apoiá-la.
一 Não se preocupe, arrumaremos babás para te ajudar com os bebês. 一 Diz vovô. 一
Meu Deus, teremos mais crianças ruivas nessa família! 一 Afirma, digerindo mais um pouco da
notícia.
一 Tudo bem! 一 Confirmo sorrindo, estão todos bagunçados e abalados.
Ricardo levanta, me agarra contra o seu corpo e meu estômago se agita, não precisamos
mais fazer escondido, embora eu gostasse de tê-lo em segredo.
一 Nossos filhos serão lindos que nem a mãe deles! 一 Ricardo comenta, meu pai se
aproxima de mim e um arrepio de medo atravessa o meu corpo.
一 É o seguinte, claro que vamos te ajudar e tudo mais... Porém, amanhã quando voltar
para a empresa não falará sobre gravidez. O advogado disse que é crime a relação de vocês, se
nos denunciarem, poderemos recorrer na justiça alegando que nunca se conheceram antes, mas
as pessoas em sua maioria não aceitam.
一 O Juliano acabou soltando que estávamos juntos e a fofoca já se espalhou! 一
Confessa Ric.
Antes de sair do hospital, disse ao papai que continuarei no banco, não quero parar de
trabalhar, de ter contato com as pessoas, sinto falta disso.
一 Não quero que se sinta mal por ver as pessoas te olharem feio! 一 Ele finalmente me
puxa para um abraço forte. 一 Tem certeza de que não quer ficar em casa? Ainda mais estando
grávida?
一 Pai, direi que nem o Dr. Williams quando me contou dos bebês, é uma gravidez e não
uma doença. Prometo que quando não aguentar mais, eu paro!
一 Tudo bem.
一 Ótimo, filha, preciso voltar para casa, mas não se preocupe que todo mês estarei aqui.
一 Revela mamãe sorrindo.
一 Claro, mãe, obrigada por tudo, por cuidar de mim.
一 Sempre cuidarei de você, filha, eu te amo.
一 Também te amo.
一 Estou sem acreditar que o Ricardo fez isso, além de ficar com a minha filha, ainda fez
dois bebês nela. — Papai está perplexo.
一 Pai, quando eles nascerem, conversamos, aposto que eles roubarão o seu coração.
一 Poderemos ver o sexo quando? 一 Pergunta vovô.
一 Só daqui a dois meses. 一 Encaro o Ricardo e algo surge em minha mente, ele nunca
fala sobre isso. 一 Ricardo, e sua mãe? Sei que vocês não têm uma relação, mas ela não se
importa com nada disso? 一 Vovô se afasta com tristeza no olhar.
一 É culpa minha, Chiara. 一 Confessa vovô 一 Eu abandonei a mãe do Ricardo
quando estava grávida, demorei para assumir meus erros, e ela realmente me amava, a decepção
com a minha atitude foi tão grande que antes do Ricardo completar a maioridade ela não queria
mais vê-lo. Cada dia ele estava fisicamente mais parecido comigo, e era difícil para ela encarar o
próprio filho. Abby deu o melhor de si, mas eu a destruí e sempre dormirei com essa culpa e com
o fato dela nunca me perdoar e ter escolhido se afastar.
一 Ela esteve aqui na Austrália logo que você chegou, ficou no meu apartamento, mas
nosso contato é mínimo, talvez com o tempo possamos aprender a conviver melhor.
一 Quando ela quiser conhecer nossos bebês, estaremos esperando.
一 Obrigada, minha cerejinha.
一 Bom, vamos jantar. 一 Chama mamãe.
一 Suzanne, Rico, eu gostaria de levar a Chiara para jantar hoje, tudo bem ela ficar
comigo? Amanhã a trago para se vestir antes do trabalho.
Papai bufa e gesticula com a mão, não entendo o que quer dizer.
一 O que eu estava com medo já aconteceu, podem ir, ela já está grávida mesmo. 一
Esbraveja chateado e corro até ele, abraçando-o.
一 Pai, eu te perdoou por ter me batido, entendo sua dor, mas ninguém cuidará melhor de
mim do que o Ricardo, no fundo, bem aqui 一 Coloco a mão no coração dele 一 Você sabe
que ele me ama e nunca irá me deixar.
一 Eu sei, filha, por isso a minha chateação é maior, ele te ama como nenhum outro
homem amaria e odeio ter que admitir isso, sempre achei que a mulher que ficasse com ele teria
muita sorte, eu só não imaginei que fosse você. É errado, pecado, todas essas porras aí, mas sei
que vocês serão felizes e isso me faz aceitar melhor essa situação.

Sento no carro e sinto uma grande sensação de liberdade invadindo todos os meus
sentidos. Fixo o olhar na rua, Ricardo faz o mesmo, estamos sentindo a mesma coisa, só
precisamos de um minuto.
一 É real? 一 Sussurro 一 Estamos mesmo dentro do carro com todos sabendo que
faremos sexo sem que queiram nos punir ou odiar? Está sentindo isso que estou sentindo? Eu
acho que morri naquele quarto e tudo é apenas fruto da minha imaginação em uma criação
detalhada do meu próprio paraíso. 一 Ricardo solta uma gargalhada.
一 Então acho que morri com você.
Ele liga o carro e saímos pelas ruas, o vento soprando um ruído, mas estamos ansiosos
demais, nossas respirações aceleradas, afinal, temos nos segurado por tantos dias. Quando entra
em uma rua pouco movimentada, desliga o veículo. Ele espalma minha coxa esquerda subindo
lentamente.
一 Espero que tenha vindo sem calcinha. 一 Os dedos roçam em minha virilha
enquanto abro as pernas ansiosa para sentir ele me tocar.
一 Desde que te conheci parei de usar, não preciso delas.
一 E do que você precisa? 一 O indicador desliza da vulva até a minha entrada,
conferindo se estou molhada.
一 Do seu pau dentro de mim. 一 Rosna, um semblante safado no rosto, e sobe os
dedos grandes circulando meu clitóris enquanto sou invadida por uma onda de prazer.
Solto um gemido e ele sorri. Foram 40 dias sem sentir seus toques.
一 Estou louco para te foder a noite toda.
一 Podemos começar no carro? 一 Ansiosa, com o meu íntimo pulsando, retiro os seios
do decote pendurando-os para fora.
一 Porque acha que parei, quero te comer agora, começando aqui, estou faminto, Chiara,
me masturbando todo dia pensando na porra da sua boceta. 一 Com força, solta o cinto que
prende a minha cintura e toca os meus mamilos, apertando-os, meu corpo esquenta.
Com brutalidade, transpassa a mão no meu rosto seguindo até a nuca, prensa entre os
dedos e me puxa com arrogância, me sentando em seu colo. Ele é grande, mas o banco está com
o afastamento suficiente para nós dois. Afobado, sobe meu vestido e me desmancho em seu colo
segurando o volante. Ricardo enlaçada a mão direita em meus cabelos puxando-os com força, a
boca na lateral do meu pescoço soprando o hálito quente é tão excitante que fico encharcada.
Esfrego-me em seu colo, o pau esticando na bermuda, cutucando minha bunda. A mão
corre em minha cintura, caçando minha intimidade e quando encontra fricciona minha boceta.
Fico em chamas, minha respiração intensifica com a sensação e em um jogo corpo a corpo, ele
me deita de barriga para cima, com a cabeça encostando na porta, com livre acesso para me
admirar e tocar, porque estou atravessada sobre ele. Abro as pernas, meu joelho chocando-se
contra o som, ele sorri de canto. Os dedos me penetram, entreabro os lábios gemendo, assistindo
os movimentos de entrar e sair. Ele me devora com o olhar, o músculo do braço que me castiga
se contrai, as veias que se estende até o pulso dilatadas, mas para os toques para estapear meus
seios e em seguida enfia os dedos em minha boca. Sinto meu próprio gosto.
一 Está sentindo, você é tão gostosa, é por isso que sou louco por você. 一 Retorna os
dedos à minha boceta, brincando com meu botão úmido e quente.
Contorço-me, adorando senti-lo, algo borbulha dentro de mim, é o prazer que só ele sabe
me dar. Os movimentos são massivos, cada círculo que faz sobre o clitóris gera choques na
região, como se todas minhas entranhas se emaranhassem.
Ele para, a mão direita passeia no meu corpo todo, chega nos mamilos, estimulando-os e
param em meu pescoço, apertando-o.
一 Sinto vontade de te bater, sabia? 一 Sorrio, elevo o dorso aproximando nossos rostos
e mordo a boca dele, que geme.
一 Me bate, titio, faz o que quiser comigo, eu sou toda sua agora, ninguém mais poderá
me tocar, só você, todas as noites. 一 Puxa meu cabelo para trás, sorrio, beija o canto da minha
boca descendo no pescoço e com força acerta um tapa em minha coxa, arde, em seguida um bem
no meu rosto.
一 Só isso? 一 Ele rosna com minha provocação, gira o meu corpo, debruçando-me em
seu colo.
Meu rosto colado na porta, os pés sob o banco que estava sentada, e todo bruto, Ricardo
puxa meu vestido, expondo minha bunda.
一 Quer apanhar de mim?
一 Sim. Com força.
一 Safada. 一 Sem dó, ele acerta um tapa em minha nádega direita, o estalo corta o
silêncio, mordo o lábios inferior com a ardência no local e remexo o quadril querendo mais.
Ele faz de novo, meu coração palpita, porque com o movimento do golpe, minha boceta
esfregou-se em sua coxa, é gostoso. Estico o braço segurando no vidro meio-aberto e empino a
bunda inclinando o rosto para vê-lo.
一 Mais forte, titio. 一 Ele arqueia a sobrancelha com um ar sedutor, mira minha bunda
e bate continuamente, enquanto fecho os olhos me movendo, roçando o meu clitóris em sua
coxa.
Quando ele para, eu quero mais, quero que me invada, que me coma com força. Ansiosa,
me sento em seu colo, de costas para ele, segurando o volante, apoio os pés no chão elevando o
quadril. Ele sabe e também quer estar comigo agora. O suor brilhando em sua pele, escorrendo
nas têmporas enquanto puxa o pênis imenso da bermuda segurando-o de pé. Ele é tão dotado e
sei que doerá como na primeira vez, porque faz tanto tempo, mas não ligo. Acoplo minha entrada
em sua glande, ele espalma as laterais do meu quadril com o olhar fixo, apenas esperando eu
sentar. E faço, de uma vez. Seu pênis me penetra rasgando tudo, ardendo com tanta pressão que
solto um grito.
Ricardo me abraça, a boca percorre minhas costas empurrando o tecido, ao mesmo tempo
em que me morde, é obsceno. As mãos apalpando todos os cantos com desespero, beliscando
meus mamilos, e ofego. A boca roça em minha bochecha e mordisca o lóbulo de minha orelha.
Forço os pés e rebolo subindo e descendo no seu pau. Ricardo fica ofegante.
一 Fica de frente, quero te beijar enquanto senta gostoso em mim. 一 Faço o que me
pede, mudando de posição, minha bunda pressiona a buzina sem querer e sorrimos.
Ele afasta e deita o banco até o limite máximo e sento em seu corpo penetrando, quero
tanto ele que estou aflita. Ricardo aperta os meus seios, o tecido da roupa está entre nós e ele
puxa, querendo arrancá-lo do meu corpo. Deixo que tire, e fico totalmente nua, a luz da rua é a
única claridade, mas nos vemos nitidamente. O peitoral musculoso está parcialmente à mostra,
empurro sua camisa para tocá-lo. Deslizo as mãos sentindo a firmeza e textura de sua pele quente
e fico excitada.
Forço as pernas e inicio os movimentos, subindo e descendo no seu pau duro. O olhar
dele se fixa em meu rosto, transitando da boca aos olhos, me desejando, é voraz, incontrolável. O
polegar brinca com meu mamilo, deixando-me em polvorosa, é torturante, lascivo, a outra mão
roça em minha boceta molhada, aumentando o prazer que me corrói. Acelero as cavalgadas, está
queimando o atrito, fomentando uma agonia em meu âmago porque estou quase gozando nele.
一 Ah, você sempre me toca e todas às vezes você nunca me deixa sem gozar. 一
Sussurro engolindo em seco, sendo torturada por seus dedos ásperos.
一 Nós dois precisamos experimentar tudo, te dar prazer é minha prioridade.
Chiara nua sobre o meu corpo é a minha imagem favorita, a luz da rua incidindo
diretamente em nossa conexão, ofego admirando sua boceta engolindo o meu pau
gradativamente, colocando e tirando-o apertado de dentro dela. Meu corpo todo está contraído,
em uma luta insana para não gozar, porque a quentura de suas paredes e os espasmos me fazem
fraquejar. As pontas dos meus dedos pressionando no ponto certo seu clitóris, está inchado,
vermelho, quente, no limite, louca para se entregar também.
一 Chiara, eu senti tanta saudades de comer sua boceta.
一 Eu também, você é tão gostoso. 一 Ela morde o lábio inferior com a excitação
desenfreada, porque encharca meu pênis todo com seus fluidos. 一 Eu quero gozar. 一
Sussurra entre gemidos.
一 Eu também, cerejinha, não consigo mais me segurar, quero te encher com meu
leitinho.
一 Me enche, eu adoro quando goza em mim. 一 A tensão corre por todos os músculos
do meu corpo, que vibram, os mamilos inchados pelo arrepio delicioso que se alastra em sua
pele.
Chiara inclina a cabeça para trás, as costelas à mostra segurando a respiração em êxtase,
mantenho o ritmo dos dedos, ela está sensível, as coxas em espasmos e ao vê-la assim, tão
entregue, não resisto. Entro em um transe alucinante gozando dentro dela. Choques elétricos em
cada músculos, as bolas latejando e meu pau pulsando, expelindo todo desejo que é cada
momento que posso tocá-la. Ela cai sobre o meu corpo, abraço-a, estamos ofegantes.
一 Estava com tantas saudades e ainda não diminuiu. 一 Confessa roçando o nariz na
curvatura alta do meu peito e beija suavemente.
Acaricio seus cabelos tirando-os de seu rosto.
一 Sentir e tocar você é motivo suficiente para que eu esteja feliz. Chiara, você é o meu
mundo e terá que dormir todas as noites ao meu lado de agora em diante.
一 Que castigo gostoso. 一 Brinca, e puxo seu queixo dando um beijo em sua boca.
Entramos no meu apartamento e encontramos a mesa de jantar pronta. Eu havia cuidado
de tudo antes de ir para a casa do Rico. Não sabia realmente o que diriam sobre nossa relação,
mas independentemente do que fosse dito, sairia de lá com a Chiara. Agora, ela é minha família;
é por ela que levanto todos os dias, e nosso único e maior objetivo é sermos felizes.
一 Que lindo, você deixou tudo pronto!
一 Sim, e dessa vez pedi comida de verdade.
一 Vou ao banheiro me limpar, já volto.
一 Claro, minha cerejinha.
Lavo a mão, ligo novamente o forno e confiro a sobremesa na geladeira. Sento, puxo a
garrafa de whisky e me sirvo de uma dose. Suspiro ao olhar a cidade daqui; os vitrais são amplos
e, pela primeira vez, sinto o peso do medo que sempre esteve em minhas costas se dissipar.
Chiara se aproxima, senta no meu colo e mergulha o dedo no uísque, chupando-o para provar.
一 Você não pode tomar bebidas alcoólicas, nossos bebês odiariam esse sabor. 一 Sorri,
e desço minha mão suavemente pelo seu corpo.
Ela parece tão frágil, e tudo o que desejo é protegê-la. Acaricio sua barriga; está pequena
ainda, mas em breve estará enorme. Ela envolve as mãos ao redor do meu pescoço e se
aproxima, beijando meus lábios. O aroma dos seus cabelos soltos invade meus sentidos, e eu
fecho os olhos. Deslizo os dedos pelas mechas, afastamos nossos rostos, e ela tem doçura no
olhar.
一 Como se sente depois de tudo que passou? Meu amor, se quiser, posso marcar
psicólogo, será boa as seções.
一 As que tive no hospital foram suficientes, eu não poderia estar melhor, estamos há um
mês esperando esse momento para ficarmos juntos de novo. Estou feliz, e essa felicidade é mais
forte do que qualquer trauma. 一 Beijo-a intensamente circulando minha língua ao redor da sua,
dominados por uma paixão fervorosa.
Ficamos abraçados, ela deita a cabeça em meu peitoral, meus dedos em suas pernas,
apalpando-as. Ela se arrepia a cada toque em sua pele macia. Seu cheiro é entorpecente e me
alucina mandando ondas de excitação que nunca senti antes.
一 Eu amo você, Ric.
一 Eu amo você, Chiara.
Chiara arranca minha camisa, querendo sentir minha pele e beija minha tatuagem de
corvos, sedenta de paixão.
一 Faremos amor de novo após o jantar. 一 Ela concorda balançando a cabeça, roçando
o rosto no meu peito enquanto sobe depositando beijos em meu pescoço.
一 Todo o meu corpo está com saudade, entendeu? Todas as partes. 一 A voz mansa e
límpida me seduz, tudo nela me atrai, e ter o seu corpo nos meus braços me completa.
Hoje sei que senti falta dela na mesma proporção que os desertos sentem falta da chuva
que traz vida. Chiara me traz vida, amor e uma conexão que jamais imaginei poder compartilhar
com alguém. Envolvo sua cintura, só quero sentir seu calor, seu cheiro e sua pele tocando a
minha.
Ficamos em um silêncio gostoso apenas ouvindo as batidas dos nossos corações
acelerados. Não importa como será o amanhã e as surpresas que enfrentaremos, só quero passar
o resto da noite sentindo seu corpo junto ao meu.
Passo a mão suavemente acariciando sua barriga.
一 Ainda parece um sonho ter você aqui, nos meus braços. Se sentir medo ou intimidada
amanhã, lembre-se de que nunca está sozinha. Temos um ao outro, e em breve teremos nossos
bebês ao nosso lado. 一 Chiara eleva o queixo, os olhos presos ao meu.
一 Ric, eu poderia passar um dia inteiro aqui apenas admirando seus olhos azuis
intensos. Há tantas emoções na forma como nos olhamos e nos amamos. Sinto que nossa
conexão vem de outras vidas. Nossas almas sempre estiveram destinadas a ficarem juntas, e
nosso segredo ilícito permanecerá para sempre em nossos corações, pois tudo o que sentimos no
escuro foi real.
CAPÍTULO 47

Visto um terno social preto delicado, um salto alto e passo um leve batom vermelho.
Senti tanta falta disso; por vários dias no hospital, desejei reviver esses momentos. Agora, só
preciso ser forte, como sempre fui, e aos poucos as pessoas compreenderão meu amor pelo
Ricardo. Papai surge na porta do quarto, com a mão apoiada no batente lateral, e me encara por
um longo minuto antes de entrar e me abraçar.
一 Lembre-se, caso alguém fale algo que te magoe, quero que me conte, demitirei essa
pessoa. 一 Sorrio antes de beijar o seu rosto.
Ele só quer me proteger, mas não dá para ter controle sobre isso.
一 Pai, todos pensarão coisas ruins de mim, ficar com o tio aos olhos das pessoas é
nojento, mas ninguém conhece nossa história! Se você for demitir quem falar qualquer coisa,
acabará ficando sem funcionários. 一 Ele retira a expressão de preocupação fixada no rosto
dando um sorriso amplo.
一 Ainda estou me adaptando a essa realidade, eles com o tempo entenderão também,
mesmo que seja difícil.
一 Estou pronta, vamos?
一 Vamos. 一 Saímos juntos do quarto, Ricardo espera na sala e mesmo com um
calafrio medonho no corpo, mantenho a postura confiante.
Após alguns minutos, estacionamos. Respiro profundamente e saio do carro. Ricardo
agarra minha mão, entrelaçando nossos dedos, e entramos juntos. Cada olhar que antes estava
distraído agora se volta para nós. Surpresa. Choque. Julgamento. Cada um desses olhares traz um
sentimento diferente ao meu peito, e detesto a batalha que ocorre dentro de mim. Passo pela
recepção e percebo que não estão disfarçando; estão curiosos e imagino que cheios de
pensamentos absurdos.
Cada passo torna-se longo e torturante, Ricardo aperta minha mão com firmeza notando
que comecei a suar frio. As expressões mudam a cada pessoa que encontramos pelo caminho.
Eram sorrisos que se desfaziam, transformando-se em surpresa ou raiva. Raiva por mim, pela
sobrinha ter enfeitiçado o tio. A sobrinha safada, que transou com ele. Espero que ao menos as
ações do Juliano as pessoas condenem de forma certa e justa, assim como estão nos condenando,
afinal, não fizemos mal a ninguém.
Entramos na sala e um peso saí das minhas costas, a primeira parte foi vencida, falta só o
dia todo, será um castigo, mas depois ficará mais fácil. Eu acho!
A reunião inicial é tranquila, ouvi alguns sussurros, mas nada repugnante aos meus
ouvidos. Todos saem da sala, pego meu café e os arquivos da mesa. Eleonora se aproxima, com
um olhar torto e um sorriso desdenhoso nos lábios.
一 Como está a princesa raptada?
一 Me sinto ótima, e não sou nenhuma princesa, guarda sua falsidade e suas alfinetadas
para quem se importa. A menos que queira ser demitida. O Ricardo me ama, então por favor, se
coloque no seu devido lugar. 一 O espanto domina sua face.
Talvez esperasse uma resposta retraída, mas não, o que passei com o Juliano e o
sofrimento para chegar enfim a minha liberdade, não será ofuscado por palavras amargas.
Rapidamente ela foge da sala, bufando. Não tenho medo de cara feia ou de palavras
ameaçadoras, eu sou assim, só me importo com o que vale a pena.
Levo os documentos do dia anterior até o arquivo, arrumando-os. O horário de almoço
começa e meu tio ainda está terminando uma reunião. Decido ir até o refeitório mesmo assim,
agora tenho dois bebês para alimentar. Sirvo o meu prato e sento na primeira mesa vazia que
encontro. Amy chega sorrindo, acena e quando termina de se servir, senta-se ao meu lado.
一 Como você está? Queria ter feito uma visita, mas seu pai não deixou, sabe como ele
é...
一 Um chato. 一 Nós duas sorrimos juntas.
一 Sei que deve ter respondido essa pergunta várias vezes, mas quero uma resposta
sincera.
一 Estou bem, os olhares de todos são como se nunca tivessem me conhecido. O
relacionamento com o meu tio não muda quem eu sempre fui, mas para as pessoas agora sou um
monstro. Na verdade, só uma pessoa me perguntou como estou e não era por preocupação.
一 Daqui a pouco tudo volta ao normal, sabe, a prática de incesto gera certa resistência
nas pessoas.
一 Eu odeio essa palavra “incesto”, para mim o que nós temos é “amor”.
Papai conversa com os funcionários ao longe enquanto puxa um prato para se servir.
Amy o admira e quando noto, ela disfarça encarando o prato.
一 Você sente algo pelo meu pai, Amy?
一 O quê? Por quê? 一 O rosto dela se cora e para esconder o abaixa.
一 Só curiosidade, você deveria falar para ele.
一 É totalmente profissional, além disso, Rico jamais me daria uma chance, ele não quer
relacionamentos, apenas noites de prazer, o tipo dele é… 一 pausa apontando para a Audrey,
bem-vestida, porte físico elegante 一 Está vendo, é aquele tipo, que anda sorrindo com suas
pernas longas e sedutoras, fazendo todos os homens suspirarem.
一 Nossa, acho que até eu estou a fim dela. 一 Brinco e sorrimos.
一 Viu, ela causa esse efeito nas pessoas.
一 Não seja boba, papai não é ligado a isso, só tem resistência em amar.
Com o garfo, bagunço a comida, preciso comer, mas estou sem fome. Analiso os
funcionários, cada um que chega desvia da minha mesa, sentando-se em outra. Amy suspira
pesado, ela também percebeu.
一 Não liga, Chiara, daqui a pouco as pessoas se acostumam. 一 Uma avalanche de
raiva lateja em minhas veias.
Talvez sejam os hormônios que começaram a ficar bagunçados, ou é só o meu eu interior
ferido. Ouço burburinhos baixos, mas audíveis, são claramente para me atingir.
“Nossa, parece que eles estão dormindo juntos.”
“Que horror, eles não têm vergonha?”
Ricardo brilha ao entrar pela porta principal, e a cada passo que se aproxima, as fofocas
aumentam. Levanto-me, ele se posiciona ao meu lado segurando a cadeira, mas eu seguro seu
braço para detê-lo. Acaricio seu rosto e aproximo nossos lábios. Beijo-o intensamente, nossas
línguas se entrelaçam, o sabor de menta me envolve e me perco nas sensações agradáveis que
crescem dentro de mim. Seus braços se tornam uma âncora ao redor da minha cintura e, quando
nos separamos, mantemos a conexão por alguns momentos. Ele termina de puxar a cadeira
enquanto eu inclino a cabeça, olhando para a mesa ao lado. Todos os que estavam cochichando
estão perplexos, e eu sorrio irônica.
一 Vocês querem falar? Que falem! Estamos juntos sim, e se isso incomoda alguém, é só
pedir demissão, mas caso não queiram perder o emprego, sugiro que comam e calem a boca. 一
Ricardo enrubesce, deixo o corpo cair na cadeira ao seu lado e sua boca encosta no meu ouvido.
一 Chiara, você é fogo e ainda por cima queima todos ao redor. 一 Beijo-o de novo, é
gostoso e não ligo para o quanto estão indignados, mas a verdade é que a maioria das mulheres
gostariam de estar no meu lugar, mas ele é meu, duplamente, tio e agora, namorado.
一 Agora todos os comentários se encerrarão, pelo menos por hoje… 一 Digo
arqueando a sobrancelha.
一 Ou vão piorar… 一 brinca 一 Você é muito intensa, Chiara e eu amo sua
imensidão, cada dia quero mergulhar mais fundo nela, até me perder, se é que já não me perdi.
一 Estou ansiosa para começarmos nossa vida. 一 Ele toca minha bochecha, os dedos
contornando meus lábios em uma admiração desenfreada.
一 Nossa vida começou no dia que te conheci, os meses irão passar rápido e em breve
estaremos… 一 ele pausa com medo de alguém ouvir, mas sei a continuação da frase: “Com
nossos bebês nos braços”.
Faz mais de um mês que estou preso, aguardando o julgamento e a sentença do juiz. Cada
dia aqui é um tormento, com eventos horríveis ocorrendo nas celas durante a noite que são
simplesmente repugnantes, tornando impossível ter um sono tranquilo. As regras impostas pelos
agentes penitenciários são rigorosas, porém as diretrizes estabelecidas pelos líderes do pavilhão
são sombrias e inabaláveis. Desde a minha chegada, fui aceito por eles, mas há uma intensa
censura e a sensação de que o governo não tem controle algum aqui dentro dessas paredes de
concreto. Sou tratado como um reles insignificante e preciso obedecer a cada ordem
rigorosamente para evitar ser expulso.
Meu pai fez apenas uma visita, e em suas palavras, ele queria entender onde errou, já que
sempre me deu tudo o que eu quis. É exatamente por ter esse privilégio que não consegui aceitar
a rejeição da Chiara. Hoje, lamento não tê-la eliminado antes; talvez assim não estivesse nesta
situação, ou quem sabe deveria ter me livrado do Ricardo para ter sucesso em ficar com ela.
Agora, sou obrigado a viver nessa realidade repugnante, onde permaneço trancado, tendo que me
contentar com uma comida péssima e dormir no chão frio da cela, já que não me permitem usar o
colchão.
Estou sentado, imerso na revolta. Se não fosse pela Chiara depor contra mim, eu não
estaria aqui. Janete também apareceu, obviamente decepcionada, mas ainda consigo ao menos ter
o carinho dela, já que o restante da família cortou laços. Meu pai, que é diretor da unidade
bancária, não foi expulso e preferiu ficar contra o próprio filho do que mandar aquela família à
merda.
Pode levar um tempo até eu sair, mas quando isso acontecer, terei uma longa conversa
com a Chiara. Um dos condenados, chamado Barão, chuta minha perna.
一 Sai daí, filho da puta, se manda, já falei que seu lugar é perto daquele otário ali, aqui
funciona diferente da vidinha boa que você tinha lá fora.
Ele é um homem forte e alto, faz parte de uma facção criminosa. Seu corpo é coberto por
tatuagens bem evidentes na pele parda, e seu rosto exibe uma expressão única de raiva, enquanto
ele está constantemente dando ordens e xingando. Um dos seus leais, chamado Fênix, um
japonês de meia-idade, reafirma suas ordens.
一 E nem pense em olhar feio, se não deixaremos a sua vida bem difícil aqui dentro.
一 Levanto, abaixo a cabeça e saio, só queria fugir dessa merda de lugar.
TRÊS MESES DEPOIS
Os dias estão passando rapidamente desde que voltei a minha vida normal, três meses
voaram, e uma completa mudança aconteceu, após várias fofocas na empresa, as pessoas
progressivamente pararam de comentar sobre o amor proibido que estou vivendo. Papai agora já
aceita melhor, diz que não quer ficar sozinho, e o Ricardo voltou para nossa casa. O combinado
foi permanecermos ao seu lado até os bebês nascerem. Amy tem sido uma ótima amiga e tem
passado algumas noites em casa. O vovô retornou a Nova York, mas liga todo mês. Mamãe liga
todos os dias, acho que nunca esteve tão próxima de mim.
Hoje farei mais uma ultrassonografia para descobrir o sexo dos bebês. Desço as escadas,
o banho durou mais do que o esperado, a barriga está crescendo e a sensação da água quente no
corpo relaxa os músculos. Encontro-os na sala, me esperando.
一 Você está linda, como sempre, e agora com um brilho especial. 一 Diz Ricardo,
avançando sobre mim.
Suas mãos nunca conseguem me deixar, há sempre um abraço, um beijo, um toque, e
todas às vezes nossa conexão parece transcender o explicável. O nariz roça em meu pescoço e
cheira profundamente o perfume. Papai revira os olhos nos assistindo.
一 Tá bom, parem com isso, que melação, vamos! 一 Sorrimos, ele pega a chave do
carro e seguimos para garagem.
Quando chegamos à clínica particular do doutor Williams, aguardamos na recepção.
Minutos depois ele nos encontra, um sorriso no rosto, todo mês faz questão de me ligar ao menos
duas vezes para perguntar sobre dores ou qualquer sintoma diferente. Hoje, com
aproximadamente cinco meses de gestação, fará uma ultrassom importante, porque além do sexo,
irá verificar o desenvolvimentos de alguns sistemas específicos dos fetos.
一 Vamos lá, Chiara, precisamos ver como estão esses bebês!
一 Sim, estou muito ansiosa! 一 Ricardo segura minha mão e juntos entramos na sala,
papai vem logo atrás.
No consultório, sento na poltrona macia e todos se acomodam também, os mesmo
procedimentos padrão de todo mês, afinal, papai fez questão de vir em todas as consultas.
一 Como tem se sentido, Chiara?
一 Tive um pouco de dor nas costas, mas nada exagerado.
一 Certo, verifiquei as semanas e conversei com doutor Sanders, ele aceitou fazer o seu
parto, é especialista em ginecologia e obstetrícia. Sei que quer fazer o pré-natal comigo, mas ele
tem ficado por dentro de tudo. Sente-se na maca, vamos verificar tudo no exame de ultrassom e
tentar descobrir o sexo dos bebês hoje.
一 Tudo bem, doutor! 一 Sento-me na cadeira e Ricardo fica ao meu lado, segurando
minha mão.
Papai se posiciona ao lado do Ricardo e esfrega a mão uma na outra, nervoso.
一 Podem olhar para a tela que aparecerá a imagem. 一 Olhamos juntos e atentos.
Um dos bebês surge primeiro e em seguido o outro, a imagem branca nos dá um
vislumbre perfeito do formato deles. Uma emoção forte e totalmente nova percorre o meu corpo.
Dois seres tão pequenos, que foram feitos com tanto amor. É inexplicável a maneira como a vida
funciona e como esse sentimento nos preenche. Nosso amor é tão forte, consistente e cada dia
fica mais ardente, mais sólido. Olhar para os bebês e ver que são frutos de um sentimento
dominantemente indestrutível traz uma agonia que nem fogo ao ganhar oxigênio, inflama, e de
repente um sol nasce dentro de nós eliminando todo nublado de tristeza que um dia sentimos. As
lágrimas escorrem dos meus olhos e Ricardo beija minha testa encostando a cabeça na minha
quando ouvimos os batimentos.
一 Um amor novo cresce em mim, o amor pelos nossos filhos, é incrível. 一 Os olhos
dele ficam marejados.
一 A cada mês que conferimos o crescimento deles, a vida ganha mais cor, hoje percebo
que nunca havia sido feliz.
一 A família de vocês será linda, e já posso dizer parabéns, serão dois meninos. 一
Exclama o médico fazendo as medições necessárias sorrindo. 一 Estão extremamente
saudáveis!
一 Meninos? 一 Questiona papai.
一 Sim. 一 Reafirma o médico.
Ricardo beija suavemente meus lábios, a emoção é tão grande que perco as palavras.
一 Nossos amor se dividiu em dois, nossos meninos serão muito amados. 一 Diz e
confirmo.
一 Estou muito feliz. 一 Secamos as lágrimas, focados em vê-los novamente, é a
melhor sensação do mundo presa em meu peito.
一 Passarei mais algumas vitaminas que você precisa continuar tomando e lembre-se,
agora se consultará três vezes por mês até o nascimento, quero acompanhá-los de perto.
一 Não a deixaremos faltar nenhum dia. 一 Afirma papai.
CAPÍTULO 48

Os relâmpagos clareiam o quarto, os galhos rasurando o vidro produzindo ruídos rasos.


As árvores sacolejando com as rajadas de vento, respingando as gotas de chuva fina no vidro. O
ambiente está gelado; Chiara murmura de olhos fechados, a cabeça em movimentos
desordenados, está tendo pesadelos. Quase todas as noites preciso abraçá-la e fico em alerta
quando sei que está sonhando com aquele cara, com o pavor que sentiu nas mãos dele.
Abraço-a, acariciando sua barriga, está enorme, mais três meses correram após
descobrirmos o sexo dos bebês, os dias têm passado rápido e a cada noite os pesadelos
aumentam. Está chegando o momento de eles nascerem, falta pouco, e mesmo que ela negue,
está assustada. Um pedaço de nós fora do corpo que poderia sofrer por nossas escolhas do
passado. Nunca fui um cara vingativo, mas ele eu mataria, e talvez seja o fim que ela precise.
Antes vivia atormentada pela imagem da Caroline, e agora um novo rosto a assombra na
escuridão e não permitirei que continue sofrendo, tendo que torcer para a justiça não falhar e o
deixar livre. Juliano nunca esquecerá o que passou, a cadeia não transforma almas perversas
como a dele em uma pessoa melhor, na verdade, deteriora a sanidade. A claridade da tempestade
me permite vê-la, o suor escorrendo em suas têmporas. Beijo seu rosto, ela sibila e começa a
acordar, piscando lentamente os olhos.
一 Está tudo bem, minha cerejinha, estou aqui. 一 Ela agarra o meu corpo se enfiando
em meu peitoral, então puxo as cobertas, cobrindo-a até o pescoço.
一 Foi um sonho curto, não era nada. 一 Mente, ela é péssima em mentir.
Com a mão esquerda aliso seus cabelos até que durma novamente. O ciclo é sempre esse,
antes era uma vez na semana, e agora todos os dias. Nunca gostei de agir fora da lei, mas preciso
que alguém mate o Juliano, o problema é que ele está protegido dentro daquelas paredes.
Termino de preparar o café, acrescento na xícara da Chiara o leite de amêndoa e Rico
puxa a banqueta, se apoiando na ilha.
一 Chiara ainda não acordou? O que está acontecendo? Ela sempre gostou de levantar
cedo.
一 Não, levarei na cama para acordá-la com calma. Os pesadelos aumentaram.
一 Droga, eu quis matar esse cara desde o início, o que ela passou foi traumatizante, por
sorte a Chiara sempre foi muito forte, um pouco dessa força veio do acompanhamento que fez
por nove meses após a reabilitação com a psicóloga.
一 Preciso que fale com o Will, veja se ele pode fazer algo a nível militar.
一 Tem certeza?
一 Sim, os bebês irão nascer, não quero que ela fique sem dormir, com o pavor de um
dia aquele cara aparecer, a maneira como ele a levou do hospital, como a deixou para morrer
queimada, queria que sentisse o mesmo.
一 Sim, eu vivi para ver meu irmão almofadinha querendo matar alguém.
一 Cala a boca 一 Sorrimos.
Rico me ligou ontem com um pedido específico de eliminar o Juliano. Não tenho filhos,
mas se tivesse, faria o mesmo. Estou na base, de olho nas missões e nos resultados, no entanto,
pensando em uma solução, afinal, o cara está preso, é praticamente impossível matar alguém
dentro de uma cadeia, a menos que faça parte do lado negro da força, o que não é o meu caso.
一 Will, a Dote te mandou uma mensagem, por favor, leia! 一 Avisa Janaina.
一 É uma confirmação de que posso matar vários filhos da puta que estão na minha
mira? Se for, eu leio!
一 Seria o paraíso! Mas não, é algo que saiu nos jornais hoje!
一 Interessante, fiquei curioso! 一 Abro a mensagem de Dote e são várias matérias de
uma apreensão de drogas.
一 Traficante novo na área! Vão me mandar para essa missão. Quer apostar quanto?
一 Não faço mais apostas, Senhor! 一 Sorrimos.
一 Se me mandarem para essa, você vai comigo.
一 Odeio lidar com máfias, você sabe!
一 Isso aqui não é um parque de diversões, soldado! 一 Ela morde o lábio inferior,
diminuindo os olhos, mirando meu rosto.
Meu celular começa a tocar e confiro a tela intrigado.
一 O que ele quer agora? Só pode ser merda. 一 Atendo. 一 Não é só porque você é o
intocado, que tenho que fazer favores para você!
一 Você me deve, Will, ou já esqueceu que um dia salvei sua vida? Quero você aqui na
capital ainda hoje! Seja rápido!
一 Droga, esse é o último favor que faço para você! Não trabalho com mafiosos, quando
saiu, deixei bem claro minha posição.
一 Engraçado, o Governo trabalha com mafiosos, então, automaticamente, você também.
Eu já disse, seja rápido! 一 Blake[3] desliga a ligação e olho atentamente para a Janaina.
一 Quem era?
一 Blake, droga, precisarei ir para a capital e depois para Nova York, ele fica mesclando
nesses dois pontos.
一 Blake Barbieri Lodge? O negociante de armas que ninguém pode colocar a mão?
一 O próprio!
一 Como vocês se conheceram?
一 Nós servimos juntos no exército, ele foi para o lado negro da força, mas é um cara de
palavra!
一 De qualquer forma, a Dote ia designar você para essa missão. 一 Olho para o
Notebook e vejo a notícia com mais atenção, lendo em voz alta.
一 Antonella Spinelli é presa por tráfico de drogas, a mercadoria foi encontrada em uma
loja de roupas de marca. 一 Penso por alguns segundos 一 Pelo que me lembro desse
sobrenome, ela é da alta sociedade e os pais são muito conhecidos no mundo da engenharia. Uma
patricinha brincando com drogas? Por quê? Não faz sentido.
一 Às vezes ela gosta de adrenalina!
一 Aposto que a ligação do Blake tem a ver com isso. Vamos, passaremos alguns dias
fora. Avisarei ao Ricardo que estarei buscando uma solução de lá.
一 Por que não conversa com o Ricardo sobre uma troca de favores com o Blake? Esse
cara não pode ser morto, então aposto que mataria o Juliano com facilidade.
一 Já disse que você é do mau e está do lado errado?
一 Não precisamos ser totalmente bonzinhos para estar do lado iluminado da força.
一 Esperta! Ligarei para o Rico e pedirei que fale com o Blake.
QUINZE DIAS DEPOIS
Amar o Ricardo é como ter milhares de fogos de artifícios explodindo dentro do meu
coração: nunca ameniza, nunca perde os calafrios e a mesma selvageria e fome de desejo. Parei
de ir ao banco, faltam 15 dias para os bebês nascerem e minha escolha de substituição foi uma
senhora de 60 anos que estava cansada de ficar em casa e queria algo temporário. Não poderia
deixar Eleonora ou outra mulher jovem perto dele, mesmo sabendo que é louco por mim, o
ciúme peleja em crescer em meu peito.
Hoje é sexta-feira e Ric me convidou para um jantar, mas está uma hora atrasado. Queria
não sentir ciúmes, mas aqui estou, fixada na janela da sala esperando os portões abrirem
enquanto faço carinho na barriga.
一 Chiara, o Ricardo estava em uma reunião, daqui a pouco ele chega. 一 Diz papai, já
tomado banho, sentado no sofá, incomodado, os olhos correndo das páginas do livro que segura
até o meu rosto e sucessivamente.
一 Com quem?
一 Uma contadora recém-contratada de um dos grandes líderes da cidade.
一 Como ela é? Jovem? Bonita? 一 Papai revira os olhos. 一 Tem mais de 30 anos?
一 Vocês dois são tóxicos, mas sim, ela é jovem. 一 Fico tensa. 一 Não sei por que
está tão preocupada; lembre-se que quando o Ricardo tiver 60 e não subir mais, você estará com
43, dá tempo de escolher outro namorado.
一 E por que você acha que ele passou a ir à academia todos os dias? 一 Incrédulo,
papai franze a testa e arregala os olhos.
一 Filho da puta, está se mantendo em forma com medo de ficar velho. 一 Gargalho
alto, sem me conter e minhas bochechas doem.
一 Pare de fazer terror psicológico, nós ficaremos juntos até estarmos velhinhos e
morrer.
一 Droga, quase consegui. 一 Lamenta.
O portão se abre e sobressalto indo em direção à porta. Ric entra, os olhos azuis
percorrem todo meu corpo analisando o vestido vermelho que escolhi.
一 Uau, você está perfeita. Me perdoe, cerejinha, estou atrasado. 一 Ele fica de joelhos
beijando minha barriga com carinho, em seguida se põe de pé e beija meus lábios.
一 Como foi por aqui hoje? — Pergunta.
一 Ela quer saber se ficou conversando com a contadora nova. 一 Provoca papai.
一 Óbvio que não. Seu pai está querendo fazer minha caveira! — Responde indignado
com o irmão.
一 É eu sei, mas fiquei com ciúmes...
一 Adoro quando fica assim… 一 Abraça-me por trás, a barriga tem impedido pela
frente. 一 Prometo que irei te compensar pelo meu atraso. Preciso de um banho, é rápido,
prometo.
一 Você tem cinco minutos.

Minutos depois Ricardo desce as escadas, ele segura minha mão e sinto a mesma euforia
de quando me tocou pela primeira vez. Aquela emoção inexplicável que perdurou por horas em
meu corpo, corroeu minha moralidade e nos fez desvanecer no escuro e o nosso amor proibido
ser forjado em cada rastro ilícito que deixamos marcados em nossos corpos. Os lábios carnudos
sorriem, admiro o contorno dos músculos dos braços da camisa social branca até metade aberta
no peitoral, meu estômago pesa, fazendo uma agonia feito fogo flamejar em meu âmago. Ele é
perfeito!
一 Não quero que minha filha chegue tarde, Ricardo! 一 Ordena papai, soando cômico.
一 Pode deixar. sogrinho! 一 Rebate Ric e ele lança de viés um olhar incrédulo.
一 Vão, antes que eu mude de ideia sobre esse relacionamento! 一 Não contemos a
diversão. 一 Sogro? Era só o que me faltava! 一 Saímos.
O trajeto que imaginei ser longo é de apenas uma rua de distância, e todas as dúvidas
invadem minha mente como um denso nevoeiro no inverno. O que fazemos aqui? Que casa é
essa? O que têm lá dentro? Descemos e entramos, o jardim estende-se por entre árvores imensas,
os troncos lenhosos, as luzes deixando o colorido evidente, as flores cobrem o chão, rasteiras, se
esgueirando até nas paredes laterais da casa.
Ricardo tira a chave do bolso, destranca a porta e pisamos na sala ampla. O cômodo é
imenso, todas as paredes frontais são de painéis de vidro, igual nossa casa, conferindo a
integração da natureza com os ambientes. Ricardo me leva ao jardim do lado oposto, onde possui
uma varanda ampla, coberta, com uma mesa de jantar preparada.
一 Que casa é essa?
一 Depois daremos uma olhada em tudo, é de um amigo, ele me deixou usá-la.
一 Uau, é linda, aposto que os outros cômodos são grandes também, a sala principal é
incrível.
一 Você não faz ideia! É enorme, depois usaremos um dos quartos.
一 Você é insaciável, Ricardo Mandolini, se pudéssemos, teríamos uns 10 filhos.
一 Não podemos perder nenhuma oportunidade de nos amarmos. 一 Ricardo puxa a
cadeira para eu me sentar, depois se acomoda ao meu lado.
一 Espero que essa noite seja extremamente mágica para você, assim como será para
mim.
一 Todos os momentos que passo ao seu lado é mágico!
Ele puxa os pratos preparados, e segura levemente a minha mão esquerda, há um brilho
propício em seu olhar, mas quando o gélido das pontas dos dedos tocam minha pele, o encaro.
Os gestos expansivos, a voz grave, a ligeira inquietação das pernas e as linhas verticais da testa
se franzindo. Nossa conexão é transparente, o meu coração ganha um ritmo violento. As
emoções provocando picos indistintos, quase uma explosão de estafa emocional, ele esconde
algo. Eu sinto, está faiscando em meu peito.
一 Você está bem, meu amor? Está passando mal?
一 Não, só estava agoniado por esse momento. 一 Uma luz de alerta pisca na mente.
一 Está me escondendo alguma coisa? Ricardo Mandolini, me fale agora mesmo o que
está acontecendo!
CAPÍTULO 49

Ricardo sopra uma risadinha sibilada, mais prolongada do que o habitual. O suor
brilhando sobre o lábio superior e o rosto enrubescendo enquanto me admira.
一 Por que você acha que está acontecendo alguma coisa?
一 Você parece um peixe fora d'água, pronto para ter um ataque por falta de oxigênio!
Simplesmente por isso!
一 Podemos terminar nosso jantar tranquilos, apressadinha? 一 Meus olhos ficam
marejados, ele nunca atrasa, ele nunca me deixa pensar besteiras, mas hoje ele tem um pretexto,
não é só um simples jantar.
一 Tudo bem. 一 Firmo o garfo na mão direita provando a deliciosa massa italiana. 一
Está uma delícia, meu amor. 一 Meus ombros relaxam, mas estou bagunçada, com infinitos
hormônios empoleirando a razão e agora tem sido assim, em segundos estou em outro cenário
tamborilando reações que nem eu mesma esperava.
O jantar é calmo, gostoso e cheio de olhares. É sublime como o Ricardo converte todos
os meus sentimentos em uma metamorfose de sensações, me fazendo amá-lo poderosamente. O
nosso vínculo é como ser transbordado de paz, aquelas que desfrutamos quando estamos entre a
natureza, ativando as paixões nunca apreciadas antes. Admiramo-nos, preciso dele, o amor dele
me faz mais forte.
Ele é real, mesmo que às vezes me sinta em um sonho e como todo bom sonho existe as
partes que nunca realmente compreenderemos. A nossa foi termos nascido com o mesmo sangue,
embora estejamos prontos para finalmente aceitarmos o destino. Quando me mudei para a casa
do meu pai, jamais imaginei passar por momentos cáusticos como o que experimentei nesses
últimos meses.
Ricardo toma a água tônica com limão, e meus olhos acompanham seus lábios que devem
estar gelados. Aproximo o meu rosto do dele e o beijo. Sim, estão úmidos, a sensação fria instiga
meus instintos. O beijo dele sempre terá o poder de dominar todos os meus sentimentos. As mãos
possessivas sempre serão capazes de controlar os meus desejos. Os lábios devoram os meus em
uma dança gostosa e molhada. Eu ficaria horas só provando o seu beijo e mesmo assim não seria
suficiente, quando o ar se esvai dos nossos pulmões, nos afastamos, em uma atração visual
mútua.
Pego meu copo de suco e experimento, mas engasgo com o sabor, quase o expelindo da
boca. Ele solta uma risada.
一 Suco de tomate? É sério Ricardo? 一 Um bufo de desdém me escapa.
一 Amor, estava pensando nos bebês, eles precisam de todas as vitaminas para crescerem
saudáveis e fortes. 一 Ele sabe me ganhar, seu cuidado por vezes é exagerado, mas amo que se
preocupe.
Solto um sorriso amplo de felicidade, e terminamos o jantar sob uma atmosfera familiar.
É, definitivamente estamos nos tornando maiores, homem e mulher que terão seus filhos e estou
estupidamente feliz. Tenho apenas 19 anos, mas parece que esperei uma eternidade por ele.
Ricardo encosta a cadeira na minha e me abraça. Meu rosto desmancha em seu peito
enquanto os braços me envolvem. Um ar frígido atravessa nossos corpos, minha pele arrepia. Ele
beija o topo da minha cabeça, acariciando os fios dos meus cabelos.
一 Certo, preciso te mostrar uma coisa.
一 O quê?
一 Vem comigo. 一 Ricardo segura minha mão e me conduz para dentro da casa.
Passamos pelo hall de entrada e ele acende todas as luzes, a visão ampla reluz a beleza do
lugar. É superior ao que havia visto quando chegamos. Está com móveis planejados em madeira
natural. Não é uma casa de andares, é extensa, tudo ao redor é transparente pelos vidros, e graças
as luzes verdes do jardim, o lugar parece mágico.
一 Impressionante, seu amigo tem um gosto espetacular! Amo essa arquitetura rústica e
moderna com a natureza. 一 Sorri roçando o nariz na minha mandíbula, subindo na lateral até
os lábios estarem em meu ouvido.
一 Eu me apaixonei por você desde o primeiro dia que te conheci, pelo seu olhar doce e
marcante. Você é tudo que sempre sonhei; uma mulher forte, decidida, que passa confiança
através do olhar, dos gestos exímios. Chiara, você exala poder e fascínio. Hoje estamos
comemorando os poucos dias que faltam para ver os nossos filhos, mas principalmente,
comemorando nosso amor.
Ricardo se ajoelha e tira uma caixa do bolso, exibindo um lindo anel de brilhantes com
uma rubi vermelha única, reluzindo sob os feixes de luz do ambiente. Os galhos das plantas
criam sombras no seu corpo, misturando o branco das luzes com o verde do jardim.
一 Você quer se casar, simbolicamente, comigo, Chiara?
Meu coração se agita com suas palavras, mesmo sabendo que nunca conseguiremos nos
casar legalmente, a sua atitude me deixa emocionada.
一 Sim, meu amor! Você é o homem que escolhi amar para o resto da minha vida. Você
controla meus pensamentos, me encanta e possuímos esse magnetismo que nos conecta em todos
os aspectos. Poderia dizer mil coisas aqui, Ric, e ainda assim não seria suficiente para expressar a
paixão, o amor e a devoção que sinto em meu coração. É claro que eu aceito. 一 Ricardo me
beija, a língua tecendo a minha em movimentos lentos e graduais, e agora consigo entender seu
nervosismo de antes.
一 Nunca houve reunião, certo? 一 Ele me cala, a língua caçando a minha de novo,
devorando com tanto apetite, que acaba com todo meu oxigênio e quase desmaio.
一 Não, nunca houve, estava tentando deixar tudo perfeito para o jantar.
一 Está perfeito, você, os nossos bebês... Estar com vocês é o meu melhor momento.
一 Tenho outra surpresa para você. 一 Meus batimentos aceleram.
一 Outra? Qual é?
一 Essa será nossa casa, eu comprei para começarmos uma família juntos!
一 Está falando sério? 一 Escapo do seu corpo, com passos lentos percorrendo o local,
sigo até os vidros, a grama baixa formando um tapete macio, então imagino nossos bebês ali,
brincando.
Desabrocho cheia de emoções que nunca antes experimentei em meu peito; as lágrimas
de alegria escorrem, e Ricardo as enxuga uma a uma. É considerado imoral estarmos juntos, mas
como ser moral quando a alma fala por nós? É simplesmente impossível.
一 Que possamos viver momentos inesquecíveis aqui dentro! 一 Sussurro beijando-o
com paixão, extremamente feliz por começar a nossa família. 一 Não vejo a hora de você me
comer no quarto novo, na cozinha, nessa sala, no nosso banheiro. 一 Ele me morde na
bochecha.
一 Comerei você até no jardim. Poderá gemer na luz, na escuridão, a hora que quiser.
Cada dia neste lugar tem me levado à ruína. Meses se passaram, e acumulo tanto ódio,
desprezo e desejo de vingança que é difícil vislumbrar um futuro. Perdi tudo que tinha por culpa
da Chiara. Ela deveria ter morrido naquele dia; se tivesse virado cinzas, estaria livre, desfrutando
da minha posição e estaria com qualquer mulher que desejasse. Fui um idiota; se ao menos
tivesse a matado, deveria ter feito isso na banheira.
Ando no pátio externo, o sol forte na pele, evitando olhar para qualquer rosto, apenas
fixando os olhos nos muros altos, pensando em como escapar deste lugar. Dinheiro eu tenho, fiz
minhas economias, uma coisa que a família Mandolini fazia bem era pagar adequadamente seus
funcionários. Preciso tentar encontrar alguém que me ajude a sair daqui.
E se eu falasse com o chefe do pavilhão? Não tenho nada a perder. Aproximo-me do
Barão e do Fênix, que se levantam, ninguém pode ficar tão perto sem permissão. Um grupo de
condenados no lado esquerdo discute com um punhado de cartas de baralho nas mãos.
一 Sem confusão aí, seus merda, se não falo com os de preto para mandar vocês para
solitária! 一 Esbraveja o Barão.
一 Claro, Chefe, fica tranquilo, só estamos conversando!
Um dos agentes se aproxima, analisa o grupo, todos diminuem o volume das vozes e ele
sai andando.
一 O que você quer, filho da puta? Já falei para ficar longe, está querendo morrer?
一 Preciso fugir desse lugar, eu pago bem para me ajudarem!
一 E você acha que é simples assim? Como vamos saber se você não está nos
enganando? 一 Pergunta Barão com ironia.
一 Fale com algum informante que tenha lá fora e peça para ele verificar quem é Juliano
Cárron. 一 Curioso, mira meu rosto, o cenho franzido, os dedos rítmicos batendo contra o muro
lateral.
一 Se for verdade que você tem dinheiro, quanto está disposto a pagar?
一 Pago 20 mil dólares australiano para cada um! 一 Debocha, um bufo irônico ressoa,
sorrindo sarcasticamente.
一 E você acha que sua liberdade vale só essa mixaria?
一 Posso pagar 50 mil para cada e ainda banco o sumiço de vocês! 一 O homem dá um
passo em minha direção, a testa topando com a minha em uma luta de olhar sufocante.
一 Acho bom ser verdade, porque estou doido para matar alguém, e se você estiver
mentindo, será um homem morto.
一 É verdade, eu juro!
一 Confirmarei com minhas fontes e amanhã falamos sobre isso! Se quiser que os planos
deem certo, é melhor ficar pianinho na sua.
一 É bom ser verdade, se não morrerá enquanto dorme. 一 Avisa Fênix.
Os dois desaparecem, meu estômago torcendo em nervosismo, mas acredito que
conseguirei, o dinheiro sempre comprou tudo, não será diferente agora. Espero não me
arrepender de pedir a ajuda desses marginais.

Dois dias se passaram, e a luz da noite entra pela janela minúscula no canto superior
esquerdo da cela. Deito-me no chão frio, sentindo a umidade penetrar na minha pele. Fecho os
olhos, mas não consigo dormir. Então, ouço um assobio que corta o silêncio e me levanto,
olhando através das barras de ferro para a cela ao lado. É o Fênix.
一 Barão mandou dizer que ele já verificou e estamos estudando a melhor forma de
realizar aquela jogada! Precisaremos fazer uma visita à enfermaria amanhã.
一 E quando poderemos fazer nossa jogada juntos?
一 O mais rápido possível!
Sorrio e me ajeito novamente no chão. Os meus dias aqui estão contados, estarei livre em
breve. Um fio de esperança faz o sono vir, então adormeço.
Amanhece, e saio para o pátio interno, entrando na fila para a refeição. Após o café da
manhã habitual, fingimos passar mal e seguimos para a enfermaria. Barão e Fénix deitam na
cama, com semblantes de dor, mas assim que a médica sai da sala para pegar a medicação, eles
se sobressaltam e começam a analisar os pontos fracos do local, enquanto eu me atento a todos
os detalhes da sala. Os agentes penitenciários conversam distraídos entre si.
一 Há uma janela que dá acesso ao muro e também uma grade de ferro que acessa a
tubulação.
Preciso dar o fora daqui, levarei a Chiara comigo quando eu partir, usarei seu corpo e
depois me livrarei dela. Será a compensação por todo sofrimento que tenho vivido. Poderei
finalmente começar uma vida nova em uma cidade perto da fronteira, e quando as coisas se
acalmarem, mudo de país.
Depois de ser atendido, volto para o pátio e após meia-hora Barão e Fénix saem sorrindo.
Eles se aproximam de mim.
一 Muito bem, fugiremos amanhã mesmo.
一 E como vamos sair da cela?
一 Precisará ser durante o dia, pois é quando estamos fora das celas.
一 Ótimo, esta será nossa última noite nesse inferno.
CAPÍTULO 50

Desembarco no aeroporto internacional de Camberra com o Will e encontro Rico e


Ricardo me esperando. Há dois dias me chamaram para resolver um problema que se chama
Juliano.
Parte da minha vida compartilhei com eles, especialmente as experiências do exército.
Servi por 12 anos, segui ordens, destruí vidas no processo, sem remorsos. Eu queria estar lá para
fazer o bem, para proteger meu país, mas o que fiz estava longe disso; apenas assegurava que as
ordens sujas fossem cumpridas. Tenho sangue em minhas mãos, de civis, crianças, pessoas que
não consegui salvar, que o maldito governo não se importava, consideradas a escória do mundo
aos olhos deles.
Usei da persuasão e do meu poder de entrar e sair de um lugar sem ser visto para roubar
informações privilegiadas. Desafiei todos os grandes líderes, desde os de menor até os mais altos
escalões, todos com segredos sujos. Hoje, sou imune e vendo armas para os poderosos.
Utilizei minha escuridão para ser ainda mais corrupto do que aqueles que eu odiava. Já se
passaram cinco anos desde que não encontro os dois que me ajudaram a fugir; eles, é claro,
foram condenados. No entanto, quando me tornei intocável, fiz todas as denúncias e condenações
desaparecerem.
一 Preciso de whisky. 一 Aviso.
一 O homem do mal chegou! 一 Brinca Rico, me dando um abraço, seguido por
Ricardo.
一 Não sou tão mal assim.
一 Vamos para casa, tem whisky lá. 一 Avisa Ricardo.
Will os cumprimenta e todos seguimos até o carro. Sento no banco traseiro e confiro
minha arma.
一 Por que quer matá-lo?
一 Ele sequestrou a minha filha quando ela estava no hospital, fez ela sofrer sem
oxigênio e tocou em seu corpo sem permissão. Por fim, ainda tentou matá-la queimada.
一 Irei gostar de matá-lo, não será uma troca de favor, esse tipo de escória qualquer lado
faz questão de eliminar. Com ele serei o próprio diabo, amanhã ele conhecerá o inferno de Blake
Lodge.
Blake é como um irmão que ganhei na vida. Pedir sua ajuda é algo que faço apenas em
último caso. Hoje, ele é um mafioso indestrutível, mas também obscuro. Assim que entramos em
casa, Chiara se aproxima e o abraça.
一 Filha, acho que não se lembrará do Blake.
一 Claro que me lembro, ele tem uma presença difícil de esquecer. 一 Ricardo revira os
olhos.
一 Você cresceu, garota! Está namorando?
一 Você chegou atrasado! 一 Fala sorrindo, abraçando o Ricardo e Blake me olha
assustado.
一 Pelo visto não conseguiu matar seu próprio irmão e ainda por cima ele deixou um
presente na barriga dela. — Brinca.
一 Infelizmente não consegui.
一 Posso incluir no pacote!
一 Ei, famílias são complicadas. 一 Rebate Ricardo.
一 Não precisa nem de um traidor depois disso, seu próprio irmão Rico?
一 Pois é, não mesmo.
Blake está aqui para algo importante. Papai nunca fala sobre a vida deles no exército e
como tudo aconteceu para que eles desertassem, mas Blake é conhecido em Nova York, embora
pouco visto. Nunca me interessei em entender a relação deles ou em conhecê-lo melhor. O olhar
que ele lança é intenso, como se descobrisse todos os meus segredos sem sequer pronunciar uma
palavra.
一 O que você veio fazer aqui, Blake?
一 Matar o Juliano. 一 Sua confissão faz um nó se formar ao redor do meu estômago.
Deveria não fazer diferença, mas faz. Durante as noites, quase sempre sonho com ele. A
lembrança do fogo, do medo, da sensação destruidora e repugnante que experimentei quando
estava sob sua posse, sim, para ele eu era um objeto, que desejava muito provar.
一 Quero que ele sofra e que nunca mais possa me fazer mal.
一 Fique tranquila, Juliano nunca existiu!
一 Ótimo! Meus filhos logo irão nascer, e não posso permitir que esse monstro tenha a
chance de machucá-los de repente. 一 A frieza do olhar perpassa do meu rosto para o do
Ricardo.
一 Filhos?
一 Gêmeos, para completar! 一 Papai fala.
一 Eu teria o matado!
一 Eu e o Ricardo somos almas gêmeas. 一 Agarro-o.
É difícil suportar a incompreensão das pessoas, por vezes parecemos monstros ao olhos
de todos, mas simplesmente não conseguimos abrir mão do sentimento que criamos um pelo
outro.
一 Em outros tempos eu não acreditaria nessa baboseira de alma gêmea, mas agora é
diferente.
一 Alguém finalmente conquistou o seu coração de pedra? 一 Questiona papai,
franzindo o cenho e Will curva os lábios, querendo sorrir.
一 Uma patricinha, ela está presa, como vocês sabem 一 Diz Will 一 , mas sairá logo,
se envolver com alguém como o Blake tem seus riscos.
一 Antonella é única, por ela mato, morro, enterro, destruo toda terra se for preciso, mas
não estou aqui para falar de mim. Meus homens chegam em pouco tempo. O serviço será rápido.
一 E como você entrará na prisão? 一 Pergunto.
一 Eu posso entrar onde eu quiser, Chiara, mas tenho outra opção em mente. Entrar me
deixaria muito exposto.
一 Blake… 一 chama Ricardo 一 Chiara é a minha fraqueza, faça esse cara sofrer,
quero que agonize até o último minuto.
一 Todos temos fraquezas, Ric, assim como agora tenho a minha. A fraqueza pode ser
nossa ruína, ainda mais se ela for um ser humano.
一 Fico feliz que você também ame alguém agora. Não consigo imaginar uma vida sem
amor, sem a Chiara, sem nossos filhos que estão quase nascendo. 一 Emocionada beijo
docemente o Ricardo e ele passa a mão com carinho na minha barriga.
一 O Ricardo sempre foi um almofadinha mesmo. 一 Provoca Blake, todos sorriem.
一 Bom, vamos, Blake! 一 Chama o Will.
一 Vamos! Aviso quando o serviço estiver concluído! Descansaremos para agirmos
amanhã.
一 Fica aqui em casa! 一 Papai pede.
一 É melhor ficarmos no hotel. Você sabe que há olhos e ouvidos em todos os cantos.
Quanto mais eu ficar longe, melhor, pois assim ninguém vai associar o desaparecimento dele
conosco.
一 Obrigado, Blake por resolver isso para nós. 一 Agradeço 一 Não tenho pena dele,
quero que morra.
一 Ela puxou para você, Rico.
一 Você não faz ideia!
Blake degusta um whisky com eles, conversa por mais alguns minutos, se despede e vai
embora. Subimos para o quarto. Ricardo agarra meu corpo, abraçando-me de lado, a barriga não
nos permite nos abraçarmos como antes, e me aconchego em seu peito.
一 É errado querer que ele morra? Que sofra?
一 Não, ainda mais depois do que você passou. 一 Ricardo coloca a mão em meu
queixo, os dedos em atrito, correndo de leve na mandíbula, contornando-a, e ergue meu rosto,
olhando profundamente nos meus olhos.
一 Ele te deixou sem oxigênio, te sequestrou, tocou em você e quis te matar. Não se sinta
culpada por sentir raiva, ele merece seu desprezo e principalmente a sua revolta. Como
poderíamos ficar tranquilos com nossos filhos? Pensando que ele poderá um dia ficar solto por
aí. Mesmo que cumprisse a pena, não ficaria para sempre naquele lugar. Juliano não é o tipo de
cara que enfrenta seus problemas para melhorar, ele instiga o sofrimento, a loucura. 一 Passo
minhas mãos suavemente nos músculos do seu braço subindo até o seu pescoço.
As pupilas estão dilatadas, concentradas em mim, brilhantes, e é perceptível a raiva que
sente ao ouvir falar do Juliano. Aproximo meu rosto do dele e o beijo. Amo beijar seus lábios
carnudos e macios, me esbaldando na onda de desejo que sempre me castiga quando estamos
conectados. A língua saboreia a minha com calma enquanto minha mão desce em seu peitoral.
一 Preciso comer sua boceta gostosa agora. 一 Morde meus lábios faminto, e escorrego
a mão até seu pau duro, que está apertando a calça, pronto para sair.
Ricardo senta na beirada da cama e fico de joelhos no chão.
一 Cerejinha, assim machucará as pernas.
一 Não me trate como uma idosa, meus joelhos são fortes. 一 Sorri.
Abro o zíper de sua calça e a puxo, tirando-a de seu corpo. Minhas mãos passeiam em
suas pernas torneadas, pressionando com os dedos suavemente o formato dos músculos da coxa
grossa. Chego em seu volume, salivando de apetite, porque adoro chupá-lo. As mãos grandes
dele rastejam em meu rosto, em seguida em meus cabelos, enquanto a expressão em sua face é
de agonia, ele me quer. Provocadoramente seguro nas laterais da cueca, antes de tirá-la, admiro o
contorno do seu pênis no tecido branco, o centro das minhas pernas umedece e minha boca
saliva.
Arranco a peça, seguro firmemente na base do pênis, é encorpado, minha mão não fecha
ao redor, mas aperto um pouco, juntando mais os dedos enquanto ele se contorce, deslizo para
cima, ele pulsa, as veias dilatadas e o pré-gozo reluz na glande.
一 Enfiarei até minha garganta. 一 Ofega, os dedos das mãos comprimindo meus
cabelos.
Inicio os movimentos sincronizados subindo e descendo, assistindo-o semicerrar os olhos
e arquear o dorso. Aproximo minha boca, roçando a língua na cabeça do pênis, consumindo sua
lubrificação que está prestes a escorrer. Ricardo me olha intensamente com a boca entreaberta,
soltando respirações pesadas.
Chiara transpassa a língua na boca, umedecendo os lábios antes de engolir a cabeça do
meu pau com sedução. Ela sustenta o olhar no meu, feroz, gulosa a cada sucção profunda,
fazendo minha ereção bater em sua garganta, estremeço. A maciez dos seus lábios deslizando ao
redor dele causa marteladas em meu peito, tamanha combustão que sobe em minhas pernas.
一 Puta que pariu, que delícia. 一 Meu pau enrijece em tensão.
A pele macia dos seus dedos me excitam enquanto a outra mão acaricia minhas bolas,
dando leves apertadinhas. Enrolo os seus cabelos em minha palma, eufórico, delirando com suas
chupadas violentas e pressiono sua cabeça para engolir mais rápido. Ela enche meu pau de
saliva, engasgando e gemendo, fodendo com o pouco de juízo que ainda tinha para me segurar.
Ela tira o meu pau de sua boca e segurando firme começa a batê-lo na sua bochecha, mas
a mão mantém o ritmo.
一 Safada. Ah, Chiara, que vontade de socar meu pau em você com força e bem gostoso.
一 Quer me comer tio, Ric? 一 Rosno.
Chiara levanta, desce a calcinha nas pernas e depois a chuta para longe. Arranca o
vestido, o corpo dela está mudado, as pernas estão mais grossas, os seios mais cheios e a barriga
redonda, está linda, e carregando os meus filhos. Senta no meu colo, as costas topando meu
peitoral, a bunda esfregando-se em meu pênis, essa posição tem sido difícil de acontecer. Agarro
as laterais de sua cintura, e ela começa a rebolar em cima do meu pau, até que penetre sozinho
dentro dela.
Chiara morde o próprio lábio inferior. Lentamente começa a cavalgar, é tentador e
gostoso admirá-la sentindo prazer. Seguro seus seios firmes e inchados, que agora quase não
cabem em minha mão. Com o polegar brinco com o bico, fazendo-os ficarem eriçados, sei que
ela gosta da sensação, suas expressões, o olhar penetrante, ela adora ser estimulada.
Chiara intensifica as sentadas, meu coração perdendo o ritmo a cada afundada insana e
deslizo uma das mãos até seu clitóris circulando-o suavemente, está extremamente molhada e
murmura. As pernas ficam trêmulas, fazendo tanta força, mas não para, quer mais. Nossas
extremidades em um atrito apertado e quente. Estou a ponto de pegar fogo.
一 Vou te jogar na cama.
一 Não se atreva a me tirar daqui, está tão gostoso.
Solto seu seio e com a mão esquerda ajudo-a, encaixando por baixo do quadril. O corpo
todo se contorce em agonia, meus dedos estão melados com seus fluídos, o clitóris sensível e
inchado de prazer, porque sinto os espasmos da coxa.
一 Ah, isso é tão gostoso, Ric, estou tão sensível, quero gozar. 一 Sussurra e beijo-a.
A musculatura das minhas pernas endurecem, fico eufórico e aflito. Ela não cessa os
movimentos, rebolando freneticamente, pressiono mais os dedos, ela grita, nossos rostos de lado,
e a beijo, a língua gostosa dança sobre a minha em um beijo de tirar o fôlego. Tranco minha
respiração com todo meu corpo em frenesi, os testículos pesados, minha ereção pulsando junto as
paredes quentes de sua boceta e juntos atingimos o limite máximo de excitação, gozando.
Pequenos choques correm em minhas veias e a devoro, não quero parar de beijá-la, eu a amo
tanto, que passaria o resto da vida em um único momento. A chama da paixão nunca irá
diminuir, o desejo nunca deixará de bagunçar nossos sentidos, mas o nosso amor sempre nos
leva a explodir de prazer.
一 Caralho! 一 Sopro anestesiado, com o coração descompassado.
Abraço-a grudando nossos corpos suados, ela suspira, gira o corpo, a barriga quente
encostada no meu abdômen e beijo sua clavícula afundando o nariz em seu pescoço.
一 Chiara, seu cheiro, seu gosto, sua pele e seus olhos azuis me fascinam e controla tudo
em mim. Você sempre será a mulher da minha vida, meu amor, minha amante e minha futura
esposa e mãe dos meus filhos.
一 E sua sobrinha safada. 一 Sorrimos e mordo o lóbulo de sua orelha, ela se arrepia.
一 Não existe um amor mais gostoso do que o nosso.
CAPÍTULO 51

Amanhece, e hoje fugirei desse inferno. Não pensei muito sobre como pegar o dinheiro
ou como pagá-los, mas estar fora desses muros será a parte mais difícil; depois, darei um jeito
neles, até ter o dinheiro em mãos. Bato os dedos nos cabelos, afastando a poeira do chão sujo. As
celas se abrem e sigo para o pátio. Barão e Fênix estão sentados e se aproximam ao me verem
entrar.
一 Muito bem, quanto antes começarmos, melhor. A troca da ronda dos agentes na
enfermaria é a cada uma hora. Teremos cinco minutos para abrir a entrada de ar e depois sairmos
pelo telhado. 一 Explica Barão, e Fênix gesticula as mãos para falar algo.
一 No telhado, ficaremos a um metro do muro e teremos que pular. Tente não cair com
tudo do outro lado e acabar quebrando uma perna. 一 Explica.
一 Temos que cair e parar em cima do muro. Depois, descemos e haverá um parceiro
meu nos esperando. 一 Completa Barão.
一 Tomaremos café da manhã normalmente? 一 Questiono.
一 Não, como ontem passamos mal, ninguém desconfiará que ainda estamos com o
estômago ruim. 一 Barão verifica ao redor e inesperadamente aplica um soco em meu
estômago.
Curvo o corpo para frente, sentindo a dor se intensificar.
一 Você é péssimo em fingir, agora todos acreditarão que está realmente com dor.
Vamos começar o show!
Seguimos até o presídio, com o sol fraco da manhã iluminando os muros de concreto
cerca de uma milha à frente. A extensa planície oferece uma visão ampla de tudo, e o arvoredo
pelo caminho oculta alguns pontos, mas nada que atrapalhe meus planos. Sempre me pedem um
favor e eu cobro por ele, mas não hoje, é pessoal. Rico é um amigo, assim como o Ricardo.
Houve toda aquela confusão de família, mas com eles os laços são definidos; um pode errar, mas
não intencionalmente, e no fundo, conhecemos nossa própria imperfeição e sabemos quando algo
foi feito para se encerrar. Não é o caso aqui, por isso Rico perdoou o irmão.
Os dois são inteligentes, mas optaram por não estar ao meu lado. No entanto, nada
impede que as coisas sejam um pouco diferentes no futuro. Tenho a Antonella para proteger, e
agora entendo a vulnerabilidade de se conectar com alguém e ser capaz de fazer qualquer coisa
por essa pessoa. Quando se olha para a vida, de repente não faz sentido estar sem ela, e tudo
parece superficial e confuso. Somos impulsionados pela adrenalina, pela paixão, e ela é minha
âncora. Encerro por aqui e volto à minha armadura de gelo. Estou sofrendo sem ela, e cada raiva
reprimida será descontada em qualquer um que cruzar meu caminho.
一 Aquele contato que te pedi garantiu o serviço?
一 Claro, disse que devia um favor para você.
一 Na verdade, não devia, quando Rico me ligou, procurei alguma informação bem
podre do diretor do presídio. Esse mundo é feito de ameaças, Will. Descubra os segredos mais
obscuros de alguém que controlará tudo. Vamos aguardar!
Sento no banco de trás enquanto Will se encosta em uma parede próxima, observo cada
detalhe atentamente. No vento que sopra, nos carros que cruzam as ruas, nas pessoas comuns que
passam ao longe. Após uma hora, escuto sirenes soarem e três indivíduos pulam o muro. Todos
correm desesperadamente em nossa direção, e eu pego minha arma, verificando se está
carregada.
Barão para ao lado do carro, o cansaço evidente em seu suor que escorre pelas têmporas,
enquanto se inclina, apoiando as mãos nos joelhos e respirando ofegante. O tal Fênix faz o
mesmo, mas meu foco está em Juliano, franzindo a testa e apavorado, olhando ao redor em busca
de possíveis ameaças. Por fim, Barão recupera o fôlego o suficiente para falar, e eu saio do carro.
一 Aqui está a mercadoria, Blake. 一 Juliano reage, os olhos esbugalhados, a raiva
flamejando quando cerra os dentes ao contrair a mandíbula.
一 O quê? Você me enganou?
一 Cara, o Blake queria você, e se entregássemos, seríamos recompensados. Foi fácil te
enganar, você é burro pra caralho. Acha que é tão fácil assim sair da prisão? Que é só pular os
muros e pronto?
一 Exatamente! 一 Concorda Fênix, sorrindo irônico.
Barão se vangloria, aproxima-se do carro, conferindo e depois curva a sobrancelha com
os lábios torcidos de arrogância.
一 Quem vai nos ajudar a fugir? 一 Questiona.
一 Fugir? Não entendi.
一 Você disse que seríamos recompensados, então com certeza fugiremos.
一 Claro, eu disse mesmo que vocês seriam recompensados e cumpro com a minha
palavra. 一 Ando ao redor deles, analisando-os, segundo as fichas são delinquentes que
trabalham para facções menores, concentradas no próprio país.
Paro na frente deles e aponto a arma para o Barão, encostando-a em sua testa, ele oscila.
Os olhos arregalados, levantando as sobrancelhas enquanto abre levemente a boca com medo.
一 Vocês serão recompensados com uma morte rápida. 一 Atiro, a bala faz a calota
craniana bater contra o peito do Juliano, que estava atrás dele. Fénix tenta correr, mas Will o
segura.
一 Não, Blake, por fav… 一 Antes que ele termine de falar, atiro em sua cabeça, o
sangue respinga no terno do Will, que xinga.
一 Porra, é de marca.
Juliano parece querer correr, seus olhos quase em espasmos, o corpo rígido e imóvel,
preso no mesmo lugar; ele está em choque.
一 Entre no carro. 一 Ordeno. 一 Sua morte não será tão misericordiosa como a deles.
Pedido exclusivo de Chiara Mandolini.
Ele me encara, a expressão se transformando em súplica; ouvir o nome dela o despertou.
一 O quê? A Chiara mandou vocês? 一 Impaciente fecho os punhos e golpeio a cara
dele com um cruzado de direita, virando o tronco e a cabeça para acertá-lo com precisão.
Um grunhido alto escapa de sua boca.
一 Entre no carro! 一 Ele obedece, meus homens, que esperavam no carro de trás,
descem, pegando os corpos para dar um fim a eles.
一 Os agentes penitenciários sairão para começarem as buscas. Vamos!
一 Vamos.
Meia hora depois, chegamos a uma casa afastada da cidade. Juliano permaneceu em
silêncio o caminho todo, com raiva estampada no rosto. Achou que estava livre, que fugiria e
viveria sem pagar pelo que fez. Desço do carro e o puxo pela camisa do uniforme, levando-o
para dentro da casa. É uma casa de madeira, pequena e desgastada pelo tempo, antiga e caindo
aos pedaços. Entramos no quarto, eu o jogo na cama. Ele tenta revidar, mas sou mais rápido e
acerto um golpe em seu pescoço, deixando-o sem ar. Juliano cai na cama e meus homens
algemam suas mãos e pés em cada ponta da cabeceira.
Aproximo-me dele, ele exala ódio, suas narinas se projetando para fora enquanto me
encara. Quanto mais fumega, mais me sinto poderoso, pois me satisfaz ver homens como ele
perdendo a vida e implorando por uma salvação.
一 Não tenho nada pessoal contra você. 一 Afirmo, a feição grosseira surgindo em cada
palavra que falo 一 Normalmente não faço favores para ninguém; troco alianças com benefícios
e cobro por eles. Você é uma exceção à regra. Você sequestrou e deixou a filha de um grande
amigo traumatizada e à beira da morte. Tocou nela sem permissão. Você sequer imaginou o que
ela sentiu?
一 Ela me ama, simplesmente ainda não percebeu! 一 Sorrio ironicamente.
一 Sabe quem ama caras obsessivos como você? A morte. Você nem merece ser
chamado de homem; eu o vejo como uma doença da sociedade que precisa ser eliminada! 一
Dimitri abre minha bolsa, retiro minha faca e me aproximo do Juliano. 一 Não se preocupe, eu
gosto de mutilar pessoas. Deixarei você fraco para que não consiga fugir. 一 Ele nega com
cabeça e se debate.
一 Você não pode me tocar. 一 Agarro seu pé direito com brutalidade e passo a faca no
tendão.
Juliano grita, tremendo o corpo todo e se debate.
一 Não parece que você se importa com permissão, não é mesmo? 一 Ele grita quando
seguro o pé oposto e o corto também.
一 Pronto, agora você não pode fugir.
Passo a faca arrancando as roupas de seu corpo, deixando-o só de cueca. Paro ao lado da
cabeceira e seguro a mão direita, ele tenta movê-la, mas é em vão, então sacode a cabeça com
movimentos bruscos. Seguro o dedo indicador e arranco com um corte seco e firme. Ele berra, o
tórax em uma expansão desordenada, e sigo na sequência, arrancando todos os dedos.
一 Isso é por você ter tocado na Chiara. 一 Rodeio a cama e vou para o lado oposto,
seguro a mão esquerda e já sinto ela estremecer.
O rosto inteiramente suado, vermelho pela dor intensa, e sem delongas arranco os dedos
da mão, ele urina na cama enquanto torce em espasmos, desfalecendo no colchão quando paro e
sento ao seu lado.
一 Agora você sentirá dor; vou arrancar as tiras de pele lentamente enquanto você se
lamenta e se suja todo.
一 Não, não, para, por favor, eu suplico, não. 一 Passo a faca em seu peitoral nos
músculos intercostais, sentindo a textura da carne sendo fatiada.
O sangue escorre, o rosto dele contrai em dor, acoplo a ponta da faca cravando por baixo,
desenhando um quadrado antes de arrancá-lo. A pele arrepiada, o corpo parece convulsionar pelo
excesso de dor, mas continuo. A voz dele gritando ecoa como música. Fatio parte por parte, Will
assiste tudo horrorizado, com a testa e o nariz franzidos, e sua expressão piora quando ele defeca
sobre o colchão.
一 Porra, que nojo!
一 Hoje, Juliano, você descobriu que não passa de um monte de merda. 一 A
consciência dele oscila, está sem forças, a dor é insuportável.
Termino, perpassado a lamina na barra do colchão, limpando-a. Puxo a cueca dele e o
pau fica exposto, está encolhido junto ao corpo, atrofiado pela latência. Com força, puxo seu
pênis apertando-o em minha mão, ele reage gritando descompensado, sacolejando o corpo aflito.
一 Isso é por ter pensado em dormir com a Chiara. 一 Com um único golpe, o arranco
fora.
Deflagra, as pernas batendo-se com tanta força que a cama se move soltando ruídos. Um
grito terrível e prolongado de dor percorre o ambiente, as forças se esvaindo, porque ele se
desmancha sobre o colchão que agora fede, um odor característico de ferrugem impregnado em
minhas narinas.
一 O que você sente agora é uma dor súbita e severa, que pode se estender por toda
parte inferior do seu corpo!
Solto a faca e soco o seu rosto com força e raiva. Minha vontade de desfigurá-lo aumenta
cada vez mais, acerto o anterrosto esquerdo, o direito, a boca, até estar demasiadamente inchado,
e quando ele está derrotado, cheio de sangue, eu paro. Levanto-me, Dimitri entrega uma toalha
com álcool e limpo as mãos. Em seguida, arrumo as mangas do meu terno.
一 Queimem tudo!
一 O quê? Não faça isso comigo, por favor… 一 Suplica, a voz quase um silvo 一 Não,
por favor, eu nunca mais me aproximo da Chiara. 一 Chora ensopando todo o rosto de lágrimas.
Meus homens despejam gasolina pelo cômodo, sob o corpo dele enquanto recolho o que
preciso do chão e enfio na bolsa.
一 Me solta, por favor, me solta! 一 Pego o isqueiro, meus homens se retiram e o Will
acena, saindo em seguida.
Acendo uma chama, analiso-o grunhindo de dor e deixo que caia no chão. O fogo se
espalha inflamando rapidamente até a cama.
一 Nos encontramos no Inferno, Juliano! 一 Ele grita de dor, é horripilante a potência
da voz enquanto derrete no fogo.
Viro as costas e saio. Do lado de fora assisto o fogo queimar tudo. Os gritos duram por
tempo demais, não sinto remorso, nem tristeza. Tudo que faço possui um propósito. E matá-lo
hoje, evitou que ele machucasse a Chiara e os bebês no futuro.
Fico assistindo até tudo virar cinzas.
CAPÍTULO 52

A campainha toca e, ao abrir a porta, me deparo com o Blake e o Will. Chiara e Rico se
aproximam, e observamos atentamente o rosto dele, que permanece impassível, sem expressão
alguma. Chiara leva a mão ao coração, visivelmente tensa. Eu a abraço e percebo sua pele fria.
一 Está tudo resolvido, ele nunca mais será um problema para vocês. 一 Ela suspira
aliviada e Blake puxa a bolsa da mão do Will, retira uma caixa pequena preta e entrega a ela.
Chiara abre, o olhar corre do conteúdo ao rosto do Blake. São vários dedos e estão sujos
de sangue. Will sorri e meus ombros relaxam, nunca mais aquele ordinário chegará perto da
Chiara e nem poderá, no futuro, causar qualquer dano a minha família.
一 É um presente, ele nunca mais poderá tocar em você e em qualquer outra pessoa sem
permissão. 一 Afirma Blake, Chiara fecha a caixa, apertando-a nas mãos, caminha até os
painéis de vidro, admira o jardim e retorna, encarando o Blake com uma expressão severa.
一 Agradeço por matá-lo, não sentirei mais medo do futuro, espero que tenha sofrido
muito quando perdeu cada um deles. 一 Ela balança a caixa.
一 Garanto que nem no inferno esquecerá a dor que sentiu. 一 Conclui ele.
Ela abraça o Blake agradecendo.
一 Vem, tomaremos um whisky. 一 Chama meu irmão.
Blake acompanha-o até o aparador de bebidas acoplado à estante, onde se servem. Chiara
entrelaça sua mão na minha e coloca a caixa no aparador.
一 Queimaremos depois, para não ficar nenhuma prova da morte dele. 一 Diz e eu
concordo.
O seu olhar se fixa em mim, trazendo uma densa sensação de êxito. Somos nós, o nosso
futuro, e faremos isso acontecer.
一 Preciso ir, só passei para dizer que estamos quites. 一 Avisa Blake, bebendo seu
whisky de uma vez.
一 Fica pelo menos até a noite, para comermos juntos, e depois você pode ir.
一 Tudo bem! Só até o horário do voo. Preciso cuidar dos negócios, você sabe como é,
preciso estar perto da Antonella.
一 Podemos aproveitar o sol e entrarmos na piscina. 一 Sugere Chiara.
一 Não gosto de piscinas!
一 Eu topo, e o Blake ama piscina. 一 Provoca o Will.
一 Ótimo! Agora que está tudo resolvido, não precisa ficar no hotel. 一 Completa Rico,
e Chiara aponta o indicador para o peitoral do Blake.
一 Também acho. Então, Blake, você aproveita e toma um banho para se livrar desse
sangue todo. 一 Ele ilustra meio-sorriso de lado, olhando-a de esguelha.
一 O sangue te assusta?
一 Nenhum pouco!
一 Você nunca pensou em trabalhar com armas, Chiara?
一 Não, fica longe da minha filha! 一 Rico esbraveja e sorrimos.
Blake e Will se instalam e acompanho a Chiara até a cozinha.

Confiro a geladeira, puxando tudo que encontro para fazer algo para comermos. Ricardo
me abraça por trás e fecho os olhos, sentindo sua boca beijar minha nuca, transcorrendo até o
ombro direito. As mãos acariciam minha barriga, enquanto esfrega-se em minha bunda.
一 Ajudarei você. Está sentindo a mesma coisa que eu? 一 Movimento a cabeça que
sim antes de sussurrar.
一 Sim, estamos livres.
一 Exatamente.
一 Toda angústia se dissipou, e um novo mundo se abriu para nós. 一 O ar frio da
geladeira me atinge e a fecho.
Ricardo beija meu rosto antes de me soltar e pegar tudo o que está em minhas mãos,
colocando sobre a ilha central. Adoro quando ele fica assim, querendo ser prestativo e fazendo
de tudo para me ajudar.
一 Sabe o que adoraria receber hoje à noite? 一 Questiono, ele arqueia a sobrancelha.
一 O quê?
一 Aquela massagem no meio das pernas que só o seu pau sabe fazer. — Gargalha.
一 Ele já ficou duro só de ouvir suas palavras.
一 Minha bunda também está louca para ser massageada. 一 O rosto dele fica
vermelho, e mira os meus lábios, e sua mente suja está imaginando tudo que fará comigo mais
tarde.
一 Não vejo a hora do dia acabar. 一 Sorrindo sigo até o armário para pegar os
utensílios que iremos usar.
一 Agora, me ajude a fazer uma salada de maionese e uma costela assada.

Após algumas horas, o almoço fica pronto. Blake surge limpo, usando calças e sem
camisa, exibindo diversas tatuagens; aliás, todos eles têm tatuagens, talvez algo da época do
exército. Papai está de bermuda, e Will também, todos sorrindo, e quase posso afirmar que estão
felizes por estarem juntos. Todos se dirigem para a área da piscina, e Ric me ajuda a colocar tudo
na mesa externa para o almoço. Os assuntos se dividem entre acontecimentos do passado e
projetos futuros. É impossível não os admirar; Blake tem uma corpulência fora do comum, o
semblante de homem forte quase o tempo todo em seu rosto, e a aura misteriosa fascina qualquer
mulher. Will é mais velho, com um ar sedutor e cômico que desperta certa curiosidade.
Meu Deus, acho que cheguei ao paraíso e nem me dei conta!
Paro ao lado da mesa e papai me abraça.
一 Acho que precisamos de mais mulheres nessa casa. 一 Provoca ele.
一 Está se sentindo solitária, Chiara? 一 Will pergunta e Ric rebate instantemente, é
possessivo.
一 Respeite minha garota, Will, ou acabo com você.
一 Certo, imagino que Rico como sogro deve estar sendo divertido. 一 Gargalha Will.
一 Sogro do próprio irmão, que merda de rasteira da vida. 一 Instiga Blake e eu queria
não rir deles, mas a expressão séria do meu pai é engraçada.
一 Vocês sabiam que em menos de cinco horas acabaram com duas garrafas de whisky?
Como estão de pé? 一 Indago olhando para os copos em cima da mesa, todos preenchidos com
a bebida.
一 Nosso combustível é whisky e não água, só ele mata nossa sede. 一 Diz Blake. 一
Há quanto tempo não nos reuníamos? 一 Papai pensa, mas é Ric quem responde.
一 Acho que desde que fugimos. Will, vai demorar quanto tempo ajudando o Blake?
一 Mais alguns dias, até a Antonella sair da prisão.
一 Assim que ela estiver livre, pode trazê-la para nos visitar! 一 Afirmo, e Blake encara
o meu tio com ar de zombaria, irá provocá-lo.
一 Se você chegar perto da minha namorada, eu mato você, Ricardo. Anda muito
espertinho para um almofadinha.
一 Eu ajudo com certeza! 一 Falo, fuzilando-o. 一 Ricardo é meu, se olhar, se pensar,
se ousar imaginar outra mulher, desejará nunca ter pecado comigo.
一 Já pensou em entrar para o exército, Chiara? 一 Will questiona, divertindo-se com a
minha fúria.
一 Minha cerejinha, só penso em você. 一 Ric se declara e papai revira os olhos.
Aproximo-me dele e me sento em seu colo, sua mão acariciando minha barriga enquanto
me admira. Somos igualmente possessivos, igualmente dominantes, e não há nada nem ninguém
que possa mudar esse sentimento.
一 Ficarei sozinho nessa casa. 一 Lamenta papai, então aperto seu braço, tentando
consolá-lo.
一 Arruma uma namorada. 一 Sugere Will e Blake limpa a garganta para rebater a fala
dele.
一 O único garanhão aqui é você, que pegou até minha ex.
一 Sou culpado! — Will gargalha.
一 A sua secretária sempre foi apaixonada por você, você é único que não percebe. 一
Revelo ao papai, que nega com a cabeça.
一 Amy? Óbvio que não, é só sexo, como várias outras, não será nada além disso.
一 Pelo amor de Deus, pai, a menos que queira voltar com a mamãe.
一 Sua mãe? Aquela escandalosa? Pelo amor de Deus. 一 Sorrimos.
一 Eu torceria por você e a Amy, ela é louca por você. 一 Afirmo.

O dia passa tranquilamente, e todos nós aproveitamos juntos na área da piscina durante
toda a tarde. Quando a noite chega, Blake e Will se preparam para ir embora.
一 Nos encontramos em breve! 一 Despede-se papai.
Os dois dão um abraço fraternal em todos nós.
一 Preciso ir. Até em breve. 一 Blake degusta de uma última dose de whisky e acena
antes de sair com o Will.
Ricardo alisa meus cabelos e comenta.
一 Blake pode cometer erros, mas nossa amizade é fiel e sólida. No futuro, sei que
poderei retribuir sua ajuda, assim como ele me ajudou hoje. 一 Pulo nos braços dele. 一 Eu e
você, assim que os bebês nascerem, trocaremos nossos votos na praia, o lugar perfeito. 一 Meu
coração acelera ao imaginar o dia em que nossos dois mundos se tornam infinitos.
一 Eu aceito, será perfeito! Eu te amo, e cada batida dos corações dos nossos bebês está
dizendo que somos determinados e que você será o melhor pai do mundo.
CAPÍTULO 53

Passo as mãos na minha barriga enorme, que parece pronta para explodir de amor. As
plantas do jardim do quarto se movem com o vento noturno, mas já não tenho mais a visão do
meu quarto antigo, onde conseguia ver a lua e a rua do segundo andar. Faz uma semana que
decidimos dormir na nossa nova casa, para nos adaptarmos. Com a cesárea, não seria viável subir
escadas várias vezes ao dia.
Há exatamente nove meses, descobri que estava grávida do meu tio Ricardo. Ainda
lembro do cheiro do hospital, das lágrimas de medo engolidas, descendo em minha garganta
como mil agulhas perfurando a pele. Lutamos contra esse amor proibido de forma frenética, mas
ele se espalhou e se disseminou como uma doença contagiosa, sem controle, atingindo
diretamente nossos corações.
Ricardo deita sua cabeça com cuidado no topo da minha barriga, sentindo os bebês
chutarem. Olhar para ele é como ver o mar oculto por uma tempestade pujante, onde os ventos e
as rajadas são bárbaros, mas por baixo, imersa, me tornaria parte deles, porque é aliciante. Ele
mexe tanto comigo que consigo sentir as ondas de sentimentos mudarem constantemente.
Seu sorriso é sempre sedutor e as atitudes carinhosas, mas as notas possessivas,
vulcânicas, continuam ali, flamejando, horas contidas e em outras corrosivas. Ele beija minha
barriga descendo pela lateral chegando na pelve, enquanto as mãos acariciam minha pele lisa e
brilhosa com um cheiro adocicado de amêndoa. Ele levanta o meu vestido, e toca nas coxas, os
dedos grandes dedilhando minha pele, deixando um rastro de fogo por onde passa; queima,
pulsa, e a sensação segue sua fome até a parte interna, quando abre minhas pernas. Os lábios
seguem um caminho delicado até chegar na minha vulva. Ele beija minha boceta, e pequenos
choques e ondas de calor irradiam dos pés à cabeça enquanto a língua circula meu clitóris
totalmente molhado.
一 Ah, meu amor, seu cheiro, seu gosto... Eu amo tanto você! 一 Suga os lábios
vulvares com tanta intensidade que sinto minhas pernas estremecerem.
一 Não para, por favor, isso titio, me chupa, estou tão excitada. 一 Mordisca meu
clitóris, murmuro com o corpo em espasmos de tesão.
Com força, estapeia a lateral de minha bunda, enfio as mãos em seus cabelos apertando
os fios em meus dedos. Os lábios molhados chupando com despudor, jogando meu botão
pulsante demasiadamente para cima e para baixo, e minhas pernas fraquejam pela sensação.
Pressiono a cabeça para que continue, para que esfregue a boca estupidamente habilidosa com
força. Os dedos penetram, em movimentos inicialmente sutis, mas quando os gemidos fluem, ele
acelera, entrando e saindo.
一 Que delícia, você está tão molhada.
一 Podemos fazer amor uma última vez antes dos bebês nascerem? 一 Suplico.
一 Eu estava esperando você me pedir. Eu quero tanto você! 一 Ricardo tira a cueca
com velocidade, o pau duro, as veias dilatadas e a cabeça inchada, faz dois dias que tentamos
evitar, mas não consigo mais, preciso dele dentro de mim.
Ansioso se deita atrás de mim encaixando meu quadril no seu corpo. A única posição
possível hoje. O pau acaricia minha bunda enquanto as mãos me abraçam e o peitoral me engole,
enchendo meus sentidos com seu perfume.
一 Adoro fazer amor de conchinha com você! 一 Puxa o decote do vestido para baixo
expondo os seios e os dedos roçam circulando minhas auréolas rosadas e inchadas.
Ele preenche as mãos com eles, uma por baixo, outra por cima e os aperta enquanto
esfrega a ereção em meu ânus, sedento pelas minhas duas entradas.
一 Droga, eu quero tanto te foder, cerejinha, tem sido uma tortura.
Os lábios deslizam em meu pescoço com beijos quentes e calmos. Empino a bunda para
ele. Ricardo desliza sua mão direita pela lateral do meu quadril até chegar à nádega esquerda,
abrindo as bandas da minha bunda. A respiração ofegante se desmancha em minha nuca quando
penetra em minha boceta, um rosnado baixo ressoando em meus tímpanos e crava bem fundo,
ficando lá dentro por alguns segundos.
一 Não se preocupe, não vou te machucar.
一 Eu quero que me machuque, não tenha dó de mim, quando me foder, seja arrogante.
一 Chiara, você está grávida.
一 Sim, e louca de tesão, enfia no meu cuzinho, por favor, com raiva, igual você faz, eu
adoro a queimação, o calor, estou com saudades, titio, por favor.
一 Droga… assim… 一 Acopla em meu ânus e com um golpe único preenche minha
bunda, sopro um gemido, as contrações em minha vagina amolecem meu corpo.
一 Isso, assim. 一 Ricardo se esfrega em mim, está sedento e geme aflito.
Eufórico, prensa meu quadril no seu e introduz, o controle se esvai, e como um selvagem
toma o meu corpo, arrepios frios correm em minha espinha e sem dó bombeia, batendo o pau
com tanta força na minha bunda que em meu âmago sinto uma chama queimar tudo por dentro,
me deixando totalmente ofegante.
一 Titio, ah, que pau gostoso, me fode, não para!
一 Porra, Chiara, você é tão apertada. 一 Os dedos safados escorregam até meu clitóris
e sem censura me estimula, perco o ritmo do corpo, movendo-me junto com ele, eu sinto tanto
prazer em todas as partes do corpo. Quero gritar quando a efervescência cintila em minha boceta,
minhas pernas tremem, e os seus dedos me castigam, assim como o pau entrando e saindo com
robustez.
一 Vou gozar, ah, meu Deus, não para. 一 Ele mantém o ritmo, todos os meus músculos
rígidos, contraio o abdômen, nada sinto além da explosão em minha boceta quando gozo,
molhando tudo. Os estímulos duplos acabam com qualquer controle, e molho os lençóis com o
squirt.
Ricardo suga minha pele, deixando marcas nos meus ombros enquanto a excitação se
espalha em minhas veias. Afobado, puxa uma toalha de banho fixa na cabeceira e limpa o pau,
ele quer minha boceta, porque não gozou, e adoro quando faz isso, me leva ao delírio e depois
me faz ver estrelas enquanto me come lento.
A cabeça do pênis me invade, centímetro por centímetro, estou tão inchada pelo gozo de
segundos atrás que a sensibilidade faz minhas coxas vibrarem.
一 Está quente, apertadinha e molhada. Não conseguirei não te comer quando sair do
hospital. 一 Sorrio, puxando suas mãos e enfio seus dedos em minha boca, chupando-os,
enquanto inicia os golpes, batendo tão fundo que uma fisgada dolorida surge em meu ventre, mas
não quero que pare, é tão gostoso senti-lo.
A respiração ofegante se desmancha em meus ouvidos enquanto os braços fortes me
apertam. Meu corpo se encaixa perfeitamente no dele, que diminui o ritmo estocando com
carinho, está aproveitando cada sensação, toda paixão e amor, um amor súbito e efervescente.
Meu coração acelera descompassado sendo dominado novamente por uma onda de desejo. Sinto-
me frágil, e ao mesmo tempo quero sua brutalidade, as mãos me prendendo com firmeza
enquanto o polegar brinca com meus mamilos sensíveis, descendo em seguida para o meu
clitóris entumecido, instigando-o. Rosna, o corpo cobrindo o meu, e intensifica as penetrações, o
quadril rígido colidindo é viciante.
一 Vou gozar. 一 Avisa.
一 Eu também, tio Ric, eu te amo. 一 Fecho os olhos, deixando as pontadas de prazer
bater tão fundo que amoleço, sentindo o líquido quente dele me preenchendo.
一 Porra, que delícia.
Ricardo aperta meu botão e ficamos tensos e aflitos enquanto gozando juntos. Quando
termina, sinto-o escorrer pelas minhas vulvas. Ele me aperta em seu abraço e me sinto feliz e
absoluta.
一 Por sorte está grávida, cerejinha. 一 Sopro uma risada tão baixa que soa quase
inaudível.
Minutos depois, recuperados, tomamos um banho juntos e adormecemos abraçadinhos
enquanto ele acaricia minha barriga.
Amanhece e uma pequena fisgada de cólica me faz despertar. Movimento as pernas e
percebo que a cama está encharcada. Ergo a cabeça, apoiando o peso nos cotovelos ao elevar o
dorso. Analiso os lençóis e vejo que minha bolsa estourou. O cheiro de café invade o ambiente;
provavelmente o Ricardo está terminando de preparar o café da manhã. Levanto com cuidado e
me dirijo até a porta para chamá-lo.
一 Amor!
一 Vem tomar café minha, cerejinha. 一 A voz soa de longe.
一 Precisamos ir para o Hospital, a bolsa estourou! 一 Escuto os passos desesperados
chegarem até mim.
Ric me abraça assustado, os olhos correndo do meu rosto ao corpo nu.
一 Está com dor?
一 Um pouco, tomarei um banho rápido para irmos.
一 Eu te ajudo. Enchi a banheira com água quente assim que acordei; deve estar morna
agora. 一 Segura minha cintura, me conduzindo até lá.
Ajuda-me a sentar e, enquanto lavo o corpo, separa as bolsas para levarmos. Quando
termino, me auxilia a sair e enxuga minha pele. Coloco um vestido grande e largo de seda, e
minutos depois estamos no carro seguindo para o hospital.
一 Avisou ao doutor Sanders? — Pergunto.
一 Sim, e ao Rico também. 一 Após dez minutos ele estaciona e seguimos até a
recepção.
Rapidamente sou levada para o centro cirúrgico, troco de roupa e espero deitada, com as
luzes sobre mim e as enfermeiras ao redor, todas paramentadas. A ficha cai: conhecerei meus
filhos hoje. Meu coração bate descompassado, o nervosismo e o medo são desenfreados, minhas
mãos ficam suadas e geladas. Ricardo as segura, apertando com carinho.
一 Você é a mulher mais forte que conheço, não precisa ficar nervosa, meu amor. Não
sentirá dor e daqui a pouco nossos bebês estarão aqui em nossos braços.
一 Pronta para conhecer seus bebês, Chiara? 一 Pergunta doutor Sanders entrando na
sala, pronto para começar.
一 Sim, extremamente pronta.
一 Não se preocupe, será tranquilo e rápido.
Dr. Sanders começa a cirurgia e confere a todo instante os parâmetros e se os bebês estão
bem.
一 Batimentos 120 e temperatura normal, doutor. 一 Avisa a enfermeira.
一 Retirarei os bebês! Escolheram os nomes? 一 Suas palavras dominam minha mente
e me sinto inundada de amor.
一 Sim... 一 Ricardo responde. 一 Dois nomes diferentes, um de origem hebraica, o
Joaquim, e o outro de origem grega, que é Pedro.
Percebo o quanto estive perdida esse tempo todo e agora finalmente encontrei minha
razão de viver. Meus lindos bebês são frutos de um amor puro e verdadeiro. Um amor
devastadoramente proibido que se multiplicou, sobrepondo-se à moralidade. Somos inteiros
agora, e não que não fôssemos antes, mas é uma completude de alma. Acima de qualquer lei,
regras e laços sanguíneos. Meus olhos se enchem de lágrimas e meu coração se aperta ao ouvir o
choro estridente do meu primeiro bebê.
一 Esse será o Pedro Mandolini. 一 Afirma Ricardo, a expressão fixada no pequeno ser
que acaba de mudar nosso mundo.
Quero vê-lo, quero beijá-lo e embalá-lo em meus braços, choro em completa emoção.
一 Ele é perfeito, minha cerejinha.
一 O segundo bebê chegando! 一 Avisa o médico, o choro é mais manso e delicado.
一 Qual o nome do segundo bebê?
一 Esse é nosso Joaquim Mandolini.
Meu coração para por um segundo quando as enfermeiras se aproximam e me mostram
os gêmeos. A pele corada, os olhinhos repletos de lágrimas, os cabelos ralos e ruivos, então
choro esticando a mão para segurar suas mãozinhas.
一 São tão pequenos. 一 Afirmo chorando e Ricardo beija meu rosto.
一 São lindos como você.
一 Os limparemos e logo eles estarão em seus braços. 一 Avisa a enfermeira.
Não consigo fechar os olhos; Pedro e Joaquim estão firmes em meus braços, e o rosto do
Ricardo está colado ao meu. Desde que chegaram, não conseguimos parar de admirá-los. A porta
do quarto se abre, e papai entra, desconfiado, se aproximando lentamente até semicerrar os olhos
ao notá-los. Inesperadamente, vira-se de costas, e o medo me atinge, soltando uma súbita
inspiração. Ricardo se levanta e vai até ele, abraçando-o.
一 Precisa conhecê-los, Rico. Sei que nunca concordou com a nossa relação, mas nossos
filhos não têm culpa de nada.
一 Não, não é isso.
一 O que é então?
一 É que de repente pareceu tão certo ver vocês juntos, que me deixou feliz. 一 Os dois
se abraçam novamente.
一 Amo você, Rico. Não me orgulho de brigar com você, mas ficar com a Chiara nunca
foi um erro. Se eu dissesse que foi, seria porque não valorizo o amor que sentimos. Venha, o
Joaquim e o Pedro querem te conhecer. 一 Papai concorda e juntos se aproximam.
Encaixo-os deitados sobre dois travesseiros e ele os vê.
一 Meu Deus, meus netinhos são perfeitos. 一 Ele faz carinho nos rostinhos,
enfeitiçado.
一 Viu? Meus filhos são lindos, não é só você que fez uma filha bonita.
一 É, mas você fez filhos bonitos na minha filha bonita. Agradeça a mim. 一 Sorrimos.
一 Cadê a mamãe? Achei que ela chegaria com você.
一 Não sei da sua mãe. Ela está em casa há um dia, mas não para lá. Daqui a pouco, ela
deve estar por aqui fazendo um escândalo até te encontrar.
一 Ela deve chegar logo, vocês estão ficando novamente ou algo assim?
一 Não nasci para ficar casado e nem amarrado. Ponto final!
一 Ainda bem que somos diferentes, acabei de ser amarrado para sempre. 一 Diz Ric,
pegando o Pedro e o beijando com carinho, enquanto um aparente sorriso parece surgir na face
angelical. 一 Juro que ele sorrio. 一 Orgulha-se.
Meu pai pega o Joaquim e o embala em seus braços.
一 Não se preocupem, meus netinhos, nós vamos protegê-los de qualquer mal!
Chamaremos o tio Blake e o tio Will, se necessário! 一 Uma batida ressoa na madeira e a porta
abre.
一 Cheguei, filha, cadê os meus netinhos? 一 O vovô vem logo atrás da minha mãe.
一 Também cheguei, minha neta linda!
Os dois me abraçam e, com carinho, cheiram e pegam os bebês no colo. Toda a minha
vida acaba de passar por uma nova metamorfose, e sinto que será repleta de amor.
EPÍLOGO

Não importa o quanto o tempo passe, os sentimentos se movem dentro do nosso coração
como ondas em uma noite de tempestade no mar. Nós nos modificamos, nos tornamos melhores.
O nosso amor vem rompendo o véu da moralidade, desfazendo as teias da aceitação, mudando
tudo em que acredito. Às vezes, me fazendo duvidar de mim mesma, e quero mudar tudo e todos;
outras vezes, me faz querer transmitir o que foi modificado em mim.
Inspiro profundamente, e um turbilhão de pensamentos surge em minha cabeça. Nem
mesmo o sol brilhou mais que os olhos do Ricardo, únicos e penetrantes que, no mesmo instante,
agitaram a escuridão que vivia em meu coração, aquelas águas negras se infiltrando nos
músculos, pulsando em cada batida de solidão.
Vê-lo, senti-lo, foi como se o céu estivesse aqui, e eu pudesse flutuar enquanto a ternura e
o amor passavam pela minha alma. Essa sensação nunca muda, até hoje, agora, juntos sentados
na praia de Avalon Beach, em Sydney.
Os grãos fofos da areia se aderem aos nossos pés e pernas enquanto o pôr do sol se
desenrola como uma aquarela indecifrável. As cores vívidas alaranjadas, com alguns tons
escuros quase vermelhos, se misturam em duas mesclas magníficas. Ricardo segura o Pedro nos
braços, e eu o Joaquim. Aqui, ninguém sabe dos nossos laços sanguíneos, não há julgamentos, e
a liberdade é tão palpável que quero capturá-la, mas se desfaz no ar, junto com as milhares de
partículas salgadas suspensas, se desmanchando em nossas peles.
O aroma ímpar da praia, o som das ondas quebrando-se, o olhar caloroso do Ricardo, os
pássaros suspensos no ar e o céu serão as testemunhas dos nossos votos, aqueles que são
proibidos pelos homens, mas aceitos em nossos corações. Ficamos frente a frente, meu vestido
de renda curto repleto de areia, e a regata preta e a bermuda de algodão dele molhada. É uma
cerimônia íntima e sensual que criamos, sem luxo, apenas com nossos corpos, o amor e nossos
filhos. Tudo reflete muito da nossa relação, da paixão avassaladora que tomou proporções
inimagináveis.
Admiro o céu azul anil, com uma carreira de nuvens escuras e um manto de estrelas
espalhadas, brilhando em pontos distintos enquanto o sol reflete seus últimos feixes luminosos
que parecem dissolver-se no horizonte de água. Nosso olhar se encontra, penetrando em nossas
almas como se uma energia de poeira cósmica nos envolvesse. Mergulho no mar profundo e azul
que existe nos olhos dele, uma imensidão tão vasta e palpável que me afoga por completo e tira
completamente o meu ar.
Lembro-me de tudo, dos nossos olhares famintos, dos nossos toques totalmente em
chamas, do seu sorriso arrebatador, da voz grave sussurrando besteiras em meus ouvidos, e me
lembro principalmente das nossas confissões de amor. Confissões reprimidas, mas que se
tornaram livres para voar.
Ele segura minha mão com carinho, nossos filhos em nosso colo, e não consigo mensurar
o tamanho da felicidade que sinto.
一 Chiara Mandolini, aqui diante da terra, do céu e do mar, quero dizer que serei para
sempre seu. Não podemos nos casar em uma igreja, nem por uma folha de papel, mas podemos
fazer com nossos corações. Eu aceito ser o seu marido, seu único homem, exclusivo, que te
protegerá e te amará até o dia da nossa morte. 一 Meus olhos ficam marejados, e a emoção
parece uma pequena faísca que começa a ganhar cada vez mais intensidade.
一 Ricardo Mandolini, aqui diante de todas as criações de Deus, quero dizer que o nosso
amor pode ser considerado pecado, mas para mim, ele significa tudo, é a minha razão de viver.
Nem todos nasceram para serem morais, para seguir as regras e nunca atravessar os limites;
somos essas almas. Somos aqueles que queimam, que consomem um coração e que se fixam
para sempre na memória, em cada pedaço de nossa carne, em cada osso do nosso corpo. Eu sou a
sua Chiara, e aceito ser sua esposa, amante, sobrinha, a mãe dos seus filhos, e prometo te amar
até a última batida do meu coração e depois, em outras vidas, porque não quero viver outra se
não tiver você.
一 Você é minha nessa vida, e continuará sendo em todas as outras. Eu te amo,
cerejinha.
一 Te amo, titio. 一 Sorrimos.
Ricardo arrasta-se até o meu lado, transpassa os dedos em minha boca, sentindo a textura
molhada do gloss, e seus olhos me beijam antes mesmo de seus lábios. Ele me beija
carinhosamente, enquanto todas as dores do mundo desaparecem.
Somos nós dois, com nossos corações fora do corpo.
10 ANOS DEPOIS

Ando pelo campo entre as folhas e flores do outono espalhadas pelo chão. Agora
moramos bem próximos à Nova York. Quando as crianças fizeram cinco anos, veio a primeira
pergunta difícil: "Mamãe, por que as professoras da escola dizem que o papai é o seu tio? Ele
não é, eu disse para elas". Depois vieram outras: "Mamãe, por que o papai é irmão do vovô? Na
escola, o pai de nenhum amiguinho meu é irmão do avô deles". Foi necessário mudar, dar a eles
um lugar onde ninguém sabe sobre nosso parentesco. Os dias passaram, as horas, as estações, e
consegui deixar tudo no passado.
A mãe do Ricardo, Abby, decidiu se aproximar, e há dois meses as crianças estão se
adaptando a conhecê-la. Joaquim e Pedro têm 10 anos, um é o próprio pai em miniatura e o outro
o próprio avô. A temperatura quente faz meu corpo suar, e chego em casa após uma hora de
caminhada, indo direto para o chuveiro. Nossa casa é de dois andares, imensa, rodeada por um
parque florestal. Hoje é sábado, e Blake nos pediu um favor. Mya ficará em nossa casa, ele e
Antonella precisarão buscar um menino, filho do inimigo deles que será adotado pelos dois.
Termino o banho e desço para pensar no almoço. A campainha toca, e aproximo-me da
porta, abrindo para encontrar o Blake. A casa toda cheira a amêndoa, e não tenho dúvidas de que
o Ricardo está fazendo bolachas. Os gêmeos descem tropeçando nas escadas, e Mya,
desesperada, passa ao meu lado, os cabelos loiros finos esvoaçando, as botas cor-de-rosa sujas de
lama e o vestido preto rodado. Ela corre até eles, abraçando-os. Bate as mãos nos cabelos ruivos
dos dois em provocação, como o Ric faz quando brinca com eles.
一 Esses moleques me darão trabalho no futuro. 一 Blake diz e nego com a cabeça,
gesticulando que entre.
一 Olha, o Pedro é o próprio Ricardo, mas o Joaquim, talvez deva se preocupar, ainda
mais tendo o avô tão desprendido na vida. 一 Sorrimos.
Mya retorna agarrando a barra do meu vestido.
一 Tia Chiara, eu estava com saudades! Sabia que passarei um tempo com vocês?
一 Amarei ter você aqui comigo. 一 Ela corre de volta até eles, e encaro o Blake.
一 Cuidaremos dela, Blake. 一 Afirmo, ele concorda.
Será bom tê-la aqui. Os gêmeos estão de férias da escola, e papai deveria ter vindo passar
uma semana, mas remarcou para a outra semana. Eles sentem muita falta do avô, mas por conta
do trabalho no banco, não dá para ele vir sempre. Ricardo aparece, segurando uma assadeira de
bolachas, deixando-a na mesa para as crianças.
一 Oi Blake, cuidaremos bem dela. Pode ir tranquilo.
一 Bom mesmo, se não mato vocês.
一 Mya, vem se despedir. 一 Ela corre até os braços dele e beija o rosto do Blake com
amor.
一 Amo você, minha pequena, nós voltaremos rápido.
一 Tá bom, papai, eu amo você, fala para mamãe que amo ela também.
一 Pode deixar. 一 Ela beija novamente o rosto dele correndo em seguida para o jardim.
Blake acena se despedindo, é um homem de poucas palavras, mas está bem maleável
após se tornar pai. Desde que estamos próximos, a Mya passou a conviver bastante com meus
filhos, e é lindo ver a amizade entre eles se formando.
Ricardo me abraça por trás beijando minha nuca.
一 E se tivéssemos um novo bebê? 一 Giro o corpo afobada, encarando-o.
一 O quê? Não. Têm os riscos, os gêmeos foi um grande milagre, está arrumando uma
desculpa para praticarmos mais? 一 Ele sorri negando.
一 Chiara dá para contar nos dedos quantos dias não transamos desde que nos casamos.
一 As mãos safadas passeiam no meu corpo. 一 Inclusive, poderíamos aproveitar a cozinha.
一 Mordo os lábios dele que retribui com um beijo intenso.
一 Vamos conferir o que as crianças estão aprontando primeiro. 一 Puxo-o pela mão e
seguimos até o jardim.
As crianças estão correndo e sorrindo. Pedro se aproxima e agarra a perna do Ric.
一 Papai, eu quero ser um mafioso.
一 O quê? 一 Ele arregala os olhos.
一 Olha o que a Mya ganhou do tio Blake. 一 Ele abre a mãozinha e mostra uma bala
de revólver.
一 Blake complicando a nossa vida. — Ric sorri em desespero.
一 Isso… 一 Ric aponta para o projétil 一 É algo que você não precisa pensar agora,
filho, só seja criança, por favor.
一 Papai, você não entende. Eu quero ajudar a Mya quando crescermos. Ela me contou
que o tio Blake está ensinando-a a lutar, e eu também quero aprender.
一 Tudo bem, falarei com o Blake sobre isso. 一 Eufórico ele abraça o pai antes de
voltar correndo para os dois.
一 E é assim que o Blake cobra aquele favor de anos atrás?
一 Diretamente, não, indiretamente, talvez. 一 Sorrimos, e me puxa envolvendo minha
cintura.
一 Quando foi que imaginamos ser tão felizes?
一 Quando te vi pela primeira vez naquele aeroporto!
一 Cerejinha, sei que não somos perfeitos, temos nossos problemas e conflitos, mas sem
você eu viveria meia felicidade.
一 Não existia a possibilidade de vivermos meia felicidade estando tão próximos um do
outro! Nada me afastaria de você!
一 Eu te amo, meu amor! Para sempre, e não importa o quanto esse sempre dure, será
forte e verdadeiro.
一 Eu também te amo. O para sempre existe até nossos corações pararem de bater!
FIM.
AGRADECIMENTOS
Obrigada por chegar até aqui, espero que acompanhar a Chiara e o Ricardo tenha sido
incrível. No fim, para você, o amor estava acima dos laços sanguíneos? Eu tenho as minhas
respostas, e foi incrível ter criado personagens intensos e quase verdadeiros. Quero deixar um
agradecimento especial a todas as minhas leitoras que esperaram comigo, agradeço a minha
família por todo suporte emocional. Para a minha assessora Danielle Oliveira e sua equipe, os
meus mais sinceros “obrigada”, vocês fizeram muito diferença na minha vida. Não deixem de
avaliar, de dar as estrelinhas, vamos levar o surto que é esse livro e a história incrível para muitos
corações. Obrigada por lerem, para minhas leitoras fiéis, agradeço o voto de confiança de sempre
e espero que tenha chegado aqui com a sensação de que querem mais surtos como esse. Quem
não conhece a história do Blake é só seguir para a próxima página onde está fixado cada livro da
série e clicar no link para ler.
Com amor e carinho, Diana Novak.
LIVROS DA SÉRIE SETE DESEJOS

LIVRO 1 – DESEJO INSACIÁVEL


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LIVRO 2 – GRÁVIDA DO BILIONÁRIO INDECENTE


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LIVRO 3 – NOSSA CULPA (Livro do Blake)


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[1]
Significa uma cor que se assemelha ao cinza, ou seja, é uma tonalidade entre o cinza e outra cor, como o azul, por exemplo.
[2]
O “squirting” acontece quando a pessoa tem a sua ejaculação e esguicha líquido ou fluidos da
sua vagina, num momento de prazer.
[3]
Protagonista do livro “Nossa Culpa” que já está disponível na Amazon.

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