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INSTITUTO SUPERIOR MUTASA

DELEGAÇÃO DE CHIMOIO

Ética e Deontologia Profissional

3º Ano ⁄Turma A

Resumo

Docente:

dr. Manuel António Lambo

Estudante:

Inês José Jemusse

LICENCIATURA EM ENSINO DE PORTUGUÊS COM HABILIDADE


EM FRANCÊS

Chimoio, Abril de 2024


Capítulo I:

REGULAÇÃO DOS COMPORTAMENTOS

1. A necessidade de regulação dos comportamentos

Na sociedade actual, fortemente tecnológica e complexa, a infra-estrutura reguladora


dos comportamentos é de extrema importância

A regulação dos comportamentos são essenciais, estes mantém a coesão e integração


social harmoniosas, garantindo que as normas escritas e não escritas ligam os indivíduos
nos vários domínios de intervenção.

Após a inundação de New Orleans devido ao furacão Katrina, houve um colapso das
forças de segurança, hospitais e morgues, levando as pessoas a sobreviver por conta
própria. Grupos armados emergiram impondo a lei das armas, enquanto comunidades
sobreviventes reforçavam o respeito pela propriedade privada. Inscrições como
"Disparamos se aproximarem" foram vistas em algumas quintas, reflectindo a situação
de caos e emergência pós-desastre.

As normas sociais proporcionam ordem, estabilidade e uma identidade socialmente


reconhecida, permitindo aos indivíduos desenvolver projectos de vida e interagir de
forma previsível. A infra-estrutura reguladora dos comportamentos é crucial para a
sociedade, pois cada modo de regulação possui finalidades e dinâmicas distintas que
precisam ser complementares para garantir a eficácia da regulação. A utilização
combinada desses modos é essencial para reduzir comportamentos problemáticos de
forma satisfatória.

2. Modos de regulação dos comportamentos: Clarificação Conceptual

Os modos de regulação do comportamento são variados e podem ser estudados através


de diferentes perspectivas, como psicologia, sociologia e neurociência. Alguns dos
principais modos de regulação do comportamento incluem:

 Ética

A ética é o domínio da filosofia que investiga os princípios que orientam o


comportamento humano, baseando-se na distinção entre o bem e o mal, o correcto e o
incorrecto. Ela promove a autonomia, o juízo pessoal e a responsabilidade do indivíduo,

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sendo uma forma de auto-regulação que busca aperfeiçoar o homem através da acção.
Os princípios éticos são directrizes que guiam o comportamento humano, combinando
uma dimensão teórica (estudo do bem e do mal) com uma dimensão prática (o que se
deve fazer), visando o desenvolvimento humano e a concordância entre acções e
valores. Em suma, se quisermos utilizar uma fórmula:

Fórmula do Comportamento Ético CE =V+R

Em que CE é o Comportamento Ético, V os Valores e R a Racionalidade.

 Moral

A ética e a moral têm raízes etimológicas semelhantes, mas diferem em significado.


Enquanto a moral é um conjunto de regras e valores externos impostos pela política,
religião, filosofia, ideologia e costumes sociais, a ética envolve uma reflexão teórica e
crítica sobre a validade da conduta humana, originando valores da deliberação do
homem. A moral é a aceitação de regras dadas, enquanto a ética é uma análise crítica
dessas regras, sendo uma "filosofia da moral" que promove a autonomia e a reflexão
sobre os valores.

 Costumes

Os costumes são formas de pensar e viver partilhadas por um grupo, baseadas em regras
informais e não escritas que reflectem as expectativas de comportamento do grupo. Eles
se referem a valores compartilhados e usos comuns que resultam da experiência e
história, muitas vezes actualizando os valores sociais. Os costumes são uma forma de
regulação implícita que se desenvolve pela tradição, pressão social, e ameaça de
marginalização em caso de não conformidade, transmitidos oralmente, por mimetismo e
através de instituições sociais, com motivação para adoptá-los incluindo o desejo de
pertença, conformismo, hábito e medo de rejeição.

 Direito

O direito, semelhante à ética, é obrigatório e normativo, regulando as relações humanas


e impondo obrigações nas sociedades democráticas através de leis para garantir a
organização e funcionamento da sociedade. Enquanto a ética é interna e baseada na
consciência, o direito é externo, com estruturas coercivas que sancionam a transgressão
à lei, favorecendo a coexistência entre os indivíduos e gerindo conflitos. Ambos, ética e

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direito, podem colidir ou se sobrepor, e há situações em que comportamentos podem ser
legais e éticos, éticos mas ilegais, ou legais mas eticamente condenáveis.

 Deontologia

A deontologia é o estudo dos deveres profissionais. Baseia-se em códigos específicos


que estabelecem deveres, princípios e normas para os profissionais, muitas vezes com
sanções para os infractores, sendo uma disciplina da ética adaptada ao exercício
profissional.

A ética vai além da deontologia, envolvendo o desenvolvimento de virtudes humanas,


acções racionais, livres e responsáveis, e a prática do bem de forma satisfatória e diária
como parte de um projecto de vida pessoal. A sanção pela violação de normas
deontológicas é essencial para promover um despertar para a ética nas organizações,
especialmente à medida que a pressão dos grupos sociais aumenta para construir uma
sociedade mais solidária, respeitadora dos direitos humanos e amiga do ambiente. A
deontologia determina o dever que regula uma situação, enquanto a ética busca a acção
mais razoável com base em valores partilhados, reflectindo não apenas sobre o meio a
utilizar, mas também sobre o fim a alcançar, com olho nos valores e na tomada de
decisão. O raciocínio ético integra diferentes modos de raciocínio e pode questionar
normas da moral, do direito e da deontologia, contribuindo para uma abordagem mais
abrangente e global na tomada de decisões.

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Capítulo II:

Importância da ética e da deontologia na prática profissional da engenharia.

1. Ética geral e ética profissional


1.1.Ética geral: principais teorias

A ética como ciência normativa dos actos humanos segundo princípios racionais é uma
ética geral que motiva a reflexão sobre aspectos fundamentais da vida humana, baseada
na distinção entre o bem e o mal, o certo e o errado.

Enquanto alguns acreditam que a ética é subjectiva, relacionada a valores pessoais,


outros defendem que deve ter um fundamento objectivo válido para todos, contribuindo
para reforçar a coesão social. A discussão entre objectivismo e subjectivismo remonta
aos Sofistas, Platão e Sócrates, sendo ainda relevantes nos dias de hoje, com diferentes
perspectivas sobre a ética e suas implicações universais.

1.1.1. Os clássicos

A ética como ciência nasceu com o advento das cidades gregas no século V a.C., com
os sofistas, Platão e Aristóteles. Platão enfatizava a rectidão de consciência e a busca do
Bem, Belo e Justo, enquanto Aristóteles defendia que o Bem é relativo e a ética é a
ciência prática do bem, baseada na razão e na busca das virtudes. A escola estóica,
fundada por Zenão de Cício, promovia a vida virtuosa conforme a Natureza e a razão,
enquanto o epicurismo, de Epicuro de Samos, defendia a busca do prazer regida pela
prudência e a vida associal.

1.1.2. Contratualismo (abordagem do bem comum)

O contratualismo é uma abordagem ética em que um conjunto de regras e princípios é


acordado para o funcionamento da sociedade, com filósofos como Hobbes, Locke,
Rousseau e Rawls.

Eles baseiam-se nos conceitos de "estado de natureza" e "contrato social" para


estabelecer relações sociais e éticas entre os indivíduos. A abordagem do bem comum
defende que o bem individual está ligado ao bem da comunidade, com Rawls
enfatizando a importância de garantir a cada cidadão o necessário para alcançar uma

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vida boa, através de "bens primários" naturais e sociais, promovendo uma distribuição
equitativa dos recursos sociais para o benefício de todos.

1.1.3. Utilitarismo (abordagem consequencialista)

O utilitarismo, uma abordagem ética consequencialista, defende que as acções éticas são
aquelas que produzem a maior quantidade possível de bem-estar para o maior número
de pessoas, sendo uma das principais referências da ética económica e social
contemporânea. Esta doutrina sustenta que o objectivo é a maior felicidade e bem-estar
para o maior número, enfatizando as consequências previsíveis das acções e a
maximização do bem-estar individual e colectivo.

No entanto, o utilitarismo não está isento de críticas, como a necessidade de amplo


conhecimento dos fatos, a possibilidade de injustiças para alguns indivíduos e a questão
de se os fins justificam os meios, levantando dilemas éticos sobre as intenções e acções.

1.1.4. Ética baseada em princípios absolutos ou universais (abordagem


universalista).

A ética baseada em princípios absolutos ou universais tem suas raízes na ética kantiana,
que enfatiza a autonomia, a racionalidade e os imperativos categóricos como base para a
acção ética.

Kant defende que a ética é baseada em deveres morais intrínsecos, independentemente


das consequências, promovendo a justiça e a equidade. Esta abordagem contrasta com o
utilitarismo, que foca nas consequências e na maximização da felicidade, levando a uma
dicotomia entre o respeito pelos direitos individuais e a busca pela maior satisfação
global. A reflexão ética é essencial para lidar com dilemas éticos e aplicar os princípios
éticos de forma prática no dia-a-dia, especialmente em profissões como a engenharia.

Na cultura ocidental moderna, os sistemas éticos predominantes são o utilitarismo e a


ética do respeito pelas pessoas, que podem entrar em conflito. Filósofos defendem a
análise de dilemas éticos sob ambas as teorias, destacando a ética do respeito pelas
pessoas sobre o utilitarismo, excepto em casos de violações de direitos com pouco
significado. Além disso, problemas de aplicabilidade e conflitos entre princípios éticos
podem surgir, destacando a importância de treinar a reflexão ética e aplicar os princípios

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éticos na prática, especialmente para os engenheiros na busca das melhores soluções
profissionais.

1.2.Ética aplicada: A ética profissional

A ética profissional é uma ética aplicada que visa aplicar os fundamentos gerais da ética
no contexto das profissões, ajudando os indivíduos a pertencer a um grupo profissional
e a tomar decisões éticas correctas. Ela define padrões de conduta específicos para cada
profissão, auxiliando na distinção e na reputação do grupo profissional. A ética
profissional é essencial para garantir que os membros possam exercer suas funções com
integridade e competência em suas áreas de especialização, subdividindo-se em vários
ramos, como ética médica, ética dos advogados e ética na engenharia.

2. O conceito de ética na engenharia

A ética na engenharia é crucial devido à complexidade das relações dos engenheiros


com diversos agentes, como colegas, gestores, clientes e o ambiente social e natural.

A ética profissional na engenharia é essencial para manter a confiança do público e dos


colegas, garantindo a segurança e o bem-estar do público no exercício da profissão. Os
engenheiros devem tomar decisões informadas, considerando os riscos e as obrigações
éticas para com o público, o empregador e a profissão, mesmo em ambientes onde
factores como orçamentos e prazos apertados podem influenciar as decisões.

A Ordem dos Engenheiros Técnicos (OET) abrange dezasseis especialidades, incluindo


Engenharia Civil, Electrónica, Telecomunicações, Energia, Mecânica, Química,
Informática, Geotécnica, Minas, Agrária, Aeronáutica, Ambiente, Alimentar,
Segurança, Protecção Civil, Geográfica, Transportes, Industrial e Qualidade. Os
engenheiros, através de suas criações, transformam o mundo real, adoptando uma visão
teórico-prática que os torna não apenas "animais racionais", mas também "animais
técnicos" que constroem e enfrentam novos desafios.

A maioria dos engenheiros trabalha para terceiros, o que pode gerar conflitos entre a
lealdade ao empregador e a obrigação de serviço e protecção do público. Não é
aceitável argumentar que o engenheiro é apenas um elo distante nas decisões e acções,
pois isso seria renunciar à reflexão moral. As associações profissionais desenvolveram

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códigos de conduta para orientar os engenheiros nesses dilemas éticos, representando
um consenso sobre os valores profissionais a serem seguidos.

3. Valores profissionais e códigos de ética e deontologia

Os códigos de ética e deontologia nas associações profissionais de engenharia


formalizam regras para orientar e controlar o comportamento dos profissionais,
mantendo a coesão do grupo e definindo compromissos de acordo com princípios éticos
universais. Esses códigos têm valor jurídico e visam evitar problemas éticos, conferir
identidade à profissão e gerar confiança na sociedade. Apesar de fornecerem
orientações, os códigos não resolvem todos os dilemas éticos, sendo essencial que os
valores sejam internalizados pelos profissionais para orientar autonomamente seu
comportamento.

Michael Davis, um filósofo da ética na engenharia, destaca a importância de obedecer


aos códigos deontológicos, incentivando os engenheiros a cumprir e a promover esses
códigos. Ele aponta quatro razões principais para os engenheiros apoiarem os códigos
deontológicos, incluindo a protecção dos profissionais e das pessoas próximas, a criação
de um ambiente de trabalho ético e a prevenção de questões éticas que possam causar
constrangimentos. A análise dos códigos deontológicos de várias associações
profissionais de engenharia revela a importância de valores como segurança,
honestidade, competência e respeito, tanto a nível moral geral como profissional
específico.

4. Deontologia do engenheiro técnico

A Ordem dos Engenheiros Técnicos (OET) estabelece normas deontológicas no seu


Estatuto, aprovado pela Lei n.º 47/2011, que abrangem direitos e deveres dos
associados.

A deontologia do engenheiro técnico inclui tanto os deveres quanto os direitos, sendo


crucial para o prestígio da classe o cumprimento rigoroso dos deveres e o exercício
pleno dos direitos. As normas deontológicas são divididas em dois grupos principais: os
relacionados com os direitos e deveres para com a Ordem e os deveres profissionais.

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4.1.Direitos e deveres para com a Ordem

Os direitos e deveres para com a Ordem são regidos pelos artigos 51° a 54° do Estatuto.
Os membros efectivos têm direitos como participar em actividades, eleger e ser eleitos.
Enquanto os deveres incluem cumprir o Estatuto, desempenhar funções, colaborar com
comissões e pagar quotas.

Os membros estudantes têm direitos limitados, como participar em actividades, e devem


colaborar nas actividades da Ordem, conforme estabelecido nos artigos 53° e 54°.

4.2.Deveres profissionais

Os deveres profissionais dos engenheiros técnicos são definidos nos artigos 55° a 58° do
Estatuto, abrangendo quatro categorias principais. Estes deveres incluem obrigações
para com a comunidade, a entidade empregadora, o cliente, no exercício da profissão e
entre os próprios engenheiros técnicos. As regras visam orientar o comportamento do
engenheiro técnico em diferentes papéis, como profissional liberal, empregado, gestor e
dirigente, destacando os princípios fundamentais da boa conduta.

4.2.1. Deveres para com a comunidade


a) Desempenhar com competência as suas funções, contribuindo para o
progresso da engenharia técnica

O engenheiro técnico, ao agir com competência, contribui para o progresso da profissão


e para o desenvolvimento económico e social, resolvendo problemas práticos e
complexos, melhorando produtos e processos. É fundamental que o engenheiro técnico
conheça e respeite a legislação relevante para a sua área, como o registo correcto no
livro de obra, garantindo a veracidade das informações. Além disso, a competência
inclui o desenvolvimento profissional contínuo, encorajando a partilha de conhecimento
e a participação activa em associações profissionais e instituições de ensino para
promover a excelência no trabalho e no sector da engenharia.

b) Defender o ambiente e os recursos naturais

Os engenheiros têm a responsabilidade de utilizar os seus conhecimentos de forma


socialmente responsável, protegendo o ambiente e contribuindo para o bem-estar
humano. Isso implica a utilização sustentável dos recursos, a minimização dos impactos
ambientais e a consideração dos benefícios económicos e sociais. Ao enfrentar projectos

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com questões ambientais, os engenheiros devem integrar considerações técnicas,
económicas e sociais, reconhecendo a complexidade e desafios éticos envolvidos na
tomada de decisões. A análise custo-benefício pode ser útil, mas não é suficiente, pois
questões ambientais envolvem valores que vão além dos custos económicos, exigindo
uma abordagem mais abrangente e ética.

c) Garantir a segurança do pessoal, dos utentes e do público em geral

A segurança é uma preocupação central para os engenheiros, sendo uma obrigação


social primordial que ultrapassa as responsabilidades legais. Os engenheiros devem
garantir que os produtos e processos que desenvolvem não coloquem em risco a saúde e
o bem-estar do público, seguindo padrões de engenharia reconhecidos e procedimentos
de controlo de qualidade. Em situações extremas de má utilização da tecnologia, os
engenheiros podem denunciar práticas perigosas, mas essa prática deve ser excepcional
devido aos riscos associados e à possibilidade de efeitos contrários.

d) Procurar as melhores soluções técnicas, ponderando a economia e a


qualidade das obras que projectar, dirigir ou organizar

O objectivo da engenharia não é apenas avançar em termos de conhecimento científico,


mas sim encontrar soluções que atendam aos interesses da comunidade no dia-a-dia.
Essas soluções devem equilibrar a viabilidade económica com a qualidade técnica,
minimizando riscos e satisfazendo as necessidades. Esse equilíbrio entre viabilidade
económica e qualidade técnica está relacionado com o dever de garantir a segurança e o
bem-estar do público.

4.2.2. Deveres para com a entidade empregadora e para com o cliente.


a) Contribuir para a realização dos objectivos económico-sociais das
organizações em que se integre, promovendo o aumento da produtividade, a
melhoria da qualidade dos produtos e das condições de trabalho.

Os engenheiros têm o dever ético de contribuir para os objectivos económico-sociais


das organizações, promovendo a produtividade, a qualidade dos produtos e as condições
de trabalho. É essencial que os engenheiros sejam "bons cidadãos organizacionais",
participando activamente na missão e propósito da organização, desenvolvendo
competências técnicas e sociais. Além disso, a inteligência emocional tem sido

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valorizada, pois indivíduos com essa competência são mais aptos a trabalhar em equipas
produtivas, relacionando-se de forma construtiva com eles mesmos e com os outros.

A competência emocional pessoal envolve a auto-consciência, auto-regulação e


motivação, enquanto a competência emocional social abrange a empatia, influência,
comunicação, gestão de conflitos, liderança, catalisação da mudança, criação de laços,
colaboração e cooperação, e trabalho em equipa. É fundamental para os engenheiros
adquirir essas competências para maximizar seu desempenho profissional e contribuir
para o sucesso global da organização, respeitando a ética organizacional, tratando as
pessoas com dignidade e evitando práticas injustas. Mesmo em situações em que o
governo ou outras entidades se comportem de forma antiética, os engenheiros não têm a
obrigação de seguir o mesmo caminho, como exemplificado pelas experiências
científicas sob o regime nazista na Alemanha.

b) Prestar os seus serviços com diligência e pontualidade, de modo a não


prejudicar o cliente nem terceiros, nunca abandonando, sem justificação, os
trabalhos que lhe forem confiados ou os cargos que desempenha

Os engenheiros têm o dever de ser diligentes, o que implica fornecer explicações


necessárias, prestar esclarecimentos, informar sobre novas soluções técnicas e avisar o
cliente se um projecto não tiver sucesso. Devem ser pontuais, cumprindo os termos do
contrato, respeitando prazos e definindo claramente os termos da relação profissional.
Além disso, devem evitar conflitos de interesse, não aceitar remuneração de múltiplas
entidades, nem presentes valiosos que possam comprometer a objectividade, e não
abandonar trabalhos sem motivo justificável, excepto em situações de conflito de
interesses ou incitação a práticas ilegais.

c) Abster-se de divulgar ou utilizar segredos profissionais.

Os engenheiros têm o dever de abster-se de divulgar ou utilizar segredos profissionais,


tratando a informação confidencial com respeito e não a utilizando para benefício
próprio ou de terceiros, se contrário aos interesses dos clientes, empregadores ou
público. Isso inclui não revelar informações confidenciais de clientes ou empregados
sem consentimento, não copiar projectos sem permissão e não procurar emprego
relacionado com projectos actuais sem consentimento. A autorização para divulgar

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segredos profissionais deve vir do cliente, embora em situações de interesse público,
como a segurança das pessoas, essa obrigação possa ser questionada.

d) Fixar uma remuneração adequada ao serviço prestado

Os honorários do engenheiro devem ser justos e relacionados com a natureza dos


serviços prestados, garantindo que o custo dos serviços seja justo e razoável em prol do
interesse público. A fixação adequada da remuneração pode ser desafiadora,
especialmente em áreas sem tabelas de cálculo, o que pode levar a situações éticas
problemáticas como cobranças excessivas ou por defeito, resultando em lucro ilícito ou
concorrência desleal. Para estabelecer honorários equilibrados, o engenheiro deve
considerar parâmetros como o tempo gasto, a dificuldade do trabalho, a situação
económica do cliente e os resultados obtidos, evitando receber retribuições de outras
formas que não sejam honorários previamente acordados.

4.2.3. Deveres no exercício da profissão:


a) Agir sempre com boa fé, lealdade, correcção e isenção

Os engenheiros têm o dever de aumentar o prestígio, honra, integridade e dignidade da


profissão, promovendo uma conduta irrepreensível, sendo objectivos, honestos e
emitindo opiniões fundamentadas no conhecimento adequado. Devem trabalhar com
zelo, dar pareceres objectivos, avisar sobre possíveis consequências se forem ignorados
e evitar a divulgação de informações falsas. Além disso, devem ser dignos e modestos
na promoção do seu trabalho, recusar associações com negócios fraudulentos, evitar
autopromoção exagerada e recusar colaborar em trabalhos com pagamento
condicionado a uma conclusão pré-determinada.

b) Apenas assinar pareceres, projectos ou outros trabalhos profissionais de


que seja autor ou colaborador.

Os engenheiros devem subscrever apenas o seu próprio trabalho, aceitar projectos


adequados à sua qualificação e participar em projectos complexos. Devem reconhecer
sua contribuição nos projectos e não assinar como autores completos se forem apenas
colaboradores, evitando usar sua posição para se apropriar do trabalho de outros.

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4.2.4. Deveres recíprocos entre os engenheiros técnicos
a) Evitar qualquer concorrência desleal

Os engenheiros devem construir sua reputação profissional com base no mérito do


trabalho, evitando concorrência desleal com colegas, não pagando quantias para garantir
trabalhos, negociando contratos de forma justa e honesta, e não aceitando trabalhos que
comprometam seu julgamento profissional. Podem publicitar seus serviços de forma
sóbria, com informações factuais e sem exageros, e devem abster-se de competir apenas
com base na remuneração, evitando trabalhar gratuitamente, excepto em apoio a
organizações sem fins lucrativos.

b) Prestar aos colegas, desde que solicitada, toda a colaboração possível

A solidariedade profissional requer que os engenheiros apoiem os colegas,


demonstrando coesão e empenho no desenvolvimento da profissão. No entanto, esse
apoio deve ser oferecido apenas quando solicitado, evitando intromissões no trabalho
dos colegas sem autorização, o que poderia ser interpretado como falta de respeito pela
autonomia técnica e falta de confiança em suas competências.

c) Abster-se de prejudicar a reputação ou a actividade profissional de colegas

Os engenheiros não devem prejudicar a reputação ou actividade profissional de colegas,


evitando tentar substituí-los em serviços já contratados, solicitar emprego a clientes que
já tenham um engenheiro contratado ou aceitar emprego de clientes com outro
engenheiro trabalhando no mesmo projecto, a menos que o contrato esteja encerrado ou
totalmente pago. É importante respeitar os contratos em vigor e comunicar com
transparência com os colegas em situações de conflito de interesses.

d) Quando chamado a substituir um colega na execução de um trabalho, não o


aceitar sem o informar previamente

Quando um engenheiro é chamado a substituir um colega num trabalho, deve informar


previamente o colega antecessor e certificar-se de que seu contrato está terminado,
esclarecendo com o colega e o futuro empregador a situação contratual e os direitos de
autor. O Estatuto da OET é a principal fonte da deontologia profissional dos
engenheiros técnicos, mas outros diplomas, como o Decreto-Lei n.º 555/99 na área da
engenharia civil, também contêm disposições de carácter deontológico, como o artigo

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10° sobre o termo de responsabilidade, que exige a conformidade com normas legais e
regulamentares, podendo a violação dessas normas ter implicações disciplinares, civis,
criminais ou disciplinares.

5. A responsabilidade disciplinar do engenheiro técnico

A responsabilidade disciplinar dos engenheiros técnicos visa garantir o cumprimento


dos deveres profissionais, sendo regulada pelo Estatuto da OET nos artigos 59° a 75°.
As infracções disciplinares são definidas como violações dos deveres estabelecidos no
Estatuto e nos regulamentos, podendo resultar em sanções disciplinares, penais e civis.
O processo disciplinar é instaurado pelos conselhos disciplinares de secção ou pelo
conselho jurisdicional, seguindo uma série de etapas que incluem instrução, acusação,
defesa, julgamento e notificação das decisões finais.

As penas disciplinares para infracções disciplinares dos engenheiros técnicos incluem


advertência, censura, suspensões de diferentes durações. As suspensões mais longas são
aplicadas em casos mais graves, como negligência grave, afectação da dignidade
profissional ou infracções que constituam crime punível com pena de prisão superior a 2
anos ou reincidência. O processo disciplinar passa por várias etapas, incluindo
instrução, despacho de acusação ou parecer de arquivamento, e pode resultar em
diferentes decisões, como arquivamento, diligências suplementares ou acusação.

As decisões disciplinares são executadas pelo conselho directo nacional, podendo ser
delegadas no conselho directo regional da área onde o arguido tem domicílio
profissional. O cumprimento da pena de suspensão começa no dia da notificação,
excepto se a inscrição do arguido estiver suspensa ou cancelada, nesse caso, começa no
dia seguinte ao levantamento da suspensão ou reinscrição. As decisões disciplinares
podem ser revistas a pedido do interessado com base em novos fatos ou provas, mas a
revisão requer a maioria absoluta dos membros do órgão que proferiu a decisão.

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Capitulo III

DECISÃO ÉTICA

1. Problemas Éticos

Os engenheiros enfrentam diversos problemas éticos ao desempenhar funções de gestão,


o que pode levar a dilemas éticos, como conflitos entre lealdade ao empregador e
obrigações éticas. Estes dilemas podem surgir de problemas de aplicabilidade, onde a
aplicação de princípios éticos é incerta, ou de conflitos entre princípios éticos
incompatíveis, resultando em dilemas éticos.

Ainda, os engenheiros podem enfrentar dilemas éticos ao decidir entre permanecer


numa empresa antiga ou mudar para uma nova, denunciar produtos defeituosos, ou lidar
com pressões do empregador que violam regras de segurança. Questões éticas também
surgem ao decidir sobre patentes, sustentabilidade ambiental, privacidade dos
trabalhadores, aceitação de ofertas de fornecedores, trabalhos de entidades públicas,
autoria de trabalhos colaborativos e alterações não autorizadas em projectos.

É essencial que os engenheiros estejam conscientes desses dilemas e preparados para


resolvê-los, preferencialmente evitando-os, mas abordando-os com consciência e
resolução quando surgirem.

2. Necessidade de um raciocínio ético

Um estudo realizado por Posner e Schmidt, citados por Mercier11, identificou seis
factores principais que estão na origem de comportamentos não éticos, Esses
comportamentos pouco éticos podem ser influenciados pelos superiores, colegas,
práticas éticas da indústria, clima moral da sociedade, política organizacional e
necessidade financeira pessoal. É essencial lidar com dilemas éticos através do
raciocínio ético, avaliando decisões com base em valores partilhados e hierarquizando-
os conforme as circunstâncias. A ética ajuda a interpretar regras, gerir conflitos entre
regras e valores, e antecipar consequências para evitar problemas mais graves.

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3. Guia para uma decisão ética

O processo de decisão ética é essencial para profissionais enfrentando dilemas éticos,


permitindo considerar valores conflituantes e avaliar as consequências das acções.
Engenheiros devem ter habilidades de raciocínio para resolver situações com
responsabilidades conflituantes, diferenciando decisões técnicas de éticas baseadas em
normas profissionais e raciocínio ético. Diversos autores propõem abordagens para
decisões éticas, incluindo testes éticos como o de Blanchard e Peale e questões de
Laczniack e Murphy, que ajudam a avaliar a legalidade, equilíbrio, orgulho na decisão e
outros aspectos éticos.

3.1.Identificar e analisar o problema (Fase I)

O processo de decisão ética começa com a consciência da situação, onde o engenheiro


deve identificar e caracterizar o problema ético, inventariando os elementos
significativos e formulando correctamente o dilema ético. É essencial obter fatos,
considerar as possíveis consequências da acção e respeitar as normas associadas à
decisão para avaliar as responsabilidades. Reunir informações sobre os padrões
aplicáveis ao projecto, como materiais, segurança e impacto ambiental, é crucial para
tomar decisões éticas informadas, neste caso devemos:

 Identificar os principais aspectos da situação, como objectivos, pessoas


envolvidas, desafios e causas, para destacar os elementos de tensão que geram
dúvidas na decisão. O engenheiro deve questionar o propósito de desenvolver
novos materiais e sistemas electrónicos, considerando o impacto das tecnologias
e o risco tecnológico.
 Formular o dilema com base nos elementos identificados, levando a diferentes
soluções possíveis e provocando um dilema ético se as acções planejadas
tiverem consequências positivas e negativas. Identificar as partes interessadas,
suas consequências e ordená-las pela importância no projecto é essencial para
tomar uma decisão ética informada.
 Explicitar a decisão espontânea inicial. Identificar as regras e normas legais,
regulamentares, deontológicas e culturais que regem a situação, avaliando se são
adequadas e, se necessário, promovendo mudanças para resolver dilemas éticos.

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3.2.Reconhecer os valores em presença e identificar opções (Fase II)

Uma vez identificados os objectivos, interessados, fatos e parâmetros do projecto, o


engenheiro deve abordar as questões éticas relacionadas com os impactos nos
indivíduos, sociedade e ambiente ao enfrentar dilemas. É essencial reconhecer os
valores em conflito na decisão, considerando tanto os associados às consequências da
acção quanto às normas que a orientam, para avaliar a importância de cada elemento e
identificar o principal conflito de valores na tomada de decisão. Identificar emoções e
avaliar os valores espontâneos também contribuem para a clarificação dos valores em
jogo, permitindo uma reflexão mais profunda sobre as escolhas éticas a serem feitas.

A associação dos engenheiros alemães (VDI) estabelece que, em caso de valores


conflituantes, os engenheiros devem destacar os valores da humanidade sobre as
dinâmicas da natureza, os direitos humanos sobre a implementação da tecnologia, o
bem-estar público sobre os interesses privados e a segurança sobre a funcionalidade e
lucro das soluções técnicas.

No entanto, a VDI destaca que esses critérios devem ser vistos como indicadores e não
devem ser aplicados de forma dogmática, incentivando os engenheiros a buscar o
diálogo para encontrar um equilíbrio e consenso sobre os valores em conflito.

3.3.Procurar a solução razoável (Fase III)

Nas fases 1 e 2, o engenheiro identifica o conflito de valores subjacente ao dilema ético.


Na fase 3, busca resolver o dilema de forma razoável, escolhendo um valor prioritário,
justificando racionalmente essa escolha com base em teorias éticas, e decidindo a acção
apropriada para equilibrar os valores. O diálogo com as partes interessadas é essencial
para uma decisão ética, integrando conhecimentos técnicos com aceitação social e
facilitando um consenso razoável.

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3.4.Verificar as conclusões (Fase IV)

Para verificar as conclusões antes de agir, é essencial:

 Confirmar cada decisão com o código deontológico para garantir o cumprimento


das responsabilidades profissionais.
 Rever a decisão do ponto de vista dos interessados para avaliar se suas
expectativas foram atendidas e se a explicação é satisfatória.
 Imaginar a decisão publicada num jornal e reflectir se seria aceitável para a
família, amigos e se seria considerada sábia e informada, permitindo viver com
ela.

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