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FACENS- Fichamento e

Resenha critica
Aluna: Maria Eduarda Pires
Texto: O fim do classico, o fim do começo, o fim do fim.
Autor: Peter Eisenman
Disciplina: Teoria e Historia da Arquitetura IV

-Desde o século XV, a arquitetura tem sido influenciada por três ideias principais:
representação, razão e história. Essas ideias persistiram apesar da mudança de estilos
como classicismo, modernismo e pós-modernismo.
 Representação: busca materializar o significado.
 Razão: codifica a verdade.
 História: resgata a eternidade na mudança.
-Essas ideias formam uma continuidade no pensamento arquitetônico, caracterizado
como clássico. No século XX, percebemos que mesmo a arquitetura moderna segue
essas mesmas ideias, mostrando que o "clássico" é um sistema de relações que se
manteve intacto por séculos. A arquitetura, ao buscar o que é atemporal, significativo e
verdadeiro, pode ser chamada de "clássica".
-A primeira "ficção" na arquitetura é a representação. Antes do Renascimento, havia
uma congruência entre linguagem e representação, onde o significado era autoevidente
nas construções, como nas catedrais românicas ou góticas. No Renascimento, a
arquitetura começou a representar construções antigas, tornando-se uma simulação
(representação de representações).
-No final do século XVIII, o relativismo histórico mudou essa visão, deslocando a
busca pela verdade para fora da representação e dentro dos processos históricos. As
ordens clássicas, antes paradigmáticas, passaram a depender de sua historicidade.
-A arquitetura moderna tentou se libertar dessa ficção renascentista, propondo que a
arquitetura deveria expressar sua própria função e não representar outra arquitetura. Isso
levou à ideia de que a forma segue a função, introduzindo a abstração como meio de
"honestidade" na representação. Elementos arquitetônicos, como uma coluna sem base
ou capitel, foram vistos como formas mais verdadeiras de sustentação, distantes dos
ornamentos clássicos.
-A arquitetura, desde o início do século XX, passou por uma transformação
significativa com o advento do modernismo. Os arquitetos modernos buscaram
substituir as antigas ordens clássicas por uma nova abordagem centrada na
funcionalidade e na ausência de ornamentos. Eles acreditavam que um edifício deveria
expressar sua função de forma direta e clara, sem a necessidade de adereços
decorativos.
-Os modernistas tinham a intenção de representar o "realismo" por meio de edifícios
funcionais. No entanto, essa tentativa foi, na verdade, uma nova forma de ficção. Assim
como o Renascimento criou simulacros das antigas construções clássicas, a arquitetura
moderna criou uma nova simulação ao elevar a função a um status de origem e verdade
absoluta.
-A arquitetura funcionalista, promovida pelos modernistas, acabou sendo mais uma
solução estilística baseada em um positivismo técnico-científico. Eles acreditavam que a
forma deveria seguir a função, mas, na prática, isso resultou em uma nova estética que
também fazia referência a um conjunto de pressupostos — desta vez relacionados à
eficiência e à tecnologia.
-Por exemplo, as casas projetadas por Le Corbusier, que lembram navios ou aviões,
demonstram que, apesar de parecerem "objetivas" e funcionais, elas ainda estavam
imersas na tradição referencial clássica, apenas reinterpretada.
-No pós-modernismo, houve uma tentativa de romper com essa ficção modernista. O
arquiteto Robert Venturi diferenciou dois tipos de construções: o "pato" e o "galpão
decorado". Um "pato" é um edifício cuja forma exterior revela sua função interna,
enquanto um "galpão decorado" é um edifício que funciona como um outdoor,
comunicando uma mensagem acessível ao público, independente de sua função interna.
-Os pós-modernos, como Robert Venturi, falharam ao distinguir entre a arquitetura
como mensagem e a arquitetura como realmente é. Venturi comparou o Palácio dos
Doges, que ele chamou de "galpão decorado", e a Biblioteca Marciana, que ele
qualificou como "pato". Esta comparação obscurece uma diferença crucial: o Palácio
dos Doges não representa outra arquitetura; seu significado está nas próprias figuras. Já
a Biblioteca Marciana, embora pareça um "pato" devido ao uso de ordens clássicas, na
verdade, representa uma arquitetura anterior.
-Venturi preferia o "galpão decorado", mas falhou em perceber que, na época de
Sansovino, a repetição das ordens clássicas tinha significado porque ainda definia o
clássico. Hoje, repetir essas ordens não tem significação, pois os valores que
representavam estão obsoletos. Segundo Baudrillard, um signo começa a simular
quando a realidade que ele representa está morta. Assim, quando a realidade é apenas
simulação, a representação perde seu significado original e torna-se também uma
simulação.
-A segunda "ficção" na arquitetura pós-medieval é a razão. Enquanto a representação
simulava o significado do presente com referências ao passado, a razão buscava simular
a verdade através da ciência. Esta ideia se fortaleceu no século XX e atingiu seu auge
durante o Iluminismo.
-Antes do Renascimento, a origem e seu significado eram vistos como auto-evidentes.
Com a perda desses valores, a arquitetura começou a buscar suas origens em fontes
naturais, divinas e em geometrias antropomórficas. A crença era que a origem ideal
continha o propósito do objeto e buscava harmonia entre suas partes e o todo.
-No Iluminismo, a arquitetura procurou um processo racional para criar formas,
afastando-se da ordem divina e focando na razão secular. Jean-Nicolas-Louis Durand
exemplificou essa mudança, substituindo ordens formais por formas-tipo e soluções
racionais. A função e a técnica se tornaram novas fontes de origem.
-Com o tempo, a razão começou a questionar a si mesma, revelando-se como uma rede
de argumentos e métodos de persuasão, e não como portadora de uma verdade absoluta.
A crise da razão mostrou que tanto a análise quanto a lógica dependiam de uma fé
subjacente, tornando o conhecimento uma forma de religião.
-A arquitetura clássica, baseada em origens auto-evidentes, é mais uma reafirmação do
que uma representação. Isso mostra uma nostalgia por um conhecimento seguro e uma
crença na continuidade do pensamento ocidental. Com a razão e a análise substituindo a
evidência imediata, a busca pela verdade passou a exigir constante comprovação,
esgotando o atributo clássico da verdade.
-Antes de meados do século XV, a percepção do tempo era não-dialética, ou seja, não
havia um conceito de progresso no tempo. A arte, incluindo a arquitetura, era vista
como algo intemporal e não precisava justificar-se pelo passado ou pelo futuro. Na
Grécia antiga, por exemplo, a arquitetura era divina e natural, criando uma identidade
entre o templo e o deus.
-A partir do século XV, a ideia de uma origem temporal introduziu a noção de passado,
interrompendo o ciclo eterno do tempo. Isso trouxe consigo a consciência de um tempo
progressivo e dialético, onde a história começou a ser vista como um processo de
mudanças contínuas. No século XIX, essa visão evoluiu para a ideia do Zeitgeist, o
"espírito da época", que postulava uma relação inerente entre a história e suas
manifestações arquitetônicas.
-O movimento moderno rejeitou os valores eternos da arquitetura clássica e se
concentrou em refletir o espírito do seu tempo, propondo uma nova estética baseada na
contingência e atualidade. No entanto, ao focar no Zeitgeist, os modernos acabaram por
criar uma nova forma de continuidade histórica, ao invés de uma ruptura verdadeira.
-No final do século XX, a retrospectiva sobre o modernismo revelou que tanto a
arquitetura clássica quanto a moderna foram, em essência, simulações de valores
extrínsecos. Essa realização trouxe à tona a necessidade de questionar a autoridade
histórica e a verdade do Zeitgeist.
-As "ficções" na arquitetura são, na verdade, simulações. Diferente da ficção, que
admite sua natureza fictícia, a simulação tenta representar a realidade como se fosse
verdadeira. Na arquitetura, isso levou a uma fixação excessiva na representação:
colunas que parecem árvores, janelas que imitam vigias de navios, etc. Estes elementos
se tornam sobrecarregados de significado.
-A simulação da razão na arquitetura se baseia na busca clássica pela verdade. Segundo
Heidegger, o erro acompanha a verdade e pode revelar verdades escondidas. Assim, a
arquitetura clássica, sem perceber, baseou-se em uma leitura errônea, tratando a lógica e
a dedução como verdades universais, quando na verdade essas eram simulações de
valores externos.
-A história, especialmente no movimento moderno, é vista como reflexo do Zeitgeist, o
espírito da época. A arquitetura moderna tentou se distanciar do passado, mas acabou
criando outro conjunto de preferências estéticas. A ideia de refletir o Zeitgeist tornou-se
uma nova forma de simulação histórica.
-Diante dessas simulações, surge a necessidade de uma arquitetura "não-clássica". Esta
não é simplesmente o oposto do clássico, mas algo de natureza diferente. A arquitetura
não-clássica deve evitar os valores tradicionais de representação, razão e história,
propondo um novo caminho.
-Características do Não-Clássico:
 Arbitrariedade e Intemporalidade: A arquitetura deve ser intemporal e arbitrária,
não presa a valores históricos ou universais.
 Dissimulação vs. Simulação: Ao invés de simular a realidade, a dissimulação
reconhece a diferença entre realidade e ilusão. A arquitetura não-clássica finge
ser algo que não é, mas de maneira consciente, como uma máscara que esconde
o que está por trás.
 Autonomia Arquitetônica: A arquitetura deve ser lida como um texto, uma
manifestação de si mesma, sem tentar refletir valores externos.
O fim do começo:
-Na arquitetura, a noção de uma origem do valor implica uma condição prévia antes
que o valor seja atribuído. É importante reconsiderar as origens tradicionais da
arquitetura, que a associam a causas específicas, para permitir novas interpretações. A
ideia de começar do presente, sem necessariamente atribuir um valor à condição atual.
-Essa abordagem sugere que a arquitetura pode começar de forma arbitrária e ficcional,
sem estar vinculada a valores predefinidos. Ao rejeitar a ideia de origens a priori, abre-
se espaço para conceber origens arbitrárias, sem valores universais predefinidos. Isso
implica que as motivações para o design arquitetônico podem levar a resultados
diversos, não necessariamente vinculados a um propósito final preestabelecido.

O fim do fim:
-A ideia do "fim do fim" na arquitetura é um conceito central para compreender a
transição de uma abordagem mais clássica para uma arquitetura mais contemporânea e
inovadora. Quando se trata do "fim do fim", estamos nos referindo à liberdade que a
arquitetura contemporânea tem em relação aos objetivos predefinidos. Antes, havia uma
ideia de progresso linear na história da arquitetura, onde cada projeto tinha como
objetivo alcançar um determinado fim. No entanto, essa concepção está sendo
questionada.
-Ao romper com essa ideia de um fim determinado, a arquitetura contemporânea está se
libertando das restrições impostas por essa visão tradicional. Agora, o processo
arquitetônico é mais livre e aberto a possibilidades diversas. Não estamos mais presos a
uma direção específica ou a objetivos fixos.
-Portanto, ao entendermos o "fim do fim", estamos reconhecendo a natureza mais
fluida e criativa da arquitetura contemporânea. Isso nos permite explorar novas
possibilidades e abrir espaço para uma maior liberdade de expressão na concepção e na
execução dos projetos arquitetônicos.
-O "fim do fim" na arquitetura representa uma mudança fundamental na maneira como
concebemos e representamos os objetos arquitetônicos. Antes, a metáfora na arquitetura
era usada para expressar forças físicas, mas agora estamos explorando a ideia de que o
próprio processo interno da arquitetura pode gerar uma figuração não-representacional
no objeto. Isso nos leva a considerar a arquitetura como uma forma de "escrita", onde os
traços não são interpretados literalmente, mas como indicadores de um processo de
leitura. Essa abordagem nos permite entender a arquitetura como um texto a ser lido e
interpretado, não apenas decodificado, e nos possibilita explorar novas formas de
expressão e interpretação na disciplina.
-Na arquitetura contemporânea, estamos desafiando as noções tradicionais de verdade
associadas aos objetos arquitetônicos. Antes, a verdade era entendida como uma
representação de origens racionais ou de um conjunto universal de regras sobre
proporção, harmonia e ordem. No entanto, hoje em dia, decodificar esses objetos não é
mais crucial, pois a linguagem arquitetônica não é apenas um código de significados,
mas sim uma linguagem em si mesma. Ler arquitetura agora envolve reconhecer sua
linguagem e indicativos, em vez de apenas buscar significados explícitos. Propor o fim
do começo e o fim do fim na arquitetura significa abrir espaço para uma nova forma de
invenção, desvinculada de ideais futuros ou passados idealizados. Estamos lidando com
uma arquitetura intemporal, não-representacional e artificial, que desafia noções
convencionais de origem, fim, e racionalidade.
Resenha Crítica
Com a leitura do texto pude entender que, desde o século XV, a arquitetura tem sido
moldada por três ideias principais: representação, razão e história. Essas ideias formam
uma continuidade no pensamento arquitetônico clássico, influenciando diversos estilos
como o classicismo, modernismo e pós-modernismo. A representação que busca
materializar o significado. A razão que codifica a verdade, ea historia que resgata a
eternidade na mudança.
Assim como a sociedade antiga, a arquitetura passou por fases e transformações: No
resnascimento se Inicia a representação de construções antigas, criando uma simulação
de representações anteriores. antes do Renascimento, a congruência entre linguagem e
construção era evidente, como nas catedrais românicas e góticas.
No Século XVIII O relativismo histórico desloca a busca pela verdade da representação
para os processos históricos. As ordens clássicas passam a depender de sua
historicidade.
A Arquitetura Moderna: Rompe com a ficção renascentista, propondo que a arquitetura
deve expressar sua própria função. Introduz a abstração como meio de "honestidade" na
representação (a forma segue a função).
Exemplos: colunas sem base ou capitel, formas mais verdadeiras de sustentação sem
ornamentos clássicos, ja que agora esses ornamentos não condizem mais com a nossa
sociedade.
Na Arquitetura Funcionalista, modernistas substituem ordens clássicas por uma
abordagem funcional e sem ornamentos. Apesar da intenção de expressar o realismo,
criam uma nova forma de ficção ao elevar a função como verdade absoluta.
Exemplo: as casas de Le Corbusier, que lembram navios ou aviões, ainda imersas na
tradição referencial clássica.
O Pós-Modernismo tentava romper com a ficção modernista. Robert Venturi distingue
entre "pato" (forma exterior revela função interna) e "galpão decorado" (edifício como
outdoor, mensagem independente da função). Venturi falhou ao perceber a distinção
entre arquitetura como mensagem e como realidade. Palácio dos Doges (significado nas
figuras próprias) vs. Biblioteca Marciana (representação de arquitetura anterior).
Baudrillard: quando a realidade se torna simulação, a representação perde seu
significado original e torna-se uma simulação.
Com isso, concluo que, a arquitetura, ao buscar o que é atemporal, significativo e
verdadeiro, pode ser chamada de "clássica". O "clássico" é um sistema de relações que
permaneceu intacto ao longo dos séculos, mesmo com a evolução dos estilos
arquitetônicos, porém esse “clássico” passa por alterações ao longo dos anos.

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