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8 Poder Executivo 291
8 Poder Executivo 291
PODER EXECUTIVO
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................................................3
1.1 PODER EXECUTIVO............................................................................................................................3
1.2 PRESIDENCIALISMO..........................................................................................................................5
1.2.1 Características...........................................................................................................................5
2 SUBSTITUIÇÃO X SUCESSÃO......................................................................................................................7
3 AUSÊNCIA DO PAÍS...................................................................................................................................9
4 PROCESSO E JULGAMENTO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA....................................................................10
4.1 PRESIDENTE DA REPÚBLICA.............................................................................................................12
5 CÂMARA DOS DEPUTADOS – FASE DE JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE.........................................................15
6 SENADO FEDERAL...................................................................................................................................16
7 DISPOSITIVOS PARA CICLOS DE LEGISLAÇÃO...........................................................................................21
8 BIBLIOGRAFIA UTILIZADA.......................................................................................................................21
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ATUALIZADO EM 03/03/2023
PODER EXECUTIVO
1 INTRODUÇÃO
O multipartidarismo tem gerado um problema, que foi denominado por Sérgio Abranches de
Presidencialismo de coalizão, no qual são necessárias alianças entre o Poder Executivo e os partidos políticos a
fim de formar uma maioria capaz de dar suporte ao governo.
O papel do executivo é o de fazer cumprir a lei, tal como escrito pela Legislatura e interpretado pelo
sistema judicial.
Quem primeiro distinguiu as funções do Estado foi Aristóteles. No livro “A Política” , descreveu as
funções de fazer normas gerais e abstratas, a função de aplicar estas normas gerais e abstratas ao caso concreto
e a de dirimir conflitos.
Na revolução Francesa e no liberalismo que se seguiu o poder executivo ficava alijado do poder de
legislar, mas foi gradativamente admitido a isto. Hoje existem no Brasil a lei delegada e a medida provisória.
Assim:
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As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de
diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos,
porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do
material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas
jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos
eventos anteriormente citados.
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2.2) O Poder Executivo julga contencioso administrativo. Ex: processo administrativo tributário,
PAD, processo licitatório.
#RECORDARÉVIVER:
SISTEMAS DE GOVERNO
1.2 PRESIDENCIALISMO
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Histórico: tal como o parlamentarismo, o presidencialismo não surgiu de nenhuma criação teórica.
Contudo, ao contrário do parlamentarismo, sua formação não se deu de forma lenta e gradual. Este sistema é
uma criação americana pós-independência.
Grande preocupação com a limitação do poder: procurando evitar a concentração de prerrogativas nas
mãos de um só homem ou um só órgão para que não se tornasse possível o surgimento de um governo tirânico,
contra o povo.
1.2.1 Características
A chefia do Executivo é unipessoal. Esta segunda característica está implícita na primeira. Significa que
cabe unicamente ao presidente da república a fixação de suas diretrizes políticas. Ele tem competência e
liberdade plenas para nomear e exonerar seus ministros, subordinados seus, que lhe auxiliarão no exercício da
presidência. O vice-presidente, eleito conjuntamente com o presidente não tem nenhuma atribuição específica
delineada pela Constituição.
#ATENÇÃO #OBS: DALMO DE ABREU DALLARI, p. 204: referindo-se aos ministros: “mas esse corpo de auxiliares
não é previsto na Constituição e não compartilha da responsabilidade do presidente pelas decisões”; isto é o que
ocorre, em geral, nos Estados (países) que adotam o sistema presidencialista. No caso brasileiro, é diferente: os
ministros são previstos pela Constituição (arts. 87 e 88) e eles são responsáveis por seus atos perante o
Congresso Nacional (arts. 50 e 52 da CF/88).
* A eleição de Presidente e Vice se dá no primeiro domingo do mês de outubro. Eles são eleitos pelo
sistema eleitoral majoritário, pelo qual, valoriza-se o candidato registrado por partido político. O candidato que
tiver o maior numero de votos registrados será eleito. Pergunta-se: em quais eleições adotamos no sistema
eleitoral majoritário no Brasil? Ex: Presidente, Governador e Prefeitos de Municípios com mais de 200.000
eleitores.
*(atualizado em 17/10/2021)
Art. 82. O mandato do Presidente da República é de 4 (quatro) anos e terá início em 5 de janeiro do ano seguinte
ao de sua eleição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 111, de 2021)
1) Absoluto (=com 2º turno de votação): a CF exige, para que o candidato seja eleito, que ele atinja,
no mínimo, a maioria absoluta dos votos válidos. Se, no 1º turno, nenhum dos candidatos atingir
essa maioria, teremos, necessariamente, 2º turno de votação. São eleitos pelo sistema majoritário
absoluto: Presidente, Governador, Prefeito de Municípios com mais de 200.000 eleitores.
2) Simples: a CF se contenta com qualquer maioria. Será eleito o candidato mais votado,
independentemente do percentual de votos. São eleitos pelo sistema majoritário simples: Prefeito
de Municípios com menos de 200.000 eleitores e Senador.
No art. 106, Código Eleitoral, os votos brancos na contagem; contudo, pelo art. 77, CF, eles não são
computados nos votos válidos. Como compatibilizar as duas regras? O art. 106, CE não foi recepcionado pela CF.
Portanto, os votos brancos e os votos nulos não são computados nos votos válidos.
Qual é o prazo máximo para o Presidente e o Vice tomarem posse? Até 10 dias do dia 05/01. Assim, até
o dia 16, um dos dois tem que tomar posse, sob pena dos cargos serem declarados vagos. Quem declara esses
cargos vagos se nenhum dos dois tomar posse? O CN, salvo motivo de força maior. Assim, caso nenhum dos dois
tiverem tomado posse até dia 16 por motivo de força maior, os cargos não serão declarados vagos.
O regime presidencialista brasileiro confere aos parlamentares um poder que vai além da elaboração e votação
de lei e outros atos normativos. Os parlamentares possuem intensa participação nas decisões de governo,
inclusive por meio da indicação de cargos no Poder Executivo. Essa dinâmica é própria do sistema
presidencialista brasileiro, que exige uma coalizão para viabilizar a governabilidade. Trata-se do chamado
“presidencialismo de coalizão”.
Não se pode esquecer, contudo, que a Constituição Federal atribui ao Congresso Nacional competência para
fiscalizar e controlar os atos do Poder Executivo, incluídos os da Administração Indireta (art. 49, X, da CF/88).
Vale lembrar, inclusive, que o Congresso Nacional possui poderes próprios de autoridade judicial quando
instituídas comissões parlamentares de inquérito para apuração de fatos determinados (art. 58, § 3º).
Ademais, para evitar conflitos de interesses, os Deputados e Senadores são proibidos de: a) firmar ou manter
contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública, sociedade de economia mista ou
empresa concessionária de serviço público, salvo quando o contrato obedecer a cláusulas uniformes; e b)
aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam demissíveis "ad nutum",
nas entidades constantes da alínea anterior.
Isso demonstra que os parlamentares devem manter independência em relação ao Poder Executivo para o
exercício de suas atribuições. Nesse contexto, se um parlamentar recebe vantagens indevidas em troca de
sustentação política a um diretor da Petrobrás, isso significa evidente omissão em sua função de fiscalizar a
lisura dos atos do Poder Executivo.
O exercício ilegítimo da atividade parlamentar, mesmo num governo de coalizão, é apto a caracterizar o crime
de corrupção passiva. Esse tipo penal tutela a moralidade administrativa e tem por finalidade coibir e reprimir a
mercancia da função pública, cujo exercício deve ser pautado exclusivamente pelo interesse público. O STF
afastou o argumento da defesa de que se estaria “criminalizando a atividade político-partidária”. Não é nada
disso. A atividade política continua sendo permitida, sendo lícito que partidos políticos apoiem determinada
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pessoa para os cargos de destaque do governo (exs: ministérios, diretorias etc.). O que se está punindo, neste
caso, são atos que transbordaram os limites do exercício legítimo do mandato, ou seja, puniu-se um Deputado
que recebia propina para dar sustentação política a um Diretor de estatal.
Obs: Informação retirada no Informativo Comentado 904 do STF pelo Dizer o Direito2.
2 SUBSTITUIÇÃO X SUCESSÃO
Qual a ordem? Por isso, todos eles devem ser brasileiros natos:
1) Vice;
A sucessão ocorre no caso de vacância definitiva do cargo. Só quem pode suceder o Presidente é o Vice.
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Determinado Deputado Federal integrava a cúpula de um partido de sustentação do governo federal. Como importante
figura partidária, ele exercia pressão política junto à Presidência da República a fim de que Paulo Roberto Costa fosse
mantido como Diretor de Abastecimento da Petrobrás. Como “contraprestação” por esse apoio, o Deputado recebia
dinheiro do referido Diretor, quantia essa oriunda de contratos ilegais celebrados pela Petrobrás. O STF entendeu que esta
conduta se enquadra no crime de corrupção passiva (art. 317 do CP). Obs: foi a primeira condenação do STF envolvendo a
chamada “operação Lava Jato”. STF. 2ª Turma. AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 29/5/2018 (Info 904).
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Se houver vacância do cargo pelo Vice, o Presidente da Câmara ficará provisoriamente no cargo até ser
feita uma nova eleição, para que os eleitos cumpram o término do mandato dos antecessores.
Se a vacância ocorrer nos dois primeiros anos do mandato, a nova eleição será realizada em até 90 dias.
Se a vacância ocorrer nos dois últimos anos de mandato, são convocadas novas eleições indiretas no período de
30 dias. As eleições serão indiretas, e o novo Presidente e Vice serão escolhidos pelo Congresso Nacional. Não
fere a cláusula pétrea do voto direto, pois é uma norma originária.
Os governadores de Territórios também não são eleitos diretamente, são escolhidos pelo Presidente da
República.
#OBS: aquele que assume o mandato nos 02 últimos anos no lugar do Presidente exerce um mandato-tampão,
apenas para terminá-lo.
Art. 81. Vagando os cargos de Presidente e Vice-Presidente da República, far-se-á eleição noventa dias depois de
aberta a última vaga.
§ 1º - Ocorrendo a vacância nos últimos dois anos do período presidencial, a eleição para ambos os cargos
será feita trinta dias depois da última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei.
#OBS: o artigo 81, §1º não é de observância obrigatória, conforme ADI 4198-MC. Ou seja, no âmbito estadual
pode ser criada regra diferente.
#ATENÇÃO
Ofende a CF norma estadual que estabeleça, na hipótese de vacância dos cargos de Governador e Vice, no
último ano do período governamental, a convocação sucessiva do presidente da assembleia legislativa e do
presidente do TJ, para o exercício do cargo de Governador. STF – afronta os parâmetros da CF que exigem a
eleição.
1) Sucessão em sentido restrito: ocorre nos casos de vacância, que é definitiva. Exemplo de vacância:
morte, renúncia, condenação pela prática de crime de responsabilidade.
2ª posição: sim, uma vez que, as condições de elegibilidade para o cargo de deputado federal foram
preenchidos, de forma que exercerá todos os ônus e bônus do cargo.
#OUSESABER: Constituição Estadual pode disciplinar a ordem de vocação das autoridades municipais em caso
de vacância ou impedimento de Prefeito ou Vice Prefeito? Privilegiando a autonomia dos entes municipais, o
STF também entendeu como sendo inconstitucional a disciplina, pela Constituição Estadual, da ordem de
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vocação das autoridades municipais em caso de vacância ou impedimento do Prefeito e do Vice-Prefeito. Segue
o julgado para uma melhor compreensão: SUCESSÃO E SUBSTITUIÇÃO DO PREFEITO E DO VICE-PREFEITO: "Não
cabe, ao Estado-membro, sob pena de frontal transgressão à autonomia constitucional do Município,
disciplinar, ainda que no âmbito da própria Carta Política estadual, a ordem de vocação das autoridades
municipais, quando configuradas situações de vacância ou de impedimento cuja ocorrência justifique a sucessão
ou a substituição nos cargos ele Prefeito e/ou ele Vice-Prefeito cio Município. A matéria pertinente à sucessão e
à substituição cio Prefeito e do Vice-Prefeito inclui-se, por efeito de sua natureza mesma, no domínio normativo
ela Lei Orgânica promulgada pelo próprio Município. Não se reveste de validade jurídico-constitucional, por
ofensiva aos postulados da autonomia do Município (CF, arts. 29 e 30) e da separação de Poderes (CF, art. 22 ele
o art. 95, parágrafo único, 1), a norma, que, embora inscrita na Constituição do Estado-membro, atribui,
indevidamente, ao Juiz de Direito da comarca, que é autoridade estadual, a condição de substituto eventual do
Prefeito Municipal" (STF, ADln 687/PA, Rei. Min. Celso de Mello, Clipping do DJ de 1 0-2-2006).
3 AUSÊNCIA DO PAÍS
Sempre que o Presidente ou Vice-Presidente quiserem se autorizar do país por mais de 15 dias é
obrigado a pedir autorização ao Congresso Nacional.
Art. 83. O Presidente e o Vice-Presidente da República não poderão, sem licença do Congresso Nacional,
ausentar-se do País por período superior a quinze dias, sob pena de perda do cargo.
Trata-se de norma de observância obrigatória pelos Estados e municípios e que deve ser reproduzida
nas Constituições Estaduais e leis orgânicas municipais em razão do princípio da simetria (ADI 3647 e ADI 738).
#ATENÇÃO: O STF não faz referência a essa regra aplicada às leis orgânicas municipais (pois Lei orgânica não
pode ser objeto de ADI).
Essa norma que fala da ausência de 15 dias está relacionada à separação de poderes, por isso ela é de
observância obrigatória. STF diz que as normas referentes à separação de poderes são de observância
obrigatória. Na ADI 738 havia a exigência de autorização para qualquer saída do Governador.
#OUSESABER: Pode a Constituição Estadual exigir autorização da Assembleia Legislativa para que o Governador
do Estado ou Vice possam se ausentar do país? Depende!
*#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STF: A CE/AP trouxe regra dizendo que se o Prefeito ou o Vice-Prefeito for
viajar ao exterior, “por qualquer tempo”, ele deverá pedir uma licença prévia da Câmara Municipal para a
viagem. O STF considerou inconstitucional a expressão “por qualquer tempo”. Essa regra de “por qualquer
tempo” está em desacordo com o princípio da simetria. Isso porque a CF/88 somente exige autorização do
Congresso Nacional se a ausência do Presidente da República for superior a 15 dias (art. 49, III). De igual modo a
Constituição do Estado do Amapá também só exige autorização da Assembleia Legislativa se a ausência do
Governador (ou do Vice for superior a 15 dias (art. 118, § 1º). Logo a exigência de autorização da Câmara
Municipal para que o Prefeito possa se ausentar por períodos menores que 15 dias quebra a simetria existente
em relação ao Governador. STF. Plenário.ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 25/10/2018
(Info 921).
#IMPORTANTE #DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STF: A imunidade formal prevista no art. 51, I, e no art. 86,
caput, da CF/88 não se estende para os codenunciados que não se encontrem investidos nos cargos de
Presidente da República, Vice Presidente da República e Ministro de Estado. A finalidade dessa imunidade é
proteger o exercício regular desses cargos, razão pela qual não é extensível a codenunciados que não se
encontrem ocupando tais funções. STF. Plenário. Inq 4483 AgR-segundo/DF e Inq 4327 AgR-segundo/DF, rel.
Min. Edson Fachin, julgados em 14 e 19/12/2017 (Info 888).
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Antes disso, vale lembrar regras básicas sobre a responsabilidade dos representantes do Poder
Executivo.
O Presidente da República responde a dois tipos de crimes que tem regras específicas: crimes de
responsabilidade e crimes comuns.
São infrações político-administrativas (STF), que só podem ser praticadas por pessoas investidas em
determinadas funções. Não são penais nem civis.
Tem duas penalidades: perda do cargo e inabilitação para o exercício de função pública por oito anos. O
rol do art. 85 (traz alguns crimes de responsabilidade), CF é exemplificativo, devendo estar regulamentado
especificamente na lei. Além destes, a lei pode prever outras hipóteses de crime de responsabilidade.
Art. 85. São crimes de responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição
Federal e, especialmente, contra:
I - a existência da União;
II - o livre exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais
das unidades da Federação;
III - o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais;
IV - a segurança interna do País;
V - a probidade na administração;
VI - a lei orçamentária;
VII - o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
Parágrafo único. Esses crimes serão definidos em lei especial, que estabelecerá as normas de processo e
julgamento.
OBS: Lei nº 1.079/50 – Esse processo e julgamento só podem ser estabelecidos por lei federal, Súmula 722 STF.
#SELIGANASÚMULA: Súmula 722 STF: São da competência legislativa da união a definição dos crimes de
responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento.
A lei prevista no parágrafo único é a Lei 1079/50, que foi recepcionada em parte pela nova CF/88.
Entretanto, a lei não regula todos os 07 incisos do artigo 85. EXEMPLO: “ livre exercício do ministério público”. O
MP não é poder, mas, pelo artigo, tem sua autonomia garantida da mesma forma como se garante a autonomia
dos Poderes Legislativo e Judiciário.
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Os crimes previstos no artigo 85 são regulamentos por Lei Federal (lei 1.079/50), portanto, nenhum
outro ente, a não ser a União pode tipificar as referidas condutas, conforme já decidido pelo STF.
Procedimento:
Qualquer cidadão é parte legítima para oferecer a acusação contra o presidente da república à câmara
dos deputados, pela prática do crime de responsabilidade.
#ATENÇÃO
Segundo a jurisprudência do STF, a competência do Presidente da CD para o recebimento ou não da denúncia
no processo de impeachment contra o Presidente não se restringe a uma admissão meramente burocrática,
cabendo-lhe a faculdade de rejeitá-la, de plano, acaso entenda-a patentemente inepta ou despida de justa
causa, sujeitando a decisão ao controle do Plenário, por meio de recurso.
Até dezembro de 2015, o entendimento doutrinário era o de que se a câmara admitir a acusação, o
senado não poderia emitir novo juízo de admissão. Deve promover o julgamento. Na Câmara, deveria ser
assegurado ao Presidente o direito de defesa, pois quando há autorização, o Presidente é suspenso das suas
funções por 180 dias, bastando que o processo seja instaurado.
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #STF #ATENÇÃO: Todavia, por maioria, o Plenário do Supremo Tribunal Federal
(STF) julgou parcialmente procedente a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 378, que
discute a validade de dispositivos da Lei 1.079/1950 que regulamentam o processo de impeachment de
presidente da República. Com o julgamento, firmou-se o entendimento de que a Câmara dos Deputados apenas
dá a autorização para a abertura do processo de impeachment, cabendo ao Senado fazer juízo inicial de
instalação ou não do procedimento, quando a votação se dará por maioria simples; a votação para escolha da
comissão especial na Câmara deve ser aberta, sendo ilegítimas as candidaturas avulsas de deputados para sua
composição; e o afastamento de presidente da República ocorre apenas se o Senado abrir o processo.
Ao votar na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n.° 378, o ministro Barroso, do
Supremo Tribunal Federal (STF), declarou que a competência do Senado abrange “a realização de um juízo
inicial de instauração ou não do processo, isto é, de recebimento ou não da denúncia autorizada pela Câmara”,
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o que se basearia em três ordens de argumentos: 1) ser essa a única interpretação possível à luz da Constituição
de 1988; 2) corresponder à interpretação adotada pelo STF em 1992, quando do impeachment do presidente
Collor; e 3) tratar-se de entendimento que, mesmo proferido sem força vinculante, foi incorporado à ordem
jurídica.
A partir do que o STF decidiu acima, podemos identificar as seguintes etapas principais do rito do
processo de impeachment3.
#IMPORTANTE #ATENÇÃO: Imagine que foi formulada denúncia contra o Presidente da República por infrações
penais comuns. O STF deverá encaminhar esta denúncia para a Câmara dos Deputados, para que esta possa
exercer o seu juízo político.
É possível que, antes desse envio, o STF analise questões jurídicas a respeito desta denúncia, como a validade
dos elementos informativos (“provas”) que a embasaram?
NÃO. Não há possibilidade de o STF conhecer e julgar qualquer questão ou matéria defensiva suscitada pelo
Presidente antes que a matéria seja examinada pela Câmara dos Deputados. O juízo político de
admissibilidade exercido pela Câmara dos Deputados precede a análise jurídica pelo STF para conhecer e julgar
qualquer questão ou matéria defensiva suscitada pelo denunciado. A discussão sobre o valor probatório dos
elementos de convicção (“provas”), ou mesmo a respeito da validade desses elementos que eventualmente
embasarem a denúncia, constitui matéria relacionada com a chamada “justa causa”, uma das condições da ação
penal, cuja constatação ou não se dará por ocasião do juízo de admissibilidade, a ser levado a efeito pelo
Plenário do STF após eventual autorização da Câmara dos Deputados. STF. Plenário. Inq 4483 QO/DF, Rel. Min.
Edson Fachin, julgado em 20 e 21/9/2017 (Info 878).
O STF decidiu, ainda, que a possibilidade de rescisão ou de revisão, total ou parcial, do acordo de colaboração
premiada de Joesley em decorrência do descumprimento dos deveres que ele havia assumido não tem a força
de fazer com que as provas obtidas a partir deste acordo sejam consideradas imprestáveis. Isso porque a
rescisão ou revisão tem efeitos somente entre as partes, não atingindo a esfera jurídica de terceiros.
Não há direito à defesa prévia antes do recebimento da denúncia pelo Presidente da Câmara,
ou seja, não é necessário ouvir antes o Presidente da República que estiver sendo denunciado.
Caso seja admitido o prosseguimento da denúncia, deverá ser constituída comissão especial
formada por Deputados Federais para análise do pedido e elaboração de parecer.
A eleição dos membros da comissão deverá ser aberta e não pode haver candidatura alternativa
(avulsa). A comissão é escolhida a partir de uma chapa única com nomes indicados pelos líderes
partidários. A votação aberta será apenas para que o Plenário da Casa aprove ou não a chapa única que
foi apresentada.
O Presidente denunciado deverá ter direito à defesa no rito da Câmara dos Deputados. Assim,
depois que houver o recebimento da denúncia, o Presidente da República será notificado para
manifestar-se, querendo, no prazo de dez sessões.
Vale ressaltar, no entanto, que não deve haver grande dilação probatória na Câmara dos
Deputados (o rito é abreviado). A comissão até pode pedir a realização de diligências, mas estas devem
ser unicamente para esclarecer alguns pontos da denúncia, não podendo ser feitas para provar a
procedência ou improcedência da acusação. Isso porque o papel da Câmara não é reunir provas sobre o
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mérito da acusação, mas apenas o de autorizar ou não o prosseguimento. Quem irá realizar ampla
dilação probatória é o Senado.
6 SENADO FEDERAL
Chegando o processo no Senado, deverá ser instaurada uma comissão especial de Senadores
para analisar o pedido de impeachment e preparar um parecer (arts. 44 a 46, da Lei nº 1.079/50,
aplicados por analogia).
Esse parecer será votado pelo Plenário do Senado, que irá decidir se deve receber ou não a
denúncia que foi autorizada pela Câmara.
A decisão do Senado que decide se instaura ou não o processo se dá pelo voto da maioria
simples, presente a maioria absoluta de seus membros.
*(Atualizado em 09/07/2020) Obs. A maioria absoluta é o primeiro número inteiro acima da metade.
Ou seja, se são 81 senadores, devem estar presentes no mínimo 41 Senadores no dia da sessão e,
destes, bastaria o voto de 22 Senadores.
Se for condenada, a Presidente receberá duas sanções: a) perda do cargo; b) inabilitação para o
exercício de funções públicas por 08 anos. Além disso, poderá ser eventualmente denunciado
criminalmente pelo Ministério Público.
Caso seja condenado, quem assume é o Vice-Presidente, que irá completar o mandato (não é
necessária a convocação de novas eleições).
*#ATENÇÃO #DIZERODIREITO4:
O que significa impeachment?
Impeachment é uma palavra de origem inglesa que significa "impedimento" ou "impugnação".
Juridicamente falando, o vocábulo impeachment tem dois significados:
1º) Consiste no nome dado ao processo instaurado para apurar se o Presidente da República, o Governador, o
Prefeito e outras autoridades praticaram crime de responsabilidade. Ex: foi aberto o processo de impeachment
da Presidente Dilma Roussef.
2º) É como se chama uma das sanções (punições) aplicadas ao governante que foi condenado por crime de
responsabilidade. O Presidente da República que é condenado por crime de responsabilidade recebe duas
sanções:
a) A perda do cargo (denominada de impeachment). Ex: os Senadores aprovaram o impeachment do ex-
Presidente Fernando Collor.
b) A inabilitação para o exercício de funções públicas por oito anos.
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https://www.dizerodireito.com.br/2016/08/analise-juridica-da-decisao-do-senado.html
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Significa o impedimento para exercer quaisquer funções públicas, o que abrange a proibição de exercer cargos
públicos efetivos, cargos comissionados, empregos públicos, funções de confiança e, obviamente, cargos
decorrentes de mandatos eletivos.
A chamada "inabilitação para o exercício de funções públicas por oito anos" é o mesmo que suspensão dos
direitos políticos?
NÃO. A pessoa que recebeu a sanção de "inabilitação para o exercício de funções públicas" fica com sua
capacidade eleitoral passiva suspensa, ou seja, ela não poderá concorrer às eleições, já que não poderia ocupar
o cargo, se vencesse o pleito. Porém, pode continuar votando (capacidade eleitoral ativa). Desse modo,
podemos dizer que esta pessoa está apenas com seus direitos políticos passivos suspensos, mas não seus
direitos políticos ativos.
O pedido para a divisão dos julgamentos foi baseado na tese de que a perda do cargo e a inabilitação
constituem-se em penas autônomas. Assim, seriam necessárias duas votações, uma para o julgamento da
primeira sanção e outra para a segunda.
O Presidente do STF, Ricardo Lewandowski, que conduzia os trabalhos, aceitou o requerimento e foram
realizadas duas votações:
1) Na primeira, Dilma foi condenada a perder o cargo de Presidente da República. Desse modo, os Senadores
votaram no sentido de aplicar a primeira sanção. Foram 61 votos SIM e 20 votos NÃO.
2) Na segunda, os Senadores decidiram que Dilma não deveria ficar inabilitada para o exercício de funções
públicas por oito anos. Em outras palavras, os Senadores votaram no sentido de não aplicar a segunda sanção.
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Foram 42 votos SIM (pela aplicação da sanção), 36 votos NÃO e 3 abstenções. Para que ela recebesse esta
punição eram necessários 2/3 dos Senadores, ou seja, no mínimo, 54 votos SIM.
O procedimento adotado pelo Senado foi juridicamente correto? A Constituição Federal de 1988 admite que
um Presidente da República seja condenado por crime de responsabilidade e receba como punição a perda do
cargo, mas fique livre da segunda sanção (inabilitação para o exercício de funções públicas por oito anos)?
Penso que não.
O tema é tratado pela CF/88 em seu art. 52, parágrafo único, nos seguintes termos:
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como
os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma
natureza conexos com aqueles;
(...)
Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal
Federal, limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à
perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública , sem prejuízo das demais
sanções judiciais cabíveis.
Desse modo, o parágrafo único acima transcrito é muito claro ao dizer que, no caso de crime de
responsabilidade praticado pelo Presidente da República, a condenação imposta será "à perda do cargo, com
inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública".
A expressão "perda do cargo, com inabilitação" transmite a ideia de cumulação (e não de alternatividade ou
escolha).
Se a intenção do constituinte fosse permitir a dispensa da segunda sanção (inabilitação), ele teria utilizado a
seguinte locução: "perda do cargo, com ou sem inabilitação". Foi a expressão utilizada pela CF/88, por exemplo,
no art. 5º, LXVI. Veja: "LXVI - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade
provisória, com ou sem fiança;"
Aliás, desconheço autor de Direito Constitucional que defenda a possibilidade de o Senado fazer duas votações:
uma para decidir a perda do cargo e outra para julgar se o condenado deverá receber ou não a pena de
inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública.
Li na imprensa que se teria afirmado que Gilmar Mendes e Michel Temer defenderiam a possibilidade de ser
aplicada a pena da perda do cargo sem inabilitação. Não é isso, contudo, que consta nos livros destes autores.
Veja trechos:
"No caso do Presidente da República, os crimes de responsabilidade caracterizam-se como infrações político-
administrativas que dão ensejo à perda do cargo e à inabilitação para o exercício de função pública pelo prazo
de oito anos (CF, art. 52, parágrafo único)." (MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO,
Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 4ª ed., São Paulo: Saraiva, 2009, p. 969)
"O art. 52, parágrafo único, fixa duas penas: a) perda do cargo; e b) inabilitação, por oito anos, para o exercício
de função pública.
A inabilitação para o exercício de função pública não decorre da perda do cargo, como à primeira leitura pode
parecer. Decorre da própria responsabilização. Não é pena acessória. É, ao lado da perda do cargo, pena
principal. O objetivo foi o de impedir o prosseguimento no exercício das funções (perda do cargo) e o
impedimento do exercício - já agora não das funções daquele cargo de que foi afastado, mas de qualquer função
pública, por um prazo determinado.
Essa a consequência para quem descumpriu deveres constitucionalmente fixados.
Assim, porque responsabilizado, o Presidente não só perde o cargo como deve afastar-se da vida pública,
durante oito anos, para 'corrigir-se', e só então pode a ela retornar." (TEMER, Michel. Elementos de Direito
Constitucional. 22ª ed., São Paulo: Malheiros, 2008, p. 169).
Importante esclarecer que o fato de o STF no MS 21689 ter dito que as penas são autônomas não significa que
elas devam ser votadas de forma separada e diferente. O STF afirmou que elas eram autônomas simplesmente
para sustentar que o fato de o ex-Presidente ter renunciado não significa que a inabilitação não devesse mais
ser votada. No caso do Collor, como ele renunciou, ficou, por vontade própria, sem o cargo. Logo, não havia
mais pena de perda do cargo a ser analisada pelo Senado. Logo, a votação sobre a pena da perda do cargo ficou
prejudicada ("perdeu o objeto"). A tese de Collor, portanto, era a de que a inabilitação seria uma pena acessória
à sanção da perda do cargo. Desse modo, como não se votou a perda do cargo (porque já não era mais ocupada
por ele), não se deveria votar também a inabilitação (considerando que o "acessório segue o principal", ou seja,
a a votação sobre a inabilitação também deveria ser julgada prejudicada). Foi unicamente por essa razão que o
STF, no MS 21689 afirmou que as penas são autônomas porque a renúncia, que gera o prejuízo da pena de
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perda do cargo não significa que a pena de inabilitação também fique prejudicada e não precise mais ser
votada. No entanto, no voto do Min. Carlos Velloso ficou muito claro que a sanção de perda do cargo e a pena
de inabilitação são autônomas, mas são também cumulativas, ou seja, ambas devem ser aplicadas. Não se
tratam de penas alternativas.
Dessa forma, pode-se dizer que existe um precedente do STF em sentido contrário ao procedimento adotado
pelo Senado Federal no dia de hoje de votar as penas de forma separada, isto porque o fato de elas serem
autônomas não significa que são alternativas.
Vale ressaltar que, em 1993, quando foi decidido o MS 21689, o Min. Celso de Mello já compunha a Corte e
ficou vencido porque aceitava que a renúncia de Collor deveria por fim ao processo. Apesar de ter ficado
vencido neste ponto, ele votou no sentido de que a pena de inabilitação para o exercício de função pública era
uma decorrência da perda do cargo, ou seja, ambas estariam umbilicalmente ligadas, não podendo ser
separadas. Logo, se o Ministro mantiver seu entendimento, ele votará no sentido de que o procedimento
adotado pelo Senado foi incorreto. Confira trecho do seu voto naquele julgamento:
"Na interpretação do art. 52, parágrafo único, da Carta Política - cuja aplicabilidade só se justifica estando ainda
o Presidente da República no desempenho de seu mandato -, não vislumbro a existência de sanções político-
jurídicas de caráter autônomo. Entendo que, ao contrário, há uma única sanção constitucionalmente
estabelecida: a de desqualificação funcional, que compreende, na abrangência do seu conteúdo, a destituição
do cargo com inabilitação temporária. A unidade constitucional da sanção prevista torna-a indecomponível,
incindível, impedindo, dessa forma, que se dispense tratamento jurídico autônomo às projeções punitivas que
diamanam da condenação senatorial.
De qualquer maneira, e ainda que se vislumbrasse no preceito em causa uma dualidade de sanções, tenho para
mim que, entre elas, haveria clara relação de dependência ou de acessoriedade: de um lado, a sanção
destitutória, que se reveste de caráter principal e condicionante, e, de outro, a pena de inabilitação temporária,
que constitui mera decorrência secundária da decretação da perda do mandato." (trechos do voto do Min.
Celso de Mello no MS 21689, julgado em 16/12/1993).
No atual cenário, ou seja, considerando-se que a decisão do Senado que afastou a pena de inabilitação seja
mantida, mesmo assim a ex-Presidente Dilma poderia ser considerada inelegível com base na "Lei da Ficha
Limpa"? Ela fica impedida de concorrer nas eleições de 2018, por exemplo, com base nesta LC?
NÃO. A chamada Lei da Ficha Limpa é a LC 135/2010, que alterou a LC 64/90, que trata sobre as inelegibilidades.
No art. 1º da LC 64/90 são listadas situações que geram inelegibilidade. Se analisarmos as hipóteses ali
presentes, nenhuma delas se enquadra no caso da ex-Presidente.
O motivo de a situação da ex-Presidente não estar prevista na LC 64/90 está no fato de que o legislador
entendeu que isso seria dispensável, já que, na visão até então pacífica de todos, a inabilitação para o exercício
das funções públicas era uma pena obrigatoriamente imposta caso o pedido de impeachment fosse julgado
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procedente, com base no art. 52, parágrafo único, da CF/88. Assim, para o legislador, seria redundante repetir
um comando que já constava diretamente do texto constitucional.
Tanto isso é verdade que o legislador teve o cuidado de prever que, se o Presidente renunciasse ao mandato no
curso do processo de impeachment, como fez Collor, por exemplo, ele deveria ficar inelegível por oito anos (art.
1º, I, "k", da LC 64/90). Dessa forma, o legislador se preocupou apenas com aquilo que não estava previsto
expressamente na CF/88, ou seja, a hipótese do Presidente renunciar durante o curso do mandato. Sendo ele
condenado no processo de impeachment, a inelegibilidade já seria uma decorrência obrigatória do art. 52,
parágrafo único, da CF/88.
Aliás, seria um contrassenso que a renúncia no curso do processo de impeachment ocasionasse a inelegibilidade
para oito anos, mas condenação neste mesmo processo (situação mais grave) não ocasionaria a inelegibilidade.
O crime do art. 1º, I, do Decreto-Lei 201/1967 é próprio, somente podendo ser praticado por prefeito, admitida,
porém, a participação, nos termos do art. 29 do CP. Exemplo: Deputado Federal apresentou emenda
parlamentar ao orçamento da União autorizando o repasse de recursos para o Município “X”, verba destinada à
aquisição de uma ambulância. O recurso foi transferido, foi realizada a licitação, mas o certame foi direcionado
em favor de determinada empresa que superfaturou o preço. Ficou demonstrado que o Prefeito, o Deputado e
os donos da empresa vencedora estavam em conluio para a prática dessa conduta. Desse modo, todos eles irão
responder pelo delito do art. 1º, I, do DL 201/67. STF. 2ª Turma. Inq 3634/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado
em 2/6/2015 (Info 788).
O art. 1º, XIV, do DL 201/67 prevê que o Prefeito pratica crime quando nega execução a lei federal, estadual ou
municipal, ou deixa de cumprir ordem judicial, sem dar o motivo da recusa ou da impossibilidade, por escrito, à
autoridade competente. Vale ressaltar, no entanto, que, segundo entende o STF, para a configuração do delito
em tela é indispensável que o MP comprove a inequívoca ciência do Prefeito a respeito da ordem judicial. Ex:
em Joinville (SC), o juiz expediu ordem judicial determinando que o Município se abstivesse de praticar
determinado ato administrativo. A ordem judicial foi endereçada à Procuradoria do Município. Mesmo após a
intimação ser efetivada, o ato administrativo questionado foi praticado. Diante disso, o Ministério Público
ofereceu denúncia contra o Prefeito, imputando-lhe a prática do crime previsto no art. 1º, XIV, do DL 201/67. O
STF absolveu o réu. Segundo entenderam os Ministros, não foram produzidas provas de que o réu tenha tido
conhecimento da ordem judicial ou que tenha concorrido para seu descumprimento. Para configuração do
delito em tela, é indispensável que o MP comprove a inequívoca ciência do Prefeito a respeito da ordem judicial,
não sendo suficiente que a determinação judicial tenha sido comunicada a terceiros. Para que o Prefeito
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pudesse ser responsabilizado criminalmente, seria indispensável a sua intimação pessoal. STF. 1ª Turma. AP
555/SC, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 6/10/2015 (Info 802).
Não há necessidade de prévia autorização da Assembleia Legislativa para que o STJ receba denúncia ou queixa e
instaure ação penal contra Governador de Estado, por crime comum. Em outras palavras, não há necessidade de
prévia autorização da ALE para que o Governador do Estado seja processado por crime comum. Se a
Constituição Estadual exigir autorização da ALE para que o Governador seja processado criminalmente, essa
previsão é considerada inconstitucional. Assim, é vedado às unidades federativas instituir normas que
condicionem a instauração de ação penal contra Governador por crime comum à previa autorização da Casa
Legislativa. Se o STJ receber a denúncia ou queixa-crime contra o Governador, ele ficará automaticamente
suspenso de suas funções no Poder Executivo estadual? NÃO. O afastamento do cargo não se dá de forma
automática. O STJ, no ato de recebimento da denúncia ou queixa, irá decidir, de forma fundamentada, se há
necessidade de o Governador do Estado ser ou não afastado do cargo. Vale ressaltar que, além do afastamento
do cargo, o STJ poderá aplicar qualquer uma das medidas cautelares penais (exs: prisão preventiva, proibição de
ausentar-se da comarca, fiança, monitoração eletrônica etc.). STF. Plenário. ADI 5540/MG, Rel. Min. Edson
Fachin, julgado em 3/5/2017 (Info 863). STF. Plenário. ADI 4764/AC, ADI 4797/MT e ADI 4798/PI, Rel. Min. Celso
de Mello, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgados em 4/5/2017 (Info 863).
#SELIGA #IMPORTANTE: O STF invocou cinco argumentos principais: a) Ausência de previsão expressa e
inexistência de simetria; b) Princípio republicano (art. 1º); c) Princípio da separação dos poderes (art. 2º) d)
Competência privativa da União (art. 22, I); e e) Princípio da igualdade (art. 5º).
C) Separação dos Poderes: A exigência viola, ainda, a separação dos Poderes, pois estabelece uma
condição não prevista pela CF/88 para o exercício da jurisdição pelo Poder Judiciário. Assim, o STJ
fica impedido de exercer suas competências e funções até que haja autorização prévia do Poder
Legislativo estadual. Esse tipo de restrição é sempre excepcional e deve estar expresso na CF/88.
E) Princípio da igualdade: Por fim, a previsão da autorização prévia afronta o princípio da igualdade
(art. 5º). Estabelecer essa condição de procedibilidade faz com que o Governador seja alçado à
condição de superior em relação às outras pessoas apenas por ocupar este cargo. Vale ressaltar,
ainda, que a EC 35/2001 alterou a redação do art. 53, § 1º, da CF/88 e aboliu a exigência de
autorização prévia das casas legislativas para o processamento e julgamento de Deputados Federais,
Senadores e Deputados Estaduais. O mesmo entendimento de valorização da igualdade e
“accountability” dos representantes do povo deve ser aplicado aos Governadores, sem as exigências
prévias que consubstanciam privilégios e restrições não autorizados pela CF/88.
O STF sempre entendeu assim? NÃO. Houve uma mudança na jurisprudência. O STF entendia válida a
norma prevista em Constituição estadual que exigia autorização prévia da Assembleia Legislativa. Nesse sentido:
STF. Plenário. ADI 4791/PR, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 12/2/2015 (Info 774). O Min. Edson Fachin
afirmou que era necessário superar o antigo entendimento do STF “diante dos reiterados e vergonhosos casos
de negligência deliberados pelas assembleias legislativas estaduais que têm sistematicamente se negado a
deferir o processamento de governadores”. A orientação anterior, que privilegiava a autonomia dos Estados-
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membros e o princípio federativo, entrou em linha de tensão com o princípio republicano, que prevê a
responsabilização política dos governantes. Verificou-se que, ao longo do tempo, as Assembleias Legislativas
bloquearam a possiblidade de instauração de processos contra os Governadores.
#OLHAOGANCHO: Houve, portanto, na presente situação, uma mutação constitucional. Há três situações que
legitimam a mutação constitucional e a superação de jurisprudência consolidada:
O art. 86, § 1º, I, da CF/88 prevê que se o STF receber a denúncia ou queixa-crime contra o Presidente
da República, ele ficará automaticamente suspenso de suas funções. Essa regra também se aplica para os
Governadores de Estado. Se o STJ receber a denúncia ou queixa-crime contra o Governador, ele ficará
automaticamente suspenso de suas funções no Poder Executivo estadual? NÃO. O afastamento do cargo não se
dá de forma automática. O simples recebimento de uma denúncia é um ato de baixa densidade decisória e não
pode importar em afastamento automático do Governador. Esse afastamento somente pode ocorrer se o STJ
entender que há elementos a justificá-lo. O Governador pode ser afastado, mas não como decorrência
automática do recebimento da denúncia. Assim, o STJ, no ato de recebimento da denúncia ou queixa, irá
decidir, de forma fundamentada, se há necessidade de o Governador do Estado ser ou não afastado do cargo.
Vale ressaltar que, além do afastamento do cargo (art. 319, VI, do CPP), o STJ poderá aplicar qualquer uma das
medidas cautelares penais. Exs: prisão preventiva (art. 311 do CPP), proibição de ausentar-se da comarca (art.
319, IV), fiança (art. 319, VIII), monitoração eletrônica (art. 319, IX) etc. Essas medidas cautelares poderão ser
decretadas no momento do recebimento da denúncia/queixa ou durante o curso do processo e precisam ser
sempre fundamentadas.
#CUIDADO #ATENÇÃO
E quanto aos crimes de responsabilidade? O STF entende que o Estado-membro não pode dispor sobre crime
de responsabilidade, ainda que seja na Constituição estadual. Isso porque a competência para legislar sobre
crime de responsabilidade é privativa da União. Definir o que é crime de responsabilidade e prever as regras de
processo e julgamento dessas infrações significa legislar sobre Direito Penal e Processual Penal, matérias que
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são de competência privativa da União, nos termos do art. 22, I, e art. 85, parágrafo único, da CF. O Supremo
possui, inclusive, um enunciado destacando essa conclusão.
#SELIGANASÚMULA: Súmula vinculante 46-STF: São da competência legislativa da União a definição dos crimes
de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento.
*#OUSESABER: Segundo o STF, o chefe do Poder Executivo é quem detêm a competência privativa de iniciativa
de lei sobre nepotismo da Administração Pública. Certo ou errado? Nos termos do entendimento da nossa
Suprema Corte, NÃO é privativa do chefe do Poder Executivo a competência para a iniciativa legislativa de lei
sobre nepotismo na Administração Pública, vejamos o RE 570392: 2. Não é privativa do Chefe do Poder
Executivo a competência para a iniciativa legislativa de lei sobre nepotismo na Administração Pública: leis com
esse conteúdo normativo dão concretude aos princípios da moralidade e da impessoalidade do art. 37, caput,
da Constituição da República, que, ademais, têm aplicabilidade imediata, ou seja, independente de lei.
Precedentes. Súmula Vinculante n. 13. Ainda sobre o tema, vale citar o discurso da Prof. Fernanda Marinela: Em
nova análise sobre o tema, a Suprema Corte reconhece a legitimidade ativa partilhada entre o Poder Legislativo
e o Chefe do Executivo na propositura de leis que tratam de nepotismo, afastando assim a reserva de iniciativa
legislativa do Chefe do Poder Executivo para o tema. Reafirma que não se exige lei formal para que os princípios
do art. 37, caput, sejam observados e admite que não há “vício de iniciativa legislativa em norma editada no
intuito de dar evidência à força normativa daqueles princípios e estabelecer os casos em que,
inquestionavelmente, configuram comportamentos imorais ou não isonômicos” (Direito Administrativo, 11 ed.,
30
pág. 80) Vale ser ressaltado que não há necessidade de lei formal para a vedação ao nepotismo, considerando
que tal proibição decorre diretamente dos princípios contidos no art. 37, caput, da CF/88 (RE 579.951/RN) Desta
forma, vê-se que o item está errado.
DIPLOMA DISPOSITIVOS
Constituição Federal Art. 76 a 91
Lei nº 1.079/50; Integralmente
Decreto-Lei n º 201/67 Integralmente
8 BIBLIOGRAFIA UTILIZADA
- Direito constitucional esquematizado® - Pedro Lenza. – 19. ed. rev., atual. e ampl. – São Paulo: Saraiva,
2015);
- Anotações de aula;