TRABALHO PSICANÁLISE DE JUNG - O Abandono Da Figura Paterna

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Mulheres e o abandono da figura paterna:

considerações teórico-clínicas a partir


da psicologia analítica

Integrantes:
Luzineiva dos Santos Alcântara
Sarah Godoi Anunciacao Barbosa
Larissa Melo Madeira Gomes
Michele Cristina Santana Vieira

Resumos

Este trabalho busca demonstrar, a partir de vinhetas clínicas, as consequências


negativas trazidas na vida de uma mulher pela experiência de ter sido
abandonada pela figura paterna.

Neste estudo, o referencial teórico foi principalmente a psicologia analítica. São


também descritos os progressos alcançados no atendimento do caso a partir
da atuação psicoterapêutica baseada no método clínico junguiano. As
conquistas obtidas, em termos gerais, dizem respeito a maior integração
psíquica por parte dessa mulher que conseguiu estabelecer maior equilíbrio
interno entre as polaridades masculina e feminina. Esse equilíbrio trouxe
impactos positivos para ela, como melhora da autoestima e maior sentimento
de autoconfiança, além de capacitá-las para o estabelecimento de relações
afetivas mais saudáveis e menos calcadas em submissão e dependência.

Palavras Chaves: Abandono; Individuação; Mulheres; Psicoterapia analítica;


Relação pai-filho

Em sua prática clínica, o autor deste estudo percebe com frequência que as
mulheres que vivenciam a experiência de terem sido abandonadas pela figura
paterna muitas vezes se engajam em relacionamentos amorosos que parecem
ter a função de preencher as lacunas afetivas deixadas pelos pais ausentes.
Desse modo, as mulheres parecem depositar nos parceiros amorosos todas as
frustrações e expectativas de resgate do abandono imposto pela figura paterna
na infância.
Nesse contexto, é praticamente inviável um relacionamento saudável e
equilibrado, pois a mulher se encontra em estado constante de submissão e
dependência. O parceiro amoroso torna-se o Pai, figura indispensável e
portadora do poder masculino, sem a qual a mulher se vê destituída de
qualquer possibilidade de sobrevivência emocional, sentindo-se como uma
criança absolutamente desamparada e solitária, lançada num mundo hostil.
Todo o poder e capacidade de realização efetiva são transferidos ao parceiro
amoroso, o qual se torna senhor da mulher

A terapia psicológica analítica, também conhecida como psicologia


junguiana ou psicologia profunda, é uma abordagem psicoterapêutica
baseada nos trabalhos do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung. Ela se diferencia
da psicanálise clássica de Sigmund Freud por alguns pontos importantes,
como:

 Conceito de inconsciente: Jung propôs a existência de um


inconsciente coletivo, além do inconsciente individual. O inconsciente
coletivo seria um reservatório de experiências e conhecimentos
compartilhados por toda a humanidade, expressos através de
arquétipos, que são padrões universais de comportamento e
pensamento.
 Libido: Para Jung, a libido não se limita apenas à energia sexual, mas
sim a uma energia vital que motiva todos os aspectos da vida humana.
 Objetivo da terapia: O objetivo da terapia analítica não é apenas
resolver conflitos do passado, mas também promover o
desenvolvimento pessoal do indivíduo e ajudá-lo a alcançar seu
pleno potencial, o que Jung chamou de individuação.

Como funciona a terapia analítica?

Na terapia analítica, o terapeuta e o cliente trabalham juntos para explorar o


inconsciente do cliente e compreender seus padrões de comportamento e
pensamento. Isso é feito através de diversas técnicas, como:

 Análise de sonhos: Os sonhos são considerados uma janela para o


inconsciente, e podem ser interpretados para revelar os conflitos e
desejos do cliente.
 Análise de símbolos: Os símbolos também são importantes na terapia
analítica, pois podem representar aspectos inconscientes da psique do
cliente.
 Técnicas projetivoas: Técnicas como o teste de Rorschach e o TAT
(Teste de Apercepção Temática) podem ser utilizadas para avaliar a
personalidade do cliente e seus conflitos inconscientes.
 Interpretação: O terapeuta interpreta os materiais coletados durante a
terapia para ajudar o cliente a entender seus padrões de comportamento
e pensamento.
 Transferência e contratransferência: A relação entre o terapeuta e o
cliente pode ser utilizada para explorar a dinâmica inconsciente do
cliente.
O que a terapia analítica pode tratar?

A terapia analítica pode ser útil para tratar uma ampla gama de problemas
psicológicos, incluindo:

 Ansiedade
 Depressão
 Traumas
 Problemas de relacionamento
 Dificuldades de autoconhecimento
 Crises existenciais

A Psicologia Analítica de interpretação é um aspecto fundamental nesta


abordagem, também conhecida como psicologia junguiana. Através da
interpretação, o terapeuta e o cliente exploram juntos o significado dos
símbolos, sonhos e outros materiais que emergem do inconsciente.

O objetivo da interpretação não é simplesmente fornecer uma resposta


definitiva para o que algo significa. Em vez disso, é criar um espaço para
reflexão e diálogo, onde o cliente possa:

 Explorar suas próprias experiências e emoções relacionadas ao


material interpretado.
 Considerar diferentes perspectivas sobre o significado do material.
 Descobrir novos insights sobre si mesmo e seus padrões de
comportamento.

A interpretação na psicologia analítica se baseia em diversos princípios,


incluindo:

 Ampliação: O terapeuta busca ampliar o significado do material,


considerando diferentes contextos e perspectivas.
 Associação: O terapeuta encoraja o cliente a fazer associações entre o
material interpretado e outras experiências de sua vida.
 Simbolismo: Os símbolos são considerados elementos importantes
para a compreensão do inconsciente, e o terapeuta pode ajudar o cliente
a desvendar seu significado.
 Arquétipos: Os arquétipos, padrões universais de comportamento e
pensamento, podem ser utilizados para interpretar o material e identificar
temas recorrentes na vida do cliente.

É importante ressaltar que a interpretação na psicologia analítica é um


processo colaborativo. O terapeuta oferece suas sugestões e insights, mas o
cliente é quem tem a palavra final sobre o significado do material para si
mesmo.

A interpretação pode ser desafiadora, mas também é um processo gratificante.


Através da interpretação, o cliente pode:
 Ganhar um maior autoconhecimento e compreensão de seus próprios
pensamentos, sentimentos e comportamentos.
 Resolver conflitos internos e melhorar seus relacionamentos com os
outros.
 Alcançar um maior senso de propósito e significado em sua vida.

Considerações teórico-clínicas

Maria apresentava um quadro clínico com sintomas de ansiedade, instabilidade


de humor, irritação e dificuldade de controlar os impulsos. Há um histórico de
compulsão alimentar, e envolvimento com drogas (mais acentuado na
adolescência). Demonstrava incapacidade de se realizar profissionalmente, e é
plausível pensar que isso estaria relacionado aos sentimentos de menos-valia
e baixa autoestima. Maria não se percebia capaz de realizar as mudanças que
desejava: partir para a iniciativa privada, ser empresária e dona do próprio
negócio.

Maria frequentemente se queixava de carência afetiva e solidão amorosa.


Existia a busca por um ideal de homem, a qual sempre terminava em
frustração por traição ou abandono. Foi possível observar que ela se sentia
atraída por homens narcisistas e individualistas, e que suas atitudes (carência
demasiada, agressividade, desconfiança, ciúmes, desqualificação) a tornavam
desagradável ao parceiro, que se desgastava e acabava reagindo com
agressividade, afastamento ou rompimento. Essas atitudes eram recebidas por
ela como uma confirmação da "profecia", fortemente vinculada à vivência com
o pai, de que homens não prestam e vão maltratá-la ou abandoná-la a qualquer
momento. Patrícia apresentava a autoimagem de que não tenho valor perante
os homens, nenhum homem me quer para nada além de sexo. Ela percebia a
figura masculina como traiçoeira, falsa e maléfica. Os homens de sua idade
eram percebidos como fracos, inseguros e afeminados. Maria nutria a seguinte
crença: "Acho que existe um homem perfeito pra mim, mais velho, másculo,
protetor, bem-sucedido, seguro, mas ele não chega...".

A partir dessas características, observou-se que, para Maria, o ideal de homem


se confundia com o ideal de figura paterna. Porém, em ambas as situações -
como mulher e como filha -, esse ideal estava ausente. Ela tendia a justificar
essa ausência ora pela maldade dos homens, ora por suas próprias
imperfeições. Na primeira situação, ela era vítima do mal que há nos homens;
na segunda, ela era rejeitada por ser cheia de defeitos. Com essas crenças
sobre o outro e sobre si mesma, era difícil vislumbrar o estabelecimento de
relações afetivas saudáveis e equilibradas.
Mudanças obtidas e discussão

No processo terapêutico aqui mencionados já foi concluído, com mudanças


positivas com efetividade. Maria passou a se valorizar mais e, com isso,
também conseguiu controlar melhor os impulsos autodestrutivos. Também
reviu sua imagem sobre a figura masculina e passou a compreender melhor os
mecanismos das relações afetivas, saindo da dicotomia vilão-vítima. Dessa
forma, está mais preparada para viver relacionamentos saudáveis e com maior
equilíbrio.

Veja-se agora, com mais profundidade, uma articulação entre as mudanças


positivas conquistada pela paciente e a psicoterapia baseada na psicologia
analítica.

A condução clínica do caso, baseada nos princípios de acolhimento e liberdade


de expressão, permitiu, em primeiro lugar, que a paciente realizasse uma
catarse de sentimentos negativos em relação à figura paterna.

A abordagem de interpretação foi importante nesse processo, pois serviu de


veículo para que os conteúdos inconscientes fossem atualizados em análise.
Proporcionou à paciente um contato restaurador com a figura masculina. O
olhar cuidador da psicoterapeuta criou oportunidade para que a paciente
pudesse reconstruir o olhar sobre si mesma, como alguém que possui valor
intrínseco.

Por meio da interpretação, as projeções ao paciente, reconhecendo (e levando-


o a reconhecer) que o fato de perceber a "saúde" no analista se dá justamente
porque ele próprio possui esse núcleo potencialmente saudável. Permitindo à
paciente um contato saudável e restaurador com a figura masculina, o que não
tinha sido possível até então em razão da experiência de abandono do pai e
dos sucessivos fracassos nos relacionamentos amorosos. A aproximação da
paciente com os conteúdos arquetípicos do Animus possibilitou-lhes
desenvolver maior segurança e autoestima, além de capacitá-la para o
estabelecimento de relação afetiva mais saudável e menos calcadas em
submissão e dependência.
Considerações Finais

Em síntese, o processo terapêutico foi palco para vivência de integração


psíquica por parte dessa mulher, que conseguiu estabelecer maior equilíbrio
interno entre as polaridades masculina e feminina. Ao estabelecer uma relação
mais saudável com o seu Animus - que ocupa um lugar intermediário entre o
"Eu" consciente e o inconsciente coletivo – A paciente também abriu caminho
para uma aproximação com o arquétipo que Jung denominou de Si-mesmo.
Esse arquétipo se refere à integração equilibrada dos pares de opostos na
personalidade e ao desabrochar das potencialidades originárias da psique.
Quanto mais fluida a relação entre o "Eu" e o Si-mesmo, mais o sujeito avança
em seu processo de individuação, ou seja, no reconhecimento de quem se é
verdadeiramente, para além das máscaras sociais.

O encontro terapêutico também tornou possível que a paciente se libertasse da


prisão de ser "destinada ao infortúnio" por ter vivido experiências de abandono
ou má relação com o pai. Enquanto a mulher culpar o pai por todas as mazelas
em que se encontra, nada restará a fazer. É preciso que ela aprenda a curar as
feridas e conviver com as cicatrizes, assumindo a responsabilidade. Sobre sua
vida e buscando em si própria a força, o cuidado e a proteção que ressente não
ter recebido da figura paterna. Em termos junguianos, trata-se de construir uma
relação de maior integração com o Animus, abrindo caminho para o Si-mesmo
e, consequentemente, para a individuação.

Sugestão de tratamento

De acordo com a demanda da paciente, possivelmente seria mais proveitoso


tratá-la de um ponto de vista da Humanista, visto que a mesma lida com o
indivíduo de forma mais individualizada. A Psicanalista Jungiana lida com o
sujeito de forma mais coletiva e no caso dessa paciente não seria muito eficaz.
REFERÊNCIAS:

 Jung, C. G. (1978a). O eu e o inconsciente. In C. G. Jung. Obras completas


(Vol. 7). Petrópolis: Vozes. (Originalmente publicado em 1928).
 Jung, C. G. (1978b). Psicologia do inconsciente. In C. G. Jung. Obras
completas (Vol. 7). Petrópolis: Vozes. (Originalmente publicado em 1912).
 Jung, C. G. (1984). A energia psíquica. In C. G. Jung. Obras completas (Vol.
8). Petrópolis: Vozes. (Originalmente publicado em 1928).
 Jung, C. G. (1988a). Princípios básicos da prática da psico-terapia. In C. G.
Jung. Obras completas (Vol. 16). Petrópolis: Vozes. (Originalmente publicado
em 1935).
 Jung, C. G. (1988b). A psicologia da transferência. In C. G. Jung. Obras
completas (Vol. 16). Petrópolis: Vozes. (Originalmente publicado em 1946).
 Jung, C. G. (2002a). Consciência, inconsciente e individuação. In C. G.
Jung. Obras completas (Vol. 9/1). Petrópolis: Vozes. (Originalmente publicado
em 1939).
 Jung, C. G. (2002b). A psicologia do arquétipo da criança. In C. G. Jung.
Obras completas (Vol. 9/1). Petrópolis: Vozes. (Originalmente publicado em
1940).

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