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Direito Penal - Geral
Direito Penal - Geral
AULA 01
Um dos principais equívocos, uma das principais falhas que os alunos cometem quando
começam a estudar direito penal é eles deixarem o estudo da parte principiológica de lado, ou
estudarem apenas decorando os conceitos e os nomes de alguns princípios constantes na
Constituição federal de 1988. Isto é uma falha porque quem conhece com um nível de
profundidade razoável os princípios que norteiam o direito penal sejam estes princípios
decorrentes de uma evolução histórica, doutrinária ou jurisprudencial, sejam eles taxativamente
expressos no texto da Constituição federal de 88, quem conhece esses princípios acaba tendo
uma facilidade gigantesca de entender todos os demais, ou pelo menos a grande maioria dos
institutos da parte geral do direito penal. O ideal é que você conheça a essência, e a razão de
ser, primeiramente dos princípios que são decorrentes de uma evolução doutrinária, que são
decorrentes de uma evolução histórica do direito penal, e depois que você conheça, inclusive
com detalhes, os princípios que em razão dessa evolução histórica, foram colocados dentro do
artigo quinto da Constituição federal de 1988. É por isso que não tem como compreendermos os
principais princípios norteadores do direito penal sem conhecermos um pouco a evolução
histórica do direito penal desde a Roma, passando pela Renascença, passando pelo Iluminismo
até chegar aos dias atuais. A base de toda a ideia desses princípios, salvo raras exceções como
é o caso de alguns princípios pontuais, na regra geral todos os princípios que nós utilizamos no
nosso país hoje para nortearmos o direito penal, estejam esses princípios escritos ou não,
implícitos ou explícitos, entre ou derivados do texto da Constituição de 1988, são frutos de uma
evolução histórica do direito penal no mundo, ou pelo menos no mundo ocidental.
Aqui não é uma aula de história do direito penal, nós vamos inclusive dar saltos gigantes na
cronologia da evolução do direito penal, mas precisamos focar no surgimento e consolidação
histórica desses princípios
Como quase tudo o que é de base do direito penal brasileiro hoje nós vamos ter que retroceder
para a fase da República romana, onde houve o grande Salto evolutivo do direito penal e
consequentemente foi onde se iniciou a formação de toda base principiológica que utilizamos no
momento em que vivemos.
Para começarmos essa análise dos princípios vamos retroceder especificamente ao primeiro
código escrito de leis romanas. Nós temos ao longo da evolução do direito penal no mundo o
surgimento de regras consuetudinárias como base do direito penal. Regras consuetudinárias são
regras passadas através da tradição oral baseadas muitas vezes nos costumes e nas práticas
corriqueiras de um determinado povo, ou de uma determinada civilização. Com o passar do
tempo e com o desenvolvimento da história da humanidade essas regras penais que eram orais,
que eram transmitidas pela tradição oral, acabaram virando regras escritas. Pegando
especificamente o direito Romano que é a base do direito ocidental como um todo e por
consequência a base primária do direito penal brasileiro hoje, em Roma o primeiro código de leis
escrito, a primeira vez que alguém teve a preocupação de transformar toda uma legislação que
era transmitida oralmente em uma compilação, em uma codificação escrita de leis como nós
conhecemos hoje aconteceu durante a República romana em meados de 450 o 455 A.C; e
derivou da criação do primeiro Conselho Legislativo da República Romana, conselho este que era
chamado de decenvirato, porque era uma comissão de 10 legisladores, embora o nome
legislador hoje em dia tem uma conotação diferente, naquela época esses 10 legisladores, esse
decenvirato correspondia na verdade a junção de 10 pessoas que teriam em tese um grande
conhecimento das tradições orais direito Romano, que tinham um grande conhecimento de como
Voltando para este ideia do surgimento do direito penal a partir da Lei das XII Tábuas, voltando
para a ideia de que era necessário especificar quais as condutas, ou o que nós chamamos hoje
de tipos penais que ofendiam toda a coletividade e que por isso deveriam ser punidos pelo
estado, deveriam resguardar ius puniendi, a tutela exclusiva do estado de punir os crimes, a partir
O princípio da excepcionalidade é a ideia pela qual o direito penal não deve tutelar todas as
relações sociais, é a ideia segundo a qual o direito penal só deve tratar dos bens jurídicos, mas
elementares, mas indissociáveis ao harmonioso convívio da coletividade. a ideia da
excepcionalidade é a ideia que o direito penal é último ratio, é última linha de defesa; que o direito
penal só deve ser usado quando for impossível tutelar a situação por outro ramo do ordenamento
jurídico. Poucas pessoas percebem que o princípio da excepcionalidade é consequência da
fragmentariedade. Essa “escolha” se eu vou tutelar a situação pelo direito penal, civil, tributário,
não ocorre depois do fato ser praticado, ela ocorre antes quando a lei penal é criada. É óbvio que
o direito penal não vai tratar a maioria das relações sociais. Tem que se partir da premissa que a
maioria das relações, que a maioria dos conflitos, a maioria das interações sociais serão tratados
por outros ramos do ordenamento jurídico. Apenas aqueles mais fundamentais, mas
indissociáveis ao harmonioso convívio da coletividade é que serão, dentro dessa lógica da
fragmentariedade, colocados sob a tutela penal. Então, o uso do direito penal é sempre
excepcional. A regra não é o direito penal está tutelando, a regra não é que os bens jurídicos
sejam colocados sob a alçada e tutela do direito penal, a regra é que na hora que essa
fragmentariedade seja feita, o direito civil, o direito do trabalho, o direito administrativo, tributário,
que os demais ramos que são derivados do ius civilis trate. O direito civil Romano deu muitos
filhos, o direito penal Romano cresceu e se consolidou sem se subdividir. O direito penal não
tutela regra, ele tutela o que é excepcional, o que foge à normalidade, por isso que o legislador na
hora que faz essa fragmentariedade já dá ao direito penal essa noção de excepcionalidade. Dizer
que o princípio da excepcionalidade vigora no direito penal é dizer que na hora que a
fragmentariedade foi feita o legislador colocou poucas situações sob a tutela penal.
Além da fragmentariedade e da excepcionalidade, um outro princípio que também pode ser
derivado dessa criação do conceito de crime público e crime privado ou direito público penal e
direito civil é a ideia da lesividade.
PRINCÍPIO DA LESIVIDADE:
É o princípio segundo o qual o direito penal só vai intervir quando a conduta do indivíduo
extrapolar o âmbito pessoal e puder atingir ou produzir efeitos para a coletividade como um todo.
Pelo princípio da lesividade o direito penal só deve tutelar aquelas situações que extrapolem o
âmbito pessoal e interpessoal e que possam produzir direta ou indiretamente efeitos para a
coletividade como um todo, isso é uma consequência da Lei das XII Tábuas.
O direito penal para os romanos foi criado para aquelas situações que ofendiam a coletividade
como um todo e até hoje parte-se da premissa que se o direito penal está atuando de uma forma
ou de outra a coletividade está sendo atingida.
Depois de criar esses conceitos, esses 3 primeiros princípios, ou que hoje seriam os princípios do
direito penal, nós também podemos perceber na República romana, o surgimento de institutos
que até hoje são muito próprios ao direito penal e ao processo penal, como por exemplo o
conceito de júri popular, que hoje seria chamado de tribunal do júri, o conceito de recursos contra
decisões dos magistrados, que na época eram chamados genericamente de apelação, hoje cada
recurso tem o seu nome, em decorrência de algumas leis como a Lex Valeria e Lex Porcia.
Na verdade, o conceito de devido processo legal, que é um conceito híbrido, o direito ao devido
processo legal é um princípio que tanto tange o direito penal quanto o direito processual penal.
Quando se fala que todos têm direito ao devido processo, todos têm direito a recurso, todos têm
direito a regras previamente estabelecidas de como poderão ser punidos pelo direito penal, isso é
um princípio que atinge tanto o direito penal quanto o direito processual penal e tem origem em
Roma.
Por volta de 509 A.C surgiu em Roma a chamada Lex Valeria. A Lex Valeria se chama assim,
porque segundo o historiador Romano Cícero, a Lex Valeria teria sido criada por um legislador
chamado Públio Valério. A Lex Valeria estabelecia que condenados a morte ou a flagelação
podiam apelar de suas condenações ao “povo” representados pelos Tribunos da Plebe, e isso
tem até o nome lá em Roma era o chamado “provocatio ad populum”. Traduzindo essa ideia do
Quando se fala em Renascimento, está se falando da transição da idade média para idade
Moderna, que aconteceu, mais ou menos, entre os séculos XIII e XVI, a depender da região da
Europa. Da mesma forma que no final do século XVI e início do século XVII veio o Iluminismo.
Esse segundo grande Salto aconteceu principalmente porque durante a Renascença e o
Iluminismo passamos a ter a figura dos doutrinadores como conhecemos hoje. Talvez um dos
maiores Marcos do Renascimento, talvez um dos maiores Marcos da história mundial, foi a
invenção da prensa de tipos móveis de Gutenberg, que barateou muito a impressão de livros e
consequentemente facilitou muito a difusão do conhecimento.
Hugo Grotius, holandês, é considerado o pai do direito Internacional público, e deu várias
contribuições a formação principiológica no direito penal no mundo ocidental, principalmente pela
PRINCÍPIOS DA LEGALIDADE
Quando nós falamos em princípio da legalidade, nós precisamos especificar porque existem 2
regras diferentes no artigo quinto da Constituição que são denominadas pela doutrina de princípio
da legalidade. É por isso que se convencionou falar ilegalidade lato sensu ilegalidade estrito
sensu.
- Em sentido lato ou legalidade ampla: é uma regra aplicável a todos os ramos do ordenamento
jurídico brasileiro, incluindo o direito penal. A legalidade lato sensu está expressa no inciso II, do
artigo quinto, da Constituição federal, que nos diz que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa senão em virtude de lei. É a ideia é elementar que ao cidadão comum, ao
indivíduo, ao particular só é possível exigir uma limitação da sua Liberdade por força do que está
taxativamente previsto em lei. Com base nessa ideia da legalidade lato sensu é que surgiu aquela
premissa que “ao homem comum é dado fazer tudo aquilo que a lei taxativamente permite, e tudo
aquilo que a lei taxativamente não proíba. Ou seja, a nossa Liberdade de agir é a regra. Nós
somos livres para agir, pensar e nos expressarmos como regra geral, como presunção funcional.
Agora, essa Liberdade não é de natureza absoluta. A partir do momento que o ser humano aceita
conviver em sociedade ele precisa abdicar de parte dessa Liberdade. Dizer que a Liberdade do
indivíduo é a regra presumida pela Constituição, não significa dizer que a Constituição nos dá
º Anterioridade das normas penais incriminadoras: princípio que nos diz que apenas leis penais
que satisfaçam o requisito da vigência prévia podem ser utilizadas para incriminar condutas. A lei
penal não vai retroagir em prejuízo do réu. a lei penal ela só será utilizada para fins de tipificação,
ela só será utilizada para dizer que o que o indivíduo fez corresponde à crime previsto em lei se e
somente se ela estiver em vigor no momento em que a conduta for praticada. Existe uma regra
elementar da aplicação da lei penal no tempo que ela regra do Tempus Regit Actum, ou a regra
segundo a qual os atos são regidos pela lei em vigor no momento em que eles foram praticados,
no momento em que a ação ou omissão foram desempenhadas. Se uma determinada conduta é
praticada hoje, ela só poderá ser reconhecida como crime se e somente se a lei tipificadora
PRINCÍPIO DA IRRETROATIVIDADE: está previsto no artigo quinto, inciso XL, e diz que a lei
penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu. Como eu falei para vocês, a aplicação da lei
penal no tempo se norteia pela ideia do Tempus Regit Actum: os atos são regidos pela lei em
vigor no momento em que eles foram praticados. Se eu praticar um crime hoje eu serei tutelado
pela lei vigente hoje. Se eu praticar este mesmo crime daqui a 10 anos, eu serei tutelado pela lei
vigente daqui a 10 anos. Ora, como a regra é o Tempus Regit Actum, por regra, a lei penal não
retroage, não volta a passar. só se admite a retroatividade de normas penais se isso for beneficiar
o réu. A Constituição diz taxativamente que a lei penal só tutelará fatos anteriores a sua vigência,
a lei penal só vai tutelar fatos do passado, se isso gerar benefício para o réu.
OBS.: Nós podemos perceber que existem alguns debates sociais, alguns questionamentos
sociais se esses princípios que falamos até agora estão sendo mitigados. Percebam, essas
discussões que existem em redes sociais, esses casos concretos que geram tantos debates,
tanta repercussão em sede doutrinária, eles não vão influenciar na sua prova. Não adianta você
estar se debruçando sobre isso aqui. Para o seu objetivo você tem tratado o direito penal puro e
perfeito. Eu costumo dizer que o que nós estudamos aqui é o fantástico mundo de Bobby, é o
direito penal em tese, direito penal teórico, é o direito penal puro e perfeito que é o que você vai
precisar na hora da sua prova. Então, não adianta você querer tá trazendo análises específicas
caso concreto, porque não é este o objeto de análise que você precisa. Nós temos que ser
pragmáticos. Nós temos um objetivo a alcançar, e para alcançarmos esse objetivo, nós temos
que saber o direito penal em tese.
PRINCÍPIO DA HUMANIDADE DAS PENAS: previsto no artigo quinto, inciso XLVII diz que não
haverá penas de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do artigo 84, XIX; de
caráter perpétuo; de trabalhos forçados; de banimento; cruéis. Quando você está tratando da
vedação às penas previstas na Constituição, você tem que tá ligado que existem 2 tipos de
vedações: existem as chamadas vedações absolutas e a vedação relativa. Quando você está
falando de penas perpétuas, de trabalhos forçados, de banimento e cruéis, a vedação é de
natureza absoluta; a grande pegadinha está em relação a pena de morte. Muitas pessoas acham
que o Brasil veda de forma absoluta a pena de morte, mas isso não é verdade. por força da
Constituição federal, a vedação a pena de morte é de natureza relativa, porque o próprio
dispositivo constitucional tem o “salvo”. O Brasil não admite pena de morte, salvo (...), ou seja,
excepcionalmente seria admitido em casos de guerra declarada nos termos do artigo 84, inciso
XIX. O artigo 84 da Constituição estabelece as competências privativas do presidente da
República; quando você pega o artigo 84 está lá “compete privativamente ao presidente da
República”, o inciso XIX diz “declarar guerra em caso de agressão estrangeira, desde que
devidamente autorizado pelo Congresso Nacional ou ratificado pelo mesmo quando ocorrer no
intervalo das sessões legislativas, e nas mesmas condições decretar total ou parcialmente a
mobilização nacional”.
Em uma situação hipotética e excepcionalíssima onde o presidente da República declarasse
guerra, em caso de agressão estrangeira pois o Brasil não faz guerra preventiva, somente
retributiva, somente se for atacado primeiro, se a nossa soberania de alguma forma, se a nossa
integridade territorial ou se as nossas instituições forem agredidas primeiro por uma nação
beligerante, o presidente pode declarar guerra. Se houver uma guerra declarada no Brasil nós
passamos a ter a possibilidade de pena de morte. Existe pena de morte no Brasil de forma
excepcional: apenas em casos de guerra declarada. A vedação a pena de morte é de natureza
relativa. Agora a vedação a penas perpétuas, de trabalhos forçados, de banimento e cruéis, a
vedação é de natureza absoluta.
AULA 03
Por toda a lógica da jurisprudência brasileira, por toda a sistemática que nos tribunais superiores,
tanto o STF quanto o STJ, adotam, muito provavelmente, situação dessa natureza que até então
é uma mera hipótese jurídica, seria solucionado à luz da corrente imediatista. Se nós analisarmos
a forma de posicionamento, se nós analisarmos a vertente de reflexão tanto da maioria dos
Ministros do STJ quanto do STF, no que trata a aplicação de leis penais, no que trata a tutela
penal sobre atos do dia a dia, no que trata essas mudanças no sistema penal, inclusive, para fins
de descriminalização de redução de pena, eu acredito que caso uma situação como essa
surgisse de fato o posicionamento dos nossos tribunais superiores seria a favor da corrente
imediatista, seria a favor da aplicação da lei penal benéfica ainda que esta esteja em vacation
legis. Hoje também a maioria na doutrina a corrente imediatista.
2. Aplicação da lei penal em crimes permanentes e continuados:
AULA 04
Na onde hoje nós vamos tratar da lei penal no espaço, ou como algumas pessoas gostam de
chamar, nós vamos tratar da aplicação territorial da lei penal Brasileira. Tanto faz lei penal no
espaço ou aplicação territorial da lei penal Brasileira, pois os termos são sinônimas e referem-se
aos mesmos institutos jurídicos. Para nós começamos a tratar deste tema nós já precisamos
conhecer a regra geral, porque quando nós estamos pensando na lei penal Brasileira em relação
ao espaço o que nós estamos pensando basicamente é: quais locais se o indivíduo cometer um
crime, em tese, ele estará sujeito ao ordenamento jurídico penal do nosso país. Quando eu estou
OBSERVAÇÃO:
1. A maioria dos conceitos relativos ao mar brasileiro deriva da Convenção das Nações
Unidas sobre o Direito do Mar, promulgada no Brasil pelo Decreto Nº 99.165 de 12 de Março
1990 e Lei 8.617/93. Você não precisa conhecer essa lei até porque ela é específica demais, mas
eu recomendo que você conheça alguns detalhes a título complementar, que são detalhes eu vou
falar agora pra você. mas adianto que esses conceitos de mar territorial, zona contígua, zona
econômica exclusiva e plataforma continental, principalmente as ideia de que o que acontece no
mar territorial Brasileira está sujeito a nossa Lei penal não é invenção da cabeça de quem quer
que seja, é fruto de uma convenção Internacional, tem uma convenção Capitaniada das Nações
Unidas; e lembre-se que aplica-se a lei penal Brasileira sem prejuízo de regras ou tratados de
direito internacionais, e esta convenção das Nações Unidas sobre o direito do mar virou lei no
Brasil com a publicação da Lei 8.617/93.
No artigo primeiro da Lei 8.617/93 diz que o mar territorial brasileiro compreende uma faixa de 12
milhas marítima de largura, medidas a partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular,
tal como indicada nas cartas náuticas de grande escala, reconhecidas oficialmente no Brasil.
Conforme o artigo segundo, a soberania do Brasil estende-se ao mar territorial, ao espaço aéreo
Mas, grande questão que pode aparecer para você com um certo nível de dificuldade, uma certa
tendência a ter uma pegadinha diz respeito à questão da passagem inocente de embarcações.
Antes de explicar isso para vocês eu gostaria de dar 2 exemplos, o primeiro sobre a aplicação
direta no conceito de mar territorial, e o segundo que vai me permitir explicar o que é passagem
inocente. O primeiro exemplo é real. Nós tivemos, isso tem mais de 20 anos, um fato ocorrido
com um navio de Bandeira chinesa que estava vindo em direção ao Porto de Suape, que é o
principal Porto aqui de Pernambuco já estava mais ou menos 8 milhas marítimas do Porto.
Quando já estava chegando perto do Porto de Suape, o comandante da embarcação descobriu 3
clandestinos na embarcação, e o comandante chinês teve a ideia de jogar os 3 clandestinos no
mar a 8 milhas marítimas do litoral, um morreu afogado e 2 conseguiram escapar. Quando os 2
que escaparam contaram a história para a polícia, esta foi atrás do comandante do navio, o navio
já estava atracado no Porto de Suape, já tinha terminado de fazer o carregamento de açúcar e
estava próximo à zarpar. a polícia federal prendeu o comandante da embarcação e esse foi
processado no Brasil e julgado e condenado por homicídio consumado e por 2 tentativas de
homicídio; ele respondeu em concursos de crimes por 3 homicídios, um consumado e 2 tentados.
Isso foi possível porque este navio Mercante da China quando o ato foi praticado ele estava
dentro do mar territorial brasileiro, e na regra o que acontece dentro do mar territorial brasileiro
está sujeito a nossa lei penal. Essa é a regra. Se você conseguiu gravar a regra fica fácil de
entender o que é o direito de passagem inocente.
Imagine que uma embarcação saia de Portugal com destino em Montevidéu no Uruguai, e
quando ele está navegando ele acaba entrando no mar territorial brasileiro. ele não vem para o
Brasil, apenas como rota de navegação ele acaba navegando por dentro do mar territorial
brasileiro. Neste caso, este navio goza do chamado direito de passagem inocente, que está
previsto no artigo terceiro Lei 8.617/93. se esta embarcação não tem Porto de origem ou Porto de
destino no Brasil, ela sai de um país e vai para o outro e não vem para o Brasil, ela pode passar
por dentro do nosso mar territorial sem pedir autorização prévia e não está sujeito a lei Brasileira,
inclusive a lei penal Brasileira. Se essa embarcação estrangeira está apenas utilizando o mar
territorial brasileiro para passar ela não estará sujeita a tutela da legislação Brasileira. Aquele
exemplo do cassino: o navio sai de Portugal com destino ao Uruguai, e vamos supor que esses
países permitam o cassino, na hora que esse navio entrar no mar territorial brasileiro ele não
precisa fechar o cassino, porque ele está em passagem inocente.
O artigo terceiro Lei 8.617/93 diz que é reconhecido aos navios de todas as nacionalidades o
direito de passagem inocente no mar territorial brasileiro. Conforme o parágrafo primeiro, a
passagem será considerada inocente desde que não seja prejudicial à paz, à boa ordem ou à
segurança do Brasil, devendo ser contínua e rápida. nos termos do parágrafo segundo, a
passagem inocente poderá compreender o parar e o fundear, mas apenas na medida em que tais
procedimentos constituam incidentes comuns de navegação ou sejam impostos por motivo de
força ou por dificuldade grave, ou tenham por fim prestar auxílio a pessoas a navios ou aeronaves
em perigo ou em dificuldade grave.
A ideia do direito de passagem inocente é de que se uma embarcação estrangeira não tem nem
Porto de destino e nem Porto de origem no Brasil, só está passando por nosso mar territorial, ela
não se sujeita a nossa legislação, nem mesmo a lei penal Brasileira. Se um navio sai do Uruguai
para Portugal só passando, ele não vai parar no Brasil, e acontece um crime a bordo, no Brasil
não tem nada a ver com isso, pois ele está exercendo o direito de passagem inocente.
º EMBARCAÇÕES: a primeira coisa quando você estiver analisando uma questão referente a
aplicação da lei penal Brasileira a crimes praticados dentro de embarcações, a primeira pergunta
que você deve fazer é: essa embarcação é pública ou ela é uma embarcação privada ou
Mercante? Você já tem que encontrar essa informação, senão você não consegue fazer a
análise. A regra para crimes praticados a bordo de embarcações públicas é diferente daquela
para crimes praticados a bordo de embarcações mercantes ou privadas.
O que é que doravante você vai entender por embarcação pública para fins de aplicação da lei
penal no espaço? Você vai considerar como embarcação pública todas as embarcações que
pertençam formalmente a um determinado governo, embarcações públicas brasileiras,
embarcações que pertencem ao governo brasileiro ou que estejam a serviço deste governo.
º AERONAVES: Se você captou isso agora fica mais fácil de você entender a aplicação da lei
penal a crimes praticados em aeronaves. Você vai fazer exatamente a mesma pergunta: essa
aeronave é pública ou essa aeronave é privada ou comercial? Aeronave pública é a que pertence
a algum governo ou que está formalmente a serviço de algum governo. Por exemplo, uma
aeronave da força aérea Brasileira é uma aeronave pública Brasileira. Aeronaves privadas ou
comerciais são os demais aviões, tanto o avião particular, quanto táxi aéreo, quanto aviação de
garimpo, quanto aviação comercial propriamente dita, são as empresas aéreas. Respondida a
primeira pergunta, vem a segunda pergunta: essa aeronave pública é Brasileira ou estrangeira?
essa aeronave privada ou comercial é Brasileira ou estrangeira?
Respondida essas 2 perguntas, você aplica a regra: crimes praticados a bordo de aeronaves
públicas brasileiras estão sujeitos a nossa lei penal onde quer que a aeronave esteja voando ou
se ela tiver pousada no território brasileiro. Crimes praticados a bordo de aeronaves públicas
brasileiras estão sujeitos às nossa lei penal quando esta aeronave estiver em voo em qualquer
lugar do mundo ou quando ela estiver pousada no território brasileiro. Imagine a aeronave da
força aérea Brasileira, aeronave pública Brasileira, sobrevoando o espaço aéreo dos Estados
Unidos. Enquanto esta aeronave está voando sobre os Estados Unidos acontece um crime a
bordo, a lei penal aplicada é a nossa. Qualquer crime praticado a bordo de aeronaves públicas
brasileiras em voo em qualquer lugar do mundo estão sujeitos a nossa lei penal; Da mesma
forma se esta aeronave estiver pousada no território brasileiro. Uma aeronave pública brasileira
pousada no estrangeiro não é território brasileiro para fins de aplicação da lei penal Brasileira.
Imagine que uma aeronave da força aérea Brasileira só em São Paulo em missão oficial com
destino aos Estados Unidos. enquanto ele estiver voando, qualquer crime praticado dentro da
aeronave está sujeito a lei Brasileira; mas vamos supor que ela pouse em Washington e,
enquanto ela está pousada, o governo americano descobre que um dos pilotos está carregando
drogas nessa aeronave, a lei penal aplicável neste caso será dos Estados Unidos, porque esta
aeronave embora pública está em pouso nos Estados Unidos.
Pela regra da reciprocidade, fica fácil nós sabermos como aplicar a lei penal Brasileira se o crime
for a bordo de aeronaves públicas estrangeiras. Aeronaves públicas estrangeiras estão sujeitos a
nossa lei penal quando elas estiverem em pouso no território brasileiro. Se uma aeronave pública
estrangeira está voando sobre o território brasileiro, a lei penal aplicável é a do país a qual ela
pertence. Ela só estaria sujeita a lei Brasileira quando em pouso no nosso território. Para, por
exemplo, uma aeronave militar estrangeira entrar no espaço aéreo brasileiro ela tem que ter
autorização. se ela não tiver, isso é considerado violação de território.
Aeronaves privadas brasileiras estão sujeitas a nossa lei penal quando estiverem sobrevoando o
espaço aéreo brasileiro, em pouso no território brasileiro, sobrevoando o espaço aéreo
Internacional. Lembrando que espaço aéreo Internacional é diferente de espaço aéreo
estrangeiro. Espaço aéreo Internacional não pertence a ninguém. Aeronave privada brasileira em
espaço aéreo estrangeiro está sujeito a lei do país onde ela está.
Aeronaves privadas estrangeiras estão sujeitos a lei penal Brasileira quando entrarem no espaço
aéreo brasileiro ou em pouso no território brasileiro. Imagine que eu pego um voo da gol,
empresa privada Brasileira, de Brasília para Orlando. Quando esse avião da gol está
sobrevoando o espaço aéreo Internacional, eu cometo o crime a bordo, é uma aeronave privada
Brasileira em espaço aéreo Internacional, eu serei julgado pela lei penal Brasileira; mas se eu
deixar para cometer este crime quando esta aeronave já sobrevoando a cidade de Orlando, se
preparando para pousar, eu já estou no espaço aéreo dos Estados Unidos, então a lei penal
aplicável é a dos Estados Unidos. Suponha que um canadense embarque na aeronave da air
Canadá no território dele, quando esta aeronave está sobrevoando o espaço aéreo brasileiro, um
EXTRATERRITORIALIDADE:
São aquelas situações em que mesmo crime tendo sido praticado fora do território Brasileiro, seja
território físico ou território por convenção, ainda assim ela estaria sujeito a nossa lei penal.
Doutrinariamente falando existem 3 modalidades de extraterritorialidade: incondicionada,
condicionada e hipercondicionada ou pluscondicionada. Em tese, a extraterritorialidade
incondicionada é aquela que não precisa ser te fazer nenhuma outra situação a não ser o crime
está listado entre os autorizadores de extraterritorialidade, ou seja, em tese, aquelas hipóteses
em que onde um determinado crime fosse cometido ele estaria sujeito a lei brasileira. Já a
extraterritorialidade condicionada e hipercondicionada diriam respeito as hipóteses em que o
crime praticado fora do Brasil estaria sujeito a lei Brasileira desde que satisfeito uma série de
outras condições.
Essas regras de extraterritorialidade do código penal são muito mais uma carta de intenções do
que regras concretas e válidas. Primeiro, mesmo as hipóteses de extraterritorialidade
incondicionada, para terem efetividade elas dependem da boa vontade de nações estrangeiras;
muitos países não reconhecem a tutela de extraterritorialidade incondicionada do Brasil.
Segundo, hipóteses de extraterritorialidade condicionada e hipercondicionada para que você se
possa reconhecer presumiria que você conhecesse muito de leis de outros países, o que não lhe
é razoável de lhe ser exigido.
Pensando na realidade das provas, eu recomendo que você decore as hipóteses de
extraterritorialidade condicionada. Mesmo que a aplicação prática hoje seja muito difícil de
acontecer, o que normalmente vou lhe perguntar sobre extraterritorialidade 4 hipóteses previstas
em lei de extraterritorialidade incondicionada. Ninguém tem como colocar situações de
extraterritorialidade condicionada ou hipercondicionada para que você identifique porque
demandaria que você conhecesse uma série de tratados internacionais e a lei de outros países, o
que não lhe é razoável de lhe ser exigido.
- Extraterritorialidade Incondicionada: As hipóteses de extraterritorialidade estão previstas no
artigo sétimo do código penal, tanto a incondicionada, condicionada e hipercondicionada ou
pluscondicionada. Vamos começar observando a extraterritorialidade incondicionada, que como
eu disse, seriam as hipóteses em que, em tese, esses crimes aqui listados sendo praticadas
estariam sujeitos à lei brasileira independente de qualquer outra condição.
Nos termos do antigo sétimo, ficam sujeitos à lei Brasileira, embora cometidos no estrangeiro os
crimes:
º contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
AULA 05
Quando nós vamos caracterizar um crime hoje é notório, pacífico e uníssono em toda a nossa
doutrina que esta caracterização deve ser feita com base no conceito analítico tripartite ou
tripartido do crime. O reconhecimento do que hoje é um crime para fins de aplicação do direito
penal brasileiro demanda de uma análise do conceito ou da teoria analítica tripartite do crime. O
STJ e o STF abraçaram a ideia do conceito analítico tripartite e é esse que deve ser usado e
obviamente seguir com vocês.
Basicamente o que o conceito analítico tripartite de crime nos diz é que para nós termos um crime
nós temos que ter 3 elementos indissociáveis: o fato típico, antijurídico ou ilícito, culpável.
Basicamente o crime é um fato típico, antijurídico e culpável.
Quando nós estamos analisando esses 3 elementos constitutivos e indissociáveis ao
reconhecimento do crime, nós temos que analisá-los de forma progressiva e aplicando a
chamada teoria da indiciariedade (ou ratio cognoscendi). Essa teoria diz que quem acusa deve se
preocupar em demonstrar os elementos constituintes do fato típico; quem acusa outrem da
prática do crime tem por obrigação demonstrar a existência do fato típico com todos os seus
elementos. Estando demonstrado por quem acusa a existência de fato típico, estará
caracterizada indícios de existência de antijuridicidade e, reconhecida antijuridicidade, estará
caracterizada ou presumida também a culpabilidade. Com base na teoria da indiciariedade, se
ficar comprovado e demonstrado no caso concreto por parte de quem exerce o pleito, o múnus
acusatório, a existência do fato típico presume-se que esse fato é também antijurídico ou ilícito e
também é culpável. Neste momento caso se pretenda desnaturar a antijuridicidade ou a
culpabilidade, passa a ser ônus da defesa, demonstrar e provar processualmente que nós
estaríamos diante de algum excludente de ilicitude ou de algum excludente de culpabilidade. Eu
já adianto pra vocês que você só consegue demonstrar a existência do fato típico se você
demonstrar todos os seus elementos constitutivos.
Com base na Teoria da Indiciariedade para reconhecermos a existência de um crime é
necessária a efetiva demonstração da existência do fato típico. Estando comprovado e
caracterizado por meios de provas e de análises admissíveis no direito brasileiro fato típico existiu
presume-se também que há antijuridicidade e culpabilidade. Caso alguém pretenda desnaturar o
crime excluindo a antijuridicidade ou excluindo a culpabilidade, caberá a quem pretende
desnaturar o crime, ou seja, a defesa demonstrar que naquele caso concreto nós estamos diante
de alguma das hipóteses de exclusão da ilicitude ou exclusão da culpabilidade.
AULA 06
º Nexo de Causalidade: o código penal e toda a lógica, toda a sistemática do direito penal
brasileiro entende que para que haja nexo de causalidade, enquanto elemento constitutivo e
indissociável do fato típico, é indispensável que exista uma relação direta de causa e efeito entre
a conduta e o resultado produzido. Eu só terei o nexo de causalidade se e somente se for
possível estabelecer uma relação direta de causa e efeito entre a conduta e o resultado. O nexo
causal estará caracterizado a conduta praticada pelo indivíduo diretamente gerou o resultado
delituoso. Seja esse resultado formal, seja esse resultado formal e material. Inclusive, o nosso
código penal ao falar em nexo de causalidade, e ele fala isso no caput do artigo 13, quando ele
diz que considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido. Quando
nosso código traz essa expressão na parte final do artigo 13, ele deixa claro que ele adota a
chamada teoria da equivalência dos antecedentes causais. Para fins de reconhecimento e
estabelecimento do nexo de causalidade, o código penal brasileiro e toda a sistemática penal
Brasileira adotam a teoria da equivalência dos antecedentes causais, que de uma forma bem
simples nos diz que para haja nexo de causalidade a conduta do agente, a ação ou omissão do
indivíduo, diretamente tem que ter gerado o resultado delituoso, seja esse resultado formal ou
formal e material. Qualquer coisa que quebre, que cause a ruptura nesse nexo de causalidade
impede que o indivíduo responda de forma plena pelo resultado. Suponha que eu quero matar Vi,
eu pego uma arma de fogo encosto na cabeça dela, ciclo o gatilho, deflagrou o tiro e ela morre.
Existe nexo causal? Obvio. A teoria da equivalência dos antecedentes causais foi satisfeita? Sim.
Existe uma relação direta de causa e efeito entre a minha conduta e o resultado morte dela? Sim.
Vi morreu porque eu encostei uma arma na cabeça dela e deflagrei disparo. Quando eu aciono o
gatilho eu tenho um resultado formal, quando ela morre eu tenho o resultado material ou
naturalístico. Os resultados produzidos são consequências diretas dos meus atos, da minha
conduta. Então o nexo causal está satisfeito.
Vamos imaginar que eu quero matar Vi, mas eu não estou próximo a ela. Eu só com a minha
arma, aponto em direção a ela e efetuo o disparo mas eu erro, eu estou diante de um crime
tentado, de uma tentativa de homicídio. Tem resultado? tem o resultado formal. Existe um nexo
de causalidade? Sim. A vida de Vi só foi exposta a risco, o que caracteriza o resultado formal,
porque eu efetuei o disparo. Então o disparo por mim efetuado diretamente produziu o resultado
formal. Qual foi o resultado formal? a exposição do bem jurídico vida humana a uma situação de
risco. Há um nexo de causalidade inequívoco. Normalmente, quando as questões falam sobre
nexo de causalidade elas usam crimes consumados. Eu não eu estou dizendo que só haja nexo
causal em crimes consumados. Qualquer crime tem que ter nexo de causalidade e eu acabei de
dar um exemplo de um nexo de causalidade em um crime tentado. Agora o mais comum é que as
questões se utilizem de crimes consumados até para não ter questionamentos, que você consiga
AULA 07
CONSUMAÇÃO:
Vamos nos ater primeiro ao que diz o código penal acerca do crime consumado. Quando a letra
da lei começa a dizer que o é crime consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de
sua definição legal fica claro que o código penal não nos ajuda nem um pouco a saber qual é o
momento, ou quais são os momentos, consumativos dos crimes. Ele diz que o crime é
consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal, ou seja, ele parte
da premissa que você saiba qual é a definição normativa de todos os crimes. Para questões
referentes à parte geral do direito penal não precisam você esquentar a cabeça com o momento
do consumativo dos crimes, até porque nós não temos uma regra única que estabeleça quando o
crime se consuma ou não. A maioria dos crimes tem particularidades quanto a sua consumação,
é por isso que normalmente se estuda o momento consumativo de cada crime na medida em que
se está estudando o crime em si. Não existe uma regra única que diga que “satisfeito esse
requisito todos os crimes serão considerados consumados”; isso não existe porque cada crime,
dependendo das suas particularidades, dependendo das suas nuances, poderá ter momento
consumativo específico. Eu vou dar só alguns exemplos ilustrativos aqui pra vocês, mas como eu
disse: o estudo específico da consumação demanda do estudo específico do crime na parte
especial do código penal. Mas vamos dar alguns exemplos aqui e chamar a atenção para aqueles
crimes mais comuns, mais recorrentes e vamos destacar o momento consumativo deles, a
começar pelo delito capital histórico, que é o crime de homicídio.
Homicídio está tipificado ao teor do artigo 121 do código penal brasileiro e está lá escrito que
homicídio é matar alguém, com pena de reclusão de 6 a 20 anos na modalidade simples. Quando
é que o crime de homicídio restará consumado? Quando eu faço essa pergunta eu tenho certeza
absoluta que muitas pessoas dizem que o crime de homicídio está consumado quando a vítima
morrer. Essa resposta está correta, mas é tecnicamente imprecisa. Na medicina legal, nós
aprendemos que existem várias modalidades distintas disso que genericamente nós chamamos
de morte. Você em medicina legal aprende, por exemplo, que existe a morte cardíaca quando
cessarem definitivamente as sístoles e diástase do músculo cardíaco. Abrindo um parêntese, nós
tecnicamente temos uma mania de dizer que o coração bate, mas na verdade ele tecnicamente
pulsa, e o que promove essa pulsação é o movimento de contração e distensão do músculo
cardíaco. O nosso coração é um músculo e é composto de válvulas que se abrem e fecham para
a passagem do sangue, e desse movimento de contração e distensão, desse movimento de
sístole e diástole resulta a pulsação do coração e em consequência da pulsação do coração,
resulta todo o processo de circulação sanguínea. Então na hora que você tenha falência completa
e definitiva do músculo cardíaco, ou seja, na hora que o músculo cardíaco cessa definitivamente
a sua pulsação você tem aquilo que nós chamamos de morte cardíaca. A morte cardíaca leva à
falência total e completa do restante do organismo. Se o coração parar de pulsar, o organismo vai
entrar em falência completa. Leva quanto tempo? Isso depende de pessoa para pessoa, de
situação para a situação, mas cessada a pulsação, cessa a circulação, cessada a circulação,
cessa a oxigenação, transporte de nutrientes, transporte de adenosina trifosfato, glicose que é
oxidada nas mitocôndrias para produzir adenosina que é a matriz energética das células, e por aí
vai. Então nós temos em medicina legal a morte cardíaca. A morte cardíaca produz a falência
total do corpo? Produz. Nós temos uma segunda modalidade de morte estudada em medicina
legal: a morte pulmonar, também conhecida como morte respiratória. Quando é que nós teremos
a morte pulmonar ou respiratória? Quando o pulmão da vítima perder de forma completa e
irreversível a capacidade de fazer a troca do sangue venoso pelo sangue arterial. Por conceito, e
é um conceito que eu estou indo buscar lá em medicina legal, a morte pulmonar estará
caracterizada no momento que o órgão pulmão perder de forma plena e irreversível a capacidade
de promover a troca do sangue venoso pelo sangue arterial. O nosso pulmão tem ramificações,
que numa comparação esdrúxula para fins didáticos, parecem esponjas, é o que nós chamamos
em medicina legal de alvéolos pulmonares; nesses alvéolos pulmonares ocorrem efetivamente a
TENTATIVA
O inciso II estabelece que diz-se o crime tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma
por circunstâncias alheias à vontade do agente. Para que eu tenha tentativa o ato executório
efetivamente tem que ter se iniciado. A tentativa presume que o indivíduo efetivamente colocou
em prática a sua intenção delituosa, o se dolo, mas que a consumação não veio por algo que
fugiu ao seu controle. por exemplo, eu quero matar Vi, saco uma arma e atiro nela. Ela é
alvejada, mas as pessoas a socorrem ao hospital e ela não morre. Qual é o meu crime? tentativa
de homicídio, porque eu efetivamente iniciei a prática dos atos executórios, mas o crime não se
consumou por algo estranho a minha vontade.
Quando nós vamos analisar o crime tentado e consumado é muito importante que você não
observe apenas a conduta praticada pelo agente, você tem que observar também a intenção
delituosa, porque crime tentado presume o dolo, o crime tentado só vai acontecer se a conduta
for dolosa. Crime culposo não admite tentativa, pois do crime culposo é um crime que eu não
desejo o resultado, mas dei causa a ele porque foi imperito, imprudente ou negligente. Se você
for para o artigo 18, inciso II, do código penal, você encontrará a definição do crime culposo. Diz-
AULA 08
No final da aula passada, eu ia começar a falar pra vocês sobre as famosas pontes de ouro,
como diria o Mestre Nelson Hungria, ou mais especificamente sobre 2 institutos jurídicos que
estão previstas ao teor do artigo 15 do Código Penal Brasileiro, que são a desistência voluntária e
o arrependimento eficaz. Vamos observar o que diz a letra da lei, vamos observar o que diz o
artigo 15 do código penal, mas já adianto para vocês que o nosso legislador não foi muito feliz ao
fazer a redação do artigo 15.
Diz o artigo 15 do código penal que o agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na
execução ou impede que o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.
Desistência voluntária: abstrato o direito penal neste momento e pense na vida cotidiana. Você
desiste do que? Você desiste de dar continuidade a alguma coisa ou daquilo que você ainda não
fez. Quando eu estou desistindo eu desisto ou de praticar algo que eu ainda não fiz ou, no
máximo, eu desisto de dar continuidade ao que eu estou fazendo. Eu lhe pergunto: você pode
desistir daquilo que você já fez? Você pode desistir do que já passou? Você pode desistir dos
atos que já praticou? Não, se você já fez você não pode desistir, você pode se arrepender. Eu
desisto daquilo que eu não fiz ou, no máximo, do que eu estou fazendo. Por exemplo, imagina
que você assim como eu senta pra assistir um filme na Netflix, mas no processo de escolha de
qual filme assistir, acaba desistindo e indo fazer outra coisa. você tinha o animus de assistir, você
tinha a intenção de sentar e assistir, mas no processo de escolha eu desisti de assistir, porque
você vê existe daquilo que ainda não fez ou, no máximo, daquilo que está fazendo. Imagine que
você vai pedir a sua namorada em casamento, vai numa loja comprar o anel, leva ela pra jantar,
está em todos os atos, todos os procedimentos pra você pedir ela em casamento. Mas, no
momento que você vai pegar o anel para pedi-la em casamento, você reflete e pensa que é
melhor não fazer isso e vai embora. Neste caso, você desistiu de dar continuidade a algo que
estava fazendo. Na nossa vida real, eu desisto daquilo que eu ainda não fiz ou, no máximo, de
dar continuidade ao que eu estou fazendo.
Arrependimento eficaz: eu me arrependo do que já passou; eu me arrependo do que eu já fiz. Por
exemplo, imagine que você vai para a balada conhece um indivíduo, fica com ele, posta fotos
com ele no Instagram, mas no outro dia, no momento que você está sóbria, você analisa a
pessoa que você ficou e se arrepende de ter ficado com ela. Você pode desistir e ter ficado com
ela? Você pode desistir de ter postado as fotos? Não, você pode se arrepender, porque você se
PERGUNTA: Se mesmo prestando socorro a vítima morrer, isso seria arrependimento eficaz?
Não seria, porque tanto a desistência voluntária quanto arrependimento eficaz impedem a
consumação do crime. Logo, eu não vou ter benefícios até porque o crime estará consumado.
Desistência voluntária e arrependimento eficaz são institutos jurídicos de eliminação da tentativa.
Se o crime se consumou eu não estou discutindo tentativa. Se o crime se consumou esqueça a
tentativa e, consequentemente, esqueça os institutos jurídicos inerentes à tentativa.
PERGUNTA: Imagine que você vai matar Beto, encosta a arma na cabeça dele, e ele começa a
suplicar pela vida e isso lhe comove, você interrompe a execução e libera ele isso seria
desistência voluntária?
ARREPENDIMENTO POSTERIOR
TENTATIVA INIDÔNEA
A tentativa inidônea é mais conhecida como Crime Impossível. O crime impossível está
disciplinado ao teor do artigo 17 do Código penal e diz que não se pune a tentativa quando, por
ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o
crime.
O Crime impossível corresponde àquelas situações em que o indivíduo por mais que ele queira,
por mais que busque e por mais que ele tente, ele não vai conseguir consumar o crime; ele não
vai conseguir consumar o crime, porque o objeto que ele pretende atingir é inatingível, ou porque
o meio que ele está usando de execução é completamente ineficaz. O exemplo mais clássico de
AULA 09
Tanto faz você falar em dolo e culpa, ou em elemento subjetivo do tipo. Nós vamos encontrar a
definição de dolo e culpa ao teor do artigo 18 do Código Penal.
Art. 18 - Diz-se o crime:
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia.
Parágrafo único - Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto
como crime, senão quando o pratica dolosamente.
Em que pese eu sempre gostar de começar a analisar os institutos jurídicos, quando eles estão
definidos em lei, pelo que está previsto no Código, fica óbvio que numa primeira leitura o nosso
artigo 18 não nos ajuda muito com a compreensão do que seria dolo e culpa. Então, vamos
recorrer a conceitos doutrinários, eu diria até conceitos empíricos, e depois, quando necessário,
nós retomamos a análise da letra da Lei.
CRIME DOLOSO
Todos nós temos uma ideia empírica de dolo na cabeça de que o crime é doloso porque o
indivíduo quis praticá-lo; porque o indivíduo tinha uma vontade delituosa e executou essa
vontade; o crime é doloso porque o indivíduo queria cometer a conduta e praticou os atos
executórios de um crime pretendido. Essa ideia empírica que nós temos não é errada, mas é
incompleta, porque eu não tenho uma espécie de dolo, eu tenho duas espécies de dolo.
Cuidado: eu não estou falando que eu só tenho duas classificações de dolo. Quando nós vamos
nos aprofundar na doutrina a depender do doutrinador que você esteja estudando, alguns deles
Então é possível, a luz da jurisprudência, dolo eventual em sede de tentativa. O STJ analisou o
exemplo de um indivíduo e efetuou disparos de arma de a esmo, como forma de se exibir em um
local densamente cheio de pessoas, e algum desses disparos alvejaram uma criança, e essa
criança ficou entre a vida e a morte, e ele foi acusado de tentativa de homicídio da morte da
criança. Alegação foi quem não tinha mirado diretamente na criança, ele não tinha tido a intenção
prévia de matar a criança, de atingir a criança, mas foi reconhecido o dolo eventual. A conduta foi
de tal forma irresponsável que o dolo eventual estava caracterizado, e aí foi dolo eventual em
tentativa de homicídio. A criança não morreu por causa do Socorro médico. Tentativa de
homicídio em sede de dolo eventual. É possível. Depende, claro, de uma série de
particularidades do caso concreto, mas se a pergunta for: é possível tentativa em sede de dolo
eventual? Eu recomendo que você diga que sim, porque esse é o posicionamento tanto do STF
quanto do STJ.
Basicamente todos nós temos um conceito empírico de culpa. O crime culposo seria aquele crime
que o indivíduo não pretende produzir; é o crime do indivíduo deu causa sem querer. Isto não
está errado, mas está tecnicamente incompleto. O correto seria você dizer que crime culposo é
aquele que o indivíduo não quer o resultado, não deseja o resultado, mas acaba dando causa a
esse resultado por que foi imperito, imprudente, negligente.
De uma forma mais didática nós poderíamos definir o crime culposo como sendo uma conduta
humana voluntária que produz um resultado involuntário, não desejado previamente pelo agente,
decorrente de uma violação de um dever de cuidado objetivo.
Uma conduta humana voluntária: eu pratiquei um ato porque eu quis. Para que eu tenha qualquer
crime, eu tenho que ter voluntariedade no meu ato. No crime doloso e no crime culposo eu pratico
um ato porque eu quero. No crime doloso eu pratico um ato para alcançar um resultado, ou
assumindo um risco exagerado nas hipóteses de dolo eventual; já no crime culposo eu pratico um
ato involuntário; eu faço alguma coisa, ação ou omissão, porque eu quis, mas eu gero um
resultado que não era pretendido. No crime culposo, eu agi, mas dei causa a um resultado que eu
não queria, não desejava, não almejava, não buscava, e eu dei causa a esse resultado porque eu
não cumpri com o dever objetivo de cuidado, ou seja, porque eu fui imprudente, imperito ou
negligente.
Basicamente se você tem crime culposo você vai dizer 2 coisas: o indivíduo não queria gerar o
resultado e obrigatoriamente houve imperícia, imprudência ou negligência. Se você não conseguir
reconhecer nenhum desses 3 elementos, não haverá crime culposo. Para que o crime seja
culposo, não basta que o indivíduo não queira o resultado. É preciso que esse resultado seja
decorrente da inobservância de um dever objetivo de cuidado, ou seja, de uma imprudência,
imperícia ou negligência.
O parágrafo único do artigo 18 do código penal diz que salvo os casos expressos em lei, ninguém
pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. Todo o crime
previsto no código presume-se doloso; a lei não precisa dizer que o crime é doloso, ele é
presumido. O dolo é o elemento subjetivo do tipo presumido, ou seja, você pega a tipificação do
artigo 121 “matar alguém: pena de reclusão de 6 a 20 anos”, o dolo é presumido. A regra é que
os crimes previstos na legislação Brasileira sejam punidos quando praticados dolosamente. Para
que se admita um crime na modalidade culposa, é uma excepcionalidade que obrigatoriamente
tem que estar previsto em lei. Só será possível imputar um crime a alguém a título culposo se, e
somente se, a letra da lei prever essa possibilidade. A legislação penal não precisa dizer que uma
conduta é dolosa. Se a legislação penal não fizer referência ao elemento subjetivo do tipo, ele
sempre será doloroso. Mas, só será possível a imputação de um crime a título culposo, se a letra
da lei prever essa modalidade.
Nós temos os crimes contra a vida no código penal: homicídio: artigo 121; induzimento, instigação
ou auxílio ao suicídio ou a automutilação: artigo 122; infanticídio: artigo 123; e aborto nas suas
modalidades: artigo 124: autoaborto; artigo 125: aborto sem consentimento da gestante; artigo
126: aborto com consentimento da gestante; artigo 127: as hipóteses de agravamento de pena e
qualificação do aborto; o artigo 128 diz respeito as hipóteses em que o aborto não é crime, sendo
necessário para salvar a vida da gestante, e o aborto humanitário em caso de gravidez resultante
de estupro. De todos os crimes contra a vida, o único que admite elemento subjetivo culposo é o
homicídio, porque é o único que tem no artigo 121 a previsão para homicídio culposo. todos os
outros ou são dolosos, ou não são crime. Se a conduta é culposa, mas a lei não prevê
modalidade culposa para o crime, não há elemento subjetivo do tipo; e não existindo elemento
subjetivo do tipo não há fato típico, não há crime.
Imagine o caso de uma mulher que está grávida e ela quer interromper a gestação, e ela adquire
voluntariamente uma substância entorpecente que produz efeitos abortivos, toma e perde o bebê.
Qual é o crime dela? autoaborto, nos termos do artigo 124. A lei não precisa dizer, presume-se
dolo. A conduta dela é dolosa. Ela queria abortar e tomou remédio para abortar, isso é dolo direto
de primeiro grau. Ela praticou atos condizentes com sua vontade de interromper a gestação. Mas
vamos imaginar o caso de uma mulher que está grávida que não deseja abortar, mas por ser
muito vaidosa acha que está ganhando peso muito rápido na gestação, e começa a tomar alguns
AULA 10
ERRO DE TIPO: discriminado ao teor do caput artigo 20 do código penal. Por conceito,
convenciona-se dizer que o erro de tipo é o erro que recai sobre qualquer elemento previsto em
lei para o reconhecimento da conduta delituosa, incluindo os dados secundários da norma penal.
Basicamente, quando você pensar sobre erro de tipo, a primeira associação de ideias que você
tem que fazer é a seguinte: age em erro de tipo o indivíduo que por falha, por equívoco na
interpretação da realidade, por equívoco na interpretação do caso concreto onde ele está
inserido, ele não consegue perceber que o que faz ou deixa de fazer, que a sua conduta, pode
ser ação ou omissão, corresponde, se enquadra, se adequa a uma definição normativa de crime.
O erro de tipo se manifesta em um contexto onde o indivíduo pratica o ato, desempenha uma
ação ou omissão, mas ele não imagina, não consegue enxergar, no sentido de percepção, ele
não consegue perceber, ele não consegue discernir que aquela sua conduta se enquadra,
DESCRIMINANTES PUTATIVAS
- Definição normativa: nos termos do artigo 20, §1º, do CP, é isento de pena quem, por erro
plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a
ação legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como
crime culposo.
Basicamente nós estamos diante das figuras das descriminantes putativas todas as vezes que o
indivíduo por um erro, por uma falha, até porque descriminante é uma modalidade de erro de tipo,
de um equívoco na interpretação da realidade onde está inserido ele supõe equivocadamente
que pode se valer de uma excludente de ilicitude, quando de fato essa excludente de ilicitude não
existe; quando de fato essa excludente de ilicitude não é manifesta na casuística, não é manifesta
no caso concreto.
Nós estaremos diante na figura das descriminantes putativas todas as vezes que um indivíduo
por falha, equívoco, erro, na percepção da realidade supõe equivocadamente está diante de uma
situação que o permitiria, que o autorizaria a se valer de alguma das excludentes de ilicitude,
quando de fato essa situação autorizadora da excludente de ilicitude não existe.
Vamos pegar alguns exemplos de descriminante putativa e dos exemplos nós voltamos para a
conceituação. Vamos pegar um exemplo acontecido com pessoas que foram nossas alunas.
Desta feita, acontecido com o irmão de uma ex-aluna nossa. Esse fato ocorreu em Belém do
Pará. O indivíduo tinha acabado de passar no concurso para a polícia militar do estado do Pará,
tinha terminado recentemente o curso de soldado e estava em período de estágio de rua. Um
amigo dele de infância, vendo ele chegar em casa à noite resolve fazer uma “brincadeira” se
escondendo atrás de um Mato que ficava na frente da casa do policial para lhe dar um susto.
Quando o policial está entrando em casa este amigo sai de trás do Mato com um pedaço de
madeira na mão gritando que ele vai morrer. O policial sem ver direito de quem se tratava sacou
a arma e deflagrou alguns disparos. Existia uma agressão real? Não. Existia era uma brincadeira.
O amigo ia agredir de fato? Não, ele queria só dar um susto. Se fosse uma situação de agressão
real, aquele policial que estava se defendendo, que estava reagindo, ele estaria agindo em tese
amparado por uma excludente de ilicitude, excludente de ilicitude da legítima defesa. Naquela
situação qualquer pessoa acreditaria que se tratava de uma situação real. Naquele contexto era
razoável qualquer pessoa achar que se tratava de uma agressão real e por isso supôs poder se
valer da excludente da ilicitude da legítima defesa, mas não era uma agressão real. Então aquele
que reagiu se enquadra na figura da descriminante putativa, ou como algumas pessoas preferem
chamar descriminante putativa especificamente uma legítima defesa putativa. Se fosse uma
agressão real seria legitima defesa, mas não era, descriminante putativa.
Beto, funcionário aqui da empresa, tem um canal no YouTube chamado “arrete não”. No dia do
fato, Beto não estava presente pois eu estava no aniversário da sua filha, então o cunhado dele e
mais alguns amigos resolveram gravar uma pegadinha para o canal. Eles se vestiram de La Casa
de Papel e resolveram ir até o Cotel, estabelecimento prisional, e a pegadinha era eles fazendo
Nós temos ainda a figura do erro sobre a pessoa. Quando nós estamos falando de erro sobre a
pessoa, nós estamos falando basicamente em uma situação onde o agente delituoso pratica a
conduta contra um indivíduo alfa acreditando que na verdade está atingindo o indivíduo beta. No
erro sobre a pessoa, ou erro quanto a pessoa, delituoso se confunde, o agente delituoso falha na
identificação da vítima que ele pretende atingir. O erro quanto a pessoa presume dolo, presume
ERRO DE PROIBIÇÃO
O erro de proibição está disciplinado ao teor do artigo 21 do código penal. O erro de proibição
tecnicamente é uma falha do indivíduo quanto aos limites permissivos da norma. No erro de
proibição o indivíduo sabe e o que ele faz em regra corresponde a algo que terá tutela penal,
corresponde à uma definição normativa de crime. Embora saiba que a sua conduta, em regra,
corresponde a descrição de um crime, ele acha que naquela situação específica, ele está diante
de uma exceção autorizada por lei.
No erro de tipo o indivíduo pratica uma conduta a cabeça o que ele acha que está fazendo é um
indiferente penal, ele acha que o que ele faz não corresponde a uma definição normativa de
crime. Já no erro de proibição não. No erro de proibição, o indivíduo pratica uma conduta
AULA 11
Nos termos do artigo 73 do código penal, quando, por acidente ou erro no uso dos meios de
execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que pretendia ofender, atinge pessoa diversa,
responde como se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se ao disposto no §3º do
artigo 20 deste código. No caso de ser também atingida a pessoa que o agente pretendia
ofender, aplica se a regra do artigo 70 deste código.
Nós não temos como fazer uma conceituação única no erro de execução, porque na realidade
existem 2 modalidades de erro de execução. Existe o erro de execução de resultado único o
mono resultado, e existe o erro de execução de resultado duplo ou de Poli resultado.
Nos termos do artigo 74, do Código Penal, fora dos casos do artigo anterior, quando, por acidente
ou erro na execução do crime, sobrevém resultado diverso do pretendido, o agente responde por
culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre também o resultado pretendido, aplica-
se a regra do art. 70 deste Código.
Para que eu tenha resultado diverso do pretendido, eu presumo que a primeira conduta do
agente não objetivava atingir pessoa; a primeira conduta do agente objetivava atingir coisa. No
resultado diverso do pretendido, o indivíduo pratica uma conduta com animus de atingir coisa
(todos os outros elementos que não pessoas, sejam coisas inanimadas ou seres irracionais) e
não pessoa. No resultado diverso do pretendido, a minha conduta destina-se a atingir coisa, res,
e não pessoa. Ao falhar na execução do crime, eu acabo atingindo pessoa ou coisa + pessoa.
Vamos aos exemplos do mestre Nelson dia em que o indivíduo estava em uma loja, foi mal
atendido se sentindo destratado e, ao sair da loja, resolve pegar uma pedra para danificar a
vitrine da loja. Ele quer praticar um crime de dano que está tipificado ao teor do artigo 163 de
código penal. O crime de dano é um crime praticado contra coisa, res, bens, objetos, e não contra
pessoas. Na hora que ele joga a Pedra, ao invés de atingir a vidraça acaba atingindo um
transeunte que estava passando no momento; ele erra o lance e acaba atingindo uma pessoa.
Isso é resultado diverso do pretendido. Nesse caso, ele vai responder por eventuais
consequências geradas para essa pessoa a título culposo. Se a pessoa atingida ficou ferida, ele
responderá por lesão corporal culposa; se essa pessoa veio a óbito, ele responderá por homicídio
culposo. Isso é uma das formas de reconhecimento de resultado diverso do pretendido. A
segunda forma seria: eu jogo a Pedra na vidraça, eu estou agindo dolosamente para atingir a
vidraça, a Pedra quebra a vidraça e a Pedra continua se deslocando e acaba atingindo a perna
de um vendedor que estava no interior da loja e esse vendedor sai ferido. Isso também é
resultado diverso do pretendido, porque neste caso eu atingi a coisa que originariamente eu
AULA 13
Quando falamos em estrito cumprimento do dever legal estamos falando basicamente o seguinte:
não pratica crime quem faz exatamente o que a Lei determina. Dever legal: a lei manda você
fazer alguma coisa. Se você faz exatamente o que a Lei manda, é uma excludente de ilicitude,
não há crime da sua parte. A doutrina clássica, Nelson Hungria, Magalhães Noronha, Anibal
Bruno, Pontes de Miranda, quando se referiam a figura do estrito cumprimento do dever legal,
sempre usavam o exemplo do carrasco que nos países que tem pena de morte, executam a pena
de morte. Então, imagine só a pessoa que é responsável por acionar a cadeira elétrica. Está lá o
condenado, existe uma ordem judicial de execução, o cara coloca o condenado lá e liga a cadeira
elétrica. Ele está matando alguém. Os elementos do fato típico estariam caracterizados, mas ele
não comete crime porque ele está em estrito cumprimento do dever legal, ele está fazendo
exatamente o que a lei determina que seja feito. Diferentemente do exercício regular de direito.
No exercício regular de direito, você está exercendo um direito que a lei lhe autoriza. Dever legal
você é obrigado a cumprir. Direito você exerce se você quiser. Se eu faço exatamente aquilo que
a lei me permite fazer, não há crime da minha parte. Imagine que eu resolvo pintar a minha casa
de lilás. Existe algum crime da minha parte? Não. É um direito meu. A lei diz que é a minha
propriedade e eu posso pintar da cor que eu quiser. Se alguém vier me acusar de alguma coisa,
eu estou agindo em exercício regular de direito. É diferente, por exemplo, de um oficial de justiça
que recebe uma ordem de reintegração de posse e vai cumprir essa ordem. Ele está em estrito
cumprimento do dever legal.
Quando um policial saca uma arma e atira num meliante ele não está em exercício regular do
direito e nem em estrito cumprimento do dever legal, ele está agindo em legítima defesa.
Qualquer agente da segurança pública só pode empregar força letal em legítima defesa, própria
ou de terceiros. O emprego de alguns meios menos que letais podem se enquadrar em estrito
cumprimento do dever legal. Por exemplo, tem uma ordem judicial pra desocupar uma rua, está
tendo um protesto e a justiça determinou a desocupação da rua. Os policiais pra desocuparem a
rua vão precisar chegar de cacetete, de escudo, empurrando o pessoal. Isso é estrito
cumprimento do dever legal. É o emprego do meio menos que letal. Agora, pra um policial sacar
uma arma e atirarem alguém ele só pode fazer em legítima defesa, própria ou de terceiros.
Então, não comete crime que faz exatamente o que a lei determina que seja feito: estrito
cumprimento do dever legal; e, não comete crime que exerce um direito previsto em lei: exercício
regular de direito. Por exemplo, eu tenho uma propriedade rural e tenho a posse da arma de fogo
na minha propriedade rural, e a lei me garante o chamado porte estendido. Eu posso trazer
Prevista no parágrafo segundo do artigo 218-C, o qual típica o crime de divulgação de cena de
estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de pornografia. Diz o artigo
218-C do Código Penal: “Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda,
distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de comunicação de massa
ou sistema de informática ou telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que
contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua
prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo, nudez ou pornografia: Pena - reclusão,
de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais grave.”
Quem divulga cena de sexo, nudez ou pornografia, de alguém adulto ou capaz, sem autorização
da vítima já comete crime do artigo 218-C. Sabe aquele vídeo que você recebeu de um adulto
fazendo sexo com uma menina de 12 anos de idade e você está compartilhando? É crime da sua
parte. Sabe aqueles vídeos que faz apologia ao estupro? É crime.
Já que eu estou falando de excludente de ilicitude, o que me interessa é o parágrafo segundo, o
qual diz que “Não há crime quando o agente pratica as condutas descritas no caput deste artigo
em publicação de natureza jornalística, científica, cultural ou acadêmica com a adoção de recurso
que impossibilite a identificação da vítima, ressalvada sua prévia autorização, caso seja maior de
18 (dezoito) anos.”
Quando esse dispositivo foi introduzido, eu ministrei aulas no Brasil todo de atualizações para
Delegados e outras instituições. Então, como eu estava dando aula para pessoas que iam lidar
com isso no dia a dia, eu mostrava casos concretos. Eu tinha um arquivo onde eu tinha, por
exemplo, situações onde havia prints de WhatsApp onde o rapaz estava transmitindo imagens de
meninas de 11, 12 anos nuas. A gente manchava o rosto para não ser possível identificar a vítima
e eu usava isso como material didático. Eu estava mostrando aquelas cenas, eu estava com
aquele conteúdo, mas eu estava fazendo aquilo com fins acadêmicos. Essa era uma hipótese
que se enquadrava aqui nessa exclusão de ilicitude.