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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE GEOGRAFIA, HISTÓRIA E DOCUMENTAÇÃO


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
DOUTORADO EM HISTÓRIA
História, Territórios e Fronteiras
II História e Epistemologia

Discentes: Vinícius de Carvalho Araújo

Cuiabá-MT
outubro/2018
RICOEUR, Paul.
Explicação/Compreensão. In: A
Memória, a história, o
esquecimento. Campinas: Ed. da
Unicamp, 2007, 536 p.
Parte III – A condição histórica

1 A filosofia crítica da história


PARTES 1 – Die Geschichte (a
própria História)

Vinicius de Carvalho Araújo


(Doutorando – PPGHIS/UFMT)
Die Geschichte Selber - “A própria História”

• Categorias meta-históricas
• Campo de experiência (presente do passado) e horizonte de
expectativa (presente do futuro)
• Tempo da história - uma das questões mais difíceis de
resolver da disciplina.
• Para Koselleck elas são condições de discernimento das
mudanças que afetam o tempo histórico e a visão que os
modernos têm da mudança histórica.
• Progresso abriu o horizonte de expectativa (tempos
modernos como novos)
Die Geschichte Selber - “A própria História”

• Definição tautológica de modernidade


• Aprofundamento da distância entre experiência (passado) e
expectativa (futuro).
• História é uma capacidade dos agentes (objeto) e dos
historiadores (representação).
• É um conceito meta-histórico.
• História como singular coletivo.
• Categoria mestra para pensar o tempo na história.
• História como sequência dos acontecimentos e conjunto de
discursos sobre o singular coletivo.
Die Geschichte Selber - “A própria História”

• Léxico – relação triangular entre conceito diretor, funcionamento


da linguagem e experiência.
• Experiência da história é a relação com o mundo (própria da era
moderna).
• Nascimento de um conceito de singular coletivo que liga as
histórias e da contaminação dos conceitos de geschichte
(acontecimentos) e histoire (narrativa e ciência histórica), com
absorção do 2º pelo 1º.
• História como sujeito da história.
• Recebe as três instâncias do tempo.
• Moderno – caráter onitemporal.
Die Geschichte Selber - “A própria História”

• Hegel – razão na História


• Pacto entre o racional e o real (ideia mais alta da filosofia)
• Vínculo que mostra esta identidade é a História.
• Religião secular afiançada pela equação entre história e razão.
• História como desenvolvimento do espírito da humanidade
(filosofia idealista).
• Estatuto epistemológico da história.
• Ideia reguladora (Kant) ou constitutiva (Hegel).
• Interpretação mediana – concepção dialética da história.
Die Geschichte Selber - “A própria História”

• Depreciação do passado:

• 1 – Sentimento de distanciamento (dívida)


• 2 – Aceleração da história

• Valorização do futuro + relativização das crenças.


• História da salvação = progresso.
PARTE 2 – “Nossa modernidade”

Vinicius de Carvalho Araújo


(Doutorando – PPGHIS/UFMT)
• 1 – Renascimento: associação do moderno à antiguidade (tempo
cíclico)
• 2 – Revolução Francesa (conceito de modernidade torna-se
dêitico com a palavra “nossa”).
• Designa o triunfo da razão. A periodização é filosófica.
• 3 - Mal-estar da modernidade (Charles Taylor): individualismo
(moral), reino da razão instrumental e despotismo brando do
Estado.
• 4 – Pós-modernidade (Lyotard): saber mudou de estatuto na
idade industrial. Os discursos de legitimação entraram em falência
(grandes narrativas).
PARTE 3 – O HISTORIADOR E O
JUIZ

ARIEL ELIAS DO NASCIMENTO (DOUTORANDO PPGEL)


ORIENTADOR: RENILSON ROSA RIBEIRO
Em que Paul Ricoeur está interessado?

 Em procurar / vasculhar onde o historiador e o juiz buscam ou


constroem um discurso coercitivo com base na arte da persuasão
levando em consideração a condição primária do viver junto.
 Para tanto, ele parte das infrações = violação de norma / ato de
praticar algo ilícito / transgressão das regras = regras – norma =
moral = conjunto de valores individuais ou coletivos, considerados
universalmente como norteadores das relações sociais e da conduta
do homem.
Em que Paul Ricoeur está Interessado? II
Infrações = processos penais = encenar os fatos passados.
Do passado ao presente.
Como discurso.
Usando de provas e contra provas, retrucando / cotejando fontes
diversas.
Processo de inversão moral do tempo.
Danos físicos / rupturas de conteúdo / posição de poder e de
autoridade / delitos e crimes / feridas da memória / trabalho de
memória e trabalho de luto.
Isso tudo é uma reapropriação por todas as partes do delito e do
crime = são os fatos encenados / recuperados / presente do
passado.
É quando ocorre a manipulação discursiva da arte da persuasão.
De onde parte Paul Ricoeur?
 Da perspectiva da geopolítica do ocidente, especificamente da
h.m. / h.c. / h.t.p.
 Esta perspectiva será analisada pelo discurso do historiador, o
qual será comparado ao discurso do juiz.
 Todo discurso tem a premissa de ser coercitivo (ato ou efeito de
reprimir / força utilizada pelo estado para fazer valer o direito),
utilizando a arte de persuadir.
 Discurso do historiador = no âmbito dos arquivos.
 Discurso do juiz = no âmbito do tribunal.
 O que estes discursos tem em comum? a preocupação com a
prova / o exame crítico da credibilidade das testemunhas.
Em busca das imparcialidades
Estes discursos tem uma tripla intenção
a verdade / a justiça / a imparcialidade

O desejo da imparcialidade é alcançado pela filosofia crítica da
história.
esta lógica implica em que esta verdade e esta justiça terão
caminhos divergentes por conta da posição do terceiro.
não havendo um terceiro absoluto.
por terceiro temos = cidadão / historiador / juiz.
a imparcialidade como virtude intelectual e moral / intelectual =
se deve ao desdobramento interno ao ponto de vista / moral =
afirmação implícita de igualdade de valor e dignidade dos pontos
de vista.
Consensus / dissensus

 Ao abordar as fontes / testemunhas / processos, o olhar da


operação judicial e da operação historiográfica podem implicar
numa mudança de perspectiva analítica:
 1- Tribunais e juízes que impõem ou antecipam uma recusa ao
território do historiador antes dos vereditos = influencia nas
conclusões.
 2- Historiadores que norteiam seu ofício pela condenação moral,
jurídica ou política = influencia nas conclusões.
 para além destes discursos entrarem em acordo (consensus), é
necessário promover uma criticidade na análise através da função
educativa da discordância (dissensus) / cultura da controvérsia.
Pergunta norteadora
Em que medida um debate pode ser travado entre historiadores sob
a vigilância de um julgamento de condenação já proferido?
solução: compreender sem fugir da verdade / compreender sem
denegar (compreender sem aceitar a verdade).
novo problema: a narrativa / o discurso antecipa a uma condenação
de uma ideologia fundadora.
nova solução: revisão de perspectiva: a) ampliação temporal do
contexto / b) comparação com fatos semelhantes contemporâneos ou
anteriores / c) relação de causalidade do original e da cópia.

problemas desta nova solução: pretensão de liquidar os danos


históricos porque inverte / esconde / omite as percepções reais /
sociais / morais – acaba com a singularidade ou com a unicidade
Como solucionar esta aporia?

 Através de um julgamento histórico e de um julgamento moral


/ jurídico / político.
o autor propõem 3 teses que se complementam.

1- singularidade histórica não é singularidade moral / fazer um


percurso no plano historiográfico para implementar um
conceito de singularidade ligado ao julgamento histórico =
oposição entre verdade e correto.

2- singularidade histórica = todo acontecimento é único, mas


atribui a alguém uma culpabilidade, pautado ou na desculpação
ou na acusação.
 3- Singularidade é incomparabilidade = unicidade /
contudo, cria modelos de semelhança / estes modelos
promovem uma “facilidade” na propagação e
entendimento histórico tomano um pelo outro,
encobrindo as razões locais ou temporais = a
culpabilidade recai sobre o estado = crise do terceiro.
Conclusão
 Cotejando estas teses, o autor apresenta como conclusão a
exemplaridade do simples, que ocorre no trajeto da recepção
até o plano da memória histórica.
 Isto significa que a disputa dos historiadores, levado à praça
pública, já era uma fase do dissensus gerador de democracia
= através da cultura da controvérsia.
 A singularidade exemplar só pode ser formada por uma
opinião pública esclarecida que transforma o julgamento
retrospectivo sobre o crime em juramento de evitar seu
retorno.
Perguntas

 1- Os discursos são imparciais?


 2- Até que ponto o cidadão é o portador militante dos
valores liberais da democracia constitucional?
 3- A equidade do procedimento penal e a honestidade
intelectual do historiador promovem uma convicção para o
cidadão. estas verdades representam as verdades
individuais? que ponto influenciam na perspectiva moral,
política, cultural?
IV. A interpretação em história
“a última limitação interna a que se submete a reflexão da história sobre
seu próprio projeto de verdade relaciona-se com a noção de
interpretação.”
(Ricouer, p.347)

-Embora não seja uma fase cronológica na operação historiográfica ela


depende de um esforço importante de reflexão sobre o tema.

-Amplitude do conceito: “subjetividade X objetividade na história.

-Acusação de psicologismo ou de sociologismo.

-Intersubjetividade: (Subjetividade: Envolvimento pessoal x


Objetividade: Envolvimento social, político, institucional do historiador.)
IV. A interpretação em história
-“os homens do passado acumulam a dupla alteridade do alheio e do passado...”
p.348

-Raymond Aron: não existe uma realidade histórica já pronta e anterior a


ciência! Ela é inesgotável!

-A história é imprevisível e livre...não antecipada. Ela relaciona, por iniciativa


do historiador, o passado dos homens e mulheres de ontem e o presente dos de
hoje. (Crítica ao positivismo de Seignobos – a história não é apenas a ordenação
de documentos...a história questiona os documentos!!!).

-Interpretação de signos.

-Um grande historiador apresenta traços “agostinianos”: filosofia crítica da


história. (História contemporânea - confronto arquivos a testemunhos dos vivos)

-Amplitude do conceito: “subjetividade X objetividade na história.


IV. A interpretação em história
-Questão: é possível escrever a história do período recente sem confundir
tempos, papéis e deixar claro que o tempo atual está inacabado ainda?

-Memória-relembrança e Memória-retenção.

-Interpretação histórica: um complexo sistema constituído por atos de linguagem,


incorporado por enunciados objetivantes do discurso histórico, visando a repassar
uma melhor compreensão ao interlocutor. Ela opera desde o estágio da consulta aos
arquivos até o estágio de sua constituição.

-Arquivo: mundo ilimitado de possibilidades (questionamentos direcionados aos


documentos).

-Questão: pensando em uma crise de credibilidade, como dosar a confiança


com a desconfiança em relação a palavra de outrem, cuja palavra está
imprensa em um documento ?

-A prova documental deve ser evocada com cautela.


IV. A interpretação em história

-Pacto triplo (contrato): científico; narrativo; e político.

-“a história sempre fez falar não somente os mortos, mas


todos os silenciosos.” p. 355

-Resvisionismo histórico para uma futura análise


compreensiva/interpretativa.

-Processo de nomeação.

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