Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Como denota a sua etimologia, Epidemiologia é definida como “o estudo da distribuição da doença
ou de uma condição fisiológica nas populações humanas e dos fatores que influenciam essa
distribuição” (Lilienfeld, 1978).
Frost (1941), com uma descrição mais abrangente, enfatiza que “a Epidemiologia é essencialmente
uma ciência indutiva, preocupada não apenas em descrever a distribuição da doença, mas
igualmente, ou até mais, em encaixa-la numa filosofia mais abrangente”.
EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS
PERIODONTAIS
Dessa forma, a informação obtida através de uma investigação epidemiológica deve ir além de uma
mera descrição da distribuição da doença em diferentes populações (Epidemiologia Descritiva).
Deve ser utilizada também para esclarecer a etiologia de uma doença específica (Epidemiologia
Analítica) e proporcionar a base para o desenvolvimento e a avaliação de procedimentos
preventivos e práticas de saúde pública (Epidemiologia Experimental de Intervenção).
SISTEMA DE ÍNDICES
O desenho dos sistemas de índices e a definição das suas várias marcações refletiram
inevitavelmente o conhecimento sobre a etiologia e a patogenia da doença periodontal na época em
que eles foram introduzidos, assim como os conceitos relacionados às abordagens e as estratégias
terapêuticas correntes.
AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO DOS
TECIDOS PERIODONTAIS
A presença de inflamação na gengiva marginal é usualmente registrada através da avaliação das
sondagens periodontais, de acordo com os princípios do índice gengival, descrito por Loe (1967).
A – Ausência total de sinais visuais de inflamação na unidade gengival é registrada como 0.
B – Alteração na cor e na textura, recebem valor 1.
C – Inflamação visível e tendência ao sangramento da margem gengival a sondagem são
registradas como 2.
D – Inflamação com tendência ao sangramento espontâneo vamos registrar como 3.
AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO DOS
TECIDOS PERIODONTAIS
Um índice paralelo para o registro de depósito de placas (Índice de placas) em escala de 0 a 3 foi
apresentado por Silness & Loe em 1964:
A – Ausência de depósitos de placas recebem grau 0.
B – Visualização de placa através de sua remoção com a sonda periodontal sendo deslizada pela
margem gengival é registrada como grau 1.
C – A placa clinicamente visível como 2.
D – Placa abundante recebe grau 3.
AVALIAÇÃO DA INFLAMAÇÃO DOS
TECIDOS PERIODONTAIS
Um limiar de perda de inserção ≥ 1 mm foi estabelecido como o critério para uma parte do dente
ser considerada afetada pela doença.
Apesar de arbitrária, a introdução de um valor como limiar tem duplo propósito:
(1) Distinguir prontamente a parte da dentição afetada pela doença em níveis que excedam o erro
inerente à medição clínica da perda de inserção;
(2) Evitar que áreas de dentes que não foram afetadas contribuam para o valor médio individual da
perda de inserção.
AVALIAÇÃO RADIOGRÁFICA
DA PERDA DO OSSO ALVEOLAR
As radiografias são empregadas nos estudos epidemiológicos para avaliar os efeitos da
doença periodontal sobre os tecidos de sustentação, e não a presença da doença em si.
A avaliação radiográfica é particularmente comum como método de detecção de
pacientes portadores de periodontite juvenil, assim como meio de monitoramento da
progressão da doença periodontal em estudos longitudinais.
AVALIAÇÃO RADIOGRÁFICA
DA PERDA DO OSSO ALVEOLAR
A avaliação da perda óssea nas radiografias intra-orais é usualmente realizada analisando-se a
profusão de características qualitativas e quantitativas do osso interproximal observado.
(1) Presença de uma lâmina dura intacta;
(2) Extensão do espaço do ligamento periodontal;
(3) Morfologia da crista óssea (aparência “plana” ou “angular”)
(4) Distância entre a JCE e o nível mais coronário no qual o espaço do ligamento periodontal é
encontrado com sua espessura normal.
AVALIAÇÃO DAS NECESSIDADES DE
TRATAMENTO PERIODONTAL
Por iniciativa da OMS foi desenvolvido por Ainamo e cols. (1982) um sistema de índices para a
avaliação das necessidades de tratamento periodontal, em grupos numerosos de população.
Os princípios do Índice das Necessidades de Tratamento Periodontal Comunitário (CPITN) podem
ser resumidos:
1. A dentição é dividida em seis sextantes (uma região anterior e duas posteriores em cada arcada
dentária). A necessidade de tratamento em um sextante é registrada quando dois ou mais
dentes estão presentes. Se apenas um dente permanecer no sextante, ele será incluído no
sextante contíguo.
AVALIAÇÃO DAS NECESSIDADES DE
TRATAMENTO PERIODONTAL
2. A sondagem periodontal é realizada ao redor de todos os dentes do sextante ou de certos
dentes selecionados. Apenas a medição mais grave do sextante é escolhida para representá-lo.
3. As condições periodontais são registradas da seguinte forma:
• Código 1: Sextante sem bolsas, cálculos ou restaurações com sobrecontorno, mas no qual ocorre
sangramento após sondagem delicada em uma ou várias unidades gengivais.
• Código 2: Sextante caso não haja bolsas que excedam 3 mm, porém sejam vistos nas regiões
subgengivais cálculos dentais e fatores de retenção de placa.
AVALIAÇÃO DAS NECESSIDADES DE
TRATAMENTO PERIODONTAL
• Código 3: Sextante que abriga bolsas de 4-5 mm de profundidade.
• Código 4: Sextante que apresenta bolsas de 6 mm ou mais de profundidade.
4. As necessidades de tratamento são baseadas no código mais rigoroso da dentição:
• TN 0 em casos de gengivas sadias.
• TN 1 indicando necessidade de melhora da higiene oral (caso o Código 1 tenha sido registrado).
AVALIAÇÃO DAS NECESSIDADES DE
TRATAMENTO PERIODONTAL
Variação considerável caracteriza o limiar dos valores empregados para definir as bolsas
periodontais como “profundas” ou “patológicas”, ou o nível de inserção clínica, ou, ainda, os
valores de perda do osso alveolar necessários para aceitar que, de fato, ocorreu uma “verdadeira”
perda de tecido de suporte periodontal.
AVALIAÇÃO CRÍTICA
Esses problemas foram abordados na literatura recente, e dois aspectos específicos atraíram atenção
especial, quais sejam:
(1) A capacidade das metodologias de registro parcial para refletir as condições de toda a dentição.
(2) O uso do sistema CPITN nos estudos epidemiológicos sobre a doença periodontal.
AVALIAÇÃO CRÍTICA
Existe uma pequena dúvida sobre se um exame minucioso das condições periodontais deve incluir
a sondagem circunferencial de todos os dentes.
O fundamento lógico para o uso de exames parciais é a suposição de que:
(1) O tempo necessário para a realização de uma análise parcial – e, consequentemente, o seu
custo – é significativamente reduzido;
(2) A quantidade de informações perdidas é mínimas, desde que os segmentos examinados
reflitam adequadamente a condição periodontal de toda a dentição.
PREVALÊNCIA DAS DOENÇAS
PERIODONTAIS
Um workshop ocorrido em 1999 foi planejado com o objetivo específico de revisar a classificação
das doenças periodontais. Essa nova classificação possui oito categorias principais:
I. Doenças Gengivais
II. Periodontites Crônicas
III. Periodontites Agressivas
IV. Periodontites que são manifestações de doenças sistêmicas
V. Doenças Periodontais necrotizantes
VI.Abcessos do Periodonto
VII.Periodontites associadas a Lesões Endodônticas
VIII.
Deformidades e condições desenvolvidas ou adquiridas.
PERIODONTITE EM ADULTOS
Nos anos 1960, Scherp (1964), através da análise da literatura disponível sobre a epidemiologia da
doença periodontal, concluiu que (1) essa doença parece ser um importante problema mundial de
saúde pública que afeta a maior parte da população adulta após os 35-40 anos, (2) a doença começa
como uma gengivite em idade jovem, a qual, não-tratada, avança para uma periodontite destrutiva
progressiva e mais de 90% da variação da severidade da doença periodontal na população pode ser
explicada pela idade e higiene oral.
PERIODONTITE EM ADULTOS
Estudos realizados durante os anos 1980 forneceram uma descrição mais detalhada das
características das DP e da alta variação nas condições periodontais entre diferentes populações e
dentro delas.
Em contraposição ao que era comum até então, o item prevalência não era mais abordado através
de uma mera classificação de indivíduos em grupos de “afetados pela periodontite” e “livres da
doença”, com base na presença ou ausência de perda de inserção clínica ou do osso alveolar.
Em vez disso, os estudos começaram a esclarecer detalhes sobre a extensão da dentição afetada
pela doença destrutiva (ou seja, o porcentual de sítios dentários envolvidos) e a severidade dos
defeitos periodontais (expressa através da quantidade de perda de tecido de suporte).
PERIODONTITE EM ADULTOS
Em outras palavras, a doença periodontal avançada não era distribuída uniformemente pela
população e não apresentava boa correlação com os níveis de placa supragengival; em vez disso, a
maioria dos indivíduos examinados exibia problemas periodontais insignificantes, enquanto um
grupo limitado era afetado pela doença em estágio avançado.
Em um estudo semelhante realizado no Quênia, os mesmos pesquisadores analisaram dados
obtidos de 1.131 indivíduos na faixa etária de 15-65 anos e confirmaram suas observações
anteriores. A precária higiene oral da amostra era retratada pelos altos índices de placa, cálculo e
gengivite.
PERIODONTITE EM ADULTOS
Os relatos sobre a forma da doença periodontal que afeta a dentição decídua, a chamada
periodontite pré-puberal, indicam a sua ocorrência em uma forma tanto generalizada quanto
localizada (Page e cols. 1983).
Shlossman e colaboradores (1986) utilizaram o valor para o nível de inserção ≥ 2 mm como
limítrofe e relataram em uma amostra de índios pima (comunidade indígena do Arizona e do
México) uma prevalência de 7,7% em crianças de 5 a 9 anos de idade e de 6,1% em crianças de 10
a 14 anos.
PERIODONTITE EM CRIANÇAS E
ADOLESCENTES
A perda dentária pode ser a consequência final da doença periodontal destrutiva. Os dentes que
foram perdidos devido a doença não são, obviamente, passíveis de registro nos estudos
epidemiológicos e podem, portanto, levar a uma subestimação da prevalência e da severidade da
patologia.
O conceito bem definido de viés de seleção na epidemiologia (indicando que os indivíduos
comparativamente mais saudáveis apresentar-se-ão para o exame, ao passo que os mais doentes
recusar-se-ão a participar) é, nesse contexto, aplicável ao padrão dentário de cada indivíduo (visto
que os dentes seriamente afetados podem já ter sido extraídos/perdidos).
PERIODONTITE E PERDA DENTÁRIA
Os resultados indicam que a razão principal para a grande maioria das extrações, em grupos com
idades até 40-45 anos, é a cárie dentária.
Entretanto, em grupos de idades mais avançadas, a doença periodontal vem a ser igualmente
responsável pelas perdas dentárias.
Em termos globais, acredita-se que a periodontite seja responsável por 30-35% de todas as
extrações, enquanto a cárie e suas sequelas, por até 50%. Além disso, a cárie parece ser a principal
razão das extrações em casos de edentulismo total.
PERIODONTITE E PERDA DENTÁRIA
Finalmente, os fatores de risco identificados para a perda dos dentes incluem os hábitos de fumo,
saúde oral precária, características sociocomportamentais e as condições periodontais.
Obviamente, é difícil “transformar” os dados sobre a perda dos dentes em estimativas sobre a
prevalência da doença periodontal. Uma avaliação, entretanto, do problema populacional em
função da doença – em particular no que diz respeito a grupos com idade mais avançada – deve
conferir peso às informações obtidas através dos dados sobre as perdas dentárias, caso contrário a
subestimação da ocorrência e das consequências da doença parece ser inevitável.