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Trauma na Gestante

Ac. Mileide Maria de Assunção Sousa


 O trauma é a principal causa de morte em
mulheres de idade reprodutiva;
 A possibilidade de existir gravidez deve ser
considerada no atendimento de mulheres na
faixa de 10 a 50 anos;
 Deve-se conhecer os processos fisiológicos específicos
da gestação para interpretar a resposta da mulher
grávida ao trauma;
 O médico que atende uma gestante vítima de trauma
deve ter em mente que existem diversos fatores que
vão influenciar sua avaliação e tratamento:
 Alterações de sinais e sintomas e exames
laboratoriais;
 Agravamento do quadro por condições específicas
da gravidez;
 A causa mais comum de morte fetal é a morte
materna;
 As tentativas iniciais de ressuscitação devem
ser dirigidas a mãe;
 Prioridades iguais a mulher não grávida;
Sistema Cardiovascular:

 Débito Cardíaco:
 aumenta (4,5 L/min fora da gestação a 6-7 L/min na
32ª semana) devido ao aumento da FC e volume de
ejeção;
 alteração no terceiro trimestre (diminuindo em até
30% na posição supina);
 Posição adequada para evitar hipotensão;
Sistema Cardiovascular:

 Frequência cardíaca:
 Elevação catecolaminas circulantes  resposta
cronotrópica positiva;
 Aumento gradual de 10 a 15 batimentos/min;
 Não confundir com choque hipovolêmico;
Sistema Cardiovascular:
 Pressão arterial:
 Diminui ( 2° trimestre: 5 a 15 mmHg a menos)
devido a diminuição da resistência vascular
periférica;
 Receptores das catecolaminas são dessensibilizados
pela prostaciclina  relaxamento vascular;
 Volta a níveis próximos ao normal no terceiro
trimestre;
 Eclâmpsia;
 Hipotensão em posição supina;
Sistema Cardiovascular:

 Pressão Venosa:
 Membros superiores: normal;
 Membros inferiores: aumentada por compressão do
sistema venoso abdominal;
 Risco de maiores sangramentos;
Sistema Hematológico:
 Volume plasmático aumenta gradativamente a
partir da 10ª semana (de 2600 a 3900 - 4000ml
na gravidez);
 Aumento no volume de eritrócitos (20 a 30%);
 anemia fisiológica da gravidez:
 Hematócrito: 33-35%;
 Hb: 10,5 -11g/dl.
Sistema hematológico:
 Pode-se perder de 30 a 35% do volume
sanguíneo sem sinais de hipovolemia materna;
 Fluxo sanguíneo uterino pode estar reduzido
20% sem alterações na pressão;
 Isso leva a sofrimento fetal;
 Reposição com cristalóides e sangue para
manter a hipervolemia fisiológica da gravidez;
Sistema hematológico:
 Aumento quantidade de leucócitos;
 Estrogênio estimula RE  aumento produção
de proteínas;
 Fatores de coagulação e fibrinogênio
aumentados;
 Predisposição a trombose e fenômenos
embólicos;
Sistema respiratório:
 Diafragma deslocado superiormente;
 Gradil costal se dilata;
 Aumenta o volume/min devido aos elevados
níveis de progesterona;
 FR elevada;
 Alcalose respiratória compensada;
Sistema respiratório:
 Elevação do diafragma + hiperventilação
pulmonar  pneumotórax hipertensivo mais
rápido;
 Drenagem torácica no terceiro trimestre;
 Consumo de oxigênio aumentado;
Sistema gastrointestinal:
 Motilidade gástrica reduzida e tempo de
esvaziamento prolongado;
 Sempre considerar o estômago como cheio;
 Descompressão nasogástrica é importante;
 Intubação traqueal;
Sistema gastrointestinal:
 até 12ª semana - Útero intrapélvico;
 20ª semana – cicatriz umbilical;
 36ª semana – rebordo costal;
 2 últimas semanas – descida do fundo uterino;
 Deslocamento intestinal em direção cefálica;
 Dor referida;
Sistema urinário:
 Sistema coletor renal e ureteres ficam dilatados;
 Fluxo sanguíneo renal aumenta  aumento do
filtrado glomerular;
 Bexiga:
 Musculatura relaxada;
 Hiperemiada;
 Posicionada mais superior e anteriormente;
Sistema endócrino:
 Lobo anterior da hipófise
aumentado;
 Síndrome de Sheehan;

Sistema musculoesquelético:
 aumento da mobilidade das articulações
sacroilíacas e alargamento da sínfise púbica;
Postura lordótica;
Suscetibilidade a quedas e pequenos traumas;

Sistema neurológico
 Trauma é a principal causa de morte não
obstétrica da paciente grávida;
 O feto é totalmente dependente do sistema
cardiovascular materno;
 Tratar bem a mãe é manter o bem estar fetal;
 Mecanismos de lesão são semelhantes a de
mulheres não grávidas.
 Lesão intra-uterina no 1° trimestre é muito rara;
 No último trimestre o útero fica mais
susceptível;
Trauma fechado:
 Acidentes com veículos
motorizados são a principal
causa de mortalidade e morbidade
materna; quedas e violência doméstica são
secundários;
 Informações pré-hospitalares auxiliam na
formulação de prováveis danos, tratamento e
prevenção;
Trauma fechado:
 Mecanismo de colisão: veículo ao objeto,
vítima com o interior do veículo, orgãos
internos contra interior do corpo.
 Feto é protegido pela parede abdominal
materna, miométrio uterino e líquido
amniótico;
 Frouxidão dos ligamentos pélvicos e abdome
protuberante contribuem para quedas;
Trauma fechado:
 Geralmente o local de ruptura não coincide
com o local de impacto;
 Fraturas pélvicas:
 Hemorragias dos vasos retroperitoneais, podendo
levar a choque hemorrágico;
 Deslocamento placentário:
 De até 25% é compatível com a sobrevida fetal;
 De 50% ou mais é fatal ao feto.
Trauma fechado:

 Cinto de segurança:
 Seu uso diminui a morbidade e mortalidade
materna nos acidentes automobilísticos;
 Pouco utilizado por mulheres grávidas;
 Deve ser utilizado o de três pontas e a parte abdominal
deve ser colocada abaixo da crista ilíaca ântero-superior e
acima do fêmur;
 Ajuda a dissipar a energia envolvida na desaceleração.
Trauma penetrante:
 1° lugar: armas de fogo;
 2° lugar: armas brancas;
 Útero mais vulnerável;
 Musculatura uterina absorve energia do
projétil;
 Sobrevida fetal em trauma penetrante está
relacionada a maturidade fetal, ao local da
lesão e à precocidade do cuidado definitivo.
Trauma penetrante:
 Mortalidade e morbidade materna e fetal são
significativamente diferentes;
 Lesão fetal: 59 a 89% dos casos de ferimentos
penetrantes do útero;
 Mortalidade perinatal: 47 a 71%
 Mortalidade materna de 7 a 9% por lesões
uterinas por arma de fogo.
Queimaduras:
 Que complicam a gravidez
são raras;
 Prognóstico materno relacionado com a extensão e

gravidade das queimaduras;


 Bem estar fetal dependente de condições maternas;

 Superfície queimada:

 inferior a 30%: geralmente sobrevivem;


 Superior a 50%: mais da metade tem evolução fatal;
Queimaduras:
 Exposição ao CO pode levar a hipóxia fetal
rapidamente;
 Queimaduras elétricas a mortalidade fetal é
alta (73%);
 Abordagem não difere da paciente não
grávida.
 Leva-se em consideração as alterações
anatômicas, fisiológicas e os mecanismos da
lesão;
 Abordagem e tratamento segue o ATLS;
 Equipe multidisciplinar composta por
emergencista clínico, cirurgião de trauma,
obstetra, neonatologista e enfermagem
especializada;
 Todas as pacientes grávidas Rh-negativas,
traumatizadas, devem receber imunoglobulina
Rh.
 Sequência inicial e as prioridades na avaliação
não diferem da de qualquer doente
traumatizado;
 1°) Exame primário e reanimação da mãe;
 2°) Avaliação fetal;
 3°) Exame secundário;
Exame primário e reanimação:
 Objetivo: assegurar uma via aérea pérvia com
ventilação adequada e restaurar o volume
circulatório;
 Fornecer oxigênio;
 A partir da 20ª semana não transportar em
decúbito dorsal horizontal;
 Deve-se fornecer soluções cristalóides e sangue;
 Drogas vasopressoras são contra-indicadas;
Exame primário e reanimação:
 Acesso venoso deve ser feito por punção
periférica com cateter calibroso;
 Devem ser colhidas amostras sanguíneas para
exames laboratoriais, tipagem e prova cruzada,
além da dosagem de gonadotrofina coriônica;
 É importante a passagem precoce de sonda
gástrica.
Avaliação fetal:
 Devem ser feitos a apalpação do útero, o toque
vaginal e a monitorização dos batimentos
cardíacos fetais;
 Determinar a altura uterina, as características
do fundo uterino, o tônus uterino e o padrão
das contrações, se existirem;
Avaliação fetal:
 Sangramento, perda de líquido amniótico e
dilatação do colo podem ser detectados no
exame vaginal prenunciando trabalho de parto;
 Dor abdominal intensa, posição anormal do
feto, palpação fácil de partes do feto e
incapacidade de palpação do fundo uterino
supõem ruptura uterina;
 Sangramento vaginal, dor na região uterina,
contrações uterinas, tetania ou irritabilidade
uterina sugerem deslocamento de placenta;
Avaliação secundária:
 Os procedimentos são iguais aos realizados em
qualquer paciente traumatizado;
 Lavagem peritoneal deve ser realizada (se
necessária) com incisão acima da cicatriz
umbilical;
 Ultra-sonografia: detecta sangue
intraperitoneal, permite avaliar a vitalidade
fetal, idade gestacional, quantidade de líquido
amniótico, apresentação fetal e integridade
placentária.
Cirúrgico:
 Indicações e condutas não mudam em função do
estado gravídico;
 Incisão mediana é a via recomendada;
 Em casos extremos em que o útero atrapalha o ato
cirúrgico recomenda-se histerectomia subtotal;
 Fixação cirúrgica das fraturas é preferível à tração
prolongada;
 Com indicação de anticoagulação ,recomenda-se
heparina;
Condutas obstétricas:
 Em casos de fratura instável de coluna
vertebral ou lesões ósseas na bacia;
 Útero com laceração passível de reparo deve
ser suturado. No caso de grandes lacerações
com sangramento não controlável realiza-se
histerectomia;
 Lesão de cordão umbilical e laceração da
placenta habitualmente levam à morte do
concepto;
Condutas obstétricas:

 O deslocamento prematuro de placenta e a


embolização de líquido amniótico podem levar
a CIVD, com depleção de fibrinogênio,
plaquetas e fatores de coagulação;
Cesárea pós-morte:
 Em caso de parada cardíaca, deve-se iniciar a
reanimação cardiopulmonar imediatamente em
posição supina;
 Deve-se cogitar a possibilidade de proceder a
cesárea:
 Casoa RCP não esteja sendo bem sucedida;
 Em caso de morte cerebral materna;
 Não deve ser feita a cesárea:
 Sea RCP for bem sucedida;
 Quando a parada cardíaca for por hipovolemia.
Obrigada!

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