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A Consulta ao Fisco

(1) PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO versus PROCESSO JUDICIAL

(1.1) Existe jurisdição? Existe segundo grau de jurisdição?

As autoridades fiscais não exercem função jurisdicional – em nosso ordenamento constitucional a função
jurisdicional não pode ser exercida pelo Poder Executivo. Isto porque toda e qualquer decisão administrativa
poderá sempre ser levada à analise do Poder Judiciário, o qual apesar de não poder ingressar na análise do
mérito do ato administrativo, poderá sempre realizar controle sobre a forma destes atos. A função jurisdicional
somente por exceção admite o formato consultivo. Dentre os processo judiciais que admitem o procedimento
consultivo está somente a Justiça Eleitoral em tempos de eleição, que exercendo concomitante funções
jurisdicionais e administrativas está apta a conceder respostas vinculantes aos candidatos sobre procedimentos
que podem ou não ser adotados nos períodos de campanha eleitoral.
Embora, na prática, em alguns casos como o de apresentação de divergência entre Soluções de Consulta de
mesmo assunto por Delegados de Julgamento distintos, dentro da Receita Federal, possa conduzir a uma nova
Consulta à COSIT por exemplo, ainda assim, na medida que não há exercício de função jurisdicional,
igualmente, não podemos falar de “duplo grau de jurisdição”,
(1) PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO versus PROCESSO JUDICIAL
(1.2) Outras questões que diferenciam processo administrativo e processo judicial
(A) A questão da imparcialidade, como fica?
(B) Princípio da Publicidade, como fica?
(C) Custas?
(D) Prazos – existe preclusão?
(E) Coisa julgada administrativa existe?
(F) Consulta Formal e Consulta Informal
(G) Existe litispendência?
(2) NATUREZA JURÍDICA DA CONSULTA AO FISCO – Os contribuintes têm o direito (right of petition) de peticionarem junto às
autoridades fiscais para questionarem sobre os procedimentos de exação dos tributos. Com o tempo as próprias autoridades
fiscais vem aperfeiçoando estes procedimentos administrativos de consulta dos contribuintes, pois acabam criando uma melhor
sinergia em todo o complexo sistema de arrecadação tributária, facilitando tanto a vida do Fisco quanto dos cidadãos e
empresas. Assim, vamos elucidar alguns pontos que julgamos essenciais para a melhor compreensão destes procedimentos
administrativo-fiscais chamados de consulta.

Assim, a consulta, formulada por escrito, é o instrumento que o contribuinte possui para esclarecer dúvidas quanto à
interpretação de determinado dispositivo da legislação tributária relativo aos tributos administrados pelas respectivas Receitas
(Federal, Estaduais, Municipais e do DF).

A consulta deve limitar-se a fato determinado, descrevendo suficientemente o seu objeto e indicando as informações necessárias
à elucidação da matéria.

Na petição devem ser indicados os dispositivos da legislação que ensejaram a apresentação da consulta e cuja interpretação se
requer, como também a descrição minuciosa e precisa dos fatos a que será aplicada a interpretação solicitada.

Para se efetivar consulta sobre situação determinada ainda não ocorrida, o consulente deverá demonstrar vinculação com o fato,
bem como a efetiva possibilidade de sua ocorrência.

Via de regra quem pode formular Consulta ao Fisco: (a) sujeito passivo de obrigação tributária principal ou acessória; (b) órgão da
administração pública; (c) entidade representativa de categoria econômica ou profissional.
(3) QUEM TEM “ATRIBUIÇÃO” PARA PROFERIR A SOLUÇÃO À CONSULTA FEITA?

Cada autoridade fiscal criará suas regras específicas – dentro das autonomias federativas, cada ente criará sua

normativa própria para regular os procedimentos de consulta. Assim, por exemplo, o Fisco gaúcho criou o chamado

“Plantão Fiscal Virtual”, isto é, uma espécie de “consulta informal” que pode ser realizada por e-mail, mas que não

tem a mesma eficácia de uma consulta formal (com protocolo) no que tange à vinculação das autoridades à

resposta concedida. Mas esta é uma criação estadual, outros estados e os municípios podem ou não optar por este

mecanismo. A União, por exemplo, tem apenas a consulta formal, a qual deve seguir regras específicas e tem

protocolo formal da consulta no sistema de atendimento aos contribuintes. Como o Brasil possui 27 unidades

federativas (26 estados-membros e o DF) e tem 5.570 munícipio, nós descreveremos como é o procedimento

federal de “Consulta ao Fisco”, isto é, junto a Receita Federal do Brasil, órgão público integrante da União.
(4) A CONSULTA À RECEITA FEDERAL DO BRASIL (PROCEDIMENTO PADRÃO)

A Receita Federal do Brasil está muito organizada na gestão das consultas realizadas pelos contribuintes e também

tem organizado um site no qual dispõe de consulta aos seus bancos de dados das soluções de consulta já publicadas,

constituindo-se em verdadeiros “precedentes administrativos” que podem ser consultados por qualquer pessoa.

No caso da consulta realizada perante a Receita Federal do Brasil, o Fisco Federal disponibiliza até mesmo modelo

de formulário a ser apresentado pelas pessoas física ou jurídica.

Ponto importante no preenchimento de qualquer petição destinada à consulta é a clareza e objetividade da dúvida

ou dúvidas que o contribuinte tenha. Ressalta-se, ainda, no contexto do formulário sugerido pela Receita Federal, a

necessidade de elencar bem os questionamentos e depois também em item a parte simplesmente referir quantas

perguntas foram feitas acima na própria petição.


(4) A CONSULTA À RECEITA FEDERAL DO BRASIL (PROCEDIMENTO PADRÃO) (continuação slide anterior)
Trata-se de uma petição em forma de formulário como sugerido pela Receita Federal, mas o contribuinte não está obrigado

a seguir este modelo, embora a prudência prática sugira que o melhor fosse seguir estritamente as orientações do Fisco

Federal. De qualquer sorte, é uma petição administrativa, isto é, não haverá a necessidade de incluir valor da causa por

exemplo, ou requerer o pagamento de honorários sucumbenciais. Faz-se um pedido (petição) para que a autoridade fiscal

esclareça uma dúvida clara e objetiva que o contribuinte tem acerca da legislação tributário-fiscal correlata.

Abaixo passo dois links, um com orientações gerais sobre a Consulta perante a Receita Federal do Brasil (link oficial) e

também link do site Normas que o Fisco Federal disponibiliza para consulta a toda a sua normativa, incluindo também as

Soluções de Consulta já publicadas:

http://normas.receita.fazenda.gov.br/sijut2consulta/consulta.action

https://www.gov.br/pt-br/servicos/formalizar-consulta-sobre-interpretacao-da-legislacao-tributaria
(5) AS SOLUÇÕES DE CONSULTA TÊM FORÇA VINCULANTE, ISTO É, PODEM SER ERGA OMNES?
O Fisco está vinculado à sua resposta em relação ao consulente. A vinculação aos demais contribuintes na mesma situação dependerá de normativa própria
autorizativa. Por óbvio, quanto ao contribuinte que realiza a consulta (consulente) a resposta do Fisco será vinculativa, isto é, ao responder de determinada forma para aquele
contribuinte não poderá o Fisco atuar em sentido contrário do que respondeu. A grande questão, todavia, diz respeito à possibilidade de outros contribuintes (não-consulentes) se
“aproveitarem” daquela resposta se estivem dentro exatamente das mesmas condições do consulente originário. Para que a resposta do Fisco à consulta (também conhecida como
Solução de Consulta) possa ter efeitos erga omnes é necessário que exista normativa própria de cada autoridade fiscal (União, estados, DF, municípios) que esclareçam esta
possibilidade.

No âmbito federal a INSTRUÇÃO NORMATIVA RFB Nº 1.396, DE 16 DE SETEMBRO DE 2013. em seu artigo 9º esclarece que:

Art. 9º A Solução de Consulta COSIT e a Solução de Divergência, a partir da data de sua publicação, têm efeito vinculante no âmbito da RFB, respaldam o sujeito passivo que as aplicar,
independentemente de ser o consulente, desde que se enquadre na hipótese por elas abrangida, sem prejuízo de que a autoridade fiscal, em procedimento de fiscalização, verifique seu efetivo
enquadramento. (Redação dada pelo(a) Instrução Normativa RFB nº 1.434, de 30 de dezembro de 2013)

Portanto, as Consultas realizadas perante a Receita Federal do Brasil (RFB) e que tenham tido Solução publicadas diretamente pela COSIT ou as Solução de Divergência
que via de regra também são feitas pela COSIT (divergência entre Soluções previamente pronunciadas por Delegados Regionais de Julgamento distintos no país), terão efeito
vinculante mesmo para os não-consulentes (efeito erga omnes). Claro, o Fisco sempre poderá fiscalizar a aplicação das chamadas Solução COSIT ou Solução de Divergência no
sentido de verificar se o contribuinte não-consulente realmente se enquadre nas hipóteses estritamente descritas nelas.

A COSIT integra o organograma da Receita Federal do Brasil e sua sigla significa Coordenação Geral de Tributação. Os Delegados Regionais de Julgamento podem expedir
Solução de Consulta também, mas esta estará vinculada apenas ao contribuinte-consulente. Apenas a Solução COSIT ou a Solução de Divergência poderá ter efeito vinculante aos
contribuintes não-consulentes.
(6) DEMAIS QUESTÕES ACERCA DA CONSULTA À RECEITA FEDERAL DO BRASIL

(6.1) Da Solução de Consulta proferida cabe recurso? Resposta: não cabe recurso.

(6.2) O que significa COSIT? Reposta: Coordenação Geral de Tributação.

(6.3) Qual a legislação base aplicável? Resposta: no âmbito federal temos:

Decreto nº 70.235/1972 - Dispõe sobre o processo administrativo fiscal e dá outras providências (arts. 46 a 53);

Lei nº 9.430/1996 - Dispõe sobre a legislação tributária federal, as contribuições para a seguridade social, o processo administrativo de consulta e dá

outras providências (arts. 48 a 50);

Ato Declaratório Normativo Cosit nº 26/1999 - Dispõe sobre as consultas formuladas por entidade representativa de categoria econômica ou

profissional de âmbito nacional;

Instrução Normativa RFB n º 1.396/2013- Dispõe sobre o processo de consulta relativo à interpretação da legislação tributária e aduaneira e aduaneira e

à classificação de serviços, intangíveis e outras operações que produzam variações no patrimônio, no âmbito da Secretaria da Receita Federal do Brasil.;

Decreto nº 7.574/2011- Regulamenta o processo de determinação e exigência de créditos tributários da União, o processo de consulta sobre a aplicação

da legislação tributária federal e outros processos que especifica, sobre matérias administradas pela Secretaria da Receita Federal do Brasil.
4. O caso postado no MOODLE:

A empresa consulente informa que tem como ramo de atividade a construção civil e que atualmente possui vários contratos
com diversos objetos, dentre os quais serviços de gerenciamento, operação e manutenção dos sistemas de abastecimento
de água e esgotamento sanitário.

Assim, quer fazer uma Consulta à Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) sobre a interpretação e a aplicação das
normas relativas à incidência da Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do
Servidor Público (Contribuição para o PIS/Pasep) e da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins), no
regime de apuração não cumulativa.

A empresa entende possível deduzir da base de cálculo da Contribuição para o PIS/Pasep e da Cofins as despesas com vale-
transporte, vale-refeição, vale-alimentação, fardamento e uniformes fornecidos aos funcionários vinculados a cada contrato,
com base no art. 3º, X, da Lei nº 10.637, de 30 de dezembro de 2002, e no art. 3º, X, da Lei nº 10.833, de 29 de dezembro de
2003.
4. O caso postado no MOODLE:

Argumenta que para execução dos objetos dos contratos utiliza um grande contingente de pessoal. Assim, considera
que a mão-de-obra é necessária para a execução do objeto do contrato e que as despesas com vale-transporte, vale-refeição,
vale- alimentação, fardamento e uniformes são custos inerentes à mão-de-obra necessária para a execução dos serviços
contratados. Desta forma, indaga sobre a legitimidade do seu entendimento.

No Moodle deixei também o formulário padrão em Word sugerido pela Receita Federal. A tarefa é extremamente
simples, basta preencher o formulário. Os dados iniciais podem ser preenchidos com os nomes, CNPJ, tudo e forma fictícia. A
parte mais importante é preencher as perguntas a partir do problema relatado pelo “cliente” como consta relatado no
Moodle. Se observarem bem, o campo relativo, por exemplo, ao embasamento legal, pode ser copiado do texto constante no
Moodle mesmo.

O que é importante é que as perguntas sejam bem feitas, isto é, sejam claras e diretas. Na prática, muitas Consultas
são indeferidas porque as Autoridades Fiscais simplesmente não conseguem entender qual a dúvida do contribuinte.

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