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OS DEVERES DO TRABALHADOR
• Dever principal: a prestação de trabalho. Vide o n.º 2 do art.º 14.º da LGT.
• Deveres acessórios conexos da prestação principal, chamados deveres de conduta inseridos no correcto
desenvolvimento da relação de trabalho. Vide o art.º 44.º.
• Dever de obediência:
Este dever de obediência não se cinge à prestação de trabalho propriamente dita. Abrange, igualmente,
outras vertentes, tais como a higiene e segurança no trabalho, conforme o previsto na alinea f) do art.º
44.º da LGT. Mas, o exercício da prestação de trabalho continua a ser o critério de delimitação deste
dever, pois só existe dever de obediência em situações que decorram no local de trabalho, ou por força
da prestação de trabalho ou por causa da prestação de trabalho.
• Dever de diligência:
O art.º 762.º, n.º 2 do CC indica que as obrigações de qualquer contrato devem cumprir-se de boa fé.
O art.º 44.º, alínea a) da LGT estabelece que a manifestação deste dever de actuação segundo a boa-fé
no contrato de trabalho. Significa que o trabalhar deve actuar com cuidado, com zelo, com as cautelas
que sejam razoavelmente de se exigir.
Qual o critério para aferir se o cumprimento se processou de boa fé?
Critério do trabalhador normal, médio, colocado na situação daquele específico trabalhador, tendo em conta a natureza
das funções e o seu carácter técnico-produtivo.
Mas este critério objectivo do trabalhador médio deverá ser temperado com um critério subjectivo, que atenda a
factores individuais do trabalhador, tais como a idade, a experiência, a preparação técnica e académica (ainda a
vontade e as intenções do trabalhador).
por António Joaquim Fortunato, Professor Assistente de Direito do Trabalho da Faculdade de Direito da UAN e Mestrando de Ciências Jurídico Económicas e Desenvolvimento no
Centro de Pesquisa em Políticas Públicas e Governação Local da UAN
• Dever de assiduidade
O trabalhador, tal como todos os credores, deve cumprir de forma pontual e tempestiva (a tempo) a sua prestação de trabalho
(art.º 406. °, n.º 1 do CC). No caso do trabalhador, isso significa estar presente durante o período em que está vinculado a
prestar o trabalho, chegando à hora indicada, partindo só na hora indicada e comparecendo todos os dias úteis conforme
estabelece o art.º 44.º, alíneas c) e i) da LGT.
O respeito do dever de assiduidade tem também consequências, pois pode originar para o trabalhador prémios de assiduidade
ou outro tipo de vantagem.
• Dever de lealdade
Durante algum tempo entendeu-se que este dever é sinónimo de dever de fidelidade e a significar que o trabalhador deveria
agir em prol dos interesses e dos bens da empresa, concebida como entidade situada acima de todos os seus demais interesses.
• Hoje entende-se outra coisa: este dever vincula apenas o trabalhador a não prejudicar a empresa, a não agir de forma a causar
prejuízos. Não tem, com as suas acções, que beneficiar a empresa nem os interesses do empregador, interesses que ele pode
até desconhecer.
Manifestações deste dever na lei angolana:
• No art.º 44.º, alíneas d) e g) da LGT - legislador impõe o tratamento com respeito das pessoas ligadas à empresa, desde logo
o empregador e demais colegas. Este dever mantém-se mesmo durante do período de suspensão do contrato. Cfr. parte final do
n.º 1 do art.º 185.º da LGT.
Funções da categoria:
O EMPREGADOR
PODERES DO EMPREGADOR, vide art.º 36.º da LGT.
a) Poder directivo, confronte o art.º 36.º que reune os poderes de organização, de direcção e de regulamentação
Assim, o art.º 37.º da LGT estabelece o poder de organizar e gerir a mão-de-obra a seu cargo, o que inclui:
(i) Poder de dar ordens e instruções sobre as mais variadas questões;
(ii) definição do organigrama da empresa;
(iii) classificação dos postos de trabalho;
(iv) delimitação das categorias profissionais;
(v) Delineação das tarefas que cabem a cada categoria;
(vi) criação de regras disciplinares, quanto a entradas e saídas, segurança e higiene no trabalho, locais onde é
proibido falar ou fumar, etc.;
(vii) poder de controlar o cumprimento dessas regras;
b) Poder regulamentar
Criação das regras relativas ao funcionamento da empresa (arts. 38.º e 62.º ss. da LGT). Pode ser entendido como o
resultado da manifestação de vontade, permitida pelo legislador laboral, do empregador de elaborar normas gerais e
abstractas com o propósito de indicar as acções e comportamentos visando que todo o processo produtivo ou de
prestação de serviço seja eficente eficaz.
c) Poder disciplinar
A ordem jurídica permite que, excepcionalmente, entidades privadas possam aplicar sanções disciplinares à outros
entes privados. É o que sucede com este poder disciplinar, que permite ao empregador sancionar as infracções
disiciplinares cometidos pelos trabalhadores. Vide art.º 46.º da LGT.
por António Joaquim Fortunato, Professor Assistente de Direito do Trabalho da Faculdade de Direito da UAN e Mestrando de Ciências Jurídico Económicas e Desenvolvimento no Centro de Pesquisa em Políticas Públicas e
Governação Local da UAN
• DIREITO DISCIPLINAR : conjunto de regras relativas ao exercício do poder disciplinar que consiste na descrição
das infracções disciplinares, competência para a aplicação das sanções, enumeração das sanções, procedimento
a seguir na sua aplicação e outras.
INFRACÇÃO DISCPLINAR : comportamento (acção ou omissão), imputável ao trabalhador a título de culpa, que se
traduz na violação dos respectivos deveres ou na negação de valores próprios da ordem jurídica laboral.
PRINCÍPIOS DO DIREITO DISCIPLINAR:
(i) Princípio do contraditório previsto nos artigos 50.º e 51.º, n.º1 da LGT, em vigor, proposto no art.º 86.º e no n.º 1
do 87.º do projecto de revisão da LGT 2015.
(ii) Princípio ne bis in idem previsto no art.º 51.º, n.º 2 da LGT, em vigor, proposto no n.º 2 do art.º 87.º do projecto
de revisão da LGT 2015.
(iii) Princípio da proporcionalidade previsto no art. 53.°, n.º1 da LGT) , em vigor, proposto no n.º 1 do art.º 87.º do
projecto de revisão da LGT 2015.
(iv) Princípio da igualdade previsto no art.º 1.°, n.º1 da LGT, em vigor, proposto no art.º 1.º, n.º 1 do projecto de
revisão da LGT 2015, em que o legislador propõe que o critério seja contratualista, ou seja, a lei aplica-se a todos
os contratos de trabalho e não aos trabalhadores emanação do critério personalista ou subjectivista como estava
previsto nas LGT de 2015, de 2000 e de 1981 ( embora aqui seja sob o princípio do modelo socialista da relação
laboral).
(v) Princípio da tipicidade e da taxativamente das medidas disciplinares previsto no art. 47. °, n.º1 da LGT, em vigor,
proposto no n.º 1 do art.º 82.º do projecto de revisão da LGT 2015. É de acrescentar que foram previstas mais duas
sanções disciplinares, a saber: a despromoção temporária de categoria e a suspensão do trabalho com perda de
retribuição.
PROCESSO DISCIPLINAR
Conjunto encadeado de actos mediante os quais o empregador exerce o seu poder disciplinar. Destina-se a
averiguar a veracidade dos factos, a determinar a sua gravidade e a apurar qual a sanção adequada a ser
aplicada. A competência para o processo está prevista no arts. 46.º e ss da LGT proposto nos arts. 81.º e ss do
projecto de revisão da LGT 2015.
por António Joaquim Fortunato, Professor Assistente de Direito do Trabalho da Faculdade de Direito da UAN e Mestrando de Ciências Jurídico Económicas e Desenvolvimento no Centro de Pesquisa em Políticas Públicas e Governação Local da UAN
•
O PROCESSO (PROCEDIMENTO) DISCIPLINAR LABORAL
• O processo disciplinar laboral corresponde ao poder disciplinar, ou seja, ao poder de aplicar medidas disciplinares às infracções disciplinares,
incluindo o poder de instrução disciplinar, ou seja, de instruir o procedimento disciplinar, que o empregador tem sobre o trabalhador ao seu
serviço, enquanto vigorar o contrato de trabalho.
• A Lei Geral do Trabalho (LGT) de 2015, aprovada pela lei n.º 7/15, de 15 de Junho, prevê fases para o processo/procedimento disciplinar laboral.
• AS FASES DO PROCESSO (PROCEDIMENTO) DISCIPLINAR LABORAL
• Primeira fase - INQUÉRITO /CONVOCATÓRIA
• É a fase do inquérito preliminar em que o empregador tem a possibilidade de abrir um inquérito antes de enviar a convocatória
ao trabalhador para estabelecer o processo disciplinar laboral, conforme determina o n.º 3 do art.º 46.º da LGT de 2015. No
processo prévio de inquérito o empregador dispõe de 8 (oito) dias para determinar suficientemente os factos irregulares e o autor
da infracção.
• Pode-se afirmar que há uma correspondência entre a primeira fase do processo disciplinar com a primeira fase do procedimento
disciplinar, em que o empregador convoca o trabalhador para uma entrevista por meio de uma CONVOCATÓRIA, prevista no
art.º 48.º, n.º 1 da LGT de 2015). Assim, é nula a aplicação de qualquer medida disciplinar ao trabalhador se não for precedida de
convocatória.
• O conteúdo da convocatória é relevante e deve incluir o seguinte:
(i) Descrição detalhada dos factos de que o trabalhador é acusado;
(ii) Dia, hora e local da entrevista (a qual deve ter lugar antes de decorrido 10 (dez) da entrega da convocatória);
(iii) Informação de que o trabalhador pode fazer-se acompanhar por uma pessoa da sua confiança (ou, em alternativa, por 3 testemunhas
conforme o previsto no art.º 48.º, n.º 2 da LGT de 2005), pertencente ou não ao quadro do pessoal da empresa ou sindicato em que
esteja filiado.
• As formalidades são as seguintes:
(i) Entrega ao trabalhador contra recibo na cópia (art.º 48.º n.º 3 do LGT de 2015.)
(ii) Feita na presença de duas testemunhas ou através de envio por correio registado (art.º 48.º n.º 3 do LGT de 2015 .)
• Suspensão preventiva do trabalhador
Com a convocatória para a entrevista, o empregador pode suspender preventivamente o trabalhador, se a sua presença no local
de trabalho se mostrar inconveniente, sem prejuízo pontual do salário (salário base, nos termos do art.º 53.º, n.º 1 da LGT de
2015).
Quando ocorrer a suspensão preventiva do trabalhador representante sindical, diferente do que estava estabelecido na LGT de
2000, a LGT de 2015 não impede que a suspensão envolva a proibição de acesso do trabalhador aos locais de actividades que
se compreendam no exercício normal das funções de representação.
por António Joaquim Fortunato, Professor Assistente de Direito do Trabalho da Faculdade de Direito da UAN e Mestrando de Ciências Jurídico Económicas e
Desenvolvimento no Centro de Pesquisa em Políticas Públicas e Governação Local da UAN
• Descanso semanal
O trabalhador tem direito a um dia completo de descanso por semana, previsto no n.º 1 do art.º 120.º da LGT em vigor, que
em regra, é o domingo, podendo ser noutro dia, quando a actividade é realizada sob dispensa de encerramento ou suspensão
da laboração num dia completo por semana ou que seja obrigado a encerrar ou suspender a laboração em dia que não seja
domingo, nos termos do n.º 2 do mesmo art.º.
Existem outras situações (para não se descansar ao domingo), nomeadamente: asseguramento do trabalho que não possa ser
interrompido; para praticar actividades de higiene, salubridade e limpeza ou tarefas preparatórias ou complementares que
devam ser realizadas necessariamente ao domingo ( feita por trabalhadores especiais enquanto os restantes gozam o descanso
ao domingo) ou, finalmente, actividade de guarda, vigilância e portaria.
• Feriados
O empregador deve suspender o trabalho no dia que a lei competente determina como feriado nacional, previsto no art.º 126.º
da LGT. Tal não acontece para as actividades que em regime de laboração contínua no teermos do previsto no n.º 3 do art.º
119.º .
• Férias
O direito à férias adquire-se com a celebração do contrato, formando progressivamente (direito de formação sucessiva), até ao
dia 1 de Janeiro do ano seguinte, data em que se vence, e se começa a formar um novo direito (art.º 129.°, n.º 2 da LGT).
Data da aquisição - momento da celebração do contrato;
Data da formação - desde esse dia até 1 de Janeiro do ano seguinte. Data do vencimento -1 de Janeiro do ano seguinte.
Data de gozo – nesse mesmo ano civil
por António Joaquim Fortunato, Professor Assistente de Direito do Trabalho da Faculdade de Direito da UAN e Mestrando de Ciências Jurídico Económicas e Desenvolvimento no Centro de Pesquisa em Políticas Públicas e Governação Local da UAN
• Faltas
A falta consiste na ausência do trabalhador durante o período normal de trabalho diário. Vide o
conteúdo do n.º 16 do art.º 3.º da LGT em vigor.
• Destacamos a tese defendida por JORGE LEITE que considera que a ausência ao trabalho por um período tão prolongado
legitima um despedimento do empregador por justa causa, excepto sendo uma pena de prisão de curta duração, em que o
impedimento do trabalhador será breve.
• Notas comuns à suspensão por motivos ligados ao trabalhador:
(i) Durante a suspensão, pode o empregador contratar outra pessoa para ocupar o posto temporariamente deixado vago,
celebrando para tal um contrato de trabalho a prazo (art.º 192.º; 16.º, n.º 2 da LGT).
(ii) O direito à férias está regulado no art.º 190. °, n.º 3 da LGT, que remete para o art.º 131.°, n.º 3 da LGT. O direito formado
ao longo do ano em que o contrato esteve suspenso é composto por 2 dias úteis por cada mês completo de trabalho, com o
limite mínimo de 6 dias úteis.
A suspensão imputável ao empregador (art.º 193.º ss LGT)
• Motivos conducentes a esta suspensão (art.º 193.º da LGT):
(i) O caso de natureza económica - art.º 193.º, alínea a);
(ii) Os motivos de força maior ligados a factos naturais - art.º 193.º, alínea ) b;
(iii) As questões relativas à pessoa do empregador (serviço militar): art.º 193.º, alínea d);
(iv) A decisão das autoridades competentes - art.º 193.º, alínea c) ou outros casos referidos em lei especial art.º 193.º, alínea
d) da LGT;
(v) A suspensão em nada afecta o direito a férias (art.º 195.º da LGT)
• A suspensão pode conduzir à caducidade do contrato, acompanhada da respectiva indemnização (art.º
194.º, alínea a) e 236.º da LGT). Mas, quando tal suceder, os trabalhadores terão direito de preferência no
novo emprego (art.º 197.° da LGT).
• Efeitos comuns:
(i) Manutenção do vínculo laboral (art.º 185.º, n.º 1 da LGT)
(ii) O vínculo mantém-se, mas relaxado. Porém, regressa a sua forma originária mal termine o impedimento.
(iii) Manutenção dos direitos e deveres que não pressuponham a efectiva prestação de trabalho (art.º 198.º, n.º 1 da LGT) quando a
suspensão ocorre por motivo ligado ao trabalhador ficando este exonerado da sua prestação de trabalho, e perde o correlativo direito ao
salário, ainda que adquira o direito à um seu sucedâneo.