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Será que Deus existe?

– problema filosófico

Problema da existência de Deus

Será que Deus existe?

Sim Não

Argumentos Argumento Argumento


cognitivos pragmático cognitivo

Ontológico A aposta de O argumento do


Pascal mal
Cosmológico

Teleológico
O que é a filosofia da religião?

Podemos caracterizar a filosofia da religião como o exame crítico dos conceitos e das crenças
religiosas fundamentais. A filosofia da religião examina criticamente conceitos religiosos
fundamentais, tal como o conceito de Deus, o conceito de fé, a noção de milagre, bem como
examina criticamente as crenças de que Deus existe, de que há vida depois da morte, de que
Deus sabe, mesmo antes de nascermos, o que iremos fazer.

Não se pode confudir a filosofia da religião com a teologia, pois na teologia já se parte de um
conjunto de doutrinas que não se coloca em causa. A filosofia «recua um passo» e pergunta:
mas será que há boas razões para aceitar a existência de Deus
Problema da existência Teísmo – doutrina filosófica que afirma a existência de um Deus com os seguinte
de Deus predicados: omnipotente (que pode fazer tudo); omnisciente (que sabe tudo);
sumamente bom (moralmente perfeito); criador do Universo; único e pessoal
(existe apenas uma divindade (Monoteísmo) que é uma pessoa, não uma força ou
elemento natural. Possui, portanto, pensamento e desejos.) É uma forma de
monoteísmo. O judaísmo, o cristianismo e o islamismo (ou islão) defendem a
Será que Deus existe? existência do Deus da conceção teísta.

Neste caso, referimo-nos


ao Deus da conceção teísta.

Criador – criou o mundo e,


conserva-o na existência
segundo vários filósofos,
Omnipotente – é todo-poderoso, Criador – criou o mundo e,
ou seja, tem um poder ilimitado segundo vários filósofos,

(criação contínua).
(embora apenas dentro do que é conserva-o na existência (criação
Principais atributos possível fazer-se). contínua).
de Deus – conceito
teísta de Deus
Omnipotente – é todo-poderoso,
Sumamente bom – é
ou seja, tem um poder ilimitado
moralmente perfeito, só faz e só
(embora apenas dentro do que é
quer o bem.
possível fazer-se).
Deus existe – argumentos
Argumentos
sobre
Os argumentos teístas procuram justificar a existência de
racionalmente a crença na existência de Deus. Deus
Podemos dividi-los em dois grupos: a priori e a Argumentos Argumento
posteriori. a posteriori a priori

Argumento a posteriori – argumento que Argumento


Argumento Argumento
depende de, pelo menos, uma premissa que só teleológico ontológico
cosmológico
pode ser reconhecida através da experiência (ou do desígnio)

Argumento a priori – argumento que depende


de, premissas que são todas elas, conhecidas
independentemente da experiência
Argumento cosmológico Um dos defensores deste argumento foi São Tomás de Aquino. Neste
argumento começa com factos simples acerca do mundo, como o facto
nele haver coisas cuja a existência é causada por outras coisas, para daí
1) Todos os eventos são causados. se concluir que tem de haver uma primeira causa, ou seja Deus.

2) Se todos os eventos são causados, então, ou O argumento cosmológico ou argumento da causa primeira parte da
cada evento se causa a si mesmo, ou há uma constatação empírica do Universo.
cadeia causal que regride infinitamente, ou há
uma primeira causa. A primeira permissa explicita a ideia de que todos os eventos que
existem no mundo não se causaram a si mesmos. Pelo contrário, foram
3) Nenhum evento se causa a si mesmo. causados por outras coisas. Esta premissa mostra o carácter posteriori,
visto que Tomás de Aquino, através da observação, detetou que todos
os eventos são causados
4) A existência de sequências causais que
regridem infinitamente é impossível.
Na segunda premissa, elecam-se três possibilidades que podem
explicar o que poderá causar as coisas que existem no mundo:
5) Logo, tem de haver uma causa primeira. autocausação, a regressão causal infinita ou a existência de uma causa
primordial.
A terceira premissa nega a autocausação, já que Na quarta premissa, afirma-se que a hipótese de uma regressão ao
nenhum fenómeno pode ser anterior a si infinito não é plausível. Se a regressão das causas fosse infinita, então
mesmo. não haveria nada no seu início que desse origem à própria cadeia causal
que deu origem a tudo o que temos hoje
Tese: Deste modo, deparamo-nos com a necessidade
Argumento cosmológico – objeções + tese da existência de uma causa primeira, a causa que está
na origem de todas as causas e efeitos posteriores.
1) Todos os eventos são causados. Essa primeira causa, que é incausa e necessária, é
Deus. Logo, Deus (um ser sobrenatural) existe.
2) Se todos os eventos são causados, então, ou cada evento se
causa a si mesmo, ou há uma cadeia causal que regride Este argumento pressupõe que não há uma regressão
infinitamente, ou há uma primeira causa. ifinita na série de causas e efeitos. É concebível
imaginar a existência de regressões causais infinitas,
tal como é possível imaginar uma sequência de
3) Nenhum evento se causa a si mesmo. números que retroceda infinitamente.

4) A existência de sequências causais que regridem infinitamente é Este argumento é autocontraditório: defende, ao
impossível. mesmo tempo, que todas as coisas foram causadas
por outra coisa que não tenha sido causada, e que
5) Logo, tem de haver uma causa primeira. existe uma causa que não foi causada: Deus. Então,
qual é a causa de Deus?

Mesmo que se possa concluir que existe uma causa


primeira, nada garante que essa causa seja o Deus
teísta.
Argumento teleológico O argumento teleológico é igualmente um argumento a posteriori, que
parte do facto de no mundo existirem ordem e finalidade
1) Algumas coisas sem inteligência atuam
A primeira premissa mostra novamente o caráter a posteriori do
em vista de uma finalidade.
argumento. Tomás de Aquino parte da observação de que algumas coisas
2) Ou alcançam essa finalidade por mero desprovidas de inteligência demonstram existir em vista de certos fins,
acaso, ou são guiadas por algo certos propósitos.
inteligente.

3) Não é por acaso que tendem para essa A segunda premissa coloca duas possibilidades. Ou as coisas naturais
finalidade. alcançam esses determinados fins por acaso ou é provocada por um ser
inteligente (tal como a flecha é orientada pelo arqueiro).
4) Logo, existe algo inteligente que dirige
as coisas naturais para esses fins.
Aquino defende a terceira premissa, afirmando que se fosse por acaso, esta
tendência para certas finalidades não seria recorrente. A sua repetição
(«sempre ou na maioria das vezes») prova que não é fruto do acaso.

Se não é por acaso, conclui-se que existe um ser inteligente pelo qual todas
as coisas naturais são ordenadas, dirigidas e orientadas para um fim. Esse ser
é Deus.
Argumento teleológico Versão de Willliam Paley (argumento de analogia):
Este filósofo criou um argumento que se baseia numa analogia entre os
1) Algumas coisas sem inteligência atuam objetos criados pelo ser humano e as coisas da natureza.
em vista de uma finalidade.
A analogia do relojoeiro é um argumento teleológico através do qual
2) Ou alcançam essa finalidade por mero
tenta-se demonstrar que a natureza e o universo não foram criados por
acaso, ou são guiadas por algo
inteligente. mero acaso, mas sim por uma inteligência superior como Deus
A analogia do relojoeiro consiste na comparação da complexidade da
3) Não é por acaso que tendem para essa natureza que nos rodeia com um relógio: ao observar este, conclui-se
finalidade. que a sua complexidade é indício da existência de um ou vários
relojoeiros; em consequência, o universo, devido à sua complexidade,
4) Logo, existe algo inteligente que dirige também foi criado por um “relojoeiro divino”.
as coisas naturais para esses fins.

Argumento teleológico - objeções Este argumento, em qualquer das versões, perde a sua força
quando é confrotado com as teorias evolucionistas, pois veio a
Este argumento, na versão de Paley, baseia-se mostrar a existência do acaso para explicar o mundo naturais.
num argumento de fraca analogia: a semelhança Segundo Darwin, as espécies evoluíram mediante seleção natural,
entre os objetos naturais e os objetos artificiais adaptando-se para sobreviver. Se a seleção natural consegue
não é uma semelhança entre aspetos explicar a adequação dos seres vivos ao seu propósito de
verdadeiramente importantes ou relevantes, sobrevivência, então deixa de ser necessário fazer referência a
havendo entre eles diferenças relevantes. uma entidade divina
Argumento ontológico
O argumento ontológico expressa a tentativa de
demonstrar a existência de Deus de um modo
1) Deus (o ser maior do que o qual nada pode ser pensado) existe
inteiramente a priori, sem recurso aos dados da
no pensamento.
experiência. Foi defendido por Santo Anselmo de
Cantuária (século XI)
2) Se Deus existisse apenas no pensamento (e não na realidade),
poderíamos pensar num ser ainda maior do que ele (que existiria Na primeira premissa, afirma-se que Deus existe pelo
no pensamento e na realidade).
menos como uma entidande mental. Mesmo o ateu
aceita esta premissa. Um ser tão perfeito, que não é
3) Não podemos pensar um ser ainda maior do que Deus possível imaginar outro ser que lhe seja superior.
(o ser maior do que o qual nada pode ser pensado).

4) Logo, Deus (o ser maior do que o qual nada pode ser pensado) Na segunda premissa, coloca a hipótese de Deus não
não existe apenas no pensamento, existe também na realidade. ser real e apenas existir no pensamento. Então,
poderíamos imaginar um ser ainda maior.

Na terceira premissa, nega a capacidade de se pensar


num ser maior do que Deus, afirmando que Deus «é o
ser maior do que o qual nada pode ser pensado»
Séculos mais tarde, Descarte, no século XVII, retoma a ideia de
Anselmo. Sendo Deus um ser perfeito, tem de possuir a perfeição Tese: Deus não existe apenas no pensamento e existe
de existir. também na realidade.
Argumento ontológico - objeções

1) Deus (o ser maior do que o qual nada pode ser pensado) existe A ilha perfeita – Gaunilo de Marmoutier apresenta
no pensamento. uma crítica ao argumento de Anselmo. Não é pelo
facto de pensarmos numa ilha maravilhosa que se
2) Se Deus existisse apenas no pensamento (e não na torna obrigatória a sua existência.
realidade), Resposta de Anselmo: a ilha é uma coisa, é algo
poderíamos pensar num ser ainda maior do que ele (que
contingente, tem um início e um fim, não é
existiria no pensamento e na realidade).
necessáriamente existente. O conceito de Deus,
3) Não podemos pensar um ser ainda maior do que Deus como ser supremo, que não tem início nem fim,
(o ser maior do que o qual nada pode ser pensado). implica necessariamente a sua existência.

4) Logo, Deus (o ser maior do que o qual nada pode ser pensado) Kant: A existência não é uma característica. A
não existe apenas no pensamento, existe também na realidade. existência não acrescenta nada ao conceito da
coisa.
Asposta de Pascal
As tentativas pelas mentes brilhantes da filosofia,
recorrendo à razão epistémica não alcançaram
1) Se entre as alternativas disponíveis, os resultados resposta. É aceitável recorrer à razão prudencial para
de uma alternativa X forem melhores do que os das tomar posição. Pascal adota uma posição fideísta,
outras, devemos escolher X.
afirmando que a razão epistémica não tem um papel
na questão da existência de Deus. Pascal considera
2) Acreditar em Deus é melhor do que não acreditar, que a fé pode ser racional na ausência de provas.
quer Deus exista ou não.
Segundo Pascal, devemos acreditar em Deus não
porque haja boas provas da sua existência, mas por
3) Logo, devemos acreditar em Deus. causa dos benefícios, vantagens ou recompensas que
tal crença nos pode trazer se vier a revelar-se
verdadeira.
1. Temos que decidir se devemos ou não acreditar em Deus.
Construção do argumento
apostador de Pascal

Dado que Deus é algo infinito e a mente humana é finita, as nossas Trata-se de um argumento que não
2.
capacidades cognitivas não conseguem responder a esse problema. procura demonstrar a existência de
Deus, mas mostrar que um
Se a razão epistémica não consegue responder ao nosso problema, apostador sensato deverá “apostar”
3. nessa existência.
então devemos usar a razão prudencial.

Para Pascal, temos tudo a ganhar e


4. Portanto, devemos usar a razão prudencial.
nada de relevante a perder se
escolhermos acreditar em Deus.
Se Deus existe e acreditamos n’Ele, alcançaremos um ganho infinito
5. No caso de Deus existir, acreditar n
na vida após a morte.
´Ele é grantia a felicidade eterna e
não acreditar é perder essa
Se Deus não existe e acreditamos n’Ele, ganhamos alguma felicidade.
6.
felicidade (uma vida virtuosa). No caso de não existir, se
Se escolhermos não acreditar em Deus, quer Ele exista, quer não acreditarmos teremos um ganho
exista, não alcançaremos o ganho maior – a felicidade infinita. No ainda maior do que não
7.
máximo, teremos alguma felicidade terrena. acreditarmos.

Portanto, acreditar em Deus é melhor do que não acreditar, quer


8.
Deus exista ou não.
Deus existe Deus não existe

Ganha-se a salvação, a vida eterna Perda de tempo em atos religiosos e


Acreditar que
no Paraíso (eterna felicidade): de alguns prazeres mundanos:
Deus existe ganho infinito. perda finita.

Perde-se a possibilidade da Liberdade de gozar os prazeres


Não acreditar que
salvação e pode correr-se o risco da da vida sem medo do castigo
Deus existe condenação eterna: perda infinita. divino: ganho finito.

A aposta de Pascal é a atitude de apostar na crença, por ser esta a mais vantajosa e a melhor,
em termos de previsíveis consequências práticas.
Asposta de Pascal - objeções

Crença sem valor moral – Será moralmente correto Não podemos descidir acreditar que Deus existe, tal
acreditar em Deus mediante uma aposta? Será que como não podemos decidir acreditar que os peixes
tem valor moral basear a crença em Deus em razões voam. Para acreditar em algo é necessário estar
prudenciais? convencido de que isso é verdade.
O argumento do mal para a discussão da existência de Deus – argumento não teísta

O problema do mal surge na Grécia Antiga e consiste na dificuldade em reconciliar a


existência de mal no mundo, sobretudo de mal aparentemente gratuito ou sem sentido,
com a existência do Deus teísta.
Como é que um Deus com esses atributos pode permitir a existência do mal?!

1) Se Deus existe, então A primeira premissa mostra que o Deus teísta não
não existe mal no mundo. permitiria a existência do mal, pois Ele pode eliminar
o mal e o sofrimento (omnipotente), ele sabe que o
mal existe e sabe como eliminá-lo (omnisciente) e Ele
2) Existe mal no mundo.
deseja apenas o bem (omnibenevolente).
Portanto, se Deus existe, não pode existir o mal.

3) Logo, Deus não existe.


Através da segunda premissa, percebemos que o Da negação da consequente, segue-
argumento apresenta-se numa formulação a se a negação da antecedente (Modus
posteriori. Constatamos diariamente que existe mal e Tollens),
sofrimento no mundo. Ao afirmar a existência de mal ou seja, se existe mal no mundo, o
no mundo, estamos a negar a consequente da primeira Deus teísta não existe. (terceira
premissa. (Versão lógica) premissa – tese)
O argumento do mal - objeções

O mal é entendido por alguns filósofos, entre os quais Leibniz, como uma
condição necessária de alguns bens.
Teodiceia de Leibniz
No entanto, outros filósofos consideram que existem certos males cuja
eliminação não priva o mundo de nenhum bem.
O teísmo responde que é possível Segundo Leibniz, Deus, sendo omnipotente e perfeito, escolheu e criou, de
realizar essa compatibilização, que entre infinitos mundos possíveis, o melhor de todos, ou seja, aquele que
é possível aceitar a coexistência tem a miníma parte do mal. Deus tem o conhecimento mais perfeito, por
entre Deus e o mal. As tentativas isso, quando decidiu criar o mundo escolheu o melhor de entre todos os
de conciliar a perfeição de Deus mundos possíveis.
com a presença de males no Para Leibniz, a maldade existe no melhor dos mundos possíveis como meio
mundo chamam-se “teodiceias”. A para promover bens maiores que anulam o peso negativo desses males. O
teodiceia indica os objetivos e as male tem um propósito: o bem.
razões que Deus tem para permitir
que o mal exista. Este conceito foi Deus pode às vezes querer o mal natural, enquanto forma de expiação da
cunhado por Gottfried Leibniz que culpa ou como forma de aperfeiçoamento do indíviduo. Mas não quer o
defendeu a compatibilidade entre mal moral. Permite-o, no entanto, a fim de não o pôr em causa o nosso
Deus e o mal. livre-arbítrio. Quanto ao mal metafísico, ele acaba por fazer parte do
mundo enquanto este é criado e imperfeito.
Teodiceia de Leibniz- objeções

Constatamos a existência de sofrimentos terríveis


que não servem nenhum propósito maior, que são
males sem sentido, sem justificação nenhuma.
Portanto, existe males injustificados.

A afirmação de Leibniz de que o nosso mundo é


um dos melhores é problemática. Por um lado,
como vimos, a existência de males horrendos
parece desqualificar o nosso mundo desse título.
Por outro, afirmar que o Deus teísta, perfeito,
criou o melhor mundo possível e não outro,
esbarra na evidência diária de que podia poderia
existir um bocadinho menos de sofrimento no
mundo sem que nada de globarmente
determinante.

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