Você está na página 1de 38

NEUROBIOLOGIA DA ADIÇÃO:

“como as drogas fazem no cérebro”

Profa. Dra. Roseli Boerngen de Lacerda


Professora Associada do Departamento de Farmacologia - UFPR
Professora do Programa de Mestrado e Doutorado em Farmacologia - UFPR
Coordenadora do Centro Parana – Projeto ASSIST-WHO
Coordenadora no Parana do Curso a distancia SUPERA – SENAD - UNIFESP
E-mail: boerngen@ufpr.br
ADIÇÃO

USO
NOCIVO

USO DE RISCO

USO RECREATIVO
OCASIONAL
Adição

Um transtorno mental e comportamental


caracterizado pela auto-administração da
droga de forma incontrolada, compulsiva e
continuada apesar dos claros prejuízos para
si mesmo e para os outros, e pela fissura
(craving: desejo incontrolavel em usar a
droga).
O transtorno dos 8 C’s
Cronica
Centralidade da droga
Uso Continuado apesar dos danos B-P-S
Perda do Controle
Uso Compulsivo
Craving
ReCaída

Um transtorno heterogeneo do Cérebro, o qual


tem sua estrutura e função alterada pela
droga de forma duradoura.
 A questão central da adição é:

“o que é responsável pela transição do uso


recreativo e controlado da droga para o uso
compulsivo em alguns individuos suscetiveis/
vulneráveis que culmina na perda do controle
sobre o consumo levando à recaída?”(Kasanetz
et al., 2010)
Vulnerabilidade

BIOLOGIA/GENES AMBIENTE
Genetica Lar caotico, abuso sexual
Genero Uso e atitudes familiares
Hormonios Influencia dos colegas
Idade Atitudes da comunidade
Transtornos mentais Fraco desempenho escolar

Via administrada Uso precoce


Efeito farmacologico DROGA Disponibilidade
Custo

MECANISMOS CEREBRAIS

ADIÇÃO
Depressores ou Psicolépticos

Etanol
Benzodiazepínicos
(ansiolitico)
Estimulantes ou Psicoanalépticos

Cocaína Metanfetamina (cristal)

Nicotina (cigarro, narguile) Cafeina


Perturbadores ou Psicodislépticos
(Alucinógenos)

LSD
Mescalina

Fenciclidina
movimento
sensações

visão

julgamento
reforço
memoria
coordenação
Photo courtesy ofthe N ID A W eb site.From A
Slide Teaching Packet:The Brain and the
ActionsofCocaine,O piates,and M arijuana.
Photo courtesy ofthe N ID A W eb site.
From A Slide Teaching Packet:The
Brain and the Actions ofCocaine,
O piates,and M arijuana.
Drogas e alimentos podem atuar tanto como
reforçadores positivos como negativos:

Exemplos:

Positivo: comida sabor particularmente agradável


droga efeito de euforia, prazer, alteração da
consciência, inserir-se no “grupo”

Negativo
 : comida alivia a fome (estado desagradável)
droga alivia os sintomas de uma síndrome de
abstinência, ou ansiedade, dor, outros
DROGA PSICOTRÓPICA:
São as drogas que alteram o comportamento, humor e
cognição, possuindo propriedade reforçadora sendo,
portanto, passíveis de auto-administração (OMS,
1981).
Em outras palavras, essas drogas podem levar ao uso
abusivo e à adição/dependência.
MECANISMO NEUROBIOLÓGICO
COMUM ENTRE AS DROGAS

LIBERAÇÃO DE DOPAMINA NO NÚCLEO ACCUMBENS


• Ativação das vias de Reforço/Recompensa Cerebral:
vias mesolímbica e mesocortical
O mecanismo de ação agudo comum de drogas psicotrópicas é a
capacidade de ativar a via dopaminérgica mesolímbica, levando
a liberação de dopamina (DA) no núcleo accumbens.

E. J. Nestler 2005
Como episódios repetidos de liberação
aumentada de DA transformam o
comportamento de procura à droga em uso
compulsivo? (Nestler, 2005)
Por que a vulnerabilidade para recaída nos
adictos persiste após anos de abstinencia,
sugerindo neuroadaptações de longa duração?
(Robinson, Berridge 2008)
Desenvolvimento da adição/dependência

ESTÁGIO 1
INTOXICAÇÃO/REFORÇO (+)

ESTÁGIO 2
AFETO NEGATIVO/REFORÇO (-)

ESTÁGIO 3
PREOCUPAÇÃO/ANTECIPAÇÃO
ESTÁGIO 1 – INTOXICAÇÃO/INICIAÇÃO
Reforço positivo

DA, Opioides, GABA, Glu, endocanabinoides, 5-HT

Koob et al., 2009


ESTÁGIO 2 – AFETO NEGATIVO/SA
Reforço negativo

Dopamina,GABA, Glutamato, CRF, Noradrenalina,


Neuropeptideo Y, Dinorfina, Substancia P

Koob et al., 2009


ESTÁGIO 3 – PREOCUPAÇÃO/ANTECIPAÇÃO
Craving/ automação / prejuizo da função executiva

Glutamato, endocanabinoides, GABA, Noradrenalina

Koob et al., 2009


Estágio I – efeitos agudos das drogas

Efeitos reforçadores com liberação DA


suprafisiológica no circuito motivacional
induzindo mudanças na sinalização celular:
DA +  D1R +  PKA +  CREB 
indução de cFos  mudanças
neuroplásticas de curta duração (poucas
horas ou dias)
Estágio II - transição

Uso repetido acumula mudanças na


função neuronal:
DA +  D1R +  proteinas com meia vida
longa, como FosB (overexpressed)
 FosB é um regulador transcricional que
modula a síntese de certas subunidades do
AMPA-R e de certas enzimas sinalizadoras
da célula
(tirosina-hidroxilase, RGS9-2, autoR-D2, DAT)
 Mudanças compensatórias (homeostase)
Estágio III - estágio final da adição

Mudanças na expressão de proteinas


conferem vulnerabilidade para
recaída.
• “Redirecionamento” do sistema DA para
o Glu  adaptações celulares nas
projeções glu do c. préfrontal para o
NAcc
• “Automaticidade” da resposta de
procura frente a pistas e estresse
Neuroplasticidade e Adição

• A plasticidade sináptica reorganiza os


circuitos neurais (reforça e elimina)
através da alteração da expressão gênica
e proteica em resultado a LTP e LTD
(NMDA-R e AMPA-R).
Neuroplasticidade
Cérebro sob efeito agudo da cocaina

Binding
1-2 Min 3-4 5-6
de cocaina
em
humanos
(PET)
6-7 7-8 8-9

Photo courtesy of Nora


Volkow, Ph.D. Mapping cocaine
binding sites in human and
baboon brain in vivo. Fowler
JS, Volkow ND, Wolf AP, Dewey
9-10 10-20 20-30 SL, Schlyer DJ, Macgregor
RIR, Hitzemann R, Logan J,
Cérebro após uso crônico de cocaína

Mudanças Normal
Metabólicas
em humanos

Adicto cocaina - 10 dias de abstinencia

Adicto Cocaine
cocaina -Abuser (100
100 dias de days)
abstinencia

Photo courtesy of Nora Volkow, Ph.D. Volkow ND, Hitzemann R, Wang C-I, Fowler IS, Wolf AP, Dewey SL. Long-term
frontal brain metabolic changes in cocaine abusers. Synapse 11:184-190, 1992; Volkow ND, Fowler JS, Wang G-J,
Hitzemann R, Logan J, Schlyer D, Dewey 5, Wolf AP. Decreased dopamine D2 receptor availability is associated
with reduced frontal metabolism in cocaine abusers. Synapse 14:169-177, 1993.
10 dias de
Anfetamina
em
macacos

Photo courtesy of NIDA


from research
conducted by Melega
WP, Raleigh MJ, Stout
RECUPERAÇÃO DA FUNÇÃO CEREBRAL APÓS ABSTINENCIA PROLONGADA

NORMAL METANFETAMINA METANFETAMINA


1 mês abstinente 14 meses abstinente
Memoria das drogas - craving

Amygdala Amygdala
not lit up activated
Anterior

Posterior

Nature Video
Filme neutro Filme
Cocainesobre
Video
cocaina

Photo courtesy of Anna Rose Childress,


NEUROBIOLOGIA DA ADIÇÃO
Resultante de:
• Neuroadaptações homeostáticas e
alostáticas
• Reforço negativo da SA  automedicação
• Resposta motivacional (R-O)  procura da
recompensa
• Importância do hábito (S-R)
• Importância dos estímulos associados (S-S)
• Importância da saliência do incentivo
Vulnerabilidade

BIOLOGIA/GENES AMBIENTE
Genetica Lar caotico, abuso sexual
Genero Uso e atitudes familiares
Hormonios Influencia dos colegas
Idade Atitudes da comunidade
Transtornos mentais Fraco desempenho escolar

Via administrada Uso precoce


Efeito farmacologico DROGA Disponibilidade
Custo

MECANISMOS CEREBRAIS

ADIÇÃO
COMPARAÇÃO DE TAXAS DE RECAÍDA ENTRE
ADIÇÃO E OUTRAS DOENÇAS CRONICAS
A adição é um fenômeno bio-psico-social e
seu tratamento deve ser integrativo e
analítico e não reducionista.
(Kalant, 2009; Cunningham; McCambridge, 2011)

“Somos o que repetidamente fazemos.


A excelência, portanto, não é um efeito,
mas um hábito”.
“É fazendo que se aprende a fazer aquilo
que se deve aprender a fazer”.
(Aristóteles)
www.informalcool.org.br

Você também pode gostar