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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO: OS

DESAFIOS EDUCACIONAIS E
OS PLANOS NACIONAIS DE
EDUCAÇÃO

PROF. MSC. SANDRA DAVANÇO


A EDUCAÇÃO BRASILEIRA, UM
SISTEMA DUAL
 A educação brasileira se caracterizou por materializar no
campo educacional a dicotomia da sociedade de classes.

 Educação Pública e Educação Privada

 Educação Geral e Educação Profissional


Cury (2017) sintetiza três grandes desafios que a sociedade
brasileira precisa enfrentar para consolidar seu Sistema
Nacional de Educação:

• Desigualdade sistêmica da sociedade capitalista;

• O Brasil é uma República Federativa, e como tal coexiste


uma diversidade de entes federados;

• Federalismo cooperativo – regime de colaboração


recíproca, descentralizado.
DESIGUALDADE SISTÊMICA DA
SOCIEDADE CAPITALISTA
 Proclamação da Independência – 40% da população não
era considerada cidadãos, se somarmos as mulheres
(cidadania passiva) o universo de não-cidadão, ou
cidadãos imperfeitos, esse percentual aumenta
consideravelmente:
 “São proibidos de frequentar as escolas públicas:

1°: todas as pessoas que padecerem de moléstias


contagiosas;
2° os escravos e os pretos africanos, ainda que sejam livres e
libertos”. (Rio de Janeiro, lei 1 de 02/01/1837)
 Decreto 1854 (lei de terras): estabelece que os indígenas
deveriam ser segregados em aldeamentos para serem
catequizados e civilizados, também, exige a comprovação
da possibilidade de adquirir terras.
 Constituição de 1934 – contradição entre privilegio X
direito: limitando as matrículas à capacidade dos
estabelecimentos, criando exames de admissão. A
gratuidade do ensino ficará a cargo das legislações atuais.
 Constituição de 1937 – (ESCOLA PÚBLICA ESCOLA
PRIVADA), educação da prole é dever e direito natural
dos país, o Estado colaborará para suprir deficiências e
lacunas da educação particular (CURY, 2017).
 Decreto 4244/42 – estabelece que a finalidade do Ensino
Secundário é formar as “intelectualidades condutoras”.
 LDB 4024/61 – frequentar a escola não é

obrigatório que:
* comprovar estado de pobreza;
* se houver insuficiência de matrícula;
* se já houve encerrado as matrículas
* tem alguma “anomalia” grave.

 Constituição de 1967 – obrigatoriedade dos 7 aos 14 anos


O êxodo rural altera o perfil de quem procurava a escola e
contratação docente. Os contratos de trabalho eram muito
precários, bem como a formação sem o tripé
ensino/pesquisa/extensão.
 Constituição de 1988 – Educação primeiro direito social.
• Ens. Fundamental direito público subjetivo de todos;

• Regime de colaboração entre os entes federados;

• Gratuidade de todos os níveis e modalidade de ensino da


educação pública;
• Gestão democrática;

• Direito à diferenças étnico-racial, sexo, situações peculiares


de deficiência (CURY, 2005)
A Constituição de 1988 busca, Estado Democrático de
Direito, a construção de uma sociedade livre, justa e solidária,
a redução das desigualdades sociais e disparidades regionais e
das discriminações que ofendam a pessoa humana.
O BRASIL É UMA REPÚBLICA FEDERATIVA, E
COMO TAL COEXISTE UMA DIVERSIDADE DE
ENTES FEDERADOS
A responsabilidade da oferta do ensino público sempre opôs a
União e os demais entes federados.
 Proclamação da República 1889 – federativa, representativa
e presidencialista.
 Constituição Federal de 1891 – silencia acerca da gratuidade
do ensino em âmbito federal, responsabilizando estados e
municípios de garantir, ou não, em suas constituições.
 Constituição de 1934 – autonomia dos entes federados para
a oferta da instrução primária gratuita e obrigatória.
 É a primeira vez que temos oficialmente a vinculação de
impostos para o financiamento da educação pública.
 Constituição de 1946 - pacto federativo:
- União – definir diretrizes e base da educação nacional e
ofertar o Ensino Superior.
- Estados e municípios – efetivar o direito à Educação
Básica.

Constitui-se, historicamente, uma organização da educação


nacional e não, propriamente, um sistema nacional de ensino
(CURY, 2005, SAVIANE, 2004).
FEDERALISMO COOPERATIVO – REGIME DE
COLABORAÇÃO RECÍPROCA, DESCENTRALIZADO –
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 E LDB DE 1996.

 União – papel redistributivo, supletivo e equalizador com


assistência técnica e financeira aos estados e municípios e
atuar prioritariamente na oferta do Ensino Superior.
 Estados e Distrito Federal – atuar prioritariamente no
Ensino Fundamental II e Ensino Médio.
 Municípios – atuar prioritariamente no Ensino
Fundamental I e Educação Infantil.
 Administração complexa, com número grande de espaços e
poderes implicados. Necessitando de um conjunto
intrincado de legislações.

 Limites:
 Omissão dos legisladores em elabora uma lei
complementar que possibilite a integração dos sistemas
municipais e municipais na forma de um sistema único de
educação.
 Lacuna que ficou ocupada por uma guerra fiscal entre os
estados, criando um federalismo competitivo fragilizando
ainda mais o pacto federativo.
 Um sistema de educação pressupõe um rede de
instituições escolares; um ordenamento jurídico; uma
finalidade comum e uma base comum. Devendo, esses
quatro elementos coexistirem como um conjunto.
 E esse conjunto supõe unidade e diversidade, sem
incompatibilidades normativas.

O alto índice de analfabetismo, o árduo caminho para a


valorização docente, o enfrentamento e a melhoria da
qualidade do ensino, o combate as formas de discriminação,
preconceito e afirmação dos direitos humanos deve ser
pensada nesse emaranhado de funções, competências e no
âmbito de uma frágil democracia de uma sociedade
profundamente marcada pela desigualdade.
PLANOS NACIONAIS DA EDUCAÇÃO

 História da educação – constante processo de disputas de


projetos com diferentes concepções acerca do papel do
estado, do planejamento e da relação entre entes
federados (contradições entre o ensino público e o ensino
privado).
 Tentativas de se ter um plano educacional:

 1932 – Manifesto dos Pioneiros;

 1939 – governo Vargas;

 1946 – governo Vargas;

 1961 – LDB 4024/61

 1988 – Constituição Federal

 1996 – LDB 9394/96


Constituição Federal e EC 59/2009:

Estabelecerá o plano nacional de educação, de duração decenal,


com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em
regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e
estratégias de implementação para assegurar a manutenção e
desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e
modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos
das diferentes esferas federativas que conduzem a
(EC/59/2009): I – erradicação do analfabetismo; II –
universalização do atendimento escolar; III – melhoria da
qualidade do ensino; IV – formação para o trabalho; V –
promoção humanística, científica e tecnológica do país; VI –
estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em
educação como proporção do produto interno bruto (brasil,
2009).
PNE 2001-2011 (LEI 10.172/2001)
 Disputa entre os movimente educacionais e o governo,
que logrou êxito.
 PNE das sociedade brasileira: criação de um SNE, do
Fórum Nacional da Educação, Redefinição do CNE e
ampliação do investimento em educação pública
equivalente a 10% do PIB.
 PNE aprovado – lógica da gestão empresarial, forte
ênfase no Ensino Fundamenta, criação de um sistema de
avaliação/regulação da educação; não criação de
mecanismo concretos de financiamento para efetivar a
organicidade orçamentária para dar concretude às metas.
PNE 2001-2011
 O governo Lula também não fez do PNE o epicentro das
políticas educacionais.
Aspectos positivos:
 FUNDEB;

 Políticas de inclusão e diversidade;

 Políticas de formação inicial e continuada de


trabalhadores em educação;
 Ampliação da obrigatoriedade da educação nacional;

 Expansão da rede federal de ensino

Mas,:
Criou o Pro-Uni, que se converteu num instrumento
poderoso de repasse de recursos públicos para as redes
privadas de ensino.
PNE 2001-2011
 Esse período sintetiza um quadro histórico de políticas
de governo em detrimento de políticas de estado. As
ações lógicas e dinâmicas de planejamento, gestão e
financiamento não contribuíram para efetivação de
políticas de estado, como por exemplo, despreocupação
em se construir e aprovar o novo PNE, que ocorreu com
quase 4 anos de atraso.
O PNE 2014-2024 SERÁ O EPICENTRO DAS
POLÍTICAS EDUCACIONAIS?
 Principais reivindicações da sociedade:
 Erradicação do analfabetismo;

 Universalização da Educação Básica;

 Ampliação da Educação Infantil;

 Valorização do magistério;

 Respeito À diversidade;

 Integração dos entes federados em um SNE;

 Democratizar a gestão escolar nas redes públicas de ensino;

 Fomentar a formação superior e stricto sensu;

 Atender aos alunos da EJA;

 Aumentar a escolaridade da população;

 Caminhar na direção da oferta da educação em regime


integral.
PRINCIPAIS DISPUTAS NO CONTEXTO
DO PNE
 Público X privado;
 Concepções de qualidade, avaliação e regulação, diversidade
e educação.
 Financiamento da educação (regime de colaboração).

 PIB

 Implementação do custo aluno-qualidade inicial (CAQI) e


custo aluno-qualidade (CAQ).
METAS DO PNE 2014-2024 (LEI
13.005/2014)
 Meta 1 – Educação Infantil – até 2016 todas as crianças de 4
a 5 anos devem estar matriculadas na pré-escola. A oferta da
educação infantil em creches deve ser ampliada de forma a
atender, no mínimo, 50% das crianças até 3 anos até o final
da vigência deste PNE.

 Meta 2 – Ensino Fundamental - até o último ano de vigência


do PNE, toda a população de 6 a 14 anos deve ser
matriculada no ensino fundamental de 9 anos, e pelo menos
95% dos alunos devem concluir essa etapa na idade
recomendada.
 Meta 3 – Ensino Médio – universalização para toda a
população de 15 a 17 anos, elevar a taxa de matrícula
para 85%.

 Meta 4 – Educação Especial/inclusiva – toda a


população de 4 a 17 anos com necessidades educativas
especiais deve ter acesso à educação básica e
atendimento educacional especializado,
preferencialmente na rede regular de ensino, contando
com salas de recursos multifuncionais, classes, escolas
ou serviços especializados, públicos ou conveniados.
 Meta 5 – alfabetização – alfabetizar todas as crianças,
no máximo, até o final do 3 ano do ensino
fundamental.

 Meta 6 – educação integral – até 2024 50% das escolas


públicas e 25% dos alunos da educação básica devem
ser atendidos no regime integral.

 Meta 7 – aprendizado adequado na idade certa –


estimular a qualidade da educação básica em todas as
etapas e modalidades. Com melhoria do fluxo escolar e
da aprendizagem.
 Meta 8 – escolaridade média – elevar a escolaridade
média da população de 18 a 29 anos de modo a
alcançar no mínimo 12 anos de escolaridade até 2024,
para as populações do campo, das regiões de menor
escolaridade do país e dos 25% mais pobres. Igualar a
escolaridade média entre negros e não negros
declarados.

 Meta 9 – alfabetização de jovens e adultos - elevar a


taxa de alfabetização da população com mais de 15
anos para 93,5% até 2015 (???) e erradicar o
analfabetismo absoluto e reduzir em 50% a taxa de
analfabetismo funcional.
 Meta 10 – EJA integrada à educação profissional -
oferecer 25% da matrículas da eja (fundamental e
médio) na modalidade integrada. Em 2012 os dados
eram: 0.7% do ensino fundamental e 2,7% do ensino
médio eram matrículas integradas.

 Meta 11 – Educação Profissional – triplicar as


matrículas da educação profissional técnica de nível
médio, assegurando a qualidade da oferta e pelo menos
50% da expansão no segmento público.
 Meta 12 – Educação Superior – elevar a taxa bruta de
matrícula para 50% e a taxa liquida para 33% da
população entre 18 e 24 anos, com pelo menos 40%
das novas matrículas no setor público.

 Meta 13 – titulação de professores da educação


superior – elevar a proporção de mestres e doutores do
corpo docente em efetivo exercício no conjunto do
sistema público para 75%, sendo 35% no mínimo de
doutores.
 Meta 14 – Pós-graduação – elevar gradualmente o
número de matrículas na pós-graduação stricto sensu,
titulando anualmente 60 mil mestres e 25 mil doutores.

 Meta 15 – formação de professores – em regime de


colaboração, assegurar que todos os professores e
professoras da educação básicas possuam formação
específica de nível superior, obtida em curso de
licenciatura na área de conhecimento em que atuam.
 Meta 16 – formação continuada e pós-graduação de
professores – formar em nível de pós-graduação 50%
dos professores da educação básica até 2024 e garantir
a todos formação continuada em sua área de atuação.
Considerando as necessidades, demandas e
contextualizações dos sistemas de ensino.

 Meta 17 – valorização do professor – valorizar os


profissionais do magistério das redes públicas da
educação básica, a fim de equiparar o rendimento
médio dos demais profissionais com escolaridade
equivalente, até o final do 6º ano de vigência do PNE
(2020).
 Meta 18 – plano de carreira docente – no prazo de 2 anos os
sistemas de ensino terão que criar seus respectivos planos de
carreira docente, tomando como base o piso salarial nacional
profissional, definido na constituição federal.
 Meta 19 – gestão democrática – prazo de 2 anos (2016), para
a efetivação da gestão democrática na educação. Associada a
critérios técnicos de mérito e desempenho e a consulta
pública à comunidade escolar, no âmbito das escolas
públicas, prevendo recursos e apoio técnico da união para
tanto.
 Meta 20 – financiamento da educação – ampliar o
investimento em educação para 7% do PIB em 2019 e em
10% do PIB em 2024.
REFERÊNCIAS
 BRASIL. Lei 13.005, lei do Plano Nacional de Educação, 2014.
 BRASIL, Parecer CNE/CEB 08 de 2010.
 BRASIL. Ministério da Educação. Documento de Referência – Conae 2010. Disponível em .
Acesso em 11/09/2017.
BRASIL. Poder Executivo. Projeto de Lei n. 8035/2010.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 9.394/1996.
 CURY, Carlos Roberto Jamil. Os desafios da construção de um Sistema Nacional de Educação.
Disponível em . Acesso em 11/09/2017.
 DOURADO, Luiz Fernandes. Plano Nacional de Educação: política de Estado para a educação
brasileira / Luis Fernandes Dourado. — Brasília : Inep, 2016. Disponível em . Acesso em
11/09/2017.
KUENZER, Acácia Zeneida (org.). Ensino Médio: construindo uma proposta para os que
vivem do trabalho. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2002.
 MENDES, D.T. O planejamento educacional no Brasil. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, 2000.
SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. Campinas:
Autores Associados, 2002.
SAVIANI, Dermeval. Da Nova LDB ao novo Plano Nacional de Educação: por uma
outra política educacional. Campinas: Autores Associados, 2002.
SHIROMA, Eneida Oto et al. Política Educacional. Rio de Janeiro:

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