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Debate instrutório

Defensores de Manuel Atento


Enquadramento dos factos:
No dia, 16 de Janeiro de 2020, foi
apresentada uma queixa pelo nosso cliente:
• A queixa foi apresentada contra desconhecidos que circulavam numa
mota com a matricula 10-AA-10
• Foi fornecida uma descrição física dos ofensores, sendo depois estes
identificados pelo Auto de Inquérito, como Cármen e Gabriel e
posteriormente constituídos arguidos
Ocorrência dos factos:
• Estabeleceu-se que os factos ocorreram a frente do Hotel Mundial
• Menciona-se o roubo da mala sofrido por Josefa
• Contudo, o que a nós nos releva, foi o deferimento de um golpe na
cabeça de Manuel, junto a orelha esquerda, causado por Cármen,
após atirar contra o nosso cliente um isqueiro da marca zippo.
• Consequentemente, Manuel foi transportado para o Hospital de São
José, levando 3 pontos onde o golpe foi deferido.
• O aparelho auditivo, que o nosso cliente estava a usar, foi danificado com a queda e
o impacto do isqueiro, que o fez soltar-se ainda antes do desmaio, provocado pelo
golpe na cabeça.
• Por volta das 14h45 Manuel e Josefa saem do hospital, chamam um táxi e
apanham-no com o intuito de ir a policia apresentar queixa contra os factos
ocorridos nesse mesmo dia de manha.
• Já dentro do táxi, por volta das 15h deparam-se novamente com os agressores,
junto ao bar “Alegria”, situado na avenida almirante Reis, morada confirmada pela
queixa de Josefa Distraída e pelo M.P. Mandam parar o táxi e dele saem.
• Ao dirigirem-se a eles, os agressores ofendem-nos chamando-os de “traficantes”,
“toxicodependentes” e que “desgraçavam famílias no vicio”.
• Colocando-se posteriormente em fuga

Nota: Historia confirmada pela queixa apresentada por Josefa.


No dia 05 de Maio de 2020, foi realizado um
auto de inquérito e identificado 3 queixosos:
• Manuel Atento
• Josefa Distraída
• Marco Azaroso

Definindo que os crimes que ocorreram contra o nosso cliente


foram:
• Ofensas à integridade física simples, nos termos do art. 143º CP
• Injuria, prevista no art. 181º CP
Nos termos dos arts. 128º CP, foi apresentada
a seguinte prova testemunhal:
• Declarações provenientes pela vitima, Manuel Atento
• Declarações realizadas por Josefa Distraída, também vitima de crime
e casada com Manuel Atento.
• João Ambrósio Dos Santos Matias, porteiro do Hotel Mundial
• Eduardo Figueiredo, taxista
• Ilda Sousa, reformada
• Sara Jardim, empresária
Esta prova testemunhal, pode ser complementada com
uma outra testemunha arrolada por Josefa Distraída:
• Pedro Ferreira, prestador de auxilio ao casal e empregado do Hotel
Mundial
Foi ainda adquirida prova documental, nos
termos dos arts. 164º s.s CPP, relativos à:
• Obtenção de fotogramas através do sistema de vigilância do Hotel
mundial

Tal como foi realizada a prova por reconhecimento, art. 147º, nº 1.

E por fim uma prova pericial, relativamente ao isqueiro da marca


Zippo, com o qual a arguida Cármen realizou a agressão. Revelando as
suas impressões digitais.
O que permitiu a identificação dos arguidos,
nos termos do art. 1º, alínea e) CPP
• Cármen Bomfim solteira, cartão do cidadão nº 00115283 8 XYZ, com
validade até 19/05/2022, residente na Rua do Bonformoso, número
13, 1100-200 Lisboa.

• Gabriel Oportunista, solteiro, cartão do cidadão nº 00112003 8 XYZ,
com validade até 19/12/2021 residente na Rua do Bonformoso,
número 13, 1100-200 Lisboa.
Alegações na contestação ao pedido de
indeminização de Manuel apresentado por Cármen:
• Gabriel, ao conduzir a mota perto do Hotel Mundial, teve que se desviar
de forma repentina de um casal (Manuel e Josefa)
• Neste momento, Cármen, furta a mala da Josefa e alega que foi uma
consequência desse desvio repentino.
• Atirando também um isqueiro, que retirou da sua mala, “sem querer”
contra Manuel Atento.
• Note-se que Cármen, alega que se encontrava ter uma crise diabética, e
por isso, estava a andar na mota com Gabriel.
• Deve-se mencionar ainda, que um dos argumentos apresentados, foi
que o aparelho auditivo já se encontrava danificado, antes da ocorrência.
• Cármen, responsabiliza única e exclusivamente Gabriel pelas injurias
que ocorreram junto ao bar “Alegria”
• E ainda acrescenta, que Manuel Atento, poderá ter ouvido mal o que
foi dito, porque não se encontrava a utilizar o aparelho auditivo (que
foi danificado horas antes)
Ora bem, primeiro, é importante mencionar a
questão dos diabetes:
• Os diabetes são uma doença caraterizada pelo excesso de glicose
estimulante no sangue, que surge da incapacidade do organismo as
metabolizar, porque há uma ausência da produção da hormona
insulina que é produzida pelo pâncreas (função que este órgão se
encontra incapaz de o fazer).
• Existem dois tipos de diabetes, e necessitando a Cármen de insulina,
enquadra-se nos diabetes de tipo 1.
• Perante a ausência de insulina, podem ocorrer duas situações:
• Hiperglicemia
• Hipoglicemia
Em ambos os casos, os sintomas são
semelhantes:
• Mal-estar
• Confusão mental
• Tremores
• Suores abundantes
• Tonturas
• Comportamento errante causado por agitação
• Desorientação
• Perda de consciência
• Arritmia
• Hiperventilação.
A crise diabética é uma emergência médica, sendo
necessário primeiros socorros específicos:
• Monitorização dos sinais vitais, porque a pessoa pode ter indícios de arritmia
• Deitar o paciente de lado, devido ao risco de ficar inconsciente ou em coma,
e vomitar ou sufocar-se pela quantidade de saliva excessiva que é produzida
em consequência da crise.
• Chama-se o INEM, monitorizando sempre o paciente até a chegada do
primeiro socorro.
• Em caso de hipoglicemia, deve-se ainda aumentar os níveis de açúcar no
sangue do paciente, se este estiver consciente, dando-lhe um pacote de
açúcar.
• Ou coloca-se açúcar debaixo da língua do paciente, se este se encontrar inconsciente.
Relativamente a surdez:
• Existem diferentes tipos de perdas auditivas, e todas com causas
distintas, e são dependentes do local onde se encontra a lesão,
podendo esta ser no ouvido externo, médio ou interno
Tal como existem diferentes tipos de graus de
perda de audição.
• Realizamos um requerimento para apresentar como prova o laudo
médico de um exame auditivo, que comprova que o Manuel Atento
sofre de uma perda de audição unilateral moderada, derivada a uma
má formação congénita do ouvido esquerdo, tendo sido agravada
com a idade. Embora o ouvido direito, continue em bom
funcionamento.
• Tal como, requeremos a apresentação de uma fatura da Wells do
aparelho auditivo intracanal (ITC) , modelo que estava a ser utilizado
pelo Manuel na altura da ocorrência.
Relativamente a RAI do Gabriel:
• Ao contrario do que Cármen menciona, o uso da mota não foi
realizado com a intenção de a levar a casa para tomar insulina, mas
sim para dar um mero passeio.
• aproveitaram-se assim, do facto do motociclo se encontrar com a
chave na ignição.
• Tentou conduzir a mota cuidadosamente, contudo, esta afirmação
não se verifica quando se “tem que desviar repentinamente de dois
peões”
• Relativamente aos crimes praticados por Cármen, Gabriel alega que
não tinha conhecimento de tal, contudo, não deixa de agir em
coautoria.
• Não se pronuncia, relativamente aos crimes de injurias/difamação
• Relativamente ao crime de difamação (artigo 180º do código penal),
nada é dito. O arguido tem o direito a não autoincriminação em
virtude do princípio in dúbio pro reu e da presunção da inocência
(artigo 32º, nº2 da Constituição da república portuguesa). Faculta
assim do direito ao silencio, e não responder a perguntas feitas, por
qualquer entidade, sobre os factos que lhe forem imputados e sobre
o conteúdo das declarações que acerca deles prestar (artigo 61º, nº1,
alínea d)).
Conclui-se, que Gabriel confessa o furto da
mota:
• Segundo José António Rodrigues da Cunha, a confissão define-se como:
• “A confissão consiste na declaração do agente perante a autoridade judiciária
competente a reconhecer que cometeu um crime. Esse reconhecimento da própria
responsabilidade penal pode abarcar a totalidade do circunstancialismo factual,
nos precisos termos descritos na acusação ou na pronúncia, ou somente parte
desse circunstancialimo ou de alguns dos elementos do tipo de crime. No primeiro
caso, é integral. No segundo, é apenas parcial. A confissão pode, também, ser
feita com ou sem reservas. Tem reservas aquela em que o arguido admite os
factos imputados sob condição de um acontecimento futuro ou na dependência
do reconhecimento de outros factos não incluídos na acusação (ou na pronúncia),
que afastam ou diminuem a sua responsabilidade.”
• Segundo Germano Marques da Silva importa ainda anotar:
• “(…) o arguido pode confessar os factos por motivos vários: por puro
interesse processual, mas também por motivos nobres ou mesmo por
motivos censuráveis. Por isso para apreciar devidamente a confissão é
preciso relacioná-la com o próprio arguido, tanto nos motivos dos
crimes, como nos motivos da própria confissão.”

• Acrescenta-se ainda o disposto no acórdão do Tribunal da Relação de


Lisboa de 16/11/2009, processo 464/07.1GTVCT, cujo relator é
Fernando Ventura:
• “Enquanto afirmação de uma realidade, a declaração confessória
envolve a representação intelectual do facto cuja verdade se
reconhece, estruturando-se como uma declaração de ciência e de
verdade, feita necessariamente a partir a cognição do declarante e
não de terceiros.”
• Relativamente a prática dos restantes crimes que Gabriel Oportunista é acusado de
participar em regime de comparticipação com a arguida Cármen Bomfim, segundo o
acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 14-05-2019, processo 09P0583, cujo
relator é Fernando Frois com o número de documento SJ200904150005833:
• “A doutrina e a jurisprudência consideram como elementos da comparticipação
criminosa sob a forma de coautoria os seguintes:
• -A intervenção direta na fase de execução do crime (execução conjunta dos factos);
• -O acordo para a realização conjunta do facto, acordo que não pressupõe a
participação de todos na elaboração do plano comum de execução do facto, que não
tem de ser expresso, podendo manifestar-se através de qualquer comportamento
concludente, e que não tem de ser prévio ao início da prestação do contributo do
respetivo coautor;
• -o domínio funcional do facto, no sentido de deter o exercício do domínio positivo do
facto típico, ou seja o domínio da sua função, do seu contributo, na realização do tipo
de tal forma que numa perspetiva ex ante, a omissão do seu contributo impediria a
realização do facto típico na forma planeada.”
• Acrescentam-se ainda as palavras do Professor Doutor Jorge
Figueiredo Dias:
• “Nos termos da 3º alternativa do artigo 26º, é também punido como
autor quem tomar parte direta na execução do facto, por acordo ou
conjuntamente com outro ou outros. É a situação chamada de
coautoria. Ao referi-la expressamente entre as formas de autoria a lei
terá querido afastar dúvidas que pudessem provir da circunstância de,
nestes casos, o coautor não dominar o facto nem por si mesmo nem
por intermédio de outro (nenhum se serve do outro como
instrumento), mas sim em conjunto com outro ou outros.”
• “O que nesta figura existe de característico é a existência, por um lado
de uma decisão conjunta, por outro lado de uma determinada medida
de significado funcional da contribuição do co-autor para a realização
típica (…). Deste modo a atuação de cada co-autor no papel que lhe é
destinado, apresenta-se como momento essencial da execução do
plano comum, ou noutras palavras, constitui a realização da tarefa
que lhe cabe na “divisão do trabalho” que representa mesmo a
essência desta autoria.”
A polícia/OPC têm responsabilidade na prevenção
criminal (como consta no artigo 272º nº3 da CRP)
• Segundo Germano Marques da Silva aos OPC compete “praticar atos
próprios fundamentais à descoberta da verdade material, prática,
processual e judicialmente válida e à realização da justiça sem que
ofenda os direitos fundamentais dos cidadãos e de modo que se
alcance e restabeleça a paz jurídica social”.

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