Você está na página 1de 5

Aluno: Pedro Paulo Araujo da Silva Rosa

TRABALHO FINAL

(INDIVIDUAL)

GESTÃO DAS RELAÇÕES OBRIGACIONAIS

1) Eduardo e Mônica resolveram realizar seu casamento em um hotel na


Serra. Como a cerimônia seria realizada no sábado, o casal telefonou e
reservou todos os 100 apartamentos do hotel para todo o final de
semana. Dessa forma, seus convidados poderiam chegar na véspera e
ficar confortavelmente instalados até o domingo.

Três dias antes do evento, os noivos tiveram uma terrível surpresa. Ao


chegar ao hotel, verificaram que determinada empresa estava lá
hospedada realizando sua convenção de vendas.

Desesperado, o casal procurou pela gerência para saber o que aconteceu.


Depois de alguma pesquisa, concluiu-se que houve um erro do
funcionário do setor de reservas. O agendamento da reserva de todos os
apartamentos havia sido feito para o final de semana seguinte.

O casal pretende processar o hotel. Todavia, um amigo advogado lhes diz


que isso não será possível, uma vez que não há um contrato.

Eles apenas haviam feito um acerto por telefone, o que não tem validade
jurídica.

Decida a questão. (2 pontos)

O amigo advogado do casal está equivocado em seu entendimento, uma vez que o
Art. 107 do Código Civil prevê que a declaração de vontade não dependerá de
forma especial, exceto quando a Lei exigir.

“(...) Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma


especial, senão quando a lei expressamente a exigir.(...)”
Deste modo, o acerto por telefone (contrato verbal) é valido e produz efeitos
jurídicos, pois se trata de manifestação expressa da vontade das partes envolvidas
na negociação/contratação.
A gravação do áudio deverá ser anexada aos autos e é prova clara de que houve a
contratação do serviço.
Fica evidente que não houve abuso e o hotel teve a oportunidade de se negar a
prestação do serviço.
Cabe ressaltar inclusive que o princípio da boa-fé objetiva deve ser contemplado e
respeitado.

2) Ao tomar conhecimento pela mídia que poderia abrir uma conta


universitária no Banco Floresta Alta S/A, com cheque especial com 10
dias sem juros, Natasha compareceu à agência mais próxima de sua
residência, munida de todos os documentos, inclusive declaração da
universidade.

A conta foi aberta com todos os produtos: cheque especial no valor de R$


800,00, (com 10 dias sem juros) e cartão de crédito internacional.

Uma semana depois, Natasha recebeu, pelo correio, uma carta de boas-
vindas do banco, seu talonário de cheques e o cartão de crédito.

Cerca de um mês após a contratação, o Banco Floresta Alta devolveu 2


cheques da cliente, sendo certo que ambos estariam dentro do limite do
cheque especial contratado.

Pergunta-se:

Seria juridicamente pertinente o Banco Floresta Alta alegar que não teve
culpa pela devolução dos cheques? Por quê? (1,5 ponto)

O caput do artigo 14º do CDC informa que a responsabilidade civil é do banco. No


entanto, o parágrafo terceiro traz que a previsão do caput será afastada se
comprovada a ausência de culpa.

  “(...) Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da


existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
           § 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o
consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias
relevantes, entre as quais:
           I - o modo de seu fornecimento;
           II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
           III - a época em que foi fornecido.
           § 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
           § 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
           I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
           II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro. (...)”

Desta forma, é necessário verificar o motivo da devolução. Seria juridicamente


pertinente se o motivo da devolução for divergência de assinatura, por exemplo.
No entanto, se observado que a devolução se deu exclusivamente por insuficiência
de saldo o banco deve ser responsabilizado.

3) Jonas e seus amigos foram jantar em um famoso e badalado


restaurante da cidade. Uma vez que a fila de espera era grande, foram
oferecidos, como cortesia, canapés de camarão.

No dia seguinte, todos eles passaram mal e foram internados com grave
intoxicação alimentar.

Já foi constatado, por laudo técnico, que os canapés estavam realmente


deteriorados e impróprios para consumo em virtude de armazenagem
inadequada do restaurante.
 
Jonas e os amigos ingressaram com ação indenizatória, embasando seu
pedido no CDC.

Você é o gerente financeiro desse restaurante e, às pressas, foi chamado


pelos advogados da empresa para opinar sobre o caso.

Qual seria sua opinião acerca do pedido formulado em juízo? Existe


possibilidade de afastar a responsabilidade da empresa?

Não se esqueça que a alegação feita pelos consumidores trata apenas de


uma cortesia do restaurante.

Lembre-se também que para ser considerada pelo corpo jurídico


contratado por sua empresa, sua apreciação terá que ser tecnicamente
fundamentada. (1,5 ponto)

Entendo que seria difícil afastar a responsabilidade da empresa, uma vez que
mesmo se tratando de uma cortesia (amostra grátis) já caracteriza uma relação de
consumo. O CDC incide neste caso através do § 1º do artigo 3º, no qual define que
produto não necessariamente exige uma forma de remuneração ao fornecedor,
diferente da definição de serviço disposta no §2º.

“(...) Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,


nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem
atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação,
importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação
de serviços.

           § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.


           § 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo,
mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e
securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. (...)”

A disposição da cortesia tem fins lucrativos, pois é uma forma de marketing com
objetivo de conquistar o consumidor e fazer com que ele permaneça na longa fila
de espera.

Sendo assim, de acordo com a Teoria do Risco a companhia optou por colocar o
produto no mercado de consumo e logo deve arcar com os riscos desenvolvidos
pela atividade. Desta forma, mesmo se tratando de cortesia, a empresa, como
fornecedora, deve zelar pela qualidade dos produtos, conforme CDC.

4) Gustavo Henrique comprou uma estatueta de bronze em uma famosa


galeria de arte da cidade. Com o objeto, presenteou Enrico, seu melhor
amigo, no dia de seu aniversário. Alguns dias após, Enrico procurou
Gustavo Henrique e, constrangido, contou que havia descoberto que a
estatueta era uma réplica, não tendo nenhum valor no mercado de arte.

Inconformado em ter sido enganado, Gustavo Henrique foi à galeria na


qual adquiriu o presente para questionar sobre o ocorrido.

O dono da galeria alegou que a estatueta era verdadeira obra de arte,


conforme certificado de autenticidade que a acompanhou.

Analise o caso e responda:

Mediante o impasse, quem deve provar a autenticidade da estatueta?


Fundamente. (1 ponto)

Por se tratar de uma relação de consumo, e em decorrência da vulnerabilidade e


hipossuficiência do Consumidor frente a capacitação técnica do Fornecedor, deve
ser observado o Artigo 6º do CDC em caso de judicialização. Desta forma, haveria
a inversão do ônus da prova. Ou seja, o fornecedor é o responsável pela
comprovação da autenticidade do certificado e da peça.
“(...) Art. 6°. São direitos básicos do consumidor: (...)
VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da
prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a
alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências (...).”

5) Antonio submeteu-se a um procedimento cirúrgico eletivo no Hospital


ABC, sem ter sido convenientemente informado sobre os possíveis riscos
inerentes ao ato.
A intervenção realizou-se sem falhas, mas o risco, embora pouco
frequente, se concretiza e o paciente termina por sofrer sérias e
permanentes lesões.

Em contestação, o hospital afirma que mesmo que paciente tivesse sido


informado, o dano seria inevitável, pois não decorreu de culpa médica e
sim, de causas absolutamente alheias à atuação do profissional.

Antonio alega que, se tivesse tomado ciência do risco, sequer realizaria a


cirurgia.

Levando em consideração a Teoria do Risco Criado, decida a questão. (1


ponto)

Levando em consideração apenas a Teoria do Risco Criado, o Hospital ABC deve


indenizar o paciente, a fim de reparar o dano causado.
Conforme a Teoria do Risco Criado, a atividade praticada pelo médico é geradora
de riscos, ou seja, o médico/hospital coloca-se em risco somente por exercer a
atividade, em consequência, deve assumir os resultados provenientes dessa
atividade e reparar os danos, caso aconteçam.

FACCHINI NETO afirma que:


“Dentro da teoria do risco-criado, destarte, a responsabilidade não é mais a
contrapartida de um proveito ou lucro particular, mas sim a consequência
inafastável da atividade em geral. A ideia de risco perde seu aspecto econômico,
profissional. Sua aplicação não mais supõe uma atividade empresarial, a
exploração de uma indústria ou de um comércio, ligando-se, ao contrário, a
qualquer ato do homem que seja potencialmente danoso à esfera jurídica de seus
semelhantes. Concretizando-se tal potencialidade, surgiria a obrigação de
indenizar."

Você também pode gostar