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Currículo do Curso de

Técnicos de Medicina
Geral
 

1º. Semestre
Aula 9
Disciplina de Saúde da Comunidade

Ministério da Saúde de Moçambique


VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA NO PAÍS E SIS (CONTINUAÇÃO)

1. Vigilância de doenças de notificação obrigatória.


• O sistema de vigilância destas doenças segue exactamente o
processo normal de notificação das doenças do sistema em
vigor no país.
• Na aula 8, foram abordadas o sarampo, PFA/Pólio, malária,
diarreia, cólera, disenteria e meningite. Nesta aula serão
abordadas o tétano, a raiva, a peste, a tripanossomíase e tosse
convulsa.
1. Tétano
• Tétano é uma doença infecciosa grave que frequentemente leva a morte. É causada
pela toxina de uma bactéria chamada clostridium tetani.

 Tétano neonatal
• Considera-se como tendo tétano neonatal qualquer recém-nascido que mame e
chore normalmente até ao 2º dia de vida, mas que entre o 3º e o 28º dia apresente
dificuldades em chorar e mamar normalmente associados a rigidez e/ou
espasmos musculares, e frequentemente, morte.
 Tétano adulto
• A definição inclui qualquer pessoa com graves espasmos (contracções)
musculares e “riso sardónico” e dificuldade em abrir a boca (trismus).
Frequentemente é precedido por uma ferida.
• O tétano é de notificação semanal através do BES em todas unidades sanitárias.
1. Raiva
• É definido como caso de raiva, quando após a presença de mordedura de
um animal, geralmente cão ou macaco e mais raramente humana, com
irritação no local da ferida o indivíduo apresenta um estado de ansiedade,
mal-estar geral, febre e cefaleia, seguido de excitabilidade, hidrofobia
(medo de água).
• Nota: a doença tem a duração média de 2 a 6 dias, dependendo da
localização da ferida, levando invariavelmente à morte por paralisia
respiratória. Todos casos de mordedura animal são notificados como raiva
semanal através do BES em todas unidades sanitárias.
1. Tosse convulsa
• É definida como tosse há pelo menos duas semanas e caracterizada por
pelo menos um dos seguintes sinas: salva de tosse, inspiração em
guincho ou vômito a seguir à tosse sem outra causa aparente
• Nota: crianças com menos de 6 meses de idade, adolescentes e adultos
podem ter tosse convulsa sem o guincho característico, levando a que a
doença seja confundida com uma pneumonia. Não faz parte da lista de
doenças que consta do BES mas continua a ser de notificação obrigatória.
1. Peste
• Apresenta duas variantes:
• 

 Peste bubónica
• Definida como febre alta e estado geral alterado, adenite dolorosa
(bubão), geralmente axilar, cervical ou inguinal.
 Peste pneumónica
• Definida como tosse com hemoptise (sangue na expectoração), dor
torácica e dificuldade respiratória.
• A sua notificação é semanal através do BES em todas unidades
sanitárias.
1. Tripanossomíase (doença do sono)
• É definida como qualquer síndrome febril com sintomas gerais
(linfadenopatia, anemia, exantema, edemas) ou sinais neurológicos
(sonolência, tremores musculares) com a presença do parasita
(trypanossoma brucei rhodesiense) no sangue ou líquido
cefalorraquidiano. A sua notificação só é feita após confirmação
laboratorial. Actualmente já não faz parte da lista de doenças que constam
do BES por causa da sua raridade mas continua ser uma doença de
notificação obrigatória. É uma doença alvo de erradicação.
Vigilância de outras doenças do Sistema Nacional de Saúde.
• Fazem parte deste ponto as chamadas doenças de notificação
separada, que inclui a lepra, a tuberculose, o SIDA (síndrome
de imunodeficiência adquirida) e as ITSs (infecções de
transmissão sexual).
1. Lepra
• Presença de pelo menos um (1) dos seguintes sinais/sintomas clínicos:

 Lesões cutâneas (mancha clara ou nódulo) com perda de sensibilidade


 Nervos periféricos engrossados
 Presença de Bacilos de Hansen nas lesões cutâneas
• Faz parte das doenças em eliminação no país. A eliminação se declara quando
existem < 1 caso em cada 10.000 habitantes.
• A notificação dos casos de lepra é feita por todas as Unidades Sanitárias que fazem
tratamento com a terapêutica de multidrogas. A informação é compilada ao nível do
distrito pelo responsável distrital de Lepra que envia trimestralmente para o nível
provincial. Por sua vez, o nível provincial, compila e envia, trimestralmente, para o
nível central (MISAU).
1. Tuberculose

• É classificada em pulmonar e extrapulmonar.

 TB Pulmonar

• Definida como presença de Bacilo de Koch na microscopia directa da


expectoração (afectação pulmonar) de um doente com sintomatologia pulmonar.
 TB Pulmonar com baciloscopia negativa

• É definida como todo doente com sintomatologia pulmonar e ausência de Bacilo de


Koch na microscopia directa de expectoração e que receba tratamento
antituberculoso.
 TB extrapulmonar

• Definição: todos os outros pacientes com TB localizada fora dos pulmões e com
tratamento antituberculoso.

• A notificação de casos de tuberculose é trimestral e pode ser feito a partir de todas as


unidades de nível primário. A informação é compilada ao nível do distrito pelo
responsável distrital de tuberculose que envia trimestralmente para o nível provincial. Por
sua vez, o nível provincial, compila e envia, trimestralmente, para o nível central
(MISAU).
1. HIV
• Deve ser notificado como caso de HIV e SIDA todo indivíduo com teste
HIV positivo.
• O registo é efectuado aos nível das unidades de aconselhamento e
testagem em saúde (UATS), local onde se faz o teste de HIV, e em todos
outros locais que ofereçam o teste de HIV. A informação é compilada
mensalmente.
• Periodicamente, faz-se a vigilância epidemiológica da prevalência do HIV
no país através de postos sentinelas. Em 2009, realizou-se o primeiro
inquérito nacional (INSIDA 2009) que mostrou uma prevalência nacional
de 11.5%
1. ITS

• Qualquer uma das seguintes situações é abordada como uma infecção de transmissão sexual:

 Corrimento uretral – presença de secreção ao nível da uretra anterior, muitas vezes


acompanhada de disúria (dor ao urinar) ou de sensação de queimadura (ardor) ao nível do
meato.

 Corrimento vaginal – aumento ou não do volume da secreção vaginal, acompanhada de cheiro


e de mudança de cor, resultante de uma infecção vaginal ou cervical.

 Úlceras genitais – perda de continuidade do revestimento cutâneo produzindo uma ou várias


lesões ulcerativas ao nível dos órgãos genitais. Frequentemente acompanhado de uma
adenopatia inguinal.

• As ITSs são notificadas mensalmente através de dois subsistemas, um para os níveis de atenção
primária e secundária através de uma abordagem sindrómica, ou seja, conjunto de sinais e sintomas e
outro para os níveis terciário e quaternário, com base numa abordagem etiológica, ou seja, provável
causa da infecção.
1. Boletins Estatísticos Semanais, Mensais e Trimestrais.

BES (Boletim Epidemiológico Semanal)

• É o instrumento que é utilizado para fazer a notificação das doenças de notificação obrigatória.
Todas as unidades sanitárias do país devem preencher este modelo e resulta da compilação de
todos os casos novos e óbitos das referidas doenças a partir das diferentes portas de entrada de
pacientes de cada unidade sanitária.

• Se o resultado da doença for um óbito, o caso deve ser registado no mesmo dia, mesmo que tenha
sido registado anteriormente, como caso novo.
• Depois do controlo de qualidade e respectivas correcções, deve-se completar o preenchimento do
BES, que engloba o nome da US, do Distrito, datas da semana no canto superior direito e o
número da semana epidemiológica que permite identificar o BES.
• O BES é semanal, e deve ser preenchido e enviado de acordo com as
normas de semana epidemiológica da OMS, isto é, de domingo a sábado
de cada semana.
• Cada US deve ter um responsável do BES que garante:

 A correcta notificação dos casos

 O preenchimento das fichas de registo ou folhas de contagem

 Colecta da informação (em cada segunda-feira) e compilação (soma de


casos e óbitos por cada doença)

 Garante o controlo de qualidade do BES

 Garante o envio semanal às 3as feiras


Boletim Estatístico Mensal e Trimestral (BEM, BET)

• Estes contêm os resumos (ou compilações) dos boletins semanais. Com


estes instrumentos é possível ter uma visão acerca das tendências das
doenças notificadas pelo BES e verificar a ocorrência de prováveis
anomalias de modo a propor as devidas correcções. É também nestes
boletins onde são registados os casos das doenças que são notificadas
mensalmente e trimestralmente, de acordo com a sua frequência.
Notificação de casos

• Os casos de doenças devem sempre ser notificados através de modelos próprios. No


entanto, surgem situações particulares de transferência de doentes dentro da US ou
para outra US.

• Na transferência dentro da mesma US: o último serviço onde o doente foi atendido, é
o responsável pela sua notificação. Exemplo: uma criança com diarreia e
desidratação grave é visto na consulta externa de pediatria (serviço 1) do Hospital
Rural de Alto-Molócuè, mas é internada na Pediatria (serviço 2) do mesmo Hospital.
É a Pediatria (serviço 2) que deve notificar o caso.
• Transferência para outra US: deve ser notificado na US que está a transferir e
registar que já foi notificado. Antes de transferir o doente para outra US, deve ser
sempre registado na guia de transferência “já notificado”. Se a US que recebe
verificar que a guia tem a frase “já notificado”, então não notifica o caso. Se a US
que recebe verificar que a guia não tem a frase “já notificado” deverá notificá-lo.

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