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Elementos de Teoria e

Pesquisa da Comunicação e
dos Media

Jorge Pedro Sousa


1 Comunicação, sociedade, cultura
e Ciências da Comunicação
• A comunicação pode ou não ser pretendida,
mas não só ao Homem é impossível não
comunicar como também, para o Homem, o
mundo é cheio de significados e só é
inteligível e compreensível porque lhe
atribuímos significados e o interpretamos.
• A definição de comunicação pode
complexificar-se. Se várias pessoas estiverem
reunidas à noite, à volta de uma fogueira,
caladas, de olhos fechados, escutando apenas a
lenha a crepitar e só cheirando o fumo, elas
estarão a comunicar? Num certo sentido, pode
afirmar-se que sim, porque estão a partilhar
uma experiência.
• A convergência de um vasto tipo de fenômenos para debaixo do guarda-
chuva da comunicação tem origem na elasticidade e flexibilidade do
conceito. A raiz etimológica da palavra comunicação é a palavra
latina communicatione, que, por sua vez, deriva da palavra commune, ou
seja, comum.

• Communicatione significa, em latim, participar, pôr em comum ou


acão comum.

Portanto, comunicar é, etimologicamente, relacionar seres viventes e,


normalmente, conscientes (seres humanos), tornar alguma coisa comum
entre esses seres, seja essa coisa uma informação, uma experiência, uma
sensação, uma emoção, etc.
• Assim, pode-se pensar na comunicação em duas grandes
asserções: 1) A comunicação como o processo em que
comunicadores trocam propositadamente mensagens
codificadas (gestos, palavras, imagens...), através de um
canal, num determinado contexto, o que gera determinados
efeitos;

• e 2) A comunicação como uma atividade social, onde as


pessoas, imersas numa determinada cultura, criam e
trocam significados, respondendo, desta forma, à
realidade que quotidianamente experimentam.
• Estas duas proposições não são, porém, estanques,
mas sim complementares. Por exemplo, as
mensagens trocadas só têm efeitos cognitivos
porque lhes são atribuídos significados e estes
significados dependem da cultura e do contexto
em geral que rodeiam quem está a comunicar. Por
isso se diz também que a comunicação é um processo
social.
• No entanto, as duas posições também revelam alguma
diferença entre elas: a primeira sugere a ideia de que a
mensagem tem de ser codificada; a segunda explicita,
de algum modo, que uma mensagem pode não ser
codificada nem sequer ter um emissor e mesmo assim
adquirir significado para o receptor, pois, de certa
forma, o mundo é a mensagem, no sentido de que o
mundo é, inevitavelmente, interpretado por cada pessoa,
adquirindo significados, pois só assim se torna
compreensível.
• A comunicação é indispensável para a
sobrevivência dos seres humanos e para a
formação e coesão de comunidades,
sociedades e culturas. Temos de comunicar,
entre outras razões:
• Para trocarmos informações;
• Para nos entendermos e sermos entendidos;
• Para entretermos e sermos entretidos;
• Para nos integrarmos nos grupos e comunidades, nas
organizações e na sociedade;
• Para satisfazermos as necessidades econômicas que nos
permitem pagar a alimentação, o vestuário e os bens que, de
uma forma geral, consumimos;
• Para interagirmos com os outros, conseguindo amigos e
parceiros, tendo sucesso pessoal, sexual e profissional, algo
fundamental para a nossa auto-estima e equilíbrio.
• Comunicamos, em síntese, para satisfazer necessidades, que, de
acordo com a pirâmide de necessidades de Maslow (1954), podem
ser básicas (água, comida, vestuário...), de segurança, sociais(ter
amigos e ser aceito por outros), de auto-estima (ter competência,
auto-confiança e conquistar o respeito dos outros) e de atualização
pessoal (desenvolver todo o nosso potencial).

• Quando alguém tem a iniciativa de comunicar, tem alguma


intenção. Só despendemos esforço quando isso nos leva a
algum lado e, por isso, só comunicamos intencionalmente quando
queremos atingir alguma coisa, quanto mais não seja a
manutenção da própria comunicação.
• Em conclusão, "A comunicação liga-nos à rede de
seres humanos, começando na nossa família imediata
e continuando pelos nossos amigos (com a ajuda dos
media), pela sociedade e pelo mundo inteiro. A forma
como nos desenvolvemos como indivíduos depende
muito do grau de sucesso com que construímos essas
redes. A comunicação não é apenas uma troca de
informações "duras", mas também a partilha de
pensamentos, sentimentos, opiniões e
experiências"(Gill e Adams, 1998: 42).
1.1 Os conceitos de comunicação e de
informação

• É preciso notar que nem toda a comunicação,


entendida como troca de mensagens, comporta
informação.
• Um poema, uma música, uma canção podem
comunicar e exaltar sensações, estados de alma,
emoções, mas, geralmente, não informam, a
menos que sejam emitidas com um propósito
informativo, diferente do seu propósito original.
1.1 Os conceitos de comunicação e de
informação
• Ex.: partilha de uma experiência, comunicação estética ...

• A partilha de informação necessita de um suporte


comunicacional para se efetivar. Isto é, a informação
depende da comunicação. Não há informação sem
comunicação. Mas, como vimos, num sentido lato pode
existir comunicação sem haver troca de informação
(por exemplo, quando várias pessoas partilham
experiências).
• Vista do ponto de vista da Teoria Cibernética (ou
Teoria da Informação), a informação é uma medida
da incerteza ou da entropia num sistema
(Littlejohn, 1988: 153). A informação é
quantificável e lógica.
• Vejamos um exemplo. Imagine-se que um jornalista não
sabe quando chega o Presidente da República ao
aeroporto, vindo de uma visita de estado a outro país.
Dentro deste sistema comunicacional, o nível de entropia
ou incerteza é máximo, o que numericamente pode ser
traduzido por um (1). Há muitas alternativas a considerar
pelo jornalista. Mas o jornalista telefona para o Palácio
Presidencial, onde lhe dizem que o Presidente chega às 16
horas em ponto, com toda a certeza. O nível de entropia
ou incerteza dentro do sistema reduz-se para zero (0).
Observa-se, assim, que a informação é quantificável.
• A informação pode ser redundante, embora,
em certos casos, a redundância possa ser útil
para a melhor apreensão e compreensão da
mensagem.
• A informação é sempre codificada. O código
precisa de ser conhecido e compreendido
pelo receptor para que possa ser usado por um
emissor com propósitos comunicacionais. A
utilização de um código requer, assim, acordo
prévio entre emissor e receptor.
• Repare-se noutra característica da informação.
Escrevendo-se "falar-se frente mais semiótica
à vai livro neste de", ninguém vai entender o
que se diz. Mas escrevendo-se que "neste livro
vai falar-se de semiótica mais à frente", está a
dar-se uma informação capaz de reduzir o
nível de incerteza no sistema comunicacional.
A informação é sempre codificada.
• O código precisa de ser conhecido e
compreendido pelo receptor para que possa
ser usado por um emissor com propósitos
comunicacionais. A utilização de um código
requer, assim, acordo prévio entre emissor e
receptor.
• Uma outra característica curiosa da
informação é a de que a sobre-informação
obscurece a informação. Basta imaginar
alguém a consultar um documento de mil
páginas para extrair desse documento
unicamente uma pequena informação para
nos apercebermos de quanto essa proposição
é verdadeira.
• Ao contrário da informação, a comunicação é mais
eficaz quantos mais significados proporcionar, ou
seja, quanto mais polissémica for e quanto mais
sensações e emoções despertar. Os Lusíadas são
muito comunicantes mas pouco ou nada
informativos.
• Quando se pretende usar a comunicação para
fazer passar informação, a mensagem será tanto
mais eficaz quanto menos significados possibilitar.
• A informação, como se viu, reduz a incerteza
num sistema, mas também altera o sistema.
As mensagens têm impacto sobre o receptor.
A comunicação resulta em mudança, pois
nada permanece igual. A persuasão é o
processo de induzir mudanças através da
comunicação (Littlejohn, 1978: 162-201).
• Quando comunicamos intencionalmente para
influenciar, entramos no domínio da comunicação
persuasiva, a que se recorre, por exemplo, na
publicidade e propaganda, mas também na
comunicação interpessoal. Quando informar é o
objectivo principal, circunscrevemo-nos ao domínio
da comunicação informativa, normalmente patente
no jornalismo, por exemplo, mas também quando
pedimos informação a alguém, no âmbito da
comunicação interpessoal.
• Quando entreter é o objectivo principal da
mensagem, falamos de comunicação de
entretenimento, observável, por exemplo, na ficção
audiovisual, ou quando alguém conta uma anedota
num grupo de amigos. Quando comunicamos as
tradições da nossa cultura, por exemplo, através da
música, do folclore ou do artesanato, é de
comunicação popular que se trata.
• Há, efectivamente, muitas formas de categorizar a
comunicação e estas nem sequer não são as únicas...
1.2 A comunicação como processo
• Imagine-se uma aula. O professor começa a leccionar. Os alunos
escutam. Pode ou não existir partilha de informações, mas está-se,
certamente, perante um acto comunicacional. Quando começou
(est)a comunicação? Quando o professor proferiu a primeira
palavra? Quando atravessou a sala desde a porta até à mesa?
• Quando olhou os alunos pela primeira vez? Quando preparou a
aula? Quando elaborou o programa do curso? Quando lhe
distribuíram essa classe para docência? Quando...? E na
perspectiva do receptor, quando começou a comunicação? Quando
ouviu a primeira palavra? Quando fixou o olhar no professor?
Quando se decidiu inscrever na disciplina? Quando...?
...
• ...
1.3 Fatores que Influenciam a
Comunicação
1.3.1 Comunicação e percepção
1.3.2 Comunicação como expectativa
1.3.3 Comunicação como envolvimento
• Fatores que influenciam a comunicação

• Comunicação e percepção
• Comunicação como expectativa
• Comunicação como envolvimento
1.4 Objetivos e recompensas de quem se
envolve na comunicação

• Objetivo instrumental e objetivo consumatório


da comunicação, apresentada por Festinger
(1950).
1.5 Formas de comunicação humana
• Há seis grandes formas de comunicação humana

• Intrapessoal
• Interpessoal
• Grupal
• Organizacional
• Social
• Extrapessoal
• A comunicação pode ser ainda:

1. Mediada (comunicação feita recorrendo a dispositivos


técnicos de comunicação, os media, como acontece quando
se escreve um livro para outros lerem, ou quando se faz e
emite um telejornal);

2. Direta ou não mediada (comunicação feita sem a inter


Mediação de dispositivos técnicos, como acontece numa
conversa face-a-face).
• Geralmente, a comunicação intrapessoal e a
comunicação interpessoal são diretas. A
comunicação grupal e a comunicação
organizacional podem ou não ser mediadas. A
comunicação social é sempre mediada.
• A comunicação interpessoal direta, por
definição, é sempre interativa e pressupõe a
existência de feedback (resposta) constante.
• Interatividade e feedback são conceitos
irmãos. Interatividade diz respeito à interação
entre comunicadores, o que só se consegue
plenamente quando a comunicação é direta e,
como se disse, existe feedback constante.
• A comunicação mediada pode ou não admitir
interactividade e feedback. Quando a
comunicação mediada admite interatividade e
feedback entre emissor(es) e receptor(es),
pode designar-se por comunicação mediada
interativa ou bidirecional.
• Quando a comunicação mediada não admite ou
limita severamente o feedback e a
interatividade, pode designar-se por difusão.
• Neste caso, a comunicação ocorre somente, ou
essencialmente, do(s) emissor(es) para o(s)
receptor(es). Assim, pode considerar-se que a
comunicação mediada é de difusão massiva
("comunicação de massa"ou "comunicação de
massas") quando ...
• ... a mesma mensagem é difundida,
simultaneamente, para um grande, anônimo e
heterogêneo grupo de pessoas através de um
ou vários meios de comunicação, como
acontece com o telejornal ou os jornais
generalistas.
• A comunicação, de todos os tipos, pode estar
sujeita a ruídos que parasitam a mensagem.
Além disso, por vezes há barreiras que
impedem a comunicação ou afetam a fluidez
das trocas comunicacionais.

• Essas barreiras podem ser:


• Físicas, como um obstáculo entre dois
interlocutores que os impede de dialogar;

• Culturais, como o desconhecimento do


código de comunicação dentro de uma cultura
(saber uma língua, por exemplo, nem sempre é
garantia suficiente para bem se interpretar uma
mensagem);
• Pessoais, como a maneira de estar, de ser e de agir de
cada sujeito envolvido na relação de comunicação, as
capacidades ou deficiências físicas pessoais que
facultam ou dificultam a comunicação, etc.;

• Psico-sociais, como o estatuto e o papel social que os


sujeitos envolvidos na relação comunicacional atribuem
uns aos outros, que vincam uma dada distância social,
ou a saturação dos sujeitos envolvidos na comunicação
em relação ao tema que motiva o acto comunicacional.
1.6 Comunicação, comunidades, sociedade
e cultura
• Sociedade
• Comunidade
• Socialização
• Habitus
1.6.1
Comunicação, sociedade contemporânea
e política
1.6.2 Comunicação e cultura
1.6.3 Comunicação, sociedade e pós-
modernidade
1.7 Alguns modelos do processo de
comunicação

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