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Brasil e Estados Unidos: comparações incômodas

Prof. Henrique Alonso Pereira

Fonte: KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos. Campinas:


Contexto, 2007. p. 9-29.
1. Destino
Manifesto
 Por que os Estados Unidos são tão ricos e
nós não? Essa pergunta já provocou muita
reflexão. Desde o século XIX a explicação
dos estadunidenses para seu “sucesso”
diante dos vizinhos da américa hispânica e
portuguesa foi clara: havia um “destino
manifesto”, uma vocação dada por deus a
eles, um caminho claro de êxito em função
de serem um “povo escolhido”.
 No Brasil sempre houve desconfiança
sobre a ideia de um “destino manifesto”
(...) A riqueza deles e nossas mazelas
decorreriam de dois modelos históricos: as
colônias de povoamento e as de
exploração.
 As colônias de exploração seriam as ibéricas. As áreas colonizadas por
Portugal e Espanha existiriam apenas para enriquecer as metrópoles.
Nesse modelo, as pessoas sairiam da Europa apenas para enriquecer e
retornar ao país de origem.
 A América Ibérica seria um local para suportar um certo período, extrair o
máximo e retornar à pátria européia. Da mesma forma que aventureiros e
2 – Colônias de degredados que enchiam nossas praias, o Estado ibérico também só tinha
o interesse na exploração do Novo Mundo e obter os maiores lucros no
Povoamento e de menor prazo possível. sobre portugueses e espanhóis corruptos e
ambiciosos pairava um Estado igualmente corrupto e ambicioso.
Exploração (1)  O escritor Manoel Bonfim consagrou, no início do século xx, a metáfora
desse Estado: a coroa ibérica seria idêntica a um certo molusco que só
possuía sistema para entrada e saída de alimentos. Estado sem cérebro,
sem método, sem planejamento: apenas com aparelho digestivo-excretor –
essa era a imagem consagrada do português que nos pariu.
2 – Colônias de
Povoamento e de
Exploração (2)
 O oposto das colônias de exploração
seriam as de povoamento. Para lá as
pessoas iriam para morar
definitivamente. A atitude não era
predatória, mas preocupada com o
desenvolvimento local. isso explicaria o
grande desenvolvimento das áreas
anglo-saxônicas como os EUA. Famílias
bem constituídas, pessoas de alto nível
intelectual e sólida base religiosa: tais
seriam os colonos que originaram o
povo estadunidense.
2 – Colônias de Povoamento e de
Exploração (3)
 Há uma ideia associada a essa que versa sobre a qualidade dos colonos. Para as
colônias de exploração, as metrópoles enviariam o “refugo”: aventureiros sem
valor que chegariam aqui com olhos fixos no desejo de ascensão. As colônias de
povoamento receberiam o que houvesse de melhor nas metrópoles, gente de valor
que, perseguida na Europa, viria com seus bens e cultura para o Novo Mundo
trazendo na bagagem apenas a honradez e a Bíblia.
 Os EUA teriam sido destinados por Deus ao sucesso e os latinos condenados ao
fracasso pelo peso da origem histórica.
3. Raça e
Civilização
 Vianna Moog contestava várias dessas
posturas na obra Bandeirantes e
pioneiros. Escrita no debate do iv
Centenário de são Paulo, o autor gaúcho
ainda dialoga com temas que foram
caros a Gilberto Freyre: o que há de
específico na formação social brasileira?
tal como o autor do Nordeste, Moog
recusa a ideia de raça como elemento
definidor para o sucesso ou não de uma
civilização. O inglês não é melhor do
que o português.
4. Determinismo Geográfico

 Às diferenças entre brasileiros e norte-americanos, prefere fatores


geográficos e culturais. Quanto à geografia, Viana Moog destaca para
os Estados Unidos as facilidades de planícies imensas e rios excelentes
para a navegação, como o Mississipi. A natureza norte-americana, ao
contrário da brasileira, facilita em muito o trabalho do colonizador. No
Brasil, a serra do Mar e os rios encachoeirados dificultariam a ação
colonizadora.
 Os analistas atuais costumam ironizar esse aparente “determinismo
geográfico”.
5. Influência Cultural Religiosa:
Postura Colonial Católica e
Protestante

 A diferença maior estaria entre a postura colonizadora católica e


protestante. Na idade Média, a igreja Católica desconfiou do lucro e
dos juros. O ideal católico era a salvação da alma; o progresso
econômico era visto com desconfiança. Demônio e riqueza estavam
constantemente associados na ética ibérica.
 Os protestantes, no entanto, particularmente os calvinistas,
desenvolveram postura oposta. Deus ama o trabalho e a poupança: o
dinheiro é sinal externo da graça divina. O ócio é pecado, o luxo
também.
 Protestantismo e capitalismo estão associados profundamente,
conforme analisou Max Weber, muito citado por Moog. Se em
pontos como a geografia e as raças ele parece preso a um debate
antigo, em outros aspectos, como vida cotidiana e organização do
espaço doméstico, ele continua um arguto observador.
5. Opção Cultural e
Escolha Política (1)
 Mais recentemente, Richard Morse indicou
outros caminhos para essa questão. O norte-
americano afirma que o dito
subdesenvolvimento da América Latina é uma
opção cultural. Em outras palavras, o mundo
ibérico não ficou como está hoje por
incompetência ou acidente, mas porque assim
o desejou. As diferenças entre a américa
anglosaxônica e a ibérica seriam frutos de
“escolhas políticas”.
5. Opção Cultural e Escolha Política (2)

 Mas deve-se afastar, segundo Morse, a idéia de acidente, como se a américa Latina
fosse fruto do acaso.
 O primeiro deles, que contesta várias idéias sobre a colonização da América, é que a
ibérica foi, em quase todos os sentidos, mais organizada, planejada e metódica que a
anglo-saxônica. Caso atribuamos valor à organização, é inegável que a colonização
ibérica foi muito “melhor” que a anglo-saxônica. Na verdade, só podemos falar em
projeto colonial nas áreas portuguesa e espanhola.
 Decorridos cem anos do início da colonização, caso comparássemos as duas américas,
constataríamos que a ibérica tornou-se muito mais urbana e possuía mais comércio,
maior população e produções culturais e artísticas mais “desenvolvidas” que a inglesa.
Nesse fato vai residir a maior facilidade dos colonos norte-americanos em
proclamarem sua independência. A falta de um efetivo projeto colonial aproximou os
EUA de sua independência.

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