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TEORIA DO SISTEMA FUNCIONAL COMPLEXO PARA AS FUNÇÕES PSICOLÓGICAS

Profª Socorro Aguiar


LOCALIZACIONISMO DINÂMICO
E A TEORIA DO SISTEMA FUNCIONAL COMPLEXO

• A psicologia soviética teve grande participação nos


esforços realizados para superar a crise que se instalou
nos estudos sobre localização de função no encéfalo
• Vigotsky e seu discípulo Luria defenderam o método
científico como o único adequado para estudar a
atividade mental complexa do homem, a partir de suas
raízes histórico-culturais
• Repudiaram as conclusões dualistas dos grandes
autores
• Ponto de partida: as ideias de H. Jackson; o modelo
cibernético do sistema funcional celular de Piotr Anokin
• Luria: propôs a teoria do sistema funcional complexo
(SFC) para explicar a estrutura da atividade psicológica
humana
• O SFC é constituído de três unidades funcionais que
trabalham em concerto para que a função seja levada a
cabo
PRIMEIRA UNIDADE FUNCIONAL

INTRODUÇÃO
Para que os processos mentais humanos sigam o
seu curso correto, o estado de vigília é essencial
Sua precisa regulação é impossível durante o
sono. O curso das reminiscências e associações
que surgem é de natureza desorganizada e a
atividade mental adequadamente dirigida é
impossível
Segundo Pavlov, “a atividade organizada, dirigida
a metas, requer a manutenção de um nível ótimo
de tono cortical”, o que seria garantido por um
‘foco de luz’ móvel”
Esse foco seria concentrado e se deslocaria por
sobre o córtex com a mudança de uma atividade
para outra, como um ponto de excitação ótima,
sem a qual e impossível a atividade normal
AS LEIS NEURODINÂMICAS DA PRIMEIRA UNIDADE FUNCIONAL

• Pavlov elaborou as leis neurodinâmicas que caracterizariam o estado ótimo do córtex:


- Lei de intensidade: todo estimulo forte (ou biologicamente significante) evoca uma resposta forte, enquanto
que todo estimulo fraco acarreta uma resposta fraca
- Lei da concentração: tais fenômenos concentram processos nervosos, equilibrando as relações entre
excitação e inibição
- Lei da mobilidade: garante facilidade e eficiência em mudar de uma atividade para outra

• Tais leis desaparecem no sono ou no estado que o precede (estado de inibição - fásico):
- Intensidade: estímulos fracos podem ou evocar respostas tão intensas como os fortes (fase igualizadora), ou
acarretar respostas mais intensas que os estímulos fortes (fase paradoxal), ou continuar a evocar uma resposta
quando estímulos fortes já tenham deixado de fazê-lo (fase ultraparadoxal)
- Concentração: a relação normal entre excitação e inibição é perturbada persistindo a inibição
- Mobilidade: a dinâmica de uma tarefa para outra desaparece e a mobilidade do SN, fundamental para que a
atividade mental siga normal, é perdida
Que partes do cérebro regulam e modificam o tono cortical, mantendo-o
no momento apropriado e elevando-o quando isto se faz necessário?

PRIMEIRA UNIDADE FUNCIONAL: para regular o


tono, a vigília e os estados mentais

• Moruzzi & Magoun (1949)


- Descoberta da formação reticular ativadora
(SARA): sistema ativador ascendente em
forma de rede de neurônios
- Com origem no bulbo e distribuição difusa
para o córtex, medula, músculos, órgãos
sensoriais
- Manutenção do tono e da organização dos
diferentes níveis de consciência: alerta, sono,
coma ....
Experimento de Moruzzi e Magoun, em 1949, onde foi descoberta
a Formação Reticular Ativadora

• Organização morfofuncional específica da primeira unidade:


- Neurônios pequenos e de axônios curtos; Atividade regulatória
• Princípio do anel reflexo (regulação de baixo para cima e vice-versa); organização verticalizada do SN
• Motivos da existência da formação reticular ativadora: processos metabólicos, processos perceptivos,
processos intelectuais e reguladores da atividade mental complexa
SEGUNDA UNIDADE FUNCIONAL:
para receber, processar e armazenar informações

CARACTERÍSTICAS FUNCIONAIS
E MORFOLÓGICAS DA 2ª UNIDADE FUNCIONAL

Difere largamente da primeira unidade, tanto na


localização, quanto na morfologia:
• Localização: áreas póstero-laterais do córtex
cerebral, que incluem as regiões visual
(ocipital), auditiva (temporal) e sensorial
geral (parietal)
• Organização morfológica: composta por
neurônios de grandes axônios (“cabo”) que
fazem comunicação à longa distância, ao lado
de grupos de neurônios com axônios mais
curtos
O PAPEL DA 2ª UNIDADE FUNCIONAL

• Os sistemas desta unidade estão adaptados para a recepção de estímulos que vão ter ao
cérebro, a partir de receptores periféricos
• Esses estímulos serão analisados em seus elementos específicos pelas células que os recebem
• Em segundo momento, serão combinados em estruturas funcionais dinâmicas, por outros
grupos celulares
• Essas células realizarão a síntese dessas informações, integrando-as em sistemas inteiros e
permitindo o conhecimento do que nos estimulou
ESTRUTURA CELULAR
PARA ESSA TAREFA

Três lâminas de células, formando áreas


funcionais:
- Áreas primárias: de projeção,
recebem as informações que chegam do
meio externo
- Áreas secundárias: integrativas,
integram e processam informações
modalmente específicas
- Áreas terciárias: sintéticas, sintetizam
funções em alto nível de complexidade,
possibilitando as sínteses simultâneas
A ATIVIDADE HUMANA É INTEGRADA E SINTÉTICA

• O conhecimento humano nunca ocorre vinculado a uma única modalidade isolada


• A percepção de qualquer objeto é um procedimento complexo, resultado de atividade
polimodal, originalmente de caráter expandido, posteriormente concentrado e condensado
• Por isso, tal procedimento deve depender do funcionamento combinado de um sistema
completo de zonas corticais
ÁREAS CORTICAIS DAS
SÍNTESES PSICOLÓGICAS

São as zonas terciárias, zonas de superposição que


são responsáveis por possibilitar as sínteses das
atividades
Essas zonas se situam na fronteira entre os córtices
occipital, temporal e pós-central
A maior parte é formada pela região parietal
inferior, que, no homem ocupa quase um quarto da
massa total do sistema
Incluem as áreas: 5, 7, 39 e 40, 21, 37, 39 de
Brodman
Formam as regiões parieto-têmporo-occipital, que
realizam as chamadas sínteses simultâneas
Tanto as regiões no encéfalo, como as funções delas
são características do ser humano e ocorrem com a
participação direta da fala e sua internalização, o
pensamento
Leis funcionais da 2ª unidade
1. Lei da hierarquização de função:
- Zonas Primárias, Zonas Secundárias e Zonas Terciárias
2. Lei da especificidade modal decrescente:
- Das zonas primárias para as secundárias o caráter específico da modalidade
sensorial diminui e desaparece na terciária
3. Lei da lateralização crescente:
- A partir das zonas secundárias as funções são lateralizadas (localizadas no hemisfério
direito ou no esquerdo)
Efeitos de lesões nessa unidade:
- Agnosias, apraxias, amnésias...
TERCEIRA UNIDADE FUNCIONAL:
para programar, regular e verificar a atividade mental

• O principal aspecto dos processos cognitivos no homem é a organização de sua atividade


consciente
• O homem não apenas reage passivamente a informações que chegam a ele, como também cria
intenções, forma planos e programas
• Mais do que isso, verifica sua atividade comparando os efeitos de suas ações com as intenções
originais e corrigindo quaisquer erros que tenha cometido
• Esses processos requerem sistemas cerebrais bastante diferentes daqueles que já descrevemos
• Localização: mais precisa, nas regiões anteriores dos hemisférios
• Áreas cerebrais: lobos frontais, principalmente a porção pré-frontal
- Morfologia celular: Os neurônios possuem axônios curtos, como a 1ª, pois são de natureza
moduladora, pelo papel regulador dessa unidade
ANATOMIA
DA TERCEIRA UNIDADE

A parte mais importante são os lobos


frontais, em suas divisões pré-frontais
(granular)
Desempenham um papel decisivo na
formação de intenções e programas e
na regulação e verificação das formas
mais complexas de comportamento
humano
DIFERENÇAS FUNCIONAIS DA 3ª UNIDADE EM RELAÇÃO A SEGUNDA

• Principal diferença: na 2ª unidade, aferente, os processos vão das zonas primárias para as
secundárias e terciárias; na terceira, eferente, seguem em uma direção descendente: zonas
terciárias, secundárias (pré-motoras) até a área motora primária
• Segunda distinção: a unidade não contém diferentes lobos modais, mas é formada inteiramente
pelo sistema eferente, motor, e está sob a constante influência de estruturas da 2ª unidade
• Posição privilegiada tanto para a recepção e síntese dos impulsos aferentes da 2ª unidade e da
FRA, como para a organização de impulsos eferentes, regulando todas essas estruturas
• No homem, o papel do pré-frontal ocorre em íntima conexão com a fala
• Essas áreas só se tornam maduras em etapas tardias da ontogênese (entre quatro a sete anos)
SINTOMAS DE LESÕES EXPERIMENTAIS NOS LOBOS FRONTAIS

• animais cujos lobos frontais tinham sido removidos, mostraram profunda alteração no comportamento
• Pavlov: o comportamento racional, dirigido a metas, está profundamente transtornado
• O cão com lobos frontais destruídos responde a todos os estímulos irrelevantes, não reconhece seu
dono. Os reflexos de orientação ficam desinibidos. Essas distrações perturbam os planos e programas
e seu comportamento fica fragmentado, descontrolado
• Pribram: animal com lobos frontais intactos pode tolerar longas pausas enquanto aguarda reforço
apropriado. Comportamento voltado ao futuro
- Suas respostas ativas se fortalecem apenas com a aproximação da hora em que o estímulo esperado
deve aparecer
- Um animal privado de seus lobos frontais não pode manter um tal estado de “antecipação ativa” e
durante uma pausa longa responde imediatamente com uma série de movimentos que ele não pode
correlacionar com o fim da pausa (hora em que aparece o estímulo esperado)
CARACTERÍSITICAS MORFO-FUNCIONAIS DOS LOBOS FRONTAIS HUMANOS

- Os lobos frontais humanos são os mais desenvolvidos


- Foi demonstrado que todo ato de expectativa evoca característicos potenciais lentos no córtex
cerebral humano, que aumentam de amplitude com um aumento da probabilidade de
materialização do estímulo esperado, diminuem com uma diminuição da expectativa
- Essas “ondas de expectativa”, aparecem primariamente nos lobos frontais e se espraiam por
todo o resto do córtex
• Livanov confirmou essa íntima participação das regiões pré-frontais nas formas mais complexas
de ativação evocadas por atividade intelectual
• Lesões nessa região impedem que o paciente mantenha as ondas de expectativa, desorganiza
seu comportamento dirigido a metas e pode mudar sua personalidade
INTERAÇÕES ENTRE AS TRÊS UNIDADES FUNCIONAIS

• Demonstração de que o Sistema Funcional Complexo é uma organização única, sendo


suas partes constituintes atuam de forma intimamente relacionada

• Problema em uma parte do Sistema leva à desorganização em outras partes do mesmo.


A recuperação é um processo de reorganização do Sistema como um todo

• Proposta da análise síndrômica dos processos patológicos do SFC

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