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LUDOTERAPIA

Me. Marco Aurélio Araújo Corrêa de Oliveira Lima


Conceituação
Ludoterapia é a terapia realizada através do
lúdico, do brincar (Feijoo, 1997). Tem como
objetivo facilitar a expressão e desenvolvimento
do lúdico, pois o jogo e o brincar são meios
naturais de expressão, sobretudo na infância.
Origem e Desenvolvimento

Com origem em técnicas fundamentadas na


Psicanálise, a Ludoterapia se desenvolveu e
contou com a contribuição de importantes
teóricos ao longo do tempo. Apesar de sua
origem, não é uma técnica exclusiva da
Psicanálise.
A importância do brincar
• O brincar exerce uma grande influência no
desenvolvimento da criança. É um meio natural onde a
criança pode expressar seus sentimentos e fantasias.

• Crianças que brincam demonstram ter uma boa


capacidade para criar, controlar seus impulsos, e
expressar com facilidade seus desejos e medos.
Manejo Clínico
• A demanda não nos chega enquanto demanda da criança,
mas do casal parental, da família, de um técnico ou de
uma instituição.

• É preciso saber identificar e diferenciar os desejos de


quem demanda atendimento psicológico para a criança,
daqueles erigidos pela própria criança.

• Postura acolhedora do terapeuta, diferenciando-o das


perspectivas escolares.
Entrevistas Iniciais
• Entrevista realizada com os cuidadores da
criança (genitores ou responsáveis);

• Anamnese;

• Preparação para receber o paciente/criança.


Psicodiagnóstico Infantil
•É uma compreensão globalizada do que se passa com a criança
em relação ao seu desenvolvimento físico, psíquico, social e
cognitivo, levando em consideração o contexto no qual ela está
inserida.

•Tem como objetivo identificar forças e fraquezas do


funcionamento psicológico da criança.

•Os resultados constituem um retrato do momento da criança,


que é influenciado por vários fatores e jamais devem ser
tomados como verdades absolutas.
Fases do Psicodiagnóstico
1. Primeiras Entrevistas  Queixa/Enquadramento/Anamnese

2. Levantamento das Hipóteses Iniciais  Confirmadas ou Refutadas

3. Planejamento, Seleção e Aplicação  Técnicas Projetivas (Desenho-


Estória; D-E-F; Fábulas de Düss)/Hora de Jogo Diagnóstica

4. Análise e Integração dos dados  Compreensão clínica do caso

5. Comunicação dos resultados, orientação sobre o caso e encerramento do


processo  Devolutiva com os pais e possíveis encaminhamentos

• O tempo determinado para o Psicodiagnóstico deve ser de 6 à 8 sessões.

• Ressalta-se que não se trata ainda de uma análise, mas de uma avaliação
minuciosa sobre a criança a fim de identificar as condições da mesma.
Hora de Jogo Terapêutica
• A hora de jogo terapêutica constitui um recurso ou instrumento técnico que
o psicólogo utiliza com a finalidade de conhecer a realidade da criança que
foi trazida à consulta.

• Caixa lúdica – materiais recomendados (estruturados e não-estruturados):

papel (tamanho carta) lápis preto e de cor lápis de cera


tesoura sem ponta massa de modelar fantoches
cola apontador família
barbante dois ou três bonequinhos família de animais
2 ou 3 carrinhos 2 ou 3 aviõezinhos 2 ou 3 xícaras
colherinhas cubos de tamanho médio trapinhos
giz bola argila
Indicadores
• Não há uma padronização para avaliar a hora de jogo
diagnóstica, mas existem algumas pautas que podem ser
analisadas distintamente, gerando uma espécie de guia. São eles:

 Escolha de brinquedos e brincadeiras  Criatividade


 Modalidades de brincadeiras  Capacidade Simbólica
 Personificação  Tolerância à Frustração
 Motricidade  Adequação à Realidade
Escolha de brinquedos e de brincadeiras

• Deve-se observar o tipo de brinquedo


escolhido para estabelecer o primeiro contato
de acordo com o momento evolutivo e com o
conflito a ser veiculado – se a criança opta por
brinquedos escolares; brinquedos estruturados
ou não estruturados etc.
Modalidades de Brincadeiras
 Plasticidade  Denota riqueza de recursos egóicos para expressar
situações diferentes. Pode se manifestar expressando a mesma fantasia ou
defesa através de mediadores diferentes ou uma grande riqueza interna
por meio de poucos elementos que cumprem a mesma função.

 Rigidez  Utilizada frente a ansiedades primitivas para evitar confusão. A


criança adere a certas brincadeiras ou brinquedos de forma exclusiva e
predominante para expressar a mesma fantasia. Tenta controlar a situação
de jogo e evita o novo a qualquer custo.
Personificação
• Capacidade de assumir e atribuir papéis de forma dramática. Em
cada período evolutivo, a capacidade de personificação adquire
características diferentes.

• Em crianças muito pequenas, a identificação introjetiva é utilizada


como mecanismo fundamental – assume o papel do outro, fazendo-
o temido ou desejado.

• Numa etapa posterior, as personificações se enriquecem com figuras


imaginárias (fadas, monstros etc). A criança começa a atribuir
papéis de modo que passa a vivenciar as relações estabelecidas com
essas imagens (vence, domina, ataca ou é atacada).
Motricidade

• Alguns aspectos que devem ser observados nesse indicador:


deslocamento geográfico, possibilidade de encaixe, preensão e
manejo, alternância de membros, lateralidade, movimentos
voluntários, involuntários, ritmo do movimento etc.
Criatividade
• A criança age sobre os elementos à sua volta para conseguir os fins
desejados.

• Há criatividade quando existe uma ação deliberada com fins


comunicativos.
Capacidade Simbólica
• É possível identificar a riqueza expressiva da criança – ou
seja, a busca que a criança faz de suportes materiais que
veiculem suas fantasias e conflitos e a coerência da reunião
desses símbolos.
Tolerância à frustração
• É detectada pela possibilidade de aceitar as instruções com as
limitações que elas impõem e pelo desenvolvimento da atividade lúdica
– maneira de enfrentar as dificuldades inerentes à atividade que é
proposta.
Adequação à realidade
• A dificuldade de adaptar-se pode se dar temporalmente, como nos casos
onde a criança estrutura brincadeiras tão prolongadas que impedem uma
finalização, gerando por conseguinte, uma frustração que revela a
discrepância entre o planejado e o realizado.
Desenho-Estória
• Foi introduzido em 1972 por Walter Trinca, como meio de ampliação do
conhecimento da dinâmica psíquica no diagnóstico psicológico.

• O desenho livre, associado a estórias, constitui instrumento com


características próprias para obtenção de informações sobre o sujeito que
não são facilmente detectáveis. (TRINCA, 1972. p.28).

• A aplicação é individual e pode ser utilizada em crianças, adolescentes


ou adultos de ambos os sexos que possam realizar desenhos e verbalizar.
• Consiste de 5 unidades de produção que são realizadas pelo
examinando, sendo cada qual composta de desenho livre,
estória, “inquérito” e título. A ordem sequencial composta do
desenho livre não se modifica ao longo do exame até que se
obtenha as 5 unidades de produção.

• A técnica de aplicação é bastante simples: solicita ao


participante que ele realize seguidamente uma série de cinco
desenhos livres (cromáticos ou acromáticos), cada qual sendo
estímulo para que conte estória, associada livremente, logo após
a realização de cada desenho.
Interpretação Psicanalítica
• Cada produção realizada (na ordem em que são realizadas) possui um
tipo de interpretação psicanalítica. Essas considerações fazem perto da
comunicação inconsciente do sujeito, na qual ele pode dar vazão ao
seu núcleo conflitivo na produção gráfica. São elas:

• Primeiro desenho: Queixa (conteúdo manifesto)

• Segundo desenho: Queixa inconsciente (conteúdo latente)

• Terceiro desenho: Conflito

• Quarto desenho: Defesa

• Quinto desenho: Solução inconsciente


Idade: 08 anos Sexo: Masculino
Mãe do paciente: 47 anos Profissão: Doméstica

Filho adotivo – a mãe tem o hábito de acolher crianças da vizinhança que


(estejam em situação de risco) em sua casa. C. é o terceiro filho adotado
pela família. Vive com sua mãe, seu avô e mais dois irmãos em uma casa
muito pequena, onde relata que “todos vivem brigando o tempo todo e
ele é o único que não briga com ninguém” (sic)
QUEIXA
A queixa principal que a mãe coloca é que o menino tem tido crises de
choro constantes por causa da morte do tio biológico. Tem se mostrado
agressivo nos treinos de futebol e apresentando baixo rendimento escolar.
Mora com sua mãe e seu avô. Se sente muito grato pela mãe ter tirado C. de
sua família biológica (onde sofria maus tratos). Seu avô é muito bravo e não
permite que “nada saia fora do controle” (sic) e acredita que todos devem
obedecer sem questionar.
Exemplo – Interpretação D-E
Estória – O passarinho maluco

• Tinha um passarinho e ele voava para fugir do gavião. O


passarinho correu para a caçamba da caminhonete o levando pra
bem longe. O dono da caminhonete transforma o passarinho em
estátua e o vende para a loja. Chegou um outro homem, comprou
a estátua e desfez a mágica e ele voltou a ser passarinho e saiu
voando por cima do prédio, mas o gavião o pegou e tentou
mordê-lo e o levou para seus filhinhos. O passarinho conseguiu
fugir e voltou para a gaiola do moço que o comprou e ficou
vivendo com ele no prédio. O passarinho era mais ou menos feliz.
O paciente apresenta o desejo de ser cuidado, já que supostamente é
representado pela figura do passarinho – indefeso e em perigo
constante, precisando se refugiar de alguma maneira pra bem
longe. Destaca a presença de uma figura que, ao mesmo tempo,
salva o garoto do perigo iminente, transformando-o magicamente
em estátua e nesse processo o deixa imobilizado e sem condições de
reagir. Claramente o menino sente que na verdade está
constantemente conduzido pela mãe e pelo avô, figuras tão
poderosas que podem, em um passe de mágica, transformá-lo ora
em alguém sem a possibilidade de ação, ora em alguém que está
diante de muitos riscos (representado pelo gavião).
Importante destacar que essa figura imaginária e provedora que o
salva, na verdade é capaz de "comprá-lo", sendo possível associar
que o garoto sente-se comprado pela mãe e percebe o conflito
existente entre a mãe e os seus familiares. No relato torna-se
perceptível que o paciente sente-se dividido; enveredando para
uma escolha que remete à fuga dos perigos que enfrenta
atualmente. Ou seja, entre encarar os perigos existentes e viver
"preso", opta por ficar nessa suposta segurança, mesmo que isso lhe
custe a liberdade. É como ele significa o momento, tendo que viver
sem mobilidade e à mercê de outras pessoas, sentindo-se "mais ou
menos" feliz com essa situação.
Sandplay

O que é Sandplay?

“As mãos sabem resolver um


enigma do qual o intelecto
luta em vão”

- C.G. Jung
Um meio de autodescoberta e integração;

Um meio pelo qual crianças e adultos, incapazes de articular


os seus sentimentos ou experiências, encontram expressão e
integração;

Oportunidade para experiência criativa e não racional, como


um equilíbrio para a ênfase exagerada da sociedade no
intelecto e na racionalização.
Argila
• Não estruturada – permite a construção e a criação que facilita
a expressão do indivíduo;

• Pode ser direcionada para a expressão do sujeito;

• Pode ser direcionada para a estimulação sensorial.

• Técnica não estruturada mais ajustável e adaptável a realidade


das crianças (Oaklander, 1980) – Descobrindo crianças e
adolescentes.
Referências
ARAÚJO, A. K. Importância do brincar na clínica psicanalítica: uma visão kleiniana. III Congreso
Internacional de Investigación y Práctica Profesional en Psicología. Buenos Aires, 2009.

DOLTO, F. Psicanálise e Pediatria. Rio de Janeiro: LTC. 1988.

DUARTE, M. L. P. O Brincar: Uma Proposta Lúdica para o Desenvolvimento Emocional da


criança. Rio de Janeiro, 2003.

FEIJOO, A. M. C. Aspectos teórico-práticos na Ludoterapia. Fenômeno Psi. Rio de Janeiro, 1997.

EFRON, A. M; FAINBERG, E.; KLEINER, Y.; SIGAL, A. M.; WOCOSBOINIK, P. A Hora do


jogo diagnóstica. In: ARZENO, M. E. G. OCAMPO, M. L. S. PICCOLO, E. G. de. O processo
psicodiagnóstico e as técnicas projetivas. 11ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2009. p. 207 – 237.

KLEIN, M. A Psicanálise de Crianças. In: A Técnica da Análise de Crianças Pequenas. Vol II.
Ed. Imago. Rio de Janeiro, 1997.

OAKLANDER, V. Descobrindo crianças: A abordagem gestáltica com crianças e adolescentes. Rio


de Janeiro: Summus editorial, 1980.

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