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MÓDULO 5 TEMA

A CULTURA DO PALÁCIO A PINTURA RENASCENTISTA AULA 69 1

A PINTURA RENASCENTISTA: O HOMEM COMO UNIDADE DE MEDIDA

No Renascimento, a arte é enquadrada em


conceitos e metodologias de bases científicas,
tornando-se numa «realidade» tão demonstrável
como qualquer outra ciência.

Também o artista vê alterar o seu estatuto social,


sendo reconhecido como um erudito, um
humanista e um criador informado e inspirado por
Deus.

O artista renascentista é um pensador que conduz


a pintura a um processo intelectual de
experimentação e de análise do mundo.

Mas o artista é também o génio que converte a


pintura num instrumento de reflexão e
conhecimento do Homem e do Mundo.

A Anunciação do Anjo a Zacarias (detalhe),


Ghirlandaio, 1485-90. Paulo Simões Nunes
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A PINTURA RENASCENTISTA: O HOMEM COMO UNIDADE DE MEDIDA

No Renascimento, o Homem é tomado como


Unidade de Medida de todas as coisas.
O Homem é referência e objeto de todas as
pesquisas plásticas e pictóricas.
Tal como na Antiguidade Clássica, a finalidade da
arte é atingir o Belo sob a forma da representação
perfeita do Homem, da Natureza, do espaço e das
coisas que o habitam.
O objetivo do artista renascentista é conseguir
representar o mundo e o espaço tal como se
apresentam à perceção visual, com as deformações
próprias do olhar e da perspetiva.
Os artistas renascentistas partiram de uma
pesquisa objetiva do real:
• privilegiaram a vertente racional em detrimento
da vertente espiritual;
• definiram um conjunto de normas, de regras e de
Cena da Corte de Ludovico Gonzaga, fresco da Câmara dos Esposos, Palácio Ducal, valores estéticos que deveriam concretizar a
Mântua, Itália, 1465-1474.
arte. Paulo Simões Nunes
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A PINTURA RENASCENTISTA: O HOMEM COMO UNIDADE DE MEDIDA

O programa da pintura renascentista assume os


conceitos clássicos de ordem, proporção,
equilíbrio e harmonia.

A pintura renascentista definia-se, assim, como


um exercício intelectual.

O programa da pintura renascentista apresenta


as características seguintes:
• o desenho é um meio privilegiado para a
aplicação da perspetiva com rigor científico;
• a cor tem um papel vital na definição da
dimensão psicológica das personagens;
• o chiaroscuro (o tratamento do claro-escuro) é
um recurso indispensável à modelação
tridimensional dos volumes.

Madona com o Menino Entronizada


entre S. João Batista e S. Sebastião,
Pietro Perugino, 1493.

Paulo Simões Nunes


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A PESQUISA EM TORNO DA PERSPETIVA

A perspetiva linear, desenvolvida durante o


Renascimento em Itália, viria a ter fortes
consequências na forma de conceber e
representar o espaço durante os cinco séculos
seguintes.
O atual conceito e método da perspetiva nasceu
no Renascimento com Brunelleschi, c. 1420, e
apresenta as características seguintes:
Método de perspetiva de Albrecht Dürer (c. 1500) utilizando um vidro quadriculado • traçam-se linhas formando uma pirâmide cujo
como plano secante da pirâmide visual.
vértice é o ponto de fuga;
• o eixo da pirâmide une o olho (ponto de vista)
com o vértice (ponto de fuga);
PF • a base da pirâmide, onde se forma a imagem,
resulta de um corte efetuado por um plano
LH perpendicular ao eixo – o quadro onde se simula
a realidade que o observador contempla.

PF – Ponto de fuga
LH – Linha do horizonte Paulo Simões Nunes
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A PESQUISA EM TORNO DA PERSPETIVA

Os pintores italianos procuraram a construção


científica do espaço tridimensional, no qual
situassem as figuras e os objetos.
Foi Alberti que, no tratado De Pictura (1435),
definiu o quadro como «uma janela aberta para o
mundo», numa aproximação ao conceito de
perspetiva.
Para demonstrar o rigor e a objetividade da
Demonstração do Sistema de Perspetiva Linear, Albrecht Dürer, perspetiva, Dürer concebeu um engenho para
Tratado de Geometria, 1525. reproduzir imagens, como se se tratasse do registo
de uma experiência científica.
Por encomenda de Federico de
Montefeltro, senhor de Urbino, o
artista remodelou o traçado medieval
da cidade, transformando-o num
traçado racional de inspiração clássica
e aplicando as «leis da perspetiva».

A Cidade Ideal, atrib. a Piero della Francesca, Urbino, meados do século XV.
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A PESQUISA EM TORNO DA PERSPETIVA

Piero della Francesca dedicou-se a aprofundar os


conhecimentos sobre a perspetiva que deixou
escritos no seu tratado De prospectiva pingendi
(1472).
Nesse tratado, Piero della Francesca define a
perspetiva com as características seguintes:
• integração das figuras num espaço arquitetónico,
para acentuar os efeitos das linhas de
perspetiva;
A Flagelação de Cristo, Piero della Francesca, c. 1444-1450.
• rigor no traçado das linhas de perspetiva,
seguindo conhecimentos de geometria para as
proporções relativas entre as figuras;
• composição seguindo traçados racionais e
geométricos.

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A PESQUISA EM TORNO DA PERSPETIVA


Masaccio (1401-1428) foi o primeiro grande pintor
italiano depois de Giotto e um dos primeiros a
desenvolver a perspetiva criada por Brunelleschi.

Em A Trindade, Masaccio aprofundou o realismo da


representação através dos aspetos seguintes:
• criação da ilusão de profundidade através da
aplicação da perspetiva;
• tratamento do volume dos corpos, através dos
efeitos de claro-escuro;
• utilização de elementos arquitetónicos clássicos.

A Trindade, Masaccio, Igreja de Santa Paulo Simões Nunes


Maria Novella, Florença, c. 1420. História da Cultura e das Artes 10 | 10.º ano
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A PESQUISA EM TORNO DA PERSPETIVA

Andrea Mantegna (1431-1506) foi


um exímio executante dos princípios
da perspetiva linear.

Na obra Lamentação sobre Cristo


Morto, o corpo de Cristo é
representado deitado e num ponto
de vista rasante com os pés em
primeiro plano.

A simulação da realidade através dos


efeitos de perspetiva acentua o
dramatismo da cena.

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Lamentação sobre Cristo Morto, Andrea Mantegna, 1475-1478. História da Cultura e das Artes 10 | 10.º ano
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NOVOS PROCESSOS, NOVAS TÉCNICAS, NOVOS TEMAS

Novos processos:
• Perspetiva – processo geométrico que permitia
representar com rigor o espaço e as formas
tridimensionais numa superfície plana.
• Naturalismo – interesse pelo estudo da Natureza e
da anatomia da figura humana como forma de
obter maior realismo nas representações.
O Pagamento do Tributo, Masaccio, c. 1427. • Enquadramentos arquitetónicos – construção de
cenários arquitetónicos sob efeitos de perspetiva.
• Novos suportes de pintura – pintura em madeira e
cavalete (telas) facilitando a circulação das obras e a
difusão de novas ideias estéticas.

Paulo Simões Nunes


Casamento em Caná, Paolo Veronese, 1563. História da Cultura e das Artes 10 | 10.º ano
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NOVOS PROCESSOS, NOVAS TÉCNICAS, NOVOS TEMAS


Novas técnicas:
• Pintura a óleo – técnica importada da Flandres que permitia
um maior tempo de secagem e a realização de modelados e
velaturas.
• Utilização do sfumato – esbatimento dos tons de modo a gerar
uma transição suave luz-sombra (chiaroscuro).
• Novos pigmentos aglutinantes – enriquecimento da gradação
de cor, o que facilitou a modelação das formas e dos volumes,
e a criação de atmosferas mais luminosas.
Retrato de Luca Pacioli, Jacopo de Barbari, 1495. Novos temas:
• Retrato – o Humanismo, o Individualismo e o culto da
personalidade próprios do Renascimento fizeram crescer o
gosto pelo retrato como afirmação social e cultural.
• Nu – a «descoberta» do Homem, da sua anatomia e perfeição
das formas, o nu está ligado à tradição greco-romana.
• Paisagem – o estudo do mundo envolvente e a representação
da Natureza (dos ambientes) é um tema ideal para a aplicação
Retrato de um Homem
com uma Medalha de dos novos recursos técnicos e plásticos.
Cosimo, o Jovem, Paulo Simões Nunes
Sandro Boticelli, 1474. História da Cultura e das Artes 10 | 10.º ano
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