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O homo ludens

Johan Huizinga
com o passar do tempo,
compreendeu-se que não
Homo sapiens somos tão racionais quanto a
razão do século XVIII nos fez
supor

continuava a ser uma definição


o jogo como fenômeno cultural Homo faber inadequada

existe uma terceira função


atribuída à espécie humana,
que se verifica tanto na vida
Homo ludens humana como na vida animal,
e é tão importante como o
raciocínio e o fabrico de
objetos: o jogo
o texto de Huizinga foi
escrito em alemão, a língua inglesa dispõe de duas palavras play e game
língua que, como o
Umberto Eco francês e o italiano (e
(1989) acrescentamos, ainda,
o português) só tem
uma palavra para Huizinga – conceito ludus contém em si
expressar esse do prazer inerente os jogos infantis, a
fenômeno cultural: ao jogo, uma vez recreação, as
Spiel, a qual não play está ligado ao que, em latim, a
conceito de prazer palavra ludus, de
competições, as
transmite com maior representações
abrangência ludere, abrange
interpretativa a noção todo o terreno do litúrgicas e teatrais
de jogo pretendida jogo e os jogos de azar

o jogo surge como elemento


pode-se estabelecer
estrutural para que se possa existe, ainda, a
uma relação entre o
palavra latina jocus,
estabelecer um possível elo entre jogo e a estrutura
game liga-se ao jocari, que não
da literatura que
o texto em prosa – que aparece conjunto de regras significa
trata de narrativas
conhecidas e precisamente jogo,
com o advento do Romantismo – permeadas de
reconhecidas mas seu sentido é o
feitos heroicos,
e o texto homérico – de fazer humor,
disputas e buscas
fazer piada
principalmente a Ilíada por honra e glória
o jogo se baseia na manipulação de certas imagens, numa certa “imaginação” da
realidade, transforma a realidade em imagens
é reflexo psicológico –
tem a capacidade de
fascinar e excitar
intensamente

tem por características


todo jogo é alegria e
divertimento
o fato de ser livre, de
ser ele próprio
liberdade

não é vida “corrente” diferencia-se da vida


nem vida “real” – fuga “comum” pelo lugar e
da vida “real” para uma pela duração que
esfera temporária ocupa
• é pelo culto que se verifica um
jogando com as nas mitologias, há
espírito de puro jogo, nas
palavras, uma fantasia que celebrações dos ritos
joga com a sagrados, dos sacrifícios,
transformando brincadeira e a consagrações e mistérios
realidade em seriedade
“imaginação”, o
homem sempre
buscou, através
do mito, é no mito e no culto • o direito e a ordem, o
comércio e o lucro, a indústria
que se originam as
explicação para grandes forças
e a arte, a poesia, a sabedoria
e a ciência
dar conta do naturais da vida • todas têm suas raízes no solo
mundo civilizada primeiro do jogo
o herói sempre será uma
representação dos moldes
cabe ao herói a tarefa de
masculinos, politicamente de
Flávio Kothe procurar o vilão que violou, o
direita, instrumento de
qual é encontrado e punido
perpetuação do modelo social
dominante

são as narrativas em cujas


em seu livro O herói (2000) fala
estruturas profundas uma
sobre o herói trivial
norma é violada

a narrativa trivial apresenta


apenas a “grandeza” do seu
herói e a “baixeza” do seu Conhecida por seus poderes de sedução e manipulação, essa foi a bruxa
vilão a narrativa
que deu à luz uma sombratrivial
demoníaca que assassinou Renly Baratheon
sem aprofundar a natureza
contraditória e problemática
desses conceitos
esse herói masculino de direita é de certo modo um pseudo-
herói: no final ele vencerá

é “masculino” porque geralmente esse papel é desempenhado


por um homem

é de “direita” conforme o conceito que fazemos em nossos dias


em relação às relações sociais do mundo capitalista

na narrativa trivial, sob uma aparência de divertimento, tem-se


uma doutrinação ideológica, cabendo ao herói o papel de
assegurar a superioridade do sistema em vigor

nesse tipo de narrativa, quanto mais o herói é um pseudo-


herói, muito mais se necessita fazer dele um super-herói
esse espírito de
o herói traz consigo justiça, a
um espírito de justiça e superioridade do
de valorização dos herói, a doutrinação
mais fracos, que é ideológica, podem ser
transferido para o observados nas obras
reino da fantasia da chamada literatura
de entretenimento

na literatura de
o herói é enamorado,
entretenimento, o
cortês, obediente,
herói procura algum
cavalheiro, guerreiro,
guerreiro com quem
valente e viril
possa lutar e vencer
Muniz Sodré em seu livro
Best-seller: a literatura de
mercado (1988)

essa característica
transparece às vezes pelos
traços físicos do fala sobre a solaridade do
personagem como olhos herói
claros, beleza do rosto,
sinais nobres no perfil

o herói tem a mesma


invencibilidade do sol, que
o herói solar opõe-se ao
entra e sai das sombras
universo das trevas
sem nada alterar o seu
poder de brilho
o herói não peca jamais contra
a lealdade, a franqueza, a
determinação
outros traços “solares” desse sua coragem costuma ser
tipo de herói também inabalável
opõe-se, assim, a tipos de
caráter marcados pela
dissimulação, traição e
covardia

o herói coloca-se no grupo


o herói costuma associar-se a
social como uma
animais de alguma maneira
individualidade solidária e
relacionados ao sol, tais como
redentora, isto é, como um
a águia e o leão
salvador ou um justiceiro
combate, portanto, bichos
distingue-se daqueles que se
“noturnos”, como a serpente, a
integram na sociedade por
aranha, o dragão
caminhos escusos ou impuros
Huizinga diz que enquanto função cultural, a luta pressupõe sempre a existência de
regras limitativas, e exige, pelo menos em certa medida, o reconhecimento de sua
qualidade lúdica

só é válido falar da guerra como função cultural quando ela se desenrola de


maneira que seus participantes se considerem uns aos outros como iguais, ou
antagonistas com direitos iguais

a função cultural da guerra depende de suas qualidades lúdicas

o elemento lúdico encontra uma expressão mais imediata e mais agradável se


o acaso, o destino, o julgamento, a competição e o jogo são considerados
divinos

já o combate individual pode surgir também como algo previsto na batalha como
demonstração da superioridade pessoal
Johan Huizinga foi professor e historiador
neerlandês, conhecido por seus trabalhos sobre a
Baixa Idade Média, a Reforma e o Renascimento.

Nascimento: 7 de dezembro de 1872, Groninga,


Países Baixos / Falecimento: 1 de fevereiro de
1945, De Steeg, Países Baixos
 ALENCAR, José Martiniano de. Obra Completa. Rio de janeiro, GB: Aguilar, 1959. vol. 3.

 BULFINCH, Thomas. O livro de ouro da mitologia: histórias de deuses e heróis. 34. reimp.
Tradução David Jardim. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006.

 ECO, Umberto. “Huizinga e o jogo”. In: Sobre os espelhos e outros ensaios. Tradução de
Beatriz Borges. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

 HOMERO. Ilíada (em versos). 5. ed. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Rio de Janeiro:
Referências Ediouro, 2000.

 ________. Odisseia (em versos). 2. ed. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Rio de Janeiro:
Ediouro, 2001.

 HUIZINGA, Johan. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. Tradução: João Paulo
Monteiro. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2001. (Coleção Estudos; v. 4).

 KOTHE, Flávio René. O herói. 2.ed. São Paulo: Ática, 2000. (Série princípios; v. 24).

 SODRÉ, Muniz. Best-seller: a literatura de mercado. 2.ed. São Paulo: Ática, 1988. (Série
Princípios; v. 14).

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