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CONSTRUÇÃO SOCIAL DE

GÊNERO

Maria Angélica Fernandes, doutoranda do PCHS da UFABC


PLP Santo André, abril de 2023
O QUE É GÊNERO?

Se a subordinação da mulher não é justa, nem natural, como se


chegou a ela e como se mantem?

Essa é a questão que vamos tentar responder.......

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


COMO DEFINIR GÊNERO?

 Em geral quando se pergunta o que é gênero as pessoas


costumam respondendo que gênero é ser homem é ser
mulher
 Por muitas vezes essa divisão é apresentada como a
definição de gênero

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


QUAIS EXPECTATIVAS EM RELAÇÃO AO GÊNERO?

 Se a gente for pensar o gênero não está relacionado somente


ao ser homem ou ser mulher, mas também tem relação com
as coisas.
 Quando um bebê está por nascer existe uma expectativa em
torno do órgão sexual que a criança vai ter.
 Nessa situação é criada um conjunto de expectativas e
objetivos que envolvem esse bebê

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


ÓRGÃO SEXUAL FEMININO

Atribuições sociais ao feminino

Rosa, boneca, cabelo comprido, salto, vestido, moda,


maquiagem, ficar em casa, brincar de cozinhar, ser mãe,
cuidar, limpar e sentir

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


ÓRGÃO SEXUAL MASCULINO

 Atribuições sociais ao masculino

Azul, carrinho, bola, calça, bermuda, tênis, cabelo curto,


simples, aventuras, exploração, brincar na rua, esporte,
corrida, luta, espada, pular, brigar

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


Todas essas questões/representações
atravessam o gênero e estabelecem
perspectivas aos papéis sociais de ser
homem e ser mulher

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


Então ao abordar o conceito de gênero é para
constatar que não existe nada de natural, nada de
biológico, nada essencial, no que se considera ser
homem e ser mulher na sociedade

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


É necessário resgatar e pensar o que é ser
homem e ser mulher em outras sociedade,
outros lugares, outras localidades, outras
épocas, outros tempos, a gente vai ver que nem
sempre foi assim e nem sempre será.

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


Pode afirmar que ser homem e ser mulher não é algo
fixo , está em constante transformação, em constante
mudança, não existiria uma condição fixa de ser
homem e ser mulher.

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


Essa definição é construída no dia a dia, nas relações
sociais: por meio da família, da escola, da religião e
das relações de trabalho.
É nas relações sociais que “se aprende” como ser
mulher e ser homem, a se comportar como tal em
nossa sociedade. Esse aprendizado demonstra como
aprender a exercer papéis sociais.
GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE
Deve-se reforçar que se trata um aprendizado, pois, como
demonstrado anteriormente, os papéis sociais são um produto
das relações sociais, passando por mudanças ao longo da
História.

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


O feminismo se apropriou do conceito gênero para dizer que essas
diferenças de papeis sociais de homens e mulheres de serviram para
inferiorizar as mulheres, e caracterizam-na como mais frágeis,
sensíveis, maternais, cujo lugar é a esfera privada – esfera
doméstica.
EXISTE AQUI UMA VALORAÇÃO SOCIAL

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


As diferenças foram transformadas em
desigualdades

O feminismo se apropria desse conceito, desvendando seu


significado, e transforma o resultado dessas desigualdades
categoria de luta, uma categoria de mudança.

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


As desigualdades entre mulheres e homens vêm sendo
construídas, em nossa sociedade, ao longo da história, e se
foram construídas socialmente pode ser combatidas.

É fundamental saber identificá-las, rompendo com sua


aparência “natural”, isto é, deixando de encará-las como
algo que faz parte do funcionamento da sociedade e da vida
privada, construindo, portanto, estratégias de ação para sua
transformação.

Para entender melhor vamos conversar sobre:

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE
Joan Scott (1991), as relações de gênero são relações de poder
baseadas nas diferenças que são percebidas entre os sexos, a
partir de uma elaboração social com o sentido historicamente
construído e utilizado para hierarquizar relações de poder
entre mulheres e homens em nossa sociedade.

A definição dos papéis sociais acaba por estabelecer o lugar de


cada pessoa, traduzindo relações sociais de poder entre
mulheres e homens, mulheres e mulheres, homens e homens.

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


VAMOS AS DIFERENÇAS

 DIFERENÇA ENTRE SEXO E GÊNERO


 Sexo
Uma materialidade fixa biológica dos corpos, mas os estudos
mais contemporâneos essa suposta característica fixa do sexo
também é repensada e desconstruída

 O que seria o sexo?


Construções sociais e produções de verdade ligada a medicina
sobre os corpos

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


CORPO QUE SE ENTENDE
POR MULHER

 XX (genética/biologia)
 Orgão genital (Vagina )
 Taxas hormonais
 Taxa de peso e altura (formação)
 Parâmetros de saúde (tabelas, índices)

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


GÊNERO COMO CATEGORIA DE
ANÁLISE
GÊNERO COMO CATEGORIA DE
ANÁLISE

 Essa produção do sexo do que se entende como a


naturalidade de sexo também se configura como uma
série construções sociais produção cientificas sobre os
corpos
GÊNERO COMO CATEGORIA DE
ANÁLISE

 A pessoa nasce com um sexo, na verdade ela nasce com


um órgão sexual que é atribuído a um sexo,
considerando que nem sempre esse sexo foi pensando da
mesma forma.
GÊNERO COMO CATEGORIA DE
ANÁLISE
Ao longo da história foi se entendido
pensando o sexo como único:

 Sexo desenvolvido: ligado ao pênis


 Sexo não desenvolvido: a vagina
GÊNERO COMO CATEGORIA DE
ANÁLISE

Construção social do sexo

O grande desvendar dos estudos de gênero foi que


mesmo sexo biológico parte um binarismo fixo : pênis e
vagina
GÊNERO COMO CATEGORIA DE
ANÁLISE
 Existem corpos que fogem de uma suposto lógica
binária sexual podem ser submetido a cirurgias, muitas
vezes violentas, com uma suposta ideia de adequá-los a
normativa sexual que reproduz o binarismo da
concepção do ser homem e ser mulher.
O feminismo tomou a palavra gênero e se transformou ao longo
do tempo
 A luta ser mulher por:

 Direitos reprodutivos

 Direito trabalho

 Direito ao voto

 Direito ao aborto

 Essa mudança estava a serviço de conceber a mulher fora dos


padrões normativos

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


Quando falar-se de Gênero é necessário associar outros
marcadores sociais:
 Classe

 Raça

 Sexo

 Orientação sexual

 Geração

 Localidade

 Tem ou não deficiência

GÊNERO COMO CATEGORIA DE


ANÁLISE
O gênero nunca está sozinho, o gênero se associa a outros
marcadores sociais

 Isso nos leva a pensar e apresentar um conceito, a


interseccionalidade que busca dar conta da pluralidade e
diversidade do que se entende do ser mulher

GÊNERO COMO CATEGORIA DE


ANÁLISE
 Feminismo intersecional concebe que não é possível
definir o ser mulher como um algo único e algo fixo
necessário, mas sim cabe enxergar a mulher através de
sua experiência
 A experiência que vai desenhando, pontuando e
colocando certas trajetórias, certos lugares sociais que
vai construindo esse ser mulher que está atravessado pela
classe, raça e demais marcadores sociais.

GÊNERO COMO CATEGORIA DE


ANÁLISE
 Nenhum marcador social é mais importante que outro,
por esse motivo é fundamental essa composição – a
intersecção – de marcadores sociais que constrói o
sujeito que fazem o sujeito

GÊNERO COMO CATEGORIA DE


ANÁLISE
Feminismo está ligado ao gênero e a orientação sexual, uma luta
composta que articula diferentes elementos.

 Os corpos estão contidos numa norma, que devem ser


questionadas e alteradas, porque todos os corpos têm:
 Gênero

 Raça

 Classe

 Sexo

 Sexualidade
Diversidade sexual que atribui “ser mulher”:
 Todas as pessoas tem uma identidade que compõem o
sujeito a partir de suas relações com o gênero e a
sexualidade
 Pessoas SIS não eram nomeadas, enquanto categoria e
identidade - normatividade
 Trans e não trans –
 Gênero e a Orientação sexual são diferentes, mas
interessante para pensar a diversidade que envolve
gênero e sexualidade.
 Com quem a pessoa se relaciona não está
necessariamente vinculado ao gênero ou a orientação
sexual
EXEMPLO EXEMPLO DE
DE GÊNERO ORIENTAÇÃO

 Feminino  Heterossexual

 Masculino  Homossexual

 Androgeno  Bissexual

 Nãobinário  Pansexual

 Agênero  Assexual
O conceito gênero foi importante para o
feminismo desvelar e compreender como
se constroem e se estruturam as
desigualdades

GÊNERO COMO CATEGORIA DE


ANÁLISE
Por que?

As mulheres contam com menos oportunidades e direitos no


que se refere às condições sociais, econômicas, de trabalho e
renda e de proteção social e segurança, se comparadas aos
homens.
A sociedade constrói melhores condições para homens,
apresentando maiores obstáculos para as mulheres
conquistarem seus espaços e vivenciarem suas vidas
plenamente.

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


Ao contrário do que apregoa o senso comum, a forma desigual
como as relações sociais são construídas faz com que as
mulheres se tornem mais vulneráveis e apareçam como mais
frágeis: além de ganharem menos do que os homens, possuem
uma carga maior de trabalho, acumulando o cuidado com as/os
filhas/os, com a/o companheira/o, com a vida doméstica e com a
profissão.

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


O que deveriam ser diferenças biológicas, apenas
características sexuais, são transformadas por todos em
desigualdades.
As diferenças entre os sexos passam a ser utilizadas como
justificativa em relação à maior dificuldade das mulheres na
conquista de seu espaço no mundo público e no acesso aos
direitos de uma forma geral.

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


75% de todo o trabalho de cuidado
não remunerado no mundo é
realizado por mulheres

GÊNERO COMO CATEGORIA DE


ANÁLISE
As profissões associadas ao “mundo da produção”, liberais,
como direito e medicina são reconhecidas como masculinas

As relacionadas ao campo da reprodução da vida e do


“cuidado” acabam recebendo uma conotação de profissões
mais femininas.

Podemos afirmar que historicamente as profissões consideradas


“masculinas” tenderam a ser mais valorizadas que as femininas,
algumas áreas de atuação permanecem majoritariamente
exercidas por mulheres e recebem menores remunerações.

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


Por que as mulheres não são as chefs estrelas da
gastronomia?
Os 10 melhores Chef de cozinha no Brasil em 2019:
7 homens e 3 mulheres
Um exemplo de como a divisão sexual do trabalho se
concretiza — assim como a divisão social do trabalho — é
que ela divide as tarefas como sendo naturais dos homens e
das mulheres em diferentes espaços.
Por exemplo, socialmente, costuma-se atribuir aos homens a
responsabilidade maior pela atuação no espaço público,
denominado de esfera pública.

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


Reunião da
Cúpula do
G 20
A existência de gêneros é a manifestação de uma desigual
distribuição de responsabilidade na produção social da
existência. A sociedade estabelece uma distribuição de
responsabilidades que são alheias as vontades das pessoas, sendo
que os critérios desta distribuição são machistas, classistas e
racistas.

Do lugar que é atribuído socialmente a cada um, dependerá a


forma como se terá acesso à própria sobrevivência como sexo,
classe e raça, sendo que esta relação com a realidade comporta
uma visão particular da mesma.

A CONSTRUÇÃO DE GÊNEROS E A
DINÂMICA DAS RELAÇÕES SOCIAIS
GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE
Essas percepções condicionam os papéis sociais de
forma bastante desigual e com ônus para mulheres
e homens. No entanto, no cotidiano, as mulheres
acabam sendo as mais expostas às injustiças, tendo
seus direitos mais violados.

GÊNERO COMO CATEGORIA DE ANÁLISE


Ao longo da História, as relações sociais de gênero passaram
por transformações que mostram que relações de poder não
são naturais e imutáveis. A partir da década de 1960,
mulheres, grupos de mulheres e movimentos feministas norte-
americanos, europeus e brasileiros não se conformavam com
as formas de opressão que geravam, dentre outras
consequências, a restrição dos espaços de atuação das
mulheres.

A LUTA DAS MULHERES POR DIREITOS


RESISTIR PARA AVANÇAR

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