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Evolução histórica do direito

empresarial

Profa. Me. Sara Morgana Silva Carvalho Lopes


O comércio

• origem no latim commutatio mercium, que significa troca de


mercadorias por mercadorias.

• Ercole Vidari afirma que o comércio é a parte da economia que estuda


os fenômenos pelos quais os bens passam das mãos de uma pessoa a
outra, ou de um a outro lugar.

• Para Tomazette (2022), essa troca de mercadorias por mercadorias


gerou alguns inconvenientes, pois nem sempre havia uma ligação entre
as necessidades, isto é, nem sempre aquilo que se produzia era
necessário para outra pessoa.
• As primeiras moedas, tal como conhecemos hoje, peças
representando valores, geralmente em metal, surgiram na Lídia (atual
Turquia), no século VII A. C.
• profissão a troca de mercadorias remonta à Antiguidade.
Caracterizavam esses profissionais a intermediação (interposição
entre produtores e consumidores), a habitualidade (prática reiterada
da atividade) e o intuito de lucro.

• A mera troca de mercadorias não é o comércio (TOMAZETTE) - A


intermediação – para facilitar a troca –, aliada ao aumento do valor
das mercadorias (lucro), caracteriza de modo geral a atividade
comercial.

• Nas palavras de Joaquín Garrigues: “comércio é o conjunto de


atividades que efetuam a circulação dos bens entre produtores e
consumidores”
• Na Antiguidade surgiram as primeiras normas regulamentando a
atividade comercial (2083 a.C.), as quais remontam ao Código de
Manu na Índia e ao Código de Hammurabi da Babilônia, mas sem
configurar um sistema de normas que se pudesse chamar de
direito comercial.

• Os gregos também possuíam algumas normas, sem, contudo,


corporificar um sistema orgânico.
• No Direito Romano também havia várias normas (que se
encontravam dentro do chamado ius civile, sem autonomia). A
amplitude e a flexibilidade do direito privado geral romano tornava
supérfluo o surgimento de um direito especial para o comércio.

• Apesar de já existirem várias regras sobre o comércio, o direito


comercial só surge na Idade Média, como um direito autônomo,
passando por uma grande evolução, que pode ser dividida em três
fases: o sistema subjetivo, o sistema objetivo e o sistema subjetivo
moderno.
• 1ª fase: (Subjetiva)
• Nesse primeiro momento, o direito comercial podia ser
entendido como o direito dos comerciantes, vale dizer, o
direito comercial disciplinava as relações entre os
comerciantes.
• Eram, inicialmente, normas costumeiras, aplicadas por um
juiz eleito pelas corporações, o cônsul, e só valiam dentro da
própria corporação. Posteriormente, no seio de tais
corporações, surgem também normas escritas para a
disciplina das relações entre comerciantes.
• Com a formação das corporações de mercadores – exemplos:
Gênova, Florença e Veneza;

• Não havia a participação da figura estatal organizando e


regulando as normas das cidades, com isso cada corporação
editava e regulava suas regras de forma autônoma, eram
normas “pseudo-sistematizadas”, com caráter subjetivista que
focavam sua importância no sujeito que exercia a atividade
comercial.
• O direito comercial na Idade Média surgiu em algumas cidades-Estados
da península itálica (república marítima). Era um ponto estratégico para
o comércio marítimo no mediterrâneo, de modo que essas cidades se
desenvolveram em razão desse comércio.
• Vamos imaginar que dois comerciantes de Genova tivessem entre si
um conflito de natureza comercial. Nesse caso, que compilado de
normas resolveria esse problema?
• Os comerciantes começaram a se organizar em corporações e dentro
delas passaram a estabelecer regras, estatutos, provimentos para
reger eventuais conflitos. Com o tempo o acúmulo de regras resultou
num efetivo direito dos comerciantes.

• Rubens Requião afirma que nessa época o âmbito do direito


comercial era o sujeito, ou seja, era aplicado aos comerciantes em
suas relações comerciais.
• Importante destacar que o direito comercial não
surgiu do direito civil, mas sim de uma lacuna, surgiu
da necessidade de regras aplicáveis as relações
comerciais.
• 2ª Fase Objetiva dos atos de Comércio

• Com a centralização das monarquias na Idade Moderna, os


comerciantes deixam de ser os encarregados pela composição do
direito comercial, tarefa essa que passa a ser do próprio Estado.
(ABREU, 2020).

• Teoria dos Atos de Comércio - tal fato acabou ocasionando algumas


críticas por não ter botado no ordenamento algumas atividades
tipicamente econômicas de suma importância, como a prestação de
serviço, a negociação imobiliária e a pecuniária.
• Nesse tempo, as leis que regulavam o ato comercial mudaram o seu
rumo, passando a ter um caráter mais objetivista, procurando focar a
mercantilidade da relação jurídica estabelecida pelo seu objeto, e não
sendo relacionada ao sujeito que a exerce (REQUIÃO, 2021).

• Dois são os motivos dessa evolução: a necessidade de superar a


estrutura corporativa do direito comercial, como direito ligado às
pessoas que pertenciam a determinada classe, e a necessidade de
aplicar as normas mercantis nas relações entre comerciantes e não
comerciantes (TOMAZETTE, 2022).
• Essa noção subjetivista superada, de um direito comercial que se
aplicava ao comerciante matriculado, esteve em vigor por um tempo,
prosperou, viabilizou com que esse direito evoluísse, mas chegou o
momento, até por suas próprias contradições, que ela não mais se
sustentou.

• Após a Revolução Francesa, com ideias de Igualdade, liberdade e


fraternidade, a codificação revelou o abandono do direito comercial
como sendo apenas aplicável a uma classe, o C. Com 1807 se valeu de
toda a evolução até então experimentada e foi além, instituindo a
Teoria dos Atos de Comércio. O comerciante passou a vivenciar um
direito em pé de igualdade com todo e qualquer indivíduo.
Teoria dos Atos de Comércio
• Teoria objetiva: a teoria dos atos de comércio

• O terceiro período do Direito Empresarial é marcado pela sua


objetivação. Aos fins do século XVIII, deu-se a Revolução Francesa que,
com o seu ideário de igualdade, propugnou pela abolição de quaisquer
privilégios de classe então existentes. Frise-se que, até tal época, o
Direito Mercantil era um direito de origem classista, marca do
corporativismo, o que, por suposto, contraria o primado da igualdade,
basilar da Revolução.

• O povo francês que tanto lutou pelo princípio da igualdade jamais


admitiria a manutenção de um ramo do direito que existia para
garantir privilégios a uma classe.
• É neste contexto que surge o Código Comercial Francês, de 1808,
adotando a Teoria dos Atos de Comércio como ideia fundamental
para regular relações econômicas.

• O direito brasileiro agasalhou tal teoria quando da promulgação do


Código Comercial Brasileiro, de 1850.

• O Direito Mercantil, modificando sua denominação para Direito


Comercial passaria a ser aplicado àquele que registrado ou não
praticasse atos que o legislador entendesse relevantes para a
Economia.
• Embora TAC pareça ser engenhosa, não conseguiu resolver o
problema que se propôs, pois o código francês estabeleceu um
arrolamento de atos, o que engessou os atos de comércio.

• Não havia um conceito de atos de comércio, a doutrina ao longo dos


anos tentou sanar isso, mas nunca suficiente para distinguir com
clareza o que era uma ato de comércio do que não era. Ex: doação
através de cheque.

• Basílio Machado afirmou que isso era “problema insolúvel para a


doutrina, martírio para o legislador, enigma para a jurisprudência”.
• Países como a França, Brasil e Itália possuíam um Tribunal específico
para as lides de natureza comercial. Hoje não temos mais jurisdição
própria (tribunal comercial);
• É competência da União legislar sobre direito comercial.
• 3ª Fase Subjetiva Moderna

• A crise do sistema objetivo deu origem aos novos contornos do


direito mercantil, unindo novas ideias do ato de comércio e do
comerciante numa realidade mais dinâmica, a da atividade
econômica, isto é, o conjunto de atos destinados a um fim, a
satisfação das necessidades do mercado geral de bens e serviços.
(TOMAZETTE, 2022).
• Nessa fase, há um reconhecimento do Direito Comercial como algo
muito além da simples prática dos atos de comércio, focando
primariamente no empresário e na empresa, ou seja, surge a
concepção de direito comercial como o direito da empresa.
• Com o advento do século XX, constatou-se que a atual face do
princípio da igualdade impõe tratar os iguais igualmente e os
desiguais desigualmente, na medida de sua desigualdade. Cria-se,
assim, o ambiente propício a que este direito que regula as relações
econômicas no plano privado venha a evoluir novamente.

• Passa-se, assim, para a terceira fase do Direito Comercial, agora


denominado Direito Empresarial. Rubens Requião e Vinicius José
Marques Gontijo denominam-na de conceito ou teoria subjetiva
moderna, porque o direito empresarial voltaria a proteger os
interesses de uma classe: os empresários.
• Tal fase se inicia com a promulgação do Código Civil Italiano, de 1942,
que, na tentativa de unificar o direito privado, positiva a teoria da
empresa como a base informadora deste direito que cuida de relações
econômicas.

• O direito brasileiro evolui no decorrer dos tempos da teoria dos atos de


comércio para a teoria da empresa, vindo a positivá-la com o Código
Civil de 2002, em moldes semelhantes ao ocorrido na Itália. Veja-se, a
propósito, a estrutura dada ao Direito Empresarial nacional pelo
Código Civil vigente. O livro II, da parte especial do Código Civil, chama-
se Do Direito de Empresa. O Direito Empresarial é, assim, o direito das
empresas.
• Essa nova organização desenvolve o campo comercial, abrangendo
atividades especificas que eram excluídas anteriormente, e mantem
de fora apenas algumas atividades especificas, como as atividades
intelectuais, as de natureza literária, artística ou cientifica.

• Dessa forma, diz-se sistema subjetivo moderno, porquanto a


concepção passa a ser centrado em um sujeito, o empresário (que é
aquele que exerce atividade econômica organizada para a produção
ou circulação de bens ou serviços para o mercado).
• União legislativa das matérias de direito civil e comercial. A parte
geral do direito comercial está prevista no CC/2002, tratando do
direito da empresa, mas outros institutos importantes estão em leis
esparsas, como a falência, a maioria dos títulos de crédito, grande
parte do direito societário.

• MUDANÇA DE PARADIGMA: O direito comercial deixou de ser o


direito dos atos de comércio e passou a ser o direito da atividade
empresarial, ou seja, é matéria de direito empresarial uma certa
atividade, não só pelo seu objeto, mas sim pelo modo como ela é
desenvolvida.
• O jurista italiano Alberto Asquini estabelece as bases para aquilo que
se pode chamar de a teoria jurídica da empresa. Com efeito, caindo
por terra a teoria dos atos de comércio, os estudiosos passaram a
procurar outro elemento que servisse como o elemento central para
o Direito Empresarial – então denominado Direito Comercial.

• Ao se depararem com a figura da empresa, ficaram perplexos. É que


empresa, na ciência econômica, tem vários significados, tratando-se,
portanto, de um conceito plural. O conceito de empresa é o conceito
de um fenômeno econômico poliédrico, o qual tem sob o aspecto
jurídico, não um, mas diversos perfis em relação aos diversos
elementos que o integram.
01 - Analise as proposições a seguir:
I. Durante o período subjetivo, iniciado com a edição do Código Comercial, era adotada
a Teoria dos Atos de Comércio, os quais eram definidos no referido diploma, ainda hoje
vigente no ordenamento pátrio.
II. A Teoria da Empresa, preconiza a aplicação do Direito Empresarial tendo por alicerce
a atividade exercida pelo empresário, e foi adotada a partir de 1850 com a edição do
Código Comercial.
III. As corporações de ofício deram origem ao Direito Empresarial, sendo inseridas no
período objetivo de sua evolução histórica.

Considerando as proposições acima, assinale a alternativa CORRETA:


A) Todas as proposições estão corretas.
B) Somente III está correta.
C) Somente I e III estão corretas.
D) Somente I e II estão corretas. E
E) Nenhuma proposição está correta.
D
02 - Quando se trata da origem e evolução do direito comercial, nos é apontado
pela doutrina que:
A) O Código Civil Italiano de 1942 estabeleceu um regime para todas as formas
de atividades econômicas, restabelecendo o sistema objetivo de identificação
daqueles que se dedicavam ao comércio.
B) O Código Comercial Brasileiro de 1850 tinha um caráter marcadamente
subjetivista de identificação do comerciante: seria comerciante aquele que
arquivasse os atos constitutivos no Registro Público de Empresas.
C) Os ideais da Revolução Francesa acompanharam o surgimento de um direito
unificado, regulando tanto os atos de comércio, que só poderiam ser praticados
pelos comerciantes, como os atos de natureza civil.
D) A teoria subjetiva somente considerava comerciantes aqueles que estivessem
matriculados em uma das corporações de ofício, os quais dispunham de uma
atividade jurisdicional especializada.
03 - Considerando a evolução histórica do direito empresarial, assinale a
opção correta
C
A) A teoria dos atos de comércio foi adotada, inicialmente, nas feiras
medievais da Europa pelas corporações de comerciantes que então se
formaram.
B) A edição do Código Francês de 1807 é considerada o marco inicial do
direito comercial no mundo
C) Considera-se o marco inicial do direito comercial brasileiro a lei de
abertura dos portos, em 1808, por determinação do rei Dom João VI.
D) É de origem francesa a teoria da empresa, adotada pelo atual Código Civil
brasileiro.
E) O direito romano apresentou um corpo sistematizado de normas sobre
atividade comercial.
04 - Julgue o item seguinte, relativo ao direito empresarial.

Apesar de os gregos e os fenícios serem historicamente associados a


atividades de compra e troca, o surgimento do direito comercial de
forma organizada corresponde à ascensão da classe burguesa na Idade
Média. À medida que artesãos e comerciantes europeus se reuniam em
corporações de ofícios, surgiam normas destinadas a disciplinar os usos
e costumes comerciais da época.

X
• Certo ( )
• Errado ( )

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