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O problema do aborto

(Temas/problemas da cultura
científico-tecnológica)
Será o aborto moralmente permissível?

Pontos preliminares:

 O aborto envolve vários problemas,


como legais, técnicos, etc.
 Em filosofia queremos saber se
moralmente o aborto é ou não aceitável.
 Há perspetivas filosóficas mais radicais e
outras mais moderadas.
Será o aborto moralmente permissível?

Problema

 Será que um feto é já um ser pleno de direitos morais?


 Se a resposta à questão anterior for afirmativa, até que ponto é correta a
prática da interrupção voluntária da gravidez não violando ao mesmo tempo
os direitos morais do feto?
Será o aborto moralmente permissível?

Duas posições principais na discussão:

 A posição pró-escolha defende que o aborto é moralmente permissível,


mesmo que somente em algumas situações.
 A posição pró-vida defende que o aborto é errado, mesmo que se possa
admitir algumas exceções.
A posição pró-escolha de Judith Jarvis
Thomson
Baseado na experiência de pensamento do violinista
(Como Pensar Tudo Isto?, p.239), o argumento é apresentado
na seguinte forma:

(1) Ninguém tem o direito de usar o corpo de outra pessoa


contra a sua vontade.
(2) Se o aborto fosse moralmente impermissível, então o feto
teria o direito a usar o corpo da sua mãe, mesmo contra a
sua vontade.

(3) Logo, o aborto não é moralmente impermissível.


“Estou a defender apenas que ter o direito à vida
não garante o direito a começar a usar, ou o
direito a continuar a usar, o corpo de outra pessoa,
mesmo que seja preciso usá-lo para assegurar a
própria vida. Deste modo, contrariamente àquilo
que os adversários do aborto parecem ter
pensado, o direito à vida não serve os seus
propósitos de uma forma muito simples e clara.”
Judith Jarvis Thomson
Objeções ao argumento

A principal objeção feita ao argumento é que se trata de uma analogia fraca,


uma vez que o violinista não tem o mesmo significado para a pessoa que foi
raptada que um filho tem para uma mãe. Existe, segundo esta objeção, uma
obrigação moral muito mais forte de cuidar dos filhos do que ajudar o
violinista.
Posição pró-vida: o argumento da regra de ouro
de Harry Gensler

Apresentação do argumento:

(1) Se és consistente e pensas que nada haveria de errado em


alguém fazer uma ação A a um individuo X, então pensas que nada
haveria de errado em alguém fazer-te A em circunstancias
similares.
(2) Se és consistente e pensas que nada haveria de errado em
alguém fazer-te A em circunstancias similares, então admites a
ideia de alguém fazer-te A em circunstancias similares.
(3) Logo, se és consistente e pensas que nada haveria de errado
em fazer A a X, então admites a ideia de alguém te fazer A em
circunstancias similares.
(Regra de ouro)
Posição pró-vida: o argumento da regra de ouro de Harry Gensler

 O argumento é baseado no critério da consistência que diz o seguinte: não podemos


aceitar que uma proposição seja verdadeira numas circunstâncias e falsa em
circunstâncias muito similares, isto é, uma proposição não pode ser verdadeira e falsa
ao mesmo tempo.

 A partir das premissas (1) e (2) pode-se concluir em (3) uma formulação da regra de
ouro e que se pode aplicar ao argumento seguinte:

(4) Se és consistente e pensas que normalmente é permissível roubar, então admites a


ideia de as outras pessoas te roubarem em circunstâncias normais. (De 3)
(5) Mas, não admites a ideia de as outras pessoas te roubarem em circunstâncias
normais.
(6) Logo, se és consistente, então não pensas que normalmente e permissível roubar.
Posição pró-vida: o argumento da regra de ouro de Harry Gensler

Como compreender a regra de ouro?

 Se não admitimos que é permissível alguém roubar-nos, devemos pensar


o mesmo em relação aos outros, isto e, não é moralmente permissível roubar
os outros. Se admitimos algo diferente para os outros do que admitimos para
nos, então estamos a ser inconsistentes.
Posição pró-vida: o argumento da regra de ouro de Harry Gensler

 Recorrendo ao critério da consistência, Gensler, prossegue com uma analogia no


argumento:
(4) Se és consistente e pensas que normalmente é permissível cegar um feto, então
admites a ideia de te terem cegado quando eras um feto em circunstâncias
normais.
(5) Não admites a ideia de te terem cegado quando eras um feto em circunstâncias
normais.
(6) Logo, se és consistente, então não pensas que normalmente é permissível cegar um
feto.

 Para ser consistente, quem não admite que seja moralmente aceitável administrar
uma droga que provoque cegueira a um feto durante a gravidez não poderá admitir
que se administre uma droga letal ao feto durante a gravidez.
Objeções ao argumento

 Se pode considerar existir uma diferença significativa entre tomar uma droga que
venha a prejudicar uma vida futura, como a droga da cegueira, e tomar uma droga
que não causa prejuízo nos interesses futuros de alguém que não chega sequer a ter
consciência disso.

 Um utilitarista não veria mal moral na administração de uma droga letal, ainda que
pudesse, ao mesmo tempo, ver mal moral na administração de uma droga que
causasse cegueira ao feto. E isto sem implicar qualquer inconsistência argumentativa.

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