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O BARROCO NO

BRASIL
O nome "barroco" (provavelmente derivado de barueco, a
palavra espanhola que designava uma pérola de forma
irregular) foi atribuído nos finais do XVIII e possuía alguma
intenção pejorativa, uma vez que nessa altura este período era
ainda considerado como a fase de decadência do
renascimento.
Qual a diferença Enquanto no Renascimento o tratamento das
temáticas enfatizava qualidades de
entre o Barroco e moderação, economia formal, austeridade,
equilíbrio e harmonia, o tratamento barroco
o Renascimento? de temas idênticos mostrava maior
dinamismo, contrastes mais fortes, maior
dramaticidade, exuberância e realismo e
uma tendência ao decorativo.
O Barroco tentava a conciliação do ideal medieval, espiritual com os novos
valores renascentistas: o humanismo, o gosto pela coisas terrenas, as
satisfações mundanas e carnais. Movimento que surgiu logo após a
Contrarreforma, o Barroco era um novo estilo de vida que refletia as
contradições da época e as expressava nas artes plásticas, na filosofia, na
religião e na literatura.
Gregório de Matos Matos (1636 – 1696) era doutor in utroque jure pela
Universidade de Coimbra. Sua produção literária continha poesias líricas,
religiosas e satíricas. Havia em sua poesia denúncias contra as autoridades
da colônia, o desprezo pelos mestiços, a cobiça pelas mulatas, o fervor
religioso.

in utroque jure:
locução advérbio
em ambos os direitos (civil e canônico).
À mesma dona Ângela Se como Anjo sois dos meus altares,
Anjo no nome, Angélica na cara, Fôreis o meu custódio, e minha guarda
Isso é ser flor, e Anjo juntamente, Livrara eu de diabólicos azares.
Ser Angélica flor, e Anjo florente,
Em quem, senão em vós se uniformara? Mas vejo, que tão bela, e tão galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares,
Quem veria uma flor, que a não cortara Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda
De verde pé, de rama florescente?
E quem um Anjo vira tão luzente,
Que por seu Deus, o não idolatrara?
À mesma dona Ângela é uma poesia lírica. Aqui podemos perceber o
caráter imitativo da obra de Gregório de Matos que, assim como
poetas como Shakespeare, comparava a beleza da musa a elementos
da natureza. A musa é, ao mesmo tempo, comparada a um anjo e à
flor angélica. O paradoxo, figura de linguagem bastante explorada no
Barroco literário também é encontrada no poema: “Sois anjo que
me tenta e não me guarda”. Angélica é retratada metaforicamente
como um ser tão puro que pode ser comparado a um anjo ou a uma
flor, porém sua beleza é tão perturbadora para o eu lírico que estar
próximo a ela é uma tentação.
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado Se uma ovelha perdida e já cobrada

Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado glória tal e prazer tão repentino
de vossa alta piedade me despido. vos deu, como afirmais na sacra história,
Antes quanto mais tenho delinquido,
vos tenho a perdoar mais empenhado.
eu sou, Senhor, ovelha desgarrada:
Se basta a vos irar tanto pecado,
a abrandar-vos sobeja um só gemido; cobrai-a, e não queirais, pastor divino,
que a mesma culpa, que vos há ofendido,
perder na vossa ovelha a vossa glória.
vos tem para o perdão lisonjeado.
O Barroco foi influenciado pela ideologia da Contrarreforma e pelo
Concílio de Trento. A estética barroca é composta pelo dualismo
razão/fé. A Contrarreforma “opôs a concepção de ‘homem aberto’,
voltado para o céu assim, à ideia renascentista do ‘homem fechado’,
limitado à terra” (COUTINHO, 1995). O poema Pequei,
Senhor reflete o homem barroco saudoso da religiosidade medieval.

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